Formas e Sabores: Representações do Corpo e da Comida em Jovens do Baixo Alentejo* Cláudia Borralho** Abílio Oliveira*** INTRODUÇÃO O corpo e a alimentação dos adolescentes são temas que, pela sua relevância biológica, psicológica e social, suscitam, por um lado, uma profícua investigação multidisciplinar e, por outro, uma ampla abordagem mediática, em especial no que se refere às consequências para a saúde em geral. Actualmente deparamo-nos com um cenário com elementos contraditórios: de um lado a intensificação da fome (muitas vezes simbólica) e, do outro, o controlo rigoroso das necessidades do corpo, resultantes de uma ambivalência comportamental que poderá conduzir a graves perturbações do comportamento alimentar e à adopção de práticas alimentares pouco saudáveis. OBJECTIVOS PRINCIPAIS Identificar as representações do corpo, do próprio corpo e da comida numa população de adolescentes escolarizados no distrito de Beja. Verificar a influência do sexo e da idade nas suas representações do corpo, do próprio corpo e da comida. PARTICIPANTES 523 jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos (12-14 anos: 36%; 15-16 anos: 36%; 17-19 anos: 28%). INSTRUMENTO Questionário anónimo e confidencial, constituído por perguntas de resposta aberta, de modo a apreender as ideias, pensamentos, símbolos, sentimentos e emoções, através da associação livre de palavras aos estímulos: Meu corpo faz-me pensar em… Corpo faz-me pensar em… Comida faz-me pensar em… Meu corpo faz-me sentir… Corpo faz-me sentir… Comida faz-me sentir… TRATAMENTO DOS DADOS Análises factoriais de correspondências (AFC) RESULTADOS Corpo Mal-estar geral com o corpo em ambos os sexos. O comportamento dos rapazes é mais externalizante do que o das raparigas. As raparigas preocupam-se mais com a imagem corporal do que os rapazes. São os mais velhos que mais revelam o(s) contexto(s) em que o corpo se insere, nomeadamente os factores que respeitam à vida, à saúde e ao sexo. Centram-se sobretudo na componente relacional e vivente do corpo: enquanto que os mais novos salientam mais os aspectos maturativos e fisionómicos, os mais velhos revelam-se mais felizes e satisfeitos. Meu Corpo Os rapazes valorizam mais o que se relaciona com a actividade física (correr, fazer desporto, esforçar), enquanto que as raparigas atribuem maior importância à imagem corporal, nomeadamente aos acessórios (roupa) e ao corpo físico (gordura). As raparigas aludem mais à forma do corpo (sentem-se mais gordas) do que os rapazes. Os mais velhos privilegiam conceitos mais abstractos, ligados ao bem-estar e ao que se experimenta; os mais novos concebem o crescimento, a componente relacional, a identificação sexual, a beleza e a roupa como acessórios fundamentais na percepção do seu próprio corpo. Comida As raparigas preocupam-se mais com a composição calórica do que os rapazes. O tipo de alimentação referido também é distinto e traduz diferentes concepções: para eles traz enfartamento e força, elas sentem-se mais activas e satisfeitas. Os jovens mais velhos controlam mais as suas opções alimentares, e revelam um estilo alimentar mais saudável do que os mais novos: enquanto que os primeiros valorizam sentimentos como satisfação e energia, os últimos referem preocupações relativas à gordura. CONCLUSÃO Dadas as representações associadas ao corpo em ambas as dimensões estudadas, salientamos a necessidade de orientar os adolescentes, em particular as raparigas e os mais jovens, para a prática de uma alimentação saudável e equilibrada. É este o grande desafio que se coloca aos profissionais de saúde e aos educadores em geral no âmbito dos programas de promoção e protecção da saúde. * Trabalho desenvolvido no âmbito de uma dissertação de mestrado em Psicologia, área de especialização em Psicologia da Saúde, Universidade do Algarve. ** Psicóloga Clínica, Unidade de Saúde Pública de Beja, Investigadora da Unidade de Investigação & Desenvolvimento em Enfermagem (UI&DE). [email protected] *** Engenheiro Informático e Psicólogo Social. Professor Auxiliar no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Investigador (coordenador) na UI&DE. Design: Joana Rosa