UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Reconversão do património:
o caso das pousadas de Portugal
Realizado por:
Elsa Maria Alves de Almeida
Orientado por:
Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho
Constituição do Júri:
Presidente:
Orientadora:
Arguente:
Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha
Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho
Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito
Dissertação aprovada em:
19 de Novembro de 2014
Lisboa
2014
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N I V E R S I D A D E
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U S Í A D A
D E
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Reconversão do património:
o caso das pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves de Almeida
Lisboa
Setembro 2014
U
N I V E R S I D A D E
L
U S Í A D A
D E
L
I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Reconversão do património:
o caso das pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves de Almeida
Lisboa
Setembro 2014
Elsa Maria Alves de Almeida
Reconversão do património:
o caso das pousadas de Portugal
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina
Caeiro Botelho
Lisboa
Setembro 2014
Ficha Técnica
Autora
Orientadora
Elsa Maria Alves de Almeida
Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Cristina Caeiro Botelho
Título
Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal
Local
Lisboa
Ano
2014
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
ALMEIDA, Elsa Maria Alves de, 1989Reconversão do património : o caso das pousadas de Portugal / Elsa Maria Alves de Almeida ;
orientado por Helena Cristina Caeiro Botelho. - Lisboa : [s.n.], 2014. - Dissertação de Mestrado
Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.
I - BOTELHO, Helena Cristina Caeiro, 1970LCSH
1. Edifícios históricos - Reforma para outro uso - Portugal
2. Arquitectura - Conservação e restauro - Portugal
3. Pousada Santa Marinha (Guimarães, Portugal)
4. Pousada Flor da Rosa (Crato, Portugal)
5. Pousada Santa Maria do Bouro (Amares, Portugal)
6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
7. Teses – Portugal - Lisboa
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Historic buildings - Remodeling for other use - Portugal
Architecture - Conservation and restoration - Portugal
Pousada Santa Marinha (Guimarães, Portugal)
Pousada Flor da Rosa (Crato, Portugal)
Pousada Santa Maria do Bouro (Amares, Portugal)
Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. NA109.P8 A46 2014
AGRADECIMENTOS
À minha Família, em especial aos meus pais e irmã, por todo o amor e dedicação.
Aos meus amigos, pelo apoio e paciência.
Aos meus professores, em especial à Prof.ª Doutora Arqt.ª Helena Botelho, pela
disponibilidade e simpatia.
A todos quero agradecer pelo especial contributo prestado, para a conclusão desta
etapa, que foi, sem dúvida, intensa e muito compensadora.
APRESENTAÇÃO
Reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves de Almeida
Na presente dissertação é realizada uma investigação sobre a temática da intervenção
no património, sendo este um tema recorrente na arquitectura, é importante reflectir
sobre o modo como o arquitecto pode intervir num edifício histórico, de forma a
contribuir para a preservação de uma memória colectiva que é importante manter no
futuro. No contexto nacional, as pousadas têm um papel importante neste âmbito, pelo
facto de utilizarem estes edifícios, deixados ao abandono, atribuindo-lhes uma nova
função, contribuindo assim, para a sua continuidade.
Neste sentido consideramos importante utilizar as pousadas como objecto de estudo,
fazendo, primeiramente, uma contextualização sobre o desenvolvimento da indústria
do turismo em Portugal e o início do conceito de pousada, sendo posteriormente
exposta uma abordagem explicativa das diversas fases de construção das mesmas,
tendo como objectivo principal, preceber a ligação entre as pousadas e os edifícios
patrimoniais, e as diferentes intervenções elaboradas neste contexto. Numa segunda
fase, é apresentada uma análise mais elaborada a três casos de adaptação a
pousada, que reflectem diferentes intervenções, por arquitectos distintos, em edifícios
históricos que exerciam a mesma função. Por fim é apresentada o projecto académico,
evidenciando as características em comum com os três casos de estudo apresentados
anteriormente, que serviram de referência á proposta de projecto.
Pretende-se através deste trabalho, perceber como é que nas distintas abordagens, os
arquitectos mantém, a intenção de preservar a identidade do edifício, apresentando
propostas diferentes para o efeito, identificando as preocupações comuns as três
intervenções, que por serem comuns, se tornam pertinentes para o enriquecimento
dos conteúdos teóricos sobre a reabilitação e reconversão do património, contribuindo,
também, para aperfeiçoar novas intervenções no futuro.
Palavras-chave: Intervenção no património, Reconversão, Pousadas
PRESENTATION
Reconversion of heritage: the case of the pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves de Almeida
On this thesis an investigation is carried out on the topic of intervention on Heritage.
This being a recurring theme in the field of architecture, it becomes important to think
over on how architects may intervene on an historical building, in order to contribute for
the preservation of a colective memory which is important to save for the future. In
Portugal, pousadas have an important part to play, as they operate inside buildings left
to decay, assigning them a new function and thus contributing for their continuity.
In this context, we deem it important to use the pousadas as a subject matter, by firstly
contextualizing the status of the industry of tourism in Portugal and the beginnings of
the concept of pousada, and then putting forward an explanatory approach to the
different stages of their construction, with the main aim of understanding the
connection between the pousadas and the heritage buildings, and the interventions
carried out in this context. On a second stage, a more elaborated analysis is put
forward focusing on the cases of historical building-to-pousada conversion, which
reflect three different interventions, by different architects, in historical buildings which
exercised the same function. Finally the academic project is put forward, focusing on
the characteristics common to the three case studies introduced initially, which were
the basic reference for the project submital.
It is the aim of this thesis to try to understand how, through their different approaches,
the architects abide by the goal of preserving the identity of the buildings through
different proposals, while identifying the concerns common to the three interventions,
which, because they share common concerns, become relevant to the enrichment of
the theoretical contents on the subject of rehabilitation and reconversion of heritage,
thus contributing to the improvement of further future interventions.
Keywords: Heritage’s intervention, Reconversion, Pousadas
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Proposta de Manuel Marques, Minho (Lobo, 2006, p.23) ..................... 21
Ilustração 2 - Proposta de Adelino Nunes, Douro (Lobo, 2006, p.23) ......................... 21
Ilustração 3 - Proposta de Raul Tojal, Trás-os-Montes (Lobo, 2006, p.23) ................ 21
Ilustração 4 - Proposta de Luís Benavente, Beira Alta (Lobo, 2006, p.23) ................. 21
Ilustração 5 - Proposta de António Lino, Beira Baixa (Lobo, 2006, p.23) ................... 22
Ilustração 6 - Proposta de Ernesto Korrodi, Estremadura (Lobo, 2006, p.23) ............ 22
Ilustração 7 - Proposta de Jorge Segurado, Alentejo (Lobo, 2006, p.23) ................... 22
Ilustração 8 - Proposta Faria da Costa, Algarve (Lobo, 2006, p.23) ........................... 22
Ilustração 9 - Plantas da pousada de Sta. Luzia, Elvas. Inaugurada em 1942 (Lobo,
2006, p. 47)................................................................................................................... 26
Ilustração 10 - Plantas da pousada de S. Gonçalo, Marão. Inaugurada em 1942
(Lobo, 2006, p. 47) ....................................................................................................... 26
Ilustração 11 - Plantas da pousada de Sto. António, Serém. Inaugurada em 1942
(Lobo, 2006, p. 47) ....................................................................................................... 26
Ilustração 12 - Plantas da pousada de S. Martinho, Alfeizerão. Inaugurada em 1943
(Lobo, 2006, p. 48) ....................................................................................................... 28
Ilustração 13 - Plantas da pousada de S. Brás, São Brás de Alportel. Inaugurada em
1944 (Lobo, 2006, p. 48) .............................................................................................. 28
Ilustração 14 - Plantas da pousada de S. Tiago, Santiago do Cacém. Inaugurada em
1945 (Lobo, 2006, p. 48) .............................................................................................. 28
Ilustração 15 - Planta da pousada de S. Lourenço. Inaugurada em 1948 (Lobo, 2006,
p.48).............................................................................................................................. 28
Ilustração 16 - Pantas da pousada de S. Bartolomeu, Bragança. Inaugurada em 1959
(Lobo, 2006, p. 89) ....................................................................................................... 30
Ilustração 17 - Plantas da pousada de S. Teotónio, Valença do Minho. Inaugurada em
1963 (Lobo, 2006, p. 89) .............................................................................................. 30
Ilustração 18 - Plantas da pousada de Santa Bárbara, Póvoa das Quartas.
Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 89) ..................................................................... 30
Ilustração 19 - Plantas da pousada de S. Gens, Serpa. Inaugurada em 1960 (Lobo,
2006, p. 90)................................................................................................................... 31
Ilustração 20 - Plantas da pousada de S. Jerónimo, Caramulo. Inaugurada em 1962
(Lobo, 2006, p. 90) ....................................................................................................... 31
Ilustração 21 - Plantas da pousada da Senhora das Neves, Almeida. Inaugurada em
1987 (Lobo, 2006, p. 90) .............................................................................................. 31
Ilustração 22 - Planta da pousada de S. Pedro, Castelo de Bode. Inaugurada em 1954
(Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 32
Ilustração 23 - Planta da pousada de Santa Catarina, Miranda do Douro. Inaugurada
em 1962 (Lobo, 2006, p. 75) ........................................................................................ 33
Ilustração 24 - Plantas da pousada de S. Bento, Caniçada. Inaugurada em 1968
(Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 33
Ilustração 25 - Plantas da pousada de Santa Clara, Santa Clara-a-Velha. Inaugurada
em 1971 (Lobo, 2006, p. 75) ........................................................................................ 33
Ilustração 26 - Planta da pousada de Vale do Gaio, Torrão. Inaugurada em 1977
(Lobo, 2006, p. 75) ....................................................................................................... 33
Ilustração 27 - Plantas da pousada do Infante, Sagres. Inaugurada em 1960 (Lobo,
2006, p. 79)................................................................................................................... 34
Ilustração 28 - Plantas da pousada da Ria, Murtosa. Inaugurada em 1960 (Lobo,
2006, p. 79)................................................................................................................... 34
Ilustração 29 - Pousadas regionais, primeira fase (Lobo, 2006, p. 46 e 49) ............... 35
Ilustração 30 - Pousadas regionais, segunda fase (Lobo, 2006, p. 71) ...................... 36
Ilustração 31 - Pousadas regionais, segunda fase, grupo das "pousadas em
Barragens" (Lobo, 2006, p. 71) .................................................................................... 36
Ilustração 32 - Pousadas regionais, segunda fase, série "Beira-Mar" (Lobo, 2006, p.
71)................................................................................................................................. 36
Ilustração 33 - Plantas do restauro da DGEMN, Óbidos (Lobo, 2006, p. 117) ........... 38
Ilustração 34 - Plantas da pousada do Castelo, Óbidos. Inaugurada em 1950 (Lobo,
2006, p. 117)................................................................................................................. 38
Ilustração 35 - Planta do restauro da DEGMN, Ilha da Berlenga (Lobo, 2006, p. 117)
...................................................................................................................................... 38
Ilustração 36 - Plantas da pousada de S. João Baptista, Ilha da Berlenga. Inaugurada
em 1953 (Lobo, 2006, p. 117) ...................................................................................... 38
Ilustração 37 - Plantas do resturo da DEGMN, Évora (Lobo, 2006, p. 118) ............... 39
Ilustração 38 - Plantas da pousada dos Lóios, Évora. Inaugurada em 1965 (Lobo,
2006, p. 118)................................................................................................................. 39
Ilustração 39 - Plantas da pousada de S. Filipe, Setúbal. Inaugurada em 1965 (Lobo,
2006, p. 117)................................................................................................................. 39
Ilustração 40 - Plantas do restauro da DGEMN, Estremoz (Lobo, 2006, p. 117) ....... 40
Ilustração 41 - Plantas da pousada Rainha Santa Isabel, Estremoz. Inaugurada em
1970 (Lobo, 2006, p. 117) ............................................................................................ 40
Ilustração 42 - Planta do restauro da DGEMN, Palmela (Lobo, 2006, p. 118) ........... 40
Ilustração 43 - Plantas da pousada de Santiago, Palmela. Inaugurada em 1979 (Lobo,
2006, p. 118)................................................................................................................. 40
Ilustração 44 - Plantas da pousada de D. Dinis, Vila Nova de Cerveira. Inaugurada em
1982 (Lobo, 2006, p. 121) ............................................................................................ 42
Ilustração 45 - Plantas da pousada Santa Marinha da Costa, Guimarães. Inaugurada
em 1985 (Lobo, 2006, p. 118) ...................................................................................... 42
Ilustração 46 - Plantas da pousada do Alvito, Alvito. Inaugurada em 1993 (Lobo, 2006,
p. 121)........................................................................................................................... 45
Ilustração 47 - Plantas da pousada de S. Francisco, Beja. Inaugurada em 1994 (Lobo,
2006, p. 121)................................................................................................................. 45
Ilustração 48 - Plantas da pousada Flor da Rosa, Crato. Inaugurada em 1995 (Lobo,
2006, p. 147)................................................................................................................. 46
Ilustração 49 - Plantas da pousada de Nossa Senhora da Assunção, Arraiolos.
Inaugurada em 1996 (Lobo, 2006, p. 147) ................................................................... 46
Ilustração 50 - Plantas da pousada Santa Maria do Bouro, Amares. Inaugurada em
1997 (Lobo, 2006, p. 147) ............................................................................................ 46
Ilustração 51 - Plantas da pousada D. João IV, Vila Viçosa. Inaugurada em 1997
(Lobo, 2006, p.148) ...................................................................................................... 47
Ilustração 52 - Plantas da pousada D. Afonso II, Alcácer do Sal. Inaugurada em 1998
(Lobo, 2006, p.148) ...................................................................................................... 47
Ilustração 53 - Grupo das "pousadas em monumentos históricos" (Lobo, 2006, p. 113)
...................................................................................................................................... 48
Ilustração 54 - Grupo das "pousadas em centros históricos" (Lobo, 2006, p.123) ..... 49
Ilustração 55 - Ilustração 55 - Grupo das "pousadas de autor" (Lobo, 2006, p.143) .. 49
Ilustração 56 - Fernando Távora (Coelho, 2011, p.10) ............................................... 51
Ilustração 57 - MosteIro Santa Marinha da Costa (Portugal, 2013) ............................ 55
Ilustração 58 - Edificações desde o período romano ao séc. X, de acordo com os
trabalhos arqueológicos (Portugal, 2013) ..................................................................... 56
Ilustração 59 - Reconstituição aproximada da planta do edifício construido pelos
Cónegos Regrantes (Portugal, 2013) ........................................................................... 56
Ilustração 60 - Evolução construtiva (Portugal, 2013) ................................................. 57
Ilustração 61 - Planta de implantação, 1978 (Portugal, 2013) .................................... 57
Ilustração 62 - Planta de implantação, 1985 (Portugal, 2013) .................................... 57
Ilustração 63 - Imagens anteriores à reconversão, 1969-1975 (Portugal, 2013) ........ 58
Ilustração 64 - Pousada Santa Marinha da Costa (Costa, 1993, p.113) ..................... 59
Ilustração 65 - Planta piso térreo, 1975 (Portugal, 2013) ............................................ 60
Ilustração 66 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) ............................................ 60
Ilustração 67 - Planta piso térreo (Portugal, 2013)...................................................... 62
Ilustração 68 - Planta piso 1 (Portugal, 2013) ............................................................. 62
Ilustração 69 - Corte transversal (Portugal, 2013) ...................................................... 63
Ilustração 70 - Alçado Sul (Portugal, 2013)................................................................. 63
Ilustração 71 - Alçado Norte (Portugal, 2013) ............................................................. 63
Ilustração 72 - Corte longitudinal (Portugal, 2013) ...................................................... 63
Ilustração 73 - Planta piso -1 (Portugal, 2013) ............................................................ 64
Ilustração 74 - Planta piso -2 (Portugal, 2013) ............................................................ 64
Ilustração 75 - Alçado Nascente (Portugal, 2013) ....................................................... 65
Ilustração 76 - Corte transversal (Portugal, 2013) ...................................................... 65
Ilustração 77 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) ....................................... 66
Ilustração 78 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p.117 e 118) ...................... 66
Ilustração 79 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013) ....................................... 66
Ilustração 80 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p. 114, 115 e 119) ............. 66
Ilustração 81 - João Carrilo da Graça (Bártolo, 2013, p.6) .......................................... 67
Ilustração 82 - Mosteiro Flor da Rosa (Portugal, 2013) .............................................. 71
Ilustração 83 - Reconstituição conjectural em planta do edifício - segunda metade do
séc. XIV (Portugal, 2013).............................................................................................. 72
Ilustração 84 - Reconstituição conjectural em planta do edifício - final do séc. XIV
(Portugal, 2013) ............................................................................................................ 72
Ilustração 85 - Alçado principal, 1940 (Portugal, 2013) .............................................. 73
Ilustração 86 - Alçado lateral direito, 1940 (Portugal, 2013) ....................................... 73
Ilustração 87 - Alçado posterior, 1940 (Portugal, 2013) .............................................. 73
Ilustração 88 - Alçado lateral esquerdo, 1940 (Portugal, 2013) .................................. 73
Ilustração 89 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal, 2013)............................................ 74
Ilustração 90 - Planta piso 1, 1940 (Portugal,2013) .................................................... 74
Ilustração 91 - Planta piso 2, 1940 (Portugal, 2013) ................................................... 74
Ilustração 92 - Planta de cobertura, 1940 (Portugal, 2013) ........................................ 74
Ilustração 93 - Imagens anteriores à reconversão, 1942 (Portugal, 2013) ................. 75
Ilustração 94 - Pousada Flor da Rosa (Ilustração nossa, 2014) ................................. 77
Ilustração 95 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal 2013) ............................................. 78
Ilustração 96 - Planta inferior, 1995 (ENATUR, 2001, p.32) ....................................... 78
Ilustração 97 - Planta da torre do Paço 1. Suite (ENATUR, 2001, p.35) .................... 79
Ilustração 98 - Planta torre do Paço 2. Suite (ENATUR, 2001, p.35) ......................... 79
Ilustração 99 - Planta torre do Paço 3. Suite (ENATUR, 2001, p.35) ......................... 80
Ilustração 100 - Planta inferior (ENATUR, 2001, p. 32) .............................................. 81
Ilustração 101 - Planta superior (ENATUR, 2001, p. 33) ............................................ 81
Ilustração 102 - Alçado Norte (Graça, 1995, p. 68) ..................................................... 82
Ilustração 103 - Alçado Nascente (ENATUR, 2001, p. 34) ......................................... 82
Ilustração 104 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) ................................................... 82
Ilustração 105 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34) ................................................... 82
Ilustração 106 - Pousada Flor da Rosa. Cruzamento entre o edifício novo e o antigo
(Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................... 83
Ilustração 107 - Imagens da nova pousada (Ilustrações nossas, 2014) ..................... 84
Ilustração 108 - Eduardo Souto Moura (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.4) ......... 85
Ilustração 109 - Mosteiro Santa Maria do Bouro (Portugal, 2013) .............................. 89
Ilustração 110 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) .......................................... 90
Ilustração 111 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013) .......................................... 90
Ilustração 112 - Corte transversal, 1978 (Portugal, 2013) .......................................... 91
Ilustração 113 - Planta de implantação, 1989 (Portugal, 2013) .................................. 91
Ilustração 114 - Planta de implantação, 1997 (Moura, 2001, p.8) .............................. 91
Ilustração 115 - Evolução construtiva (Moura, 2004, p.78) ......................................... 92
Ilustração 116 - Imagens anteriores à reconversão, 1946-1962 (Portugal, 2013) ...... 93
Ilustração 117 - Pousada Santa Maria do Bouro (Marquéz Cecilia e Levene, 2006,
p.29).............................................................................................................................. 95
Ilustração 118 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013) .......................................... 96
Ilustração 119 - Planta piso 1, 1997 (Moura, 2001, p.40) ........................................... 96
Ilustração 120 - Alçado Norte (Moura, 2001, p.36) ..................................................... 97
Ilustração 121 - Alçado Sul (Moura, 2001, p.36) ......................................................... 97
Ilustração 122 - Alçado Poente (Moura, 2001, p.36) ................................................... 97
Ilustração 123 - Alçado Nascente (Moura, 2001, p.36) ............................................... 98
Ilustração 124 - Corte transversal (Moura, 2001, p.43) ............................................... 99
Ilustração 125 - Corte longitudinal (Moura, 2001, p.43) .............................................. 99
Ilustração 126 - Planta piso 1 (Moura, 2001, p.40) ................................................... 100
Ilustração 127 - Planta piso 2 (Moura, 2001, p.41) ................................................... 100
Ilustração 128 - Planta piso térreo (Mouro, 2001, p.39) ............................................ 101
Ilustração 129 - Planta piso -1 (Moura, 2001, p.38) .................................................. 101
Ilustração 130 - Pousada Santa Maria do Bouro. Novo corpo (Fernandéz-Galiano,
2011, p.55).................................................................................................................. 102
Ilustração 131 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.51) ......... 103
Ilustração 132 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.35)
.................................................................................................................................... 103
Ilustração 133 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.54) ......... 103
Ilustração 134 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.36, 40
e 43)............................................................................................................................ 103
Ilustração 135 - Solar da Ribafria (Ilustração nossa, 2012) ...................................... 105
Ilustração 136 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Cave
(Caetano, 2005, p.105) ............................................................................................... 106
Ilustração 137 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960. Casas
térreas (Caetano, 2005, p.105)................................................................................... 106
Ilustração 138 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960.
Primeiro piso (Caetano, 2005, p.105) ......................................................................... 106
Ilustração 139 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de 1960.
Segundo piso (Caetano, 2005, p.105) ........................................................................ 106
Ilustração 140 - Levantamento planimétrico da quinta da Ribafria, 1959 (Caetano,
2005, p.79).................................................................................................................. 107
Ilustração 141 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello.
Cave (Caetano, 2005, p.106) ..................................................................................... 108
Ilustração 142 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello.
Casas térreas (Caetano, 2005, p.106) ....................................................................... 108
Ilustração 143 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello.
Primeiro piso (Caetano, 2005, p.106) ......................................................................... 108
Ilustração 144 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de Jorge Mello.
