A influência dos sentidos vitais sobre as emoções e memórias dos usuários The influence of vital senses on user memory and evoked emotions Moreira, Bruna Ruschel. Mestranda. Professora da Universidade FEEVALE. [email protected] Costa, Filipe Campelo Xavier da. Doutor. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Resumo O artigo busca discutir a relação entre sentidos, memória, experiência e emoções evocadas pelo design. Para estabelecer relações possíveis entre os conceitos, o estudo foi realizado através de uma abordagem experimental aplicada a 50 alunos de curso de graduação de Design de Moda. Estes foram expostos a diferentes tipos de estímulos (imagens, aromas, sons e texturas) e suas reações foram avaliadas. Os resultados indicaram que o grupo de estudantes exposto ao maior número de estímulos acusou uma maior índice de lembranças entre os elementos apresentados, bem como um maior envolvimento com a experiência proposta. Palavras Chave: Sentidos Vitais; Memória; Experiência. Abstract This paper aims to discuss the relationship among senses, memory, experience and emotions evoked by design. To settle possible connections between these issues, this study was conducted by an experimental approach applied to 50 Fashion undergraduate students. They were exposed to different stimuli (images, scents, sounds, textures) and their reactions were assessed. The results indicated that the student group exposed to a larger amount of stimuli presented a greater number of elements recalled, as well as more intense involvement with the experiment proposed. Keywords: Vital Senses; Memory; Experience. A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória a longo prazo Introdução A interferência visual das cidades aumenta proporcionalmente ao crescimento da competitividade entre produtos e serviços oferecidos aos cidadãos de grandes metrópoles. Empresas disputam espaços para inserção de mídias digitais ou impressas, onde, na maioria dos casos, elas estão amplamente associada ao uso da visão. Os excessos do cotidiano tendem a provocar uma espécie de cegueira social. A “vestimenta” urbana, carregada e construída por uma midiatização excessivamente visual, leva a uma maior exigência de possuir o hábito de constantemente “enxergar” o entorno dos indivíduos sociais. De certa forma, entende-se que os demais sentidos vitais– olfato, tato, audição e paladar – tornam-se, em muitas situações, ociosos. Diante deste contexto, pesquisas são realizadas a fim de estudar e desenvolver ferramentas que têm por objetivo estabelecer uma aproximação junto aos indivíduos. A busca por oferecer uma experiência que, consequentemente, acarreta uma emoção pode estar relacionada com o uso intensificado dos sentidos vitais. Dentro da área de Design, o desafio de projetar soluções de distintas naturezas (produtos, serviços e experiências) está fortemente relacionado com a necessidade de compreensão dos efeitos entre elementos sensoriais e as emoções decorrentes dos estímulos projetados. Sendo assim, o presente artigo tem como propósito investigar a relação entre os sentidos vitais e a memória, bem como seus efeitos sobre a percepção de experiências e as emoções evocadas, principalmente à luz das teorias advindas de Norman (2007), Schmitt (2001) e Linsdtrom (2007). 1 Sentidos, memória, experiência e emoção: breves definições Os seres humanos possuem cinco sentidos fundamentais: audição, olfato, paladar, tato e visão. São eles que proporcionam o seu relacionamento com o ambiente e permitem que o corpo consiga perceber o que está ao seu redor. Toda e qualquer informação recebida pelo corpo acessa o cérebro através destes sentidos. No entanto, existem receptores especializados que são capazes de adquirir diversos estímulos tornando possível distinguir os sentidos. Através do tato, consegue-se pegar algo, sentir os objetos, perceber sensações de calor ou frio; com a audição, captura-se e ouvem-se os sons emitidos pela natureza; com a visão, enxergamse as pessoas, observam-se os contornos, formas, cores e luzes; o olfato permite identificar que o corpo identifique os cheiros ou os odores do ambiente; e, finalmente, consegue-se sentir os sabores através do paladar (PARKER, 1993). As informações que chegam ao cérebro e, imediatamente, buscam por interpretações em referências que constituem a memória, ocorrendo como uma espécie de dados armazenados, as informações são reservadas, em grande parte, através dos sentidos (CULCLASURE, 1973, p. 01). Para ocorrer uma sensação, ou