Tommy Schultz - Fotolia.com prioridade ao centro tecnológico do calçado de portugal ii Suplemento do Jornal da APICCAPS Nº 176 # Abril 2011 UMA INDÚSTRIA “VERDE” CADA VEZ MAIS COMPETITIVA Com vista a tornar a fileira do calçado numa indústria cada vez mais amiga do ambiente e assegurar novos argumentos competitivos, técnicos do CTCP visitam diariamente empresas, prestando informações úteis em matéria de legislação ambiental, prestando serviços ao nível do controle do ruído, das emissões gasosas, dos efluentes líquidos industriais (na cabine de pintura, no hidrofiltro de cardagem, no jacto de água, entre outros), das licenças de domínio hídrico (captação de águas do poço, furo ou mina e descarga de efluentes - fossa), do licenciamento de reservatório de gasóleo, de medidas de redução do consumo de solventes como colas, tintas e diluentes, entre outros. Para o Director Geral do Centro Tecnológico do Calçado de Portugal “o investimento das empresas em acções de responsabilidade social e no ambiente trazem retornos muito positivos, como uma maior satisfação dos colaboradores e consequentemente aumento da sua produtividade, NJ - fotolia.com a melhoria da imagem da empresa no mercado, melhores resultados de facturação, a optimização do relacionamento com clientes, fornecedores Começou por ser uma aposta exclu- tividade num mercado cada vez mais custos”. Por esse motivo, “o CTCP tem e distribuidores e a valorização dos sivamente centrada na conquista de globalizado. lançado um conjunto de importantes produtos e serviços”. novos clientes mais consciencializados projectos capazes de, por um lado, para as questões ecológicas. O am- Para o Director Geral do Centro sensibilizar as empresas para as ques- Conheça, agora, alguns dos projectos biente passou, no entanto, a assumir- Tecnológico do Calçado de Portugal tões ambientais e, por outro, garantir mais emblemáticos do sector em ma- se como uma prioridade estratégica (CTC) “é possível tornar as empresas um acréscimo de competitividade e de téria ambiental, capazes de tornar a para as empresas, de modo a assegu- mais eficientes e, em simultâneo, notoriedade”, sublinhou Leandro de indústria portuguesa de calçado numa rar ganhos de eficiência e de competi- assegurar uma importante redução de Melo. referência no plano internacional. BE NATURE PRODUTOS AMIGOS DO AMBIENTE SÃO UMA REALIDADE Uma percentagem cada vez significativa dos con- ponentes e calçado biodegradáveis e compostáveis processos no ambiente e identificou nestes produtos sumidores europeus (mais de 65%) é sensível a destinados a um nicho de consumidores que procu- uma nova oportunidade de negócio. aspectos ambientais, como sejam, o esgotamento dos ram produtos ecológicos, que tem vindo a assumir recursos naturais, a deposição de materiais e produ- uma importância relativa na balança comercial. tos valorizáveis em aterros e a utilização de fontes de No âmbito do Be Nature estão a ser desenvolvidos couros biodegradáveis por compostagem para energia não renováveis, optando por produtos mais Actualmente, o desenvolvimento de materiais e pro- aplicação em calçado como couro de exterior, forro amigos do ambiente em detrimento de outros, se os dutos biodegradáveis são um importante objecto de e palmilhas e respectivos processos de obtenção, preços forem similares ou sem grandes discrepân- estudo na comunidade científico. Também a comuni- componentes para calçado em aglomerado de cortiça cias. Tendo como principal objectivo o desenvolvi- dade industrial despertou para o desenvolvimento de (palmilhas e solas) biodegradáveis ou recicláveis, mento de novos conceitos de produtos e processos produtos e processos “mais amigos” do ambiente. Se calçado biodegradável por compostagem, entre que integram e potenciam as temáticas do desenvol- numa fase inicial, a indústria estava apenas preocu- outros. Simultaneamente, estão a ser desenvolvidas vimento sustentável e da responsabilidade social, foi pada metodologias de ensaio para determinar a biodegra- lançado o projecto Be Nature. com o cumprimento dos requisitos estabelecidos pela dabilidade