XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PORTFÓLIO DE PRODUTOS EM UMA FUNDAÇÃO PÚBLICA Polyane Avelar Rezende (FUNED) [email protected] Juliana Ramos dos Santos (FUNED) [email protected] Adenir Luiz Campos (FUNED) [email protected] Izabela Deiwan Abadia Serafim (FUNED) [email protected] Eliane Ayumi Okuma (FUNED) [email protected] O cenário atual de constantes mudanças, limitação de recursos e a necessidade de atendimento aos clientes de forma cada vez mais eficiente e eficaz, faz com que a gestão de portfólio assuma um papel fundamental na tomada de decisão das organizações. No entanto, o alinhamento estratégico do portfólio com os objetivos da organização representa um grande desafio para as empresas. Nesse contexto, este trabalho objetiva apresentar o desenvolvimento de uma metodologia de construção de um portfólio de produtos em uma fundação pública da área da saúde. Ao final do trabalho são apresentados os benefícios da implantação dessa metodologia, dentre eles a própria construção da metodologia de portfólio para a organização, a avaliação da atratividade dos produtos, o cronograma de desenvolvimento de novos produtos e a visão da necessidade de aprimoramento da metodologia de custos atual. Palavras-chave: Estratégia Organizacional, Gestão de Portfólio de Produtos, Fundação Pública. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Para a sustentação das empresas no cenário atual extremamente competitivo é necessário que elas tenham condições de colocar seus produtos no mercado com maior rapidez e que estejam de acordo com as necessidades dos clientes. Nesse sentido, um dos aspectos importantes é a gestão de portfólio de produtos, com o intuito de garantir o desempenho da empresa associado aos objetivos estratégicos da organização e aos recursos disponíveis. De acordo com Cooper et al. (1999) e Kester et al. (2011), a tomada de decisão em portfólio de produtos determina os projetos de novos produtos a serem desenvolvidos, revisões, atualizações, decisões de descontinuidade de produtos, além da alocação de recursos em cada projeto. Com isso há a concretização da estratégia de negócio da organização. Além disso, Kester et al. (2011) salienta que “a tomada de decisão relacionada ao portfólio de produtos é algo complexo nas empresas”. Isso ocorre, pois devem ser analisadas a lucratividade e sustentação da organização, bem como os valores políticos e sociais da empresa, podendo comprometer a otimização das escolhas realizadas. Esses foram fatores determinantes no presente trabalho, uma vez que a empresa em estudo se trata de uma fundação pública, que além da sua sustentabilidade deve avaliar as necessidades da população para cumprimento de seu papel social. Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho consiste em apresentar uma metodologia de construção de um portfólio de produtos numa fundação pública da área da saúde que fabrica medicamentos para abastecimento do SUS e atendimento à população, bem como apresentar os resultados obtidos. 2. Referencial teórico 2.1. Portfólio de Produtos O crescimento e a sobrevivência das empresas no mundo atual, repleto de concorrência, gera a obrigação de administrar todas as suas áreas de maneira mais eficaz e com igual prioridade, com o objetivo de aperfeiçoar o uso de todos os seus recursos. 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A gestão do portfólio de produtos é um instrumento que contribui para a organização e priorização das iniciativas das empresas. De acordo com Pedroso, Paula e Souza (2012), a gestão de portfólio é de suma importância dentro do processo de desenvolvimento de produtos, porque ela envolve a tomada de decisão sobre os produtos da empresa, refletindo, assim, nas decisões do negócio. Ela consiste em um processo dinâmico de tomada de decisão, seleção e priorização de atividades, sugerindo novos produtos e revendo produtos existentes, podendo abortá-los ou alterá-los. Para Cooper, Edgett e Kleinschmidt: “O gerenciamento de portfólio de produtos tem como um de seus objetivos servir ao acompanhamento do ciclo de vida dos produtos da empresa a fim de otimizar a alocação de recursos. Além disso, também visa (1) maximizar o valor dos produtos do portfólio, assegurando um balanceamento entre os diferentes tipos de produto; (2) criar projetos que visem gerar novos produtos, permitindo alocar e realocar recursos; (3) permitir o alinhamento estratégico das decisões de desenvolvimento de produtos com os objetivos e as estratégias da empresa” (COOPER, EDGETT E KLEINSCHMIDT, 2001, apud