Segundo piso (Caetano, 2005, p.106) ........................................................................ 108
Ilustração 145 - Reconstituição histórica da fachada Norte, em cerca de 1942
(Caetano, 2005, p.97) ................................................................................................. 109
Ilustração 146 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois da reforma
setecentista (Caetano, 2005, p.97)............................................................................. 109
Ilustração 147 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois das obras do conde
de Cartaxo (Caetano, 2005, p.97) .............................................................................. 109
Ilustração 148 - Reconstituição histórica da fachada Norte, após a intervenção de
Jorge Mello (Caetano, 2005, p.97) ............................................................................. 109
Ilustração 149 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX,
fase 1 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109
Ilustração 150 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e X,
fase 3 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109
Ilustração 151 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos XIX e XX,
fase 2 (Caetano, 2005, p.98) ...................................................................................... 109
Ilustração 152 - Planta corpo C (Sintra, 1989) .......................................................... 110
Ilustração 153 - Alçado frontal do corpo C (Sintra, 1989) ......................................... 110
Ilustração 154 - Planta da quinta da Ribafria, após a inserção do corpo C (Caetano,
2005, p.79).................................................................................................................. 110
Ilustração 155 - Imagens do solar da Ribafria (Ilustrações nossas, 2012) ............... 111
Ilustração 156 - Planta de localização (Ilustração nossa, 2012) ............................... 113
Ilustração 157 - Planta de implantação (Ilustração nossa, 2012) ............................. 114
Ilustração 158 - Proposta do conjunto arquitectónico (Ilustração nossa, 2012) ........ 114
Ilustração 159 - Plantas com o conteúdo programático da nova proposta (Ilustração
nossa, 2012) ............................................................................................................... 115
Ilustração 160 - Corte longitudinal do corpo B. Área de serviços e cozinha (Ilustração
nossa, 2012) ............................................................................................................... 116
Ilustração 161 - Corte transversal do corpo B. Restaurante (Ilustração nossa, 2012)
.................................................................................................................................... 116
Ilustração 162 - Corte transversal da preexistência e corpo B. Ligação (Ilustração
nossa, 2012) ............................................................................................................... 117
Ilustração 163 - Corte transversal do corpo B e C. Ligação (Ilustração nossa, 2012)
.................................................................................................................................... 117
Ilustração 164 - Corte longitudinal da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012)
.................................................................................................................................... 118
Ilustração 165 - Corte transversal do corpo C. Spa (Ilustração nossa, 2012) ........... 118
Ilustração 166 - Corte transversal do corpo C. Quartos (Ilustração nossa, 2012) .... 119
Ilustração 167 - Fachada Norte da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012)
.................................................................................................................................... 119
Ilustração 168 - Perpectivas gerais da proposta para a nova pousada (Ilustrações
nossas, 2012) ............................................................................................................. 120
SUMÁRIO
1. Introdução ................................................................................................................ 13
2. O turismo, as pousadas e o património ................................................................... 17
2.1. O turismo em Portugal e o novo conceito de pousada ..................................... 17
2.2. Evolução histórica das pousadas de Portugal .................................................. 25
2.2.1. As pousadas regionais ............................................................................... 25
2.2.2. As pousadas e o património ....................................................................... 37
3. Casos de estudo ...................................................................................................... 51
3.1. Pousada de Guimarães, Mosteiro Santa Marinha da Costa ............................. 51
3.1.1. O autor ....................................................................................................... 51
3.1.2. O mosteiro .................................................................................................. 55
3.1.3. A pousada .................................................................................................. 59
3.2. Pousada do Crato, Mosteiro Flor da Rosa ........................................................ 67
3.2.1. O autor ....................................................................................................... 67
3.2.2. O mosteiro .................................................................................................. 71
3.2.3. A pousada ................................................................................................... 77
3.3. Pousada do Gerês, Mosteiro Santa Maria do Bouro ........................................ 85
3.3.1. O autor ....................................................................................................... 85
3.3.2. O mosteiro .................................................................................................. 89
3.3.3. A pousada .................................................................................................. 95
4. Projecto académico ............................................................................................... 105
4.1. O solar............................................................................................................. 105
4.2. A pousada ....................................................................................................... 113
5. Considerações finais .............................................................................................. 121
Referências................................................................................................................. 123
Bibliografia .................................................................................................................. 127
Apêndices ................................................................................................................... 129
Apêndice A ......................................................................................................... 133
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
1. INTRODUÇÃO
O tema “reconversão do património: o caso das pousadas de Portugal ”, em análise no
presente trabalho, foi escolhido com o objectivo de saber mais sobre as formas de
intervir em edifícios patrimoniais.
Devido à crescente urbanização existe cada vez menos espaço para construir,
tornando a reabilitação numa questão fundamental na actividade dos arquitectos.
Tendo em conta que o património, ao longo dos anos, tem vindo a ganhar uma
extrema importância para a sociedade, a ligação entre estas duas temáticas faz todo o
sentido, pois a maioria destes imóveis encontram-se ao abandono. Por este motivo é
importante fazer uma reflexão, sobre a importância de preservar e recuperar o
património, e principalmente, no modo como os arquitectos devem intervir nestes
edifícios com elevado valor cultural e histórico.
Este tipo de intervenção comporta, à partida, uma responsabilidade maior por parte do
arquitecto, devido à necessária conservação da carga histórica patente nestas
edificações, como “memória de um passado que importa transpor para o futuro”
(Venda, 2008 p. 6). Ao longo do tempo, foram elaboradas diversas teorias de
conservação, sendo o propósito principal em todas elas, preservar a identidade da
preexistência, respeitando os seus valores e significados resultantes da sua história.
De forma a possibilitar a permanente manutenção destes edifícios, a reconversão é
uma opção favorável, pelo facto de lhes atribuir uma nova função, e assim, possibilitar
uma vivência mais activa destes espaços, assegurando também, a continuidade dos
mesmos. Por outro lado, esta alteração de função protagoniza várias preocupações
inerentes à alteração do programa e consequente adaptabilidade às necessidades dos
novos tempos, sendo esta a questão principal a ser investigada, no presente trabalho.
As pousadas de Portugal têm um papel crucial no âmbito da preservação do
património, não só por terem protagonizado vários projectos de reconversão de
edifícios históricos, na sua maioria em estado de degradação, mas também por ter
originado obras de referência a nível nacional e internacional. Por este motivo, as
pousadas são objecto de estudo escolhido para o desenvolvimento deste trabalho.
A presente investigação centra-se em dois momentos distinto, primeiramente é
elaborada uma contextualização teórica, sobre o desenvolvimento do turismo em
Portugal, e o aparecimento do novo conceito de pousada, sendo posteriormente
Elsa Maria Alves Almeida
13
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
apresentadas as diferentes fases construtivas das mesmas, de forma a perceber de
que modo surgiu esta ligação das pousadas com o património. Neste primeiro capítulo
procuramos perceber também, as diferentes posturas e metodologias utilizadas pelos
intervenientes dos vários projectos elaborados no âmbito da reconversão, de modo a
perceber quais deles foram determinantes, para uma nova visão sobre a intervenção
no património.
No segundo capítulo, é efetuada uma pesquisa mais elaborada a três casos de
estudo, que foram escolhidos tendo em conta a análise feita no capítulo anterior,
sendo estes a pousada Santa Marinha da Costa com o projecto de Fernando Távora,
a pousada Flor da Rosa da autoria de João Luís Carrilho da Graça e a pousada Santa
Maria do Bouro com a intervenção de Eduardo Souto de Moura. A escolha destes
projetos deve-se, não só, à distinta abordagem apresentada em cada uma das
propostas, mas também pelos conceitos e filosofias gerados, que contribuíram para
uma mudança na forma de intervir no património arquitectónico. O estudo destes
projectos centra-se em três sub-capítulos crucias, o autor, onde são apresentados os
conceitos e metodologias de trabalho adoptados nos projectos em estudo, fazendo
também referência às ideias que cada autor apresenta sobre as questões relativas ao
património, no sub-capítulo seguinte, o mosteiro, onde é exposta a evolução histórica
da preexistência até à data da sua reconversão, e por fim, a pousada, onde é
apresentado o novo projecto.
No último capítulo é apresentado o projecto académico, onde é estudada a proposta
de reconversão de um Solar, designado por Solar da Ribafria, a pousada, sendo
primeiramente feita uma investigação sobre as várias intervenções realizadas na
preexistência até à actualidade, e posteriormente é avaliada a proposta, evidenciando
as características em comum com os casos de estudo, pelo facto de estes terem
servido de referência às ideias e conceitos utilizados na proposta de projecto.
[…] a arquitetura tem a capacidade de se adaptar a todas as épocas, de viajar através
do tempo. Ela é uma observadora estática das mudanças dinâmicas nas gerações e
culturas; é uma anciã que envelhece sem perder sua essência e carácter. Nós
arquitetos temos a tarefa de adaptar, recuperar e às vezes transformar as velhas
construções em novos edifícios capazes de atender as necessidades da sociedade.
(Agost Muñoz, 2014)
Neste sentido, procuramos perceber quais as questões essênciais a valorizar, neste
tipo de intervenção, que possibilitem não só a preservação das características
Elsa Maria Alves Almeida
14
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
históricas e culturais da preexistência, mas também, viabilizam as adaptações e
transformações necessárias às exigências das novas sociedades.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
2. O TURISMO, AS POUSADAS E O PATRIMÓNIO
2.1. O TURISMO EM PORTUGAL E O NOVO CONCEITO DE POUSADA
O século XIX introduz, na esfera da vida privada, um novo conceito: a veligiatura. O
prazer da viagem pela viagem, privilégio de uma minoria abastada, generaliza-se ao
longo so século XIX, ainda que associado a um sentido religioso, a uma insaciável
procura do conhecimento ou a uma crescente atenção ao corpo. Acima de tudo é um
fenómeno individual e urbano. (Lobo, 2006 p. 10)
Em Portugal, o turismo começa a ganhar relevância no final do século XIX, ínicio do
século XX, pelo facto de ser uma possível solução para a crise económica que se fazia
sentir no país, pois apesar de Portugal ter infra-estruturas que possibilitavam a sua
regeneração nas aréas do comércio, indústria e agricultura, a área da hotelaria
necessitava de uma melhor organização e incentivos para o seu desenvolvimento.
Num país pequeno, com elevado índice de ruralidade, sem perspectivas para a maioria
da sua população, que se refugia na emigração como solução de vida, e afastado de
uma Europa que se renovara com a Revolução industrial, o turismo aparece como uma
saída determinante para o restabelecimento do equilíbrio orçamental, posto em causa,
em finais de oitocentos, por uma preocupante dívida pública, e das suas relações
externas, ameaçadas pela cobiça crescente que o seu império colonial suscitava entre
as grandes potências. (Lobo, 2006 p. 10)
Devido à transição de um regime monárquico para um regime republicano, tornou-se
mais difícil a concretização de medidas tendo em vista a revitalização da política do
turismo, sendo contudo tomadas algumas iniciativas que ajudaram a promover esta
área não só no âmbito nacional, mas também internacional. Uma destas iniciativas
surgiu em 1890, por parte da Companhia de Caminhos de Ferro, que criou uma
campanha de viagens pelo território nacional dando oportunidade aos cidadãos de
visitar monumentos históricos, praias entre outros, sendo mais tarde criada a
Sociedade Propaganda de Portugal.
O empenhamento de Leonildo Mendoça e Costa, jornalista e director da “Gazeta dos
Caminhos de Ferro”, leva à criação, em 1906, da Sociedade Propaganda de Portugal.
Organismo privado, sem capacidade legal ou económica para gerar equipamentos, os
seus objectivos primaciais seriam os de, por um lado, incentivar junto da população
uma receptividade que apoiasse futuras acções e, por outro, publicitar o turismo e o
património português, tanto a nível nacional como internacional. (Lobo, 2006 p. 11)
Em 1909 é realizado o II Congresso Internacional de Turismo, com a participação de
um representante português enviado por esta nova sociedade, conseguindo alcançar o
seu objectivo, de que Portugal fosse integrado na Federação Franco-Hispânica dos
Elsa Maria Alves Almeida
17
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Sindicatos de Iniciativa e Propaganda, passando por isso a designar-se de Federação
Franco-Hispânica
Portuguesa.
“Esta
filiação
veio
a
ser
decisiva
para
a
institucionalização oficial do turismo em Portugal.” (Lobo, 2006 p. 11) O IV Congresso
Internacional do Turismo é já realizado em Lisboa, em 1911, onde resulta a
constituição de um Conselho de Turismo, apoiado por uma Repartição de Turismo,
motivo pelo qual a Sociedade Propaganda de Portugal passa a assumir apenas o
papel de representante de Portugal no mundo.
Esta nova Repartição foi responsável pela criação de infra-estruturas e pela
propaganda da Costa do Sol, procurando tornar o Estoril numa área de veraneio
priviligiada. Mais tarde, com a revelação da aparição da Virgem Maria aos pastorinhos,
em 1917, Fátima passou a ser um lugar de culto, levando muitos peregrinos a
deslocarem-se a Portugal para visitarem este local. Devido a estes factos, estes dois
locais tornaram-se nos mais importantes pontos turísticos do país.
A forma algo casuística com que inicialmente se constrói o programa de
aproveitamento turístico do país seria reflexo das convulsões político-sociais de uma I
República sem um destino ainda bem defenido. A evolução do conflito mundial e o
consequente envolvimento de Portugal, apostado em garantir a sua soberania sobre o
território colonial, seria um primeiro indício do panorama pouco favorável que a
Repartição de Turismo viria a enfrentar até à década de 40. (Lobo, 2006 p. 12)
Devido aos acontecimentos não só a nível político, mas também social que se
desenvolveram no inicio do seculo XX, não foi criado um programa de acção no
âmbito do turismo, o que levou a que esta área se desenvolvesse “ao sabor de
interesses particulares e de uma ingênua política de propaganda turística, que se
refugiou, sem quaisquer condições para competir com o que se apresentava lá fora,
no património monumental e artístico.” (Lobo, 2006 p. 12) Em 1920, a Repartição de
Turismo perde a automia ficando subordinada à Administração-Geral das Estradas,
sendo substituído o Conselho de Turismo por Conselho de Administração de Estradas
e Turismo. Mais tarde, em 1929, já sob o domínio do Ministério do Interior, o Concelho
Nacional de Turismo é reestabelecido, passando a Repartição do Turismo a designarse de “Jogos e Turismo”,
Esta medida deu um novo fôlego à promoção turística em Portugal, de tal forma que,
ao longo da década seguinte, proliferaram diferentes serviços oficiais e privados
ligados ao universo do turismo, sem que houvesse uma clara delimitação de
competências. A promiscuidade contraproducente que se gerou, com a realização de
acções paralelas e desconcertadas, pôs em causa a primazia daquele órgão e a
Elsa Maria Alves Almeida
18
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
realização de um plano de turismo coeso e eficaz que pudesse vir a guiar iniciativas
futuras. (Lobo, 2006 p. 13)
Em 1936, os Órgãos Locais do Turismo1 são integrados nas autarquias de forma a
ficarem subjudados ao poder central deixando assim de ser gerenciados pelas
entidades privadas, esta medida é apresentada pela nova Constituição de forma a
introduzir uma nova racionalização de meios.
Tal posição de força, por parte do novo governo centralizador e autoritário que se tinha
vindo a consolidar, desde 1933, em torno da figura de Oliveira Salazar2, não deixou de
causar algum desagrado no meio ligado ao sector, já descontente com a inoperância e
o desinteresse de um Ministério do Interior assoberbado por questões “menores” de
ordem política. (Lobo, 2006 p. 13)
No seguimento das ideias analisadas, no I Congresso Nacional de Turismo realizado
em 1936, referentes à situação da indústria do turismo em Portugal, é exigida a
organização do turismo nacional por parte do Estado, pelo facto de, esta área ser
importante para o crescimento da economia do país, segundo o relatório apresentado
na altura pelo Banco de Portugal. Foram também propostas várias medidas que
visavam a concepção de “um organismo único central e directivo, de caractér
administrativo e técnico com os máximos poderes e autonomia e dispondo das
dotações orçamentais necessárias para poder realizar obra eficiente”. (Lobo, 2006 p.
13) Todas estas ideias geradas pelo congresso acabaram por não se realizar devido
ao início da Guerra Civil Espanhola, resultando num período de estagnação desta
indústria em Portugal.
O crescente alheamento do Ministério do Interior pelas questões do turismo que
estatuariamente lhe competiam, preocupado que estava em reprimir qualquer tentativa
de revolta política influenciada pelos acontecimentos do país vizinho e em apoiar, ainda
que discretamente, a fracção nacionalista de Franco […], abriu caminho para que o
então director do Secretariado de Propaganda Nacional3, Antonio Ferro4, conseguisse
que, a 31 de Dezembro de 1939, a tutela do turismo transitasse para este organismo.
(Lobo, 2006 p. 13)
1
Os Órgãos Locais de Turismo foram criados pela Sociedade Propagande de Portugal, com o objectivo
de defender e difundir os valores turísticos e os interesses das distintas províncias portuguesas
2
António de Oliveira Salazar (1889 – 1970) estadista português, nasceu em Santa Comba Dão. Chefiou
vários ministérios, e foi presidente do Concelho de Ministros entre 1933 e 1968. Foi também professor
catedrático na Universidade de Coimbra.
3
O Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) foi criado em 1934, pelo governo de Oliveira Salazar,
com o objectivo de difundir os ideais nacionalistas e padronizar as artes e a cultura do regime do Estado
Novo.
4
António Joaquim Tavares Ferro (1895 – 1956) jornalista, escritor e político português, nasceu em
Lisboa. Dirigiu o Secretariado de Propaganda Nacional.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Apesar de no início do século XX, a indústria do turismo ser controlada pela imagem
dos “Palace Hotel”, a partir de 1930, estas estruturas entram em declínio devido a dois
factores, o primeiro está associado a uma nova filosofia de vida instaurada na
sociedade daquela época, caracterizada através do gosto pelo desporto e por
actividades mais ligadas à natureza e ao ar livre, correspondendo assim a uma nova
moda de praia e campismo. A segunda está relacionada com o facto de a indústria
farmacêutica se encontrar numa fase de crescimento, levando assim a que o papel
das instâncias termais, associadas aos “Palace Hotel”, perdesse a sua importância.
Ainda que se assista a diversas tentativas de revitalização dessas estruturas, com a
construção de piscinas, campos de ténis e ringues de patinagem, a regulamentação,
em 1927, das zonas de jogos permanentes e temporários nos principais centros
balneares da época, como o Estoril, Espinho e Figueira da Foz, determinaria a
definitiva inversão de posições dos dois tipos clássicos de estâncias turísticas. Esta
mudança de paradigma, a par da crescente difusão do fenómeno turístico, conduziu ao
declínio das antigas estâncias termais e, com elas, dos principais hóteis “Palace”
portugueses. (Lobo, 2006 p. 22)
No sentido de criar um novo conceito de hotel, é lançado um concurso pela revista
“Notícias Iustrado” em 1933, designado de Hotel Modelo, que petende promover uma
abordagem distinta ao turismo em Portugal, dando inicío ao novo conceito de
pousada. O programa deste concurso é elaborado pelo arquitecto Raul Lino5, e visa a
criação de “grandes pousadas familiares, muito confortáveis, mas destituídas de todo
o falso luxo e sem a pretensão de imitar caricatamente os hóteis urbanos de
categoria.” (Lobo, 2006 p. 22) O objectivo seria o de criar vários modelos, cada um
com as suas características específicas, resultantes das particularidades da região
onde iram pertencer.
Mais do que definir um tipo único extensível a todo o território, pretendia-se associar as
novas estruturas hoteleiras a uma expressão regional que veiculasse, tanto a nível
formal como da própria vivência dos edifícios, um regresso a valores tradicionais da
cultura portuguesa. (Lobo, 2006 p. 22)
Pelo facto de ser Raúl Lino a realizar este programa, existe uma semelhança entre
este concurso e o ensaio teórico realizado por este autor, no objectivo que têm em
comum de tipificar a arquitectura portuguesa. Este ensaio denominado “Casas
Portuguesas – Alguns Apontamentos Sobre o Arquitectar de Casas Simples”, o autor
mantém um discurso ligado aos seus princípios nacionalistas, fazendo uma crítica à
5
Raúl Lino da Silva (1879 - 1974) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Estudou na Inglaterra e
Alemanha. Em 1989 regressa a Portugal, onde conclui os seus estudos. Trabalhou no Ministério das
Obras Públicas e foi um dos membros fundadores da Academia Nacional de Belas Artes.
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20
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
arquitectura daquela época. Neste ensaio Lino expõe também, os critérios que para
ele, eram essências ter em conta na criação de qualquer projecto de arquitectura.
Lino fixava neste trabalho os parâmetros pelos quais se deveria reger qualquer obra de
arquitectura, e a habitação em particular – Economia, Entre a Economia e a Beleza, e
Beleza. Simultaneamente, criticava e alertava para a crescente descaracterização da
arquitectura, resultado de “um internacionalismo sem limites”, contrapondo “o respeito
pelas condições sociais do país em que se vive, e, implicitamente, pela tradição”
objectivado, no final do livro, no estudo de vários tipos de “casas portuguesas”. (Lobo,
2006 p. 24)
As propostas dos oito arquitectos convidados a participar neste concurso, estariam por
isso condicionadas pelo ensaio, acabando por resultar em versões dos exemplos
utilizados no mesmo, mas alteradas às diferentes funções e necessidades do
programa.
Publicadas em Setembro, estas seriam objecto de uma inovadora exposição itinerante
que, com o apoio da CP, percorreu as principais cidades e vilas do país num vagão
preparado para o efeito. “Ponto de partida para agitar o estudo duma necessidade
inadiável – o hotel provinciano, a exposição do Hotel Modelo, inaugurada a 11 de
Outubro na estação do Rossio, lançava permissas para uma nova filosofia hoteleira,
numa acção propaganda sem precedentes. (Lobo, 2006 p. 24)
Ilustração 1 - Proposta de Manuel Marques, Minho (Lobo, 2006,
p.23)
Ilustração 2 - Proposta de Adelino Nunes, Douro (Lobo, 2006,
p.23)
Ilustração 3 - Proposta de Raul Tojal, Trás-os-Montes (Lobo,
2006, p.23)
Ilustração 4 - Proposta de Luís Benavente, Beira Alta (Lobo,
2006, p.23)
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21
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 5 - Proposta de António Lino, Beira Baixa (Lobo, 2006,
p.23)
Ilustração 6 - Proposta de Ernesto Korrodi, Estremadura (Lobo,
2006, p.23)
Ilustração 7 - Proposta de Jorge Segurado, Alentejo (Lobo, 2006,
p.23)
Ilustração 8 - Proposta Faria da Costa, Algarve (Lobo, 2006,
p.23)
Como já foi referido anteriormente, no I Congresso Nacional de Turismo foram
debatidas questões referentes à ordem institucional, e apresentadas propostas de
revitalização para esta indústria. Uma das propostas foi a de Francisco de Lima, onde
apresenta o estudo para um novo modelo turístico, que designa como Pouzada,
destinado a um maior número de pessoas, incluindo as que têm menos possibilidades,
conseguindo assim que exista “uma aproximação a um leque de público mais vasto e
a uma dimensão regional até então relegada para segundo plano.” (Lobo, 2006 p. 26)
Uma das referências utilizadas pelo autor para este novo conceito foram os
Paradores6, no sentido de serem “aproveitadas construções antigas para a utilização
das pouzadas, desde que oferecessem condições de adaptabilidade às exigências
actuais de conforto e de vida, sem lhes tirar o seu cunho ou as deformar.“ (Lobo, 2006
p. 26)
O programa proposto pelo autor procura um ajuste em termos de escala às reais
necessidades das pequenas terras da província, com um carácter de passagem, em
6
Os Paradores são hotéis de elevada qualidade, situados em Espanha. Existem desde1928, e na sua
maioria edifícios históricos reabilitados, situados em centros históricos ou em áreas classificadas.
