O cérebro dos seus filhos por Sharon Begley “O cérebro de um bebê é um trabalho em execução; trilhões de neurônios esperando para serem conectados dentro da mente. Pesquisas pioneiras mostram que as experiências vivenciadas durante a infância ajudam a formar os circuitos do cérebro para a música e a matemática, a linguagem e a emoção.” Quando um bebê nasce, seu cérebro é uma confusão de neurônios, aguardando para serem tecidos na intrincada tapeçaria da mente. Alguns desses neurônios, previamente, no óvulo fertilizado, já terão sido conectados pelos genes em circuitos que comandam a respiração, controlam os batimentos cardíacos, regulam a temperatura do corpo ou geram reflexos, mas outros trilhões e trilhões são como os chips em um computador, isto é, antes que sejam carregados os programas, são puros e de um potencial quase infinito. Estes circuitos não programados poderão permitir à pessoa compor músicas e realizar cálculos, explodir em fúria ou se derreter em êxtase. Se os neurônios forem utilizados, se tornarão partes integrantes da circulação do cérebro, pela conexão a outros neurônios, se, ao contrário, não forem utilizados poderão morrer. São experiências da infância, determinando quais neurônios serão usados, que ligam os circuitos tão seguramente quanto um programador configura os circuitos de um computador. Quais teclas serão acionadas (que experiências uma criança vivenciar) determinarão se ela desenvolverá mais ou menos a inteligência, que será medrosa ou autoconfiante, articulada ou terá a língua presa. “Experiências precoces são tão poderosas que podem mudar completamente a maneira de ser de uma pessoa”, diz o pediatra neurobiólogo Harry Chugani, da Waine State University. Na idade adulta, o cérebro é cruzado por mais de 100 bilhões de neurônios, que se integram com milhares de outros, de forma que, ao final da história, o cérebro tem mais de 100 trilhões de conexões. São estas conexões, em número superior ao de galáxias do universo, que darão ao cérebro poderes inigualáveis. A visão tradicional era de que o diagrama das conexões era pré-determinado pelos genes no óvulo fertilizado. Lamentavelmente, ainda que metade dos genes (50.000) esteja de alguma forma envolvida com o sistema nervoso central, não existe número suficiente de genes para especificar as conexões incomparavelmente complexas do cérebro. Isso abre uma nova possibilidade, a de que os genes possam determinar somente os circuitos principais do cérebro com alguma coisa mais, formando os trilhões de conexões mais delicadas. Este “algo mais” provém do ambiente, quando milhares de mensagens do mundo exterior são recebidas pelo cérebro. De acordo com este paradigma emergente, “há dois amplos estágios das conexões cerebrais, um primitivo, quando não se exige experiência alguma, e um posterior, quando a experiência é necessária para estabelecer a conexão”, diz a nerobióloga Carla Shatz, da Universidade da Califórina. Contudo, uma vez estabelecidas às conexões, existem limites para a capacidade do cérebro em criá-las por si próprio. Limites de tempo, chamados de “períodos críticos”; são janelas de oportunidades que a natureza abre repentinamente, já antes do nascimento, para, então fechá-las uma a uma, à medida que velas são adicionadas aos bolos de aniversário da criança. Nos experimentos que deram origem a este paradigma, na década de 70, Torsten Wiesel e David Hubel descobriram que, mantendo fechado um dos olhos de um gatinho recém-nascido, novas conexões se estabeleceram em seu cérebro, assim, poucos neurônios conectaram o olho fechado ao córtex visual, de forma que o animal continuou cego mesmo depois que seu olho foi aberto. Tal conexão não ocorreu em gatos adultos, cujos olhos foram mantidos fechados. Conclui-se que há um breve período primitivo, quando os circuitos conectam a retina ao córtex visual e quando as regiões do cérebro amadurecerem, que determina por quanto tempo elas são maleáveis. As áreas sensoriais amadurecem já na infância; o sistema límbico emocional é conectado na puberdade; os lóbulos centrais – sedes de compreensão – desenvolvem-se, no máximo, até os 16 anos de idade. As implicações deste novo entendimento são, ao mesmo tempo, promissoras e perturbadoras. Elas sugerem que, com a ação certa, no momento certo, quase tudo é possível; contudo, implicam também que, se você errar a janela, estará jogando em desvantagem. Elas tornam claro o erro que é adiar o ensino de um segundo idioma. Neurobiólogos estão ainda nos primórdios do entendimento exato de quais tipos e experiências ou ações sensoriais conectam o cérebro, assim como do entendimento da forma como isto acontece. Eles sabem bastante sobre o circuito da visão, que tem um forte impulso no crescimento dos neurônios nos bebês com idade entre 2 e 4 meses, época em que começam realmente a perceber o mundo à sua volta, e atinge o auge aos 8 meses de idade, quando cada neurônio é surpreendentemente conectado a 15.000 outros neurônios. Um bebê cujos olhos são embaçados por catarata desde o nascimento, será cego para sempre, mesmo que passe por uma cirurgia de remoção de catarata aos 2 anos de idade. Os pesquisadores sabem o que acontece em outros sistemas, mas, com relação a neurônios e moléculas, ainda há desconhecimento. O cérebro é moderado em seu funcionamento, um mecanismo que funciona bem para conectar a visão, é improvável que seja abandonado quando se volta para os circuitos da música. “As conexões não se formam voluntária ou involuntariamente, mas são promovidas pela atividade”, diz Dale Purves, da Duke University. “A importância da música para as crianças”. Abemúsica. 2ª Ed, 2008.