Evolução dos custos em relação à renda: o caso de agricultores familiares em transição ecológica no Paraná Dirk Claudio Ahrens, Eng. Agr., Dr., IAPAR, BR 376, Km 496, C.P. 129, CEP 84001-970, Ponta Grossa, PR, [email protected]; Roger Daniel de Souza Milléo, Administrador, Especialista IAPAR; Flávia Comiran, Eng. Agrª, MSc., IAPAR; Cátia Cristina Rommel, Eng. Agrª., MSc., IAPAR, Dacio Antonio Benassi, Matemático, MSc., IAPAR Resumo: Este trabalho teve por objetivo avaliar a evolução de indicadores econômicos nos triênios de 2005/06 a 2007/08 e 2008/09 a 2010/11, baseando-se na renda bruta, nos custos de produção e índice de renda relativa de cinco famílias de agricultores de base ecológica, na região Centro Sul do Paraná. O indicador renda bruta total (RBT) / custo variável total (CVT), no o primeiro triênio variou de 2,64 a 5,91 e nos últimos três anos foi de 2,01 a 2,57 em função da majoração dos custos em relação à renda. Os agricultores no estudo tiveram comprometidos os seus fluxos de caixas na evolução dos anos, sendo que alguns foram mais eficientes. Palavras-chave: agroecologia, eficiência, indicadores de renda, insumos. Evolution of costs relative income: the case of family farmers in ecological transition in Paraná Abstract: This study aimed to evaluate the evolution of final income of the triennial 2005/06 to 2007/08 and 2008/09 to 2010/11, based on gross income, production costs and index of relative income of five family farmers in ecological transition in southern center Paraná. The total gross income indicator (RBT) / variable cost (CVT), in the first period ranged from 2.64 to 5.91 and the last three years was 2.01 to 2.57 in function on the increase of coast relative to income. Farmers in the study had committees their cash flows in the evolution of years, and some were more effective. Keywords: agroecology, efficiency, income indicators, inputs. 1 Introdução A agricultura de transição ecológica se caracteriza pelo baixo aporte de insumos externos, utilizando-se de produtos alternativos e técnicas que demandam maior mão de obra para produzir alimentos saudáveis, sem prejudicar o meio ambiente e o consumidor. Mas de um modo geral, como o agricultor familiar não dispõe de mão de obra suficiente para trabalhar todas suas áreas de cultivo se obriga a utilizar agroquímicos em parte delas, estando sujeito aos preços de mercado. Dados do DIEESE (2011) confirmam a redução da mão e obra disponível no campo apresentando uma involução de 2.068.000 pessoas ocupadas em atividades agrícolas no período 2005 1 2009, saltando de 16.906.000 para 14.838.000 de empregados, trabalhadores por conta própria, empregadores, não remunerados e trabalhadores na produção do autoconsumo. Gazzoni (2012) e Tenório (2012) constam que o custo de produção de soja aumentou 133%, entre 2000 e 2008, passando de R$ 706,00 para R$ 1.650,00, em função basicamente pelo aumento dos custos de produção de insumos (agrotóxicos e dos fertilizantes), do petróleo, dos fretes, câmbio e da mão de obra. Este trabalho teve por objetivo avaliar a evolução dos indicadores econômicos em dois triênios, no período de 2005/06 a 2010/11, baseando-se na renda, nos custos de produção e índice de renda relativa de cinco famílias de agricultores de base ecológica. 2 Metodologia Foram escolhidos cinco sistemas de produção familiares de base ecológica do Centro Sul do Paraná, que vem sendo acompanhados economicamente, sendo comparados os resultados obtidos nas safras 2005/06 a 2007/081 e 2008/09 a 2010/11. Esses sistemas caracterizam-se pelas seguintes atividades: 1) Cultivo de tabaco orgânico mais grãos, no qual a renda advém do fumo de estufa orgânico, grãos e outros produtos (cebola, alho, batata, aves, ovinos e bovinos); 2) Cultivo de tabaco mais grãos, ambos convencionais; 3) Cultivo de olerícolas e pequenos frutos, além de rendas não agrícolas (realização de jantares e almoços na propriedade); 4) Produção diversificada em agroindústria (suco, vinho e mel), além do cultivo de frutas e grãos, certificados pela Rede Ecovida e comercializados via programas PAA e PNAE; 5) Cultivo de tabaco e outros produtos orgânicos certificados pela Rede Ecovida (grãos, fumo, erva mate, batata, criações, farinhas de milho e mandioca, polvilho). Suas áreas estão localizadas nos municípios de São Mateus do Sul (agricultor 1 e 5), Rio Azul (2 e 3) e União da Vitória (4). Foram avaliados os seguintes indicadores: a) Renda Bruta Total (RBT) = somatório da quantidade produto x preço + variação de estoque de produtos e animais + cessões internas; b) Custo Variável Total (CVT) = insumos + combustíveis e manutenção + mão de obra contratada + aluguel de máquinas; c) Margem Bruta Total (MBT) = RBT – CVT; d) Resultado Final (RF) = soma da renda das operações agrícolas - ROA2 + outras rendas monetárias (aposentadoria) + renda não monetária 1 Dados originais da publicação Diversificando áreas com cultivo de tabaco: uma experiência no CentroSul do Paraná (Ahrens, et al., 2011) atualizado para valores em Real no mês de abril de 2012. 