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22
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
que o número de quartos poderia variar entre ou quatro e os dez, sendo que o mais
importante neste novo conceito seria o “conforto sóbrio e económico, traduzido num
ambiente simples, de contornos vincadamente regionais e, por isso, de cunho
nacional.” (Lobo, 2006 p. 26)
Este novo conceito proposto por Francisco de Lima adequa-se à abordagem
regionalista que o concurso do “Hotel Modelo” apresentou, sendo por isso um exemplo
em determinadas questões como a localização e o tipo de construção, acabando até
por se tornar numa versão mais reduzida dos modelos apresentados neste concurso.
Pelo rigor e exaustão que apresenta, a tese de Francisco de Lima revelar-se-ia um
instrumento fundamental e concreto da política de turismo que o SPN iria desenvolver a
partir da década de 1940. Enquadrado na feição regionalista que António Ferro tinha
vindo a explorar desde 1934, e que encontra o seu auge em iniciativas como a
Exposição de Arte Popular (1936) e o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal
(1938), este projecto das Pouzadas vai ganhar um sentido e dimensão dentro de um
vasto programa de intervenções que as Comemorações dos Centenários vão
impulsionar. (Lobo, 2006 p. 26)
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
24
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
2.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POUSADAS DE PORTUGAL
2.2.1. AS POUSADAS REGIONAIS
PRIMEIRA FASE (1942-1948)
“[…] Ora as nossas Pousadas, que não possuem, sem dúvida, o número de quartos
suficientes para satisfazer certas necessidadas locais, foram construídas e arranjadas
com o intuito principal de servir de modelo a esta nova orientação da indústria hoteleira
em Portugal, maquetas animadas, espalhadas pelo país onde se tornará fácil colher
ensinamentos. Procurou-se, portanto, que estes pequenos hóteis não se parecessem
com hóteis. Se o hóspede ao entrar numa destas pousadas tiver a impressão de que
não entrou num estabelecimento hoteleiro onde passará a ser conhecido pelo número
do seu quarto, mas na sua própria casa de campo […], teremos obtido o que
desejávamos.” (Lobo, 2006 p. 39)
A contrução das primeiras pousadas é anunciada em 1939, no seguimento das
comemorações do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal, através
do “Plano de Revitalizações do Duplo Centenário”. Nesta primeira fase, os projectos,
foram entregues aos arquitectos Miguel Jacobetty7 com as pousadas de Elvas, São
Brás de Alportel e Santiago do Cacém, a Rogério de Azevedo8 com as pousadas de
Marão, Serém e Manteigas, e por fim, a Veloso Reis Camelo9 com a pousada de
Alfeizerão. A implantação das pousadas de Elvas, Marão e Serém, resultam da ideia
de dividir o país, intervindo em regiões do Norte, Centro e Sul, com o objectivo de criar
uma rede de ligações que ocupasse todo o território nacional. As outras pousadas
deste grupo localizam-se, igualmente, em pontos especifícos de itinerários importantes
de forma a puderem não só, dar uma maior abrangência a esta rede, como também
servir como espaços de descanso destes longos percursos. Esta estratégia
possibilitava também o enquadramento destas intalações em diferentes panoramas,
respondendo assim “a necessidades específicas do país, actuando objectivamente
sobre o território e, com ele, construindo uma estrutura coerente e racional.” (Lobo,
2006 p. 44)
Projecto de turismo inovador nos termos em que pensa uma estratégia de intervenção
à escala do território nacional, elegendo e promovendo diferentes pontos de interesse
tuísticos e dotando-os de modernas estruturas hoteleiras, as pousadas vão saber
explorar e estabelecer uma importante rede de relações territoriais. (Lobo, 2006 p. 44)
7
Miguel Simões Jacobetty Rosa (1901 – 1970) arquitecto português, nasceu em Alcobaça. Obteve o
diploma, com distinção, pela Escola Superior de belas Artes de Lisboa.
8
Rogério dos Santos Azevedo (1989 – 1983) arquitecto português, nasceu e no Porto. Frequentou o
curso de Arquitectura, entre 1920 e 1926, na Escola de Belas Artesdo Porto.
9
António Maria Veloso dos Reis Camelo (1899 – 1985) arquitecto português. A sua obre é
caracterizada pelo estilo do Estado Novo. Ganhou o Prémio Valmor em 1942 e 1945.
Elsa Maria Alves Almeida
25
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 9 - Plantas da pousada de Sta. Luzia, Elvas. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47)
Ilustração 10 - Plantas da pousada de S. Gonçalo, Marão. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47)
Ilustração 11 - Plantas da pousada de Sto. António, Serém. Inaugurada em 1942 (Lobo, 2006, p. 47)
Elsa Maria Alves Almeida
26
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
O conceito destas novas instalações turísticas é muito semelhante à ideia promovida
no concurso do “Hotel Modelo” e defendida na tese de Francisco de Lima, tendo sido
adaptado apenas ao programa e à escala real. Estas propostas estariam
condicionadas em termos formais pelas características, materiais e técnicas
construtivas utilizados na região onde está localizada a pousada de forma a preservar,
nestas intervenções, a “tradição construtiva” e o “espírito de lugar”.
Estas abordagens são caracterizadas “por subtis enquadramentos de sabor rústico,
agenciados pelos artistas do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), sobre
idílicas interpretações de uma vivência rural que se prestava ao imaginário
nacionalista e conservador do Regime.” (Lobo, 2006 p. 45). Apesar do programa se
traduzir num “regionalismo superficial e folclórico”, as propostas reflectem uma
expressão modernista através do desenho.
Volumes puros, cilíndricos e prismáticos, das obras de Jacobetty Rosa (Elvas, São
Brás de Alportel, Santiago do Cacém), trabalhados com beirais, arcadas, pérolas e
azuleijaria; ou o dinamismo volumétrico das obras de Rogério de Azevedo (Marão,
Serém,Serra da Estrela), revestidas de seguida com o pesado granito, rematado pelas
densas coberturas em telha, com alpendres, portadas e chaminés. (Lobo, 2006 p. 45)
As pousadas do Marão e Elvas acabam por ser uma referência para os projectos
posteriores, apesar de ser a pousada do Serém a constituir um novo modelo
tipológico, que será utilizado nas restantes pousadas desta fase. Estes três projectos
são, por isso, os mais importantes e decicivos na definição da estratégia utilizada
nesta primeira fase.
Propostas formalmente diversas e algumas de grande riqueza conceptual, é a partir de
temas como a escala doméstica dos edifícios (que traduz o caractér familiar destas
construções), a distribuição programática dos pisos (solução funcional que resulta da
simplicidade do programa e da articulação dos edifícios com o terreno), e a sala de
jantar panorâmica (que combina os prazeres da vista com os prazeres gastronómicos e
reforça o sentido de passagem destas unidades), que este conjunto se vai caracterizar.
Tópicos permanentes nesta primeira série, revelam-nos a centralidade das soluções de
Rogério de Azevedo na definição das pousadas oficiais, começando pelo gesto
inaugural do Marão, que depois se estabiliza tipologicamente no Serém e se depura na
simplicidade de Manteigas. (Lobo, 2006 p. 50)
Elsa Maria Alves Almeida
27
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 12 - Plantas da pousada de S. Martinho, Alfeizerão. Inaugurada em 1943 (Lobo, 2006, p. 48)
Ilustração 13 - Plantas da pousada de S. Brás, São Brás de Alportel. Inaugurada em 1944 (Lobo, 2006, p. 48)
Ilustração 14 - Plantas da pousada de S. Tiago, Santiago do Cacém. Inaugurada em 1945 (Lobo, 2006, p. 48)
Ilustração 15 - Planta da pousada de S. Lourenço. Inaugurada em 1948 (Lobo, 2006, p.48)
Elsa Maria Alves Almeida
28
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
SEGUNDA FASE (1954-1987)
Em 1954, é iniciada outra fase de construção das pousadas regionais, segundo um
novo formato, que iria repensar a estratégia utilizada na primeira fase, passando agora
a ser definidas como espaços de permanência, contrariamente às primeiras. Na
elaboração destes projectos, é solicitada a participação de arquitectos em início de
carreira, com o objectivo de explorar novas possibilidades no âmbito deste conceito.
Ao contrário das primeiras, pensadas, essencialmente, enquanto escalas de passagem
nos principais itinerários nacionais, tratava-se agora de trabalhar as naturais
assimetrias do território, promovendo espaços de permanência que sedimentassem um
turismo de carácter local. (Lobo, 2006 p. 74)
Assim surgem quinze novas propostas, sob o comando da DGEMN, sendo
acrescentadas mais duas a este grupo, posteriormente, segundo um novo plano que
visava complementar o já existente, da responsabilidade do Organismo Oficial do
Turismo. Nesta fase o programa é alterado, de forma a dar uma nova imagem a esta
série de pousadas, sendo as características que as definem diferentes, pois agora o
objectivo é que estas, sejam espaços de permanência e não de passagem, como
eram na primeira fase. Por este motivo, o número de quartos é maior e estes passam
a ter casas de banho privativas, e a principal particularidade que as distingue das
primeiras, é a existência de uma “sala de estar”. Estas mudanças no conteúdo
programático conferem, também, a possibilidade de criar novos formatos de
organização dos espaços. Algumas das propostas pertencentes a esta fase de
construção, revelam alguns problemas, não só pelo carácter moderno que
apresentam, opondo-se às ideias do Regime, mas também por representarem uma
linha de reflexão por parte dos arquitectos, onde divulgam “um processo de procura de
referências locais, de contextualização que daria lugar a explorações organicistas e
regionalistas críticas”. (Lobo, 2006 p. 82) Os projectos mais polémicos são a pousada
da Portela da Gardunha, Vilar Formoso, S. Bartolomeu da autoria de José Carlos
Loureiro10 e Pádua Ramos11, S.Teotónio com o projecto de João Andersen12, e Santa
10
José Carlos Loureiro (1925) arquitecto português, nasceu na Covilhã. Licenciado em arquitectura pela
Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde, mais tarde, foi professor.
11
Luís Duarte Pádua Ramos (1931 – 2005) arquitecto e professor português, nasceu em Lourenço
Marques. Fez o ensino primário em moçambique. Em 1945 veio para Portugal onde concluio o liceu e,
mais tarde, frequentou o curso de arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto.
12
João Henrique de Mello Breyner Andresen (1920 – 1967) arquitecto português, nasceu no Porto.
Entre 1939 e 1948 frequentou o curso de Arquitectura na Escola de Belas Artes do Porto.
Elsa Maria Alves Almeida
29
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Bárbara com a intervenção de Manuel Tainha13. Devido aos problemas levantados por
estas propostas, apenas três das cinco pousadas foram construídas, sendo que as
que foram sofreram várias modificações. Estes projectos propunham não só introduzir
conceitos modernos, característicos da arquitectura da época, mas principalmente a
integração de cada projecto ao local de implantação, através da utilização de materiais
e processos da construção vernecular.
Propostas de irredutível qualidade, que propõem uma interpretação culta e sensível
dos valores preexistentes, respondendo com extrema lucidez e rigor às questões de
contexto e de integração no território, na procura da melhor relação entre obra e sítio, e
valorizando o ambiente em que se inserem, não conseguem, no entanto, esconder o
seu indiscutível carácter moderno, por mais que explorem conotações com a
arquitectura espontânea local ou arquétipos da construção tradiocional. (Lobo, 2006 p.
84)
Ilustração 16 - Pantas da pousada de S. Bartolomeu, Bragança. Inaugurada em 1959 (Lobo, 2006, p. 89)
Ilustração 17 - Plantas da pousada de S. Teotónio, Valença do Minho. Inaugurada em 1963 (Lobo, 2006, p. 89)
Ilustração 18 - Plantas da pousada de Santa Bárbara, Póvoa das Quartas. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 89)
13
Manuel Tainha (1922 – 2012) arquitecto e professor português, nasceu em Paço de Arcos. Formado
pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Foi uma figura importante, pelo papel que desempenho na
renovação da forma de fazer e pensar a arquitectura.
Elsa Maria Alves Almeida
30
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Num contexto diferente, longe da polémica levantada em torno dos projectos citados
anteriormente, encontram-se as pousadas de S. Gens da autoria de Leonardo Castro
Freire14, pousada de S. Jerónimo com o projecto de Alberto Cruz15, e a pousada da
Senhora das Neves com a intervenção de Cristiano Moreira16. Estas propostas
procuram retractar “os contextos geográficos e culturais em que se inserem,
enquadrando-se, por isso, em campos formais tão opostos quanto os estereótipos de
“monte alentejano” e de “abrigo de montanha””. (Lobo, 2006 p. 88) Apesar de serem
propostas menos aliciantes do que os anteriores, também contribuíram para um novo
período da arquitectura em Portugal, promovendo a valorização de uma “cultura de
lugar” e fazendo uma crítica aos ideais absolutistas do movimento moderno.
Ilustração 19 - Plantas da pousada de S. Gens, Serpa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 90)
Ilustração 20 - Plantas da pousada de S. Jerónimo, Caramulo. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 90)
Ilustração 21 - Plantas da pousada da Senhora das Neves, Almeida. Inaugurada em 1987 (Lobo, 2006, p. 90)
14
Leonardo Rey Colaço Castro Freire (1917 – 1970) arquitecto português. Ganhou o Prémio Valmor em
1970.
15
Alberto Manuel Barbosa Pereira da Cruz (1920 – 1990) arquitecto português. Formou-se na Escola
de Belas Artes do Porto, que frequentou de 1936 a 1946.
16
Cristiano Moreira (1931 – 2012) arquitecto e professor português. Licenciado em arquitectura pela
Escola de Belas Artes do Porto em 1961, onde, mais tarde, foi professor.
Elsa Maria Alves Almeida
31
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Este grupo de pousadas regionais subdivide-se em mais duas categorias, as
“pousadas em barragens” e a série “Beira-mar”, sendo estas resultado da ideia de
“associar estes edifícios a uma nova componente marítima e fluvial, que
simultaneamente, explorasse os recursos turísticos naturais da nossa costa e se
aliasse ao processo de aproveitamento hidráulico desencadeado pelo Plano do
Fomento17. (Lobo, 2006 p. 74)
O grupo das “pousadas em barragens” é então composto pela pousada de S. Pedro, a
primeira deste grupo, seguindo-se as pousadas de Santa Catarina da autoria de
Leonardo Castro Freire, pousada de S. Bento com o projecto de Eduardo Coimbra
Brito18, pousada de Santa Clara, e mais tarde, segundo o plano de 1966, é construída
a última pousada deste grupo, a de Vale do Gaio, sendo as duas últimas da autoria de
Raul Chorão Ramalho19. Estas propostas surgiram da adaptação de casas
preexistentes, construídas para albergar os engenheiros que participavam nas obras
das barragens que estavam a ser construídas em alguns pontos do país.
Desfrutando de panoramas únicos, criados no confronto entre a vontade
transformadora do homem e a força natural da paisagem, os edifícios existentes
adaptam-se facilmente á nova função, pela proximidade ao espírito e ao programa que
se estipulara para este tipo de intalações turísticas. Soluções trabalhadas a partir de
“casas”, vão dar, assim, continuidade às propostas do grupo anterior, embora
introduzindo outra complexidade porque em resposta a uma diferente circunstância
programática, determinada por um nova orientação da política de turismo. (Lobo, 2006)
Ilustração 22 - Planta da pousada de S. Pedro, Castelo de Bode. Inaugurada em 1954 (Lobo, 2006, p. 75)
17
Os vários Planos do Fomento que existiram tinham como principal objectivo, aumentar a produtividade,
criar emprego, melhorar a balança comercial, conseguindo assim um melhor nível de vida à população.
Os sectores afectados por este programa seriam os dos transportes e comunicações, electricidade e
agricultura.
18
Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor.
19
Raúl Chorão Ramalho (1914 – 2002) arquitecto português, nasceu no Fundão. Iniciou o curso de
Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, transferindo-se em 1941, para a Escola de Belas Artes
do Porto, onde concluío a licenciatura, em 1947
Elsa Maria Alves Almeida
32
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 23 - Planta da pousada de Santa Catarina, Miranda do Douro. Inaugurada em 1962 (Lobo, 2006, p. 75)
Ilustração 24 - Plantas da pousada de S. Bento, Caniçada. Inaugurada em 1968 (Lobo, 2006, p. 75)
Ilustração 25 - Plantas da pousada de Santa Clara, Santa Clara-a-Velha. Inaugurada em 1971 (Lobo, 2006, p. 75)
Ilustração 26 - Planta da pousada de Vale do Gaio, Torrão. Inaugurada em 1977 (Lobo, 2006, p. 75)
Elsa Maria Alves Almeida
33
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Na série “Beira-Mar” os pressupostos são diferentes, sendo que neste grupo é
perceptível a intenção de complementar a rede já existente, criada com as primeiras
pousadas, tendo sido estabelecido através dessas propostas uma ligação aos
principais percursos presentes em Portugal. Estes projectos dão um novo significado
ao itinerário que liga o Norte e o Sul do país, através da localização destas pousadas
em pontos específicos com elevado interesse para o turismo. Os quatro projectos
pertencentes a este grupo são a pousada da Nazaré, da Arrábida, do Infante com o
projecto de Jorge Segurado20, e, por fim, a pousada da Ria da autoria de Alberto Cruz.
Este grupo apresentou alguns problemas na sua concretização, levando a que as
pousadas da Nazaré e da Arrábida não fossem contruídas, ficando apenas em anteprojecto. Apesar das ciscunstâncias não serem favoráveis, a DGEMN decide avançar
com a construção das outras duas pousadas, sendo ambas inauguradas em 1960.
Destes dois projectos destaca-se a pousada da Ria, pelo facto de representar uma
nova metodologia de trabalho que revela uma adequação “à mais correcta utilização
dos materiais tradicionais, em clara e orgânica integração com a linguagem da
arquitectura moderna, do betão aparente, dos amplos espaços rectilíneos em consola
e dos generosos envidraçados sobre a paisagem.” (Lobo, 2006 p. 81)
Ilustração 27 - Plantas da pousada do Infante, Sagres. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79)
Ilustração 28 - Plantas da pousada da Ria, Murtosa. Inaugurada em 1960 (Lobo, 2006, p. 79)
20
Jorge de Almeida Segurado (1898 – 1990) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Em 1913 iniciou
o curso preparatório da Escola de Belas Artes de Lisboa e, em 1918, increveu-se no curso especial de
arquitectura, que concluío em 1924.
Elsa Maria Alves Almeida
34
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Nesta última fase das pousadas regionais, é realizada a última pousada de raíz, sendo
que a partir deste período, as pousadas passam a ser instaladas em edifícios com
valor patrimonial ou integradas em sítios históricos, dando início a uma nova etapa na
história das pousadas de Portugal.
Ilustração 29 - Pousadas regionais, primeira fase (Lobo, 2006, p. 46 e 49)21
21
Consultar Apêndice A.
Elsa Maria Alves Almeida
35
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 30 - Pousadas regionais, segunda fase (Lobo, 2006, p. 71)22
Ilustração 31 - Pousadas regionais, segunda fase, grupo das "pousadas em Barragens" (Lobo, 2006, p. 71)23
Ilustração 32 - Pousadas regionais, segunda fase, série "Beira-Mar" (Lobo, 2006, p. 7124)
22
Consultar Apêndice A.
Consultar Apêndice A.
24
Consultar Apêndice A.
23
Elsa Maria Alves Almeida
36
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
2.2.2. AS POUSADAS E O PATRIMÓNIO
POUSADAS EM MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS (1950-1994)
Paralelo ao ciclo de pousadas de raiz, a DGEMN tinha vindo a concretizar, desde os
anos 50, uma série de “adaptações a pousada” de monumentos históricos restaurados
no âmbito do programa de obras públicas do Estado Novo. […] a intalação de
pousadas em “estruturas monumentais - castelos, fortalezas ou conventos“ surge
claramente subordinada à ideologia evocativa “do monumento como “obra-simbólica”
da Nação”, privilegiando-se a integridade física e espiritual do edifício à sua
“detorpação” por razões de ordem funcional.” (Lobo, 2006 p. 115)
As primeiras experiências, neste âmbito da adaptação de edifícios históricos, resultam
da necessidade de dar uma nova utilidade a imóveis restaurados pela DGEMN,
acabando, assim, por não existir um plano estratégico resultando em projectos
dispersos no espaço e no tempo. Devido a este facto, estas intervenções
caracterizam-se pelo restauro integral do edíficio, onde apenas o espaço interior é
alterado, nomeadamente a decoração e o mobiliário, procurando qualificar a
ambiência dos mesmos.
São trabalhos que, dada a situação de urgência das intervenções, incidem sobretudo
em obras de consolidação e reconstituição dos imóveis, entendidas mais como
“”harmonizar” (não reconstituir), nas suas linhas gerais, o aspecto do monumento com
aquele que o devia afirmar nos tempos […] da sua maior fortuna”, sem se abalançar à
inglória tarefa de reedificar – por falta de elementos idóneos e talvez de boa razão
histórica – os edifícios subvertidos hádois séculos, nem tão pouco ao inútil vigor de
demolir outros, de recente construção”. (Lobo, 2006 p. 116)
O primeiro grupo referente à construção de “pousadas em monumentos históricos”, é
composto pelas pousadas do Castelo e dos Lóios da autoria de João Filipe Vaz
Martins25, pela pousada de S. João Baptista, S. Filipe, e Rainha Santa Isabel com o
projecto de Rui Ângelo Couto26, e a pousada de Santiago com a intervenção de Luís
dos Santos Castro Lobo27.
