O CONCEITO DE SEMELHANÇA DE TRIÂNGULOS EM UMA AULA Elaine de Queiroz Souza Kátia Renata Pelegrini Acadêmicas do curso de Licenciatura em Matemática e bolsista do PIBID da Unidade Universitária de Nova Andradina – UEMS [email protected]; [email protected] José Felice Professor Doutor do Curso de Licenciatura em Matemática e Coordenador de área do PIBID, da Unidade Universitária de Nova Andradina – UEMS [email protected] Resumo: Este trabalho representa uma das atividades de bolsista do Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID, e tem como proposta a preparação de aulas para exercícios da docência. O planejamento da aula apresentada neste artigo foi fundamentado na Teoria das Situações Didáticas e no Processo de Estudo, levando em conta que as situações devem ser criadas pelo professor e partilhado com os alunos. Como orientador da aprendizagem, o professor deve procurar situações onde os alunos possam dar sentido ao conhecimento, através da contextualização e personalização do saber, num movimento de vivenciar o conhecimento pelo aluno. Nesta aula foi proposto o estudo do conceito de semelhança de triângulo, para ser estudado a partir do conceito de proporcionalidade definido por Tales. Palavras-chave: Teoria das situações didáticas, Contextualização, Semelhança de Triângulos, Práticas iniciais da docência. Introdução As atividades que estamos desenvolvendo no curso de formação e no PIBID está voltada para o estudo de temas matemáticos com o intuito de preparar aulas que serão úteis quando estivermos em sala de aula. Os estudos que estamos fazendo têm nos tornado cientes que o desenvolvimento de um tema relacionado a um saber matemático, deve ser apresentado dentro de um universo em que ele faça sentido aos alunos. Dessa forma, acreditamos estar fazendo a contextualização, ou seja, proporcionando a interação dos alunos com o objeto a ser estudado e um determinado meio. Essa ideia sugere a apresentação de uma “situação” que possa provocar ações sobre o objeto que será estudado. A fundamentação teórica para o desenvolvimento das aulas teve por base estudos sobre a Teoria das Situações Didáticas. Para Brousseau (2008, p. 20) “Uma situação é um modelo de interação de um sujeito com um meio determinado”. 2 Considerando que uma aula envolve um saber a ser estudado e as relações do professor e do aluno com esse saber. Destacamos essas ações segundo Brousseau (2008), como sendo “situações didáticas”, onde o professor deixa de ser somente aquele que ensina, para desempenhar o papel de orientador da aprendizagem. O pensamento de Chevallard, Bosh e Gascon (2001 apud FELICE 2012) sobre o professor orientador, destaca: O professor orientador produz uma importante mudança no equilíbrio das responsabilidades atribuídas tradicionalmente tanto para o professor como para o aluno, ele já não tem como decidir a cada instante qual será a atividade pontual dos alunos e deixa de ser considerado como único (e principal) responsável pela atitude, motivação e tarefas deles. Nesse tipo de situação os alunos, orientados pelo professor, podem organizar enunciados, escrever suas ideias, desenvolver técnicas matemáticas, explicar a validade dessas técnicas e chegar aos conhecimentos que estão contidos no saber matemático que está sendo estudado. Levando em conta essas possibilidades, preparar uma aula significa providenciar situações favoráveis, de modo, que o aluno nessa ação efetiva sobre o saber, o transforme em conhecimento. Para o desenvolvimento da aula utilizamos dos estudos de Felice (2012, p. 114), que propõe como procedimento metodológico o processo de estudo como uma das alternativas para a organização do conhecimento de um objeto em estudo. Para o autor (ibidem, 2012): [...] no processo de estudo é possível estabelecer uma relação aberta – mesmo porque não se está “preso” somente ao ensino – e que nessa relação podem-se exercitar diversas tarefas, de preferência em grupo de estudos, com possibilidades de ocorrer uma evolução dos conhecimentos prévios sobre o objeto a ser estudado. Para levar em frente às premissas delineadas anteriormente, a preparação de uma aula necessita da organização antecipada de ações que serão propostas aos alunos. Nossas atividades como estagiários e bolsistas do PIBID, entre outras, é exercitar a elaboração de aulas que possam aproximar o trabalho dos alunos do modo como é produzida a atividade científica verdadeira, ou seja, permitir que os alunos se tornem um estudante, testando ideias, formulando hipóteses, construindo modelos, e socializando os resultados. No sistema de estudo idealizado pelo autor (ibidem, pg. 114), o professor propõe uma situação (a tarefa) em que nem tudo fica explicito (o objeto de estudo), que demonstra a existência da intencionalidade. Aos alunos, cabe pensar em possíveis caminhos para resolvê-la, formulando hipóteses sem ter a necessidade de dar resposta imediata, mas argumentar técnicas já institucionalizadas. Em seguida, usam as práticas e argumentos para 3 produzir ideias, esse é o momento de explicações e abstrações. Finalmente, ocorre à síntese, o resultado que representa o concreto ou as relações internas do saber, em que os alunos realizam a organização coerente do conhecimento. Baseando-se nessas ideias, traçamos o objetivo dessa aula. Objetivo Essa aula tem como objetivo: Criar situações de estudo, de modo a aproximar os alunos do saber sobre o conceito de semelhança de triângulos, do qual ele deve se apropriar, por meio da definição de proporcionalidade desenvolvida por Tales. Desenvolvimento da Aula A aula será