ISSN: 1981 - 3031 EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS NO USO DE MÍDIAS PELO PROFESSOR DA EJA NOS PRESÍDIOS ALAGOANOS Patricia Maria dos Santos1 E-mail:[email protected] Resumo O presente artigo trata das experiências obtidas durante o ensino no 2º segmento da EJA no Sistema Prisional de Alagoas e dos desafios encontrados pelo professor ao se deparar com as dificultadas dos alunos em compreender os conteúdos vistos em sala de aula. E para tanto foi desenvolvido esse estudo para mostrar a população acadêmica, bem como a outros profissionais da educação, os resultados obtidos com a utilização de mídias durante as aulas - contando com o auxílio de atividades e questionários para acompanhar o desenvolvimento dos alunos -, e a contribuição desses recursos para auxiliar o profissional de educação para desenvolvê-las. Para isso, foram utilizados durante as aulas das disciplinas de História e de Ensino Religioso a TV/DVD, agregado ao lúdico com exibição de filmes, e textos impressos relacionado aos temas vistos como recurso metodológico, que ao longo do percurso mostrou resultados satisfatórios obtidos com o complemento dos estudos com questionários e discussões, revelando o posicionamento crítico de muitos alunos sobre os conteúdos estudados. PALAVRAS-CHAVE: Experiências. Mídias. EJA. Sistema Prisional. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo trata das experiências obtidas durante o ensino das disciplinas de História e Ensino Religioso de novembro de 2013 a agosto de 2014, a uma turma de 28 alunos (internos) no 2º segmento do ensino fundamental da EJA no Sistema Prisional de Alagoas2 – em particular o Núcleo Ressocializador da Capital -, e dos desafios encontrados pelo professor ao se deparar com as dificultadas dos alunos em compreender os conteúdos vistos em sala de aula, já que não é suficiente o uso do livro didático para desenvolver o ensino-aprendizagem de forma homogênea para indivíduos com diversidades de conhecimento escolar e de vida, de forma a exigir do professor a busca de meios para efetivar esse ensino, mesmo que alguns métodos não contemplem a todos, como fala Rosa (2008, p. 225) 1 Professora monitora (Secretária da Educação do Esporte de Alagoas) das disciplinas de História e Ensino Religioso no Sistema Prisional da Capital e Escola Estadual Pastor Tavares Souza, Acadêmica da Especialização em Mídias na Educação (Universidade Federal de Alagoas) e graduada em História – Licenciatura Plena (Universidade Federal de Alagoas). 2 Localizado na cidade de Maceió – Alagoas. 1 ISSN: 1981 - 3031 “Mesmo assim, por mais que se busque a homogeneidade, em sua essência, isto não é possível”. Assim como na EJA ou como em qualquer outra modalidade de ensino, para facilitar o aprendizado e aguçar o interesse dos alunos se faz necessário por parte do professor a utilização de recursos metodológicos, como mostra COSTA, COSTA e LOPES “Por isso, os conteúdos, as funcionalidades, os métodos e os procedimentos devem ser diferenciados” (...). E um desses recursos seria as mídias, para a realização de atividades por eles, bem como o seu desenvolvimento didático-pedagógico e crítico sobre o conteúdo estudado, de forma a tornar o aprendizado dinâmico e atrativo aos alunos que nesta modalidade de ensino requerem, além da seguridade do direito a educação, o acesso a mais recursos midiáticos que as demais modalidades, já que muitos destes alunos não frequentaram a sala de aula durante a faixa etária escolar adequada, devido a vários fatores como: A necessidade de trabalhar ou como neste caso, a privação à liberdade. Como trata (GADOTTI, 2009, p. 19) “Ao estabelecer como prioridade de atendimento do direito à educação os grupos sociais mais vulneráveis, devemos incluir aí as pessoas analfabetas e também as privadas de liberdade.” A educação nos presídios tem por objetivos, cumprir com o direito ao acesso a educação a todos, conforme trata a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 6º “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade, a família, a assistência aos desamparados.”