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CONSTRUINDO VIDAS E OBRAS: OS FRANCISCANOS EM DIVINÓPOLIS
Fernando de Oliveira Teixeira
[da ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS. Cadeira 25.]
Dom Frei Hugo Maria Stleckelenburg e demais frades da comunidade do
Convento Santo Antônio , presidente Augusto Ambrósio Fidelis, demais
confrades e confreiras da ADL, senhoras e senhores, ensina São Francisco de
Assis que, por tudo, devemos dar graças a Deus e hoje agradecemos a Ele o
dom Franciscano entre nós.
Havia manhãs e tardes naqueles tempos em que os sinos do Santuário de
Santo Antônio marcaram a vida da cidade bem interiorana. O convento era
cercado de muros altos escorando galhos dos pé de mangas, o edifício
sobressaía pela sóbria imponência da construção e a voz dos frades, que
residiam, tinha sotaque holandês.
Na vizinhança dele, porém, existia um menino que, infelizmente cresceu, mas
teve ocasião de ouvir os sinos do Santuário lendo o Tico Tico, de ser coroinha
dentro do Santuário, convivendo a vivência dos frades no dia a dia da paróquia
perceber que, atrás do sotaque holandês, existiam frades franciscanamente
brasileiros.
Perdoem, senhoras e senhores presentes, esta preliminar de fala que agora
suportam.
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A presença franciscana na memória de cada um de nós, que ficou adulto nesta
Divinópolis, guarda um naco do existir pessoal, de saudade ganhando corpo
de história.
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Tudo começou, quando o vigário da Paróquia de Carmo do Cajuru, padre José
Alexandre Mendonça, falecido em 1936 após 47 anos de pastoreio local,
decidiu sugerir ao Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Antônio
dos Santos Cabral, entregasse aos frades holandeses franciscanos a Paróquia
do Divino Espírito Santo.
No entanto, havia resistência, na época, de setores do clero e dos meios
políticos com relação à vinda de estrangeiros para conduzir paróquias no
Brasil, motivando delonga no curso de 1923, até que o comissário Provincial,
Frei Paulo Stein, obtivesse o assentimento do Núncio apostólico à pretensão.
Incluía o projeto do Comissariado, além da assunção do múnus paroquial,
também a transferência do seminário seráfico de São João Del-Rei para cá.
E assim se concretizou.
Aqui fez seus estudos iniciais para ingresso na ordem franciscana, Frei
Orlando Álvares da Silva, patrono da Assistência Religiosa do Exército
Brasileiro, vindo daquela cidade histórica.
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O primeiro pároco franciscano chega ao Largo da Matriz em 11 de agosto de
1924, dia de grande simbologia, pois consagrado à memória litúrgica de Santa
Clara de Assis.
Era frei Hilário Verheij, que veio de Teófilo Otoni e atuou até 1931, quando o
substitui Frei Braz Berten, o qual assumiu zelosamente o encargo de construir
uma nova igreja para a comunidade.
E os seguiram outros, inclusive no Santuário de Santo Antônio, instituída que
fora a nova paróquia em 30 de dezembro de 1944.
A lembrança permite anotar, embora cedendo a uma tentação daquele
diabinho que faz pecar por omissão: Frei Metelo Meeve , Frei Carlos Schep,
Frei Isidro Bottega, Frei Patrício Moura Fonseca ( que ocupou o cargo de
Ministro Provincial ), Frei Hugo Maria Van Steckelnburg (Bispo de emérito de
Almenara/MG, de novo em nosso meio), mais recentemente Frei Célio de
Oliveira Goulart ( hoje Bispo Diocesano de São João Del Rei), Frei Vicente
Ronaldo da Silva ( hoje definidor provincial )até Frei Francisco Duarte Junior (
atual pároco).
Na verdade, ouvintes atentos, cada um deles plantou, ou planta, no terreno da
história, a semente de um estilo de ser e de obras específicas, por isso mesmo
surgiram assim a Ordem Terceira da Penitência, rebento da família instituída
pelo Patriarca de Assis, a Ação Católica, a associação das Filhas de Maria, o
Apostolado da Oração , a orientação religiosa , bem com pastorais e
movimentos eclesiais diversos.
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Os afrescos do Santuário, de pura arte de Frei Humberto Randag, o cinema e
teatro chamado de Santo Antônio (onde está situado o Colégio Roberto
Carneiro) proporcionando diversão sadia para as famílias, o jornal paroquial A
SEMANA e respectiva
tipografia, a revista SANTA CRUZ, entre outras
iniciativas, evidenciam outra faceta do carinho com o povo de Deus a eles
confiado.
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Com a transferência do seminário seráfico para Taquari, no Rio Grande do Sul,
no ano de 1931, instala-se o curso de teologia, com um corpo docente de
altíssimo nível. Dentre os docentes, longo dos anos, citaríamos, embora
conscientes de lapsos injustos: Frei Pacômio Thieman, Frei Eurico Peters , Frei
Respício Valdkenhoef, redator do jornal
A SEMANA por um período , Frei
Aloísio Lorscheider, bispo e cardeal da Igreja posteriormente e Frei Bernardino
Leers, um dos mais respeitados expoentes da sua especialidade no mundo.
A partir da implantação deste estabelecimento de ensino superior, confrades e
confreiras e demais assistentes, consolidou-se a contribuição para a cultura e
arte na comunidade local, marcante, sobretudo a partir dos anos 50 e 70 do
século passado.
O teatro através do saudoso Conjunto Teatral Mariano e da encenação de
peças pelo clérigos mesmo, além da música, cujo desenvolvimento se deve
particularmente a Frei Joel Postma , ganharam relevo na comunidade.