organizada levando em conta as seguintes etapas: Primeiro Momento Aproveitar a história de Tales, que ao medir a altura da pirâmide construiu um modelo onde se podem comparar dois triângulos retângulos formados pela sombra e pela altura. A tarefa consiste em fazer os alunos observar a maquete da pirâmide. Eles poderão manipular os triângulos isósceles colocando-os um sobre o outro, e manifestando por frases, pelo discurso e até mesmo pela escrita sobre os fatos observados. Da manipulação poderão surgir explicações sobre ângulos correspondentes congruentes já que os lados correspondentes são proporcionais, definição obtida de Tales. No Segundo Momento É o momento de discutir o conceito matemático. Para isso, encaminharemos a discussão sobre os triângulos sobrepostos. O triângulo grande contém a altura da Pirâmide; o triangulo pequeno contém a altura do bastão. A A D D B C AeD E F BeE A D E B F C B E CeF F C 4 A tarefa agora é discutir, sobre as sobreposições dos triângulos até que os alunos consigam descrever as seguintes observações (manipulando triângulos reais conforme o desenho): a) na primeira sobreposição, o ângulo B tem a mesma medida do ângulo E; b) na segunda sobreposição, o ângulo A tem a mesma medida do ângulo D; c) na terceira sobreposição, o ângulo C tem a mesma medida do ângulo F; d) em todas as sobreposições ocorre que sempre temos o lado de um triângulo paralelo ao lado correspondente do outro triângulo; No Terceiro Momento Dando sequência, podemos manipular com os alunos a definição de proporcionalidade institucionalizada anteriormente, ou seja: Podemos representar AB BC = DE EF leitura “igualdade entre duas razões”. E o conceito: “se duas razões tem o mesmo valor então são proporcionais”. No Quarto Momento Nesse momento, para manipular o conceito de proporcionalidade podemos apresentar um texto histórico retirado da coleção Contando a História da Matemática (GUELLI, 1998): O texto se refere a uma reportagem do século XVII: “O matemático alemão Leibniz acaba de criar um sinal para a divisão. Leibniz está escrevendo uma proporção, por exemplo, três está para seis assim como quatro está para oito: 3 : 6 = 4 : 8. Um número cada vez maior de matemáticos está usando essa notação. Além disso, ela também tem feito sucesso que os matemáticos estão também usando o sinal (:) para indicar uma divisão. O fato mais importante é que Leibniz descobriu que na proporção 3x8 = 6x4 e conseguiu dizer que o produto dos números extremo é igual ao produtos dos números do meio”. O importante dessa representação de Leibniz, é procurar refletir com os alunos a possibilidade de escrever 3 : 6 = 4 : 8 ou 3 : 4 = 6 : 8, e chegar á conclusão de que as duas igualdades representam a mesma proporção. No Quinto Momento 5 Dando sequência as reflexões, podemos sugerir a escrita da proporção representada pelos dois triângulos, ou seja: AB BC = DE EF já foi visto que as razões são proporcionais (as razões tem o mesmo valor), logo podemos instigar os alunos a escrever AB BC = , DE EF segundo a propriedade definida por Leibniz. Sobre a representação AB BC = DE EF podemos discutir, com os alunos, as seguintes questões: a) quem é AB ? (a resposta esperada é “a altura da pirâmide”); b) quem é DE ? (a resposta esperada é “a altura do bastão”); c) quem é BC ? (a resposta esperada é “a sombra da pirâmide”); d) quem é EF ? (a resposta esperada é “a sombra do bastão”). O último momento é generalizar o que foi observado, esperando a manifestação dos alunos através da verbalização da comparação que fizeram entre os dois triângulos, esperando que as falas sejam próximas de: “a altura da pirâmide está para a altura do bastão assim como a sombra da pirâmide está para a sombra do bastão”. No final da discussão devem teorizar a existência das características necessárias para a existência da semelhança entre dois triângulos, por meio da verbalização e a linguagem deve se aproximar do que já se encontra institucionalizado: “Dois triângulos são semelhantes, se os ângulos correspondentes são congruentes e os lados correspondentes são proporcionais”. Resultados Esperado De acordo com o objetivo proposto, a intencionalidade é de aproximar os alunos do saber que será estudado de forma que eles possam manipular as ideias que vão surgindo e poder se manifestar. Essas ações podem garantir a participação ativa na elaboração e compreensão do conceito. A devolução que os alunos fazem ao se manifestarem sobre os fatos observados e vivenciados durante as ações significa assumir a responsabilidade pela aprendizagem. Por isso, o professor deve organizar a aula no sentido de ceder parte dessa responsabilidade aos alunos. Compreendido o conceito o que se espera são as aplicações em exercícios e problemas. O que temos de certeza é que durante as aplicações do conceito de semelhanças 6 de triângulos esses alunos terão sempre como referência as experiências vivenciadas por meio das ideias de Tales. Referencias Bibliográficas BROUSSEAU, Guy. Introdução ao estudo da teoria das situações didáticas: conteúdos e métodos de ensino. São Paulo: Ática, 2008. FELICE, José. O processo de estudo de temas matemáticos, relativos ao ensino fundamental, por intermédio de situação-problema: práticas vivenciadas por acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática. Campo Grande/MS: Tese de Doutorado, UFMS: 2012. GUELLI, Oscar. Matemática uma Aventura do Pensamento: Ensino Fundamental. 3ª edição V 1 ao 4. São Paulo: Ática, 1998. _____________. Contando a História da Matemática. Volume 2, Equação: O idioma da Álgebra. São Paulo: Ática 1995.