UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Realizado por: Elsa Maria Alves de Almeida Orientado por: Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho Constituição do Júri: Presidente: Orientadora: Arguente: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Dissertação aprovada em: 19 de Novembro de 2014 Lisboa 2014 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Elsa Maria Alves de Almeida Lisboa Setembro 2014 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Elsa Maria Alves de Almeida Lisboa Setembro 2014 Elsa Maria Alves de Almeida Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura. Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho Lisboa Setembro 2014 Ficha Técnica Autora Orientadora Elsa Maria Alves de Almeida Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho Título Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Local Lisboa Ano 2014 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação ALMEIDA, Elsa Maria Alves de, 1989Reconversão do património : o caso das pousadas de Portugal / Elsa Maria Alves de Almeida ; orientado por Helena Cristina Caeiro Botelho. - Lisboa : [s.n.], 2014. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. I - BOTELHO, Helena Cristina Caeiro, 1970LCSH 1. Edifícios históricos - Reforma para outro uso - Portugal 2. Arquitectura - Conservação e restauro - Portugal 3. Pousada Santa Marinha (Guimarães, Portugal) 4. Pousada Flor da Rosa (Crato, Portugal) 5. Pousada Santa Maria do Bouro (Amares, Portugal) 6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 7. Teses – Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Historic buildings - Remodeling for other use - Portugal Architecture - Conservation and restoration - Portugal Pousada Santa Marinha (Guimarães, Portugal) Pousada Flor da Rosa (Crato, Portugal) Pousada Santa Maria do Bouro (Amares, Portugal) Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon LCC 1. NA109.P8 A46 2014 AGRADECIMENTOS À minha Família, em especial aos meus pais e irmã, por todo o amor e dedicação. Aos meus amigos, pelo apoio e paciência. Aos meus professores, em especial à Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Botelho, pela disponibilidade e simpatia. A todos quero agradecer pelo especial contributo prestado, para a conclusão desta etapa, que foi, sem dúvida, intensa e muito compensadora. APRESENTAÇÃO Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal Elsa Maria Alves de Almeida Na presente dissertação é realizada uma investigação sobre a temática da intervenção no património, sendo este um tema recorrente na arquitectura, é importante reflectir sobre o modo como o arquitecto pode intervir num edifício histórico, de forma a contribuir para a preservação de uma memória colectiva que é importante manter no futuro. No contexto nacional, as pousadas têm um papel importante neste âmbito, pelo facto de utilizarem estes edifícios, deixados ao abandono, atribuindo-lhes uma nova função, contribuindo assim, para a sua continuidade. Neste sentido consideramos importante utilizar as pousadas como objecto de estudo, fazendo, primeiramente, uma contextualização sobre o desenvolvimento da indústria do turismo em Portugal e o início do conceito de pousada, sendo posteriormente exposta uma abordagem explicativa das diversas fases de construção das mesmas, tendo como objectivo principal, preceber a ligação entre as pousadas e os edifícios patrimoniais, e as diferentes intervenções elaboradas neste contexto. Numa segunda fase, é apresentada uma análise mais elaborada a três casos de adaptação a pousada, que reflectem diferentes intervenções, por arquitectos distintos, em edifícios históricos que exerciam a mesma função. Por fim é apresentada o projecto académico, evidenciando as características em comum com os três casos de estudo apresentados anteriormente, que serviram de referência á proposta de projecto. Pretende-se através deste trabalho, perceber como é que nas distintas abordagens, os arquitectos mantém, a intenção de preservar a identidade do edifício, apresentando propostas diferentes para o efeito, identificando as preocupações comuns as três intervenções, que por serem comuns, se tornam pertinentes para o enriquecimento dos conteúdos teóricos sobre a reabilitação e reconversão do património, contribuindo, também, para aperfeiçoar novas intervenções no futuro. Palavras-chave: Intervenção no património, Reconversão, Pousadas PRESENTATION Reconversion of heritage: the case of the pousadas de Portugal Elsa Maria Alves de Almeida On this thesis an investigation is carried out on the topic of intervention on Heritage. This being a recurring theme in the field of architecture, it becomes important to think over on how architects may intervene on an historical building, in order to contribute for the preservation of a colective memory which is important to save for the future. In Portugal, pousadas have an important part to play, as they operate inside buildings left to decay, assigning them a new function and thus contributing for their continuity. In this context, we deem it important to use the pousadas as a subject matter, by firstly contextualizing the status of the industry of tourism in Portugal and the beginnings of the concept of pousada, and then putting forward an explanatory approach to the different stages of their construction, with the main aim of understanding the connection between the pousadas and the heritage buildings, and the interventions carried out in this context. On a second stage, a more elaborated analysis is put forward focusing on the cases of historical building-to-pousada conversion, which reflect three different interventions, by different architects, in historical buildings which exercised the same function. Finally the academic project is put forward, focusing on the characteristics common to the three case studies introduced initially, which were the basic reference for the project submital. It is the aim of this thesis to try to understand how, through their different approaches, the architects abide by the goal of preserving the identity of the buildings through different proposals, while identifying the concerns common to the three interventions, which, because they share common concerns, become relevant to the enrichment of the theoretical contents on the subject of rehabilitation and reconversion of heritage, thus contributing to the improvement of further future interventions. Keywords: Heritage’s intervention, Reconversion, Pousadas LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 - Proposta de Manuel Marques, Minho (Lobo, 2006, p.23) ..................... 21 Ilustração 2 - Proposta de Adelino Nunes, Douro (Lobo, 2006, p.23) ......................... 21 Ilustração 3 - Proposta de Raul Tojal, Trás-os-Montes (Lobo, 2006, p.23) ................ 21 Ilustração 4 - Proposta de Luís Benavente, Beira Alta (Lobo, 2006, p.23) ................. 21 Ilustração 5 - Proposta de António Lino, Beira Baixa (Lobo, 2006, p.23) ................... 22 Ilustração 6 - Proposta de Ernesto Korrodi, Estremadura (Lobo, 2006, p.23) ............ 22 Ilustração 7 - Proposta de Jorge Segurado, Alentejo (Lobo, 2006, p.23) ................... 22 Ilustração 8 - Proposta Faria da Costa, Algarve (Lobo, 2006, p.23) ........................... 22 Ilustração 9 - Plantas da pousada de Sta. Luzia, Elvas. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47)................................................................................................................... 26 Ilustração 10 - Plantas da pousada de S. Gonçalo, Marão. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47) ....................................................................................................... 26 Ilustração 11 - Plantas da pousada de Sto. António, Serém. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47) ....................................................................................................... 26 Ilustração 12 - Plantas da pousada de S. Martinho, Alfeizerão. Inaugurada em 1943 (Lobo, 2006, p. 48) ....................................................................................................... 28 Ilustração 13 - Plantas da pousada de S. Brás, São Brás de Alportel. Inaugurada em 1944 (Lobo, 2006, p. 48) .............................................................................................. 28 Ilustração 14 - Plantas da pousada de S. Tiago, Santiago do Cacém. Inaugurada em 1945 (Lobo, 2006, p. 48) .............................................................................................. 28 Ilustração 15 - Planta da pousada de S. Lourenço. Inaugurada em 1948 (Lobo, 2006, p.48).............................................................................................................................. 28 Ilustração 16 - Pantas da pousada de S. Bartolomeu, Bragança. Inaugurada em 1959 (Lobo, 2006, p. 89) ....................................................................................................... 30 Ilustração 17 - Plantas da pousada de S. Teotónio, Valença do Minho. Inaugurada em 1963 (Lobo, 2006, p. 89) .............................................................................................. 30 Ilustração 18 - Plantas da pousada de Santa Bárbara, Póvoa das Quartas. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 89) ..................................................................... 30 Ilustração 19 - Plantas da pousada de S. Gens, Serpa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 90)................................................................................................................... 31 Ilustração 20 - Plantas da pousada de S. Jerónimo, Caramulo. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 90) ....................................................................................................... 31 Ilustração 21 - Plantas da pousada da Senhora das Neves, Almeida. Inaugurada em 1987 (Lobo, 2006, p. 90) .............................................................................................. 31 Ilustração 22 - Planta da pousada de S. Pedro, Castelo de Bode. Inaugurada em 1954 (Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 32 Ilustração 23 - Planta da pousada de Santa Catarina, Miranda do Douro. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 75) ........................................................................................ 33 Ilustração 24 - Plantas da pousada de S. Bento, Caniçada. Inaugurada em 1968 (Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 33 Ilustração 25 - Plantas da pousada de Santa Clara, Santa Clara-a-Velha. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 75) ........................................................................................ 33 Ilustração 26 - Planta da pousada de Vale do Gaio, Torrão. Inaugurada em 1977 (Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 33 Ilustração 27 - Plantas da pousada do Infante, Sagres. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79)................................................................................................................... 34 Ilustração 28 - Plantas da pousada da Ria, Murtosa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79)................................................................................................................... 34 Ilustração 29 - Pousadas regionais, primeira fase (Lobo, 2006, p. 46 e 49) ............... 35 Ilustração 30 - Pousadas regionais, segunda fase (Lobo, 2006, p. 71) ...................... 36 Ilustração 31 - Pousadas regionais, segunda fase, grupo das "pousadas em Barragens" (Lobo, 2006, p. 71) .................................................................................... 36 Ilustração 32 - Pousadas regionais, segunda fase, série "Beira-Mar" (Lobo, 2006, p. 71)................................................................................................................................. 36 Ilustração 33 - Plantas do restauro da DGEMN, Óbidos (Lobo, 2006, p. 117) ........... 38 Ilustração 34 - Plantas da pousada do Castelo, Óbidos. Inaugurada em 1950 (Lobo, 2006, p. 117)................................................................................................................. 38 Ilustração 35 - Planta do restauro da DEGMN, Ilha da Berlenga (Lobo, 2006, p. 117) ...................................................................................................................................... 38 Ilustração 36 - Plantas da pousada de S. João Baptista, Ilha da Berlenga. Inaugurada em 1953 (Lobo, 2006, p. 117) ...................................................................................... 38 Ilustração 37 - Plantas do resturo da DEGMN, Évora (Lobo, 2006, p. 118) ............... 39 Ilustração 38 - Plantas da pousada dos Lóios, Évora. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 118)................................................................................................................. 39 Ilustração 39 - Plantas da pousada de S. Filipe, Setúbal. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 117)................................................................................................................. 39 Ilustração 40 - Plantas do restauro da DGEMN, Estremoz (Lobo, 2006, p. 117) ....... 40 Ilustração 41 - Plantas da pousada Rainha Santa Isabel, Estremoz. Inaugurada em 1970 (Lobo, 2006, p. 117) ............................................................................................ 40 Ilustração 42 - Planta do restauro da DGEMN, Palmela (Lobo, 2006, p. 118) ........... 40 Ilustração 43 - Plantas da pousada de Santiago, Palmela. Inaugurada em 1979 (Lobo, 2006, p. 118)................................................................................................................. 40 Ilustração 44 - Plantas da pousada de D. Dinis, Vila Nova de Cerveira. Inaugurada em 1982 (Lobo, 2006, p. 121) ............................................................................................ 42 Ilustração 45 - Plantas da pousada Santa Marinha da Costa, Guimarães. Inaugurada em 1985 (Lobo, 2006, p. 118) ...................................................................................... 42 Ilustração 46 - Plantas da pousada do Alvito, Alvito. Inaugurada em 1993 (Lobo, 2006, p. 121)........................................................................................................................... 45 Ilustração 47 - Plantas da pousada de S. Francisco, Beja. Inaugurada em 1994 (Lobo, 2006, p. 121)................................................................................................................. 45 Ilustração 48 - Plantas da pousada Flor da Rosa, Crato. Inaugurada em 1995 (Lobo, 2006, p. 147)................................................................................................................. 46 Ilustração 49 - Plantas da pousada de Nossa Senhora da Assunção, Arraiolos. Inaugurada em 1996 (Lobo, 2006, p. 147) ................................................................... 46 Ilustração 50 - Plantas da pousada Santa Maria do Bouro, Amares. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p. 147) ............................................................................................ 46 Ilustração 51 - Plantas da pousada D. João IV, Vila Viçosa. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p.148) ...................................................................................................... 47 Ilustração 52 - Plantas da pousada D. Afonso II, Alcácer do Sal. Inaugurada em 1998 (Lobo, 2006, p.148) ...................................................................................................... 47 Ilustração 53 - Grupo das "pousadas em monumentos históricos" (Lobo, 2006, p. 113) ...................................................................................................................................... 48 Ilustração 54 - Grupo das "pousadas em centros históricos" (Lobo, 2006, p.123) ..... 49 Ilustração 55 - Ilustração 55 - Grupo das "pousadas de autor" (Lobo, 2006, p.143) .. 49 Ilustração 56 - Fernando Távora (Coelho, 2011, p.10) ............................................... 51 Ilustração 57 - MosteIro Santa Marinha da Costa (Portugal, 2013) ............................ 55 Ilustração 58 - Edificações desde o período romano ao séc. X, de acordo com os trabalhos arqueológicos (Portugal, 2013) ..................................................................... 56 Ilustração 59 - Reconstituição aproximada da planta do edifício construido pelos Cónegos Regrantes (Portugal, 2013) ........................................................................... 56 Ilustração 60 - Evolução construtiva (Portugal, 2013) ................................................. 57 Ilustração 61 - Planta de implantação, 1978 (Portugal, 2013) .................................... 57 Ilustração 62 - Planta de implantação, 1985 (Portugal, 2013) .................................... 57 Ilustração 63 - Imagens anteriores à reconversão, 1969-1975 (Portugal, 2013) ........ 58 Ilustração 64 - Pousada Santa Marinha da Costa (Costa, 1993, p.113) ..................... 59 Ilustração 65 - Planta piso térreo, 1975 (Portugal, 2013) ............................................ 60 Ilustração 66 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) ............................................ 60 Ilustração 67 - Planta piso térreo (Portugal, 2013)...................................................... 62 Ilustração 68 - Planta piso 1 (Portugal, 2013) ............................................................. 62 Ilustração 69 - Corte transversal (Portugal, 2013) ...................................................... 63 Ilustração 70 - Alçado Sul (Portugal, 2013)................................................................. 63 Ilustração 71 - Alçado Norte (Portugal, 2013) ............................................................. 63 Ilustração 72 - Corte longitudinal (Portugal, 2013) ...................................................... 63 Ilustração 73 - Planta piso -1 (Portugal, 2013) ............................................................ 64 Ilustração 74 - Planta piso -2 (Portugal, 2013) ............................................................ 64 Ilustração 75 - Alçado Nascente (Portugal, 2013) ....................................................... 65 Ilustração 76 - Corte transversal (Portugal, 2013) ...................................................... 65 Ilustração 77 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) ....................................... 66 Ilustração 78 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p.117 e 118) ...................... 66 Ilustração 79 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) ....................................... 66 Ilustração 80 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p. 114, 115 e 119) ............. 66 Ilustração 81 - João Carrilo da Graça (Bártolo, 2013, p.6) .......................................... 67 Ilustração 82 - Mosteiro Flor da Rosa (Portugal, 2013) .............................................. 71 Ilustração 83 - Reconstituição conjectural em planta do edifício - segunda metade do séc. XIV (Portugal, 2013).............................................................................................. 72 Ilustração 84 - Reconstituição conjectural em planta do edifício - final do séc. XIV (Portugal, 2013) ............................................................................................................ 72 Ilustração 85 - Alçado principal, 1940 (Portugal, 2013) .............................................. 73 Ilustração 86 - Alçado lateral direito, 1940 (Portugal, 2013) ....................................... 73 Ilustração 87 - Alçado posterior, 1940 (Portugal, 2013) .............................................. 73 Ilustração 88 - Alçado lateral esquerdo, 1940 (Portugal, 2013) .................................. 73 Ilustração 89 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal, 2013)............................................ 74 Ilustração 90 - Planta piso 1, 1940 (Portugal,2013) .................................................... 74 Ilustração 91 - Planta piso 2, 1940 (Portugal, 2013) ................................................... 74 Ilustração 92 - Planta de cobertura, 1940 (Portugal, 2013) ........................................ 74 Ilustração 93 - Imagens anteriores à reconversão, 1942 (Portugal, 2013) ................. 75 Ilustração 94 - Pousada Flor da Rosa (Ilustração nossa, 2014) ................................. 77 Ilustração 95 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal 2013) ............................................. 78 Ilustração 96 - Planta inferior, 1995 (ENATUR, 2001, p.32) ....................................... 78 Ilustração 97 - Planta da torre do Paço 1. Suite (ENATUR, 2001, p.35) .................... 79 Ilustração 98 - Planta torre do Paço 2. Suite (ENATUR, 2001, p.35) ......................... 79 Ilustração 99 - Planta torre do Paço 3. Suite (ENATUR, 2001, p.35) ......................... 80 Ilustração 100 - Planta inferior (ENATUR, 2001, p. 32) .............................................. 81 Ilustração 101 - Planta superior (ENATUR, 2001, p. 33) ............................................ 81 Ilustração 102 - Alçado Norte (Graça, 1995, p. 68) ..................................................... 82 Ilustração 103 - Alçado Nascente (ENATUR, 2001, p. 34) ......................................... 82 Ilustração 104 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) ................................................... 82 Ilustração 105 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) ................................................... 82 Ilustração 106 - Pousada Flor da Rosa. Cruzamento entre o edifício novo e o antigo (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................... 83 Ilustração 107 - Imagens da nova pousada (Ilustrações nossas, 2014) ..................... 84 Ilustração 108 - Eduardo Souto Moura (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.4) ......... 85 Ilustração 109 - Mosteiro Santa Maria do Bouro (Portugal, 2013) .............................. 89 Ilustração 110 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) .......................................... 90 Ilustração 111 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) .......................................... 90 Ilustração 112 - Corte transversal, 1978 (Portugal, 2013) .......................................... 91 Ilustração 113 - Planta de implantação, 1989 (Portugal, 2013) .................................. 91 Ilustração 114 - Planta de implantação, 1997 (Moura, 2001, p.8) .............................. 91 Ilustração 115 - Evolução construtiva (Moura, 2004, p.78) ......................................... 92 Ilustração 116 - Imagens anteriores à reconversão, 1946-1962 (Portugal, 2013) ...... 93 Ilustração 117 - Pousada Santa Maria do Bouro (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.29).............................................................................................................................. 95 Ilustração 118 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) .......................................... 96 Ilustração 119 - Planta piso 1, 1997 (Moura, 2001, p.40) ........................................... 96 Ilustração 120 - Alçado Norte (Moura, 2001, p.36) ..................................................... 97 Ilustração 121 - Alçado Sul (Moura, 2001, p.36) ......................................................... 97 Ilustração 122 - Alçado Poente (Moura, 2001, p.36) ................................................... 97 Ilustração 123 - Alçado Nascente (Moura, 2001, p.36) ............................................... 