As duas primeiras pousadas deste grupo, […] resultam de uma decisão tomada depois
das obras de restauro, enquanto que nas restantes a adaptação é assumida como um
dado à partida e, de alguma forma, determinante para a orientação dos trabalhos, […]
ainda que, em ambos os casos, a instalação das unidades hoteleiras se reduza, quase
25
João Filipe Vaz Martins (1910 - ) arquitecto português, nasceu em Mirandela. Estudou na Escola
Superior de Belas Artes do Porto, entre 1928 e 1936.
26
Rui Ângelo Couto (1954 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola Superior
de Belas Artes de Lisboa.
27
Luís dos Santos Castro Lobo (1929 - ) arquitecto português, nasceu em Évora. Formado pela Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa.
Elsa Maria Alves Almeida
37
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
sempre, a um mero exercício de compartimentação e organização racional dos
espaços resultantes da recuperação dos edifícios.” (Lobo, 2006 p. 116)
Ilustração 33 - Plantas do restauro da DGEMN, Óbidos (Lobo, 2006, p. 117)
Ilustração 34 - Plantas da pousada do Castelo, Óbidos. Inaugurada em 1950 (Lobo, 2006, p. 117)
Ilustração 35 - Planta do restauro da DEGMN, Ilha da Berlenga (Lobo, 2006, p. 117)
Ilustração 36 - Plantas da pousada de S. João Baptista, Ilha da Berlenga. Inaugurada em 1953 (Lobo, 2006, p. 117)
Elsa Maria Alves Almeida
38
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 37 - Plantas do resturo da DEGMN, Évora (Lobo, 2006, p. 118)
Ilustração 38 - Plantas da pousada dos Lóios, Évora. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 118)
Ilustração 39 - Plantas da pousada de S. Filipe, Setúbal. Inaugurada em 1965 (Lobo, 2006, p. 117)
Elsa Maria Alves Almeida
39
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 40 - Plantas do restauro da DGEMN, Estremoz (Lobo, 2006, p. 117)
Ilustração 41 - Plantas da pousada Rainha Santa Isabel, Estremoz. Inaugurada em 1970 (Lobo, 2006, p. 117)
Ilustração 42 - Planta do restauro da DGEMN, Palmela (Lobo, 2006, p. 118)
Ilustração 43 - Plantas da pousada de Santiago, Palmela. Inaugurada em 1979 (Lobo, 2006, p. 118)
Elsa Maria Alves Almeida
40
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Estes seis projectos resultam da reconversão de edifícios fortificados e antigos
conventos. Das duas tipologias referidas a mais complexa na adaptação ao novo
conteúdo programático é a primeira, pelo facto de existir “uma maior “confusão” […] na
definição dos acessos verticais e dos esquemas de distribuição ou na própria
delimitação entre zonas comuns e espaços privados […].” (Lobo, 2006 p. 116) Nos
antigos conventos esta organização espacial é mais clara, pois é regida por uma
metodologia, resultando “de uma forma quase linear, da lógica conventual, onde, por
analogia de funções, a antiga portaria é transformada em entrada, o clautro em espaço
de distribuição, a sala do capítulo em espaço de estar, o refeitório em sala de jantar, e,
naturalmente, as celas em quartos de hóspedes.” (Lobo, 2006 p. 116) Deste grupo,
destacam-se a pousada do Castelo e dos Lóios. A primeira pela definição de um novo
conceito na classificação de monumento nacional, através da atribuição desta
protecção não só ao castelo mas também à vila histórica onde está implantado,
passando assim a ser “ um todo a recuperar e a preservar”. (Lobo, 2006 p. 119) A
segunda, pelo método de intervenção utilizado, sendo perceptível a distinção entre o
que é preexistência e o que é construído posteriormente, possibilitando a percepção
dos materiais e técnicas modernas, tendo em conta a não interferência deste processo
no carácter da preexistência. Estas duas obras reflectem conceitos que no futuro iriam
ser fortalecidos através da Carta de Veneza28, no âmbito da intervenção e
classificação do património.
A Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios,
também designado por Carta de Veneza, iria abrir caminho a uma nova discussão
sobre as questões relativas ao património, acabando por se reflectir também nas
porteriores intervenções da DGEMN, nomeadamente em duas intervenções simbólicas
da arquitectura do séc. XX, a pousada de D. Dinis da autoria de Alcino Soutinho 29, e a
pousada de Santa Marinha da Costa com a intervenção de Fernando Távora 30. Estas
pousadas distinguem-se por serem exemplos no modo como “interpretam e promovem
uma nova “relação com o tempo e a história, o saber e a arte”, são também sinal da
progressiva expansão do “culto” do património histórico e de uma diferente política
cultural do estado. (Lobo, 2006 p. 120)
28
A Carta de Veneza ou Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios,
foi aprovada em 1964, no II Congresso Internacional dos Arquitectos e e Técnicos dos Monumentos
Históricos, sendo posteriormente aprovado em em 1966 pelo Conselho Internacional de Monumentos e
Sítios (ICOMOS).
29
Alcino Peixoto de Castro Soutinho (1930 – 1913) arquitecto português, nasceu em Vila Nova de
Gaia. Formou-se em arquitectura, em 1957, na Escola Superior de Belas Artes do Porto onde viria, mais
tarde, a ser professor.
30
Consultar página 49.
Elsa Maria Alves Almeida
41
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 44 - Plantas da pousada de D. Dinis, Vila Nova de Cerveira. Inaugurada em 1982 (Lobo, 2006, p. 121)
Ilustração 45 - Plantas da pousada Santa Marinha da Costa, Guimarães. Inaugurada em 1985 (Lobo, 2006, p. 118)
Contemporânea “(d)aquilo a que poderemos chamar o projecto “moderno”, a “ideologia
do património” nasce de uma paradoxal nostalgia e necessidade de preservar um
passado com o qual, intrinsecamente, a modernidade procura romper. Da “escolha ou
eleição” deste passado, que, estatuariamente, “remete para uma fenomenologia e uma
estética”, resultaria o conceito de património cultural, investindo de sentido e significado
determinados objectos construídos. (Lobo, 2006 p. 122)
Elsa Maria Alves Almeida
42
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Os últimos projectos pertencentes ao grupo das “pousadas em monumentos” são, a
pousada do Alvito da autoria de Manuel Bagulho31, e a pousada de S. Francisco com o
projecto de E. Maia Rebelo32 e José Alves33. Estas pousadas já estão integradas no
plano de 1989, devido à semelhança nas posturas adoptadas e critérios utilizados nas
intervenções. O conjunto das “pousadas em centros históricos”, relativo também a esta
fase, é constituído pela pousada de Santa Maria da autoria de Alberto Cruz, pousada
de Nossa Senhora da Oliveira com o projecto de Alberto Bessa34, pousada Barão
Forrester com a intervenção de Fernando Ramalho35, e, por fim, a pousada Mestre
Afonso Domingues. Estes projectos resultam da reconversão de conjuntos
habitacionais localizados em centros históricos, contribuindo também, para um novo
contexto. O património cultural passa a ser encarado de outra forma, podendo agora
ser para usofruto de todos, acabando por alterar a política das pousadas oficiais,
focando-se somente em intervenções deste tipo.
Em resposta a esta nova orientação dos interesses da indústria do Turismo, mas
também à recente evolução da situação política nacional, em 1976 seria criada, sob a
tutela do Ministério do Comércio Externo, a ENATUR – Empresa Nacional de Turismo e
aprovados os seus estatutos. “Empresa pública, com autonomia administrativa e
financeira, […] à Enatur cabe “reestruturar, racionalizar e dinamizar a exploração dos
empreendimentos turísticos-hoteleiros sob a intervenção governamental”. (Lobo, 2006
p. 125)
No seguimento destes acontecimentos, as pousadas oficiais ficam distribuídas pela
DGEMN e ENATUR, sendo que posteriormente, devido à aprovação do Decreto-Lei
N.º207/84 de 25 de Junho de 1984, passa a ser apenas da responsabilidade da
ENATUR “colaborar na recuperação e aproveitamento para fins turísticos de
monumentos e outros edifícios de valor patrimonial, para além de “propor o
aproveitamento turístico de espaços disponíveis pertencentes ao Estado, por si ou
com a participação de iniciativa privada.”” (Lobo, 2006 p. 125)
31
Manuel Bagulho (1922 - ) arquitecto português, nasceu em Elvas. Formado pela Escola Superior de
Belas Artes de Lisboa.
32
Eduardo Maia Rebelo (1948 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa.
33
Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor.
34
Alberto da Silva Bessa (1911 – 1984) arquitecto português, nasceu em Vila Nova de Gaia. Terminou o
curso especial de Arquitectura Civil da Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1934.
35
Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
POUSADAS DE AUTOR (1995-1998)
Em 1989 é realizado um novo Plano Nacional de Pousadas e Turismo que remete a
dois pontos fundamentais, o de utilizar edifícios preexistentes e reconverte-los a
pousada de forma a difundir “uma recuperação significativa e exemplar do nosso
património cultural.” (Lobo, 2006 p. 125) O segundo ponto refere que as pousadas
devem estar situadas por todo o território nacional, tendo em conta “as necessidades
de cada uma das Regiões de Ordenamento Turístico e das Regiões Específicas de
Aproveitamento Turístico.” (Lobo, 2006 p. 125)
De acordo com as especificações
propostas neste plano, surge uma nova fase na evolução histórica das pousadas de
Portugal. Os projectos referentes a este plano, passam a ser encarados como
intervenções a longo prazo, tendo por isso que ser aprovados pelo IPPAR – Instituto
Português de Património Arquitectónico e Arquitectónico e Arqueológico, e a
fiscalização das respectivas obras teriam de ser geridas pela DGEMN.
Esta etapa de construção é também marcada por um novo debate sobre as temáticas
relativas ao património, iniciado pelas intervenções realizadas nas pousadas de D.
Dinis e Santa Marinha da Costa, mencionadas anteriormente, onde os respectivos
autores criaram novos conceitos e metodologias de trabalho que acabariam por
influenciar posteriores intervenções, no decorrer dos anos oitenta e noventa. Estes
projectos declaram também o retorno às pousadas de autor, pelo facto de, estas
intervenções contemplarem uma estratégia na adaptação e requalificação da
preexistência, resultando assim, numa arquitectura de maior qualidade.
Paradigma, ainda hoje, de uma concepção dinâmica e integrada do Património, a
intervenção de Fernando Távora, na Pousada de Sta. Marinha, sustentará posteriores
intervenções em monumentos históricos. Porque, mais do que seguir convenções e
princípios, passiveis de falência à luz de novos conceitos,o que se equaciona, em
Guimarães, é a própria relação da obra com a vida, esta intervenção é “produção de
património da sua época”, constituindo ela mesma doutrina. (Lobo, 2006 p. 142)
A peculiar atitude do arquitecto Fernando Távora, na adaptação do mosteiro Santa
Marinha da Costa, iria ter repercussão directa na actuação de outros autores, sendo a
sua intervenção uma referência importante em três projectos particulares, apelidados
de as “três filhas” de Santa Marinha, sendo estas a pousada Flor da Rosa da autoria
de João Luís Carrilho da Graça36, a pousada de Nossa Senhora da Assunção com o
36
Consultar página 64.
Elsa Maria Alves Almeida
44
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
projecto de José Paulo dos Santos37, e a pousada de Santa Maria do Bouro com a
intervenção de Eduardo Souto de Moura38. Devido à diferente postura e metodologia
de trabalho utilizadas nos projectos, Santa Marinha da Costa, Flor da Rosa e Santa
Maria do Bouro, estas intervenções são integradas como casos de estudo do presente
trabalho, sendo explicadas detalhadamente no capítulo seguinte.
Ilustração 46 - Plantas da pousada do Alvito, Alvito. Inaugurada em 1993 (Lobo, 2006, p. 121)
Ilustração 47 - Plantas da pousada de S. Francisco, Beja. Inaugurada em 1994 (Lobo, 2006, p. 121)
Posturas que definem diferentes estratégias projectuais, partem, no entanto, de um
idêntico entendimento do monumento como “organismo vivo”, aberto a “uma
reorientação da reafectação de uso e de restauro integrador”, a partir de uma lógica de
adequação tipológica que compreende, em paralelo, a adição de “construção nova”.
São, por isso, intervenções que aliam ao restauro crítico novos pressupostos
metodológicos, deixando “ao monumento, através do seu estudo, determinar a
intervenção possível, e eventualmente, ideal”. (Lobo, 2006 p. 145)
37
José Paulo dos Santos (1956 - ) arquitecto português, nasceu no Porto. Estudou arquitectura, em
Londres, no Royal Collage of Arts, entre 1975 e 1981.
38
Consultar página 80.
Elsa Maria Alves Almeida
45
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 48 - Plantas da pousada Flor da Rosa, Crato. Inaugurada em 1995 (Lobo, 2006, p. 147)
Ilustração 49 - Plantas da pousada de Nossa Senhora da Assunção, Arraiolos. Inaugurada em 1996 (Lobo, 2006, p. 147)
Ilustração 50 - Plantas da pousada Santa Maria do Bouro, Amares. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p. 147)
Elsa Maria Alves Almeida
46
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
As últimas intervenções deste plano que importam referir no âmbito das “pousadas de
autor” são a pousada D. João IV da autoria de João de Almeida39 e Pedro Ferreira
Pinto40, e a pousada D. Afonso II do arquitecto Diogo Lino Pimentel 41. Estas
adaptações realizadas em antigos mosteiros extintos propõem uma atitude diferente,
pois
definem
“”alterações
das
características
tipológicas
(dos)
monumentos
intervencionados”, ou então, “no seu afã de afirmação na nossa época, tantas vezes
retórica, neutraliza(ram) a preexistência, tomada como pano de fundo da nova
intervenção.” (Lobo, 2006 p. 150) Neste sentido, estas pousadas são o reflexo do que
não se deve fazer, quando se trata um edifício com valor histórico-cultural, pois este
tipo de intervenção não valoriza as características primordiais da preexistência
necessárias para a preservação da sua identidade.
Ilustração 51 - Plantas da pousada D. João IV, Vila Viçosa. Inaugurada em 1997 (Lobo, 2006, p.148)
Ilustração 52 - Plantas da pousada D. Afonso II, Alcácer do Sal. Inaugurada em 1998 (Lobo, 2006, p.148)
39
Não foram encontradas referências biográficas relativas a este autor.
Pedro Ferreira Pinto (1939 - ) arquitecto português, nasceu no Porto. Formado pela Escola Superior
de Belas Artes do Porto.
41
Diogo Lino Pimentel (1934 - ) arquitecto português, nasceu em Lisboa. Licenciado pela Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa.
40
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47
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
A visita a todos estes edifícios é acompanhada de folhetos explicativos da sua história.
E pode assim ser porque lhes puseram termo. A intervenção actual não faz parte da
narrativa. Inicia e acaba outra. Mas será o arquitecto o responsável pela falibilidade de
algumas destas intervenções? (Lobo, 2006 p. 152)
Estes foram os últimos projectos desta fase, e consequentemente, as últimas
intervenções analisadas neste trabalho. Outras pousadas foram construídas,
posteriormente, sempre no âmbito da reconversão do património, mas apenas estes
contribuíram nas diferentes abordagens e metolodogias adoptadas, que definiram as
diferentes fases evolutivas da história das pousadas de Portugal. Os casos de estudo
escolhidos caracterizam intervenções “inovadoras”, e contribuíram para uma nova
reflexão sobre o modo de intervir no património, sendo por isso, analisados mais
detalhadamente no capítulo seguinte.
Ilustração 53 - Grupo das "pousadas em monumentos históricos" (Lobo, 2006, p. 113)42
42
Consultar Apêndice A.
Elsa Maria Alves Almeida
48
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 54 - Grupo das "pousadas em centros históricos" (Lobo, 2006, p.123)43
Ilustração 55 - Ilustração 55 - Grupo das "pousadas de autor" (Lobo, 2006, p.143)44
43
44
Consultar Apêndice A.
Consultar Apêndice A.
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49
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
50
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3. CASOS DE ESTUDO
3.1. POUSADA DE GUIMARÃES, MOSTEIRO SANTA MARINHA DA COSTA
3.1.1. O AUTOR
Ilustração 56 - Fernando Távora (Coelho, 2011, p.10)
Fernando Távora45 é um arquitecto que desenvolve ao longo da sua obra um papel
importante e empenhado nas questões que envolvem a preservação do património
arquitectónico defendendo uma atitude criativa no diálogo com as formas do passado,
de modo a criar uma continuidade arquitectónica.
A obra de Fernando Távora evoca sempre o passado:evoca-o naturalmente quando
recupera um edifício ou quando acrescenta algo de novo a uma velha construção, mas
45
Fernando Luís Cardoso Meneses de Tavares e Távora (1923 - 2005) arquitecto português, nasceu
no Porto. Conclui o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1952, onde viria
a ser Professor. Mais tarde, torna-se Presidente da Comissão de Instalação da Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto (FAUP). Em 2003, obtem o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade
de Coimbra. Ao longo do seu percurso publicou vários textos sobre Arquitectura detacando-se “O
Problema da Casa Portuguesa” publicado em 1947, “Da organização do espaço” publicado em 1964, que
servem de base teórica à sua obra. Paticipa no Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa em 1955. Foi
membro da Ordem dos Arquitectos Modernos e dos CIAM, pertenceu também à Associação dos
Arquitectos Portugueses e à União Internacional dos Arquitectos. Recebeu de entre vários prémios, o
Primeiro Premio de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian, Premio Turismo e Património (1985),
Medalha de Ouro pela Cidade do Porto e de Guimarães. Actualmente existe o Prémio Fernando Távora,
que promove uma bolsa, à melhor proposta de viagem de investigação, feito por qualquer arquitecto
inscrito na Ordem dos Arquitectos.
Elsa Maria Alves Almeida
51
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
evoca-o também quando constrói de raiz ou aborda a temática da cidade. Arquitecto
moderno, a sua modernidade sempre repugnou porém ignorar, esquecer ou destruir,
pois na sua obra os valores desta modernidade sempre ombrearam, nostalgicamente,
com os da tradição; é portanto no quadro duma relação dialéctica entre presente e
passado que importam entender a progressiva inserção da arquitectura de Távora,
sempre desenhada sem concessões miméticas ou pitorescas, num processo formal
temporalmente extenso que, ultimamente, se convencionou chamar de “tradição
arquitectónica portuguesa””. (Coelho, 2011 p. 18)
O conceito de património na visão de Távora é mais abrangente, no sentido em que
para este arquitecto, todo o território deve ser considerado património e toda a
intervenção que possa ser feita neste âmbito deve ser realizada de forma criativa,
recusando a cópia mimética do edifício a recuperar, transformando e enriquecendo-o,
de modo a construir, assim, um processso de continuidade formal.
Távora defendera sobretudo um conceito patrimonial arquitectónico “alargado” em
termos espáçio-temporais, afirmando neste contexto que também “o nosso território
tem que ser considerado na sua totalidade como património, isto é, como qualquer
coisa de precioso que herdámos (…) Daí que quanto a nós não seja mais possível
isolar os dois termos de território e património, considerando este apenas como um
conjunto de valores construídos ou naturais de especial significado (…) E o que
acontece no espaço acontece,quanto a nós, igualmente no tempo (…). Património não
pode ser apenas aquilo que os antepassados (…) nos deixaram. O património resulta
duma criação permanente e colectiva e o próprio acto de recuperação do património
tem de ser um acto de criação e não um acto de rotina burocrática ou de capricho
pessoal”. (Coelho, 2011 p. 30)
Como autor do projecto de adaptação do mosteiro Santa Marinha da Costa a pousada,
Távora tem como principal objectivo manter presente a história do edifício,
evidenciando as diferentes transformações de que foi alvo e utilizando a preexistência
como instrumento de projecto, pretendendo que exista “…um dialogo, não de surdos
que se ignoram, mas de ouvintes que desejam entender-se, afirmando mais as
semelhanças e a continuidade do que cultivando a diferença e a ruptura.” (Costa, 1993
p. 116)
Segundo o autor existe um método, que deve ser utilizado quando se trata de uma
reabilitação, constituído por duas questões que se complementam, a primeira requer o
conhecimento da evolução histórica do edifício de modo a que seja possível incorporar
a linguagem mística do passado no novo projecto. A segunda questão está
relacionada com a criatividade na adapção ao novo programa, procurar inovação no
processo de transformação, interpretando esta intervenção como mais uma a que o
edifício está sujeito, e admitindo que possivelmente não será a última. “Assim se inicia,
Elsa Maria Alves Almeida
52
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
se percorre e se continua, em permanente transformação, a vida de um edifício
durante onze séculos, na certeza de que outros séculos virão e com eles outras
transformações.” (Costa, 1993 p. 116)
Este projecto é considerado uma referência da arquitectura portuguesa, e levou o
autor a receber o “Prémio Nacional de Arquitectura”, em 1987. O critério utilizado pelo
arquitecto para esta intervenção foi o de “[…]continuar – inovando, isto é, o de
contribuir para a prossecução da vida já longa do velho edifício, conservando e
reafirmando
os
seus
espaços
mais
significativos
resultantes
de
novos
condicionamentos programáticos.” (Costa, 1993 p. 116). O autor pretende encontrar
uma harmonia entre o antigo e o novo, tentando minorar o confronto entre ambos,
chegando mesmo a questionar a noção de modernidade46.
E o que justificará também, e aqui, uma certa austeridade monástica manifestada
atrezés de uma grande economia de meios técnicos e de uma extrema simplicidade
nas soluções adoptadas, quer a nível de espaço, quer a nível do seu tratamento e
mobiliário, travando uma batalha, talvez perdida, contra o sensacionalismo exibicionista
das formas, dos materiais e das cores que persegue nosso quotidiano. Enfim, e em
suma, talvez numa manifestação de saudade da Architectura representada nos
azulejos do antigo mosteiro. (Costa, 1993 p. 118)
Este projecto reflecte por isso, um estudo profundo sobre a intervenção no património,
repleto de memória, agindo de uma forma natural e sem rupturas na continuidade do
edifício.
46
A modernidade é entendida como uma visão do mundo relacionada ao projecto empreendido, a partir
da transição teórica operada por Descartes, partindo da ruptura com a tradição herdada e o
estabelecimento da autonomia da razão. Do ponto de vista histórico, modernidade refere-se à história dos
“Tempos Modernos”, desde o Renascimento até à actualidade, designando assim, não só uma época
como também a percepção da humanidade indissociável à nossa filosofia e cultura europeia. A
modernidade, em termos civilizacionais, tem um caractér de conquista na autonimia e vontade de criar
novas técnicas, por parte dos Individuos.