. E também a oferta de ensino àqueles que, devido a determinadas circunstâncias não tiveram ou foram impedidos de frequentarem a escola, através do ensino da modalidade EJA como mostrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9.394/96 em seu artigo 37 “A educação de Jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.” Além destas leis acima citadas que garantem o direito de acesso a educação a estes excluídos, temos também em nosso estado a Resolução nº 2 ISSN: 1981 - 3031 18/2002 – CEE/AL que regulamenta e assegura a Educação de Jovens e Adultos no Sistema Estadual de Ensino do Estado de Alagoas em seu art. 2º. A Educação de Jovens e Adultos destina-se àqueles que não tiveram acesso à escola ou nela não puderam permanecer até a conclusão do Ensino Fundamental e/ou Médio, com interrupção da continuidade da sua escolarização regular no tempo adequado. (RESOLUÇÃO N. 18/2002 – CEE/AL) E a Resolução nº 02/2014 – CEE/AL, que oferta a educação Básica e Superior nas modalidades de Educação de Jovens e Adultos, Profissional/Tecnológica e a Distância para àqueles privados de liberdade no Sistema Prisional de Alagoas, que veio em seu artigo 1º. Estabelecer, na forma desta resolução, as normas reguladoras para a oferta de educação básica e superior, nas modalidades de Educação de Jovens e Adultos – EJA, Educação Profissional/Tecnológica e Educação a Distância – EAD, para jovens e adultos privados de liberdade, extensivas aos presos provisórios, condenados do sistema prisional e àqueles que cumprem medidas de segurança. (RESOLUÇÃO N. 02/2014 – CEE/AL) A Resolução acima é regulamentada pela Resolução n.º 02/2010 – CNE de Diretrizes Nacionais para a oferta de Educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos sistemas prisionais, no que cabem também, as propostas de criação de metodologias para fomentar o ensinoaprendizagem, como trata seu Art. 5º. Os Estados, o Distrito Federal e a União, levando em consideração as especificidades da educação em espaços de privação de liberdade, deverão incentivar a promoção de novas estratégias pedagógicas, produção de materiais didáticos e a implementação de novas metodologias e tecnologias educacionais, assim como de programas educativos na modalidade Educação a Distância (EAD), a serem empregados no âmbito das escolas do sistema prisional. (RESOLUÇÃO N.º02/2010 – CNE) E com base nessas orientações e na necessidade em motivar os alunos a participarem das discussões e desenvolver o ensino-aprendizagem é que foram utilizadas determinadas mídias durante as aulas, que mais se assemelhassem a modalidade de ensino, ao ambiente e tipo de aluno, como 3 ISSN: 1981 - 3031 por exemplo, televisão/vídeo - para exibição de filmes e documentários e material impresso como reportagens, apesar de existir recursos tecnológicos mais modernos, como o uso da internet, mas que, no entanto confrontaria as regras de segurança do Sistema Prisional. E por isso foi desenvolvido esse trabalho para experimentar o uso de mídias em sala de aula, analisar ao final do processo de obtenção de dados os resultados do desempenho dos alunos após essa utilização e mostrar a importância da contribuição dessa utilização no ensino-aprendizagem em sala de aula. E neste caso em particular do aluno interno, essas estratégias são ainda mais necessárias, já que o profissional de ensino terá que conquistar o interesse do aluno pelo aprendizado e mostrar que isso será importante para a sua vida fora do cárcere e não só para a remissão de pena. Para tanto o processo de elaboração do referido artigo foi composto de estudo descritivo, baseado em pesquisa de campo com abordagem quantitativa, através de consulta aos principais personagens do estudo por meio de aplicação de questionários para avaliar o desempenho dos alunos no processo de aprendizagem e contando com auxílio de recursos midiáticos, como documentários e textos impressos, agregando a estes o lúdico com a exibição de filmes. 