98 Ilustração 124 - Corte transversal (Moura, 2001, p.43) ............................................... 99 Ilustração 125 - Corte longitudinal (Moura, 2001, p.43) .............................................. 99 Ilustração 126 - Planta piso 1 (Moura, 2001, p.40) ................................................... 100 Ilustração 127 - Planta piso 2 (Moura, 2001, p.41) ................................................... 100 Ilustração 128 - Planta piso térreo (Mouro, 2001, p.39) ............................................ 101 Ilustração 129 - Planta piso -1 (Moura, 2001, p.38) .................................................. 101 Ilustração 130 - Pousada Santa Maria do Bouro. Novo corpo (Fernandéz-Galiano, 2011, p.55).................................................................................................................. 102 Ilustração 131 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.51) ......... 103 Ilustração 132 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.35) .................................................................................................................................... 103 Ilustração 133 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.54) ......... 103 Ilustração 134 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.36, 40 e 43)............................................................................................................................ 103 Ilustração 135 - Solar da Ribafria (Ilustração nossa, 2012) ...................................... 105 Ilustração 136 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Cave (Caetano, 2005, p.105) ............................................................................................... 106 Ilustração 137 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Casas térreas (Caetano, 2005, p.105)................................................................................... 106 Ilustração 138 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.105) ......................................................................... 106 Ilustração 139 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Segundo piso (Caetano, 2005, p.105) ........................................................................ 106 Ilustração 140 - Levantamento planimétrico da quinta da Ribafria, 1959 (Caetano, 2005, p.79).................................................................................................................. 107 Ilustração 141 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Cave (Caetano, 2005, p.106) ..................................................................................... 108 Ilustração 142 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Casas térreas (Caetano, 2005, p.106) ....................................................................... 108 Ilustração 143 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.106) ......................................................................... 108 Ilustração 144 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Segundo piso (Caetano, 2005, p.106) ........................................................................ 108 Ilustração 145 - Reconstituição histórica da fachada Norte, em cerca de 1942 (Caetano, 2005, p.97) ................................................................................................. 109 Ilustração 146 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois da reforma setecentista (Caetano, 2005, p.97)............................................................................. 109 Ilustração 147 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois das obras do conde de Cartaxo (Caetano, 2005, p.97) .............................................................................. 109 Ilustração 148 - Reconstituição histórica da fachada Norte, após a intervenção de Jorge Mello (Caetano, 2005, p.97) ............................................................................. 109 Ilustração 149 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX, fase 1 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109 Ilustração 150 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e X, fase 3 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109 Ilustração 151 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX, fase 2 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109 Ilustração 152 - Planta corpo C (Sintra, 1989) .......................................................... 110 Ilustração 153 - Alçado frontal do corpo C (Sintra, 1989) ......................................... 110 Ilustração 154 - Planta da quinta da Ribafria, após a inserção do corpo C (Caetano, 2005, p.79).................................................................................................................. 110 Ilustração 155 - Imagens do solar da Ribafria (Ilustrações nossas, 2012) ............... 111 Ilustração 156 - Planta de localização (Ilustração nossa, 2012) ............................... 113 Ilustração 157 - Planta de implantação (Ilustração nossa, 2012) ............................. 114 Ilustração 158 - Proposta do conjunto arquitectónico (Ilustração nossa, 2012) ........ 114 Ilustração 159 - Plantas com o conteúdo programático da nova proposta (Ilustração nossa, 2012) ............................................................................................................... 115 Ilustração 160 - Corte longitudinal do corpo B. Área de serviços e cozinha (Ilustração nossa, 2012) ............................................................................................................... 116 Ilustração 161 - Corte transversal do corpo B. Restaurante (Ilustração nossa, 2012) .................................................................................................................................... 116 Ilustração 162 - Corte transversal da preexistência e corpo B. Ligação (Ilustração nossa, 2012) ............................................................................................................... 117 Ilustração 163 - Corte transversal do corpo B e C. Ligação (Ilustração nossa, 2012) .................................................................................................................................... 117 Ilustração 164 - Corte longitudinal da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012) .................................................................................................................................... 118 Ilustração 165 - Corte transversal do corpo C. Spa (Ilustração nossa, 2012) ........... 118 Ilustração 166 - Corte transversal do corpo C. Quartos (Ilustração nossa, 2012) .... 119 Ilustração 167 - Fachada Norte da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012) .................................................................................................................................... 119 Ilustração 168 - Perpectivas gerais da proposta para a nova pousada (Ilustrações nossas, 2012) ............................................................................................................. 120 SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................ 13 2. O turismo, as pousadas e o património ................................................................... 17 2.1. O turismo em Portugal e o novo conceito de pousada ..................................... 17 2.2. Evolução histórica das pousadas de Portugal .................................................. 25 2.2.1. As pousadas regionais ............................................................................... 25 2.2.2. As pousadas e o património ....................................................................... 37 3. Casos de estudo ...................................................................................................... 51 3.1. Pousada de Guimarães, Mosteiro Santa Marinha da Costa ............................. 51 3.1.1. O autor ....................................................................................................... 51 3.1.2. O mosteiro .................................................................................................. 55 3.1.3. A pousada .................................................................................................. 59 3.2. Pousada do Crato, Mosteiro Flor da Rosa ........................................................ 67 3.2.1. O autor ....................................................................................................... 67 3.2.2. O mosteiro .................................................................................................. 71 3.2.3. A pousada ................................................................................................... 77 3.3. Pousada do Gerês, Mosteiro Santa Maria do Bouro ........................................ 85 3.3.1. O autor ....................................................................................................... 85 3.3.2. O mosteiro .................................................................................................. 89 3.3.3. A pousada .................................................................................................. 95 4. Projecto académico ............................................................................................... 105 4.1. O solar............................................................................................................. 105 4.2. A pousada ....................................................................................................... 113 5. Considerações finais .............................................................................................. 121 Referências................................................................................................................. 123 Bibliografia .................................................................................................................. 127 Apêndices ................................................................................................................... 129 Apêndice A ......................................................................................................... 133 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 1. INTRODUÇÃO O tema “reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal ”, em análise no presente trabalho, foi escolhido com o objectivo de saber mais sobre as formas de intervir em edifícios patrimoniais. Devido à crescente urbanização existe cada vez menos espaço para construir, tornando a reabilitação numa questão fundamental na actividade dos arquitectos. Tendo em conta que o património, ao longo dos anos, tem vindo a ganhar uma extrema importância para a sociedade, a ligação entre estas duas temáticas faz todo o sentido, pois a maioria destes imóveis encontram-se ao abandono. Por este motivo é importante fazer uma reflexão, sobre a importância de preservar e recuperar o património, e principalmente, no modo como os arquitectos devem intervir nestes edifícios com elevado valor cultural e histórico. Este tipo de intervenção comporta, à partida, uma responsabilidade maior por parte do arquitecto, devido à necessária conservação da carga histórica patente nestas edificações, como “memória de um passado que importa transpor para o futuro” (Venda, 2008 p. 6). Ao longo do tempo, foram elaboradas diversas teorias de conservação, sendo o propósito principal em todas elas, preservar a identidade da preexistência, respeitando os seus valores e significados resultantes da sua história. De forma a possibilitar a permanente manutenção destes edifícios, a reconversão é uma opção favorável, pelo facto de lhes atribuir uma nova função, e assim, possibilitar uma vivência mais activa destes espaços, assegurando também, a continuidade dos mesmos. Por outro lado, esta alteração de função protagoniza várias preocupações inerentes à alteração do programa e consequente adaptabilidade às necessidades dos novos tempos, sendo esta a questão principal a ser investigada, no presente trabalho. As pousadas de Portugal têm um papel crucial no âmbito da preservação do património, não só por terem protagonizado vários projectos de reconversão de edifícios históricos, na sua maioria em estado de degradação, mas também por ter originado obras de referência a nível nacional e internacional. Por este motivo, as pousadas são objecto de estudo escolhido para o desenvolvimento deste trabalho. A presente investigação centra-se em dois momentos distinto, primeiramente é elaborada uma contextualização teórica, sobre o desenvolvimento do turismo em Portugal, e o aparecimento do novo conceito de pousada, sendo posteriormente Elsa Maria Alves Almeida 13 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal apresentadas as diferentes fases construtivas das mesmas, de forma a perceber de que modo surgiu esta ligação das pousadas com o património. Neste primeiro capítulo procuramos perceber também, as diferentes posturas e metodologias utilizadas pelos intervenientes dos vários projectos elaborados no âmbito da reconversão, de modo a perceber quais deles foram determinantes, para uma nova visão sobre a intervenção no património. No segundo capítulo, é efetuada uma pesquisa mais elaborada a três casos de estudo, que foram escolhidos tendo em conta a análise feita no capítulo anterior, sendo estes a pousada Santa Marinha da Costa com o projecto de Fernando Távora, a pousada Flor da Rosa da autoria de João Luís Carrilho da Graça e a pousada Santa Maria do Bouro com a intervenção de Eduardo Souto de Moura. A escolha destes projetos deve-se, não só, à distinta abordagem apresentada em cada uma das propostas, mas também pelos conceitos e filosofias gerados, que contribuíram para uma mudança na forma de intervir no património arquitectónico. O estudo destes projectos centra-se em três sub-capítulos crucias, o autor, onde são apresentados os conceitos e metodologias de trabalho adoptados nos projectos em estudo, fazendo também referência às ideias que cada autor apresenta sobre as questões relativas ao património, no sub-capítulo seguinte, o mosteiro, onde é exposta a evolução histórica da preexistência até à data da sua reconversão, e por fim, a pousada, onde é apresentado o novo projecto. No último capítulo é apresentado o projecto académico, onde é estudada a proposta de reconversão de um Solar, designado por Solar da Ribafria, a pousada, sendo primeiramente feita uma investigação sobre as várias intervenções realizadas na preexistência até à actualidade, e posteriormente é avaliada a proposta, evidenciando as características em comum com os casos de estudo, pelo facto de estes terem servido de referência às ideias e conceitos utilizados na proposta de projecto. […] a arquitetura tem a capacidade de se adaptar a todas as épocas, de viajar através do tempo. Ela é uma observadora estática das mudanças dinâmicas nas gerações e culturas; é uma anciã que envelhece sem perder sua essência e carácter. Nós arquitetos temos a tarefa de adaptar, recuperar e às vezes transformar as velhas construções em novos edifícios capazes de atender as necessidades da sociedade. (Agost Muñoz, 2014) Neste sentido, procuramos perceber quais as questões essênciais a valorizar, neste tipo de intervenção, que possibilitem não só a preservação das características Elsa Maria Alves Almeida 14 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal históricas e culturais da preexistência, mas também, viabilizam as adaptações e transformações necessárias às exigências das novas sociedades. Elsa Maria Alves Almeida 15 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 16 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 2. O TURISMO, AS POUSADAS E O PATRIMÓNIO 2.1. O TURISMO EM PORTUGAL E O NOVO CONCEITO DE POUSADA O século XIX introduz, na esfera da vida privada, um novo conceito: a veligiatura. O prazer da viagem pela viagem, privilégio de uma minoria abastada, generaliza-se ao longo so século XIX, ainda que associado a um sentido religioso, a uma insaciável procura do conhecimento ou a uma crescente atenção ao corpo. Acima de tudo é um fenómeno individual e urbano. (Lobo, 2006 p. 10) Em Portugal, o turismo começa a ganhar relevância no final do século XIX, ínicio do século XX, pelo facto de ser uma possível solução para a crise económica que se fazia sentir no país, pois apesar de Portugal ter infra-estruturas que possibilitavam a sua regeneração nas aréas do comércio, indústria e agricultura, a área da hotelaria necessitava de uma melhor organização e incentivos para o seu desenvolvimento. Num país pequeno, com elevado índice de ruralidade, sem perspectivas para a maioria da sua população, que se refugia na emigração como solução de vida, e afastado de uma Europa que se renovara com a Revolução industrial, o turismo aparece como uma saída determinante para o restabelecimento do equilíbrio orçamental, posto em causa, em finais de oitocentos, por uma preocupante dívida pública, e das suas relações externas, ameaçadas pela cobiça crescente que o seu império colonial suscitava entre as grandes potências. (Lobo, 2006 p. 10) Devido à transição de um regime monárquico para um regime republicano, tornou-se mais difícil a concretização de medidas tendo em vista a revitalização da política do turismo, sendo contudo tomadas algumas iniciativas que ajudaram a promover esta área não só no âmbito nacional, mas também internacional. Uma destas iniciativas surgiu em 1890, por parte da Companhia de Caminhos de Ferro, que criou uma campanha de viagens pelo território nacional dando oportunidade aos cidadãos de visitar monumentos históricos, praias entre outros, sendo mais tarde criada a Sociedade Propaganda de Portugal. O empenhamento de Leonildo Mendoça e Costa, jornalista e director da “Gazeta dos Caminhos de Ferro”, leva à criação, em 1906, da Sociedade Propaganda de Portugal. Organismo privado, sem capacidade legal ou económica para gerar equipamentos, os seus objectivos primaciais seriam os de, por um lado, incentivar junto da população uma receptividade que apoiasse futuras acções e, por outro, publicitar o turismo e o património português, tanto a nível nacional como internacional. (Lobo, 2006 p. 11) Em 1909 é realizado o II Congresso Internacional de Turismo, com a participação de um representante português enviado por esta nova sociedade, conseguindo alcançar o seu objectivo, de que Portugal fosse integrado na Federação Franco-Hispânica dos Elsa Maria Alves Almeida 17 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Sindicatos de Iniciativa e Propaganda, passando por isso a designar-se de Federação Franco-Hispânica Portuguesa. “Esta filiação veio a ser decisiva para a institucionalização oficial do turismo em Portugal.” (Lobo, 2006 p. 11) O IV Congresso Internacional do Turismo é já realizado em Lisboa, em 1911, onde resulta a constituição de um Conselho de Turismo, apoiado por uma Repartição de Turismo, motivo pelo qual a Sociedade Propaganda de Portugal passa a assumir apenas o papel de representante de Portugal no mundo. Esta nova Repartição foi responsável pela criação de infra-estruturas e pela propaganda da Costa do Sol, procurando tornar o Estoril numa área de veraneio priviligiada. Mais tarde, com a revelação da aparição da Virgem Maria aos pastorinhos, em 1917, Fátima passou a ser um lugar de culto, levando muitos peregrinos a deslocarem-se a Portugal para visitarem este local. Devido a estes factos, estes dois locais tornaram-se nos mais importantes pontos turísticos do país. A forma algo casuística com que inicialmente se constrói o programa de aproveitamento turístico do país seria reflexo das convulsões político-sociais de uma I República sem um destino ainda bem defenido. A evolução do conflito mundial e o consequente envolvimento de Portugal, apostado em garantir a sua soberania sobre o território colonial, seria um primeiro indício do panorama pouco favorável que a Repartição de Turismo viria a enfrentar até à década de 40. (Lobo, 2006 p. 12) Devido aos acontecimentos não só a nível político, mas também social que se desenvolveram no inicio do seculo XX, não foi criado um programa de acção no âmbito do turismo, o que levou a que esta área se desenvolvesse “ao sabor de interesses particulares e de uma ingênua política de propaganda turística, que se refugiou, sem quaisquer condições para competir com o que se apresentava lá fora, no património monumental e artístico.” (Lobo, 2006 p. 12) Em 1920, a Repartição de Turismo perde a automia ficando subordinada à Administração-Geral das Estradas, sendo substituído o Conselho de Turismo por Conselho de Administração de Estradas e Turismo. Mais tarde, em 1929, já sob o domínio do Ministério do Interior, o Concelho Nacional de Turismo é reestabelecido, passando a Repartição do Turismo a designarse de “Jogos e Turismo”, Esta medida deu um novo fôlego à promoção turística em Portugal, de tal forma que, ao longo da década seguinte, proliferaram diferentes serviços oficiais e privados ligados ao universo do turismo, sem que houvesse uma clara delimitação de competências. A promiscuidade contraproducente que se gerou, com a realização de acções paralelas e desconcertadas, pôs em causa a primazia daquele órgão e a Elsa Maria Alves Almeida 18 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal realização de um plano de turismo coeso e eficaz que pudesse vir a guiar iniciativas futuras. (Lobo, 2006 p. 13) Em 1936, os Órgãos Locais do Turismo1 são integrados nas autarquias de forma a ficarem subjudados ao poder central deixando assim de ser gerenciados pelas entidades privadas, esta medida é apresentada pela nova Constituição de forma a introduzir uma nova racionalização de meios. Tal posição de força, por parte do novo governo centralizador e autoritário que se tinha vindo a consolidar, desde 1933, em torno da figura de Oliveira Salazar2, não deixou de causar algum desagrado no meio ligado ao sector, já descontente com a inoperância e o desinteresse de um Ministério do Interior assoberbado por questões “menores” de ordem política. (Lobo, 2006 p. 13) No seguimento das ideias analisadas, no I Congresso Nacional de Turismo realizado em 1936, referentes à situação da indústria do turismo em Portugal, é exigida a organização do turismo nacional por parte do Estado, pelo facto de, esta área ser importante para o crescimento da economia do país, segundo o relatório apresentado na altura pelo Banco de Portugal. Foram também propostas várias medidas que visavam a concepção de “um organismo único central e directivo, de caractér administrativo e técnico com os máximos poderes e autonomia e dispondo das dotações orçamentais necessárias para poder realizar obra eficiente”. (Lobo, 2006 p. 13) Todas estas ideias geradas pelo congresso acabaram por não se realizar devido ao início da Guerra Civil Espanhola, resultando num período de estagnação desta indústria em Portugal. O crescente alheamento do Ministério do Interior pelas questões do turismo que estatuariamente lhe competiam, preocupado que estava em reprimir qualquer tentativa de revolta política influenciada pelos acontecimentos do país vizinho e em apoiar, ainda que discretamente, a fracção nacionalista de Franco […], abriu caminho para que o então director do Secretariado de Propaganda Nacional3, Antonio Ferro4, conseguisse que, a 31 de Dezembro de 1939, a tutela do turismo transitasse para este organismo. (Lobo, 2006 p. 13) 1 Os Órgãos Locais de Turismo foram criados pela Sociedade Propagande de Portugal, com o objectivo de defender e difundir os valores turísticos e os interesses das distintas províncias portuguesas 2 António de Oliveira Salazar (1889 – 1970) estadista português, nasceu em Santa Comba Dão. Chefiou vários ministérios, e foi presidente do Concelho de Ministros entre 1933 e 1968. Foi também professor catedrático na Universidade de Coimbra. 