Identificação das principais culturas agrícolas nos municípios da região do Médio e Alto Uruguai – RS Enio Júnior Seidel1, Silvana Gonçalves de Almeida2, Adriano Mendonça Souza3 1 Introdução Nesse contexto temos a região do Médio Alto Uruguai, localizada no extremo noroeste do Rio Grande do Sul, onde, segundo Poerschke (2007), é possível observar que os municípios são definidos como os de menor investimento e utilização de recursos para modernização. O objetivo desta pesquisa é identificar culturas mais relevantes para os municípios localizados na região em estudo. Pois, a região é carente de investimentos, por isso, conhecer as características agrícolas dessa região é importante para a elaboração de políticas e sistemas de auxilio aos agricultores. 2 Metodologia Foram analisadas 24 variáveis referentes à questão agrícola, no ano base de 2004, em 34 municípios localizados na parte noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Os dados foram coletados do site da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Para o tratamento estatístico utilizou-se, primeiramente, a análise Fatorial, seguida da estatística descritiva para observar o comportamento das variáveis em estudo, para tal utilizou-se o software Statistica 7.0. As culturas consideradas nesse estudo são: Erva-mate, Feijão, Fumo, Laranja, Mandioca, Milho, Soja e Tangerina. Cada cultura é definida como uma variável, e cada cultura possui três outras variáveis definidas como: Área colhida (%); Rendimento médio (Kg/ha); e Valor da produção (R$ mil). 3 Análise Fatorial Aqui se tem o objetivo de descrever a variabilidade original das variáveis, em termos de um número menor k de fatores comuns e que estão relacionados com as variáveis originais através de um modelo linear (MINGOTI, 2005). Os fatores poderiam ser estimados por: 1 Mestrando em Eng. de Produção/PPGEP, UFSM, [email protected] 2 Graduanda em Matemática, UFSM, [email protected] 3 Professor do PPGEP, UFSM, [email protected] F j = ω j1 z1 + ω j 2 z 2 + ... + ω ji z i onde: F j são os fatores comuns não relacionados, ω ji são os coeficientes dos escores fatoriais e z i é o vetor de observações padronizadas. Para determinar o número k de fatores a serem considerados nessa análise, é utilizado o critério da raiz latente, no qual se consideram os fatores cujos autovalores são maiores ou iguais a 1 (HAIR et al, 2005). Por fim faz-se a extração das componentes principais, que são combinações lineares de variáveis construídas de maneira a captar o máximo de variância, em que a primeira componente explica a maior variação existente, o segundo a segunda maior variação e assim por diante (SANTOS, 2004). Nesta pesquisa se fará uso das componentes principais na forma do círculo unitário realizando a comparação com o plano fatorial dos casos, de modo a identificar, visualmente, quais variáveis estão relacionadas com os casos em estudo, e consequentemente quais variáveis são mais importantes para cada município (caso). 4 Resultados e discussão Primeiramente aplicou-se o teste de esfericidade de Bartlett, para verificar a existência de correlações significativas entre as variáveis (HAIR et al, 2005). O teste gerou um valor de 767,48, significativo (p=0,0001), mostrando que a análise Fatorial pode ser aplicada. Segundo Corrar et al (2007), é possível extrair um certo número de fatores comuns de um número de variáveis, de modo a retratar de uma forma mais simples uma estrutura existente mas não observável. Observa-se na Tabela 1 os fatores selecionados, assim como autovalores e variância explicada, obtendo-se uma redução de 21 variáveis para 6 fatores. TABELA 1 - Autovalores e percentual de variância explicada de cada fator. Autovalor Fator 1 2 3 4 5 6 8,598491 3,225106 2,471801 