O MOVIMENTO SOCIAL DOS TRABALHADORES Em meados do século XIX, grande parte dos trabalhadores europeus vivia na miséria. As jornadas de trabalho eram longas e os salários, baixíssimos. Havia também grande exploração da mão-de-obra de mulheres e crianças, que recebiam salários menores que os dos homens adultos. Diante dessa situação, os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos. Aos poucos, o movimento dos trabalhadores foi assumindo caráter político. Ao longo dos séculos XIX e XX, os trabalhadores conquistaram diversos direitos, como redução da jornada de trabalho e férias. O MUNDO DO TRABALHO As últimas décadas do século XVIII e as primeiras do século XIX correspondem, na Europa, à fase de acumulação de capital por parte dos empresários. Nessa fase, eles procuravam obter lucros cada vez mais elevados e rápidos. Uma fonte de lucros foi a exploração comercial das colônias. A outra fonte consistiu na exploração do trabalho assalariado dentro das fábricas: jornada de trabalho longuíssima (até dezesseis horas por dia) com pagamento de baixos salários. Dentro das indústrias, os trabalhadores eram constantemente vigiados, submetidos a regulamentos severos e podiam ser punidos por qualquer atitude que desagradasse ao patrão. Por tudo isso, tiveram grande dificuldade para organizar um movimento de luta pelos seus direitos. Em diversos países do mundo, a justiça considerava que, em caso de conflito nas fábricas, a palavra do empregador era sempre confiável, enquanto o empregado tinha de provar o que dizia. Outro motivo que dificultava a organização operária era a falta de tradição dos trabalhadores nos movimentos de luta. Em parte, a experiência dos trabalhadores tinha ligação com a sua origem. Geralmente, os operários eram de famílias de camponeses que haviam deixado suas terras em busca de trabalho na cidade. Isso porque as transformações geradas pelo capitalismo chegaram ao campo, fazendo com que muitas das pequenas propriedades rurais de cunho familiar fossem engolidas pelas grandes propriedades. Os camponeses encontravam-se assim fora de seu meio habitual, vivendo num mundo desconhecido e hostil. Não frequentavam escolas e desde crianças começavam a trabalhar por salários miseráveis. Alimentavam-se mal e tinham de sujeitar-se aos severos regulamentos das fábricas. Quase todo o tempo de que dispunham era dedicado ao trabalho, e não podiam reclamar. Essas condições dificultavam a organização dos trabalhadores. Apesar das dificuldades, lentamente os operários foram se organizando e passaram a lutar por melhores condições de vida. Os primeiros movimentos visavam a mudanças na legislação que lhes permitissem organizar-se abertamente. Na França, essa aspiração começou a dar resultados em 1864, com uma lei que permitia a realização de greves e a organização de sindicatos. Na Inglaterra, só em 1875 esse direito foi plenamente reconhecido. Nos Estados Unidos, ele foi conquistado somente em 1930. O MASSACRE DE CHICAGO Por volta de 1850, os principais países industrializados eram Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos. Nesses países, milhões de operários trabalhavam nas mais duras condições, sem leis que os protegessem. Cada patrão pagava quanto queria e explorava os empregados o máximo possível. A jornada era de catorze, dezesseis e até dezoito horas por dia. Em 1886, realizou-se nos Estados Unidos uma greve geral para conquistar a jornada de trabalho de oito horas. Em Chicago, no dia 1º de maio, uma grande manifestação pública reuniu milhares de pessoas, que foram violentamente dispersadas pela polícia. No dia 3, os trabalhadores fizeram outra manifestação, novamente reprimida. Dessa vez, porém, a polícia, agindo com mais violência ainda, assassinou vários operários diante da fábrica MacCardick. Estava declarada uma verdadeira guerra aos trabalhadores. Mas eles responderam com coragem e, no dia 4 de maio, organizaram outra concentração. A polícia outra vez interveio, assassinando homens, mulheres e crianças. Oito líderes do movimento foram presos e condenados à morte. Quatro deles foram enforcados, um suicidou-se e três foram perdoados. Em 1892, a Associação Internacional dos Trabalhadores decidiu que o dia 1 ° de maio seria comemorado mundialmente todos os anos como o Dia Internacional do Trabalhador, ou seja, um dia de luta dos trabalhadores por seus direitos. A IMPORTÂNCIA DOS SINDICATOS Os sindicatos, associações de trabalhadores que exercem a mesma profissão para a defesa de interesses comuns, foram muito importantes nas manifestações de descontentamento dos trabalhadores. Os primeiros sindicatos surgiram na Inglaterra em 1830, mas apenas em 1875 foram plenamente reconhecidos pelo governo. No princípio, os sindicatos foram apenas tolerados pelo governo, que apoiava os interesses dos patrões. Apesar das dificuldades, no começo do século XX o número de sindicatos já era significativo: mais de dois milhões de ingleses eram sindicalizados; um milhão e meio de norte-americanos defendiam seus direitos na Federação Americana do Trabalho e cem mil