3 O Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) foi criado em 1934, pelo governo de Oliveira Salazar, com o objectivo de difundir os ideais nacionalistas e padronizar as artes e a cultura do regime do Estado Novo. 4 António Joaquim Tavares Ferro (1895 – 1956) jornalista, escritor e político português, nasceu em Lisboa. Dirigiu o Secretariado de Propaganda Nacional. Elsa Maria Alves Almeida 19 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Apesar de no início do século XX, a indústria do turismo ser controlada pela imagem dos “Palace Hotel”, a partir de 1930, estas estruturas entram em declínio devido a dois factores, o primeiro está associado a uma nova filosofia de vida instaurada na sociedade daquela época, caracterizada através do gosto pelo desporto e por actividades mais ligadas à natureza e ao ar livre, correspondendo assim a uma nova moda de praia e campismo. A segunda está relacionada com o facto de a indústria farmacêutica se encontrar numa fase de crescimento, levando assim a que o papel das instâncias termais, associadas aos “Palace Hotel”, perdesse a sua importância. Ainda que se assista a diversas tentativas de revitalização dessas estruturas, com a construção de piscinas, campos de ténis e ringues de patinagem, a regulamentação, em 1927, das zonas de jogos permanentes e temporários nos principais centros balneares da época, como o Estoril, Espinho e Figueira da Foz, determinaria a definitiva inversão de posições dos dois tipos clássicos de estâncias turísticas. Esta mudança de paradigma, a par da crescente difusão do fenómeno turístico, conduziu ao declínio das antigas estâncias termais e, com elas, dos principais hóteis “Palace” portugueses. (Lobo, 2006 p. 22) No sentido de criar um novo conceito de hotel, é lançado um concurso pela revista “Notícias Iustrado” em 1933, designado de Hotel Modelo, que petende promover uma abordagem distinta ao turismo em Portugal, dando inicío ao novo conceito de pousada. O programa deste concurso é elaborado pelo arquitecto Raul Lino5, e visa a criação de “grandes pousadas familiares, muito confortáveis, mas destituídas de todo o falso luxo e sem a pretensão de imitar caricatamente os hóteis urbanos de categoria.” (Lobo, 2006 p. 22) O objectivo seria o de criar vários modelos, cada um com as suas características específicas, resultantes das particularidades da região onde iram pertencer. Mais do que definir um tipo único extensível a todo o território, pretendia-se associar as novas estruturas hoteleiras a uma expressão regional que veiculasse, tanto a nível formal como da própria vivência dos edifícios, um regresso a valores tradicionais da cultura portuguesa. (Lobo, 2006 p. 22) Pelo facto de ser Raúl Lino a realizar este programa, existe uma semelhança entre este concurso e o ensaio teórico realizado por este autor, no objectivo que têm em comum de tipificar a arquitectura portuguesa. Este ensaio denominado “Casas Portuguesas – Alguns Apontamentos Sobre o Arquitectar de Casas Simples”, o autor mantém um discurso ligado aos seus princípios nacionalistas, fazendo uma crítica à 5 Raúl Lino da Silva (1879 - 1974) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Estudou na Inglaterra e Alemanha. Em 1989 regressa a Portugal, onde conclui os seus estudos. Trabalhou no Ministério das Obras Públicas e foi um dos membros fundadores da Academia Nacional de Belas Artes. Elsa Maria Alves Almeida 20 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal arquitectura daquela época. Neste ensaio Lino expõe também, os critérios que para ele, eram essências ter em conta na criação de qualquer projecto de arquitectura. Lino fixava neste trabalho os parâmetros pelos quais se deveria reger qualquer obra de arquitectura, e a habitação em particular – Economia, Entre a Economia e a Beleza, e Beleza. Simultaneamente, criticava e alertava para a crescente descaracterização da arquitectura, resultado de “um internacionalismo sem limites”, contrapondo “o respeito pelas condições sociais do país em que se vive, e, implicitamente, pela tradição” objectivado, no final do livro, no estudo de vários tipos de “casas portuguesas”. (Lobo, 2006 p. 24) As propostas dos oito arquitectos convidados a participar neste concurso, estariam por isso condicionadas pelo ensaio, acabando por resultar em versões dos exemplos utilizados no mesmo, mas alteradas às diferentes funções e necessidades do programa. Publicadas em Setembro, estas seriam objecto de uma inovadora exposição itinerante que, com o apoio da CP, percorreu as principais cidades e vilas do país num vagão preparado para o efeito. “Ponto de partida para agitar o estudo duma necessidade inadiável – o hotel provinciano, a exposição do Hotel Modelo, inaugurada a 11 de Outubro na estação do Rossio, lançava permissas para uma nova filosofia hoteleira, numa acção propaganda sem precedentes. (Lobo, 2006 p. 24) Ilustração 1 - Proposta de Manuel Marques, Minho (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 2 - Proposta de Adelino Nunes, Douro (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 3 - Proposta de Raul Tojal, Trás-os-Montes (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 4 - Proposta de Luís Benavente, Beira Alta (Lobo, 2006, p.23) Elsa Maria Alves Almeida 21 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 5 - Proposta de António Lino, Beira Baixa (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 6 - Proposta de Ernesto Korrodi, Estremadura (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 7 - Proposta de Jorge Segurado, Alentejo (Lobo, 2006, p.23) Ilustração 8 - Proposta Faria da Costa, Algarve (Lobo, 2006, p.23) Como já foi referido anteriormente, no I Congresso Nacional de Turismo foram debatidas questões referentes à ordem institucional, e apresentadas propostas de revitalização para esta indústria. Uma das propostas foi a de Francisco de Lima, onde apresenta o estudo para um novo modelo turístico, que designa como Pouzada, destinado a um maior número de pessoas, incluindo as que têm menos possibilidades, conseguindo assim que exista “uma aproximação a um leque de público mais vasto e a uma dimensão regional até então relegada para segundo plano.” (Lobo, 2006 p. 26) Uma das referências utilizadas pelo autor para este novo conceito foram os Paradores6, no sentido de serem “aproveitadas construções antigas para a utilização das pouzadas, desde que oferecessem condições de adaptabilidade às exigências actuais de conforto e de vida, sem lhes tirar o seu cunho ou as deformar.“ (Lobo, 2006 p. 26) O programa proposto pelo autor procura um ajuste em termos de escala às reais necessidades das pequenas terras da província, com um carácter de passagem, em 6 Os Paradores são hotéis de elevada qualidade, situados em Espanha. Existem desde1928, e na sua maioria edifícios históricos reabilitados, situados em centros históricos ou em áreas classificadas. Elsa Maria Alves Almeida 22 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal que o número de quartos poderia variar entre ou quatro e os dez, sendo que o mais importante neste novo conceito seria o “conforto sóbrio e económico, traduzido num ambiente simples, de contornos vincadamente regionais e, por isso, de cunho nacional.” (Lobo, 2006 p. 26) Este novo conceito proposto por Francisco de Lima adequa-se à abordagem regionalista que o concurso do “Hotel Modelo” apresentou, sendo por isso um exemplo em determinadas questões como a localização e o tipo de construção, acabando até por se tornar numa versão mais reduzida dos modelos apresentados neste concurso. Pelo rigor e exaustão que apresenta, a tese de Francisco de Lima revelar-se-ia um instrumento fundamental e concreto da política de turismo que o SPN iria desenvolver a partir da década de 1940. Enquadrado na feição regionalista que António Ferro tinha vindo a explorar desde 1934, e que encontra o seu auge em iniciativas como a Exposição de Arte Popular (1936) e o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal (1938), este projecto das Pouzadas vai ganhar um sentido e dimensão dentro de um vasto programa de intervenções que as Comemorações dos Centenários vão impulsionar. (Lobo, 2006 p. 26) Elsa Maria Alves Almeida 23 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 24 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 2.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POUSADAS DE PORTUGAL 2.2.1. AS POUSADAS REGIONAIS PRIMEIRA FASE (1942-1948) “[…] Ora as nossas Pousadas, que não possuem, sem dúvida, o número de quartos suficientes para satisfazer certas necessidadas locais, foram construídas e arranjadas com o intuito principal de servir de modelo a esta nova orientação da indústria hoteleira em Portugal, maquetas animadas, espalhadas pelo país onde se tornará fácil colher ensinamentos. Procurou-se, portanto, que estes pequenos hóteis não se parecessem com hóteis. Se o hóspede ao entrar numa destas pousadas tiver a impressão de que não entrou num estabelecimento hoteleiro onde passará a ser conhecido pelo número do seu quarto, mas na sua própria casa de campo […], teremos obtido o que desejávamos.” (Lobo, 2006 p. 39) A contrução das primeiras pousadas é anunciada em 1939, no seguimento das comemorações do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal, através do “Plano de Revitalizações do Duplo Centenário”. Nesta primeira fase, os projectos, foram entregues aos arquitectos Miguel Jacobetty7 com as pousadas de Elvas, São Brás de Alportel e Santiago do Cacém, a Rogério de Azevedo8 com as pousadas de Marão, Serém e Manteigas, e por fim, a Veloso Reis Camelo9 com a pousada de Alfeizerão. A implantação das pousadas de Elvas, Marão e Serém, resultam da ideia de dividir o país, intervindo em regiões do Norte, Centro e Sul, com o objectivo de criar uma rede de ligações que ocupasse todo o território nacional. As outras pousadas deste grupo localizam-se, igualmente, em pontos especifícos de itinerários importantes de forma a puderem não só, dar uma maior abrangência a esta rede, como também servir como espaços de descanso destes longos percursos. Esta estratégia possibilitava também o enquadramento destas intalações em diferentes panoramas, respondendo assim “a necessidades específicas do país, actuando objectivamente sobre o território e, com ele, construindo uma estrutura coerente e racional.” (Lobo, 2006 p. 44) Projecto de turismo inovador nos termos em que pensa uma estratégia de intervenção à escala do território nacional, elegendo e promovendo diferentes pontos de interesse tuísticos e dotando-os de modernas estruturas hoteleiras, as pousadas vão saber explorar e estabelecer uma importante rede de relações territoriais. (Lobo, 2006 p. 44) 7 Miguel Simões Jacobetty Rosa (1901 – 1970) arquitecto português, nasceu em Alcobaça. Obteve o diploma, com distinção, pela Escola Superior de belas Artes de Lisboa. 8 Rogério dos Santos Azevedo (1989 – 1983) arquitecto português, nasceu e no Porto. Frequentou o curso de Arquitectura, entre 1920 e 1926, na Escola de Belas Artesdo Porto. 9 António Maria Veloso dos Reis Camelo (1899 – 1985) arquitecto português. A sua obre é caracterizada pelo estilo do Estado Novo. Ganhou o Prémio Valmor em 1942 e 1945. Elsa Maria Alves Almeida 25 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 9 - Plantas da pousada de Sta. Luzia, Elvas. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47) Ilustração 10 - Plantas da pousada de S. Gonçalo, Marão. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47) Ilustração 11 - Plantas da pousada de Sto. António, Serém. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47) Elsa Maria Alves Almeida 26 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal O conceito destas novas instalações turísticas é muito semelhante à ideia promovida no concurso do “Hotel Modelo” e defendida na tese de Francisco de Lima, tendo sido adaptado apenas ao programa e à escala real. Estas propostas estariam condicionadas em termos formais pelas características, materiais e técnicas construtivas utilizados na região onde está localizada a pousada de forma a preservar, nestas intervenções, a “tradição construtiva” e o “espírito de lugar”. Estas abordagens são caracterizadas “por subtis enquadramentos de sabor rústico, agenciados pelos artistas do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), sobre idílicas interpretações de uma vivência rural que se prestava ao imaginário nacionalista e conservador do Regime.” (Lobo, 2006 p. 45). Apesar do programa se traduzir num “regionalismo superficial e folclórico”, as propostas reflectem uma expressão modernista através do desenho. Volumes puros, cilíndricos e prismáticos, das obras de Jacobetty Rosa (Elvas, São Brás de Alportel, Santiago do Cacém), trabalhados com beirais, arcadas, pérolas e azuleijaria; ou o dinamismo volumétrico das obras de Rogério de Azevedo (Marão, Serém,Serra da Estrela), revestidas de seguida com o pesado granito, rematado pelas densas coberturas em telha, com alpendres, portadas e chaminés. (Lobo, 2006 p. 45) As pousadas do Marão e Elvas acabam por ser uma referência para os projectos posteriores, apesar de ser a pousada do Serém a constituir um novo modelo tipológico, que será utilizado nas restantes pousadas desta fase. Estes três projectos são, por isso, os mais importantes e decicivos na definição da estratégia utilizada nesta primeira fase. Propostas formalmente diversas e algumas de grande riqueza conceptual, é a partir de temas como a escala doméstica dos edifícios (que traduz o caractér familiar destas construções), a distribuição programática dos pisos (solução funcional que resulta da simplicidade do programa e da articulação dos edifícios com o terreno), e a sala de jantar panorâmica (que combina os prazeres da vista com os prazeres gastronómicos e reforça o sentido de passagem destas unidades), que este conjunto se vai caracterizar. Tópicos permanentes nesta primeira série, revelam-nos a centralidade das soluções de Rogério de Azevedo na definição das pousadas oficiais, começando pelo gesto inaugural do Marão, que depois se estabiliza tipologicamente no Serém e se depura na simplicidade de Manteigas. (Lobo, 2006 p. 50) Elsa Maria Alves Almeida 27 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 12 - Plantas da pousada de S. Martinho, Alfeizerão. Inaugurada em 1943 (Lobo, 2006, p. 48) Ilustração 13 - Plantas da pousada de S. Brás, São Brás de Alportel. Inaugurada em 1944 (Lobo, 2006, p. 48) Ilustração 14 - Plantas da pousada de S. Tiago, Santiago do Cacém. Inaugurada em 1945 (Lobo, 2006, p. 48) Ilustração 15 - Planta da pousada de S. Lourenço. Inaugurada em 1948 (Lobo, 2006, p.48) Elsa Maria Alves Almeida 28 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal SEGUNDA FASE (1954-1987) Em 1954, é iniciada outra fase de construção das pousadas regionais, segundo um novo formato, que iria repensar a estratégia utilizada na primeira fase, passando agora a ser definidas como espaços de permanência, contrariamente às primeiras. Na elaboração destes projectos, é solicitada a participação de arquitectos em início de carreira, com o objectivo de explorar novas possibilidades no âmbito deste conceito. Ao contrário das primeiras, pensadas, essencialmente, enquanto escalas de passagem nos principais itinerários nacionais, tratava-se agora de trabalhar as naturais assimetrias do território, promovendo espaços de permanência que sedimentassem um turismo de carácter local. (Lobo, 2006 p. 74) Assim surgem quinze novas propostas, sob o comando da DGEMN, sendo acrescentadas mais duas a este grupo, posteriormente, segundo um novo plano que visava complementar o já existente, da responsabilidade do Organismo Oficial do Turismo. Nesta fase o programa é alterado, de forma a dar uma nova imagem a esta série de pousadas, sendo as características que as definem diferentes, pois agora o objectivo é que estas, sejam espaços de permanência e não de passagem, como eram na primeira fase. Por este motivo, o número de quartos é maior e estes passam a ter casas de banho privativas, e a principal particularidade que as distingue das primeiras, é a existência de uma “sala de estar”. Estas mudanças no conteúdo programático conferem, também, a possibilidade de criar novos formatos de organização dos espaços. Algumas das propostas pertencentes a esta fase de construção, revelam alguns problemas, não só pelo carácter moderno que apresentam, opondo-se às ideias do Regime, mas também por representarem uma linha de reflexão por parte dos arquitectos, onde divulgam “um processo de procura de referências locais, de contextualização que daria lugar a explorações organicistas e regionalistas críticas”. (Lobo, 2006 p. 82) Os projectos mais polémicos são a pousada da Portela da Gardunha, Vilar Formoso, S. Bartolomeu da autoria de José Carlos Loureiro10 e Pádua Ramos11, S.Teotónio com o projecto de João Andersen12, e Santa 10 José Carlos Loureiro (1925) arquitecto português, nasceu na Covilhã. Licenciado em arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde, mais tarde, foi professor. 11 Luís Duarte Pádua Ramos (1931 – 2005) arquitecto e professor português, nasceu em Lourenço Marques. Fez o ensino primário em moçambique. Em 1945 veio para Portugal onde concluio o liceu e, mais tarde, frequentou o curso de arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. 12 João Henrique de Mello Breyner Andresen (1920 – 1967) arquitecto português, nasceu no Porto. Entre 1939 e 1948 frequentou o curso de Arquitectura na Escola de Belas Artes do Porto. Elsa Maria Alves Almeida 29 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Bárbara com a intervenção de Manuel Tainha13. Devido aos problemas levantados por estas propostas, apenas três das cinco pousadas foram construídas, sendo que as que foram sofreram várias modificações. Estes projectos propunham não só introduzir conceitos modernos, característicos da arquitectura da época, mas principalmente a integração de cada projecto ao local de implantação, através da utilização de materiais e processos da construção vernecular. Propostas de irredutível qualidade, que propõem uma interpretação culta e sensível dos valores preexistentes, respondendo com extrema lucidez e rigor às questões de contexto e de integração no território, na procura da melhor relação entre obra e sítio, e valorizando o ambiente em que se inserem, não conseguem, no entanto, esconder o seu indiscutível carácter moderno, por mais que explorem conotações com a arquitectura espontânea local ou arquétipos da construção tradiocional. (Lobo, 2006 p. 84) Ilustração 16 - Pantas da pousada de S. Bartolomeu, Bragança. Inaugurada em 1959 (Lobo, 2006, p. 89) Ilustração 17 - Plantas da pousada de S. Teotónio, Valença do Minho. Inaugurada em 1963 (Lobo, 2006, p. 89) Ilustração 18 - Plantas da pousada de Santa Bárbara, Póvoa das Quartas. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 89) 13 Manuel Tainha (1922 – 2012) arquitecto e professor português, nasceu em Paço de Arcos. Formado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Foi uma figura importante, pelo papel que desempenho na renovação da forma de fazer e pensar a arquitectura. Elsa Maria Alves Almeida 30 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Num contexto diferente, longe da polémica levantada em torno dos projectos citados anteriormente, encontram-se as pousadas de S. Gens da autoria de Leonardo Castro Freire14, pousada de S. Jerónimo com o projecto de Alberto Cruz15, e a pousada da Senhora das Neves com a intervenção de Cristiano Moreira16. Estas propostas procuram retractar “os contextos geográficos e culturais em que se inserem, enquadrando-se, por isso, em campos formais tão opostos quanto os estereótipos de “monte alentejano” e de “abrigo de montanha””. (Lobo, 2006 p. 88) Apesar de serem propostas menos aliciantes do que os anteriores, também contribuíram para um novo período da arquitectura em Portugal, promovendo a valorização de uma “cultura de lugar” e fazendo uma crítica aos ideais absolutistas do movimento moderno. Ilustração 19 - Plantas da pousada de S. Gens, Serpa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 90) Ilustração 20 - Plantas da pousada de S. Jerónimo, Caramulo. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 90) Ilustração 21 - Plantas da pousada da Senhora das Neves, Almeida. Inaugurada em 1987 (Lobo, 2006, p. 90) 14 Leonardo Rey Colaço Castro Freire (1917 – 1970) arquitecto português. Ganhou o Prémio Valmor em 1970. 15 Alberto Manuel Barbosa Pereira da Cruz (1920 – 1990) arquitecto português. Formou-se na Escola de Belas Artes do Porto, que frequentou de 1936 a 1946. 16 Cristiano Moreira (1931 – 2012) arquitecto e professor português. Licenciado em arquitectura pela Escola de Belas Artes do Porto em 1961, onde, mais tarde, foi professor. Elsa Maria Alves Almeida 31 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Este grupo de pousadas regionais subdivide-se em mais duas categorias, as “pousadas em barragens” e a série “Beira-mar”, sendo estas resultado da ideia de “associar estes edifícios a uma nova componente marítima e fluvial, que simultaneamente, explorasse os recursos turísticos naturais da nossa costa e se aliasse ao processo de aproveitamento hidráulico desencadeado pelo Plano do Fomento17. (Lobo, 2006 p. 74) O grupo das “pousadas em barragens” é então composto pela pousada de S. Pedro, a primeira deste grupo, seguindo-se as pousadas de Santa Catarina da autoria de Leonardo Castro Freire, pousada de S. Bento com o projecto de Eduardo Coimbra Brito18, pousada de Santa Clara, e mais tarde, segundo o plano de 1966, é construída a última pousada deste grupo, a de Vale do Gaio, sendo as duas últimas da autoria de Raul Chorão Ramalho19. Estas propostas surgiram da adaptação de casas preexistentes, construídas para albergar os engenheiros que participavam nas obras das barragens que estavam a ser construídas em alguns pontos do país. Desfrutando de panoramas únicos, criados no confronto entre a vontade transformadora do homem e a força natural da paisagem, os edifícios existentes adaptam-se facilmente á nova função, pela proximidade ao espírito e ao programa que se estipulara para este tipo de intalações turísticas. Soluções trabalhadas a partir de “casas”, vão dar, assim, continuidade às propostas do grupo anterior, embora introduzindo outra complexidade porque em resposta a uma diferente circunstância programática, determinada por um nova orientação da política de turismo. (Lobo, 2006) Ilustração 22 - Planta da pousada de S. Pedro, Castelo de Bode. Inaugurada em 1954 (Lobo, 2006, p. 75) 17 Os vários Planos do Fomento que existiram tinham como principal objectivo, aumentar a produtividade, criar emprego, melhorar a balança comercial, conseguindo assim um melhor nível de vida à população. Os sectores afectados por este programa seriam os dos transportes e comunicações, electricidade e agricultura. 18 Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor. 19 Raúl Chorão Ramalho (1914 – 2002) arquitecto português, nasceu no Fundão. Iniciou o curso de Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, transferindo-se em 1941, para a Escola de Belas Artes do Porto, onde concluío a licenciatura, em 1947 Elsa Maria Alves Almeida 32 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 23 - Planta da pousada de Santa Catarina, Miranda do Douro. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 75) Ilustração 24 - Plantas da pousada de S. Bento, Caniçada. Inaugurada em 1968 (Lobo, 2006, p. 75) Ilustração 25 - Plantas da pousada de Santa Clara, Santa Clara-a-Velha. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 75) Ilustração 26 - Planta da pousada de Vale do Gaio, Torrão. Inaugurada em 1977 (Lobo, 2006, p. 75) Elsa Maria Alves Almeida 33 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Na série “Beira-Mar” os pressupostos são diferentes, sendo que neste grupo é perceptível a intenção de complementar a rede já existente, criada com as primeiras pousadas, tendo sido estabelecido através dessas propostas uma ligação aos principais percursos presentes em Portugal. Estes projectos dão um novo significado ao itinerário que liga o Norte e o Sul do país, através da localização destas pousadas em pontos específicos com elevado interesse para o turismo. Os quatro projectos pertencentes a este grupo são a pousada da Nazaré, da Arrábida, do Infante com o projecto de Jorge Segurado20, e, por fim, a pousada da Ria da autoria de Alberto Cruz. Este grupo apresentou alguns problemas na sua concretização, levando a que as pousadas da Nazaré e da Arrábida não fossem contruídas, ficando apenas em anteprojecto. Apesar das ciscunstâncias não serem favoráveis, a DGEMN decide avançar com a construção das outras duas pousadas, sendo ambas inauguradas em 1960. Destes dois projectos destaca-se a pousada da Ria, pelo facto de representar uma nova metodologia de trabalho que revela uma adequação “à mais correcta utilização dos materiais tradicionais, em clara e orgânica integração com a linguagem da arquitectura moderna, do betão aparente, dos amplos espaços rectilíneos em consola e dos generosos envidraçados sobre a paisagem.” (Lobo, 2006 p. 81) Ilustração 27 - Plantas da pousada do Infante, Sagres. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79) Ilustração 28 - Plantas da pousada da Ria, Murtosa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79) 20 Jorge de Almeida Segurado (1898 – 1990) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Em 1913 iniciou o curso preparatório da Escola de Belas Artes de Lisboa e, em 1918, increveu-se no curso especial de arquitectura, que concluío em 1924. Elsa Maria Alves Almeida 34 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Nesta última fase das pousadas regionais, é realizada a última pousada de raíz, sendo que a partir deste período, as pousadas passam a ser instaladas em edifícios com valor patrimonial ou integradas em sítios históricos, dando início a uma nova etapa na história das pousadas de Portugal. Ilustração 29 - Pousadas regionais, primeira fase (Lobo, 2006, p. 46 e 49)21 21 Consultar Apêndice A. Elsa Maria Alves Almeida 35 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 30 - Pousadas regionais, segunda fase (Lobo, 2006, p. 71)22 Ilustração 31 - Pousadas regionais, segunda fase, grupo das "pousadas em Barragens" (Lobo, 2006, p. 71)23 Ilustração 32 - Pousadas regionais, segunda fase, série "Beira-Mar" (Lobo, 2006, p. 7124) 22 Consultar Apêndice A. Consultar Apêndice A. 24 Consultar Apêndice A. 23 Elsa Maria Alves Almeida 36 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 2.2.2. AS POUSADAS E O PATRIMÓNIO POUSADAS EM MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS (1950-1994) Paralelo ao ciclo de pousadas de raiz, a DGEMN tinha vindo a concretizar, desde os anos 50, uma série de “adaptações a pousada” de monumentos históricos restaurados no âmbito do programa de obras públicas do Estado Novo. […] a intalação de pousadas em “estruturas monumentais - castelos, fortalezas ou conventos“ surge claramente subordinada à ideologia evocativa “do monumento como “obra-simbólica” da Nação”, privilegiando-se a integridade física e espiritual do edifício à sua “detorpação” por razões de ordem funcional.” (Lobo, 2006 p. 115) As primeiras experiências, neste âmbito da adaptação de edifícios históricos, resultam da necessidade de dar uma nova utilidade a imóveis restaurados pela DGEMN, acabando, assim, por não existir um plano estratégico resultando em projectos dispersos no espaço e no tempo. Devido a este facto, estas intervenções caracterizam-se pelo restauro integral do edíficio, onde apenas o espaço interior é alterado, nomeadamente a decoração e o mobiliário, procurando qualificar a ambiência dos mesmos. São trabalhos que, dada a situação de urgência das intervenções, incidem sobretudo em obras de consolidação e reconstituição dos imóveis, entendidas mais como “”harmonizar” (não reconstituir), nas suas linhas gerais, o aspecto do monumento com aquele que o devia afirmar nos tempos […] da sua maior fortuna”, sem se abalançar à inglória tarefa de reedificar – por falta de elementos idóneos e talvez de boa razão histórica – os edifícios subvertidos hádois séculos, nem tão pouco ao inútil vigor de demolir outros, de recente construção”. (Lobo, 2006 p. 116) O primeiro grupo referente à construção de “pousadas em monumentos históricos”, é composto pelas pousadas do Castelo e dos Lóios da autoria de João Filipe Vaz Martins25, pela pousada de S. João Baptista, S. Filipe, e Rainha Santa Isabel com o projecto de Rui Ângelo Couto26, e a pousada de Santiago com a intervenção de Luís dos Santos Castro Lobo27. As duas primeiras pousadas deste grupo, […] resultam de uma decisão tomada depois das obras de restauro, enquanto que nas restantes a adaptação é assumida como um dado à partida e, de alguma forma, determinante para a orientação dos trabalhos, […] ainda que, em ambos os casos, a instalação das unidades hoteleiras se reduza, quase 25 João Filipe Vaz Martins (1910 - ) arquitecto português, nasceu em Mirandela. Estudou na Escola Superior de Belas Artes do Porto, entre 1928 e 1936. 26 Rui Ângelo Couto (1954 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. 27 Luís dos Santos Castro Lobo (1929 - ) arquitecto português, nasceu em Évora. Formado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Elsa Maria Alves Almeida 37 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal sempre, a um mero exercício de compartimentação e organização racional dos espaços resultantes da recuperação dos edifícios.” (Lobo, 2006 p. 116) Ilustração 33 - Plantas do restauro da DGEMN, Óbidos (Lobo, 2006, p. 117) Ilustração 34 - Plantas da pousada do Castelo, Óbidos. Inaugurada em 1950 (Lobo, 2006, p. 117) Ilustração 35 - Planta do restauro da DEGMN, Ilha da Berlenga (Lobo, 2006, p. 117) Ilustração 36 - Plantas da pousada de S. João Baptista, Ilha da Berlenga. Inaugurada em 1953 (Lobo, 2006, p. 117) Elsa Maria Alves Almeida 38 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 37 - Plantas do resturo da DEGMN, Évora (Lobo, 2006, p. 118) Ilustração 38 - Plantas da pousada dos Lóios, Évora. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 118) Ilustração 39 - Plantas da pousada de S. Filipe, Setúbal. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 117) Elsa Maria Alves Almeida 39 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 40 - Plantas do restauro da DGEMN, Estremoz (Lobo, 2006, p. 117) Ilustração 41 - Plantas da pousada Rainha Santa Isabel, Estremoz. Inaugurada em 1970 (Lobo, 2006, p. 117) Ilustração 42 - Planta do restauro da DGEMN, Palmela (Lobo, 2006, p. 118) Ilustração 43 - Plantas da pousada de Santiago, Palmela. Inaugurada em 1979 (Lobo, 2006, p. 118) Elsa Maria Alves Almeida 40 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Estes seis projectos resultam da reconversão de edifícios fortificados e antigos conventos. Das duas tipologias referidas a mais complexa na adaptação ao novo conteúdo programático é a primeira, pelo facto de existir “uma maior “confusão” […] na definição dos acessos verticais e dos esquemas de distribuição ou na própria delimitação entre zonas comuns e espaços privados […].” (Lobo, 2006 p. 116) Nos antigos conventos esta organização espacial é mais clara, pois é regida por uma metodologia, resultando “de uma forma quase linear, da lógica conventual, onde, por analogia de funções, a antiga portaria é transformada em entrada, o clautro em espaço de distribuição, a sala do capítulo em espaço de estar, o refeitório em sala de jantar, e, naturalmente, as celas em quartos de hóspedes.” (Lobo, 2006 p. 116) Deste grupo, destacam-se a pousada do Castelo e dos Lóios. A primeira pela definição de um novo conceito na classificação de monumento nacional, através da atribuição desta protecção não só ao castelo mas também à vila histórica onde está implantado, passando assim a ser “ um todo a recuperar e a preservar”. (Lobo, 2006 p. 119) A segunda, pelo método de intervenção utilizado, sendo perceptível a distinção entre o que é preexistência e o que é construído posteriormente, possibilitando a percepção dos materiais e técnicas modernas, tendo em conta a não interferência deste processo no carácter da preexistência. Estas duas obras reflectem conceitos que no futuro iriam ser fortalecidos através da Carta de Veneza28, no âmbito da intervenção e classificação do património. A Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios, também designado por Carta de Veneza, iria abrir caminho a uma nova discussão sobre as questões relativas ao património, acabando por se reflectir também nas porteriores intervenções da DGEMN, nomeadamente em duas intervenções simbólicas da arquitectura do séc. XX, a pousada de D. Dinis da autoria de Alcino Soutinho 29, e a pousada de Santa Marinha da Costa com a intervenção de Fernando Távora 30. Estas pousadas distinguem-se por serem exemplos no modo como “interpretam e promovem uma nova “relação com o tempo e a história, o saber e a arte”, são também sinal da progressiva expansão do “culto” do património histórico e de uma diferente política cultural do estado. (Lobo, 2006 p. 120) 28 A Carta de Veneza ou Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios, foi aprovada em 1964, no II Congresso Internacional dos Arquitectos e e Técnicos dos Monumentos Históricos, sendo posteriormente aprovado em em 1966 pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS). 29 Alcino Peixoto de Castro Soutinho (1930 – 1913) arquitecto português, nasceu em Vila Nova de Gaia. Formou-se em arquitectura, em 1957, na Escola Superior de Belas Artes do Porto onde viria, mais tarde, a ser professor. 30 Consultar página 49. Elsa Maria Alves Almeida 41 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 44 - Plantas da pousada de D. Dinis, Vila Nova de Cerveira. Inaugurada em 1982 (Lobo, 2006, p. 121) Ilustração 45 - Plantas da pousada Santa Marinha da Costa, Guimarães. Inaugurada em 1985 (Lobo, 2006, p. 118) Contemporânea “(d)aquilo a que poderemos chamar o projecto “moderno”, a “ideologia do património” nasce de uma paradoxal nostalgia e necessidade de preservar um passado com o qual, intrinsecamente, a modernidade procura romper. Da “escolha ou eleição” deste passado, que, estatuariamente, “remete para uma fenomenologia e uma estética”, resultaria o conceito de património cultural, investindo de sentido e significado determinados objectos construídos. (Lobo, 2006 p. 122) Elsa Maria Alves Almeida 42 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Os últimos projectos pertencentes ao grupo das “pousadas em monumentos” são, a pousada do Alvito da autoria de Manuel Bagulho31, e a pousada de S. Francisco com o projecto de E. Maia Rebelo32 e José Alves33. Estas pousadas já estão integradas no plano de 1989, devido à semelhança nas posturas adoptadas e critérios utilizados nas intervenções. O conjunto das “pousadas em centros históricos”, relativo também a esta fase, é constituído pela pousada de Santa Maria da autoria de Alberto Cruz, pousada de Nossa Senhora da Oliveira com o projecto de Alberto Bessa34, pousada Barão Forrester com a intervenção de Fernando Ramalho35, e, por fim, a pousada Mestre Afonso Domingues. Estes projectos resultam da reconversão de conjuntos habitacionais localizados em centros históricos, contribuindo também, para um novo contexto. O património cultural passa a ser encarado de outra forma, podendo agora ser para usofruto de todos, acabando por alterar a política das pousadas oficiais, focando-se somente em intervenções deste tipo. Em resposta a esta nova orientação dos interesses da indústria do Turismo, mas também à recente evolução da situação política nacional, em 1976 seria criada, sob a tutela do Ministério do Comércio Externo, a ENATUR – Empresa Nacional de Turismo e aprovados os seus estatutos. “Empresa pública, com autonomia administrativa e financeira, […] à Enatur cabe “reestruturar, racionalizar e dinamizar a exploração dos empreendimentos turísticos-hoteleiros sob a intervenção governamental”. (Lobo, 2006 p. 125) No seguimento destes acontecimentos, as pousadas oficiais ficam distribuídas pela DGEMN e ENATUR, sendo que posteriormente, devido à aprovação do Decreto-Lei N.º207/84 de 25 de Junho de 1984, passa a ser apenas da responsabilidade da ENATUR “colaborar na recuperação e aproveitamento para fins turísticos de monumentos e outros edifícios de valor patrimonial, para além de “propor o aproveitamento turístico de espaços disponíveis pertencentes ao Estado, por si ou com a participação de iniciativa privada.”” (Lobo, 2006 p. 125) 31 Manuel Bagulho (1922 - ) arquitecto português, nasceu em Elvas. Formado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. 32 Eduardo Maia Rebelo (1948 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. 33 Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor. 34 Alberto da Silva Bessa (1911 – 1984) arquitecto português, nasceu em Vila Nova de Gaia. Terminou o curso especial de Arquitectura Civil da Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1934. 35 Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor. Elsa Maria Alves Almeida 43 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal POUSADAS DE AUTOR (1995-1998) Em 1989 é realizado um novo Plano Nacional de Pousadas e Turismo que remete a dois pontos fundamentais, o de utilizar edifícios preexistentes e reconverte-los a pousada de forma a difundir “uma recuperação significativa e exemplar do nosso património cultural.” (Lobo, 2006 p. 125) O segundo ponto refere que as pousadas devem estar situadas por todo o território nacional, tendo em conta “as necessidades de cada uma das Regiões de Ordenamento Turístico e das Regiões Específicas de Aproveitamento Turístico.” (Lobo, 2006 p. 125) De acordo com as especificações propostas neste plano, surge uma nova fase na evolução histórica das pousadas de Portugal. Os projectos referentes a este plano, passam a ser encarados como intervenções a longo prazo, tendo por isso que ser aprovados pelo IPPAR – Instituto Português de Património Arquitectónico e Arquitectónico e Arqueológico, e a fiscalização das respectivas obras teriam de ser geridas pela DGEMN. Esta etapa de construção é também marcada por um novo debate sobre as temáticas relativas ao património, iniciado pelas intervenções realizadas nas pousadas de D. Dinis e Santa Marinha da Costa, mencionadas anteriormente, onde os respectivos autores criaram novos conceitos e metodologias de trabalho que acabariam por influenciar posteriores intervenções, no decorrer dos anos oitenta e noventa. Estes projectos declaram também o retorno às pousadas de autor, pelo facto de, estas intervenções contemplarem uma estratégia na adaptação e requalificação da preexistência, resultando assim, numa arquitectura de maior qualidade. Paradigma, ainda hoje, de uma concepção dinâmica e integrada do Património, a intervenção de Fernando Távora, na Pousada de Sta. Marinha, sustentará posteriores intervenções em monumentos históricos. Porque, mais do que seguir convenções e princípios, passiveis de falência à luz de novos conceitos,o que se equaciona, em Guimarães, é a própria relação da obra com a vida, esta intervenção é “produção de património da sua época”, constituindo ela mesma doutrina. (Lobo, 2006 p. 142) A peculiar atitude do arquitecto Fernando Távora, na adaptação do mosteiro Santa Marinha da Costa, iria ter repercussão directa na actuação de outros autores, sendo a sua intervenção uma referência importante em três projectos particulares, apelidados de as “três filhas” de Santa Marinha, sendo estas a pousada Flor da Rosa da autoria de João Luís Carrilho da Graça36, a pousada de Nossa Senhora da Assunção com o 36 Consultar página 64. Elsa Maria Alves Almeida 44 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal projecto de José Paulo dos Santos37, e a pousada de Santa Maria do Bouro com a intervenção de Eduardo Souto de Moura38. Devido à diferente postura e metodologia de trabalho utilizadas nos projectos, Santa Marinha da Costa, Flor da Rosa e Santa Maria do Bouro, estas intervenções são integradas como casos de estudo do presente trabalho, sendo explicadas detalhadamente no capítulo seguinte. Ilustração 46 - Plantas da pousada do Alvito, Alvito. Inaugurada em 1993 (Lobo, 2006, p. 121) Ilustração 47 - Plantas da pousada de S. Francisco, Beja. Inaugurada em 1994 (Lobo, 2006, p. 121) Posturas que definem diferentes estratégias projectuais, partem, no entanto, de um idêntico entendimento do monumento como “organismo vivo”, aberto a “uma reorientação da reafectação de uso e de restauro integrador”, a partir de uma lógica de adequação tipológica que compreende, em paralelo, a adição de “construção nova”. São, por isso, intervenções que aliam ao restauro crítico novos pressupostos metodológicos, deixando “ao monumento, através do seu estudo, determinar a intervenção possível, e eventualmente, ideal”. (Lobo, 2006 p. 145) 37 José Paulo dos Santos (1956 - ) arquitecto português, nasceu no Porto. Estudou arquitectura, em Londres, no Royal Collage of Arts, entre 1975 e 1981. 38 Consultar página 80. Elsa Maria Alves Almeida 45 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 48 - Plantas da pousada Flor da Rosa, Crato. Inaugurada em 1995 (Lobo, 2006, p. 147) Ilustração 49 - Plantas da pousada de Nossa Senhora da Assunção, Arraiolos. Inaugurada em 1996 (Lobo, 2006, p. 147) Ilustração 50 - Plantas da pousada Santa Maria do Bouro, Amares. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p. 147) Elsa Maria Alves Almeida 46 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal As últimas intervenções deste plano que importam referir no âmbito das “pousadas de autor” são a pousada D. João IV da autoria de João de Almeida39 e Pedro Ferreira Pinto40, e a pousada D. Afonso II do arquitecto Diogo Lino Pimentel 41. Estas adaptações realizadas em antigos mosteiros extintos propõem uma atitude diferente, pois definem “”alterações das características tipológicas (dos) monumentos intervencionados”, ou então, “no seu afã de afirmação na nossa época, tantas vezes retórica, neutraliza(ram) a preexistência, tomada como pano de fundo da nova intervenção.” (Lobo, 2006 p. 150) Neste sentido, estas pousadas são o reflexo do que não se deve fazer, quando se trata um edifício com valor histórico-cultural, pois este tipo de intervenção não valoriza as características primordiais da preexistência necessárias para a preservação da sua identidade. Ilustração 51 - Plantas da pousada D. João IV, Vila Viçosa. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p.148) Ilustração 52 - Plantas da pousada D. Afonso II, Alcácer do Sal. Inaugurada em 1998 (Lobo, 2006, p.148) 39 Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor. Pedro Ferreira Pinto (1939 - ) arquitecto português, nasceu no Porto. Formado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. 41 Diogo Lino Pimentel (1934 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. 40 Elsa Maria Alves Almeida 47 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal A visita a todos estes edifícios é acompanhada de folhetos explicativos da sua história. E pode assim ser porque lhes puseram termo. A intervenção actual não faz parte da narrativa. Inicia e acaba outra. Mas será o arquitecto o responsável pela falibilidade de algumas destas intervenções? (Lobo, 2006 p. 152) Estes foram os últimos projectos desta fase, e consequentemente, as últimas intervenções analisadas neste trabalho. Outras pousadas foram construídas, posteriormente, sempre no âmbito da reconversão do património, mas apenas estes contribuíram nas diferentes abordagens e metolodogias adoptadas, que definiram as diferentes fases evolutivas da história das pousadas de Portugal. Os casos de estudo escolhidos caracterizam intervenções “inovadoras”, e contribuíram para uma nova reflexão sobre o modo de intervir no património, sendo por isso, analisados mais detalhadamente no capítulo seguinte. Ilustração 53 - Grupo das "pousadas em monumentos históricos" (Lobo, 2006, p. 113)42 42 Consultar Apêndice A. Elsa Maria Alves Almeida 48 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 54 - Grupo das "pousadas em centros históricos" (Lobo, 2006, p.123)43 Ilustração 55 - Ilustração 55 - Grupo das "pousadas de autor" (Lobo, 2006, p.143)44 43 44 Consultar Apêndice A. Consultar Apêndice A. Elsa Maria Alves Almeida 49 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 50 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3. CASOS DE ESTUDO 3.1. POUSADA DE GUIMARÃES, MOSTEIRO SANTA MARINHA DA COSTA 3.1.1. O AUTOR Ilustração 56 - Fernando Távora (Coelho, 2011, p.10) Fernando Távora45 é um arquitecto que desenvolve ao longo da sua obra um papel importante e empenhado nas questões que envolvem a preservação do património arquitectónico defendendo uma atitude criativa no diálogo com as formas do passado, de modo a criar uma continuidade arquitectónica. A obra de Fernando Távora evoca sempre o passado:evoca-o naturalmente quando recupera um edifício ou quando acrescenta algo de novo a uma velha construção, mas 45 Fernando Luís Cardoso Meneses de Tavares e Távora (1923 - 2005) arquitecto português, nasceu no Porto. Conclui o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1952, onde viria a ser Professor. Mais tarde, torna-se Presidente da Comissão de Instalação da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Em 2003, obtem o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra. Ao longo do seu percurso publicou vários textos sobre Arquitectura detacando-se “O Problema da Casa Portuguesa” publicado em 1947, “Da organização do espaço” publicado em 1964, que servem de base teórica à sua obra. Paticipa no Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa em 1955. Foi membro da Ordem dos Arquitectos Modernos e dos CIAM, pertenceu também à Associação dos Arquitectos Portugueses e à União Internacional dos Arquitectos. Recebeu de entre vários prémios, o Primeiro Premio de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian, Premio Turismo e Património (1985), Medalha de Ouro pela Cidade do Porto e de Guimarães. Actualmente existe o Prémio Fernando Távora, que promove uma bolsa, à melhor proposta de viagem de investigação, feito por qualquer arquitecto inscrito na Ordem dos Arquitectos. Elsa Maria Alves Almeida 51 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal evoca-o também quando constrói de raiz ou aborda a temática da cidade. Arquitecto moderno, a sua modernidade sempre repugnou porém ignorar, esquecer ou destruir, pois na sua obra os valores desta modernidade sempre ombrearam, nostalgicamente, com os da tradição; é portanto no quadro duma relação dialéctica entre presente e passado que importam entender a progressiva inserção da arquitectura de Távora, sempre desenhada sem concessões miméticas ou pitorescas, num processo formal temporalmente extenso que, ultimamente, se convencionou chamar de “tradição arquitectónica portuguesa””. (Coelho, 2011 p. 18) O conceito de património na visão de Távora é mais abrangente, no sentido em que para este arquitecto, todo o território deve ser considerado património e toda a intervenção que possa ser feita neste âmbito deve ser realizada de forma criativa, recusando a cópia mimética do edifício a recuperar, transformando e enriquecendo-o, de modo a construir, assim, um processso de continuidade formal. Távora defendera sobretudo um conceito patrimonial arquitectónico “alargado” em termos espáçio-temporais, afirmando neste contexto que também “o nosso território tem que ser considerado na sua totalidade como património, isto é, como qualquer coisa de precioso que herdámos (…) Daí que quanto a nós não seja mais possível isolar os dois termos de território e património, considerando este apenas como um conjunto de valores construídos ou naturais de especial significado (…) E o que acontece no espaço acontece,quanto a nós, igualmente no tempo (…). Património não pode ser apenas aquilo que os antepassados (…) nos deixaram. O património resulta duma criação permanente e colectiva e o próprio acto de recuperação do património tem de ser um acto de criação e não um acto de rotina burocrática ou de capricho pessoal”. (Coelho, 2011 p. 30) Como autor do projecto de adaptação do mosteiro Santa Marinha da Costa a pousada, Távora tem como principal objectivo manter presente a história do edifício, evidenciando as diferentes transformações de que foi alvo e utilizando a preexistência como instrumento de projecto, pretendendo que exista “…um dialogo, não de surdos que se ignoram, mas de ouvintes que desejam entender-se, afirmando mais as semelhanças e a continuidade do que cultivando a diferença e a ruptura.” (Costa, 1993 p. 116) Segundo o autor existe um método, que deve ser utilizado quando se trata de uma reabilitação, constituído por duas questões que se complementam, a primeira requer o conhecimento da evolução histórica do edifício de modo a que seja possível incorporar a linguagem mística do passado no novo projecto. A segunda questão está relacionada com a criatividade na adapção ao novo programa, procurar inovação no processo de transformação, interpretando esta intervenção como mais uma a que o edifício está sujeito, e admitindo que possivelmente não será a última. “Assim se inicia, Elsa Maria Alves Almeida 52 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal se percorre e se continua, em permanente transformação, a vida de um edifício durante onze séculos, na certeza de que outros séculos virão e com eles outras transformações.” (Costa, 1993 p. 116) Este projecto é considerado uma referência da arquitectura portuguesa, e levou o autor a receber o “Prémio Nacional de Arquitectura”, em 1987. O critério utilizado pelo arquitecto para esta intervenção foi o de “[…]continuar – inovando, isto é, o de contribuir para a prossecução da vida já longa do velho edifício, conservando e reafirmando os seus espaços mais significativos resultantes de novos condicionamentos programáticos.” (Costa, 1993 p. 116). O autor pretende encontrar uma harmonia entre o antigo e o novo, tentando minorar o confronto entre ambos, chegando mesmo a questionar a noção de modernidade46. E o que justificará também, e aqui, uma certa austeridade monástica manifestada atrezés de uma grande economia de meios técnicos e de uma extrema simplicidade nas soluções adoptadas, quer a nível de espaço, quer a nível do seu tratamento e mobiliário, travando uma batalha, talvez perdida, contra o sensacionalismo exibicionista das formas, dos materiais e das cores que persegue nosso quotidiano. Enfim, e em suma, talvez numa manifestação de saudade da Architectura representada nos azulejos do antigo mosteiro. (Costa, 1993 p. 118) Este projecto reflecte por isso, um estudo profundo sobre a intervenção no património, repleto de memória, agindo de uma forma natural e sem rupturas na continuidade do edifício. 