e desintegração dos materiais de couro, legislação ambiental, mais recentemente tem revela- processos de pré tratamento e um composto com do preocupação com o impacto dos seus produtos e valor acrescentado. No essencial, pretende-se desenvolver couro, com- iii Suplemento do Jornal da APICCAPS Nº 176 # Abril 2011 SHOELAW CTCP DESENVOLVA E-PLATAFORMA DE AUTO-DIAGNÓSTICO AMBIENTAL O CTCP em parceria com outras entidades europeias várias actividades como a identificação dos requi- está a desenvolver o Projecto ShoeLaw, que tem Para Maria José Ferreira, os principais objectivos sitos legais ao nível nacional e europeu, o desenvol- como objectivo desenvolver uma e-plataforma de desta e-plataforma passam por promover a efectiva vimento de uma e-plataforma de autodiagnóstico auto-diagnóstico ambiental voltada para empresas aplicação e execução da legislação ambiental entre ambiental para as empresas europeias de calçado e de calçado em cinco países europeus (Espanha, as empresas europeias de calçado e melhorar a situa- a realização de uma experiência piloto de questioná- Itália, Portugal, Grécia e Eslovénia). Países que, em ção ambiental das empresas. rio de auto-diagnóstico ambiental com 50 empresas conjunto, representam 90% da indústria de calçado na Europa. europeias de calçado. Na óptica da Directora da Unidade de Investigação e Qualidade “actualmente as PME não consideram as “Esta ideia surgiu da necessidade das PME do sec- actividades ambientais como uma variável estratégi- tor do calçado terem um instrumento disponível onde ca para o seu desenvolvimento a médio e longo pra- possam obter informações sobre a legislação am- zo”. Por esse motivo, a maioria das empresas biental que é aplicável em outros países, por exemplo de calçado que participam nesta inicia- de destino das suas exportações”, sublinhou Maria tiva são PME. “Com o ShoeLaw, José Ferreira, Directora da Unidade de Investigação a União Europeia vai ter os e Qualidade do CTCP. primeiros dados disponíveis sobre a legislação ambiental numa base de dados única De um modo geral, problemas como o retorno de que permitirá que qualquer mercadoria exportada devido ao não cumprimento empresa seja informada de certos limites de substâncias nocivas poderão ser sobre os requisitos aplicá- evitados, uma vez que as empresas poderão através veis à escala europeia, desta ferramenta consultar toda a legislação em de uma forma precisa e vigor. simples”, destacou. Esta e-plataforma deverá posteriormente será alarga- No âmbito deste pro- da ao resto dos países da UE. jecto serão realizadas CENTRO TECNOLÓGICO LANÇA DEZ MANDAMENTOS AMBIENTAIS Com o objectivo de ter tornar a fileira do calçado mais O Centro Tecnológico do Calça- responsável, amiga do ambiente e, simultaneamente, do de Portugal propõe, no quinto mais competitiva no plano internacional, por via da mandamento (“Não contaminar economia de recursos ou de energia, o Centro Tecno- solo e água”) que as empresas lógico do Calçado de Portugal (CTCP) lançou os dez encaminhem as águas residuais mandamentos ambientais. industriais para um destino devidamente autorizado. As águas residuais não devem, O CTCP propõe, desde logo, “Promover o desenvolvi- assim, ser descarregadas para o solo ou linha de mento socialmente responsável, sustentável e justo”, água. Encaminhar as águas residuais domésticas integrando o respeito pelo meio ambiente na política para a rede de saneamento e implementar medidas da empresa. A incorporação nos produtos de mate- de contenção de derrames de produtos químicos é riais ecológicos ou menos nocivos para o ambiente, outra premissa importante. utilizando processos e serviços ambientalmente sustentáveis é outra força-matriz do segundo eixo: Cumprir as disposições legais relati- “Inovar ambientalmente o seu produto”. vas a todas as substâncias perigosas contidas no produto (aminas, PCP, Cr No terceiro mandamento, “Separar, classificar e en- (VI), ftalatos, entre outros) e no proces- caminhar correctamente todos os resíduos gerados”, so (tolueno, benzeno, hexano entre outros) é proposto minimizar, separar, valorizar