PEDROSO, PAULA e SOUZA, 2012, p. 638). Este processo de decisão envolve incertezas, mudanças de cenários e metas, tornando-se um desafio mantê-lo alinhado com a estratégia da organização. Segundo Rocha e Negreiros (2009), o gerenciamento de portfólio é um processo estratégico e orientado pela missão da organização, portanto, diz respeito à organização como um todo. 2.2. A gestão estratégica de custos As empresas encontram-se inseridas em um ambiente competitivo e em constantes modificações. Cerqueira Neto (1993) define a gestão estratégica como sendo o processo de buscar a harmonização da empresa com seu meio ambiente externo, através de atividades de planejamento, implementação e controle, levando-se em consideração as variáveis técnicas, econômicas, informacionais, sociais, psicológicas e políticas do ambiente. Sendo assim, o enfoque externo e interno das empresas é importante para a obtenção de informações de custos que são usadas para desenvolver estratégias extremamente necessárias para a obtenção de vantagem competitiva e um melhor gerenciamento dos custos. A gestão estratégica de custos procura obter o conhecimento completo da cadeia de valor, desde o suprimento até a entrega do produto ao consumidor final. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Nesse cenário são necessárias informações de custos cada vez mais detalhadas. Megliorini (2007) ressalta que a rápida evolução tecnológica que ocorre no mundo atual, em função de um ambiente muito competitivo, obrigam as empresas a repensarem de forma contínua as suas estratégias e a se atentarem cada vez mais à importância da gestão de custos. Segundo Hansen e Mowen (2001), as informações repassadas pela área de contabilidade de uma empresa são frequentemente utilizadas para o estabelecimento de estratégias com o objetivo de criação de vantagens competitivas ou valor ao cliente. Para Gonçalves (2008) “valor ao cliente é a diferença entre o que um cliente recebe e o que ele espera receber, em outras palavras é a superação das expectativas”. 2.3. Matriz BCG e GE A matriz BCG, desenvolvida pela Boston Consulting Group, é uma ferramenta de gestão frequentemente utilizada no planejamento do portfólio de negócios. Esse instrumento funciona como um filtro para os produtos da organização, sendo determinados quais precisam de maiores investimentos, aqueles que necessitam ser apenas mantidos e quais devem ser eliminados. Segundo Loureiro (2011, p.69), “a matriz BCG recorre a duas variáveis na análise do negócio: a taxa de crescimento do mercado e a quota relativa da empresa”. De acordo com o mesmo autor, os valores alcançados para cada uma das duas variáveis, classifica o produto em quatro tipos diferentes (interrogações, estrelas, vacas leiteiras e pesos mortos), havendo recomendações genéricas sobre as estratégias a adotar para cada tipo. Já Wright, Kroll e Parnell (2000 apud GEUS, 2005) nomeiam os produtos pesos mortos como produtos abacaxi, classificação essa usada no trabalho de portfólio apresentado. Observa-se ainda na literatura que alguns autores preferem chamar os itens abacaxi como cães de estimação. A Figura 1 apresenta a estrutura da matriz BCG. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 1- Estrutura da Matriz BCG. Fonte: GEUS, 2000. Coral (2002) explica cada um dos quadrantes: “O primeiro quadrante representa os produtos considerados como estrelas, ou seja, aqueles cuja participação relativa é elevada num mercado em crescimento. Neste caso, é necessário investir recursos para que possam continuar na liderança ou para que se tornem vaca leiteiras quando o mercado estiver estabilizado. As vacas leiteiras representam os produtos com alta participação em um mercado de baixo crescimento. Neste caso, são geradores de caixa de fluxo, que podem financiar investimentos em novos produtos. Os cães de estimação estão representados por produtos com baixa participação relativa num mercado de baixo crescimento. Esta posição sugere um desinvestimento, pois estes produtos requerem muitos recursos e não trazem o retorno desejado. Os produtos localizados no quadrante do ponto de interrogação estão numa posição ainda indefinida. Geralmente são produtos novos que requerem investimentos para que possam atingir a posição de estrelas e posteriormente vaca leiteiras.” (CORAL, 2002, pg. 61) Por utilizarem somente duas variáveis isoladas, as limitações da matriz BCG fizeram com que surgisse a Matriz de Atratividade ou Matriz GE/McKinsey, que é atribuída a General Electric e a McKinsey and Company, conservando o mesmo propósito da BCG, no entanto, sendo mais flexível em relação às variáveis (NOGUEIRA, 2000). 