melhor, para que esta seja conscientemente registrável, são necessários um estímulo, um receptor (estrutura que responde a um estímulo produzindo um impulso nervoso) e um sistema nervoso central, capaz de interpretar os impulsos produzidos pelos receptores e registrar conscientemente esta informação ao nível de sensação. Logo, percebe-se a relação entre os sentidos e a memória, pois a função dos órgãos sensoriais é comunicar ao cérebro a informação detectada por algum órgão dos sentidos. Para isso, estes transformam a informação em sinais elétricos - chamados de impulsos nervosos - que, consequentemente, transmitem a informação em códigos que ultrapassam nervos e dão acesso ao cérebro que os separa, os compara e, finalmente, os interpreta (PARKER, 1993). A memória constitui-se de um elemento complexo do corpo humano, pois possui ampla relação com fatores psicológicos, cognitivos e fisiológicos que acabam por relacioná-la diretamente. Entende-se que “somos aquilo que recordamos” e o acervo da memória faz com que cada indivíduo seja único. Os dados que cada pessoa possui permitem a associação com 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória de longo prazo informações novas e, conseqüentemente, o processamento das mesmas. O cérebro relaciona tais informações de acordo com o que já tem guardado dentro do seu arquivo pessoal – sejam elas positivas ou negativas - de acordo com a experiência e vivência pessoal de cada ser humano (IZQUIERDO, 2002, p. 10). Entende-se então, a sensação, como um diálogo interativo entre a razão e os sentidos, ou, entre as impressões do ambiente interior das pessoas com o exterior. Entretanto, numa concepção mais contemporânea, que afasta a visão compartimentada do indivíduo e de suas percepções, pode-se definir a sensação como uma usina de energias do corpo total presente na memória de cada pessoa (DE CARLI, 2002). Contudo, podem-se entrelaçar as definições de memória e sentidos vitais através das idéias de Schmitt (2001) que salienta que os estímulos são sensações guardadas pelo cérebro humano, ou seja, a memória que armazena as informações através de sensações que se sobressaem das demais como, por exemplo, uma cor viva, uma superfície muito áspera ou um odor muito intenso. São por estes motivos que costuma-se chamar de sensacional o estímulo que, ultrapassando o limiar do previsível, produz uma sensação que vai além do horizonte do espectador. Diante deste contexto, relaciona-se as idéias de Desmet e Hekkert que afirmam que experienciar produtos ou serviços é uma atividade oriunda de um fenômeno multi facetado que envolve diversas manifestações pessoais de um indivíduo, como sentimentos subjetivos, reações comportamentais, reações expressivas e reações fisiológicas (DESMET e HEKKERT, 2007). Segundo Demir e Desmet (2008), entende-se que existam três níveis de experiências de consumo: prazer estético, atribuição de sentido e resposta emocional. Na experiência estética, o consumidor considera a capacidade de um produto agradar suas modalidades sensoriais, como, por exemplo, através da beleza que desperta sua visão, dos seus que os mesmos os encantam, o toque gostoso ou até um cheiro agradável. Na experiência de atribuição de sentidos e significados está interligada com processos cognitivos que permitem realizar processos de interpretação, associação, significação, além de possibilitar o estabelecimento de relações simbólicas com os produtos. Na experiência ao nível emocional, são desenvolvidos fenômenos como amor e desgosto, medo e desejo, orgulho e desespero. Entende-se que as experiências são promovidas a partir de algum estímulo e podem gerar reações junto aos indivíduos. Estas respostas estão associadas com possíveis emoções que os mesmos venham a ter após experiências de consumo. Desta forma, pode-se entender que a emoção acontece devido a ocorrência de uma experiência, pois “não reagimos às qualidades físicas das coisas, mas ao que elas significam para nós” (KRIPPENDORFF, 2001, p.89). Pesquisas na área afirmam que a experiência emocional deve ser o cerne do desenvolvimento de um projeto de design, servindo como ponto de partida para a projetação de um bem de consumo (DAMAZIO, 2005). “Esta experiência inclui a percepção e identificação do produto, as associações e lembranças que ele ativa, os sentimentos e as emoções que ele evoca e os julgamentos que ele aciona” (Ibidem, p.40). Uma das formas com que as emoções se desenvolvem é por meio de substâncias químicas neuroativas que penetram centros cerebrais e modificam a percepção, a tomada de decisão e o comportamento dos indivíduos (NORMAN, 2008). Diante desta idéia, pode-se relacionar que, talvez, o uso proposital da intensificação dos sentidos vitais corrobore para as experiências positivas e, portanto, emoções relacionadas com a memória. Essas relações auxiliam a construir o pressuposto desse estudo, sugerindo a importância do estímulo dos sentidos vitais na relação entre a emoção, a memória e a experiência. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória a longo prazo 2 Experimentação A fim de analisar qualitativa e quantitativamente as possíveis relações entre os sentidos vitais, a memória, a emoção e a experiência, desenvolveu-se uma pesquisa de natureza experimental constituída por uma amostra não probabilística intencional de cinqüenta indivíduos – divididos em dois grupos de controle de vinte e cinco pessoas cada. Todos os integrantes do estudo reúnem características sociais, etárias, culturais e econômicas semelhantes: jovens universitárias que freqüentam o mesmo grupo social1 - estudantes de curso de Design de Moda de uma universidade brasileira. Individualmente, dentro de uma sala de aula, foram desenvolvidas duas coletas de dados distintas nos denominados grupos um e dois. O grupo um observou cinco imagens de diversas fontes através da projeção de multimídia em um espaço de tempo de um minuto de exibição entre cada imagem. Juntamente com estas projeções, os elementos da amostra receberam um questionário – denominado como A – de origem semi-estruturada, a fim de entender quais eram as associações desenvolvidas pelos elementos da pesquisa durante as exibições. O grupo dois também observou as mesmas imagens através da projeção de multimídia em um espaço de tempo igual ao do grupo um2. Porém, as projeções foram acompanhadas de sons e ruídos referentes ao que estava sendo visualizado. Concomitantemente, a amostra dos indivíduos recebeu um conjunto de elementos – denominados como kit. O kit era constituído por superfícies têxteis, essência e sons intencionalmente selecionados e relacionados com as imagens que estavam sendo observadas. A fim de facilitar o entendimento das análises, construiu-se o anexo 1, que objetiva-se a apresentar todas as imagens expostas aos indivíduos, bem como os materiais presentes nos “kits” disponibilizados aos participantes. Todas as imagens selecionadas buscaram remeter diferentes sensações aos espectadores, bem como, possibilitar que os mesmos as associem a memórias positivas, medianas ou, até, negativas. A imagem um, refere-se a uma gelatina vermelha e, com isso, inseriu-se um ruído caracterizado por uma melodia da infância de grande parte da amostra, que possui os dizeres “comer, comer... comer, comer, é o melhor para poder crescer”; juntamente, foi disponibilizada uma essência de morango para inalação; e o material para teste de superfície foi um tecido de cetim vermelho. Acredita-se que este conjunto de estímulos possa corroborar com uma memória, de certa forma, nostálgica, pois remete a infância individual de cada indivíduo da amostra. A imagem dois projetou a ilustração de pêssegos e, juntamente, foram disponibilizados e emitidos ruídos do processo de mastigação, bem como, essência de pêssego, juntamente a um tecido aveludado que assemelha-se a superfície da fruta. A escolha pelo som da mastigação ocorreu em função de tentar promover, intencionalmente, um desconforto auditivo. Acredita-se que tal ação, pode ser facilitadora para a recordação de longo prazo ou experiência negativa. Caracterizando-se por uma imagem inusitada, a terceira exposição – ilustrada por um macaco fumando charuto – foi promovida concomitantemente com ruídos de macacos, um tecido risca de giz (utilizado pelo animal na foto) e por um charuto. Tal reunião objetivou-se a resgatar a memória das pessoas em função do ineditismo da figura. A quarta imagem caracteriza-se pelo Taj Mahal e os elementos de estímulos relacionaram-se com uma malha estilo Indiana, um incenso e músicas Indianas. Conhecido por sua suntuosidade, imagina-se que a imagem paradisíaca do templo pudesse corroborar para com a memória e emoção das pessoas. A quinta, e última imagem, ilustra uma taça de sorvete. A mesma, foi reforçada com o auxílio olfativo de essência de baunilha, bem como por uma textura de um tecido em tom semelhante a imagem e por ruídos de carroceiro de sorvete. A escolha deste conjunto ocorreu em função da 1 Um grupo social particular é normalmente composto por pessoas do mesmo meio, com os mesmos hábitos ou o mesmo estatuto social (BARATTA, 1996). 