Elsa Maria Alves Almeida
53
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
54
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.1.2. O MOSTEIRO
Ilustração 57 - MosteIro Santa Marinha da Costa (Portugal, 2013)
O mosteiro Santa Marinha da Costa localiza-se na cidade de Guimarães, mais
exactamente, a meio da encosta da Serra de Santa Catarina gerando um grande
impacto cenográfico e levando à criação de momentos arquitectónicos especiais. Para
um melhor entendimento do carácter de mosteiro e da sua relação interior-exterior são
consideradas três questões essencias, o edifício, a cerca e a paisagem.
Este conjunto arquitectónico foi alvo, ao longo dos tempos, de várias alterações e
acrescentos fazendo com que este edifício possua um valor inestimável resultante da
sua história. Factos arqueológicos revelam vestígios de ocupação romana na àrea do
actual claustro do mosteiro, bem como a existência de um templo suevo-visigótico, no
período dos séculos VI-VII. Em 899 é realizada a Igreja de Santa Marinha da Costa
que mais tarde irá fazer parte integrante do mosteiro. No séc. X, este local foi eleito
para ser a sede do Condado Portucalense47, e é então iniciada a construção de um
majestoso edifício, sendo também reconstruída a igreja. No ano de 1154, foi fundado
como mosteiro pela Rainha D. Mafalda48, esposa de D.Afonso Henriques49. No séc. XII
47
Território que foi entregue ao governo do Conde D. Henrique na época da reconquista cristã, e
corresponde sensivelmente às terras entre o Tejo e o Minho. Posteriormente, com o contributo de D.
Afonso Henriques, filho de D.Henrique, o Condado Portucalende está na origem do reino independente de
Portugal.
48
Mafalda de Saboia (1125 – 1157/58) Casou-se com D.Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, em
1146, tornando-se assim na primeira Rainha de Portugal.
49
Afonso I de Portugal (1109 – 1185) Foi o fundador do Reino de Portugual, depois de vencer a Batalha
de Ourique, em 1139, foi proclamado o primeiro Rei de Portugal, sendo apenas reconhida a
independencia portuguesa em 1179, pelo Papa Alexandre III através da bula Manifestis Probatum.
Elsa Maria Alves Almeida
55
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
o mosteiro foi cedido aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho50, sendo feita uma
nova reconstrução onde são aproveitadas as paredes moçárabes existentes e são
feitas alterações na igreja. Mais tarde, o mosteiro foi entregue à Ordem de São
Jerónimo51, e em 1537, D. João III52 determina a transformação do mesmo em centro
de estudos para que o seu filho, lá pudesse estudar, o que levou a um vasto período
de obras que incluíram a reestruturação da fachada e um novo claustro. Apesar do
prestígio que o colégio de São Jerónimo adquirio ao longo do tempo, com a morte do
seu filho, D. João III determina em 1553, a transferência das intalações do colégio
para a Universidade de Coimbra.
Ilustração 58 - Edificações desde o período romano ao séc. X,
de acordo com os trabalhos arqueológicos (Portugal, 2013)
Ilustração 59 - Reconstituição aproximada da planta do edifício
construido pelos Cónegos Regrantes (Portugal, 2013)
No final do séc. XVI ocorre um grande incêndio que devasta o claustro, bem como
outras áreas do mosteiro. Devido a este acontecimento, são executadas novas obras
de reconstrução que passam pela ampliação da capela-mor, construção das torres
sineiras e da ala nascente que integra os antigos dormitórios e a “Varanda de São
Jerónimo”, sendo esta construída posteriormente. Estas obras prolongam-se por todo
o séc. XVII e levam a uma nova estética decorativa. Após a extinção das Ordens
Religiosas em 1934, o edifício passa a ser propriedade do estado, sendo logo vendido
em hasta pública a um proprietário privado, passando seguidamente por diversos
proprietários.
50
Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho são religiosos pertencentes ao clero, que faziam votos de
probreza e viviam em comunidade, a denominação regrantes provém do facto de serem seguidores das
regras instituídas por Santo Agostinho, em 1134, os membros desta congregação aderem à regra
agostiniana, passando a congregação designar-se Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.
51
A Ordem de São Jerónimo é uma congregação religiosa católica de clausura monástica, que surge no
século XIV. Foi aprovada em 1973 pelo Papa Gregório XI, e fundada por São Jerónimo.
52
João III de Portugual (1502 – 1557) Foi décimo quinto Rei de Portugal, iniciando o seu reinado em
1521, altura em que o país estava no apogeu da espanção ultramarina, possuindo territórios nos cinco
contimentes. Apesar dos problemas existentes, manteve a política centralizadora e absolutista dos seus
antecessores, procurando apenas reestruturar a vida administrativa e judicial, dando continuidade a uma
política de expanção.
Elsa Maria Alves Almeida
56
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 60 - Evolução construtiva (Portugal, 2013)
Em 1936 este edifício é devidamente classificado como imóvel de interesse público e
em 1951, volta novamente a sofrer um grande incêncio que destrói a ala dos antigos
dormitórios e leva à total degradação e abandono do mesmo.
Por fim, em 1972, o estado adquire o mosteiro Santa Marinha da Costa e, em 1975,
iniciam-se as obras de reconstrução do edifício com as novas funções de pousada.
Ilustração 61 - Planta de implantação, 1978 (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
Ilustração 62 - Planta de implantação, 1985 (Portugal, 2013)
57
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 63 - Imagens anteriores à reconversão, 1969-1975 (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.1.3. A POUSADA
Ilustração 64 - Pousada Santa Marinha da Costa (Costa, 1993, p.113)
A pousada Santa Marinha da Costa resulta do projecto de recuperação elaborado pelo
Arquitecto Fernando Távora, e está classificada como pousada Histórica na Rede de
Pousadas de Portugal. A intervenção é iniciada no ano de 1973 em ante projecto, a
fase de contrução começa em 1975, extendendo-se até 1985, data de inauguração da
nova pousada. Quando foi tomada a decisão de adaptar o mosteiro a pousada, este
encontrava-se bastante degradado devido à variedade de usos que albergou desde o
início do século XIX, e pelo grande incêndio que sofreu em 1951, levando assim ao
seu abandono.
Este conjunto arquitectónico é formado pela igreja, a norte ocupando o ponto mais
elevado, as duas alas paralelas, uma a nascente de maior comprimento e a outra a
poente, um terceiro corpo que fecha o claustro e por fim o novo volume.
Numa fase inicial teria sido previsto apenas a utilização do conjunto existente, mas
verificada a baixa rentabilidade da pousada, a Direcção Geral de Turismo sugeriu a
construção de um novo piso de quartos sobre a ala Nascente, obrigando assim à
redução do pé-direiro do mesmo, no entender do arquitecto esta alteração iria destruir
a qualidade espacial e expressão arquitectónica deste espaço, propondo então a
construção de um novo corpo. A fase de construção passa a ter dois momentos
distintos, o primeiro momento é dedicado exclusivamente á recuperação do mosteiro e
o segundo momento é apenas para a construção do novo corpo.
Elsa Maria Alves Almeida
59
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Esta intervenção desenvolve-se a partir da forma, enquanto estrutura geradoura de
espaço e não apenas com a preocupação de manter o valor estilístico do edifício, não
o
recriando
exactamente
como
seria
antes
da
sua
destruição,
mas
sim
reinterpretando-o tendo em conta a sua história e adaptando-o ao novo uso, tendo em
conta as necessidades e legalidades da época em que está a ser reconstruído. O
autor utiliza a estrutrura principal do edifício, mantendo-a mas ao mesmo tempo
redefine-a através dos espaços, dando-lhes um novo carácter.
Távora trabalha e molda a preexistência, usa como material de projecto, relê a história
e aceita as diferentes intervenções anteriores, restaurando, corrigindo ou mesmo
alterando, num sentido crítico de manter a leitura do edifício e das suas fases
anteriores. (Coelho, 2011 p. 56)
Ilustração 65 - Planta piso térreo, 1975 (Portugal, 2013)
Ilustração 66 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013)
A recuperação do mosteiro centrou-se principalmente nas áreas envolventes ao
claustro e na grande ala nascente, sendo que nesta ala permaneceram quase intactos,
após o incêndio de 1951, os espaços localizados nos extremos do volume,
correspondente ao acesso, a Norte, e a Varanda de São Jerónimo, a Sul. O autor
determina a sua reconstrução utilizando soluções contemporâneas que reintrepretam
os antigos espaços e o seu valor plástico, recusando a sua reconstituição idêntica,
Elsa Maria Alves Almeida
60
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
devido à necessidadede de querer manter presente as varias fases evolutivas do
edifício. As restantes alas envolventes ao claustro, não foram alvo de grandes
alterações excepto o topo da ala Poente que foi parcialmente demolido, redefinindo a
sua largura e limites.
É certo que a pousada introduzirá novo uso no velho mosteiro, mas é certo, também,
que se os homens fazem as casas, as casas fazem os homens, o que justifica a
manutenção, no novo edifício, de uma escala e de um ritual de espaços que,traduzindo
a presença de um passado que seguramente não volta, aqui se recordam e utilizam
pela actualidade do seu significado. (Costa, 1993 p. 116)
O conteúdo programático da nova pousada encontra-se distribuído principalmente nas
alas conventuais do antigo mosteiro, desenvolvendo-se a partir do claustro que
assume um papel de destaque.
No claustro, devido à consciência da sua importância como documento vital da
evolução construtiva do edifício, colocaram-se questões de outra ordem que não a
funcional ou programática: se por um lado o seu grau de conservação ajudou o projecto
de intervenção, por outro, o facto de se concentrarem neste local os mais importantes
vestígios de ocupação secular denunciou a necessidade de uma leitura histórica no
campo da arqueologia. (Vaz, 2009 p. 94)
É neste corpo principal que se acede à pousada, através de uma nobre escadaria. No
piso térreo da ala Poente, estão instaladas a recepção e os serviços de administração,
a sala de estar, com acesso ao claustro, é instalada no pequeno corpo da ala Sul, as
salas de jantar, uma sala polivalente, e o bar ficam no grande corpo da ala Nascente.
No piso superior são instalados, na ala Nascente, uma sala de estar comum e no
espaço dos antigos dormitórios, os quartos de hóspedes. Na ala Poente encontram-se
as duas suites da pousada bem como, no terceiro piso, os quartos de serviço. A sala
de escrita e leitura estão dispostos no corpo Sul do conjunto. A igreja não sofre
alterações cumprindo apenas o seu papel inicial. As ligações verticais do interior do
edifício são feitas através de duas escadas para uso dos hóspedes, das quais, uma
serve o novo corpo. Os acessos de serviço são feitos por outras duas colunas verticais
independentes, com escadas e elevadores, que ligam todos os pisos do conjunto. “A
resposta a outras questões funcionais, como a incorporação de serviços e acessos
verticais, foi dada com grande naturalidade, ao assumir claramente a condição
contemporânea e o seu papel funcional.” (Vaz, 2009 p. 92)
Elsa Maria Alves Almeida
61
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 67 - Planta piso térreo (Portugal, 2013)
Ilustração 68 - Planta piso 1 (Portugal, 2013)
1_Entrada principal
2_Claustro
3_Galerias do claustro
4_Igreja
Elsa Maria Alves Almeida
5_Recepção
6_Secretaria
7_Sala de bar
8_Bar
9_Sala de jantar
10_Sala polivalente
11_Sala de estar
12_Suites - Hóspedes
13_Capela
14_Sala de leitura
15_Sala de estar
16_Quartos de Hóspedes (Mosteiro)
17_Varanda de São Jerónimo
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 69 - Corte transversal (Portugal, 2013)
Ilustração 70 - Alçado Sul (Portugal, 2013)
Ilustração 71 - Alçado Norte (Portugal, 2013)
Ilustração 72 - Corte longitudinal (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
O restante programa é distribuído pelo novo corpo onde estão instalados mais trinta e
um quartos dispostos em dois pisos, e onde se encontram, também, as áreas de
serviço como a cozinha, lavandaria e áreas dependentes. As áreas técnicas, o
refeitório, as instalações sanitárias e balneários para o pessoal de serviço, encontramse também neste novo corpo, confinados ao primeiro piso da cave, excepto a cozinha,
devido ao pé-direito duplo.
Ilustração 73 - Planta piso -1 (Portugal, 2013)
Ilustração 74 - Planta piso -2 (Portugal, 2013)
18_Acesso de serviços
19_Lavandaria
20_Garrafeira
22_Cozinha
22_Acesso dos utilizadores
23_Quarto de hóspedes (Novo corpo)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Este novo corpo, em forma de L, desenvolve-se paralelamente à ala nascente criando
uma continuidade do edifício preexistente, e como está implantado a uma cota inferior,
encerra e dá uma maior privacidade ao pátio que se forma na cota superior para
usofruto dos utentes da pousada. Pela implantação deste corpo percebe-se que
Távora teve em conta as condicionantes da topografia e utilizou-as como instrumento
do projecto, transformando este problema numa solução eficaz, não só na apropriação
do lugar mas também na organização dos espaços e do próprio programa. Pelo facto
de este volume estar semi-enterrado, só existem vãos a sul e a poente, sendo estas
fachadas compostas por envidraçados contínuos. Este volume adopta uma expressão
contemporânea, assumindo e evidenciando, de acordo com o autor, a continuidade da
evolução do conjunto arquictectónico, respeitando todos os factores inerentes à
ampliação de uma preexistência.
Ilustração 75 - Alçado Nascente (Portugal, 2013)
Ilustração 76 - Corte transversal (Portugal, 2013)
O novo corpo, “inserido dialecticamente” no processo de crescimento do edifício,
consegue transmitir uma certa austeridade monástica, expressa através de uma grande
economia de meios técnicos e uma extrema simplicidade nas soluções adoptadas, quer
a nível espacial, quer a nível dos acabamentos e mobiliário, equilibrados pelo engenho
de uma mente irredutível de modernidade e cultura. (Vaz, 2009 p. 96)
Elsa Maria Alves Almeida
65
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 77 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013)
Ilustração 78 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p.117 e 118)
Ilustração 79 - Imagens da nova pousada (Portugal, 2013)
Ilustração 80 - Imagens da nova pousada (Costa, 1993, p. 114, 115 e 119)
Elsa Maria Alves Almeida
66
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.2. POUSADA DO CRATO, MOSTEIRO FLOR DA ROSA
3.2.1. O AUTOR
Ilustração 81 - João Carrilo da Graça (Bártolo, 2013, p.6)
João Carrilho da Graça
53
é um arquitecto cuja obra se destaca no panorama nacional,
entende a arquitectura como uma construção de relações, traduzidas num processo
rigoroso que envolve a articulação entre o programa, a poética, o lugar e os sistemas
de construção, sendo que todas estas diferentes extensões devem estruturar uma
ideia global de projecto.
Num ensaio dedicado à obra de Carrilho da Graça, Gonçalo Byrne54 identifica na obra
deste arquitecto “a herança do movimento moderno55”, não só no sentido unitário,
53
Joao Luís Carrilho da Graça (1952) arquitecto português, nasceu em Portalegre. Licenciado pela
Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1977. Foi Professor na Faculdade de Arquitectura da
Universidade Tecnica de Lisboa, entre 1997 e 1992, e professor convidado na Escuela de Arquitectura da
Universidade de Navarra, entre 2008 e 2010. Actualmente é professor convidado no Departamento de
Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa e no Departamento de Arquitectura da Universiadade
de Évora. Foi convidado a expor o seu trabalho em seminários e conferencias, em várias cidades como:
Barcelona, Sevilha, Milão, Roma, Verona, Turim, Viena, entre outros. De entre os vários prémios que
recebeu destacam-se: os Prémios Secil 1994, Valmor (1998 e 2008), FAD (1999), Prémio Pessoa (2008)
e Piranesi Prix de Rome (2010).
54
Gonçalo de Sousa Byrne (1941) arquitecto português, nasceu em Alcobaça. Licenciou-se na Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa em 1968. Foi professor catedrático convidado, em Portugal e no
estrangeiro. Em 2005 recebe o título Honoris Causa pela Faculdade de Arquitectura da Universidade
Técnica de Lisboa. Autor de uma vasta obra, premiada a nível nacional e internacional, destacando-se
nos planos patrimonial e cultural.
Elsa Maria Alves Almeida
67
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
restrito e dogmático, mas nas suas diversas expressões, crítico, fragmentário e
passível de novos significados, no processo empírico que procura, para cada projecto,
a sua coerência interna no essencial do respectivo programa e na construção das
relações com o sítio." (Bártolo, 2013 p. 17)
As questões do património estão bem presentes no percurso profissional deste
arquitecto, desenvolvendo a sua própria ideia sobre esta matéria.
O mais relevante no conceito ou ideia de património é que o seu sentido seja colectivo
e de respeito pelo que herdámos. Esta noção de património promove o equilíbrio nas
intervenções de forma a não só manter o essencial dos valores que podemos
reconhecer, dar-lhes continuidade e eventualmente até, intensificá-los. (Baptista, 2010
p. 26)
Tendo já feito várias intervenções em edifícios de grande valor patrimonial assume
nestes projectos um processo diferente, faseado, que requer uma compreensão do
que permanece da preexistência, de modo a respeitar o seu simbolismo, e
posteriormente adapatar o edifício às novas necessidades, e intensificar as ligações
com a envolvente.
Muitas vezes as minhas intervenções têm dois momentos distintos. O primeiro, a
intervenção no edifício, que tem normalmente o sentido de conservar, restaurar, dar
continuidade e dar a ver o que existe. O segundo, muitas vezes exigido pelo programa,
tem a ver com extenções ou ampliações do edifício mas também com o
restabelecimento das relações entre o edifício existente e os espaços exteriores, que
sejam espaços de paisagem, de território ou espaços urbanos. Desta forma procuro
com o conjunto unitário de frentres de intervenção, e num certo sentido “terapêutico”,
complementar o edifício existente na sua relação com a envolvente criando relações
mais naturais, mais intensas e mais fortes, mas com uma certa simplicidade. (Baptista,
2010 p. 26)
Como autor do projecto de adaptação do mosteiro Flor da Rosa a pousada releva,
numa espécie de memória descritiva, a sua leitura do monumento e as suas intenções
para esta intervenção.
A insólita implantação na planície, a hibridez do carácter – guerreiro, monástico e
palaciano – o claustro mediterrânico e a torre setentrional constroem o enigma.
55
O movimento moderno ou modernismo é o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos, da
primeira metade do século XX, que permearam as artes nas suas várias vertentes como a arquitectura,
design, escultura, pintura, entre outros. Fundamentam a ideia de que as formar “tradicionais” das várias
artes e da própria vida quotidiana tornaram-se ultrapassadas e que se deveria dar lugar a uma nova
cultura. Na arquitectura, o movimento caracteriza-se pela vontade de superação dos modelos da
arquitectura ecléctica e revivalista que revelavam já uma saturação das linguagens históricas.
Elsa Maria Alves Almeida
68
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
A primeira visita é labiríntica. Mais tarde podem ir-se descobrindo a luz e a altura da
igreja, as pedras e as suas relações. O entrechocar de fragmentos de épocas tão
diversas é unificado pelo granito.
Os arqueólogos dizem-nos que desde o sécul XIII e entrecotadamente até hoje,
sempre se desenrolaram obras no mosterio. Nos anos quarenta do nosso século
estava o edifício quase totalmente arruínado com a igreja derruída.
Apesar de tudo o que agora encontramos, parece-no bastante perfeito. Perfeito como
objecto de contemplação e visita. Até a falta das caixilharias nos vão sublinha a
harmonia da sua respiração.
A obra desenrola-se. A arqueoloquiologia ensina-nos a olhar para as pedras. O
objectivo do projecto é intensificar a possibilidade de visita do edifício existente,
privatizando-o e ocupando-o o menos possível, relendo-o e abrindo-o a novas leituras.
(Graça, 2001 p. 31)
As linhas principais deste projecto passam, então, por restaurar integralmente a
preexistência, intensificando a sua contemplação e dando-lhe uma função activa na
nova pousada. Uma das intenções principais do autor é que a sua intervenção não
interfira na estrutura principal do mosteiro, mantendo o caractér da preexistência, e
qualquer estrutura que seja necessária para as novas funções possa ser retirada e o
edifício se mantenha igual ao que era antes desta obra.
Devido ao extenso programa, projecta um novo corpo, em betão armado e de cor
branca, criando um contraste evidente para enfatizar as diferentes fases construtivas,
e assim possibilitar uma nova leitura do conjunto, mantendo sempre o antigo mosteiro
como protagonista.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
70
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.2.2. O MOSTEIRO
Ilustração 82 - Mosteiro Flor da Rosa (Portugal, 2013)
O mosteiro Flor da Rosa encontra-se situado numa pequena Vila Alentejana,
denominada também como Flor da Rosa, no concelho do Crato. O local onde se
insere tem uma característica especial, pois apesar de ser urbanizado, a envolvente é
composta por terrenos agrílas, sendo que apenas a Sul é que encontramos uma
ligação à povoação e a respectiva entrada do mosteiro.
A construção deste mosteiro deve-se a Frei Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da Ordem
do Hospital56, que o manda contruir na segunda metade do século XIV, com o
objectivo de se estabelecer no Crato.
Considera-se que a Ordem do Hospital tenha chegado a Portugal entre 1114 e 1132,
estabelecendo-se em terras de Leça, doadas por D. Teresa57, viúva do Conde D.
Henrique58, no mosteiro-fortaleza de Leça do Bailio. Como uma Ordem Militar a sua
principal função é a defesa do território, distinguindo-se na luta pela reconquista do
território ocupado pelos Muçulmanos. À medida que o território se expande para Sul,
56
A Ordem do Hospital ou Ordem de Malta começou por ser um Ordem Benedita, fundada no século XI
na Palestina, e posteriormente tornou-se numa Ordem militar cristã, com regras próprias como a
protecção do seu território.
57
Teresa de Leão (1080 – 1130) Foi Infanta do reino de Leão e, mais tarde governou como Rainha no
Condado Portucalense, após casar D.Henrique, Conde de Portugal. Do casamento nasceu, D. Afonso
Henriques, primeiro Rei de Portugal.
58
Henrique de Borgonha (1066 – 1112) Por ter aderido à reconquista da península ibérica, ajudando D.