2 O USO DA TV/DVD NO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS DO SISTEMA PRISIONAL DE ALAGOAS As mídias como recurso pedagógico têm por objetivo auxiliar o professor no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. E saber escolher o que se vai utilizar em sala de aula é primordial para o sucesso desse processo, não só para o desenvolvimento desse trabalho, mas principalmente o de ensinar. Utilizar tal ferramenta pode não ser uma tarefa fácil para o professor, seja por receio de manuseá-las, como no caso da TV/DVD, ou por rejeição do aluno pelo uso dessa mídia e para não ocorrer isso deve haver 4 ISSN: 1981 - 3031 entre professor e aluno um espaço aberto para falar sobre as dificuldades de cada um. E comigo não foi diferente, primeiro por sentir dificuldades em fazer os alunos compreenderem os conteúdos, depois encontrar meios para sanar essa problemática e por último, receio deles não aprovarem esse uso e recusarem fazer as atividades propostas relacionadas aos conteúdos vistos com o auxílio dos referidos recursos. Porém, ao longo do processo esses temores foram vencidos. A TV como meio de informação presente no lar de quase toda a população também pode e deve ser utilizada como método de ensinoaprendizagem durante as aulas, através da escolha de programas que apresente conteúdos socioculturais, como o filme Tempos Modernos e o Documentário sobre o Tabagismo visto mais adiante. O uso da mídia impressa, como texto jornalístico, também contribui para o contato dos alunos a esse meio de comunicação, já que a leitura de jornais, revistas, etc., não faz parte da rotina da maioria dos indivíduos, seja por condições financeiras ou por falta de habito de lê. O uso destes textos tinha como objetivo envolver os alunos ao estudo, através da leitura e analise crítica de temas atuais que circundam na sociedade, como o texto da reportagem sobre a intolerância religiosa, que objetivava despertar neles uma posição crítica-reflexiva a cerca do comportamento dos indivíduos relacionando à temática, sendo capaz de propor medidas para solucionar tal problemática, como visto logo abaixo. 2.1 Relatos da experiência do uso da TV/DVD como recurso midiático no ensino de História Para auxiliar os estudos sobre o assunto O mundo do trabalho com ênfase na Segunda Revolução Industrial e nas relações de trabalho visto na disciplina de História, foi utilizado o lúdico como auxílio da TV/DVD através da exibição do Filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin para serem 5 ISSN: 1981 - 3031 discutidas as questões que envolvem o desenvolvimento industrial e das questões trabalhistas em contexto com as condições de trabalho atualmente vividas pelos trabalhadores - principalmente no que se referia a comemoração ao dia 01 de maio, dia do trabalhador momento em que foi feita essa exibição -, como por exemplo, as conquistas a direitos trabalhistas que até então não os beneficiavam, como a longa jornada de trabalho e o contato com trabalhos com movimentos repetitivos prejudiciais ao trabalhador, ponto bastante observado pelos alunos, já que segundo eles já executaram trabalhos dessa forma. Outro momento do filme bastante discutido foi a questão do curto intervalo de tempo reservado aos operários para o descanso e para as refeições, que segundo eles: ...não permitia os operários descasarem e recuperarem as forças para voltar ao trabalho, dificultando a execução das funções e diminuindo a produção de cada um...(aluno M.) Segundo alguns alunos: ...foi o excesso de trabalho que fez com que o operário, representado por Charlie, fosse internado no hospital, assim como acontece ainda hoje, não sendo só apenas dessa forma mas de outras também com problemas psicológicos entre outros...(aluno M.) Eles ainda falaram sobre o posicionamento opressor da maioria das empresas assim como o proprietário da fábrica do filme, que além do excesso de trabalho realizam outros abusos como: ...as emprezas que pagam muito pouco e ezigem demais das pessoas que não tiverão a oportunidade de crescer nos estudos ou por sofrimento da vida, então os emprezarios aproveitam essas pessoas leigas e fazem delas de escravos, colocando para trabalhar sem carteira fichadas ultrapassando do horário previsto em leis e sem ter um pouco de dignidade em outros aspectos dentro das leis trabalhistas...infelizmente nossos representantes das leis estão com os olhos vendados para estas cosias mas bem abertos para outras, como os desvio de verbas e propinas pagas por grandes empresários. (aluno V.) Segundo os alunos: 6 ISSN: 1981 - 3031 ...a realidade do mundo hoje professora é que o capitalismo quer um trabalhador que dê produção sem levar em conta as horas extras trabalhadas.