2 Bem como recebeu o mesmo questionário do grupo um. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória de longo prazo possibilidade de remeter a imagem à experiências gastronômicas anteriores, para tanto, o reforço através do odor foi exercido. Ao transcorrer de duas semanas, os grupos, separadamente, responderam novamente a um segundo questionário – denominado como B – de origem semi-estruturada que teve por objetivo descobrir quais foram as imagens ou vivências que se mantiveram presente nas lembranças dos elementos. O questionário B aplicado ao grupo dois diferiu do instrumento aplicado ao grupo um, pois foram desenvolvidas com algumas perguntas referentes aos sentidos estimulados anteriormente através dos sentidos vitais. 2.1 Resultados da primeira etapa: nível de envolvimento e emoção Os resultados obtidos nesta primeira etapa objetivaram-se a relacionar as sensações atribuídas pelos grupos durante a experiência e verificar se as mesmas possuíam diferenças de intensidades de associações. O grupo um – caracterizado por ter verificado apenas as imagens – respondeu ao questionário, em geral, de forma sucinta e resumida. As associações feitas, em grande parte, relacionam-se com palavras chave que permearam a média de três termos por imagem, sendo que no mínimo uma palavra e no máximo seis palavras foram relacionadas. O grupo dois – caracterizado por verificar as imagens através da intensificação dos sentidos, concomitantemente, da audição, olfato e tato – também foi submetido ao questionário ao qual gerou transcrições mais amplas e detalhadas com relação aos estímulos oferecidos. As associações não se resumiram apenas em palavras, como no grupo um, mas sim, em frases, traduções de fragmentos de idéias. No mínimo, as imagens foram relacionadas com quatro e no máximo com dez idéias. Observou-se também, que as idéias traduzidas nos questionários possuem uma relação intensa com os odores disponibilizados ao longo da aplicação da experiência. Estas associações se estenderam ao longo das percepções, como por exemplo: a imagem da gelatina relacionou-se com essências de morango, que atrelou ao sentimento de festas infantis, guloseimas, doces, pirulito. Torna-se relevante salientar que as associações com os odores fizeram-se presente em grande parte das análises, caracterizando, desta forma, uma importante associação de memória para este grupo de controle. 2.2 Resultados da segunda etapa: nível de memorização A segunda etapa realizou-se após quinze dias corridos da aplicação da primeira fase e teve como intuito, comparar as possíveis diferenças entre as memórias de longo prazo dos grupos um e dois3. A visualização entre os resultados obtidos através dos grupos pode ser percebida no pareamento dos resultados, conforme Quadro 01. Geral: Total de Imagens recordadas Cinco Imagens Recordadas Quatro Imagens Recordadas Três Imagens Recordadas Duas Imagens Recordadas Uma Imagem Recordada Nenhuma Imagem Recordada Específico: Total de Imagens recordadas Imagem 1 – Gelatina de morango Imagem 2 – Pêssegos Imagem 3 – Macaco fumando charuto 3 Grupo 1 N. de pessoas (%) 8 48 40 0 0 4 Grupo 1 N. de pessoas (%) 76 52 84 Grupo 2 N. de pessoas (%) 48 44 4 4 0 0 Grupo 2 N. de pessoas (%) 100 76 92 Os resultados foram inseridos no software SPSS - Statistical Package for Social Sciences. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória a longo prazo Imagem 4 – Taj Mahal 64 72 Imagem 5 – Sorvete 68 80 Quadro 01: Pareamento das recordações das imagens dos grupos um e dois. Fonte: Desenvolvido pelos autores. Foi realizado um teste de análise de variância (ANOVA), buscando identificar se houveram diferenças significativas quanto ao grau de lembrança entre os Grupos 1 e 2. Foi constado que o Grupo 1 apresentou diferenças estatisticamente significantes se comparadas ao Grupo 2 (P<0,001), aceitando a hipótese do estudo anteriormente apresentada. Os dados foram analisados sob uma perspectiva geral onde as lembranças das imagens foram somadas a fim de verificar a média do número de recordações dos grupos. Com relação a diferença da percepção geral, pode-se perceber-se que existe distinção entre os resultados obtidos com o número de imagens recordadas nos grupos um e dois, conforme grifado no quadro acima. A região grifada em cinza da tabela representa que cerca de 92% dos indivíduos do grupo dois recordaram entre quatro e cinco imagens, afastando-se dos números obtidos pelo grupo um, onde 56% das