Afonso VI de Leão a conquistar o reino da Galiza, recebeu como recompensa o casamento com Teresa
de Leão, filha de D. Afonso VI, e mais tarde, em 1096 recebe o Condado Portucalense, em troca de
fidelidade e trabalho.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
os domínios desta Ordem aumentam. Como recompensa do seu importante papel, os
monarcas entregam várias propriedades como é o caso da igreja de S. João do
Alporão de Santarém, a igreja e a Comendaria de São Brás de Lisboa. Mais tarde, são
também entregues à Ordem os Castelos de Cernache do Bomjardim e o da Sertã,
bem como algumas terras onde contruiram o Castelo de Belver, para onde viria a ser
transferida a administração e governo da Ordem. Posteriormente, em 1340, após a
tranferência da sede da Ordem do Hospital para o Crato, o Prior Frei Àlvaro Gonçalves
Pereira manda construir o paço-mosteiro, mas por estar localizado em território
fronteiriço, ou seja de alto risco, este representa um símbolo de poder para a Ordem
no Sul do país, o que acaba por fazer com que o edifício construído seja mais
aproximado a uma fortificação do que com um mosteiro.
De raíz medieval, este conjunto apresenta uma estrutura gótica, onde, por vezes,
sobressaem alguns pormenores arquitectónicos de outras épocas, nomeadamente
manuelinos, fruto de campanhas porteriores de obras. Construído com um caractér
eminentemente defensivo este paço-mosteiro vai apresentar características
arquitectónicas, como é o caso das torre, frestas e matacães, que mais o aproximam
de uma fortificação do que de uma casa conventual. (Ramalho, 2001 p. 36)
Ilustração 83 - Reconstituição conjectural em planta do
edifício - segunda metade do séc. XIV (Portugal, 2013)
Ilustração 84 - Reconstituição conjectural em planta do edifício final do séc. XIV (Portugal, 2013)
A Obra é iniciada entre 1351 estando apenas concluída vinte anos depois. Esta
construção inclui practicamente todo o edifício: a igreja, as torres do paço e as
dependências
conventuais.
Ao
longo
do
tempo
são
elaboradas
obras
de
melhoramento no edifício, mas é durante o século XVI que se procedem a grandes
alterações que incluem a conclusão do claustro e também alterações ao nível das
portas e janelas, abrindo amplos janelões, substituindo antigas frestas ou mesmo onde
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
não existiam aberturas. Estas intervenções acabam por introduzir uma mistura de
estilos
ao
mosteiro,
cruzando
apontamentos
mudéjares59,
manuelinos60
e
renascentistas61. Após a perda da independência para o Reino de Espanha, o
mosteiro começa a entrar em estado de degradação, levando ao seu total abandono.
Derivado à transição dos bens da Ordem do Hospital para a Casa do Infantado62, em
1789, o estado de degração do mosteiro intensifica-se, vindo ainda a piorar com a
extinção das Ordens Religiosas, em 1834, levando mais tarde à derrocada da
cabeceira da igreja.
Ilustração 85 - Alçado principal, 1940 (Portugal, 2013)
Ilustração 86 - Alçado lateral direito, 1940 (Portugal, 2013)
Ilustração 87 - Alçado posterior, 1940 (Portugal, 2013)
Ilustração 88 - Alçado lateral esquerdo, 1940 (Portugal, 2013)
59
A Arte Mudéjar é um estilo artístico, dos séculos XII e XVI, que de desenvolve nos reinos cristãos da
península ibérica, que se caracteriza pelas inflências, elementos ou materiais do estilo ibero-muçulmano,
combinando e reentrepertando estilos artísticos cristão como o românico, o gótico e o renascentista, com
a arte islâmica.
60
O Estilo manuelino ou Gótico Português Flamejante é um estilo decorativo e escultórico que apesar de
já existir no reinado de D.João II, apenas de desenvolveu no reinado de D. Manuel I. Caracteriza-se como
uma versão portuguesa do Gótico final, bem como da arte mudéjar, marcada por uma sistematização de
motivos iconográficos próprios de grande porte, simbolizando o poder régio., incorporando,
posteriormente, ornamentações do Renascimento italiano.
61
A Arquitetura do Renascimento ou renascentista foi produzida durante os séculos XIV, XV e XVI,
caracteriza-se por ser um momento de ruptura na História da Arquitetura em diferentes vertentes: nos
meios de produção e na própria linguagem da arquitectura adotada. Esta ruptura demonstra uma nova
atitude dos arquitectos em relação à sua arte, assuimindo-se agora como profissionais independentes e
com um estilo pessoal, continuando contudo a inspirarem-se na Antiguidade Clássica como modelo
perfeito, mas através da sua interpretação da mesma.
62
A Casa do Infantado foi criada entre 1654 e 1655, pelo Rei D. João IV, e consiste num conjunto de bens
materiais, propriedades e rendimentos, na sua maioria confiscados aos apoiantes de Espanha durante o
período da restauração da independência.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Já em avançado estado de deterioração, o mosteiro For da Rosa é decretado
Monumento Nacional, em 1910, e quinze anos depois, o túmulo de Álvaro Gonçalves
Pereira, fundador do mosteiro, é transladado para a igreja Paroquial. Nos anos
quarenta são iniciadas, por parte da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, novas obras de restauro que abrangem todo o edifício.
Ilustração 89 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal, 2013)
Ilustração 90 - Planta piso 1, 1940 (Portugal,2013)
Ilustração 91 - Planta piso 2, 1940 (Portugal, 2013)
Ilustração 92 - Planta de cobertura, 1940 (Portugal, 2013)
Por fim, de forma a não deixar este monumento ao abandono, em 1990 iniciam-se os
trabalhos de adaptação a pousada, sendo inaugurada ao público em 1995, tornandose mais tarde, uma das pousadas mais visitadas do país.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 93 - Imagens anteriores à reconversão, 1942 (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.2.3. A POUSADA
Ilustração 94 - Pousada Flor da Rosa (Ilustração nossa, 2014)
A pousada Flor da Rosa resulta do projecto de adaptação do arquitecto João Luis
Carrilho da Graça, e está classificada como pousada Histórica-Design na Rede de
Pousadas de Portugal. O conjunto arquitectónico é composto pelo mosteiro que
integra a igreja, as torres, e as antigas dependências conventuais, derivado ao
extenso programa é também acrescentado um novo corpo anexo.
O projecto é iniciado em 1990, e termina em 1995, data de inauguração da nova
pousada. O período de construção é regido por duas fases, a primeira destina-se ao
restauro de toda a estrutura do mosteiro, a segunda à construção do novo corpo.
Na abordagem a este projecto, o autor revela uma preocupação especial com a
preexistência, considerando que esta não deve sofrer nenhuma transformação,
possibilitada por esta alteração de funções, por isso decide que toda a estrutura
necessária para o funcionamento da pousada, seja realizada de forma a puder ser
retirada, e o mosteiro se mantenha inalterado. Esta ideia de não interferir na estrutura
principal da preexistência continua na ligação desta com o novo volume, quando o
autor cria uma pequena pala que se estende do volume construído até ao antigo
mosteiro, sem lhe tocar, de modo a que a interpretação seja a de que os volumes
nunca se intersectam.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 95 - Planta piso térreo, 1940 (Portugal 2013)
Ilustração 96 - Planta inferior, 1995 (ENATUR, 2001, p.32)
A entrada da pousada é feita pelo mosteiro, através de um percurso sempre envolvido
num ambiente frio transmitido pelas grossas paredes de pedra, que se inicia no corpo
da igreja, passando pelo claustro e acabando na recepção. Este percurso intensifica a
ideia por parte do arquitecto, de contemplação ao monumento.
Carrilho da Graça quis reforçar a ideia de entrar num monumento, envolvendo o
visitante, logo à chegada, num longo percurso, quase labiríntico até à recepção. Nesse
espaço de tempo em que se percorre várias zonas e corredores, impera o silêncio e o
frio das paredes de granito. Apesar de, depois desse percurso, essa ambiência do
espaço se dissipar e entrar-se numa zona mais quente e confortável,existem sempre
certos apontamentos ao longo dos corredores e quartos que nos relembram que
habitamos um mosteiro. (Costa, 2009 p. 45)
No espaço da recepção, já está implícito um ambiente diferente, de transição entre o
novo e antigo, pelo facto de ser aqui a ligação entre o mosteiro e o novo corpo. Este
Elsa Maria Alves Almeida
78
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
ambiente de transição é enfatizado através da possibilidade de observar, deste espaço
o novo volume, através de um grande envidraçado que possibilita também a saída
para o exterior. “Existe uma zona do antigo mosteiro que, por se tratar de uma adição,
e deixou de ser exterior para passar a tornar-se interior, facto que o arquitecto soube
trabalhar de modo a que fosse possível perceber onde acabava o antigo e onde
começava o novo.” (Venda, 2008 p. 57)
A pousada divide-se assim em duas zonas, a zona mais nobre, do mosteiro e a zona
mais privada do novo corpo, ligadas pelo “espaço de transição”, a recepção. A
estratégia utilizado pelo arquitecto para a distribuiçao do programa, tem como princípio
dividi-lo por estas duas zonas, de modo a que as áreas comuns como a sala de jantar,
bar, entre outos, se integrem na zona nobre, e as áreas privadas como os quartos,
áreas técnicas se concentrem no novo corpo. Existe uma excepção pois, alguns
quartos foram introduzidos no local onde eram as antigas celas do mosteiro, com
características particulares, atribuindo um ambiente especial a estes espaços.
Ilustração 97 - Planta da torre do Paço 1. Suite (ENATUR, 2001, p.35)
Ilustração 98 - Planta torre do Paço 2. Suite (ENATUR, 2001, p.35)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 99 - Planta torre do Paço 3. Suite (ENATUR, 2001, p.35)
Na recepção encontram-se os acessos verticais que fazem a ligação aos vários
espaços da pousada, e onde se acede directamente ao bar que se instala na antiga
Sala do Capítulo. No primeiro piso, encontramos um corredor que dá acesso aos
quartos intalados no novo corpo e onde também se acede ao exterior, para a zona da
piscina. O segundo piso, apenas se desenvolve na área Norte e Poente do mosteiro,
podendo aceder através dos mesmos acessos verticais existentes na recepção. Nesta
área encontra-se o restaurante, zonas de estar, sala de jogos e os restantes quartos
distribuídos em torno do claustro. Na torre a Sul do mosteiro, encontra-se uma sala
com uma característica peculiar pois tem como elemento principal uma lareira, com
um desenho moderno, denominada por isso sala da lareira. Este espaço tem outras
características especias como duplo pe-direiro, e o tecto tem um desenho diferente,
onde o arquitecto procura reinterpretar, com uma visão moderna, as abóbadas que
existem na cobertura do claustro.
A área da cozinha encontra-se no novo corpo, por ter de cumprir rigorosas regras
impostas pela legislação actual, para puder funcionar correctamente. Existe uma zona
de acesso directo ao exterior para efctuar as cargas e descargas, sem pertubar o
funcionamento do resto da pousada. Foi colocado em grande parte da zona nobre do
mosteiro tectos falsos, para serem ocultadas todas as tubagens necessárias aos
equipamentos de ar condicionado e cablagens.
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 100 - Planta inferior (ENATUR, 2001, p. 32)
Ilustração 101 - Planta superior (ENATUR, 2001, p. 33)
1_Entrada Principal
2_Igreja
3_Claustro
4_Recepção
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5_Acessos verticais
6_Bar
7_Sala de Reuniões
8_Cozinha
9_Quartos de hópedes (Novo corpo)
10_Sala de estar
11_Quartos de hóspedes (Mosteiro)
12_Sala de jantar
13_Sala da lareira
14_Acesso ao Exterior
15_Jardim
16_Área da piscina
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 102 - Alçado Norte (Graça, 1995, p. 68)
Ilustração 103 - Alçado Nascente (ENATUR, 2001, p. 34)
Ilustração 104 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34)
Ilustração 105 - Alçado Sul (ENATUR, 2001, p. 34)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Com a construção do novo volume num estilo assumidamente contemporâneo,
enfatiza o contraste das distintas épocas construtivas, mas consegue que apesar das
diferenças, estes se relacionem de forma harmoniosa. Este corpo cria um confronto
evidente com a preexistência, através da sua horizontalidade e materialização em
betão armado, de cor branca, com uma composição leve, contrastando com a imagem
austera e a verticalidade do mosteiro, assumindo este, uma posição marcante no
conjunto. Este corpo está posicionado a Norte e extende-se para Poente,
possibilitando a libertação do mosteiro, sendo composto por dois pisos. O espaço de
ligação entre os dois volumes, como já foi referido, é a recepção, onde o que era
exterior passa a ser interior, sendo notório o conceito de união delicado, entre o novo e
o antigo. O edifício novo adapta-se assim ao antigo sem lhe retirar o prestígio, pelo
contrário, o mosteiro é a base do novo edifício complementando-se um ao outro.
Ilustração 106 - Pousada Flor da Rosa. Cruzamento entre o edifício novo e o antigo (Ilustração nossa, 2014)
A abordagem entre o novo e o antigo surge como uma dicotomia expressica, no
sentido em que, se a característica mais marcante do antigo mosteiro é a sua
verticalidade, Carrilho da Graça propõe para o novo corpo uma clara horizontalidade, e
se a expressão da cor e da textura das pedras do mosteiro, se integram na imagem
envolvente das planícies alentejanas, a ala nascente assume grandes planos brancos
que conduzem a luz, quase ofuscando o edifício existente. (Venda, 2008 p. 56)
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 107 - Imagens da nova pousada (Ilustrações nossas, 2014)
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3.3. POUSADA DO GERÊS, MOSTEIRO SANTA MARIA DO BOURO
3.3.1. O AUTOR
Ilustração 108 - Eduardo Souto Moura (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.4)
Eduardo Souto Moura63 é um arquitecto, que da sua geração, é dos mais falados no
meio arquitectónico internacional. Já conta com uma obra extensa onde transmite em
cada projecto, uma imagem associada á redução linguística e á predominância dos
materiais. Os seus projectos revelam uma preocupação na apropriação ao lugar, a
adequação ao programa que é proposto e uma fundamental atenção aos materiais
que utiliza.
63
Eduardo Elísio Machado Souto Moura (1952) arquitecto português, nasceu no Porto. Licenciado pela
Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1980, tendo colaborado mesmo antes de acabar o curso no
atelier de Álvaro Siza. Nesta mesma data, abre o seu próprio atelier.Mais tarde, em 1981, torna-se
assistente do curso de Arquitectura na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, e foi
professor convidado, entre 1988 e 1994, nas Escolas Superiores de Arquitectura de Haward, Zurique,
Dublin; Paris-Belleville e Lausanne. Como reconhecimento da sua obra, foi galardoado com vários
prémios entre eles: Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção do auditório e biblioteca
infantil da Biblioteca Pública Municipal do Porto em 1992, Prémio Internacional da “Pedra na
Arquitectura” para a Casa em Braga em 1995, 1º Prémio I Bienal Ibero-Americana com a Pousada de
Santa Maria do Bouro em 1998, Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção do Estádio
Municipal de Braga em 2004, Prémio Pritzker e Prémio Secil de Arquitectura: 1º Prémio para a construção
da Casa das Histórias Paula Rego em 2011, e Prêmio Wolf de Artes em 2013.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Longe da visão absolutamente subjectiva e irracional do desenho, os projectos de
Souto Moura interpretam e tornam explícitos os princípios primários encerrados no
contexto, ligando-se, profundamente, à situação específica, avaliando, até aos
extremos, os pressupostos do programa, esclarecendo, tecnologicamente, a
contraposição entre inovação e tradição. …fácil encontrar, com esta óptica, temas e
pesquisas recorrentes, que atravessam transversalmente os seus projectos, a partir da
determinação do princípio instalador no contexto, até ao inquérito do modelo e da
tipologia, ao estudo do pormenor construtivo e dos materiais. (Angelillo, 1994 p. 25)
Na sua relação com o património, o autor adquire uma posição distinta, considerando
a história como um instrumento que deve ser interpretado e manipulado de forma a
corresponder às necessidades da actualidade, e nunca deve ser tomado como um
dado adquirido. Acredita que quando a história deixa de responder às novas
exigências funcionais e formais deixa de fazer sentido e deve ser trabalhado, como
acontecia no passado.
Poderá dizer-se que a história da arquitectura antiga é a história de constantes
adulterações e alterações, de mudanças radicais de projecto durante a construção, ao
longo do tempo e pelos vários intervenientes, da interrupção da construção, dos
edifícios construídos sobre os alicerces de muitos outros muito mais antigos, por
razões económicas ou de oportunidade. Afinal, sempre foi assim cada vez que surgiam
novas necessidades, realizavam-se verdadeiras intervenções cirúrgicas nos edifícios e
nas cidades. (Collová, 2001 p. 62)
Para Souto Moura a continuidade dos edifícios não acontece através da reconstrução
exacta dos mesmos, mas sim através da preservação da sua identidade, adaptada às
novas questões a que deve responder, como a época e os intervenientes. Estas
questões referem-se às novas tipologias, aos novos materiais, às questões do conforto
sendo todas elas relevantes quando se intervem num edifício com história, através de
um processo de transformação contínuo na vida do mesmo.
Teremos que reavaliar toda a gama de opcções, que ter em conta a continuidade entre
coisas muito diferentes, deixar, durante algum tempo, de distinguir o belo do feio, uma
vez que a transformação faz parte de uma geografia singular, onde até o feio é
necessário. Teremos que aprender a fazer enxertos, inovações, a colocar próteses, a
movimentar partes e elementos,teremos de aprender a misturar, a amputar, a planificar
as demolições como planificamos as construções. […] Teremos que reconhecer a
metamorfose continua e que encontrar, de todas as vezes, um equilíbrio estável,
instável, possível. (Collová, 2001 p. 64)
Como autor da adaptação do mosterio Santa Maria do Bouro a pousada, e sendo esta
a sua primeira obra, Souto Moura revela que a ruína o fascinou e foi o ponto central do
projecto, aplicando as questões acima abordadas de uma forma singular, num
processo longo e revelador.
Elsa Maria Alves Almeida
86
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
[…] é a ruína com que fiquei fascinado, era a minha primeira Obra e havia uma certa
“inocência”. Fascinado pela quase identificação da Arquitectura, material artificial com a
natureza, porque a ruina deixa de ser Arquitectura e passa a ser natureza. E mantive a
ruína para manter essa pretenção de ser quase obra natural, anónima. (Pais, 1994 p.
28)
Souto Mouro decide fazer um estudo arqueológico para puder realizar um esboço do
que teria sido o edifício, percebendo que este foi alvo de várias alterações ao longo do
tempo, optando então por também ele (o autor), fechar um ciclo e iniciar outro,
recusando a reconstrução do edifício igual ao que era, optando por utilizar a ruína
como um princípio reinterpretável de forma a conceder-lhe um novo contexto formal.
O projecto tenta adaptar, ou melhor, servir-se das pedras disponíveis para construir um
novo edifício. Trata-se de uma nova construção, onde intervêm vários depoimentos
(uns já registados, outros a construir) e não da recuperação do edifício na sua forma
original.
Para o projecto as ruínas são mais importantes que o “mosteiro”, já que são material
disponível, aberto, manipulável, tal como o edifício o foi durante a história.
Não pretendemos com essa atitude construir uma excepção, procurando a
originalidade do manifesto, mas sim cumprir uma regra de arquitectura quase sempre
constante ao logo do tempo. (Moura, 2001 p. 5)
Durante o processo de realização do projecto o autor teve como objectivo reaver a
ruína, não a recuperando na sua forma pura e simples, mas através da inserção de
novos materiais e formas, tentando encontrar um diálogo entre a preexistência,
programa e a forma.
Durante o projecto, o “desenho” tentou encontrar a lucidez entre forma e programa.
Perante duas hipóteses, optámos por recusar a consolidação pura e simples da ruína
para uso contemplativo, apostando por injectar materiais, usos, formas e funções “entre
les choses”, como dizia Corbusier. (Moura, 2001 p. 5)
É evidente o uso dos materiais, por parte do arquitecto, na consolidação de uma visão
diferente para o novo edifício utilizando-os com intenção e rigor, colocando em
confronto dois temas essenciais que são o tradicional e o moderno. Utiliza novas
formas e materiais, num desenho simples, que se consolidam segundo práticas
tradicionais. O interior é refeito através de processos construtivos actuais, alterando a
estrutura original, e o exterior é contemplado pelo uso de materiais sem revestimento,
por vezes submetidos a sistemas de envelhecimento, previligiando através dos
mesmos a construção contemporânea, e evidenciando o contraste tradicional (interior)
e moderno (exterior).
Elsa Maria Alves Almeida
87
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Em vez de fazer a distinção entre novo e o antigo, teremos que exercitar a
metamorfose. Isto não significa que se possa fazer tudo. Pelo contrário, não há apenas
um modo de fazer as coisas. Neste campo não existem modelos, porque esta cultura
tem de ser inteiramente construída através da experimentação. (Collová, 2001 p. 64)
Nesta intervenção o arquitecto procura uma coerência construtiva optando por não
recusar destruir o que fosse necessário ou de realizar a reconstrução exacta do que
existia, rejeitando modelos de intervenção, procura dar continuidade á preexistência
alterando-a quando necessário, de um modo subtil, utilizando posteriormente a técnica
construtiva e os materias para integrar os novos pressupostos do programa e as novas
necessidades.
Não é uma questão de modelos ou métodos de intervenção. Trata-se de continuar a
construir cultura, reunindo nos locais certos tudo quanto reconstitui a sua densidade e
mantém a sua complexidade, aos mais altos níveis, enquanto, com o tempo, os
materiais e as necessidades continuam a mudar. (Collová, 2001 p. 58)
Esta obra é caracterizada pela “invisibilidade” da intervenção, sendo este também um
dos propósitos do autor, o de esconder o seu projecto, dando ênfase ao reerguer da
ruína, como mais uma fase da vida da préexistência, e introduzindo todos os
elementos necessários, não só a nível estrutural como decorativo, para que a nova
pousada reflicta o passado mas represente o presente, procurando o conforto e
funcionalidade no novo espaço, sem que estas transformações sejam aparentes. “Os
aspectos mais interessantes da Pousada de Santa Maria do Bouro são os que menos
se vêem. Esta invisibilidade é estrutural e não mimética. O objectivo parece ser dar
continuidade, sob outra forma, á vida do mosteiro.” (Collová, 2001 p. 61)
Elsa Maria Alves Almeida
88
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.3.2. O MOSTEIRO
Ilustração 109 - Mosteiro Santa Maria do Bouro (Portugal, 2013)
O mosteiro Santa Maria do Bouro está situado no Norte de Portugal, em Braga, na
pequena Vila de Santa Maria do Bouro, mais concretamente na encosta da Serra de
São Mamede. Rodeado pela sublime paisagem natural, e separado da Vila pela
estrada Nacional, o mosteiro conta com séculos de história que lhe atribuem um valor
inestimável.