1,997893 1,653766 1,413749 Variância explicada % 35,82704 13,43794 10,29917 8,32455 6,89069 5,89062 Autovalores acumulados 8,59849 11,82360 14,29540 16,29329 17,94706 19,36081 Variância acumulada % 35,82704 49,26499 59,56416 67,88871 74,77940 80,67002 As Figuras 1 e 2 mostram os círculos unitários (estrutura das variáveis) e os planos fatoriais (estrutura dos casos) para os três primeiros componentes principais encontrados (cada fator gera uma componente principal). Optou-se por utilizar os três primeiros componentes, pois são os que possuem cargas fatoriais significativas, tendo como serem rotulados. Na Figura 1 estão os fatores 1 e 2, relacionando as variáveis com os municípios, numa variação explicada de 49,26%. Observa-se que as variáveis mais influentes no fator 1 são Laranja (Kg/ha), Soja (%), Tangerina (%) e Tangerina (R$ mil). O fator 2 possui a variável Milho (R$ mil) como a de maior peso. Porém, para analisar o relacionamento entre variáveis e os municípios consideramos todas as variáveis. 1,0 8 6 La ra nj a-2 00 4 (%)p Ta ng eri na-20 04 (% )p La ra nj a -2 004 (R$ m i l )p So j a -20 0 4 (k g / ha )p Fe i j ã o-20 04 (k g / h a)p 0,0 NVX ENV 4 Fac tor 2: 13,44% Factor 2 : 13,44% 0,5 Fe i j ã o-20 04 (% )p La ra nj a -2 004 (k g / h a)p Tan ge ri n a-2Fu 00m4o-2 (R$0 04 m i l(% )p )p M aa-20 ndi oc 00h4a)p (% )p MFei a ndi 04a-2 (kmM g/ j ãooc -20 0 4 (R$ i li)p l ho -2 00 4 (%)p Soj a-2 0 04 (% )p Fu m o -2 00 4 (R$ m i l )p Erv a m a te-20 04 (k g/ haM)pi lSo j a-20 m )p i l )p ho-20 0404(k (R$ g/ ha Ta ng e ri n a-2 00 4 (k g / h a)p LIS 2 GRL CON RIN SPM TRS CGR VIA NVT PINL SAF TRP SJM AMS PLA PIV 0 ALP VID IRA CAR -2 TAS PAL ROB LAB JAB CRS NON DIM FRW BVM M an di o c a -20 04 (R$ m i l )p -0,5 ERS Fum o-2 004 (k g/ ha Erv )p a m at e-20 04 (R$ m i l )p -4 Erv a m a te -20 04 (% )p SEB M i l h o-2 0 04 (R$ m i l )p -6 -1,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Factor 1 : 35,83% -8 -10 Active -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 Ac tiv e Fac tor 1: 35,83% FIGURA 1 - Planos fatoriais 1x2 com a distribuição das nuvens de variáveis e casos (municípios). Na Figura 2 estão os fatores 1 e 3, numa variação explicada de 46,13%. É possível verificar que a variável mais influente no fator 3 é Milho (%). Porém, consideram-se todas as variáveis para a análise. 1,0 6 5 M i l h o-2 00 4 (%)p NVT 4 Erv a m a te-20 04 (k g/ ha )p Fe i j ã o-2 00 4 (% )p Ta ng eri n a -20 04 (k g/ ha )p M a nd i oc a-20 04 (R$ m i l )p M an di o c a -20 0 4 (k g / ha )p o-20 404(R$ (R$mmi l )p i l )p FeFum i j ã o-200 0,0 So j a -20 04 (% )p Erv a m ate -2 00 4 (R$ m i l )p Fum o-20 04 (k g/ ha )p M i l ho -20 04 (R$ m i l )p Fe i j ã o-2 00 4 (k g / h a)p Tan g eri n a-20 04 (% )p La ra nj a -20 04 nj (ka-2 g / h00 a)p L ara 4 (R$ m i l )p Ta n ge ri n a-2 00 4 (R$ m i l )p M i l h o-20 04 (k g / h a )p So j a-20 04 (R$ m i l )p -0,5 CGR ROB A MS 2 Erv a m a te-20 04 (% )p Fu m o -20 0 4 (%)p La ra nj a-2 00 4 (%)p P INL LA B 3 M a nd i oc a-20 04 (% )p Factor 3: 10,30% Factor 3 : 10,30% 0,5 PAL 1 TA S LIS V IA S EB P IV A LP CA R VID IRA 0 CRS NV X E NV GRL TRS -1 DIM B VM CON FRW P LA -2 JA B S JM SA F E RS S PM TRP RIN -3 NON So j a -2 00 4 (k g/ ha )p -4 -5 -6 -1,0 -1,0 -0,5 0,0 Factor 1 : 35,83% 0,5 1,0 Active -7 -10 -8 -6 -4 -2 0 Factor 1: 35,83% 2 4 6 8 Active FIGURA 2 - Planos fatoriais 1x3 com a distribuição das nuvens de variáveis e casos (municípios). Fazendo uma análise global, considerando os três fatores simultaneamente, é possível verificar que os municípios de Alpestre, Ametista do Sul, Caiçara, Frederico Westphalen, Irai, Liberato Salzano, Palmitinho, Pinheirinho do Vale, Planalto, Rodeio Bonito, Seberi, Taquaruçu do Sul, Vicente Dutra e Vista Alegre