e encami- consta do 6º mandamento (“Eliminar a utilização de legais de ruído ambiente. “Economizar energia” nhar, por transportador licenciado e para um destino substâncias perigosas”). A 7ª sugestão às em- e diminuir o consumo global de energia eléctrica autorizado todos os resíduos. Não se deve, por isso, presas, (“Proceder à gestão cuidada dos resíduos é outra proposta interessante, razão pela qual as queimar ou abandonar resíduos no meio ambiente. A perigosos”), passa pelo encaminhamento para um empresas devem privilegiar, sempre que possível, a utilização do mínimo de solventes orgânicos, cum- operador devidamente autorizado para a gestão de utilização de energias renováveis. prindo os valores legais permitidos, deverá ser uma resíduos perigosos (embalagens contaminadas com prioridade ao nível da quarta proposta (“Minimizar a produtos químicos, óleos usados, equipamentos com “Ser responsável pela recuperação de danos am- poluição atmosférica”). Da mesma forma, dever-se-á PCB, entre outros). bientais” é a ultima das propostas, pelo que o CTCP caracterizar periodicamente as emissões das chami- propõe que as empresas possam prevenir e assegu- nés para o exterior, de modo a assegurar o cumpri- “Diminuir a poluição sonora” é a oitava missiva. rar financeiramente, através de garantia bancária ou mento dos valores legais. Para isso as empresas devem cumprir os valores de seguro, a recuperação de danos ambientais. iv Suplemento do Jornal da APICCAPS Nº 176 # Abril 2011 istock RÓTULO BIOCALCE CALÇADO ECOLÓGICO PORTUGUÊS São já mais de 50 as empresas portuguesas de calçado certificadas com o rótulo Biocalce. Trata-se de um sistema de certificação inovador, desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) que tem como objectivo, satisfazer as exigências dos consumidores, dando especial ênfase à qualidade, do mesmo modo que privilegia materiais amigos do ambiente. Em termos gerais, o calçado com o rótulo Biocalce oferece ao consumidor garantias adicionais de conforto, uma vez que todos os materiais são previamente testados em ambiente de laboratório (do CTCP). Com efeito, as crescentes preocupações ambientais e o aprofundamento do conhecimento científico têm motivado o desenvolvimento de novos métodos e processos tecnológicos, colocando novas questões à economia empresarial, sendo em número cada vez maior os consumidores sensibilizados para as questões ligadas à protecção do ambiente e à defesa da saúde pública. Consciente dessa realidade, o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) lançou o rótulo ecológico Biocalce. De um modo geral, habitualmente os materiais naturais como o couro têm que ser tratados e tingidos para adquirirem as características desejadas. Nestes processos de tratamento, designadamente no tingimento e na conservação, são frequentemente utilizados produtos químicos. Ora, os produtos químicos continuam a ser indispensáveis nos processos usados actualmente e tudo indica que o continuarão a ser no futuro. Importa, pois, no sentido de proteger os consumidores que esses produtos químicos só sejam usados quando não acarretarem malefícios à saúde. Assim, é extremamente importante verificar se todos os componentes são usados correctamente durante a fase de produção, de modo a que o produto final contenha apenas uma quantidade reduzida, ou mesmo nula, de substâncias perigosas. É neste sentido que surgiu a marca Biocalce que garante que um determinado produto está conforme determinados critérios pré-estabelecidos, dando ao consumidor total confiança, seja em termos ambientais seja em termos do seu uso em contacto prolongado com a pele. Na óptica do CTCP, o selo de qualidade Biocalce é um importante elemento de diferenciação do produto num mercado tão saturado e competitivo como é o calçado, mas é também um desafio para a modernização e uma forte vantagem competitiva para as empresas. A marca Biocalce poderá assumir-se como a «chave para o sucesso» de determinados produtos no mercado, dando reconhecimento e prestígio, quer ao fabricante, quer ao retalhista. centro tecnológico do calçado de portugal