(aluno C.) 2.2 Relatos da experiência do uso da TV/DVD e mídia impressa como recurso midiático no Ensino Religioso Dentro da disciplina de Ensino Religioso foram trabalhados conteúdos voltados a questões sociais e coletivas, como por exemplo, o combate ao fumo, tema abordado no Projeto Interdisciplinar realizado em comemoração ao dia mundial do combate ao tabaco (dia 31 de maio) evento que durou toda a semana com atividades voltadas a temática sob o comando da coordenação e dos professores do Sistema Prisional com objetivo de conscientizar os internos dos perigos do uso do tabaco a saúde do usuário bem como das despesas causadas a saúde pública para o seu tratamento. Para tanto foi exibido o Documentário Tabagismo 3 – produzido pela TVJUSTIÇA -, seguindo o cronograma de atividades da semana de combate ao tabaco elaborado pela coordenação do Núcleo Ressocializador da Capital, assim como nas escolas de ensino regular , também programou uma semana de atividades em relação a temática para conscientizar os internos sobre os males causados a saúde pelo uso do fumo. A realização do Projeto Interdisciplinar sobre o Tabagismo foi de suma importância para desenvolver o processo de aprendizagem dos internos, já que ele proporcionou a interação e envolvimento destes por meio de relatos feitos sobre casos vividos por eles ou por parentes, de forma a tornassem também interlocutores de suas histórias como mostram CRUZ, FIREMAN, MELO e MERCADO. Essa aprendizagem torna a relação de ensino-aprendizagem um processo dinâmico, possibilitando a formação de sujeitos participativos e autônomos, criando-se, assim, a possibilidade de desfazer a forma de aula tradicional em que só o professor tem o 3 http://www.youtube.com/watch?v=pj-JqW1UT9Y. Acesso em 30 abril 2014. 7 ISSN: 1981 - 3031 que falar, em que ele apresenta os conteúdos e os alunos apenas ouvem. (CRUZ, FIREMAN, MELO e MERCADO, p.112, 2007). No referido documentário trabalhamos além da questão das doenças relacionadas ao fumo e ao usuário ativo e passivo, também discutimos outros pontos e curiosidades, como por exemplo, a de que o fumo matou 5 milhões de pessoas no século XX e que a estimativa para esse século será de 100 bilhões, índice de mortes maior do que ocasionados pelas guerras, informação que deixou os alunos pensativos sobre o poder destrutivo do fumo, onde determinado aluno comparou o fumo a uma arma de guerra. ...profesora o fumo é arma de guerra... (aluno M.) Outro tópico discutido pelos alunos foi a questão sobre a porta que se abre pelo tabaco para o uso de outras drogas, como a maconha e o craque, onde eles iniciaram uma discussão e levantando dúvidas se o fumo de fato contribui para o consumo de outros entorpecentes. Neste momento o aluno Y falou sobre a questão da: ...influência causada por fumantes ativos àqueles que não possuem o vício e também daqueles que querem parar, mas não conseguem... Abrindo outro ponto de discussão sobre a questão da força de vontade ou de motivo para parar com o vício, em que muitos foram a favor de que é possível parar, momento em que o aluno J. falou. ...mas a vontade tem que partir do próprio usuário e que de nada resolve está em uma clínica para tratamento se não houver força de vontade do indivíduo, assim como também parar de consumir outras drogas... E já que estávamos falando da questão da influência de outras pessoas no uso dessa droga, fiz um questionamento referente à influência no circulo de amizades de jovens, e eles falaram: ...nessa fase o contato com vício é ainda mais rápido por causa da questão de se manter nestes círculos, de mostrar status e que eles se deixam levar pela vaidade mais fácil que os adultos, já que os adultos começam a fumar geralmente pelo stress do dia a dia... Outro objetivo da discussão levantada por outro aluno foi com o intuito de chamar a atenção dos alunos sobre os danos causados pelo tabaco no seio familiar e na sociedade. 8 ISSN: 1981 - 3031 ...que o vício deste é tido pelas organizações ligadas a saúde como uma epidemia e que devido a esse fato deve-se criar medidas para sanar o problema e não só apenas cuidar dos enfermos atingidos por ele, ou seja, tem que se combater o tabaco antes mesmo do seu uso pelo indivíduo, através de políticas públicas, como campanhas preventivas.