46 A modernidade é entendida como uma visão do mundo relacionada ao projecto empreendido, a partir da transição teórica operada por Descartes, partindo da ruptura com a tradição herdada e o estabelecimento da autonomia da razão. Do ponto de vista histórico, modernidade refere-se à história dos “Tempos Modernos”, desde o Renascimento até à actualidade, designando assim, não só uma época como também a percepção da humanidade indissociável à nossa filosofia e cultura europeia. A modernidade, em termos civilizacionais, tem um caractér de conquista na autonimia e vontade de criar novas técnicas, por parte dos Individuos. Elsa Maria Alves Almeida 53 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 54 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.1.2. O MOSTEIRO Ilustração 57 - MosteIro Santa Marinha da Costa (Portugal, 2013) O mosteiro Santa Marinha da Costa localiza-se na cidade de Guimarães, mais exactamente, a meio da encosta da Serra de Santa Catarina gerando um grande impacto cenográfico e levando à criação de momentos arquitectónicos especiais. Para um melhor entendimento do carácter de mosteiro e da sua relação interior-exterior são consideradas três questões essencias, o edifício, a cerca e a paisagem. Este conjunto arquitectónico foi alvo, ao longo dos tempos, de várias alterações e acrescentos fazendo com que este edifício possua um valor inestimável resultante da sua história. Factos arqueológicos revelam vestígios de ocupação romana na àrea do actual claustro do mosteiro, bem como a existência de um templo suevo-visigótico, no período dos séculos VI-VII. Em 899 é realizada a Igreja de Santa Marinha da Costa que mais tarde irá fazer parte integrante do mosteiro. No séc. X, este local foi eleito para ser a sede do Condado Portucalense47, e é então iniciada a construção de um majestoso edifício, sendo também reconstruída a igreja. No ano de 1154, foi fundado como mosteiro pela Rainha D. Mafalda48, esposa de D.Afonso Henriques49. No séc. XII 47 Território que foi entregue ao governo do Conde D. Henrique na época da reconquista cristã, e corresponde sensivelmente às terras entre o Tejo e o Minho. Posteriormente, com o contributo de D. Afonso Henriques, filho de D.Henrique, o Condado Portucalende está na origem do reino independente de Portugal. 48 Mafalda de Saboia (1125 – 1157/58) Casou-se com D.Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, em 1146, tornando-se assim na primeira Rainha de Portugal. 49 Afonso I de Portugal (1109 – 1185) Foi o fundador do Reino de Portugual, depois de vencer a Batalha de Ourique, em 1139, foi proclamado o primeiro Rei de Portugal, sendo apenas reconhida a independencia portuguesa em 1179, pelo Papa Alexandre III através da bula Manifestis Probatum. Elsa Maria Alves Almeida 55 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal o mosteiro foi cedido aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho50, sendo feita uma nova reconstrução onde são aproveitadas as paredes moçárabes existentes e são feitas alterações na igreja. Mais tarde, o mosteiro foi entregue à Ordem de São Jerónimo51, e em 1537, D. João III52 determina a transformação do mesmo em centro de estudos para que o seu filho, lá pudesse estudar, o que levou a um vasto período de obras que incluíram a reestruturação da fachada e um novo claustro. Apesar do prestígio que o colégio de São Jerónimo adquirio ao longo do tempo, com a morte do seu filho, D. João III determina em 1553, a transferência das intalações do colégio para a Universidade de Coimbra. Ilustração 58 - Edificações desde o período romano ao séc. X, de acordo com os trabalhos arqueológicos (Portugal, 2013) Ilustração 59 - Reconstituição aproximada da planta do edifício construido pelos Cónegos Regrantes (Portugal, 2013) No final do séc. XVI ocorre um grande incêndio que devasta o claustro, bem como outras áreas do mosteiro. Devido a este acontecimento, são executadas novas obras de reconstrução que passam pela ampliação da capela-mor, construção das torres sineiras e da ala nascente que integra os antigos dormitórios e a “Varanda de São Jerónimo”, sendo esta construída posteriormente. Estas obras prolongam-se por todo o séc. XVII e levam a uma nova estética decorativa. Após a extinção das Ordens Religiosas em 1934, o edifício passa a ser propriedade do estado, sendo logo vendido em hasta pública a um proprietário privado, passando seguidamente por diversos proprietários. 50 Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho são religiosos pertencentes ao clero, que faziam votos de probreza e viviam em comunidade, a denominação regrantes provém do facto de serem seguidores das regras instituídas por Santo Agostinho, em 1134, os membros desta congregação aderem à regra agostiniana, passando a congregação designar-se Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. 51 A Ordem de São Jerónimo é uma congregação religiosa católica de clausura monástica, que surge no século XIV. Foi aprovada em 1973 pelo Papa Gregório XI, e fundada por São Jerónimo. 52 João III de Portugual (1502 – 1557) Foi décimo quinto Rei de Portugal, iniciando o seu reinado em 1521, altura em que o país estava no apogeu da espanção ultramarina, possuindo territórios nos cinco contimentes. Apesar dos problemas existentes, manteve a política centralizadora e absolutista dos seus antecessores, procurando apenas reestruturar a vida administrativa e judicial, dando continuidade a uma política de expanção. Elsa Maria Alves Almeida 56 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 60 - Evolução construtiva (Portugal, 2013) Em 1936 este edifício é devidamente classificado como imóvel de interesse público e em 1951, volta novamente a sofrer um grande incêncio que destrói a ala dos antigos dormitórios e leva à total degradação e abandono do mesmo. Por fim, em 1972, o estado adquire o mosteiro Santa Marinha da Costa e, em 1975, iniciam-se as obras de reconstrução do edifício com as novas funções de pousada. Ilustração 61 - Planta de implantação, 1978 (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida Ilustração 62 - Planta de implantação, 1985 (Portugal, 2013) 57 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 63 - Imagens anteriores à reconversão, 1969-1975 (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida 58 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.1.3. A POUSADA Ilustração 64 - Pousada Santa Marinha da Costa (Costa, 1993, p.113) A pousada Santa Marinha da Costa resulta do projecto de recuperação elaborado pelo Arquitecto Fernando Távora, e está classificada como pousada Histórica na Rede de Pousadas de Portugal. A intervenção é iniciada no ano de 1973 em ante projecto, a fase de contrução começa em 1975, extendendo-se até 1985, data de inauguração da nova pousada. Quando foi tomada a decisão de adaptar o mosteiro a pousada, este encontrava-se bastante degradado devido à variedade de usos que albergou desde o início do século XIX, e pelo grande incêndio que sofreu em 1951, levando assim ao seu abandono. Este conjunto arquitectónico é formado pela igreja, a norte ocupando o ponto mais elevado, as duas alas paralelas, uma a nascente de maior comprimento e a outra a poente, um terceiro corpo que fecha o claustro e por fim o novo volume. Numa fase inicial teria sido previsto apenas a utilização do conjunto existente, mas verificada a baixa rentabilidade da pousada, a Direcção Geral de Turismo sugeriu a construção de um novo piso de quartos sobre a ala Nascente, obrigando assim à redução do pé-direiro do mesmo, no entender do arquitecto esta alteração iria destruir a qualidade espacial e expressão arquitectónica deste espaço, propondo então a construção de um novo corpo. A fase de construção passa a ter dois momentos distintos, o primeiro momento é dedicado exclusivamente á recuperação do mosteiro e o segundo momento é apenas para a construção do novo corpo. Elsa Maria Alves Almeida 59 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Esta intervenção desenvolve-se a partir da forma, enquanto estrutura geradoura de espaço e não apenas com a preocupação de manter o valor estilístico do edifício, não o recriando exactamente como seria antes da sua destruição, mas sim reinterpretando-o tendo em conta a sua história e adaptando-o ao novo uso, tendo em conta as necessidades e legalidades da época em que está a ser reconstruído. O autor utiliza a estrutrura principal do edifício, mantendo-a mas ao mesmo tempo redefine-a através dos espaços, dando-lhes um novo carácter. Távora trabalha e molda a preexistência, usa como material de projecto, relê a história e aceita as diferentes intervenções anteriores, restaurando, corrigindo ou mesmo alterando, num sentido crítico de manter a leitura do edifício e das suas fases anteriores. (Coelho, 2011 p. 56) Ilustração 65 - Planta piso térreo, 1975 (Portugal, 2013) Ilustração 66 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) A recuperação do mosteiro centrou-se principalmente nas áreas envolventes ao claustro e na grande ala nascente, sendo que nesta ala permaneceram quase intactos, após o incêndio de 1951, os espaços localizados nos extremos do volume, correspondente ao acesso, a Norte, e a Varanda de São Jerónimo, a Sul. O autor determina a sua reconstrução utilizando soluções contemporâneas que reintrepretam os antigos espaços e o seu valor plástico, recusando a sua reconstituição idêntica, Elsa Maria Alves Almeida 60 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal devido à necessidadede de querer manter presente as varias fases evolutivas do edifício. As restantes alas envolventes ao claustro, não foram alvo de grandes alterações excepto o topo da ala Poente que foi parcialmente demolido, redefinindo a sua largura e limites. É certo que a pousada introduzirá novo uso no velho mosteiro, mas é certo, também, que se os homens fazem as casas, as casas fazem os homens, o que justifica a manutenção, no novo edifício, de uma escala e de um ritual de espaços que,traduzindo a presença de um passado que seguramente não volta, aqui se recordam e utilizam pela actualidade do seu significado. (Costa, 1993 p. 116) O conteúdo programático da nova pousada encontra-se distribuído principalmente nas alas conventuais do antigo mosteiro, desenvolvendo-se a partir do claustro que assume um papel de destaque. No claustro, devido à consciência da sua importância como documento vital da evolução construtiva do edifício, colocaram-se questões de outra ordem que não a funcional ou programática: se por um lado o seu grau de conservação ajudou o projecto de intervenção, por outro, o facto de se concentrarem neste local os mais importantes vestígios de ocupação secular denunciou a necessidade de uma leitura histórica no campo da arqueologia. (Vaz, 2009 p. 94) É neste corpo principal que se acede à pousada, através de uma nobre escadaria. No piso térreo da ala Poente, estão instaladas a recepção e os serviços de administração, a sala de estar, com acesso ao claustro, é instalada no pequeno corpo da ala Sul, as salas de jantar, uma sala polivalente, e o bar ficam no grande corpo da ala Nascente. No piso superior são instalados, na ala Nascente, uma sala de estar comum e no espaço dos antigos dormitórios, os quartos de hóspedes. Na ala Poente encontram-se as duas suites da pousada bem como, no terceiro piso, os quartos de serviço. A sala de escrita e leitura estão dispostos no corpo Sul do conjunto. A igreja não sofre alterações cumprindo apenas o seu papel inicial. As ligações verticais do interior do edifício são feitas através de duas escadas para uso dos hóspedes, das quais, uma serve o novo corpo. Os acessos de serviço são feitos por outras duas colunas verticais independentes, com escadas e elevadores, que ligam todos os pisos do conjunto. “A resposta a outras questões funcionais, como a incorporação de serviços e acessos verticais, foi dada com grande naturalidade, ao assumir claramente a condição contemporânea e o seu papel funcional.” (Vaz, 2009 p. 92) Elsa Maria Alves Almeida 61 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 67 - Planta piso térreo (Portugal, 2013) Ilustração 68 - Planta piso 1 (Portugal, 2013) 1_Entrada principal 2_Claustro 3_Galerias do claustro 4_Igreja Elsa Maria Alves Almeida 5_Recepção 6_Secretaria 7_Sala de bar 8_Bar 9_Sala de jantar 10_Sala polivalente 11_Sala de estar 12_Suites - Hóspedes 13_Capela 14_Sala de leitura 15_Sala de estar 16_Quartos de Hóspedes (Mosteiro) 17_Varanda de São Jerónimo 62 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 69 - Corte transversal (Portugal, 2013) Ilustração 70 - Alçado Sul (Portugal, 2013) Ilustração 71 - Alçado Norte (Portugal, 2013) Ilustração 72 - Corte longitudinal (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida 63 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal O restante programa é distribuído pelo novo corpo onde estão instalados mais trinta e um quartos dispostos em dois pisos, e onde se encontram, também, as áreas de serviço como a cozinha, lavandaria e áreas dependentes. As áreas técnicas, o refeitório, as instalações sanitárias e balneários para o pessoal de serviço, encontramse também neste novo corpo, confinados ao primeiro piso da cave, excepto a cozinha, devido ao pé-direito duplo. Ilustração 73 - Planta piso -1 (Portugal, 2013) Ilustração 74 - Planta piso -2 (Portugal, 2013) 18_Acesso de serviços 19_Lavandaria 20_Garrafeira 22_Cozinha 22_Acesso dos utilizadores 23_Quarto de hóspedes (Novo corpo) Elsa Maria Alves Almeida 64 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Este novo corpo, em forma de L, desenvolve-se paralelamente à ala nascente criando uma continuidade do edifício preexistente, e como está implantado a uma cota inferior, encerra e dá uma maior privacidade ao pátio que se forma na cota superior para usofruto dos utentes da pousada. Pela implantação deste corpo percebe-se que Távora teve em conta as condicionantes da topografia e utilizou-as como instrumento do projecto, transformando este problema numa solução eficaz, não só na apropriação do lugar mas também na organização dos espaços e do próprio programa. Pelo facto de este volume estar semi-enterrado, só existem vãos a sul e a poente, sendo estas fachadas compostas por envidraçados contínuos. Este volume adopta uma expressão contemporânea, assumindo e evidenciando, de acordo com o autor, a continuidade da evolução do conjunto arquictectónico, respeitando todos os factores inerentes à ampliação de uma preexistência. Ilustração 75 - Alçado Nascente (Portugal, 2013) Ilustração 76 - Corte transversal (Portugal, 2013) O novo corpo, “inserido dialecticamente” no processo de crescimento do edifício, consegue transmitir uma certa austeridade monástica, expressa através de uma grande economia de meios técnicos e uma extrema simplicidade nas soluções adoptadas, quer a nível espacial, quer a nível dos acabamentos e mobiliário, equilibrados pelo engenho de uma mente irredutível de modernidade e cultura. (Vaz, 2009 p. 96) Elsa Maria Alves Almeida 65 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 77 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) Ilustração 78 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p.117 e 118) Ilustração 79 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) Ilustração 80 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p. 114, 115 e 119) Elsa Maria Alves Almeida 66 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.2. POUSADA DO CRATO, MOSTEIRO FLOR DA ROSA 3.2.1. O AUTOR Ilustração 81 - João Carrilo da Graça (Bártolo, 2013, p.6) João Carrilho da Graça 53 é um arquitecto cuja obra se destaca no panorama nacional, entende a arquitectura como uma construção de relações, traduzidas num processo rigoroso que envolve a articulação entre o programa, a poética, o lugar e os sistemas de construção, sendo que todas estas diferentes extensões devem estruturar uma ideia global de projecto. Num ensaio dedicado à obra de Carrilho da Graça, Gonçalo Byrne54 identifica na obra deste arquitecto “a herança do movimento moderno55”, não só no sentido unitário, 53 Joao Luís Carrilho da Graça (1952) arquitecto português, nasceu em Portalegre. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1977. Foi Professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade Tecnica de Lisboa, entre 1997 e 1992, e professor convidado na Escuela de Arquitectura da Universidade de Navarra, entre 2008 e 2010. Actualmente é professor convidado no Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa e no Departamento de Arquitectura da Universiadade de Évora. Foi convidado a expor o seu trabalho em seminários e conferencias, em várias cidades como: Barcelona, Sevilha, Milão, Roma, Verona, Turim, Viena, entre outros. De entre os vários prémios que recebeu destacam-se: os Prémios Secil 1994, Valmor (1998 e 2008), FAD (1999), Prémio Pessoa (2008) e Piranesi Prix de Rome (2010). 54 Gonçalo de Sousa Byrne (1941) arquitecto português, nasceu em Alcobaça. Licenciou-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1968. Foi professor catedrático convidado, em Portugal e no estrangeiro. Em 2005 recebe o título Honoris Causa pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Autor de uma vasta obra, premiada a nível nacional e internacional, destacando-se nos planos patrimonial e cultural. Elsa Maria Alves Almeida 67 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal restrito e dogmático, mas nas suas diversas expressões, crítico, fragmentário e passível de novos significados, no processo empírico que procura, para cada projecto, a sua coerência interna no essencial do respectivo programa e na construção das relações com o sítio." (Bártolo, 2013 p. 17) As questões do património estão bem presentes no percurso profissional deste arquitecto, desenvolvendo a sua própria ideia sobre esta matéria. O mais relevante no conceito ou ideia de património é que o seu sentido seja colectivo e de respeito pelo que herdámos. Esta noção de património promove o equilíbrio nas intervenções de forma a não só manter o essencial dos valores que podemos reconhecer, dar-lhes continuidade e eventualmente até, intensificá-los. (Baptista, 2010 p. 26) Tendo já feito várias intervenções em edifícios de grande valor patrimonial assume nestes projectos um processo diferente, faseado, que requer uma compreensão do que permanece da preexistência, de modo a respeitar o seu simbolismo, e posteriormente adapatar o edifício às novas necessidades, e intensificar as ligações com a envolvente. Muitas vezes as minhas intervenções têm dois momentos distintos. O primeiro, a intervenção no edifício, que tem normalmente o sentido de conservar, restaurar, dar continuidade e dar a ver o que existe. O segundo, muitas vezes exigido pelo programa, tem a ver com extenções ou ampliações do edifício mas também com o restabelecimento das relações entre o edifício existente e os espaços exteriores, que sejam espaços de paisagem, de território ou espaços urbanos. Desta forma procuro com o conjunto unitário de frentres de intervenção, e num certo sentido “terapêutico”, complementar o edifício existente na sua relação com a envolvente criando relações mais naturais, mais intensas e mais fortes, mas com uma certa simplicidade. (Baptista, 2010 p. 26) Como autor do projecto de adaptação do mosteiro Flor da Rosa a pousada releva, numa espécie de memória descritiva, a sua leitura do monumento e as suas intenções para esta intervenção. A insólita implantação na planície, a hibridez do carácter – guerreiro, monástico e palaciano – o claustro mediterrânico e a torre setentrional constroem o enigma. 