têm relação com as culturas de Feijão, Fumo, Laranja, Mandioca, Milho e Tangerina. Esse resultado pode ser relacionado a questões como características geográficas dos municípios, tipos de propriedades agrícolas, pois estes municípios têm propriedades agrícolas menores, na maioria, de agricultura familiar, sem grandes tecnologias ou maquinário de grande porte. Já os municípios de Boa Vista das Missões, Cerro Grande, Constantina, Cristal do Sul, Dois Irmãos das Missões, Engenho Velho, Erval Seco, Gramado dos Loureiros, Jaboticaba, Lajeado do Bugre, Nonoai, Novo Tiradentes, Novo Xingú, Pinhal, Rio dos Índios, Sagrada Família, São José das Missões, São Pedro das Missões, Três Palmeiras e Trindade do Sul têm relação com as culturas da Erva mate, Milho e Soja. Esses municípios possuem propriedades agrícolas relativamente maiores se comparadas com os municípios anteriores, esse fato comprova a maior ênfase nas culturas do Milho e Soja, através da agricultura mecanizada. Isso é verificado por Schneider & Fialho (2000) apud Poerschke (2007), que apontam que os municípios das Missões e Alto Uruguai têm se destacado pela expansão da cultura da soja. Além disso, podemos relacionar a utilização da cultura da erva mate com o número elevado de indústrias ervateiras nesses municípios. 4 Conclusão Observa-se que, considerando a questão agrícola, existem dois grupos de municípios na região em estudo. Um grupo de municípios com domínio das culturas do Feijão, Fumo, Laranja, Mandioca, Milho e Tangerina. E outro, caracterizado pela referência às culturas da Erva mate, Milho e Soja. Sugere-se no primeiro o incentivo por meio de disseminação de conhecimento sobre os cultivares de modo a aumentar a produtividade, visto que o aumento de área plantada é uma restrição, pois a grande maioria são de pequenos produtores, e isto foge ao orçamento familiar. Sugere-se também em nível municipal, a criação de patrulha agrícola, onde município, a custos razoáveis, poderá trazer melhorias com maquinários para o plantio e colheita, sendo estes equipamentos prioritários para esta função, tendo em vista que o setor agrícola compreende um calendário especifico. A cultura mecanizada com propósitos de atender a demanda nacional e as exportações deve contar com a participação de órgãos de fomento de pesquisa e de financiamentos, pois são grandes extensões e com grandes custos. Vale lembrar que a parceria entre municípios, estado e governo federal é uma ótima solução. Para estudos futuros sugere-se a inclusão de outras culturas, e ampliar a análise para todo o estado, além de considerar outras variáveis como, por exemplo, nível de inovação tecnológica utilizada, maquinário, etc. Referências CORRAR, L. J. et al. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. FIPECAFI. São Paulo: Atlas, 2007. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA – FEE. Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/feedados/consulta/sel_modulo_pesquisa.asp. Acesso em: 22 ago. 2007. HAIR, J. F.; et al. Análise multivariada de dados. Trad. Adonai S. Sant’Anna e Anselmo C. Neto. 5 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. MINGOTI, S. A. Análise de dados através de métodos de estatística multivariada: uma abordagem aplicada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. POERSCHKE, R. P. Análise multivariada de dados socioeconômicos: um retrato da modernização agrícola no rio grande do sul. 125 f. Monografia (Especialização) – Programa de Pós-Graduação em Estatística e Modelagem Quantitativa da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2007. SANTOS, J. H. S. et al. Distinção de grupos ecológicos de espécies florestais por meio de técnicas multivariadas. Revista Árvore, v.28, n.3, p.387-396, Viçosa, 2004.