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A pintura e escultura (e aqui entre nós se encontra o Frei Raul, o poeta da
madeira) e a literatura, exercita estas artes por vários frades, influenciavam
especialmente a classe intelectualizada local.
Uma biblioteca, que chegou a ser aberto ao público até pouco tempo e o
incentivo às tradições religiosas, que Frei Leonardo Lucas Pereira cultivou por
quarenta anos entre nós, mostra também a riqueza do espólio da presença
franciscana.
De tal modo a influência dos franciscanos se impôs que, nos últimos anos de
sua vida, Pedro X. Gontijo, um dos responsáveis pela criação do município,
agnóstico convicto, chegou a participar de reuniões com os estudantes de
teologia do convento.
Não bastasse, distinguiram-se no serviço da Igreja, saindo do instituto
superior dos frades, o primeiro da cidade , Dom Claudio Humes, cardeal e
arcebispo emérito de São Paulo, Dom José Belisário da Silva, arcebispo de São
Luis do Maranhão e vice- presidente da CNBB, Dom Diogo
Reesing, Bispo
emérito de Cachoeiro do Itapemirim e, para a sociedade brasileira, merecendo
citação dentre muitos nomes, José Murilo de Carvalho, cientista político e
historiador, membro da Academia Brasileira de Letras, médico como João
Lembi Viana , que atua em Belo Horizonte, políticos
como João Marques
Vasconcelos, deputado e vice- governador do Estado.
O relicário de saudade Divinopolitano, por sua vez, vela a lembrança de
Antonio de La Pedraja Resende, a quem o magistério local deve um modelo de
competência e amor ao ensino.
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Estes apontamentos, distinto auditório, pinçados numa presença de noventa
anos, firmam a convicção de que os franciscanos exerceram e exercem a
atividade para além do universo meramente religioso.
Insertos na comunidade Divinopolitano, constroem uma comunidade vivendo
um cristianismo assentado nas aspirações humanas mais altas.
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Impedem reservar, caro e paciente auditório para o fecho desta conversa, que
já escorre longa, homenagens particulares, mas que não podem ser relegadas.
A primeira a Frei Antônio do Prado, o Toninho do Prado ou Pradinho da época
de estudante, nascido nesta cidade, 7 de abril de 1938, cuja vocação religiosa
o conduziu para o apostolado, especialmente na periferia de Belo Horizonte,
onde viveu, na simplicidade e entre os pobres, o chamado evangélico. Partícipe
da família dos pequeninos de Deus, foi modelo do serviço humilde.
A irmã morte tomou as mãos do primeiro Franciscano Divinopolitano em 22 de
outubro de 2006 e o levou ao país o coração do Pai, onde, tenho certeza,
intercede por nós.
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Residindo atualmente em Petrópolis, Frei Celso Márcio Teixeira, embora tendo
o berço natal em Carmo da Mata, leciona e pesquisa a história franciscana no
cumprimento da santa obediência, mas seus familiares moram em Divinópolis.
A lembrança teima em acordar quando o conheci, por volta de 1955, nas
vésperas de sua ida para o seminário seráfico de Santos Dumont, na sala da
casa de seus pais para o tradicional rosário de recomendações. Mais jovem do
que eu, ainda quase criança.
Por alguns anos, convivemos franciscanidade nas fímbrias da Mantiqueira, mas
ele perseverou nas rotas do Pobrezinho de Assis, da qual o veterano daquele
tempo desviou.
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A ADL também é franciscana com a presença dos seguidores de São Francisco
nos seus quadros.
Em seus primórdios, frei Odulfo van Der Vat, que é mencionado como um dos
quatro maiores especialistas da história dos franciscanos no Brasil e autor da
única pesquisa de história da Igreja em Divinópolis, além de diversas obras
internacionalmente reconhecidas, foi secretário geral zeloso e acadêmico
exemplar.
Ocupa hoje, a sua cadeira, cujo patrono, por ele escolhido é José de Anchieta,
outro frade, Frei Jacir de Freitas Faria, este também escrito de nomeada,
especialista em temas da Sagrada Escritura, que leciona em importantes
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instituições de
ensino religioso
e colabora em publicações,
inclusive
estrangeiras, de sua área.
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Eis a síntese desta palestra insípida: cromos de infância enfeixados na
memória pessoal, registros históricos arrancados e documentários. Por isto o
tom intimistade trechos e a repetição de fatos em outros. Importa celebrar uns
e outros neste momento de quase centenário.
Chegaram a Divinópolis, na distância de ontem, franciscanos holandeses com
alguns brasileiros, depois brasileiros com remanescentes dos missionários
holandeses. E se tornaram gente da terra, fincaram raízes entre nós, doaram
sua fé profunda e sua cultura ao povo de Deus em Divinópolis.
São noventa anos que pedimos ao Senhor multiplique, por intercessão
especialmente de São Francisco de Assis, autor desta espiritualidade de
serviço.
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Ouvintes amigos, conta-se que certa vez um orador desfiava sua fala, como
esta, por arrastado tempo. Impacientou-se o auditório. Lá pelas tantas,
interroga o enfadonho palestrante: “O que mais devo dizer-lhes?”. Ouve-se
uma voz no fundo da sala de conferências: “Tenho dito”.
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Antes de ouvir de vocês a mesma sugestão, eu silencio, saudando-os, porém,
à moda bem franciscana: PAX ET BONUM, paz e bem.
Fala em homenagem aos NOVENTA ANOS DE PRESENÇA FRANCISCANA EM
DIVINÓPOLIS na solenidade patrocinada pela ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE
LETRAS em 8 de agosto de 2014, realizada no CENTRO FRANCISCANO DE
FORAMÇÃO E CULTURA.
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Homenagem aos frades de Divinópolis