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. O mesmo autor também salienta que a matriz GE/McKinsey tornou-se um modelo para análise de portfólio de negócios, que possibilita aos gestores a busca pelo melhor portfólio e se encaixa corretamente aos pontos fortes da empresa, auxiliando na exploração dos mercados com maior atratividade. A matriz GE classifica os produtos de acordo com o poder de atratividade de seu setor e com a sua força. Assim, o produto ideal é aquele que é forte em relação a seus concorrentes e está em um setor atrativo. Para Loureiro (2011), o modelo de McKinsey/General Electric mostra em que zona se encontra os negócios da empresa. De acordo com o autor, existem três zonas: zona de crescimento (área mais escura da Figura 2) zona de desinvestimento (área mais clara da Figura 2) e a zona de gestão de retorno (área intermédia da Figura 2). Figura 2 - Matriz General Electric/McKinsey. Fonte: Adaptado de Loureiro (2011). 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Nessa matriz, os produtos melhor posicionados em mercados atrativos recebem investimentos, e os desinvestimentos ocorrem em situações opostas. De acordo com Wright, Kroll e Parnell (2000 apud GEUS, 2005, p.61) “as unidades medianas podem ser apoiadas ou desinvestidas, dependendo do potencial de lucratividade”. Ainda, tais autores citam alguns critérios para a determinação do poder de atração do setor e da força da unidade de negócio. Para eles, a taxa de crescimento anual, a lucratividade histórica, o tamanho total do setor, a intensidade da competição e o grau de inovação são alguns critérios para a determinação da atratividade do setor, da mesma forma, a participação de mercado, a lucratividade da empresa, o custo operacional por unidade, a qualidade de produtos e o know how tecnológico são alguns critérios para a determinação da força da unidade de negócio. 3. Metodologia O pressente estudo foi realizado em uma fundação pública que atua na promoção e proteção da saúde pública, com a produção de medicamentos, análises laboratoriais e pesquisa e desenvolvimentos na área da saúde. Para realizar a presente investigação, adotou-se o método qualitativo, desenvolvido por meio de um estudo de caso exploratório. Os estudos exploratórios não elaboram hipóteses para teste, apenas buscam mais informações sobre o tema em estudo, de acordo com os objetivos estabelecidos (CERVO e BERVIAN, 2003). Além disso, o estudo de caso necessita da presença de um pesquisador em campo para captar e entender a interpretação e a opinião das pessoas sobre as variáveis envolvidas. Inicialmente houve treinamentos de toda a equipe envolvida com o portfólio, com o objetivo de desenvolver competências para a efetivação do trabalho e aumento da visão estratégica dos envolvidos, com um olhar voltado para fora da instituição, a partir de informações sobre a demanda do mercado, custo do sistema, relação dos medicamentos com as doenças prevalentes, bem como um olhar para dentro da instituição, com avaliação dos macroprocessos produtivos, custos de produção dos medicamentos e despesas administrativas. Foram estabelecidos junto à equipe, os seguintes elos da cadeia de produção para um melhor estudo: a) Planejamento; 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. b) Suprimentos; c) Controle de Qualidade - matéria prima; d) Produção; e) Controle de Qualidade - produto acabado; f) Distribuição. Estabeleceram-se critérios para avaliação dos elos e métodos para avaliação do processo. Logo após, foi enviado às pessoas envolvidas diretamente em cada elo, um formulário estruturado online para que essas pessoas avaliassem seus processos em relação à competência técnica (número de pessoas e qualificação do pessoal), infraestrutura (área física, equipamentos, utilidades e software) e aspectos regulatórios, para a produção de medicamentos pertencentes à determinadas linhas de produção farmacêutica (comprimidos revestidos, comprimidos simples, cápsulas, líquidos orais, líquidos orais fitoterápicos, biológicos líquidos - soros, biológicos líquidos - vacinas, biológicos liofilizados e oncológicos). Ao final da avaliação, houve a consolidação da pontuação obtida para cada linha de produção, e calculado um único resultado por meio da média dos critérios avaliados. Além disso, houve a divisão da equipe de trabalho em grupos, de acordo com a afinidade e competências dos participantes: a) Grupo Planejamento e Interface; b) Grupo Macroprocessos; c) Grupo