Esta história remete-nos à data de 1148, quando D. Afonso Henriques entrega as
terras onde se encontra o mosteiro aos Monges Beneditinos64, pelo seu bom
desempenho nas lutas da reconquista. Segundo reza a lenda, teria existido uma
ermida65 naquele local dedicada a São Miguel, construída por dois beneditos, depois
de verem uma luz que lhes mostrou o sítio onde se encontrava escondida uma
imagem da Virgem Maria. Devido a este facto, o local passou a ser ponto de atracção
à população levando à construção do mosteiro e, em 1195, este passa a ser regido
pela Ordem de Cister66. Os Monges pertencentes a esta Ordem viviam em regime de
clausura, sendo por isso essencial que o mosteiro fosse auto-suficiente, e produzisse
tudo o que necessitavam para viver, como o lugar onde se encontrava o mosteiro era
64
Os Monges Beneditinos pertecem à Ordem Benenditina, qualificada como uma ordem religiosa católica
de clausura monástica, baseando-se na observância dos preceitos destinados a regular a convivência
comunitária.
65
Ermida é uma pequena igreja ou capela, normalmente localizada fora das povoações, ou em lugares
isolados.
66
A Ordem de Cister ou Ordem cisterciense é uma ordem monástica católica, fundada em 1096 por
Roberto de Molesme. Esta Ordem caracteriza-se pela partilha de perceitos espirituais de austeridade,
ascetismo e despojamento.
Elsa Maria Alves Almeida
89
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
bastante rico, acabou por desenvolver-se rapidamente. Esta situação subsiste até ao
século XV, data em que o sistema de “Comenda”67 entra em vigor e o mosteiro entra
em declínio.
Mais tarde, já no final do século XVI, os mosteiros voltam a ter autonomia, e o
mosteiro Santa Maria do Bouro entra numa fase próspera. Ao longo do século XVII e
XVIII, devido ao estado degradado do edifício, fazem-se obras de reconstrução, que
originam a construção da cozinha e do refeitório, a remodelação da sala do capítulo e
da sacristia e a ampliação da igreja. Destas obras resulta também a construção de
uma nova ala, a Oeste do clautro onde passou a ser a entrada do mosteiro, e uma
nova estética decorativa.
Ilustração 110 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013)
Ilustração 111 - Planta piso térreo, 1964 (Portugal, 2013)
67
O sistema de “Comenda” consistia na entrega das abadias, a um padre comendatário indicado pelo
Cardeal ou Bispo, deixando estas de ter autonomia.
Elsa Maria Alves Almeida
90
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 112 - Corte transversal, 1978 (Portugal, 2013)
Devido á extinção das Ordens Religiosas, em 1984, o mosteiro fica ao abandono e a
igreja passa a paroquial, sendo o mosteiro posteriormente vendido em hasta pública.
O conjunto arquitectónico é classificado como Imóvel de Interesse Público em 1958.
Já no século XX, no ano de 1980, a Secretaria de Estado do Turismo propõe a
adaptação do mosteiro a pousada, sendo que mais tarde, em 1986, a Câmara
Municipal de Amares adquire parte da propriedade conventual e posteriormente doa-a
ao Instituto Portugues do Património Cultural com dois requisitos, um era o de no
prazo previsto de oito meses iniciarem as obras de consolidação, e o outro era seria o
início das obras de restauro até ao ano de 1988. Nesta fase, a Câmara proponha a
instalação de uma escola agrícola, e o Instituto Português do Património Cultural
proponha um centro de estudos de restauro. No decorrer das obras de consolidação é
realizado um estudo, por parte da ENATUR, para instalar ali uma pousada, sendo
apenas aprovada a decisão em 1984. Em 1994 iniciam-se as obras de adaptação às
novas funções de pousada.
Ilustração 113 - Planta de implantação, 1989 (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
Ilustração 114 - Planta de implantação, 1997 (Moura, 2001, p.8)
91
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Idade Média: séc.XII – séc. XV
Idade Moderna: reconstrução no final do séc. XVI –
Princípio do séc. XVII
Idade Moderna: remodelação e ampliação no séc. XVI –
Princípio do séc. XVII
Séc. XX
Demolição
Ilustração 115 - Evolução construtiva (Moura, 2004, p.78)
Elsa Maria Alves Almeida
92
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 116 - Imagens anteriores à reconversão, 1946-1962 (Portugal, 2013)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
94
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3.3.3. A POUSADA
Ilustração 117 - Pousada Santa Maria do Bouro (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.29)
A pousada Santa Maria do Bouro resulta do projecto de adaptação do arquitecto
Eduardo Souto Moura e está classificada como pousada Histórica-Design na rede de
Pousadas de Portugal. O projecto é entregue a Souto Moura em 1989, nesta fase o
edifício encontrava-se bastante degradado, já em estado de ruína, sendo iniciadas as
obras apenas cinco anos depois. Em 1997 é inaugurada a nova pousada.
No início deste projecto a intenção do autor era a de fazer a distinção nítida do que era
a preexistência e do que era a sua interveção, mas com a evolução do mesmo, a
postura de Souto Moura mudou. “Antigo é antigo, novo é novo. Se for novo faço as
coisas de uma certa maneira… se for antigo, faço-as de outra. Assim, durante a
construção, a diferença continuou a aumentar.” (Collová, 2001 p. 50). Esta mudança
de atitude acontece devido a um estudo arqueológico, pedido pelo arquitecto, para que
pudesse fazer uma reconstituição do edifício tal como ele era antes de ser ruína, que
veio a revelar a presença de vários estilos e épocas, resultantes das várias
modificações que foram sendo feitos ao edifício ao longo do tempo.
E tal como a intervenção arqueológica evidenciou, mesmo arruinado e truncado, é bem
a expressão material de todos os momentos de crise e de desenvolvimento por que
passou a instituição, e que se revelam não tanto na alteração do modelo planimétrico
tradicional, que se conservou sem grandes rupturas, mas antes nas significativas
modificações na distribuição funcional dos espaços, reveladoras de uma sábia
Elsa Maria Alves Almeida
95
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
adaptação a novas necessidades decorrentes do crescimento da comunidade, e pela
adopção de novos padrões estético-decorativos. (Fontes, 2001 p. 79)
Estes resultados levaram o autor a perceber que a sua intervenção seria mais uma,
igual a tantas outras a que o edifício já tinha sido sujeito, optanto por dar ao projecto
um caractér contemporâneo, mantendo presente a vivência do passado no edifício,
num processo de continuidade. Assim, denota-se a vontade por parte do autor de não
reconstruir o antigo mosteiro, mas sim preservar a indentidade do mesmo construindo
uma pousada que reflecte o passado, mas vive o presente, com as características
modernas adjacentes à época que está a ser reconstruida e às novas funções.
Tenho que construir um edifício próximo da cultura contemporânea e não faz sentido
construí-lo seiscentos anos mais velho, o que é uma longevidade pouco significativa.
[…] Isso fez-me sentir melhor e perder alguns complexos. Afinal de contas, não estou a
restaurar um mosteiro, estou a construir uma pousada com as pedras de um mosteiro.
Fiz um edifício moderno, como queria e com as pedras que estavam disponíveis.
(Collová, 2001 p. 46)
Existe uma reflexão profunda por parte do autor, no equilíbrio entre reerguer a
estrutura, respeitando os parâmentros necessários para que se mantenha presente a
ruína, mas adaptando-a às necessidades impostas pelo novo programa. “Só depois de
“estabilizada” a ruína, (e não a antiga construção) é que o edifício de adapta ao novo
programa, privilegiando o usufruto da ruína enquanto prazer estético, numa
intervenção que se dilui em absoluta expressão minimalista.” (Vaz, 2009 p. 115)
Ilustração 118 - Planta piso térreo, 1985 (Portugal, 2013)
Ilustração 119 - Planta piso 1, 1997 (Moura, 2001, p.40)
Elsa Maria Alves Almeida
96
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Apesar de não ser evidente no resultado final, devido ao minimalismo e descrição que
caracterizam esta intervenção, existem grandes alterações no mosteiro, sendo estas
ocultadas pela subtileza nas acções do autor, procurando dar continuidade à já longa
história do edifício, mas marcando ao mesmo tempo, um novo ciclo de vida do mesmo.
As adições e os enxertos impostos ao mosteiro decorrem da última alteração de
programa, a juntar a muitas outras na história da sua vida. Até mesmo o
reposicionamento de pequenos elementos está relacionado com o significado das
circunstâncias donovo programa: escadas, esntradas, blocos de pedra, abstractos na
forma, na colocação ou no material, visíveis por vezes, normalmente invisíveis,
compõem uma arqueologia dos nossos dias que dá continuidade à arqueologia do
edifício. Esta filosofia arbitrária das deslocações utiliza o edifício como uma pedreira de
material pré-modelado, através do qual pode ser alcançada a metamorfose do próprio
edifício. Os fragmentos, as pedras e as partes do antigo mosterio foram separadas,
demolidas, continuadas, copiadas, deslocadas, algumas concretamente, todas as
outras indirectamente. (Collová, 2001 p. 62)
Ilustração 120 - Alçado Norte (Moura, 2001, p.36)
Ilustração 121 - Alçado Sul (Moura, 2001, p.36)
Ilustração 122 - Alçado Poente (Moura, 2001, p.36)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 123 - Alçado Nascente (Moura, 2001, p.36)
Estas alterações verificam-se a vários níveis, Souto Moura opta por alterar as
dimenções das plantas de fundação do mosteiro, constrói-se uma estrutura em betão
armado e a estrutura antiga de alvenaria é demolida, tratada e os blocos de pedras
servem agora de revestimento à nova estrutura. Também o pavimento, que em
projecto estava previsto colocar o antigo ao lado do novo, foi alterado acabando por
decisão do arquitecto, fazer o novo igual ao antigo tornando-se mais normal. As portas
foram todas mudadas, algumas foram retiradas e usadas porteriormente para fins
decorativos deixando apenas o vão, para que houvesse continuidade entre os
espaços, outras foram colocadas em sítios onde eram realmente necessárias,
adaptando a estrutura ao novo programa.
Esta forma de passagem, a ruína, pertence agora ao novo edifício, que a fez
desaparecer. É um corpo mutilado relativamente ao mosteiro do século XVII, um corpo
ampliado relativamente ao edifício românico, e preparado para receber mais
ampliações. Os actuais acrescentos interiores e exteriores são como novos organismos
enxertados no antigo corpo. (Collová, 2001 p. 61)
A ruína mantem-se presente na imagem do edifício, de uma forma natural, até mesmo
poética, como se tivesse ficado parado no tempo. Esta ideia está patente em vários
pormenores do edifício como nas janelas, feitas de vidro como a caixilharia oculta
atrás das molduras, dando a ideia dos vãos vazios da ruína, a cobertura é agora um
plano vegetal sobre a laje, que não é visível no exterior, indo ao encontro das
lembranças do próprio autor, revelando que em pequeno nunca viu o telhado do
mosteiro, e também associando esta opção ao novo carácter contemporâneo da
pousada. Outra particularidade que revela a expressão da ruína é o clautro,
assumindo-o como um elemente cénico e encarado como uma escultura, sem vidros
de protecção. “A recuperação do claustro revela, de forma significativa, a sua natureza
desarticulada, o caractér de fragmento que renuncia à unidade original, colocando a
sua presença plástica acima da lógica de conexão dos antigos edifícios.” (León, 2001
p. 18)
Elsa Maria Alves Almeida
98
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 124 - Corte transversal (Moura, 2001, p.43)
Ilustração 125 - Corte longitudinal (Moura, 2001, p.43)
O novo conteúdo programático determinou a distribuição funcional, usufruindo da
antiga estrutura, com algumas transformações como a redefinição da largura dos
corredores e a adaptação das antigas celas, e obrigou á construção de um novo
corpo, para a instalação das áreas de serviço, pois dificilmente se conseguiam
introduzir na preexistência. Na resposta á necessidade de criar um núcleo técnico de
águas, o autor utiliza o mobiliário, criando um volume central, liberto do espaço
envolvente, de modo a não interferir com a escala do espaço inicial. Do espaço
programático do antigo mosteiro, somente o refeitório mantém a sua função inicial,
agora como sala de jantar do restaurante, sendo ampliada para a área da antiga
cozinha, onde de manteve a grande chaminé de granito existente. Esta extenção foi
realizada para permitir a ligação entre o restaurante e a nova área de apoio a serviços,
instalada numa nova ala semi-enterrada, de modo a estar camuflada e não mudar o
entendimento do conjunto. A decoração minimalista adequa-se ao espírito do edifício,
é inspirada na austeridade e simplicidade do antigo mosteiro cisterciense. “Em relação
às casas de banho dos quartos, a ideia era faze-las parecer um armário, para não
destruir a escala do espaço original. Era quase impossível fazer uma decoração. E
tudo, desde o mini-bar ao resto, tudo era embutidona parede.” (Collová, 2001 p. 50)
Elsa Maria Alves Almeida
99
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 126 - Planta piso 1 (Moura, 2001, p.40)
Ilustração 127 - Planta piso 2 (Moura, 2001, p.41)
1_Entrada principal
2_Auditório
3_Galeria
4_Moinho
5_Cozinha
Elsa Maria Alves Almeida
6_Lavandaria
7_Pátio das laranjeiras
8_Terraço
9_Tanque
10_Pátio do claustro
11_Claustro
12_Igreja
13_Quartos de hóspedes
14_Salão
15_Sala de estar
16_Sala de Jantar
17_Restaurante
18_Sala do Capítulo
19_Sacristía
20_Pomar
100
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 128 - Planta piso térreo (Mouro, 2001, p.39)
Ilustração 129 - Planta piso -1 (Moura, 2001, p.38)
1_Entrada principal
2_Auditório
3_Galeria
4_Moinho
5_Cozinha
Elsa Maria Alves Almeida
6_Lavandaria
7_Pátio das laranjeiras
8_Terraço
9_Tanque
10_Pátio do claustro
11_Claustro
12_Igreja
13_Quartos de hóspedes
14_Salão
15_Sala de estar
16_Sala de Jantar
17_Restaurante
18_Sala do Capítulo
19_Sacristía
20_Pomar
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Na abordagem ao lugar e ao programa, mediante um estudo das especificidades da
topografia, surge a possibilidade de criar um novo corpo integrado de um modo natural
na estrutura física do terreno, onde o contraste entre o novo e o antigo é quase nula.
Este novo corpo nasce a partir de um muro já existente, defenindo o alçado e o limite
do terraço, recuperando um espaço exterior na cobertura do mesmo, idêntico ao que
havia na fachada Sul do mosteiro. Este espaço, com função de esplanda, serve
simultaneamente para complementar e ocultar o novo corpo, e faz a ligação com o
pátio das laranjeiras e com a zona da piscina, este percurso é enriquecido pela
presença constante da água, elemento que está presente em várias zonas do edifício,
como memória viva do sistema hidráulico do antigo mosteiro. No interior deste novo
corpo instalam-se as áreas de serviço como a cozinha, que dificilmente se conseguiria
integrar no espaço do antigo mosteiro, devido às novas regras impostas, para um
pleno funcionamento do mesmo.
Ilustração 130 - Pousada Santa Maria do Bouro. Novo corpo (Fernandéz-Galiano, 2011, p.55)
Neste projecto, ao contrário do que Távora fez em Santa Marinha, nunca houve a
intenção de restaurar o conjunto, no sentido de fazer regressar o esplendor das formas
que este conheceu desde a sua fundação. Porém, apesar de ter sido considerada pelo
autor como “nova contrução”, sem complexos em introduzir materiais e técnicas
contemporâneas, verifica-se que tudo foi feito para parecer que sempre ali esteve.
(Vaz, 2009 p. 123)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 131 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano, 2011, p.51)
Ilustração 132 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e Levene, 2006, p.35)
Ilustração 134 - Imagens da nova pousada (Marquéz Cecilia e
Levene, 2006, p.36, 40 e 43)
Elsa Maria Alves Almeida
Ilustração 133 - Imagens da nova pousada (Fernandéz-Galiano,
2011, p.54)
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
104
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
4. PROJECTO ACADÉMICO
4.1. O SOLAR
Ilustração 135 - Solar da Ribafria (Ilustração nossa, 2012)
A história do início do Solar de Ribafria é complexa, pois existem diferentes versões
quanto à data de construção da torre e do restante edifício. Segundo alguns autores a
torre foi construída, em 1536, por Gaspar Gonçalves, facto fundamentado através do
documento concebido pelo Rei João III, em 1541, onde lhe atribui o título de Senhor
da Ribafria autorizando-o a usar esse apelido, e onde se encontra referido a existência
da torre e do anexo. Esta constatação é revogada, pelo facto de, a edificação das
torres com as características apresentadas serem privilégios da nobreza, e tendo em
conta a existência de elementos estruturais decorados com o brasão de Ribafria,
concedido somente em 1541. O que se concluí, posteriormente, é que a torre e o
anexo que foram referidos por João III, eram referentes apenas à habitação já
existente naquela propriedade, constituída por dois pisos, que Gaspar Gonçalves terá
comprado em 1526. Esta questão foi confirmada, mais tarde por Gaspar Gonçalves de
Ribafria, “uma quintaã em Ribafria que dántes chamavam – de Cabriz – a qual fiz de
novo com uma torre de dois sobrados e casas térreas pegadas com a dita torre”.
(Caetano, 2005 p. 86) Poderá concluir-se através desta afirmação, que Gaspar
Gonçalves Ribafria realizou, entre 1541 e 1542, obras de reabilitação e ampliação na
casa, tornando-a num solar merecedor do seu estatuto social.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
“[…]poderá crer-se que o morgado ampliou em altura o corpo paralelepipédico,
subindo-lhe mais um sobrado – ou reconstruído integralmente um eventual piso já
existente -, facto que a estrutura da cobertura do segundo piso, com abóbada de
nervuras e chave com o escudo da Ribafria, aparentemente corrobora.” (Caetano, 2005
p. 86)
Admite-se ter ocorrido, mais tarde, uma reforma setecentista, que proporcionou a
alteração das dimensões do antigo solar, através do acrescento de um piso na torre,
criando um desequilíbrio visual na relação entre a torre e as casa anexas. Ao longo do
século XIX, o conjunto edificado foi-se degradando até que, em 1902, a casa da
Ribafria passa a pertencer ao Conde do Cartaxo68. Desde esta altura foram realizadas
várias reformas, com o objectivo de reorganizar os espaços interiores e recuperar o
edifício, contudo estas obras não alteraram as linhas originais do edifício, conservando
a sua aparência anterior. Apesar dos melhoramentos realizados ao edifício, com a
morte do segundo Conde do Cartaxo, o antigo solar foi perdendo as suas valências.
Ilustração 136 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de
1960. Cave (Caetano, 2005, p.105)
Ilustração 137 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de
1960. Casas térreas (Caetano, 2005, p.105)
Ilustração 138 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de
1960. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.105)
Ilustração 139 - Levantamento planimétrico da torre antes da reforma de
1960. Segundo piso (Caetano, 2005, p.105)
68
D. Jorge José de Melo (1857 – 1922) Segundo Conde do Cartaxo. Formou-se em agronomia, e foi
professor na Quinta Regional de Sintra. Mais tarde, tornou-se Oficial-Mor Honorário da Casa Real, e foi o
50º Governador Civil de Lisboa.
Elsa Maria Alves Almeida
106
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Mais tarde, entre 1960 e 1961, após a aquisição da quinta por Jorge de Mello69, neto
do segundo Conde do Cartaxo, ocorre uma grande transformação alteranto o
programa rural da mesma e é feita uma grande reforma no solar, caracterizada por
uma profunda análise crítica do edifício preexistente. Depois desta investigação
designada por “Estudo de Reintegração da Fachada Norte”, feito por Vasco
Regaleira70 e Diogo Mello, foram consideradas três hipóteses de projecto. A primeira
seria a “correcção dos pormenores mantendo a estrutura existente”, a segunda seria a
“supressão de um andar na torre”, e a última seria a “reintegração histórica na sua
plenitude”. O projecto entregue na Câmara Municipal de Sintra, em 1959, da autoria de
João Andrade e Sousa71, assinalava um compromisso com o traçado já existente,
modelando apenas os aspectos funcionais do edifício. Na memória descritiva,
elaborada pelos autores, são perceptíveis as suas intenções para o projecto, sendo o
edifício composto por dois corpos, distintos em vários aspectos, a que denominam de
corpo A e corpo B, sendo o corpo A o principal.
Ilustração 140 - Levantamento planimétrico da quinta da Ribafria, 1959 (Caetano, 2005, p.79)
O corpo A, de interesse histórico acentuado, datado de cerca de 1949, antigo solar dos
Ribafrias, merece pois um cuidado e uma atenção que não quisemos descurar,
limitando-nos a alterar certas zonas que, por mudança de funcionamento e por serem
feitas onde já anteriormente fora mexido, julgamos serem de molde a valorizar o
conjunto. São pois consequência destas alterações as modificações que nos aparecem
exteriormente, mas que ficam absolutamente integradas no ambiente que nos é dado,
não só porque os vãos a abrir são semelhantes aos que existem como ainda porque
são, duma maneira geral, sensivelmente nos mesmos locais.
O Corpo B, que como dissemos atraz é de características diferentes, até porque é de
data mais recente, aprenta-se-nos quasi como uma ruína de difícil reconstrução. A
69
Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello (1895 – 1966) Foi um cavaleiro da Ordem de Malta,
deu continuidade aos negócios da família, tornando-se presidente do Grupo Cuf (Companhia União
Fabril) de 1942 a 1966. Em 1959, adquire a quinta da Ribafria, passando ali a ser a sua residência até à
sua morte.
70
Vasco de Morais Palmeiro Regaleira (1897 – 1964) arquitecto português. A sua obra desenvolveu-se
essencialmente na altura do Estado Novo. Dedicou-se principalmente à arquitectura religiosa, assumindo
um estilo tradicionalista, indo ao encontro do estilo oficial do Estado Novo.
71
João Monteiro Andrade e Sousa (1923) arquitecto português. Estudou na Faculdade Nacional de
Belas-Artes de Lisboa. Em 1984 recebe uma Menção Honrosa do Prémio Valmor concedido pela sua
obra “Edifício Gemini”.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
solução proposta não foge no entanto ao conjunto existente, não só no volume de
construção como ainda noaspecto arquitectónico exterior. De compartimentação
totalmente diversa da existente, embora este corpo fique no mesmo local do anterior,
optamos pela apresentação gráfica junta, para uma mais fácil leitura do projecto.
Assim, marcou-se uma linha divisória que nos separa o corpo A do corpo B.O primeiro
com ligeiras modificações. Ficarão os dois corpos ligados por duas passagens, uma
superior e outro inferior. A primeira, em que se aproveita um arco de cantaria existente
donde tiramos um certo partido plástico, liga o vestíbulo de entrada à zona dos quartos,
e a segunda serve para ligar as duas zonas de serviço e os quartos das crianças.
