Pasadena: Conselho recebeu relatório 15 dias antes, diz defesa de Cerveró Por: Bruno Rosa, Clarice Spitz, Ronaldo D’Ercole, Isabel Braga e Luiza Damé Fonte: O Globo Data: 02.04.2014 Os membros do Conselho de Administração da Petrobras receberam com antecedência a documentação completa referente à compra da refinaria de Pasadena, afirma Edson Ribeiro, advogado do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró. Segundo ele, o procedimento é uma norma interna da petrolífera. A declaração contrasta com a explicação dada até agora pela presidente Dilma Rousseff, que disse que a aquisição foi decidida com base em “informações incompletas”. — No dia da apresentação do diretor Cerveró ao conselho de administração, os conselheiros já haviam recebido a documentação completa 15 dias antes. No dia da apresentação de Cerveró foi feito o resumo de uma página e meia. Não havia as cláusulas de Put Option e de Marlim (que beneficiavam o grupo Astra, sócio belga na refinaria). Partiu-se do princípio que os conselheiros já tinham lido toda a documentação ou, então, tinham o aval de suas assessorias jurídicas. Nenhum conselheiro pode dizer que desconhecia — disse Ribeiro, em entrevista ao GLOBO. Na quarta-feira, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, reafirmou a posição do governo: — Como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, a presidente Dilma Rousseff não recebeu, repito, não recebeu previamente o contrato referente à aquisição da refinaria Pasadena. Em 2006, quando a refinaria foi comprada, o Conselho de Administração da Petrobras era presidido por Dilma Rousseff, e tinha como integrantes José Sergio Gabrielli, presidente da estatal na época, Antonio Palocci Filho, Fábio Barbosa, Gleuber Vieira, Jaques Wagner, Arthur Sendas (que já faleceu), Cláudio Luiz da Silva Haddad e Jorge Gerdau. ‘Sem autorização de Cerveró’ Em nota, Gerdau disse na quarta-feira que o contrato não foi enviado previamente ao conselho. DOCS - 1140117v1 Indagado novamente, Ribeiro disse que não foi autorizado a falar pelo próprio Cerveró, mas que não parece normal que o conselho vá para uma reunião sem conhecimento de um negócio como Pasadena. — É preciso checar todo o procedimento. Acho que alguma coisa não está bem colocada — disse Ribeiro. O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, disse, em nota, que não comentaria discussões internas do conselho, mas destacou que “a decisão de comprar a refinaria atendia ao planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo Fernando Henrique”. Ele destacou que já se pronunciou sobre o assunto em diversas oportunidades. Procurado, Haddad não quis se pronunciar. Os demais conselheiros não se manifestaram. A Petrobras disse que não vai comentar. 'Bode expiatório' A compra da refinaria — um negócio de cerca de US$ 1,2 bilhão — é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Ministério Público Federal. Diante da polêmica, Cerveró, que estava de férias na Europa, antecipou a volta ao Rio. Segundo Ribeiro, há uma tentativa de fazer de Cerveró “o bode expiatório, como se a compra de Pasadena fosse ruim”. O advogado enviou carta de Cerveró ao Senado, à Câmara, à Polícia Federal e à Procuradoria Geral da República na qual o ex-diretor se coloca à disposição para esclarecimentos sobre o negócio. O depoimento foi marcado para o dia 16 na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara (CFFC), um dia depois da data escolhida para ouvir na comissão a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Os comentários de Cerveró são aguardados com expectativa pela oposição. Petistas e governistas, no entanto, minimizam o efeito das declarações. — É compreensível que ele queira dar a versão dele. A comissão vai questionar e analisar. A única dúvida que não tenho é quanto à veracidade das palavras da presidente, corroboradas por todos os membros do conselho — disse Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara. Políticas varias de acordo com a empresa Segundo o professor de Direito das Escola de Administração da FGV, Fernando Zelveti, não há regra sobre o nível de detalhamento das informações passadas a membros do conselho e que isso depende da governança de cada empresa. DOCS - 1140117v1 Ele afirma que quando a reunião envolve aquisições, em geral, se recebe um resumo dos pontos já tratados pela assessoria jurídica, e citou, como exemplo, os relatórios da consultoria BDO e do Citigroup, que analisaram a compra de Pasadena. — É o tipo de documento mínimo que se olha — disse. Felipe Mavignier, especialista em direito societário do Gasparini, De Cresci e Nogueira de Lima Advogados, diz que a antecedência de envio de dados depende do estatuto social da empresa. Para Emanuelly Marciano Rodrigues Castro, sócia do Marcelo Tostes Advogados, o conselho deve ler todo o material antes de aprovar qualquer negócio. Mas nem sempre isso acontece: — Há pessoas que leem tudo, outras se balizam pela reunião. DOCS - 1140117v1