matrizes GE e BCG; d) Grupo Custos. Os grupos foram compostos por uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais de diversas formações e funções no quadro da fundação e orientados por um professor na área de gestão de negócios, permitindo uma análise multifacetada. Os participantes trabalharam na identificação e estabelecimento de parâmetros para o levantamento das informações e análise crítica em cada um dos grupos, com o objetivo de desenvolver uma ferramenta e critérios para análise qualitativa das informações. O grupo das matrizes adaptou a matriz GE para o trabalho em estudo e nela foram incluídos fatores relacionados à atratividade de mercado. Os fatores analisados foram: relevância 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. epidemiológica, taxa anual de crescimento, margem de lucro histórica, força da concorrência, importância social, variação histórica de consumo, variação histórica de preço, custo para o sistema, intensidade da concorrência e tendência de consumo. Todos esses fatores foram avaliados para cada medicamento, sendo um total de 257 medicamentos, que compunham as listas divulgadas pelos principais clientes diretos, bem como os medicamentos com os registros válidos que a fundação possuía. Tais dados foram obtidos por meio de informações históricas da organização e outros estudos realizados pelos participantes envolvidos no trabalho. Para cada fator descrito anteriormente, foi atribuída uma pontuação dentro da escala de 1 a 5. As tabelas de classificação dos dados correspondentes à pontuação de 1 a 5 foram organizadas de forma que em todas as classes tivesse o mesmo número de fatores. Para a pontuação final na matriz GE, foram atribuídos pesos diferentes para os diferentes fatores. O grupo julgou que o fator “custo para o sistema” deveria receber um peso maior nessa avaliação. No outro extremo, a “intensidade da concorrência” deveria receber menor peso, pois a fonte de avaliação (número de fabricantes com registros válidos no Brasil) ainda é frágil e não necessariamente representa concorrência direta para a fundação. Os demais fatores intermediários deveriam receber o mesmo peso. Em paralelo ao desenvolvimento dessas atividades mencionadas, houve a elaboração de um instrumento, por meio do Excel, para o cruzamento e armazenamento das informações geradas, entre elas as fichas técnicas por medicamento, nas quais eram detalhadas as composições e custos diretos de produção na menor escala possível de aferição. Estas fichas foram segmentadas em três principais grupos de impacto, sendo: a) Custo de embalagem, b) Custo da matéria-prima e; c) Custo direto de produção, referente ao custo de mão de obra das unidades diretamente vinculadas ao processo produtivo. Para o levantamento dos custos vinculados a cada subgrupo da ficha técnica foi utilizada a base de dados histórica de aquisição dos medicamentos pela fundação, bem como cotações de mercado com fornecedores. Além disso, foi realizado o cálculo das despesas fixas mensais da organização, para que, ao final do projeto, fosse realizado o rateio e calculado o resultado 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. final da fundação por ano. Todos os critérios avaliados na Matriz GE adaptada também foram incluídos no instrumento desenvolvido pela equipe. Ao final de toda a análise realizada em relação aos macroprocesso na matriz GE, levando-se em consideração também as estratégias da fundação, gerou-se uma segunda lista ranqueada de medicamentos, composta por 98 produtos, para uma segunda avaliação da equipe através da matriz BCG, distribuindo-os em produtos estrela, vaca leiteira e abacaxi, com base no lucro bruto e demanda de cada medicamento. Além disso, nesse momento foram analisados os processos de fabricação dos produtos (via úmida ou compressão direta), bem como as suas formas de apresentação (comprimido revestido, simples, líquidos ou cápsulas), além da demanda, tamanho do lote de produção e tempos de desenvolvimento interno de cada item da lista. Essa segunda avaliação teve como resultado o portfólio, bem como outros benefícios que serão apresentados no próximo tópico. 