55 O movimento moderno ou modernismo é o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos, da primeira metade do século XX, que permearam as artes nas suas várias vertentes como a arquitectura, design, escultura, pintura, entre outros. Fundamentam a ideia de que as formar “tradicionais” das várias artes e da própria vida quotidiana tornaram-se ultrapassadas e que se deveria dar lugar a uma nova cultura. Na arquitectura, o movimento caracteriza-se pela vontade de superação dos modelos da arquitectura ecléctica e revivalista que revelavam já uma saturação das linguagens históricas. Elsa Maria Alves Almeida 68 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal A primeira visita é labiríntica. Mais tarde podem ir-se descobrindo a luz e a altura da igreja, as pedras e as suas relações. O entrechocar de fragmentos de épocas tão diversas é unificado pelo granito. Os arqueólogos dizem-nos que desde o sécul XIII e entrecotadamente até hoje, sempre se desenrolaram obras no mosterio. Nos anos quarenta do nosso século estava o edifício quase totalmente arruínado com a igreja derruída. Apesar de tudo o que agora encontramos, parece-no bastante perfeito. Perfeito como objecto de contemplação e visita. Até a falta das caixilharias nos vão sublinha a harmonia da sua respiração. A obra desenrola-se. A arqueoloquiologia ensina-nos a olhar para as pedras. O objectivo do projecto é intensificar a possibilidade de visita do edifício existente, privatizando-o e ocupando-o o menos possível, relendo-o e abrindo-o a novas leituras. (Graça, 2001 p. 31) As linhas principais deste projecto passam, então, por restaurar integralmente a preexistência, intensificando a sua contemplação e dando-lhe uma função activa na nova pousada. Uma das intenções principais do autor é que a sua intervenção não interfira na estrutura principal do mosteiro, mantendo o caractér da preexistência, e qualquer estrutura que seja necessária para as novas funções possa ser retirada e o edifício se mantenha igual ao que era antes desta obra. Devido ao extenso programa, projecta um novo corpo, em betão armado e de cor branca, criando um contraste evidente para enfatizar as diferentes fases construtivas, e assim possibilitar uma nova leitura do conjunto, mantendo sempre o antigo mosteiro como protagonista. Elsa Maria Alves Almeida 69 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 70 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.2.2. O MOSTEIRO Ilustração 82 - Mosteiro Flor da Rosa (Portugal, 2013) O mosteiro Flor da Rosa encontra-se situado numa pequena Vila Alentejana, denominada também como Flor da Rosa, no concelho do Crato. O local onde se insere tem uma característica especial, pois apesar de ser urbanizado, a envolvente é composta por terrenos agrílas, sendo que apenas a Sul é que encontramos uma ligação à povoação e a respectiva entrada do mosteiro. A construção deste mosteiro deve-se a Frei Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da Ordem do Hospital56, que o manda contruir na segunda metade do século XIV, com o objectivo de se estabelecer no Crato. Considera-se que a Ordem do Hospital tenha chegado a Portugal entre 1114 e 1132, estabelecendo-se em terras de Leça, doadas por D. Teresa57, viúva do Conde D. Henrique58, no mosteiro-fortaleza de Leça do Bailio. Como uma Ordem Militar a sua principal função é a defesa do território, distinguindo-se na luta pela reconquista do território ocupado pelos Muçulmanos. À medida que o território se expande para Sul, 56 A Ordem do Hospital ou Ordem de Malta começou por ser um Ordem Benedita, fundada no século XI na Palestina, e posteriormente tornou-se numa Ordem militar cristã, com regras próprias como a protecção do seu território. 57 Teresa de Leão (1080 – 1130) Foi Infanta do reino de Leão e, mais tarde governou como Rainha no Condado Portucalense, após casar D.Henrique, Conde de Portugal. Do casamento nasceu, D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal. 58 Henrique de Borgonha (1066 – 1112) Por ter aderido à reconquista da península ibérica, ajudando D. Afonso VI de Leão a conquistar o reino da Galiza, recebeu como recompensa o casamento com Teresa de Leão, filha de D. Afonso VI, e mais tarde, em 1096 recebe o Condado Portucalense, em troca de fidelidade e trabalho. Elsa Maria Alves Almeida 71 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal os domínios desta Ordem aumentam. Como recompensa do seu importante papel, os monarcas entregam várias propriedades como é o caso da igreja de S. João do Alporão de Santarém, a igreja e a Comendaria de São Brás de Lisboa. Mais tarde, são também entregues à Ordem os Castelos de Cernache do Bomjardim e o da Sertã, bem como algumas terras onde contruiram o Castelo de Belver, para onde viria a ser transferida a administração e governo da Ordem. Posteriormente, em 1340, após a tranferência da sede da Ordem do Hospital para o Crato, o Prior Frei Àlvaro Gonçalves Pereira manda construir o paço-mosteiro, mas por estar localizado em território fronteiriço, ou seja de alto risco, este representa um símbolo de poder para a Ordem no Sul do país, o que acaba por fazer com que o edifício construído seja mais aproximado a uma fortificação do que com um mosteiro. De raíz medieval, este conjunto apresenta uma estrutura gótica, onde, por vezes, sobressaem alguns pormenores arquitectónicos de outras épocas, nomeadamente manuelinos, fruto de campanhas porteriores de obras. Construído com um caractér eminentemente defensivo este paço-mosteiro vai apresentar características arquitectónicas, como é o caso das torre, frestas e matacães, que mais o aproximam de uma fortificação do que de uma casa conventual. (Ramalho, 2001 p. 36) Ilustração 83 - Reconstituição conjectural em planta do edifício - segunda metade do séc. XIV (Portugal, 2013) Ilustração 84 - Reconstituição conjectural em planta do edifício final do séc. XIV (Portugal, 2013) A Obra é iniciada entre 1351 estando apenas concluída vinte anos depois. Esta construção inclui practicamente todo o edifício: a igreja, as torres do paço e as dependências conventuais. Ao longo do tempo são elaboradas obras de melhoramento no edifício, mas é durante o século XVI que se procedem a grandes alterações que incluem a conclusão do claustro e também alterações ao nível das portas e janelas, abrindo amplos janelões, substituindo antigas frestas ou mesmo onde Elsa Maria Alves Almeida 72 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal não existiam aberturas. Estas intervenções acabam por introduzir uma mistura de estilos ao mosteiro, cruzando apontamentos mudéjares59, manuelinos60 e renascentistas61. Após a perda da independência para o Reino de Espanha, o mosteiro começa a entrar em estado de degradação, levando ao seu total abandono. Derivado à transição dos bens da Ordem do Hospital para a Casa do Infantado62, em 1789, o estado de degração do mosteiro intensifica-se, vindo ainda a piorar com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, levando mais tarde à derrocada da cabeceira da igreja. Ilustração 85 - Alçado principal, 1940 (Portugal, 2013) Ilustração 86 - Alçado lateral direito, 1940 (Portugal, 2013) Ilustração 87 - Alçado posterior, 1940 (Portugal, 2013) Ilustração 88 - Alçado lateral esquerdo, 1940 (Portugal, 2013) 59 A Arte Mudéjar é um estilo artístico, dos séculos XII e XVI, que de desenvolve nos reinos cristãos da península ibérica, que se caracteriza pelas inflências, elementos ou materiais do estilo ibero-muçulmano, combinando e reentrepertando estilos artísticos cristão como o românico, o gótico e o renascentista, com a arte islâmica. 60 O Estilo manuelino ou Gótico Português Flamejante é um estilo decorativo e escultórico que apesar de já existir no reinado de D.João II, apenas de desenvolveu no reinado de D. Manuel I. Caracteriza-se como uma versão portuguesa do Gótico final, bem como da arte mudéjar, marcada por uma sistematização de motivos iconográficos próprios de grande porte, simbolizando o poder régio., incorporando, posteriormente, ornamentações do Renascimento italiano. 61 A Arquitetura do Renascimento ou renascentista foi produzida durante os séculos XIV, XV e XVI, caracteriza-se por ser um momento de ruptura na História da Arquitetura em diferentes vertentes: nos meios de produção e na própria linguagem da arquitectura adotada. Esta ruptura demonstra uma nova atitude dos arquitectos em relação à sua arte, assuimindo-se agora como profissionais independentes e com um estilo pessoal, continuando contudo a inspirarem-se na Antiguidade Clássica como modelo perfeito, mas através da sua interpretação da mesma. 62 A Casa do Infantado foi criada entre 1654 e 1655, pelo Rei D. João IV, e consiste num conjunto de bens materiais, propriedades e rendimentos, na sua maioria confiscados aos apoiantes de Espanha durante o período da restauração da independência. Elsa Maria Alves Almeida 73 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Já em avançado estado de deterioração, o mosteiro For da Rosa é decretado Monumento Nacional, em 1910, e quinze anos depois, o túmulo de Álvaro Gonçalves Pereira, fundador do mosteiro, é transladado para a igreja Paroquial. Nos anos quarenta são iniciadas, por parte da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, novas obras de restauro que abrangem todo o edifício. Ilustração 89 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal, 2013) Ilustração 90 - Planta piso 1, 1940 (Portugal,2013) Ilustração 91 - Planta piso 2, 1940 (Portugal, 2013) Ilustração 92 - Planta de cobertura, 1940 (Portugal, 2013) Por fim, de forma a não deixar este monumento ao abandono, em 1990 iniciam-se os trabalhos de adaptação a pousada, sendo inaugurada ao público em 1995, tornandose mais tarde, uma das pousadas mais visitadas do país. Elsa Maria Alves Almeida 74 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 93 - Imagens anteriores à reconversão, 1942 (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida 75 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 76 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.2.3. A POUSADA Ilustração 94 - Pousada Flor da Rosa (Ilustração nossa, 2014) A pousada Flor da Rosa resulta do projecto de adaptação do arquitecto João Luis Carrilho da Graça, e está classificada como pousada Histórica-Design na Rede de Pousadas de Portugal. O conjunto arquitectónico é composto pelo mosteiro que integra a igreja, as torres, e as antigas dependências conventuais, derivado ao extenso programa é também acrescentado um novo corpo anexo. O projecto é iniciado em 1990, e termina em 1995, data de inauguração da nova pousada. O período de construção é regido por duas fases, a primeira destina-se ao restauro de toda a estrutura do mosteiro, a segunda à construção do novo corpo. Na abordagem a este projecto, o autor revela uma preocupação especial com a preexistência, considerando que esta não deve sofrer nenhuma transformação, possibilitada por esta alteração de funções, por isso decide que toda a estrutura necessária para o funcionamento da pousada, seja realizada de forma a puder ser retirada, e o mosteiro se mantenha inalterado. Esta ideia de não interferir na estrutura principal da preexistência continua na ligação desta com o novo volume, quando o autor cria uma pequena pala que se estende do volume construído até ao antigo mosteiro, sem lhe tocar, de modo a que a interpretação seja a de que os volumes nunca se intersectam. Elsa Maria Alves Almeida 77 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 95 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal 2013) Ilustração 96 - Planta inferior, 1995 (ENATUR, 2001, p.32) A entrada da pousada é feita pelo mosteiro, através de um percurso sempre envolvido num ambiente frio transmitido pelas grossas paredes de pedra, que se inicia no corpo da igreja, passando pelo claustro e acabando na recepção. Este percurso intensifica a ideia por parte do arquitecto, de contemplação ao monumento. Carrilho da Graça quis reforçar a ideia de entrar num monumento, envolvendo o visitante, logo à chegada, num longo percurso, quase labiríntico até à recepção. Nesse espaço de tempo em que se percorre várias zonas e corredores, impera o silêncio e o frio das paredes de granito. Apesar de, depois desse percurso, essa ambiência do espaço se dissipar e entrar-se numa zona mais quente e confortável,existem sempre certos apontamentos ao longo dos corredores e quartos que nos relembram que habitamos um mosteiro. (Costa, 2009 p. 45) No espaço da recepção, já está implícito um ambiente diferente, de transição entre o novo e antigo, pelo facto de ser aqui a ligação entre o mosteiro e o novo corpo. Este Elsa Maria Alves Almeida 78 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal ambiente de transição é enfatizado através da possibilidade de observar, deste espaço o novo volume, através de um grande envidraçado que possibilita também a saída para o exterior. “Existe uma zona do antigo mosteiro que, por se tratar de uma adição, e deixou de ser exterior para passar a tornar-se interior, facto que o arquitecto soube trabalhar de modo a que fosse possível perceber onde acabava o antigo e onde começava o novo.” (Venda, 2008 p. 57) A pousada divide-se assim em duas zonas, a zona mais nobre, do mosteiro e a zona mais privada do novo corpo, ligadas pelo “espaço de transição”, a recepção. A estratégia utilizado pelo arquitecto para a distribuiçao do programa, tem como princípio dividi-lo por estas duas zonas, de modo a que as áreas comuns como a sala de jantar, bar, entre outos, se integrem na zona nobre, e as áreas privadas como os quartos, áreas técnicas se concentrem no novo corpo. Existe uma excepção pois, alguns quartos foram introduzidos no local onde eram as antigas celas do mosteiro, com características particulares, atribuindo um ambiente especial a estes espaços. Ilustração 97 - Planta da torre do Paço 1. Suite (ENATUR, 2001, p.35) Ilustração 98 - Planta torre do Paço 2. Suite (ENATUR, 2001, p.35) Elsa Maria Alves Almeida 79 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 99 - Planta torre do Paço 3. Suite (ENATUR, 2001, p.35) Na recepção encontram-se os acessos verticais que fazem a ligação aos vários espaços da pousada, e onde se acede directamente ao bar que se instala na antiga Sala do Capítulo. No primeiro piso, encontramos um corredor que dá acesso aos quartos intalados no novo corpo e onde também se acede ao exterior, para a zona da piscina. O segundo piso, apenas se desenvolve na área Norte e Poente do mosteiro, podendo aceder através dos mesmos acessos verticais existentes na recepção. Nesta área encontra-se o restaurante, zonas de estar, sala de jogos e os restantes quartos distribuídos em torno do claustro. Na torre a Sul do mosteiro, encontra-se uma sala com uma característica peculiar pois tem como elemento principal uma lareira, com um desenho moderno, denominada por isso sala da lareira. Este espaço tem outras características especias como duplo pe-direiro, e o tecto tem um desenho diferente, onde o arquitecto procura reinterpretar, com uma visão moderna, as abóbadas que existem na cobertura do claustro. A área da cozinha encontra-se no novo corpo, por ter de cumprir rigorosas regras impostas pela legislação actual, para puder funcionar correctamente. Existe uma zona de acesso directo ao exterior para efctuar as cargas e descargas, sem pertubar o funcionamento do resto da pousada. Foi colocado em grande parte da zona nobre do mosteiro tectos falsos, para serem ocultadas todas as tubagens necessárias aos equipamentos de ar condicionado e cablagens. Elsa Maria Alves Almeida 80 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 100 - Planta inferior (ENATUR, 2001, p. 32) Ilustração 101 - Planta superior (ENATUR, 2001, p. 33) 1_Entrada Principal 2_Igreja 3_Claustro 4_Recepção Elsa Maria Alves Almeida 5_Acessos verticais 6_Bar 7_Sala de Reuniões 8_Cozinha 9_Quartos de hópedes (Novo corpo) 10_Sala de estar 11_Quartos de hóspedes (Mosteiro) 12_Sala de jantar 13_Sala da lareira 14_Acesso ao Exterior 15_Jardim 16_Área da piscina 81 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 102 - Alçado Norte (Graça, 1995, p. 68) Ilustração 103 - Alçado Nascente (ENATUR, 2001, p. 34) Ilustração 104 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) Ilustração 105 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) Elsa Maria Alves Almeida 82 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Com a construção do novo volume num estilo assumidamente contemporâneo, enfatiza o contraste das distintas épocas construtivas, mas consegue que apesar das diferenças, estes se relacionem de forma harmoniosa. Este corpo cria um confronto evidente com a preexistência, através da sua horizontalidade e materialização em betão armado, de cor branca, com uma composição leve, contrastando com a imagem austera e a verticalidade do mosteiro, assumindo este, uma posição marcante no conjunto. Este corpo está posicionado a Norte e extende-se para Poente, possibilitando a libertação do mosteiro, sendo composto por dois pisos. O espaço de ligação entre os dois volumes, como já foi referido, é a recepção, onde o que era exterior passa a ser interior, sendo notório o conceito de união delicado, entre o novo e o antigo. O edifício novo adapta-se assim ao antigo sem lhe retirar o prestígio, pelo contrário, o mosteiro é a base do novo edifício complementando-se um ao outro. Ilustração 106 - Pousada Flor da Rosa. Cruzamento entre o edifício novo e o antigo (Ilustração nossa, 2014) A abordagem entre o novo e o antigo surge como uma dicotomia expressica, no sentido em que, se a característica mais marcante do antigo mosteiro é a sua verticalidade, Carrilho da Graça propõe para o novo corpo uma clara horizontalidade, e se a expressão da cor e da textura das pedras do mosteiro, se integram na imagem envolvente das planícies alentejanas, a ala nascente assume grandes planos brancos que conduzem a luz, quase ofuscando o edifício existente. (Venda, 2008 p. 56) Elsa Maria Alves Almeida 83 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 107 - Imagens da nova pousada (Ilustrações nossas, 2014) Elsa Maria Alves Almeida 84 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.3. POUSADA DO GERÊS, MOSTEIRO SANTA MARIA DO BOURO 3.3.1. O AUTOR Ilustração 108 - Eduardo Souto Moura (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.4) Eduardo Souto Moura63 é um arquitecto, que da sua geração, é dos mais falados no meio arquitectónico internacional. Já conta com uma obra extensa onde transmite em cada projecto, uma imagem associada á redução linguística e á predominância dos materiais. Os seus projectos revelam uma preocupação na apropriação ao lugar, a adequação ao programa que é proposto e uma fundamental atenção aos materiais que utiliza. 63 Eduardo Elísio Machado Souto Moura (1952) arquitecto português, nasceu no Porto. Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1980, tendo colaborado mesmo antes de acabar o curso no atelier de Álvaro Siza. Nesta mesma data, abre o seu próprio atelier.Mais tarde, em 1981, torna-se assistente do curso de Arquitectura na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, e foi professor convidado, entre 1988 e 1994, nas Escolas Superiores de Arquitectura de Haward, Zurique, Dublin; Paris-Belleville e Lausanne. Como reconhecimento da sua obra, foi galardoado com vários prémios entre eles: Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção do auditório e biblioteca infantil da Biblioteca Pública Municipal do Porto em 1992, Prémio Internacional da “Pedra na Arquitectura” para a Casa em Braga em 1995, 1º Prémio I Bienal Ibero-Americana com a Pousada de Santa Maria do Bouro em 1998, Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção do Estádio Municipal de Braga em 2004, Prémio Pritzker e Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção da Casa das Histórias Paula Rego em 2011, e Prêmio Wolf de Artes em 2013. Elsa Maria Alves Almeida 85 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Longe da visão absolutamente subjectiva e irracional do desenho, os projectos de Souto Moura interpretam e tornam explícitos os princípios primários encerrados no contexto, ligando-se, profundamente, à situação específica, avaliando, até aos extremos, os pressupostos do programa, esclarecendo, tecnologicamente, a contraposição entre inovação e tradição. …fácil encontrar, com esta óptica, temas e pesquisas recorrentes, que atravessam transversalmente os seus projectos, a partir da determinação do princípio instalador no contexto, até ao inquérito do modelo e da tipologia, ao estudo do pormenor construtivo e dos materiais. (Angelillo, 1994 p. 25) Na sua relação com o património, o autor adquire uma posição distinta, considerando a história como um instrumento que deve ser interpretado e manipulado de forma a corresponder às necessidades da actualidade, e nunca deve ser tomado como um dado adquirido. Acredita que quando a história deixa de responder às novas exigências funcionais e formais deixa de fazer sentido e deve ser trabalhado, como acontecia no passado. Poderá dizer-se que a história da arquitectura antiga é a história de constantes adulterações e alterações, de mudanças radicais de projecto durante a construção, ao longo do tempo e pelos vários intervenientes, da interrupção da construção, dos edifícios construídos sobre os alicerces de muitos outros muito mais antigos, por razões económicas ou de oportunidade. Afinal, sempre foi assim cada vez que surgiam novas necessidades, realizavam-se verdadeiras intervenções cirúrgicas nos edifícios e nas cidades. (Collová, 2001 p. 62) Para Souto Moura a continuidade dos edifícios não acontece através da reconstrução exacta dos mesmos, mas sim através da preservação da sua identidade, adaptada às novas questões a que deve responder, como a época e os intervenientes. Estas questões referem-se às novas tipologias, aos novos materiais, às questões do conforto sendo todas elas relevantes quando se intervem num edifício com história, através de um processo de transformação contínuo na vida do mesmo. Teremos que reavaliar toda a gama de opcções, que ter em conta a continuidade entre coisas muito diferentes, deixar, durante algum tempo, de distinguir o belo do feio, uma vez que a transformação faz parte de uma geografia singular, onde até o feio é necessário. Teremos que aprender a fazer enxertos, inovações, a colocar próteses, a movimentar partes e elementos,teremos de aprender a misturar, a amputar, a planificar as demolições como planificamos as construções. […] Teremos que reconhecer a metamorfose continua e que encontrar, de todas as vezes, um equilíbrio estável, instável, possível. (Collová, 2001 p. 64) Como autor da adaptação do mosterio Santa Maria do Bouro a pousada, e sendo esta a sua primeira obra, Souto Moura revela que a ruína o fascinou e foi o ponto central do projecto, aplicando as questões acima abordadas de uma forma singular, num processo longo e revelador. Elsa Maria Alves Almeida 86 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal […] é a ruína com que fiquei fascinado, era a minha primeira Obra e havia uma certa “inocência”. Fascinado pela quase identificação da Arquitectura, material artificial com a natureza, porque a ruina deixa de ser Arquitectura e passa a ser natureza. E mantive a ruína para manter essa pretenção de ser quase obra natural, anónima. (Pais, 1994 p. 28) Souto Mouro decide fazer um estudo arqueológico para puder realizar um esboço do que teria sido o edifício, percebendo que este foi alvo de várias alterações ao longo do tempo, optando então por também ele (o autor), fechar um ciclo e iniciar outro, recusando a reconstrução do edifício igual ao que era, optando por utilizar a ruína como um princípio reinterpretável de forma a conceder-lhe um novo contexto formal. O projecto tenta adaptar, ou melhor, servir-se das pedras disponíveis para construir um novo edifício. Trata-se de uma nova construção, onde intervêm vários depoimentos (uns já registados, outros a construir) e não da recuperação do edifício na sua forma original. Para o projecto as ruínas são mais importantes que o “mosteiro”, já que são material disponível, aberto, manipulável, tal como o edifício o foi durante a história. Não pretendemos com essa atitude construir uma excepção, procurando a originalidade do manifesto, mas sim cumprir uma regra de arquitectura quase sempre constante ao logo do tempo. (Moura, 2001 p. 5) Durante o processo de realização do projecto o autor teve como objectivo reaver a ruína, não a recuperando na sua forma pura e simples, mas através da inserção de novos materiais e formas, tentando encontrar um diálogo entre a preexistência, programa e a forma. Durante o projecto, o “desenho” tentou encontrar a lucidez entre forma e programa. Perante duas hipóteses, optámos por recusar a consolidação pura e simples da ruína para uso contemplativo, apostando por injectar materiais, usos, formas e funções “entre les choses”, como dizia Corbusier. (Moura, 2001 