(aluno V.) Depois da exibição do documentário e das discussões envolvendo o tema foi apresentada aos alunos uma atividade para relacionar as consequências advindas com o uso do tabaco ao usuário direto e a sociedade em geral e em seguida sugerir medidas para o combate de sua livre comercialização e uso. Para alguns alunos: ...o cigarro é uma arma letal que vai matando aos poucos quem o consome e que as consequências para quem faz o uso dessas substâncias compostas de vários componentes químicos são doenças na maioria das vezes incuráveis, como o câncer de pulmão e de faringe e em outras observações feitas por eles perpetuou a preocupação com o fator da impotência sexual também causada pelo uso do tabaco. Segundo alguns alunos: ...o governo deveria adotar uma medida de emergência para observar e cuidar dos doentes que fazem uso do cigarro, como uma medida que conscientizasse a população e a proibição definitiva do uso de cigarros nos restaurantes, bares, shopping, baladas, empresas nos hospitais etc., e que o senado ou a câmara deveria fazer um projeto de lei mais eficaz para penalizar quem fumasse nesses lugares (aluno C.) Outros alunos abordaram não só o que foi pedido no questionário, mas também casos particulares na família de fumantes, como do aluno X que relatou com pesar a trajetória de fumante do seu tio que quase perdeu a vida por causa do vício ao combater um câncer de garganta e das sequelas deixadas pelo fumo como cansaço e o sistema abalado. Eu tenho...um tio...que quase perdeu a própria vida por causa do sigarro que deixou ele com muitas cequelas como cançasso...nervoso abalado e o pior teve que lutar contra um câncer de garganta. (aluno X.) X diz que: ...o documentário fala a pura verdade professora e que ele é mais uma forma de conscientizar a todos os fumantes e que só quem tem alguém na família é 9 ISSN: 1981 - 3031 que sabe o sofrimento e as consequências de quem é viciado no cigarro.(aluno X.) O aluno X fala que: o Estado tem que investir cada dia mais em clínicas especializadas em combater o cigarro e em ajudar pessoas que vivem na dependência dele com palestras em todas as partes do Brasil. Ainda na disciplina de Ensino Religioso utilizei durante uma aula um texto impresso de uma reportagem sobre intolerância religiosa 4, intitulado: Católicos e mulçumanos vão apoiar a retirada de vídeos da internet de intolerância religiosa, feito pela repórter Isabela Vieira da Agência Brasil publicado no dia 11 de junho de 2014, em que sugeri a cada aluno que fizesse uma leitura do texto e depois fizesse uma reflexão sobre do que ele tratava. Dentro desse texto foram discutidos vários temas como a questão de intolerância religiosa dentro das escolas, no que diz respeito a direito de cultuar sua crença ou opção religiosa, que segundo o texto alguns profissionais da educação ainda não concordam com esse ato por parte do aluno, como menciona o babalorixá Ivanir Santos na reportagem, “Uma menina foi discriminada uma semana depois daquele episódio. Quando ela disse que era candomblecista, a professora de religião disse que não era religião e era ilegal”.5 Nesse momento discuti com os alunos sobre o direito de cultuar sua crença que é amparado pela constituição Federal de 1988 no seu art. 5º, inciso VI que diz “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.” (CF. 1988, p. 09). E que neste caso a professora que discriminou a aluna teria se equivocado, já que a 4 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-06/catolicos-e-mulcumanos-apoiam-retirada-devideos-de-intolerencia-do-ar. Acesso em 26 maio 2014. 5 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-06/catolicos-e-mulcumanos-apoiam-retirada-devideos-de-intolerencia-do-ar. Acesso em 26 maio 2014. 