2 ROA = MBT - CFR Custo Fixo Real = custos com depreciação de máquina/equipamentos e benfeitorias 2 (autoconsumo3); e) índice de renda relativa: RBT1/CVT1; RBT2/CVT2; RBT2/ RBT1; RF2/RF1. Os valores monetários levantados em cada safra (SEAB, 2006 a 2012) foram corrigidos para valores em Real no mês de abril de 2012, de acordo com a inflação medida pelo IGP-DI da FGV (MILLÉO et al., 2006). A contribuição do autoconsumo e de outras rendas (aposentadoria) na composição da renda familiar foram consideradas, mas não apresentadas. 3 Resultados e discussão Apesar do aumento de no mínimo de 14% (1,14) na renda bruta total em cada um dos sistemas de produção avaliados (Tabela 1), o resultado final praticamente se manteve. Isso se deve ao aumento no custo variável total, no mínimo de 73% (1,73), do período 2008/11 em relação ao anterior (2005/2008). Tabela 1. Indicadores econômicos dos sistemas de produção, safras 2005/06 a 2010/11. Indicadores 1 2 3 4 5 1 Médias das safras 2005/06 a 07/08 – primeiro triênio R$/ha + Renda bruta total (RBT1) 33.734,98 16.390,62 28.726,11 27.917,44 45.347,99 - Custo variável total (CVT1) 9.155,50 3.814,72 4.858,42 10.580,78 13.305,70 = Margem bruta total (MBT1) 24.579,48 12.575,90 23.867,69 17.336,66 32.042,29 Resultado Final (RF1) RBT1/CVT1 (índice) 25.842,11 9.653,71 24.495,66 29.741,12 26.790,43 3,68 4,30 5,91 2,64 3,41 Médias das safras 2008/09 a 10/11 – segundo triênio + Renda bruta total (RBT2) 38.595,83 23.400,32 34.678,68 36.863,47 62.592,72 - Custo variável total (CVT2) 15.800,56 11.437,07 11.977,54 18.346,64 24.398,42 = Margem bruta total (MBT2) 22.795,27 11.963,25 22.701,13 18.516,83 38.194,30 Resultado Final (RF2) RBT2/CVT2 19.706,57 9.310,35 25.059,31 33.001,40 31.840,72 2,05 2,90 2,01 2,57 Indicadores de evolução entre médias das safras (índice) + Renda bruta total (RBT2/RBT1) 1,14 1,43 - Custo variável total (CVT2/CVT1) 1,73 3,00 = Margem bruta total 0,93 0,95 (MBT2/MTB1) 1,21 2,47 1,32 1,73 1,38 1,83 0,95 1,07 1,19 1,02 1,11 1,19 Resultado Final (RF2/RF1) 2,44 0,76 0,96 O índice de renda relativa: RBT/ CVT, no o primeiro triênio variou de 2,64 a 5,91 e nos últimos três anos foi de 2,01 a 2,57. Já quando são relacionados os indicadores do + desembolso com impostos da terra + taxas. 3 Produtos (animal e vegetal) produzidos e consumidos na propriedade, valorados monetariamente de acordo com o preço de venda no varejo (SEAB/DERAL, 2012). 3 primeiro triênio com o segundo os parceiros 1 e 2 não conseguem ter uma evolução positiva - superior a 1 (0,76 e 0,96 - respectivamente) nos seus resultados. Embora os agricultores acompanhados demandem baixo uso de insumos, por exercerem atividades de base ecológica em parte de suas glebas, os resultados não deixam dúvida quanto ao aumento do custo de produção em relação à renda. Também para Fagéria et al. (2012) nos últimos anos houve uma elevação dos custos dos fertilizantes, reflexo de preços mais elevados de energia, matéria prima e transporte. 4 Conclusão Ao relacionar-se o último triênio com o primeiro os agricultores em estudo tiveram seus custos majorados em relação à renda, comprometendo os seus fluxos de caixas, sendo que alguns foram mais eficientes. Referências Bibliográficas AHRENS, D.C.; FUENTES LLANILO, R.; MILLÉO, R.D.S. Diversificando áreas com cultivo de tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná. IAPAR, 2011, 65p. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS DIEESE. Estatísticas do meio rural 2010-2011. 4 ed. São Paulo, DIEESE; NEAD; MDA, 2011, 292 p. FAGÉRIA, N.K.; OLIVEIRA, I.P.; STONE, L.F. Cultivo do Arroz de Terras Altas. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arroz/ArrozTerrasAltas/ad ubacao.htm>. Acesso em: 03 abr. 2012. GAZZONI, D. As razões da escalada de preços das commodities agrícolas. 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