p. 5) É evidente o uso dos materiais, por parte do arquitecto, na consolidação de uma visão diferente para o novo edifício utilizando-os com intenção e rigor, colocando em confronto dois temas essenciais que são o tradicional e o moderno. Utiliza novas formas e materiais, num desenho simples, que se consolidam segundo práticas tradicionais. O interior é refeito através de processos construtivos actuais, alterando a estrutura original, e o exterior é contemplado pelo uso de materiais sem revestimento, por vezes submetidos a sistemas de envelhecimento, previligiando através dos mesmos a construção contemporânea, e evidenciando o contraste tradicional (interior) e moderno (exterior). Elsa Maria Alves Almeida 87 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Em vez de fazer a distinção entre novo e o antigo, teremos que exercitar a metamorfose. Isto não significa que se possa fazer tudo. Pelo contrário, não há apenas um modo de fazer as coisas. Neste campo não existem modelos, porque esta cultura tem de ser inteiramente construída através da experimentação. (Collová, 2001 p. 64) Nesta intervenção o arquitecto procura uma coerência construtiva optando por não recusar destruir o que fosse necessário ou de realizar a reconstrução exacta do que existia, rejeitando modelos de intervenção, procura dar continuidade á preexistência alterando-a quando necessário, de um modo subtil, utilizando posteriormente a técnica construtiva e os materias para integrar os novos pressupostos do programa e as novas necessidades. Não é uma questão de modelos ou métodos de intervenção. Trata-se de continuar a construir cultura, reunindo nos locais certos tudo quanto reconstitui a sua densidade e mantém a sua complexidade, aos mais altos níveis, enquanto, com o tempo, os materiais e as necessidades continuam a mudar. (Collová, 2001 p. 58) Esta obra é caracterizada pela “invisibilidade” da intervenção, sendo este também um dos propósitos do autor, o de esconder o seu projecto, dando ênfase ao reerguer da ruína, como mais uma fase da vida da préexistência, e introduzindo todos os elementos necessários, não só a nível estrutural como decorativo, para que a nova pousada reflicta o passado mas represente o presente, procurando o conforto e funcionalidade no novo espaço, sem que estas transformações sejam aparentes. “Os aspectos mais interessantes da Pousada de Santa Maria do Bouro são os que menos se vêem. Esta invisibilidade é estrutural e não mimética. O objectivo parece ser dar continuidade, sob outra forma, á vida do mosteiro.” (Collová, 2001 p. 61) Elsa Maria Alves Almeida 88 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.3.2. O MOSTEIRO Ilustração 109 - Mosteiro Santa Maria do Bouro (Portugal, 2013) O mosteiro Santa Maria do Bouro está situado no Norte de Portugal, em Braga, na pequena Vila de Santa Maria do Bouro, mais concretamente na encosta da Serra de São Mamede. Rodeado pela sublime paisagem natural, e separado da Vila pela estrada Nacional, o mosteiro conta com séculos de história que lhe atribuem um valor inestimável. Esta história remete-nos à data de 1148, quando D. Afonso Henriques entrega as terras onde se encontra o mosteiro aos Monges Beneditinos64, pelo seu bom desempenho nas lutas da reconquista. Segundo reza a lenda, teria existido uma ermida65 naquele local dedicada a São Miguel, construída por dois beneditos, depois de verem uma luz que lhes mostrou o sítio onde se encontrava escondida uma imagem da Virgem Maria. Devido a este facto, o local passou a ser ponto de atracção à população levando à construção do mosteiro e, em 1195, este passa a ser regido pela Ordem de Cister66. Os Monges pertencentes a esta Ordem viviam em regime de clausura, sendo por isso essencial que o mosteiro fosse auto-suficiente, e produzisse tudo o que necessitavam para viver, como o lugar onde se encontrava o mosteiro era 64 Os Monges Beneditinos pertecem à Ordem Benenditina, qualificada como uma ordem religiosa católica de clausura monástica, baseando-se na observância dos preceitos destinados a regular a convivência comunitária. 65 Ermida é uma pequena igreja ou capela, normalmente localizada fora das povoações, ou em lugares isolados. 66 A Ordem de Cister ou Ordem cisterciense é uma ordem monástica católica, fundada em 1096 por Roberto de Molesme. Esta Ordem caracteriza-se pela partilha de perceitos espirituais de austeridade, ascetismo e despojamento. Elsa Maria Alves Almeida 89 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal bastante rico, acabou por desenvolver-se rapidamente. Esta situação subsiste até ao século XV, data em que o sistema de “Comenda”67 entra em vigor e o mosteiro entra em declínio. Mais tarde, já no final do século XVI, os mosteiros voltam a ter autonomia, e o mosteiro Santa Maria do Bouro entra numa fase próspera. Ao longo do século XVII e XVIII, devido ao estado degradado do edifício, fazem-se obras de reconstrução, que originam a construção da cozinha e do refeitório, a remodelação da sala do capítulo e da sacristia e a ampliação da igreja. Destas obras resulta também a construção de uma nova ala, a Oeste do clautro onde passou a ser a entrada do mosteiro, e uma nova estética decorativa. Ilustração 110 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) Ilustração 111 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) 67 O sistema de “Comenda” consistia na entrega das abadias, a um padre comendatário indicado pelo Cardeal ou Bispo, deixando estas de ter autonomia. Elsa Maria Alves Almeida 90 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 112 - Corte transversal, 1978 (Portugal, 2013) Devido á extinção das Ordens Religiosas, em 1984, o mosteiro fica ao abandono e a igreja passa a paroquial, sendo o mosteiro posteriormente vendido em hasta pública. O conjunto arquitectónico é classificado como Imóvel de Interesse Público em 1958. Já no século XX, no ano de 1980, a Secretaria de Estado do Turismo propõe a adaptação do mosteiro a pousada, sendo que mais tarde, em 1986, a Câmara Municipal de Amares adquire parte da propriedade conventual e posteriormente doa-a ao Instituto Portugues do Património Cultural com dois requisitos, um era o de no prazo previsto de oito meses iniciarem as obras de consolidação, e o outro era seria o início das obras de restauro até ao ano de 1988. Nesta fase, a Câmara proponha a instalação de uma escola agrícola, e o Instituto Português do Património Cultural proponha um centro de estudos de restauro. No decorrer das obras de consolidação é realizado um estudo, por parte da ENATUR, para instalar ali uma pousada, sendo apenas aprovada a decisão em 1984. Em 1994 iniciam-se as obras de adaptação às novas funções de pousada. Ilustração 113 - Planta de implantação, 1989 (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida Ilustração 114 - Planta de implantação, 1997 (Moura, 2001, p.8) 91 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Idade Média: séc.XII – séc. XV Idade Moderna: reconstrução no final do séc. XVI – Princípio do séc. XVII Idade Moderna: remodelação e ampliação no séc. XVI – Princípio do séc. XVII Séc. XX Demolição Ilustração 115 - Evolução construtiva (Moura, 2004, p.78) Elsa Maria Alves Almeida 92 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 116 - Imagens anteriores à reconversão, 1946-1962 (Portugal, 2013) Elsa Maria Alves Almeida 93 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 94 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3.3.3. A POUSADA Ilustração 117 - Pousada Santa Maria do Bouro (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.29) A pousada Santa Maria do Bouro resulta do projecto de adaptação do arquitecto Eduardo Souto Moura e está classificada como pousada Histórica-Design na rede de Pousadas de Portugal. O projecto é entregue a Souto Moura em 1989, nesta fase o edifício encontrava-se bastante degradado, já em estado de ruína, sendo iniciadas as obras apenas cinco anos depois. Em 1997 é inaugurada a nova pousada. No início deste projecto a intenção do autor era a de fazer a distinção nítida do que era a preexistência e do que era a sua interveção, mas com a evolução do mesmo, a postura de Souto Moura mudou. “Antigo é antigo, novo é novo. Se for novo faço as coisas de uma certa maneira… se for antigo, faço-as de outra. Assim, durante a construção, a diferença continuou a aumentar.” (Collová, 2001 p. 50). Esta mudança de atitude acontece devido a um estudo arqueológico, pedido pelo arquitecto, para que pudesse fazer uma reconstituição do edifício tal como ele era antes de ser ruína, que veio a revelar a presença de vários estilos e épocas, resultantes das várias modificações que foram sendo feitos ao edifício ao longo do tempo. E tal como a intervenção arqueológica evidenciou, mesmo arruinado e truncado, é bem a expressão material de todos os momentos de crise e de desenvolvimento por que passou a instituição, e que se revelam não tanto na alteração do modelo planimétrico tradicional, que se conservou sem grandes rupturas, mas antes nas significativas modificações na distribuição funcional dos espaços, reveladoras de uma sábia Elsa Maria Alves Almeida 95 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal adaptação a novas necessidades decorrentes do crescimento da comunidade, e pela adopção de novos padrões estético-decorativos. (Fontes, 2001 p. 79) Estes resultados levaram o autor a perceber que a sua intervenção seria mais uma, igual a tantas outras a que o edifício já tinha sido sujeito, optanto por dar ao projecto um caractér contemporâneo, mantendo presente a vivência do passado no edifício, num processo de continuidade. Assim, denota-se a vontade por parte do autor de não reconstruir o antigo mosteiro, mas sim preservar a indentidade do mesmo construindo uma pousada que reflecte o passado, mas vive o presente, com as características modernas adjacentes à época que está a ser reconstruida e às novas funções. Tenho que construir um edifício próximo da cultura contemporânea e não faz sentido construí-lo seiscentos anos mais velho, o que é uma longevidade pouco significativa. […] Isso fez-me sentir melhor e perder alguns complexos. Afinal de contas, não estou a restaurar um mosteiro, estou a construir uma pousada com as pedras de um mosteiro. Fiz um edifício moderno, como queria e com as pedras que estavam disponíveis. (Collová, 2001 p. 46) Existe uma reflexão profunda por parte do autor, no equilíbrio entre reerguer a estrutura, respeitando os parâmentros necessários para que se mantenha presente a ruína, mas adaptando-a às necessidades impostas pelo novo programa. “Só depois de “estabilizada” a ruína, (e não a antiga construção) é que o edifício de adapta ao novo programa, privilegiando o usufruto da ruína enquanto prazer estético, numa intervenção que se dilui em absoluta expressão minimalista.” (Vaz, 2009 p. 115) Ilustração 118 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) Ilustração 119 - Planta piso 1, 1997 (Moura, 2001, p.40) Elsa Maria Alves Almeida 96 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Apesar de não ser evidente no resultado final, devido ao minimalismo e descrição que caracterizam esta intervenção, existem grandes alterações no mosteiro, sendo estas ocultadas pela subtileza nas acções do autor, procurando dar continuidade à já longa história do edifício, mas marcando ao mesmo tempo, um novo ciclo de vida do mesmo. As adições e os enxertos impostos ao mosteiro decorrem da última alteração de programa, a juntar a muitas outras na história da sua vida. Até mesmo o reposicionamento de pequenos elementos está relacionado com o significado das circunstâncias donovo programa: escadas, esntradas, blocos de pedra, abstractos na forma, na colocação ou no material, visíveis por vezes, normalmente invisíveis, compõem uma arqueologia dos nossos dias que dá continuidade à arqueologia do edifício. Esta filosofia arbitrária das deslocações utiliza o edifício como uma pedreira de material pré-modelado, através do qual pode ser alcançada a metamorfose do próprio edifício. Os fragmentos, as pedras e as partes do antigo mosterio foram separadas, demolidas, continuadas, copiadas, deslocadas, algumas concretamente, todas as outras indirectamente. (Collová, 2001 p. 62) Ilustração 120 - Alçado Norte (Moura, 2001, p.36) Ilustração 121 - Alçado Sul (Moura, 2001, p.36) Ilustração 122 - Alçado Poente (Moura, 2001, p.36) Elsa Maria Alves Almeida 97 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 123 - Alçado Nascente (Moura, 2001, p.36) Estas alterações verificam-se a vários níveis, Souto Moura opta por alterar as dimenções das plantas de fundação do mosteiro, constrói-se uma estrutura em betão armado e a estrutura antiga de alvenaria é demolida, tratada e os blocos de pedras servem agora de revestimento à nova estrutura. Também o pavimento, que em projecto estava previsto colocar o antigo ao lado do novo, foi alterado acabando por decisão do arquitecto, fazer o novo igual ao antigo tornando-se mais normal. As portas foram todas mudadas, algumas foram retiradas e usadas porteriormente para fins decorativos deixando apenas o vão, para que houvesse continuidade entre os espaços, outras foram colocadas em sítios onde eram realmente necessárias, adaptando a estrutura ao novo programa. Esta forma de passagem, a ruína, pertence agora ao novo edifício, que a fez desaparecer. É um corpo mutilado relativamente ao mosteiro do século XVII, um corpo ampliado relativamente ao edifício românico, e preparado para receber mais ampliações. Os actuais acrescentos interiores e exteriores são como novos organismos enxertados no antigo corpo. (Collová, 2001 p. 61) A ruína mantem-se presente na imagem do edifício, de uma forma natural, até mesmo poética, como se tivesse ficado parado no tempo. Esta ideia está patente em vários pormenores do edifício como nas janelas, feitas de vidro como a caixilharia oculta atrás das molduras, dando a ideia dos vãos vazios da ruína, a cobertura é agora um plano vegetal sobre a laje, que não é visível no exterior, indo ao encontro das lembranças do próprio autor, revelando que em pequeno nunca viu o telhado do mosteiro, e também associando esta opção ao novo carácter contemporâneo da pousada. Outra particularidade que revela a expressão da ruína é o clautro, assumindo-o como um elemente cénico e encarado como uma escultura, sem vidros de protecção. “A recuperação do claustro revela, de forma significativa, a sua natureza desarticulada, o caractér de fragmento que renuncia à unidade original, colocando a sua presença plástica acima da lógica de conexão dos antigos edifícios.” (León, 2001 p. 18) Elsa Maria Alves Almeida 98 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 124 - Corte transversal (Moura, 2001, p.43) Ilustração 125 - Corte longitudinal (Moura, 2001, p.43) O novo conteúdo programático determinou a distribuição funcional, usufruindo da antiga estrutura, com algumas transformações como a redefinição da largura dos corredores e a adaptação das antigas celas, e obrigou á construção de um novo corpo, para a instalação das áreas de serviço, pois dificilmente se conseguiam introduzir na preexistência. Na resposta á necessidade de criar um núcleo técnico de águas, o autor utiliza o mobiliário, criando um volume central, liberto do espaço envolvente, de modo a não interferir com a escala do espaço inicial. Do espaço programático do antigo mosteiro, somente o refeitório mantém a sua função inicial, agora como sala de jantar do restaurante, sendo ampliada para a área da antiga cozinha, onde de manteve a grande chaminé de granito existente. Esta extenção foi realizada para permitir a ligação entre o restaurante e a nova área de apoio a serviços, instalada numa nova ala semi-enterrada, de modo a estar camuflada e não mudar o entendimento do conjunto. A decoração minimalista adequa-se ao espírito do edifício, é inspirada na austeridade e simplicidade do antigo mosteiro cisterciense. “Em relação às casas de banho dos quartos, a ideia era faze-las parecer um armário, para não destruir a escala do espaço original. Era quase impossível fazer uma decoração. E tudo, desde o mini-bar ao resto, tudo era embutidona parede.” (Collová, 2001 p. 50) Elsa Maria Alves Almeida 99 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 126 - Planta piso 1 (Moura, 2001, p.40) Ilustração 127 - Planta piso 2 (Moura, 2001, p.41) 1_Entrada principal 2_Auditório 3_Galeria 4_Moinho 5_Cozinha Elsa Maria Alves Almeida 6_Lavandaria 7_Pátio das laranjeiras 8_Terraço 9_Tanque 10_Pátio do claustro 11_Claustro 12_Igreja 13_Quartos de hóspedes 14_Salão 15_Sala de estar 16_Sala de Jantar 17_Restaurante 18_Sala do Capítulo 19_Sacristía 20_Pomar 100 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 128 - Planta piso térreo (Mouro, 2001, p.39) Ilustração 129 - Planta piso -1 (Moura, 2001, p.38) 1_Entrada principal 2_Auditório 3_Galeria 4_Moinho 5_Cozinha Elsa Maria Alves Almeida 6_Lavandaria 7_Pátio das laranjeiras 8_Terraço 9_Tanque 10_Pátio do claustro 11_Claustro 12_Igreja 13_Quartos de hóspedes 14_Salão 15_Sala de estar 16_Sala de Jantar 17_Restaurante 18_Sala do Capítulo 19_Sacristía 20_Pomar 101 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Na abordagem ao lugar e ao programa, mediante um estudo das especificidades da topografia, surge a possibilidade de criar um novo corpo integrado de um modo natural na estrutura física do terreno, onde o contraste entre o novo e o antigo é quase nula. Este novo corpo nasce a partir de um muro já existente, defenindo o alçado e o limite do terraço, recuperando um espaço exterior na cobertura do mesmo, idêntico ao que havia na fachada Sul do mosteiro. Este espaço, com função de esplanda, serve simultaneamente para complementar e ocultar o novo corpo, e faz a ligação com o pátio das laranjeiras e com a zona da piscina, este percurso é enriquecido pela presença constante da água, elemento que está presente em várias zonas do edifício, como memória viva do sistema hidráulico do antigo mosteiro. No interior deste novo corpo instalam-se as áreas de serviço como a cozinha, que dificilmente se conseguiria integrar no espaço do antigo mosteiro, devido às novas regras impostas, para um pleno funcionamento do mesmo. Ilustração 130 - Pousada Santa Maria do Bouro. Novo corpo (Fernandéz-Galiano, 2011, p.55) Neste projecto, ao contrário do que Távora fez em Santa Marinha, nunca houve a intenção de restaurar o conjunto, no sentido de fazer regressar o esplendor das formas que este conheceu desde a sua fundação. Porém, apesar de ter sido considerada pelo autor como “nova contrução”, sem complexos em introduzir materiais e técnicas contemporâneas, verifica-se que tudo foi feito para parecer que sempre ali esteve. (Vaz, 2009 p. 123) Elsa Maria Alves Almeida 102 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 131 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.51) Ilustração 132 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.35) Ilustração 134 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.36, 40 e 43) Elsa Maria Alves Almeida Ilustração 133 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.54) 103 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 104 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 4. PROJECTO ACADÉMICO 4.1. O SOLAR Ilustração 135 - Solar da Ribafria (Ilustração nossa, 2012) A história do início do Solar de Ribafria é complexa, pois existem diferentes versões quanto à data de construção da torre e do restante edifício. Segundo alguns autores a torre foi construída, em 1536, por Gaspar Gonçalves, facto fundamentado através do documento concebido pelo Rei João III, em 1541, onde lhe atribui o título de Senhor da Ribafria autorizando-o a usar esse apelido, e onde se encontra referido a existência da torre e do anexo. Esta constatação é revogada, pelo facto de, a edificação das torres com as características apresentadas serem privilégios da nobreza, e tendo em conta a existência de elementos estruturais decorados com o brasão de Ribafria, concedido somente em 1541. O que se concluí, posteriormente, é que a torre e o anexo que foram referidos por João III, eram referentes apenas à habitação já existente naquela propriedade, constituída por dois pisos, que Gaspar Gonçalves terá comprado em 1526. Esta questão foi confirmada, mais tarde por Gaspar Gonçalves de Ribafria, “uma quintaã em Ribafria que dántes chamavam – de Cabriz – a qual fiz de novo com uma torre de dois sobrados e casas térreas pegadas com a dita torre”. (Caetano, 2005 p. 86) Poderá concluir-se através desta afirmação, que Gaspar Gonçalves Ribafria realizou, entre 1541 e 1542, obras de reabilitação e ampliação na casa, tornando-a num solar merecedor do seu estatuto social. Elsa Maria Alves Almeida 105 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal “[…]poderá crer-se que o morgado ampliou em altura o corpo paralelepipédico, subindo-lhe mais um sobrado – ou reconstruído integralmente um eventual piso já existente -, facto que a estrutura da cobertura do segundo piso, com abóbada de nervuras e chave com o escudo da Ribafria, aparentemente corrobora.” (Caetano, 2005 p. 86) Admite-se ter ocorrido, mais tarde, uma reforma setecentista, que proporcionou a alteração das dimensões do antigo solar, através do acrescento de um piso na torre, criando um desequilíbrio visual na relação entre a torre e as casa anexas. Ao longo do século XIX, o conjunto edificado foi-se degradando até que, em 1902, a casa da Ribafria passa a pertencer ao Conde do Cartaxo68. Desde esta altura foram realizadas várias reformas, com o objectivo de reorganizar os espaços interiores e recuperar o edifício, contudo estas obras não alteraram as linhas originais do edifício, conservando a sua aparência anterior. Apesar dos melhoramentos realizados ao edifício, com a morte do segundo Conde do Cartaxo, o antigo solar foi perdendo as suas valências. Ilustração 136 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Cave (Caetano, 2005, p.105) Ilustração 137 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Casas térreas (Caetano, 2005, p.105) Ilustração 138 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.105) Ilustração 139 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Segundo piso (Caetano, 2005, p.105) 68 D. Jorge José de Melo (1857 – 1922) Segundo Conde do Cartaxo. Formou-se em agronomia, e foi professor na Quinta Regional de Sintra. Mais tarde, tornou-se Oficial-Mor Honorário da Casa Real, e foi o 50º Governador Civil de Lisboa. Elsa Maria Alves Almeida 106 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Mais tarde, entre 1960 e 1961, após a aquisição da quinta por Jorge de Mello69, neto do segundo Conde do Cartaxo, ocorre uma grande transformação alteranto o programa rural da mesma e é feita uma grande reforma no solar, caracterizada por uma profunda análise crítica do edifício preexistente. Depois desta investigação designada por “Estudo de Reintegração da Fachada Norte”, feito por Vasco Regaleira70 e Diogo Mello, foram consideradas três hipóteses de projecto. A primeira seria a “correcção dos pormenores mantendo a estrutura existente”, a segunda seria a “supressão de um andar na torre”, e a última seria a “reintegração histórica na sua plenitude”. O projecto entregue na Câmara Municipal de Sintra, em 1959, da autoria de João Andrade e Sousa71, assinalava um compromisso com o traçado já existente, modelando apenas os aspectos funcionais do edifício. Na memória descritiva, elaborada pelos autores, são perceptíveis as suas intenções para o projecto, sendo o edifício composto por dois corpos, distintos em vários aspectos, a que denominam de corpo A e corpo B, sendo o corpo A o principal. Ilustração 140 - Levantamento planimétrico da quinta da Ribafria, 1959 (Caetano, 2005, p.79) O corpo A, de interesse histórico acentuado, datado de cerca de 1949, antigo solar dos Ribafrias, merece pois um cuidado e uma atenção que não quisemos descurar, limitando-nos a alterar certas zonas que, por mudança de funcionamento e por serem feitas onde já anteriormente fora mexido, julgamos serem de molde a valorizar o conjunto. São pois consequência destas alterações as modificações que nos aparecem exteriormente, mas que ficam absolutamente integradas no ambiente que nos é dado, não só porque os vãos a abrir são semelhantes aos que existem como ainda porque são, duma maneira geral, sensivelmente nos mesmos locais. O Corpo B, que como dissemos atraz é de características diferentes, até porque é de data mais recente, aprenta-se-nos quasi como uma ruína de difícil reconstrução. A 69 Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello (1895 – 1966) Foi um cavaleiro da Ordem de Malta, deu continuidade aos negócios da família, tornando-se presidente do Grupo Cuf (Companhia União Fabril) de 1942 a 1966. Em 1959, adquire a quinta da Ribafria, passando ali a ser a sua residência até à sua morte. 