(Caetano, 2005 p. 92)
No entanto, a obra acabou por progredir segundo outros propósitos, principalmente
nas intenções para o alçado Norte, assumindo um desenho eminentemente sóciocultural, acabando por ser levado a cabo a primeira hipótese de projecto, segundo o
estudo acima referido, a “correcção dos pormenores mantendo a estrutura existente”.
Houveram, contudo, algumas alterações que segundo o autor, “tiveram sempre em
conta o ambiente do solar so século XVI procurando-se integrar este à época”
(Caetano, 2005 p. 94)
Ilustração 141 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de
Jorge Mello. Cave (Caetano, 2005, p.106)
Ilustração 142 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de
Jorge Mello. Casas térreas (Caetano, 2005, p.106)
Ilustração 143 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de
Jorge Mello. Primeiro piso (Caetano, 2005, p.106)
Ilustração 144 - Levantamento planimétrico da torre após a reforma de
Jorge Mello. Segundo piso (Caetano, 2005, p.106)
Elsa Maria Alves Almeida
108
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 145 - Reconstituição histórica da fachada Norte, em cerca de
1942 (Caetano, 2005, p.97)
Ilustração 146 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois da
reforma setecentista (Caetano, 2005, p.97)
Ilustração 147 - Reconstituição histórica da fachada Norte, depois das
obras do conde de Cartaxo (Caetano, 2005, p.97)
Ilustração 148 - Reconstituição histórica da fachada Norte, após a
intervenção de Jorge Mello (Caetano, 2005, p.97)
Ilustração 149 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos
XIX e XX, fase 1 (Caetano, 2005, p.98)
Ilustração 151 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos
XIX e XX, fase 2 (Caetano, 2005, p.98)
Elsa Maria Alves Almeida
Ilustração 150 - Esboço do alçado Poente da torre, ao longo dos séculos
XIX e X, fase 3 (Caetano, 2005, p.98)
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 152 - Planta corpo C (Sintra, 1989)
Ilustração 153 - Alçado frontal do corpo C (Sintra, 1989)
Mais tarde, em 1987, Jorge Mello vende a quinta ao Instituto Progresso Social e
Democracia Francisco Sá Carneiro, que depois viria a ceder a propriedade à
Fundação Friedrich Naumann. Esta fundação inaugurou um novo corpo, denominado
de corpo C, representado nas Ilustrações 90 e 91. Em 2003, a Quinta da Ribafria é
adquirida pela Câmara Municipal de Sintra, sendo o edifício classificado como Imóvel
de Interesse Público desde 1943.
Ilustração 154 - Planta da quinta da Ribafria, após a inserção do corpo C (Caetano, 2005, p.79)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 155 - Imagens do solar da Ribafria (Ilustrações nossas, 2012)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
4.2. A POUSADA
No primeiro tema, da cadeira de projecto do 5º, do ano lectivo 2012/2013, foi-nos
pedido a realização de uma proposta para uma pousada, na quinta da Ribafria. A
quinta localiza-se na Serra de Sintra, num espaço rural e isolado conferindo-lhe um
ambiente peculiar, como pudemos comprovar na visita que foi organizada ao local.
Nesta visita pudemos avaliar os edifícios preexistentes e toda a envolvente da quinta,
que se apresenta com uma ambiência muito especial, podendo até dizer-se mística.
Como já foi referido no subcapítulo anterior, a quinta e principalmente a preexistência,
conta com muitos anos de história, concedendo-lhe um carácter privilegiado no âmbito
da sua preservação.
Ilustração 156 - Planta de localização (Ilustração nossa, 2012)
O conjunto arquitectónico é então formado por três corpos, designados por corpo A, B
e C. O corpo A é o principal, incorpora o torreão e as casas adjacentes, com
características muito próprias e com um valor histórico elevado. O corpo B e C, já
acrescentados posteriormente em datas distintas o que lhes confere características
diferentes, já detêm uma menor importância tendo em conta as intenções da nova
proposta. A intenção principal nesta proposta foi, a de manter apenas o corpo
principal, devido não só ao seu valor patrimonial, mas por ser um elemento crucial na
identidade daquele lugar, os restantes corpos seriam demolidos.
Elsa Maria Alves Almeida
113
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 157 - Planta de implantação (Ilustração nossa, 2012)
Existem duas razões distintas para a demolição destes corpos, a primeira relaciona-se
com o facto de as características não integrarem a mesma linguagem do elemento
principal, corpo A, a segunda é derivado ao novo conteúdo programático, tendo em
conta que seria muito complexo integrar o novo programa nesses volumes. Assim são
criados outros dois corpos, o novo corpo B ficaria implantado no mesmo local do
antigo, e o novo corpo C, ficaria localizado junto a fachada Nascente do corpo A.
Ilustração 158 - Proposta do conjunto arquitectónico (Ilustração nossa, 2012)
A intenção principal para a preexistência é que esta seja totalmente restaurada, sendo
necessário alguns ajustes devido ao novo conteúdo programático, mas a sua estrutura
e características se mantenham intactas, procurando a mesma ideia do arquitecto
Carrilho da Graça, intensificando a ideia de contemplação ao edifício, até porque é
nele que se encontra a entrada principal e é apenas através deste corpo que os
utentes acedem aos restantes volumes. O novo programa instalado na preexistência
consiste na recepção, nas áreas comuns, a área administrativa. A capela já existente
seria mantida. Devido ao facto de haver a necessidade de subdividir os espaços, para
conseguir que o programa se integre na preexistência, e de modo a não afectar o seu
contexto, são criadas estruturas de metal e vidro fosco que fazem a divisão, sem ter
de fazer nenhuma alteração á estrutura principal, procurando a ideia do arquitecto
Carrilho da Graça, para o mosteiro Flor da Rosa.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
1_Entrada principal
2_Secretaria
3_Sala de leitura
4_Capela
5_Acessos público
6_Quartos
7_Cisterma
8_AVAC
9_Cozinha
10_Restaurante
11_Áreasde serviço
12_Acesso funcionários
13_Área administrativa
14_Sala de estar
15_Ginásio
16_Salas de massagem
17_Piscina Coberta
18_Sala polivalente
19_Sala de televisão
20_Suite
Ilustração 159 - Plantas com o conteúdo programático da nova proposta (Ilustração nossa, 2012)
Elsa Maria Alves Almeida
115
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
No novo corpo B iriam situar-se as áreas de serviço, as instalações técnicas, e o
restaurante. A localização do restaurante, a Poente da preexistência, foi pensado
nesta zona derivado a dois factores, primeiramente pelo facto de este ser para o
público em geral e haver a necessidade de existir duas entradas distintas, de forma a
preservar a privacidade dos utentes da pousada. O segundo factor relaciona-se com a
intenção de virar o restaurante para o jardim, que se encontra em frente ao mesmo,
para que os utilizadores externos à pousada possam passear nesse mesmo jardim e
conhecer esta área da quinta mais pública. Outra vantagem desta localização é a
possibilidade de existir um espaço exterior isolado, com um acesso restrito para
cargas e descargas, na fachada tardoz.
Ilustração 160 - Corte longitudinal do corpo B. Área de serviços e cozinha (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 161 - Corte transversal do corpo B. Restaurante (Ilustração nossa, 2012)
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Existem nesta proposta duas ligações ao corpo B, uma com a preexistência através de
uma passagem superior à semelhança da que existia no antigo corpo B, sendo esta a
ligação para os utentes da pousada, e outra que faz a ligação ao corpo C, através de
uma ala semi-enterrada, sem ser necessário aceder à preexistência, apenas para os
funcionários.
Ilustração 162 - Corte transversal da preexistência e corpo B. Ligação (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 163 - Corte transversal do corpo B e C. Ligação (Ilustração nossa, 2012)
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
No corpo C seriam instalados 22 quartos dos quais, onze estão virados a norte, e os
restante virados a sul, e as suites encontram-se numa pequena torre criada no
extremo do volume com duas intenções, a primeira foi do ponto de vista formal, criar
um equilíbrio visual do todo, reinterpretando de uma forma moderna o torreão já
existente, e a segunda seria para que as suites tivessem uma vista privilegiada sobre
a paisagem. No spa as áreas de sauna, massagens e ginásio estão na zona do
volume enterrada, já a zona da piscina, tem ligação com exterior através das fachadas
em vidro criando ligação visual com a zona da piscina exterior preexistente.
Ilustração 164 - Corte longitudinal da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 165 - Corte transversal do corpo C. Spa (Ilustração nossa, 2012)
A implantação do corpo C foi pensada com o propósito de estar numa área da quinta
mais reservada, que se apresenta como uma espécie de bosque, onde a intenção é
criar uma ambiência calma e com uma ligação próxima à natureza. Este efeito
acontece através das fachadas em vidro, e nos pequenos terraços criados nos
quartos. Tendo em conta o aproveitamento do declive do terreno, este corpo ficaria
implantado a uma cota inferior à do percurso já existente que faz a ligação dos vários
pontos de interesse da quinta, sendo esta ideia inspirada na actuação de Távora no
mosteiro Santa Marinha da Costa, apesar de os objectivos serem diferentes. Esta
inspiração também é visível na ligação deste corpo C com a preexistência, mantendo
uma continuidade na fachada, apesar de terem expressões distintas.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 166 - Corte transversal do corpo C. Quartos (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 167 - Fachada Norte da preexistência e corpo C (Ilustração nossa, 2012)
Os novos corpos assumem uma linguagem diferente, mais moderna, para que seja
perceptível esta nova fase construtiva do edifício, à semelhança do que Fernando
Távora fez em Guimarães e Carrilho da Graça fez no Crato.
Esta abordagem mais moderna, é sobretudo associada à escolha dos materiais,
utilizada nos novos corpos, a presença contínua do vidro na fachada sem caixilhos
aparentes, procurando a ideia do arquitecto Souto Moura no Bouro, com um intuito
diferente, pois aqui seria para a ligação interior/exterior ser mais suave. As paredes
exteriores são revestidas com pedra de cor cinza não só para criar uma harmonia na
relação com a preexistência, devido à existia da pedra em todas as fachadas da
mesma, mas principalmente para camuflar os corpos na própria paisagem.
Elsa Maria Alves Almeida
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Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Ilustração 168 - Perpectivas gerais da proposta para a nova pousada (Ilustrações nossas, 2012)
Elsa Maria Alves Almeida
120
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir, através da presente investigação, que não existem “regras
universais” aplicáveis a todos as intervenções no património. Cada casa é um caso, e
cada edifício é protagonista de diferentes valores e significados, foi alvo de diferentes
alterações e apropriações ao longo do tempo, fazendo dele um “objecto” único, tendo
por isso que ser encarado como tal. Cabe ao interveniente, através da sua
sensibilidade, perceber de que forma poderá manter presente, as memórias do
passado.
O que reflecte o sucesso das intervenções expostas neste trabalho, é a postura dos
arquitectos perante o monumento, sendo esta caracterizada pelo respeito à
preexistência, procurando interpretar através da sua história as características
principais a preservar, de forma a não perder o seu carácter. Apesar da atitude ser a
mesma, a abordagem na adaptação à nova função, é diferente.
Em Amares, Távora, procura na sua intervenção “[…] continuar – inovando” (Costa,
1993 p. 116), preservando os espaços mais importantes, mas reafirmando-os através
da integração do novo programa. É, também, perceptível a vontade do autor em
evidenciar as diferentes fases construtivas do edifício, sendo o seu objectivo, o de dar
continuidade à vida já longa da preexistência, tendo em conta que poderá no futuro ser
alvo de outras transformações.
No Crato, Carrilho da Graça, revela a intenção de restaurar o monumento, não
alterando a sua estrutura inicial, deixando-a como “objecto” de contemplação. O
conteúdo programático é integrado num novo volume, que se afirma como tal, dando
também a leitura de continuidade, através da afirmação das diferentes fases de
construção. “O objectivo do projecto é intensificar a possibilidade de visita do edifício
existente, privatizando-o e ocupando-o o menos possível, relendo-o e abrindo-o a
novas leituras.” (Graça, 2001 p. 31)
No Bouro, Souto Moura, decide manter a ruína e construir um novo edifício a partir
dela. A nova estrutura que a completa, é elaborada com materiais e técnicas
construtivas modernas, com objectivo de diferenciar o que é ruína do que é a nova
construção.
O projecto tenta adaptar, ou melhor, servir-se das pedras disponíveis para construir um
novo edifício. Trata-se de uma nova construção, onde intervêm vários depoimentos
Elsa Maria Alves Almeida
121
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
(uns já registados, outros a construir) e não da recuperação do edifício na sua forma
original. Para o projecto as ruínas são mais importantes que o “mosteiro”, já que são
material disponível, aberto, manipulável, tal como o edifício o foidurante a história.
(Moura, 2001, p. 5)
Como podemos perceber, os autores destas intervenções tiveram outra preocupação
comum, que foi a continuidade destes edifícios, revelando que não só o passado é
importante, mas também o futuro. É necessário ter em conta a importância de encarar
os edifícios patrimoniais, como “organismos vivos”, que estão em permanente
transformação tal como a sociedade em que vivemos, tendo por isso, de estar
preparados para serem adaptados a novas necessidades e circunstâncias do futuro.
Elsa Maria Alves Almeida
122
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
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Elsa Maria Alves Almeida
128
APÊNDICES
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
LISTA DE APÊNDICES
Apêncice A -
Elsa Maria Alves Almeida
As pousadas de Portugal
131
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
132
APÊNDICE A
As pousadas de Portugal
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
1ª Série de Pousadas
LOCALIZAÇÃO
INTERVENÇÃO
ARQUITECTO
INAUGURAÇÃO
CATEGORIA
Pous a da de Sa nta Luzi a
El va s
Edi fíci o de Ra i z
Mi gue l Ja cobe tty Ros a
1942
Cha rme
Pous a da de Sã o Gonça l o
Ma rã o
Edi fíci o de Ra i z
Rogé ri o de Aze ve do
1942
Na ture za
Pous a da de Sa nto Antóni o
Se ré m
Edi fíci o de Ra i z
Rogé ri o de Aze ve do
1942
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sã o Ma rti nho
Al fe i ze rã o
Edi fíci o de Ra i z
Ve l os o Re i s Ca me l o
1943
Pous a da da Juve ntude
Pous a da de Sã o Brá s
Sã o Brá s de Al porte l Edi fíci o de Ra i z
Mi gue l Ja cobe tty Ros a
1944
Cha rme
Pous a da de Sã o Ti a go
Sa nti a go do Ca cé m
Edi fíci o de Ra i z
Mi gue l Ja cobe tty Ros a
1945
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sã o Loure nço
Ma nte i ga s
Edi fíci o de Ra i z
Rogé ri o de Aze ve do
1948
Na ture za
Pous a da do Ca s te l o
Óbi dos
Re conve rs ã o a Pous a da Joã o Fi l i pe Va z Ma rti ns
1950
Hi s tóri ca
Pous a da de S. Joã o Ba pti s ta
Be rl e nga
Re conve rs ã o a Pous a da
1953
(De s a ti va da )
Pous a da de Sã o Pe dro
Ca s te l o de Bode
Re conve rs ã o a Pous a da Mi gue l Ja cobe tty Ros a
1954
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sã o Ba rtol ome u
Bra ga nça
Edi fíci o de Ra i z
Jos é Ca rl os Loure i ro e Pá dua Ra mos
1959
Cha rme
Pous a da do Infa nte
Sa gre s
Edi fíci o de Ra i z
Jorge Se gura do
1960
Na ture za
Pous a da da Ri a
Murtos a
Edi fíci o de Ra i z
Al be rto Cruz
1960
Na ture za
Pous a da de Sã o Ge ns
Se rpa
Edi fíci o de Ra i z
Le ona rdo Ca s tro Fre i re
1960
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sã o Je róni mo
Ca ra mul o
Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Cruz
1962
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sa nta Ca ta ri na
Mi ra nda do Douro
Re conve rs ã o a Pous a da Le ona rdo Ca s tro Fre i re
1962
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sã o Te otóni o
Va l e nça do Mi nho
Edi fíci o de Ra i z
1963
Cha rme
Pous a da dos Lói os
Évora
Re conve rs ã o a Pous a da Rui Ânge l o Couto
1965
Hi s tóri ca
Pous a da de Sã o Fi l i pe
Se túba l
Re conve rs ã o a Pous a da
1965
Hi s tóri ca
2ª Série de Pousadas
Elsa Maria Alves Almeida
Joã o Ande rs on
135
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
136
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
3ª Série de Pousadas
LOCALIZAÇÃO
INTERVENÇÃO
ARQUITECTO
INAUGURAÇÃO
CATEGORIA
Pous a da de Sa nta Ma ri a
Ma rvã o
Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Cruz
1967
Cha rme
Pous a da de Sã o Be nto
Ca ni ça da
Re conve rs ã o a Pous a da Edua rdo Coi mbra Bri to
1968
Na ture za
Pous a da Ra i nha Sa nta Is a be l
Es tre moz
Re conve rs ã o a Pous a da Rui Ânge l o do Couto
1970
Hi s tóri ca
Pous a da de Sa nta Bá rba ra
Ol i ve i ra do Hos pi ta l Edi fíci o de Ra i z
1971
(De s a ne xa da )
Pous a da de Sa nta Cl a ra
Sa nta Cl a ra -a -Ve l ha Re conve rs ã o a Pous a da Ra úl Chorã o Ra ma l ho
1971
Na ture za
Pous a da de Va l e do Ga i o
Torrã o
Re conve rs ã o a Pous a da Ra úl Chorã o Ra ma l ho
1977
Na ture za
Pous a da de Nos s a Se nhora da Ol i ve i ra Gui ma rã e s
Re conve rs ã o a Pous a da Al be rto Be s s a
1979
Cha rme
Pous a da de Sa nti a go
Pa l me l a
Re conve rs ã o a Pous a da Luís dos Sa ntos Ca s tro Lobo
1979
Hi s tóri ca
Pous a da do Monte Sa nta Luzi a
Vi a na do Ca s tel o
Re conve rs ã o a Pous a da
1979
Cha rme
Pous a da de D. Di ni s
Vi l a Nova de Ce rve i ra Re conve rs ã o a Pous a da Al ci no Souti nho
1982
Hi s tóri ca
Pous a da Ba rã o Forre s ter
Al i jó
Re conve rs ã o a Pous a da Fe rna ndo Ra ma l ho
1983
Cha rme
Pous a da de Sa nta Ma ri nha da Cos ta
Gui ma rã e s
Re conve rs ã o a Pous a da Fe rna ndo Tá vora
1985
Hi s tóri ca
Pous a da Me s tre Afons o Domi ngos
Ba ta l ha
Re conve rs ã o a Pous a da
1985
(De s a ne xa da )
Pous a da da Se nhora da s Ne ve s
Al me i da
Edi fíci o de Ra i z
1987
Cha rme
Pous a da Qui nta da Orti ga
Sa nti a go do Ca cé m
Re conve rs ã o a Pous a da
1991
Na ture za
Pous a da de Sã o Mi gue l
Sous e l
Re conve rs ã o a Pous a da Al fre do Ma ta Antune s
1992
Na ture za
Pous a da do Mons a nto
Mons a nto
Re conve rs ã o a Pous a da Dua rte Nuno Si mõe s
1993
(De s a ne xa da )
Pous a da do Ca s tel o de Al vi to
Al vi to
Re conve rs ã o a Pous a da Ma nue l Ba gul ho
1993
Hi s tóri ca
Ma nue l Ta i nha
4ª Série de Pousadas
Cri s ti a no More i ra
5ª Série de Pousadas
Elsa Maria Alves Almeida
137
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
Elsa Maria Alves Almeida
138
Reconversão do Património: O Caso das Pousadas de Portugal
5ª Série de Pousadas
LOCALIZAÇÃO
INTERVENÇÃO
ARQUITECTO
INAUGURAÇÃO
CATEGORIA
Pous a da de Sa nta Cri s ti na
Condei xa
Reconvers ã o a Pous a da Ferna ndo Ra ma l ho
1993
Cha rme
Pous a da D. Ma ri a I
Quel uz
Reconvers ã o a Pous a da Ca rl os Ma nuel Ra mos
1994
Hi s tóri ca
Pous a da de Sã o Fra nci s co
Beja
Reconvers ã o a Pous a da E. Ma i a Rebel o e Jos é Al ves
1994
Hi s tóri ca
Pous a da Fl or da Ros a
Cra to
Reconvers ã o a Pous a da Joã o Luís Ca rri l ho da Gra ça
1995
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da de Nos s a Senhora da As s unçã oArra i ol os
Reconvers ã o a Pous a da Jos é Pa ul o dos Sa ntos
1996
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da de Sa nta Ma ri a do Bouro
Ama res
Reconvers ã o a Pous a da Edua rdo Souto Moura
1997
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da de D. Joã o IV
Vi l a Vi ços a
Reconvers ã o a Pous a da Joã o de Al mei da e Pedro F. Pi nto
1977
Hi s tóri ca
Pous a da de D. Afons o II
Al cá cer do Sa l
Reconvers ã o a Pous a da Di ogo Li no Pi mentel
1998
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da de Bel monte
Bel monte
Reconvers ã o a Pous a da Luís Rebel o de Andra de
2001
Hi s tóri ca
Pous a da do Des a gra do
Vi l a Pouca da Bei ra
Reconvers ã o a Pous a da Antóni o Montei ro
2002
Hi s tóri ca
Pous a da do Forte de Sa nta Cruz
Horta
Reconvers ã o a Pous a da Al berto Cruz
2004
Cha rme
Pous a da de Sã o Seba s ti ã o
Angra do Heroís mo
Reconvers ã o a Pous a da Is a bel Sa ntos
2006
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da da Gra ça
Ta vi ra
Reconvers ã o a Pous a da Joã o Sous a Ca mpos
2006
Hi s tóri ca
Pous a da de Es toi
Fa ro
Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne
2009
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da do Frei xo
Porto
Reconvers ã o a Pous a da Da vi d Si ncl a i r
2009
Hi s tóri ca
Pous a da de Vi s eu
Vi s eu
Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne
2009
Cha rme
Pous a da de Ca s ca i s
Ca s ca i s
Reconvers ã o a Pous a da Gonça l o Byrne e Da vi d Si ncl a i r
2012
Hi s tóri ca /Des i gn
Pous a da da Serra da Es trel a
Gua rda
Reconvers ã o a Pous a da Edua rdo Souto Moura
2014
Hi s tóri ca /Des i gn
Elsa Maria Alves Almeida
139
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Reconversão do património