ITECNOLOGIA ENGENHARIA CIVIL Inovação subterrânea Manta aplicada sobre tubulação de água ou esgoto garante economia na instalação SAMUEL ANTENOR esdeos tempos dos antigos romanos, os primeiros a utilizar estruturas enterradas, a engenharia sempre investiu no desenvolvimento de materiais para uso no subsolo. Hoje, sob nossos pés, funcionam uma série de serviços, como água, esgoto, telefonia e eletricidade, entre outros. São milhares de quilômetros de tubulações, das quais se pode facilmente imaginar o grau de importância econômica e social de suas funções. No entanto, a técnica de execução empregada para instalar essas obras obteve poucos avanços ao longo da história. Se for considerado o que ainda está para ser implantado em infra-estrutura subterrânea, nas telecomunicações e mesmo na eliminação de postes e o conseqüente aterramento de fios, é bem-vinda a notícia de um novo tipo de instalação de tubulações mais barato e mais raso, desenvolvido no Laboratório Geossintéticos do Departamen- D Vala Instalação do Geovala: manta de material resistente e permeável recebe peso apenas nas áreas ao lado da vala I 72 • ABRIL DE 2003 • PESQUISA FAPESP 86 to de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP). O objetivo do grupo de pesquisadores, coordenados pelo professor Benedito de Souza Bueno, foi reduzir ao máximo as cargas sobre as tubulações, permitindo instalações mais próximas à superfície, sem o perigo de peso excessivo e com a possibilidade de utilização de dutos mais flexíveis. Resistente e durável - Chamada de projeto Geovala, a técnica utiliza materiais geossintéticos - produtos manufaturados à base de poliéster ou polipropileno, formados por mantas e grelhas de alta resistência e durabilidade - sobre as valas subterrâneas, criando um espaço vazio onde é instalada a tubulação. Assim, todo o peso fica distribuído para fora da área da vala, que fica livre do excesso de carga. A proposta não é desenvolver novos tipos de tubulações, mas modificar a maneira Pavimentação r. zindo uma sene como elas são instaladas, com a utide situações que OS PROJETOS simulavam condilização dos mesções reais de uso. mos geossintéticos Condutos Enterrados: Redução de Geovala - Uma Solução Técnica Depois de aterrausados na consEsforços sobre a Estrutura para Reduzir Tensões Verticais em da a vala e instalaTubulações trução de estrutudo o geossintético, ras de arrimo em MOOALIOADE MODALIDADE foi também aplisolo reforçado, laLinha regular de auxílio à pesquisa Programa de Apoio à Propriedade cada uma sobregoas de contenção I nte Iectua I carga, simulando de resíduos, imCOORDENADOR pesos extras, repermeabilização e COORDENADOR BENEDITO DE SOUZA BUENO - EESC/ presentando veídrenagem. BeneBENEDITO DE SOUZA BUENO - EESC/ USP USP culos ou obras na dito Bueno, que é superfície. Após o engenheiro civil, INVESTIMENTO INVESTIMENTO dimensionamen acredita na técnica R$ 151.218,97 R$ 6.000,00 to das cargas e a como uma imporvariação do peso tante e inovadora do próprio solo, pôde-se selecionar o para apenas 0,5 metro de profundidade solução para a instalação dos condutotipo de geossintético mais adequado a -, o que torna a instalação menos oneres subterrâneos. Ele é o orientador da rosa, entre 30% e 40%, segundo cálcucada caso. tese de doutorado Vala para AcomodaA Geovala aplica-se a qualquer tipo los de Bueno. Verifica-se ainda o beneção de Estruturas Enterradas e Processo de uso, como coleta de esgotos, gás, óleo fício ambiental, porque a técnica ajuda de Acomodação de Estruturas Enterraou fiação elétrica e de telefonia, e as a diminuir a possibilidade de vazamendas, desenvolvida na EESC/USP pelo profundidades podem ser aplicadas de tos e de contaminação do solo. pesquisador Paulo Márcio Viana com bolsa da FAPESP. acordo com as condições ambientais e a capacidade do geossintético utilizado, Técnica apurada - A elevada capacidaque pode variar, dependendo do tipo de dos materiais geossintéticos em susécnicaé apropriada tanto pade solo e material empregado nas tubutentar cargas de tração foi o que insra ser usada em tubulações feitas com metais mais eslações. Outra vantagem apontada pelos pirou os pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos a empregapecíficos, como é o caso pesquisadores da Geovala, nos casos de tubos monitorados internamente para rem o produto, que vem sendo cada das aplicadas em oleodudetectar vazamentos ou problemas de vez mais utilizado em obras de contentos e gasodutos, quanto em tubulações em policloreto de vinila (PVC) e poliecorrosão, é a possibilidade de se fazer ção pelas empresas de engenharia civil tileno de alta densidade (PEAD), indiesse monitoramento externamente, o e geotécnica. Ele possui excelente decadas para uso geral. O material emsempenho, aliado a um custo-benefíque ampliaria também a segurança das cio considerado extremamente favoráestruturas enterradas. Como o procespregado na tubulação pode ser de so permite a criação de um vazio onde vel, sobretudo quando aplicado em qualquer natureza, porque a inovação, o tubo repousa, podem se instalar sengrande escala. A possibilidade de "auneste caso, se encarrega de minimizar mentar a vida útil das valas com maior ou mesmo eliminar as cargas verticais sores com registro remoto nesse espaço para medir as características mecânicas rapidez na execução de obras de conna região da vala, que é coberta pelo dutos enterrados a custos menores é geossintético antes de ser aterrada. O do tubo. uma combinação que Bueno espera ser peso da terra sobre a manta, que absorEscala industrial - A técnica desse nosuficiente para despertar o interesse de ve as cargas verticais como se fosse vo tipo de aterramento de tubulação uma membrana tracionada mas perempresas pelo Geovala. teve uma patente depositada no InstiDurante quatro anos, todas as posmite a passagem de elementos líquituto Nacional de Propriedade Industrial sibilidades de pressões de solo foram dos, como a água da chuva, faz com (INPI) com financiamento do Núcleo testadas e registradas pelos pesquisaque o produto crie uma envergadura de Patenteamento e Licenciamento de dores, com variação nos tipos de tubos sobre o vazio na vala, livrando a tubuTecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Seempregados, tipos de solo e de cargas, lação do excesso de peso. Livres desse gundo Bueno, a técnica é inédita no numa modelagem física em verdadeira excesso, as tubulações podem ser maiomundo e já despertou o interesse de emgrandeza. Os resultados foram compires, menos espessas e, conseqüentemenpresas dos setores público e privado, que te, mais flexíveis. lados por meio de uma simulação por atualmente negociam o direito de aplicacomputador, em softwares de modelaSe por um lado tubos mais largos ção da técnica. Como os produtos emganham em flexibilidade, por outro augem numérica. Também foram realipregados já são produzidos em escala zados testes em grandes dimensões, somentam também os riscos de deterioindustrial e estão disponíveis comercialbre uma laje de reação, em uma caixa ração do material. Porém, quanto memente, a expectativa dos inventores é que de aço de 2 metros de altura por 1,8 nor as cargas sobre a tubulação, mais o aumento do uso desses materiais com metro de largura, onde foi enterrado um seguro é o sistema, pois, com maior rea tecnologia Geovala faça cair o preço tubo de 400 milímetros de diâmetro e sistência à pressão das cargas nos tubos, do geossintético e das tubulações. • 2 metros de comprimento, reprodua vala pode ser mais rasa - de 1,5 metro A PESQUISA FAPESP 86 • ABRIL DE 2003 • 73