pessoas recordaram o mesmo número de imagens. Desmembrando estes valores, percebe-se que quase metade da amostra dois recordou cinco imagens, ou seja, todas as imagens apresentadas. Contudo, percebe-se que uma quantidade representativa da amostra obteve altos índices de recordações, levado a interpretar que, as memórias de longo prazo permaneceram mais contundentemente nos indivíduos que foram expostos a intensificação dos sentidos vitais. Nas análises específicas de imagens, tem-se como semelhança os altos registros de recordação da imagem 1 e, posteriormente, a imagem 3. A fim de procurar associações para com as imagens mais revisitadas, pode-se, de repente, associar a imagem 3 ao ineditismo e curiosidade despertada nos indivíduos. Esta possível explicação, reforça-se nas idéias de Schmitt (2001) que corrobora salientando que os estímulos e sensações que se sobressaem das demais são mais facilmente armazenados pela memória. A fim de verificar os registros obtidos através dos demais sentidos despertados e específicos do grupo dois, organizou-se o Quadro 2, composta por visão geral – número total dos elementos recordados – e específicas – números de cada elemento recordado. Geral: Total de Tecidos recordados Todos Tecidos Recordados Quatro Tecidos Recordados Três Tecidos Recordados Dois Tecidos Recordados Um Tecido Recordado Nenhum Tecido Recordado Específico: Total de Tecidos recordados Tecido 1 – Cetim vermelho Tecido 2 – Plush salmão Tecido 3 – Risca de Giz (P&B) Tecido 4 – Malha estampada Tecido 5 – Dublado cru Geral: Total de Odores recordados Todos Odores Recordados Quatro Odores Recordados Três Odores Recordados Dois Odores Recordados Um Odor Recordado N. de pessoas que recordaram (indivíduos) 2 1 4 5 8 5 N. de pessoas que recordaram (indivíduos) 12 12 10 5 5 N. de pessoas que recordaram (indivíduos) 7 8 4 3 2 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design N. de pessoas que recordaram (%) 8% 4% 16% 20% 32% 20% N. de pessoas que recordaram (%) 48% 48% 40% 20% 20% N. de pessoas que recordaram (%) 28% 32% 16% 12% 8% A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória de longo prazo Nenhum Odor Recordado 1 4% Específico: N. de pessoas que recordaram N. de pessoas que recordaram Total de Odores recordados (indivíduos) (%) Odor 1 – Essência de morango 22 88% Odor 2 – Essência de pêssego 17 68% Odor 3 – Charuto 15 60% Odor 4 – Incenso 17 68% Odor 5 – Essência de baunilha 17 68% Geral: N. de pessoas que recordaram N. de pessoas que recordaram Total de Sons recordados (indivíduos) (%) Todos os Sons Recordados 0 0% Quatro Sons Recordados 6 24% Três Sons Recordados 5 20% Dois Sons Recordados 8 32% Um Som Recordado 4 16% Nenhum Som Recordado 2 8% Específico: N. de pessoas que recordaram N. de pessoas que recordaram Total de Sons recordados (indivíduos) (%) Som 1 – Música “Comer, comer” 18 72% Som 2 – Mastigação 13 52% Som 3 – Ruídos de macacos 14 56% Som 4 – Música indiana 12 48% Som 5 – Carrocinha de sorvete 2 8% Quadro 02: Pareamento das recordações gerais e específicas do grupo dois. Fonte: Desenvolvido pelos autores. Se comparados às imagens, verifica-se que os tecidos não obtiveram altos índices de recordação, salientando que 20% da amostra não recordaram de nenhum tecido disponibilizado e apenas 8% obtiveram recordação máxima com relação aos têxteis. Os registros individuais relacionados com a memória olfativa também foram considerados e percebeu-se que 50% dos indivíduos recordam entre cinco e quatro odores sentidos. Estes números chamam a atenção em função de superar a capacidade de memória tátil da amostra. Apenas 4% não recordaram de nenhum odor, apontando relevantes considerações se comparados aos registros obtidos com os têxteis, onde, 20% e 8%, respectivamente, obtiveram nenhuma recordação e todas as recordações. Os sons emitidos durante a aplicação foram analisados sob as dimensões individual e geral, de acordo com a tabela, observa-se que 44% dos indivíduos recordaram entre quatro e três sons escutados. Nenhum membro do universo amostrado recordou de todos os sons e apenas 8% recordaram de apenas um ruído. No entanto, a capacidade de recordação musical desta amostra também se faz contundente, obtendo números satisfatórios com relação as memórias preservadas. Com relação a memória específica, percebe-se que os sons oriundos das imagens 1, 2 e 3 obtiveram os maiores números de recordação. Mesmo que a imagem 2 não obteve significativo número de recordação em nenhum sentido estimulado, mais da metade da amostra