trabalhadores franceses faziam parte de vários sindicatos desde 1895. O SOCIALISMO Muitos pensadores europeus do século XIX criticavam o sistema capitalista. Para eles, era um regime em que poucos se beneficiavam da exploração de muitos. Colocando-se contra o capitalismo, defendiam uma sociedade mais justa, na qual a riqueza fosse dividida de maneira igualitária e a maioria (os trabalhadores) fosse beneficiada. As ideias desses pensadores, apesar das várias diferenças entre elas, podem ser chamadas de socialistas. Os socialistas afirmavam que era necessário realizar modificações profundas na sociedade, para permitir que todas as pessoas vivessem em melhores condições sociais. Ou seja, todos deveriam ter o direito de alimentar-se adequadamente, possuir um lugar decente para morar, ter um trabalho que garantisse um salário digno, contar com assistência médica, etc. Para tanto, seria fundamental que os meios de produção (terras, fábricas, máquinas, etc.) deixassem de ser propriedade de apenas algumas pessoas e passassem a pertencer a todos os membros da sociedade. Costuma-se chamar os primeiros pensadores socialistas de socialistas utópicos. Utopia significa sonho, ou se refere a um objetivo impossível de ser atingido. Os socialistas utópicos eram assim chamados porque imaginavam uma sociedade ideal, sem exploração de um ser humano pelo outro, e acreditavam que ela podia ser alcançada pela boa vontade das pessoas. Não propunham uma maneira concreta de atingi-la, diferentemente da corrente conhecida como socialismo científico. O socialismo científico tinha esse nome porque sua teoria baseava-se na análise objetiva da realidade econômica e social e não meramente em ideias e aspirações. Os principais representantes do socialismo utópico foram Robert Owen, na Inglaterra; Saint-Simon, Louis Blanc, Charles Fourier e Flora Tristan, na França. Além de lutar pela causa dos trabalhadores, Flora participou também de movimentos pelos direitos da mulher. O principal teórico do socialismo científico foi o filósofo alemão Karl Marx. Entre outras obras, Marx escreveu O capital e o Manifesto do Partido Comunista, este último elaborado com Friedrich Engels. O termo socialismo indica também um sistema político e social, isto é, um certo tipo de organização da sociedade e do Estado. Assim, ele foi moldado conforme o local em que foi adotado, como na Rússia após a Revolução de 1917, espalhando-se mais tarde para países do Leste europeu, para a China e Cuba, entre outros. Atualmente, as versões do socialismo que ainda seguem em curso encontram-se apenas em Cuba e na Coréia do Norte. KARL MARX, UM DOS TEÓRICOS DO SOCIALISMO Karl Marx, um dos maiores pensadores da humanidade, nasceu em Trier, Alemanha, em 1818. Era filho de um advogado judeu convertido ao protestantismo. Em 1841 obteve o título de doutor em filosofia. Em 1847 ingressou na Liga dos Justos, mais tarde Liga dos Comunistas. Substituiu o lema da Liga — "Todos os seres humanos são irmãos" — pelo grito de guerra: "Trabalhadores de todos os países, uni-vos!". Em colaboração com seu amigo Friedrich Engels (1820-1895), redigiu o Manifesto do Partido Comunista, publicado em Londres em 1848. Por causa de suas ideias e de sua participação em movimentos revolucionários, Marx foi expulso da Alemanha. Após breve estada na França, passou a viver em Londres, na Inglaterra, onde acompanhou de perto as transformações da segunda fase da Revolução Industrial e investigou a fundo a situação de penúria do proletariado inglês. Em 1864, liderou a organização da I Internacional, associação geral de trabalhadores de todo o mundo, cujo objetivo era preparar a tomada do poder pelo proletariado. Em 1867, publicou em Londres o primeiro volume de sua obra mais importante: O capital. Os outros dois volumes foram publicados depois de sua morte, com base em manuscritos revistos por Engels. Em O capital, Marx faz uma análise das sociedades humanas, desenvolve a crítica à economia capitalista e lança as bases do socialismo científico, que luta por uma nova repartição dos rendimentos resultantes do trabalho. Marx levou uma vida de pobreza e frequentemente teve de contar com a ajuda de seus amigos, em particular de Engels, para manter suas despesas e sustentar a família. Faleceu em Londres em 1883. AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE SOCIALISMO E CAPITALISMO No capitalismo, os meios de produção terras, máquinas, indústrias, bancos, minas, etc. — pertencem a pessoas ou empresas. Ou seja, são propriedade particular (privada). No socialismo, ao contrário, os meios de produção são propriedade coletiva (pública). Isto é, pertencem à sociedade e geralmente são controlados pelo Estado. No capitalismo, a economia visa ao lucro em primeiro lugar. No socialismo, o principal objetivo da atividade econômica é atender às necessidades básicas da população — alimentação, saúde, educação, emprego, moradia, etc. — e, em princípio, ninguém pode explorar o trabalho de outra pessoa. O modo de produção socialista existiu na União Soviética e em diversos outros países.