10 ISSN: 1981 - 3031 atitude da aluna em relação a sua opção religiosa está ampara por lei, fato que eles também concordaram. Durante as discussões, os alunos estenderam o assunto sobre a divulgação desses vídeos da propagação da intolerância religiosa relacionando a problemática da divulgação de imagens íntimas de pessoas por rackers ou até mesmo por pessoas ligadas as vítimas dessa ação que como mencionei que ela também é considerada crime e amparada pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso X que diz: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. E em contra partida o aluno Z falou que: o código civil também punia quem fizesse uso de imagens de pessoa sem o seu consentimento para prejudicar essa pessoa ou até mesmo lucrar com essa utilização. Como menciona o código civil em seu artigo 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade ou se destinarem a fins comerciais. (Código civil, 2002) Apesar de 95% dos alunos aprovarem, e principalmente demonstrarem através das atividades a contribuição positiva desses recursos ao dizer que ficava mais fácil para estudar, fazer provas e trabalho, observei que 5% dos alunos ainda possuem algumas dificuldades em colocar no papel as conclusões tiradas dos conteúdos após o uso das mídias, como mostra o gráfico abaixo. GRÁFICO 1 – Percentual de alunos que não alcançaram o nível de compreensão e exposição de ideias como os demais. 11 ISSN: 1981 - 3031 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Excelente Razoável Bom Fonte: a autora 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer da realização desta pesquisa através das experiências empíricas com as mídias em sala de aula para a elaboração deste artigo, foi possível constatar o aumento da participação dos alunos do 2º segmento da EJA do Sistema Prisional de Alagoas nas atividades que antes não havia através das discussões relacionadas aos temas propostos e também a descoberta de conhecimentos e experiências de vida de alguns deles, que até então estavam guardados e principalmente o avanço na qualidade da compreensão dos conteúdos em que determinados momentos alguns deles foram além do solicitado, demonstrando a capacidade de compreender e criar. Através da leitura e análise das respostas dos internos sobre os conteúdos trabalhados com o auxílio dos recursos mediáticos, pude observar que além de compreender a mensagem que as mídias trazem, eles também possuem uma visão crítica a cerca dos pontos que cercam os conteúdos, como por exemplo, sobre a influência do capitalismo na trajetória da vida dos 12 indivíduos, assim como na sociedade, bem como no ISSN: 1981 - 3031 avanço do desenvolvimento de produção textual para expressar suas opiniões. O resultado desse trabalho mostrou a necessidade da elaboração de aulas diversificadas com o auxílio de recursos metodológicos, como as mídias, para oferecer aos alunos um ambiente de aprendizado mais dinâmico e atrativo de forma a aguçar a sua curiosidade, como fala MONTEIRO, PORTELA, ARAÚJO e FIGUEIREDO: “A curiosidade epistemológica apresentada é parte integrante do fenômeno da vida. Sem ela, não haveria criatividade, pois é a curiosidade de que nos leva a criar e recriar, acrescentando ao mundo algo que construímos.” (MONTEIRO, PORTELA, ARAÚJO E FIGUEIREDO, 2013, p. 11) E estimulando-o a refletir sobre a temática abordada trazendo-a para o cotidiano e buscando alternativas para desvendá-las por meio das suas experiências e conhecimento adquiridas no decorrer da sua vida como mostra, MONTEIRO, PORTELA, ARAÚJO e FIGUEIREDO. Os alunos, ao chegarem à escola, já trazem uma bagagem de saberes construídos na comunidade em que vivem. Daí, a necessidade dessa instituição valorizar tais conhecimentos, relacionando-o ao ensino dos acontecimentos a serem trabalhados na sala de aula. (MONTEIRO, PORTELA, ARAÚJO E FIGUEIREDO, 2013, p. 10). Para obter um bom resultado na pesquisa foi importante não só a seleção das mídias, mas também a elaboração de questões concisas e coerentes com a temática abordada e principalmente instigadora para provocar no aluno a necessidade de refletir sobre a problemática apresentada, de forma a trazê-la para o seu dia a dia. Portanto se faz necessário por parte do professor buscar recursos que viabilizem o desenvolvimento dessa parcela dos excluídos através de momentos descontraídos durante as aulas que mais se adéquem as alunos de forma a ressaltar suas habilidades, suas experiências de vida, seu senso crítico e sua intelectualidade direcionando-as para o desenvolvimento escolar e individual enquanto cidadão. 13 ISSN: 1981 - 3031 REFERÊNCIAS COSTA, Elaine D. M.; COSTA, Fernando de S.; LOPES, Dayane de S.. Educação de jovens e adultos (EJA) no Sistema Penitenciário Brasileiro. Revista Funec Científica – Multidisciplinar, Santa Fé do Sul (SP), v. 2, n. 4, jan./dez. 2013. 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