recordou do som aplicado. Objetivando-se a compreender este fato isolado, pode-se associar a perspectiva inicial em que o desconforto causado pelo som possa ter prolongado a memória dos indivíduos. A última questão exposta no questionário B – específico do grupo dois - referiu-se a relação estabelecida pelos indivíduos entre a memória e os sentidos vitais. Para tanto, perguntou-se se os sons, texturas e odores contribuíram na recordação das imagens projetadas, conforme observa-se na tabela abaixo. Através das respostas obtidas, percebe-se que a maioria dos indivíduos estabelece uma relação consciente entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória. Algumas afirmações ilustram que “os sentidos auxiliam a fixar no cérebro as lembranças”. Ou ainda, em uma perspectiva mais explicativa, “as lembranças 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória a longo prazo ficam na memória, tanto das coisas que gostamos, como das que não gostamos, logo, nós acabamos recordando delas”. Ambas as afirmações fazem inferência a relação dos sentidos como fatores de contribuição para com a memória. Outros registros enfocaram especificamente os sentidos evocados que corroboraram na recordação, como percebe-se na afirmação: “texturas e odores me auxiliaram a recordar as imagens, mas as músicas não me remeteram a nada”. Ou ainda: “no exercício de tentar lembrar dos tecidos, por exemplo, me peguei pensando também nas imagens e até na textura de cada um deles. O mesmo ocorreu com os sons” e “fica mais fácil lembrar da figura se recordamos o cheiro”. Outros indivíduos justificam a relação através de um conjunto de sentidos e não apenas um isoladamente. “Mais de um elemento ajuda a recordar as imagens, as sensações de uma forma geral colaboram com a memória”, são algumas transcrições que refletem a relação estabelecida pelos indivíduos para com a memória. Percebe-se que, para a maioria dos indivíduos, a relação estabelecida foi registrada e contundente para as associações dos mesmos, colaborando para reforçar o pressuposto do presente estudo. 3 Possíveis interlocuções entre os sentidos e a experiência A denominada época pós-industrial acarretou um acúmulo de informações enviadas aos indivíduos sociais e, consequentemente, as empresas se apóiam em novas formas de promover experiência aos seus clientes, entendendo ser esta uma ação necessária (ANDRÉS; CAETANO; RASQUILHA, 2005). A fim de promover diferentes experiências aos usuários, Underhill (1999) e Schmitt (2002) destacam que o marketing experimental consiste na elaboração de estratégias que oportunizam os clientes em usufruir – consciente ou inconscientemente – amplamente o processo de compra. As experiências podem ser associadas com diferentes áreas estratégicas: emocional (relacionada a sentimentos); cognitivas criativas (ligadas aos pensamentos); experiências físicas e de estilo de vida (correspondentes a ações); experiências de relacionamentos (ocorridas através de identificação); e finalmente, experiências sensoriais (relacionas aos sentidos vitais individuais de cada ser humano) (SCHMITT, 2004). Segundo Linsdstrom (2007), as experiências sensoriais estão atreladas a evocação de sentimentos e comportamentos que relacionam-se afinadamente com a memória. Desta maneira, pode-se entender que estas ações possuem relação com a percepção do cliente no que relaciona-se um determinado bem de consumo ou marca. O mesmo autor, ainda salienta a importância de explorar amplamente os sentidos, pois os mesmos relacionam-se com qualquer forma de comunicação e experiência de vida dos usuários (2007). Percebe-se uma estreita afinidade entre os sentidos vitais e a experiência, pois os cenários onde os consumidores estão inseridos são capazes de estabelecer uma reação sensorial provocada nos mesmos, seguida de diferentes associações, abandonando a idéia de ser possível classificar os comportamentos de consumo através de padrões pré-estabelecidos. Percebe-se que existem sentidos que podem ser mais percebidos e, consequentemente, recordados pelos indivíduos enquanto momento de experiência e emoção. Criou-se um quadro que busca fazer um nivelamento entre os sentidos mais recordados (totalidade das lembranças dos objetos), conforme ilustrado abaixo. Sentidos vitais intensificados Visão: imagem Olfato: essências 4 Número de pessoas que obtiveram grau de recordação de todos os objetos expostos (%)4 48% 28% Referente a pesquisa realizada no presente estudo. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Nível de envolvimento Alto Médio A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória de longo prazo Tato: tecidos Audição: sons 8% 0% Quadro 3: Sentidos mais recordados Fonte: Desenvolvido pelos autores Baixo Nulo ou não representativo Contudo, estes dados podem ser relacionados com teorias existentes acerca do design de experiência5 a fim de colaborar com os estudos da área. As emoções sentidas pelos indivíduos podem evocar experiências positivas através de associações e lembranças. Estas são consideradas por Norman (2008), as mais importantes no processo cognitivo e emocional durante o processo de compra, pois relacionam-se aos níveis de sentimentos e emoções. Uma experiência positiva para com um bem de consumo pode gerar experiências positivas nos usuários, bem como memórias a longo prazo. 4 Considerações finais Observa-se que os objetivos da pesquisa foram atendidos ao longo do estudo, bem como a hipótese de que a intensificação dos sentidos vitais proporciona um aumento da capacidade de memorização, promoção de experiências e emoção foi confirmada. Ao analisar os grupos de controle – um e dois - percebeu-se que os indivíduos que sofreram a intensificação de quatro sentidos vitais obtiveram maiores números com relação à recordação. De todos os sentidos intensificados no grupo dois, a visão foi a recordação mais prolongada. Este resultado pode estar relacionado com o treinamento diário que a capacidade visual das pessoas é submetida ao enxergar o mundo em sua volta. Apesar de sobrecarregada, a visão pode ser o sentido com maior capacidade de recordação devido ao seu treinamento prévio. No entanto, este resultado também pode ser relacionado com outros fatores. Se comparados ao grupo um – verificado apenas pelo estímulo da visão – percebe-se que o grupo dois obteve maiores números de lembranças de imagens. As circunstâncias levam a crer que os outros sentidos vitais corroboram para o prolongamento da memória de longo prazo no que se relacionam a recordação das imagens. Ao longo da pesquisa, fez-se importante a percepção e transcrição das idéias dos indivíduos da amostra dois com relação a importância que os mesmos agregam a relação estímulo sensorial, a emoção e a memória. As descrições dos indivíduos foram ao encontro da hipótese estabelecida com o estudo, bem como elucidaram algumas relações realizadas pelos indivíduos para com a percepção da importância dos estímulos dos sentidos vitais no processo de recordação de eventos passados. Mesmo não se objetivando em ser o foco da presente pesquisa, ressalta-se que, seguidos da visão, os estímulos mais recordados foram os relacionados com os odores. Desta forma, abre-se uma nova relação de estudo que indica que o olfato faz-se importante e prolongado no processo de rememoração das pessoas. Verifica-se que as respostas obtidas no estudo podem relacionar-se com diversos fatores como, por exemplo, o local em que os indivíduos estão inseridos, as diferenças de percepções quanto aos estímulos aplicados ou o grau de importância que as pessoas atribuem aos mesmos. Diante disto, percebe-se que nem sempre os estímulos podem ser percebidos positivamente em função dos mesmos serem rapidamente associadas com situações passadas e registradas nas memórias das pessoas. Os resultados obtidos, bem como as análises estabelecidas no estudo, estão relacionados apenas com a amostra do universo da presente pesquisa, não sendo possível generalizar os resultados para demais amostras. Entende-se que este estudo corrobore com perspectivas científicas acerca das relações entre a intensificação dos sentidos vital em prol do prolongamento da memória, emoção e experiência. 5 Projetos de bens de consumo que visam o desenvolvimento de experiências nos usuários. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A relação entre a intensificação dos sentidos vitais e a memória a longo prazo 5 Referências ANDRÉS, Andreia; CAETANO, Joaquim; RASQUILHA, Luis. Gestão de Experience Marketing. São Paulo: Quimera, 2005. CULCLASURE, David F. Órgãos dos sentidos: tradução. Mário Alves Pedro. São Paulo, SP: Editora da Universidade de Brasília, 1973. DE CARLI, Ana Mery Sehbe. O sensacional da moda. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2002. DEMIR, Erdem & DESMET, Pieter. The roles of products in product emotions: as exploratory study. Proceedings of DRS2008, Design Research Society Biennial Conference, Sheffield, UK, July 16-19, 2008. DESMET. Pieter; HEKKERT, Paul. 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