4. Resultados Com a análise dos 98 produtos, a equipe percebeu a necessidade de criação de uma nova classificação dentro dos produtos abacaxi, os produtos sociais. Esses medicamentos representavam os produtos que a Secretaria de Saúde encontrava dificuldades para a aquisição e que apresentaram uma baixa lucratividade (ou até mesmo resultado negativo), mas em função do papel social que a fundação possui, seria de grande importância a produção desses para a atendimento da população. Vale ressaltar que na lista analisada existem outros produtos que a Secretaria de Saúde encontra dificuldades para a aquisição, mas que não foram classificados como sociais por estarem dentro do quadrante de produtos estrela ou vaca leiteira. Essa segunda análise foi de suma importância para a retirada de alguns produtos da lista e escolha do mix de produtos da fundação. A exclusão desses produtos foi devidamente fundamentada pelos participantes do trabalho, levando em consideração as estratégias organizacionais da fundação. O mix de produtos definido para compor o portfólio de produtos da fundação encontra-se representado na Figura 3. Em função dos produtos elencados estarem vinculados à estratégia da organização, os reais nomes dos produtos não serão divulgados. 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 3 – Portfólio de Produtos 2015-2022 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Autor. De acordo com o Gráfico 1, foram escolhidos para compor o portfólio, no período de 2015 a 2022, 38 produtos, sendo 13 classificados como produtos estrela, 15 produtos como vaca leiteira, 7 produtos como sociais (ou abacaxi/social) e 2 produtos como abacaxi. Vale ressaltar, que o maior benefício da realização do presente estudo foi o desenvolvimento da metodologia para a construção do portfólio de produtos dentro da instituição, uma vez que 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. o mercado é dinâmico e que esse portfólio necessita ser reavaliado de forma periódica para acompanhamento das tendências e necessidades da população. Outro importante resultado foi a definição de um cronograma de desenvolvimento de produtos até o ano de 2018. Priorizou-se, nessa etapa, o desenvolvimento de produtos estrela e alguns vaca leiteira, e, para os anos iniciais, o desenvolvimento de produtos que os critérios para a produção estejam adequados às normas vigentes para o setor e à capacidade instalada atual. A partir da realização do presente trabalho foi possível projetar a receita estimada para a fundação para os próximos anos, e, consequentemente, realizar um maior planejamento das diversas áreas da instituição, desde o planejamento da produção, passando pelo desenvolvimento de novos produtos, cadeia de suprimentos e departamento financeiro. Também, com a realização desse estudo, pôde-se realizar a projeção das receitas da instituição segregadas por unidade produtiva, possibilitando uma análise pormenorizada e facilitando possíveis tomadas de decisões a médio e longo prazo. Além disso, pela grande dificuldade na obtenção de dados de mercado para a realização do trabalho, como custos e demandas, enxergou-se a necessidade de aprimoramento da metodologia de custos e criação de uma unidade de inteligência de mercado dentro da fundação. 5. Considerações Finais Este artigo reforça a teoria já evidenciada pela literatura de que a gestão de portfólio de produtos é um fator efetivamente relevante ao alinhamento das necessidades organizacionais com as metas estratégicas da organização. De maneira geral, o trabalho possibilitou resultados positivos nas perspectivas estratégica e operacional, uma vez que a fundação poderá utilizar a metodologia criada, alinhada às necessidades estratégicas, por meio da implantação realizada, proporcionando uma maior facilidade e exatidão para uma tomada de decisão assertiva. São vários os ganhos desse trabalho, dentre eles a construção de uma metodologia de portfólio para a organização, a avaliação da atratividade dos produtos, o cronograma de 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. desenvolvimento de novos produtos a visão da necessidade de aprimoramento da metodologia de custos. Vale ressaltar que o um dos fatores primordiais para o sucesso do trabalho foi a sinergia de uma equipe multidisciplinar e o apoio e grande interesse da alta direção e que será necessária a realização de ações em curto e médio prazo para o cumprimento do cronograma proposto. Dentre os métodos utilizados para a definição do portfólio de produtos, observou-se a associação de análises de caráter financeiro, mercado e relevância social, uma vez que a organização em estudo é uma fundação pública e necessita manter a sua sustentabilidade e, ao mesmo tempo, atender à população para o cumprimento de seu papel social. É importante salientar que embora o foco da fundação não seja a obtenção de lucro, deve ser considerado o fato de que, com a diminuição do déficit do SUS, haverá uma ampliação