70 Vasco de Morais Palmeiro Regaleira (1897 – 1964) arquitecto português. A sua obra desenvolveu-se essencialmente na altura do Estado Novo. Dedicou-se principalmente à arquitectura religiosa, assumindo um estilo tradicionalista, indo ao encontro do estilo oficial do Estado Novo. 71 João Monteiro Andrade e Sousa (1923) arquitecto português. Estudou na Faculdade Nacional de Belas-Artes de Lisboa. Em 1984 recebe uma Menção Honrosa do Prémio Valmor concedido pela sua obra “Edifício Gemini”. Elsa Maria Alves Almeida 107 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal solução proposta não foge no entanto ao conjunto existente, não só no volume de construção como ainda noaspecto arquitectónico exterior. De compartimentação totalmente diversa da existente, embora este corpo fique no mesmo local do anterior, optamos pela apresentação gráfica junta, para uma mais fácil leitura do projecto. Assim, marcou-se uma linha divisória que nos separa o corpo A do corpo B.O primeiro com ligeiras modificações. Ficarão os dois corpos ligados por duas passagens, uma superior e outro inferior. A primeira, em que se aproveita um arco de cantaria existente donde tiramos um certo partido plástico, liga o vestíbulo de entrada à zona dos quartos, e a segunda serve para ligar as duas zonas de serviço e os quartos das crianças. (Caetano, 2005 p. 92) No entanto, a obra acabou por progredir segundo outros propósitos, principalmente nas intenções para o alçado Norte, assumindo um desenho eminentemente sóciocultural, acabando por ser levado a cabo a primeira hipótese de projecto, segundo o estudo acima referido, a “correcção dos pormenores mantendo a estrutura existente”. Houveram, contudo, algumas alterações que segundo o autor, “tiveram sempre em conta o ambiente do solar so século XVI procurando-se integrar este à época” (Caetano, 2005 p. 94) Ilustração 141 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Cave (Caetano, 2005, p.106) Ilustração 142 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Casas térreas (Caetano, 2005, p.106) Ilustração 143 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.106) Ilustração 144 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello. Segundo piso (Caetano, 2005, p.106) Elsa Maria Alves Almeida 108 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 145 - Reconstituição histórica da fachada Norte, em cerca de 1942 (Caetano, 2005, p.97) Ilustração 146 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois da reforma setecentista (Caetano, 2005, p.97) Ilustração 147 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois das obras do conde de Cartaxo (Caetano, 2005, p.97) Ilustração 148 - Reconstituição histórica da fachada Norte, após a intervenção de Jorge Mello (Caetano, 2005, p.97) Ilustração 149 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX, fase 1 (Caetano, 2005, p.98) Ilustração 151 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX, fase 2 (Caetano, 2005, p.98) Elsa Maria Alves Almeida Ilustração 150 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e X, fase 3 (Caetano, 2005, p.98) 109 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 152 - Planta corpo C (Sintra, 1989) Ilustração 153 - Alçado frontal do corpo C (Sintra, 1989) Mais tarde, em 1987, Jorge Mello vende a quinta ao Instituto Progresso Social e Democracia Francisco Sá Carneiro, que depois viria a ceder a propriedade à Fundação Friedrich Naumann. Esta fundação inaugurou um novo corpo, denominado de corpo C, representado nas Ilustrações 90 e 91. Em 2003, a Quinta da Ribafria é adquirida pela Câmara Municipal de Sintra, sendo o edifício classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1943. Ilustração 154 - Planta da quinta da Ribafria, após a inserção do corpo C (Caetano, 2005, p.79) Elsa Maria Alves Almeida 110 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 155 - Imagens do solar da Ribafria (Ilustrações nossas, 2012) Elsa Maria Alves Almeida 111 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 112 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 4.2. A POUSADA No primeiro tema, da cadeira de projecto do 5º, do ano lectivo 2012/2013, foi-nos pedido a realização de uma proposta para uma pousada, na quinta da Ribafria. A quinta localiza-se na Serra de Sintra, num espaço rural e isolado conferindo-lhe um ambiente peculiar, como pudemos comprovar na visita que foi organizada ao local. Nesta visita pudemos avaliar os edifícios preexistentes e toda a envolvente da quinta, que se apresenta com uma ambiência muito especial, podendo até dizer-se mística. Como já foi referido no subcapítulo anterior, a quinta e principalmente a preexistência, conta com muitos anos de história, concedendo-lhe um carácter privilegiado no âmbito da sua preservação. Ilustração 156 - Planta de localização (Ilustração nossa, 2012) O conjunto arquitectónico é então formado por três corpos, designados por corpo A, B e C. O corpo A é o principal, incorpora o torreão e as casas adjacentes, com características muito próprias e com um valor histórico elevado. O corpo B e C, já acrescentados posteriormente em datas distintas o que lhes confere características diferentes, já detêm uma menor importância tendo em conta as intenções da nova proposta. A intenção principal nesta proposta foi, a de manter apenas o corpo principal, devido não só ao seu valor patrimonial, mas por ser um elemento crucial na identidade daquele lugar, os restantes corpos seriam demolidos. Elsa Maria Alves Almeida 113 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 157 - Planta de implantação (Ilustração nossa, 2012) Existem duas razões distintas para a demolição destes corpos, a primeira relaciona-se com o facto de as características não integrarem a mesma linguagem do elemento principal, corpo A, a segunda é derivado ao novo conteúdo programático, tendo em conta que seria muito complexo integrar o novo programa nesses volumes. Assim são criados outros dois corpos, o novo corpo B ficaria implantado no mesmo local do antigo, e o novo corpo C, ficaria localizado junto a fachada Nascente do corpo A. Ilustração 158 - Proposta do conjunto arquitectónico (Ilustração nossa, 2012) A intenção principal para a preexistência é que esta seja totalmente restaurada, sendo necessário alguns ajustes devido ao novo conteúdo programático, mas a sua estrutura e características se mantenham intactas, procurando a mesma ideia do arquitecto Carrilho da Graça, intensificando a ideia de contemplação ao edifício, até porque é nele que se encontra a entrada principal e é apenas através deste corpo que os utentes acedem aos restantes volumes. O novo programa instalado na preexistência consiste na recepção, nas áreas comuns, a área administrativa. A capela já existente seria mantida. Devido ao facto de haver a necessidade de subdividir os espaços, para conseguir que o programa se integre na preexistência, e de modo a não afectar o seu contexto, são criadas estruturas de metal e vidro fosco que fazem a divisão, sem ter de fazer nenhuma alteração á estrutura principal, procurando a ideia do arquitecto Carrilho da Graça, para o mosteiro Flor da Rosa. Elsa Maria Alves Almeida 114 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 1_Entrada principal 2_Secretaria 3_Sala de leitura 4_Capela 5_Acessos público 6_Quartos 7_Cisterma 8_AVAC 9_Cozinha 10_Restaurante 11_Áreasde serviço 12_Acesso funcionários 13_Área administrativa 14_Sala de estar 15_Ginásio 16_Salas de massagem 17_Piscina Coberta 18_Sala polivalente 19_Sala de televisão 20_Suite Ilustração 159 - Plantas com o conteúdo programático da nova proposta (Ilustração nossa, 2012) Elsa Maria Alves Almeida 115 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal No novo corpo B iriam situar-se as áreas de serviço, as instalações técnicas, e o restaurante. A localização do restaurante, a Poente da preexistência, foi pensado nesta zona derivado a dois factores, primeiramente pelo facto de este ser para o público em geral e haver a necessidade de existir duas entradas distintas, de forma a preservar a privacidade dos utentes da pousada. O segundo factor relaciona-se com a intenção de virar o restaurante para o jardim, que se encontra em frente ao mesmo, para que os utilizadores externos à pousada possam passear nesse mesmo jardim e conhecer esta área da quinta mais pública. Outra vantagem desta localização é a possibilidade de existir um espaço exterior isolado, com um acesso restrito para cargas e descargas, na fachada tardoz. Ilustração 160 - Corte longitudinal do corpo B. Área de serviços e cozinha (Ilustração nossa, 2012) Ilustração 161 - Corte transversal do corpo B. Restaurante (Ilustração nossa, 2012) Elsa Maria Alves Almeida 116 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Existem nesta proposta duas ligações ao corpo B, uma com a preexistência através de uma passagem superior à semelhança da que existia no antigo corpo B, sendo esta a ligação para os utentes da pousada, e outra que faz a ligação ao corpo C, através de uma ala semi-enterrada, sem ser necessário aceder à preexistência, apenas para os funcionários. Ilustração 162 - Corte transversal da preexistência e corpo B. Ligação (Ilustração nossa, 2012) Ilustração 163 - Corte transversal do corpo B e C. Ligação (Ilustração nossa, 2012) Elsa Maria Alves Almeida 117 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal No corpo C seriam instalados 22 quartos dos quais, onze estão virados a norte, e os restante virados a sul, e as suites encontram-se numa pequena torre criada no extremo do volume com duas intenções, a primeira foi do ponto de vista formal, criar um equilíbrio visual do todo, reinterpretando de uma forma moderna o torreão já existente, e a segunda seria para que as suites tivessem uma vista privilegiada sobre a paisagem. No spa as áreas de sauna, massagens e ginásio estão na zona do volume enterrada, já a zona da piscina, tem ligação com exterior através das fachadas em vidro criando ligação visual com a zona da piscina exterior preexistente. Ilustração 164 - Corte longitudinal da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012) Ilustração 165 - Corte transversal do corpo C. Spa (Ilustração nossa, 2012) A implantação do corpo C foi pensada com o propósito de estar numa área da quinta mais reservada, que se apresenta como uma espécie de bosque, onde a intenção é criar uma ambiência calma e com uma ligação próxima à natureza. Este efeito acontece através das fachadas em vidro, e nos pequenos terraços criados nos quartos. Tendo em conta o aproveitamento do declive do terreno, este corpo ficaria implantado a uma cota inferior à do percurso já existente que faz a ligação dos vários pontos de interesse da quinta, sendo esta ideia inspirada na actuação de Távora no mosteiro Santa Marinha da Costa, apesar de os objectivos serem diferentes. Esta inspiração também é visível na ligação deste corpo C com a preexistência, mantendo uma continuidade na fachada, apesar de terem expressões distintas. Elsa Maria Alves Almeida 118 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 166 - Corte transversal do corpo C. Quartos (Ilustração nossa, 2012) Ilustração 167 - Fachada Norte da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012) Os novos corpos assumem uma linguagem diferente, mais moderna, para que seja perceptível esta nova fase construtiva do edifício, à semelhança do que Fernando Távora fez em Guimarães e Carrilho da Graça fez no Crato. Esta abordagem mais moderna, é sobretudo associada à escolha dos materiais, utilizada nos novos corpos, a presença contínua do vidro na fachada sem caixilhos aparentes, procurando a ideia do arquitecto Souto Moura no Bouro, com um intuito diferente, pois aqui seria para a ligação interior/exterior ser mais suave. As paredes exteriores são revestidas com pedra de cor cinza não só para criar uma harmonia na relação com a preexistência, devido à existia da pedra em todas as fachadas da mesma, mas principalmente para camuflar os corpos na própria paisagem. Elsa Maria Alves Almeida 119 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Ilustração 168 - Perpectivas gerais da proposta para a nova pousada (Ilustrações nossas, 2012) Elsa Maria Alves Almeida 120 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos concluir, através da presente investigação, que não existem “regras universais” aplicáveis a todos as intervenções no património. Cada casa é um caso, e cada edifício é protagonista de diferentes valores e significados, foi alvo de diferentes alterações e apropriações ao longo do tempo, fazendo dele um “objecto” único, tendo por isso que ser encarado como tal. Cabe ao interveniente, através da sua sensibilidade, perceber de que forma poderá manter presente, as memórias do passado. O que reflecte o sucesso das intervenções expostas neste trabalho, é a postura dos arquitectos perante o monumento, sendo esta caracterizada pelo respeito à preexistência, procurando interpretar através da sua história as características principais a preservar, de forma a não perder o seu carácter. Apesar da atitude ser a mesma, a abordagem na adaptação à nova função, é diferente. Em Amares, Távora, procura na sua intervenção “[…] continuar – inovando” (Costa, 1993 p. 116), preservando os espaços mais importantes, mas reafirmando-os através da integração do novo programa. É, também, perceptível a vontade do autor em evidenciar as diferentes fases construtivas do edifício, sendo o seu objectivo, o de dar continuidade à vida já longa da preexistência, tendo em conta que poderá no futuro ser alvo de outras transformações. No Crato, Carrilho da Graça, revela a intenção de restaurar o monumento, não alterando a sua estrutura inicial, deixando-a como “objecto” de contemplação. O conteúdo programático é integrado num novo volume, que se afirma como tal, dando também a leitura de continuidade, através da afirmação das diferentes fases de construção. “O objectivo do projecto é intensificar a possibilidade de visita do edifício existente, privatizando-o e ocupando-o o menos possível, relendo-o e abrindo-o a novas leituras.” (Graça, 2001 p. 31) No Bouro, Souto Moura, decide manter a ruína e construir um novo edifício a partir dela. A nova estrutura que a completa, é elaborada com materiais e técnicas construtivas modernas, com objectivo de diferenciar o que é ruína do que é a nova construção. O projecto tenta adaptar, ou melhor, servir-se das pedras disponíveis para construir um novo edifício. Trata-se de uma nova construção, onde intervêm vários depoimentos Elsa Maria Alves Almeida 121 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal (uns já registados, outros a construir) e não da recuperação do edifício na sua forma original. Para o projecto as ruínas são mais importantes que o “mosteiro”, já que são material disponível, aberto, manipulável, tal como o edifício o foidurante a história. (Moura, 2001, p. 5) Como podemos perceber, os autores destas intervenções tiveram outra preocupação comum, que foi a continuidade destes edifícios, revelando que não só o passado é importante, mas também o futuro. É necessário ter em conta a importância de encarar os edifícios patrimoniais, como “organismos vivos”, que estão em permanente transformação tal como a sociedade em que vivemos, tendo por isso, de estar preparados para serem adaptados a novas necessidades e circunstâncias do futuro. Elsa Maria Alves Almeida 122 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal REFERÊNCIAS AGOST MUÑOZ, Lidón (2014) - A essência do "RE-" : recuperar o passado através da arquitectura. ArchDaily [Em linha]. Traduzido por Romullo Baratto. (23 Junho 2014). [Consult. 19 Abril 2014]. 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Elsa Maria Alves Almeida 128 APÊNDICES Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal LISTA DE APÊNDICES Apêncice A - Elsa Maria Alves Almeida As pousadas de Portugal 131 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 132 APÊNDICE A As pousadas de Portugal Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 1ª Série de Pousadas LOCALIZAÇÃO INTERVENÇÃO ARQUITECTO INAUGURAÇÃO CATEGORIA Pous a da de Sa nta Luzi a El va s Edi fíci o de Ra i z Mi gue l Ja cobe tty Ros a 1942 Cha rme Pous a da de Sã o Gonça l o Ma rã o Edi fíci o de Ra i z Rogé ri o de Aze ve do 1942 Na ture za Pous a da de Sa nto Antóni o Se ré m Edi fíci o de Ra i z Rogé ri o de Aze ve do 1942 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sã o Ma rti nho Al fe i ze rã o Edi fíci o de Ra i z Ve l os o Re i s Ca me l o 1943 Pous a da da Juve ntude Pous a da de Sã o Brá s Sã o Brá s de Al porte l Edi fíci o de Ra i z Mi gue l Ja cobe tty Ros a 1944 Cha rme Pous a da de Sã o Ti a go Sa nti a go do Ca cé m Edi fíci o de Ra i z Mi gue l Ja cobe tty Ros a 1945 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sã o Loure nço Ma nte i ga s Edi fíci o de Ra i z Rogé ri o de Aze ve do 1948 Na ture za Pous a da do Ca s te l o Óbi dos Re conve rs ã o a Pous a da Joã o Fi l i pe Va z Ma rti ns 1950 Hi s tóri ca Pous a da de S. Joã o Ba pti s ta Be rl e nga Re conve rs ã o a Pous a da 1953 (De s a ti va da ) Pous a da de Sã o Pe dro Ca s te l o de Bode Re conve rs ã o a Pous a da Mi gue l Ja cobe tty Ros a 1954 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sã o Ba rtol ome u Bra ga nça Edi fíci o de Ra i z Jos é Ca rl os Loure i ro e Pá dua Ra mos 1959 Cha rme Pous a da do Infa nte Sa gre s Edi fíci o de Ra i z Jorge Se gura do 1960 Na ture za Pous a da da Ri a Murtos a Edi fíci o de Ra i z Al be rto Cruz 1960 Na ture za Pous a da de Sã o Ge ns Se rpa Edi fíci o de Ra i z Le ona rdo Ca s tro Fre i re 1960 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sã o Je róni mo Ca ra mul o Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Cruz 1962 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sa nta Ca ta ri na Mi ra nda do Douro Re conve rs ã o a Pous a da Le ona rdo Ca s tro Fre i re 1962 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sã o Te otóni o Va l e nça do Mi nho Edi fíci o de Ra i z 1963 Cha rme Pous a da dos Lói os Évora Re conve rs ã o a Pous a da Rui Ânge l o Couto 1965 Hi s tóri ca Pous a da de Sã o Fi l i pe Se túba l Re conve rs ã o a Pous a da 1965 Hi s tóri ca 2ª Série de Pousadas Elsa Maria Alves Almeida Joã o Ande rs on 135 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 136 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 3ª Série de Pousadas LOCALIZAÇÃO INTERVENÇÃO ARQUITECTO INAUGURAÇÃO CATEGORIA Pous a da de Sa nta Ma ri a Ma rvã o Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Cruz 1967 Cha rme Pous a da de Sã o Be nto Ca ni ça da Re conve rs ã o a Pous a da Edua rdo Coi mbra Bri to 1968 Na ture za Pous a da Ra i nha Sa nta Is a be l Es tre moz Re conve rs ã o a Pous a da Rui Ânge l o do Couto 1970 Hi s tóri ca Pous a da de Sa nta Bá rba ra Ol i ve i ra do Hos pi ta l Edi fíci o de Ra i z 1971 (De s a ne xa da ) Pous a da de Sa nta Cl a ra Sa nta Cl a ra -a -Ve l ha Re conve rs ã o a Pous a da Ra úl Chorã o Ra ma l ho 1971 Na ture za Pous a da de Va l e do Ga i o Torrã o Re conve rs ã o a Pous a da Ra úl Chorã o Ra ma l ho 1977 Na ture za Pous a da de Nos s a Se nhora da Ol i ve i ra Gui ma rã e s Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Be s s a 1979 Cha rme Pous a da de Sa nti a go Pa l me l a Re conve rs ã o a Pous a da Luís dos Sa ntos Ca s tro Lobo 1979 Hi s tóri ca Pous a da do Monte Sa nta Luzi a Vi a na do Ca s tel o Re conve rs ã o a Pous a da 1979 Cha rme Pous a da de D. Di ni s Vi l a Nova de Ce rve i ra Re conve rs ã o a Pous a da Al ci no Souti nho 1982 Hi s tóri ca Pous a da Ba rã o Forre s ter Al i jó Re conve rs ã o a Pous a da Fe rna ndo Ra ma l ho 1983 Cha rme Pous a da de Sa nta Ma ri nha da Cos ta Gui ma rã e s Re conve rs ã o a Pous a da Fe rna ndo Tá vora 1985 Hi s tóri ca Pous a da Me s tre Afons o Domi ngos Ba ta l ha Re conve rs ã o a Pous a da 1985 (De s a ne xa da ) Pous a da da Se nhora da s Ne ve s Al me i da Edi fíci o de Ra i z 1987 Cha rme Pous a da Qui nta da Orti ga Sa nti a go do Ca cé m Re conve rs ã o a Pous a da 1991 Na ture za Pous a da de Sã o Mi gue l Sous e l Re conve rs ã o a Pous a da Al fre do Ma ta Antune s 1992 Na ture za Pous a da do Mons a nto Mons a nto Re conve rs ã o a Pous a da Dua rte Nuno Si mõe s 1993 (De s a ne xa da ) Pous a da do Ca s tel o de Al vi to Al vi to Re conve rs ã o a Pous a da Ma nue l Ba gul ho 1993 Hi s tóri ca Ma nue l Ta i nha 4ª Série de Pousadas Cri s ti a no More i ra 5ª Série de Pousadas Elsa Maria Alves Almeida 137 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal Elsa Maria Alves Almeida 138 Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal 5ª Série de Pousadas LOCALIZAÇÃO INTERVENÇÃO ARQUITECTO INAUGURAÇÃO CATEGORIA Pous a da de Sa nta Cri s ti na Condei xa Reconvers ã o a Pous a da Ferna ndo Ra ma l ho 1993 Cha rme Pous a da D. Ma ri a I Quel uz Reconvers ã o a Pous a da Ca rl os Ma nuel Ra mos 1994 Hi s tóri ca Pous a da de Sã o Fra nci s co Beja Reconvers ã o a Pous a da E. Ma i a Rebel o e Jos é Al ves 1994 Hi s tóri ca Pous a da Fl or da Ros a Cra to Reconvers ã o a Pous a da Joã o Luís Ca rri l ho da Gra ça 1995 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da de Nos s a Senhora da As s unçã oArra i ol os Reconvers ã o a Pous a da Jos é Pa ul o dos Sa ntos 1996 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da de Sa nta Ma ri a do Bouro Ama res Reconvers ã o a Pous a da Edua rdo Souto Moura 1997 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da de D. Joã o IV Vi l a Vi ços a Reconvers ã o a Pous a da Joã o de Al mei da e Pedro F. Pi nto 1977 Hi s tóri ca Pous a da de D. Afons o II Al cá cer do Sa l Reconvers ã o a Pous a da Di ogo Li no Pi mentel 1998 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da de Bel monte Bel monte Reconvers ã o a Pous a da Luís Rebel o de Andra de 2001 Hi s tóri ca Pous a da do Des a gra do Vi l a Pouca da Bei ra Reconvers ã o a Pous a da Antóni o Montei ro 2002 Hi s tóri ca Pous a da do Forte de Sa nta Cruz Horta Reconvers ã o a Pous a da Al berto Cruz 2004 Cha rme Pous a da de Sã o Seba s ti ã o Angra do Heroís mo Reconvers ã o a Pous a da Is a bel Sa ntos 2006 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da da Gra ça Ta vi ra Reconvers ã o a Pous a da Joã o Sous a Ca mpos 2006 Hi s tóri ca Pous a da de Es toi Fa ro Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne 2009 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da do Frei xo Porto Reconvers ã o a Pous a da Da vi d Si ncl a i r 2009 Hi s tóri ca Pous a da de Vi s eu Vi s eu Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne 2009 Cha rme Pous a da de Ca s ca i s Ca s ca i s Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne e Da vi d Si ncl a i r 2012 Hi s tóri ca /Des i gn Pous a da da Serra da Es trel a Gua rda Reconvers ã o a Pous a da Edua rdo Souto Moura 2014 Hi s tóri ca /Des i gn Elsa Maria Alves Almeida 139