do acesso à saúde para mais cidadãos. Além disso, caso a fundação passe a apresentar um resultado superavitário ao longo do ano é possível a realização de reinvestimento, contribuindo para a melhoria do parque tecnológico da instituição e, consequentemente, contribuindo para o fortalecimento do SUS. Uma limitação do trabalho realizado foi a falta de conhecimento sobre os reais custos dos produtos e a real demanda dos órgãos públicos da área da saúde, principais clientes da fundação. Com isso, houve a necessidade de utilização de dados históricos de custos bem como a demanda estimada histórica, muitas vezes dados defasados. Sendo assim, nos próximos anos a melhoria da metodologia deverá concentrar esforços no aprimoramento do sistema de custos existente, com objetivo de levantar os custos dos produtos apresentados, levando em consideração a análise de toda a cadeia produtiva, o mercado, bem como as políticas públicas e marcos legais e regulatórios do governo para o setor de saúde. Além disso, a atualização do portfólio deverá ser uma ação frequente, uma vez que o mercado é dinâmico e as doenças que afetam a população também são dinâmicas e sazonais. Trabalhos futuros também poderiam ampliar os resultados deste estudo com a réplica dessa pesquisa em outros setores da economia. 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. REFERÊNCIAS CERQUEIRA NETO, Edgard Pedreira de. Gestão da qualidade: princípios e métodos. 3.ed. São Paulo: Pioneira, 1993. CERVO, A.L.; BERVIAN, P. Metodologia científica. São Paulo: Prentice Hall, 2003. COOPER, R. G.; EDGETT, S. J.; KLEINSCHMIDT, E, J. New product portfolio management: practices and performance. Journal of Product Innovation Management, v. 16, p. 331-351, 1999. CORAL, Elisa. Modelo de Planejamento Estratégico para a Sustentabilidade Empresarial. Tese (Doutorado). 2002. 282f. Programa de Pós graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catharina. Florianópolis, SC. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/82705/189235.pdf?sequence Acesso em 12/11/2014. GEUS, Jean Carlo Nastas de. Estratégias de negócios e estratégias de produção: Estudo de caso - Empresa do Setor Metalúrgico. 2005. 183. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR. Disponível em < http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/1629/Disserta?sequence=1> Acesso em 15/12/2014. GHEMAWAT, Pankaj. A Estratégia e o Cenário dos Negócios. Porto Alegre: Bookman, 2000. GONÇALVES, Márcia. A gestão estratégica de custos como diferencial competitivo nas empresas. Webartigos, 2008. Disponível em http://www.webartigos.com/artigos/a-gestao-estrategica-de-custos-comodiferencial-competitivo-nas-empresas/4770/. Acesso em 01 de maio de 2015 HANSEN, Don R.; MOWEN, Maryanne M.; Gestão de Custos: Contabilidade e Controle. São Paulo: Pioneira, 2001. KESTER, L.; GRIFFIN, A.; HULTINK, E. J.; LAUCHE, K. Exploring portfolio decision-making process. Journal of Product Innovation Management, vol.1, 1-21, 2011 p. 1-21, 2011. LOUREIRO, Norberto Celestino Vasques. O posicionamento da marca Vinho do porto no panorama nacional. Dissertação (Mestrado) em Gestão das Organizações, Ramo de Gestão de Empresas. 2011. 106f. Instituto Politécnico de Bragança. Bragança, Portugal. Disponível em https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/4725/3/Norberto_Loureiro_MGO_2011_Gest%C3%A3o_de_Em presas.pdf> Acesso em 02/12/2014. MEGLIORINI, Evandir. Custos: análise e gestão. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. NOGUEIRA, Marco Antônio. Análise estrutural do setor de telefonia celular na cidade de são paulo à luz do modelo de concorrência ampliada de Michael e. Porter. Dissertação (Mestrado em Administração). 2011. 147f. Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Programa de Mestrado em Administração. São Caetano do Sul, São Paulo. Disponível em 15 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. <http://www.uscs.edu.br/posstricto/administracao/dissertacoes/2011/pdf/dissertacao_marcos.pdf> 19/12/2014. Acesso em PEDROSO, Carla; PAULA, Istefani Carísio de; SOUZA, Joana Siqueira de. Análise comparativa de ferramentas de gestão de portfólio: um estudo de caso na indústria alimentícia. Revista online Produção, v. 22, n. 4, p. 637-650, set./dez. 2012. Disponível em http://www.prod.org.br/files/v22n4/v22n4a02.pdf. Acesso em 06/11/2014. ROCHA, Marcius Hollanda Pereira da; NEGREIROS, Luis Alberto de. Alinhamento estratégico e o gerenciamento do portfólio de projetos nas organizações. V Congresso Nacional de Excelência em Gestão. 2009. 16