EFEITO DA SILANIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE SÍLICA NAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DA RESINA EPÓXI Rannier M. Menconça1*, Antonio M. de Medeiros1, Edson N. Ito2, Carlos A. Paskocimas2, José D. D. Melo2* 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais – Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Campus de Natal, Natal-RN – [email protected] 2 Departamento de Engenharia de Materiais – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Campus de Natal, Natal-RN – [email protected] O comportamento térmico dos nanocompósitos é uma informação importante para a aplicação, pois os materiais estão sendo submetidos as mais variadas temperaturas de uso. Assim, neste trabalho foram preparados nanocompósitos a partir de nanopartículas de SiO2 em uma matriz de resina epóxi. Amostras com 0, 2, 4 e 8 % em massa de nanopartículas foram confeccionadas. Dois tipos de silanos diferentes foram utilizados no tratamento das superfícies das nanopartículas. A análise por microscopia eletrônica de transmissão mostrou que tanto o aumento da concentração de nanopartícula como a silanização promoveram um aumento de aglomerados de nanopartículas de SiO2. As análises termogravimétricas (TG) e termo-dinâmico-mecânicas (DMTA) mostraram a influência da adição das nanopartículas tratadas com silano no desempenho térmico e, esses resultados podem ser de interesse para aplicações industriais. Palavras-chave: Nanocompósito, epóxi, silano, temperatura de degradação, temperatura de transição vítrea. Effect of the silanization of silica nanoparticles in the thermal properties of the epoxy resin The thermal behavior of nanocomposites is important information for your application, when the materials are being submitted on the variation of the temperatures of use. Thus, in this work were prepared nanocomposites of SiO2 nanoparticles in a polymeric matrix of epoxy. Samples with 0, 2, 4 and 8% by weight of nanoparticles were prepared. Two types different silanes were used in the treatment of surfaces of the nanoparticles. The analysis by transmission electron microscopy showed that both the increment of the nanoparticle as the silanization promoted an increase in agglomerates of nanoparticles of SiO2. The thermogravimetric analysis (TG) and dynamic-mechanical-thermal (DMTA) showed the influence of the addition of nanoparticles treated with silane in the thermal performance and these results may be of interest for industrial applications. Keywords: Nanocomposite, epoxy, silanes, degradation temperature, glass transition temperature. Introdução Materiais compósitos podem ser desenvolvidos para oferecerem propriedades de acordo com as necessidades de projeto e, portanto, apresentam grande potencial em vários tipos de aplicações. Novas conquistas tecnológicas, como a nanotecnologia, acrescentam ainda mais recursos ao campo dos compósitos. Logo, possibilitando aplicações relevantes nas áreas: aeronáutica, aeroespacial, petroquímica, naval, bioengenharia, automobilísticas, construção civil e entre outras. Sendo assim, a combinação de nanopartículas com polímeros estão sendo muito estudadas para vários tipos de aplicações [1, 2]. Ao longo da última década, os nanocompósitos poliméricos tem atraído grande interesse tanto no meio acadêmico como na indústria, devido ao aumento significativo de propriedades obtidos com pequenas quantidades de nanopartículas adicionadas a matriz polimérica. Além dos ganhos nas propriedades mecânicas, como resistência mecânica e módulo de elasticidade, outras propriedades nos nanocompósitos são favorecidas: barreiras de permeação, retardantes de chama e resistência ao desgaste. Aplicações de cunho óptico, elétrico e magnético dos nanocompósitos tem mostrado bons resultados [3]. Esse efeito tem como principal origem a elevada área superficial específica das nanopartículas. Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é estudar os efeitos da adição de partículas nanométricas de sílica em uma matriz polimérica de resina epóxi. Correlacionando as propriedades térmicas (temperatura de transição vítrea e temperatura inicial de degradação) com os tratamentos de silano impostos às nanopartículas. Experimental Materiais O polímero utilizado para a obtenção dos compósitos foi uma resina epóxi ARALDITE LY 1564 em conjunto com o agente de cura ARADUR HY 2954. A nanopartícula de sílica utilizada foi adquirida da Degussa Ltda com o nome comercial de Aerosil 300. E para o tratamento das nanopartículas de sílica (SiO2) foi utilizada dois tipos de silanos: N-(b-aminoetil)-gaminopropiltrimetilsilano (Tipo I) e o aminoproltrietilsilano (Tipo II). Preparação dos nanocompósitos Foram preparadas soluções de éter-etílico P.A. com 0,5% em massa de silano para cada concentração de nanopartículas, sendo adicionada uma quantidade de massa de solução, garantido a mesma estequiometria (nanopartículas/silano) para todos os nanocompósitos. Para os testes de DMTA foram fabricados nanocompósitos com percentuais em massa de nanopartículas de 2, 4 e 8 % (com e sem tratamento superficial). Além destes, foram confeccionadas amostras sem nanopartículas, ou seja, de epóxi puro para fins de comparação. Foi usada a relação resina/agente de cura de 100/35 (em massa). A resina foi curada a 80°C por 1 hora e depois a temperatura foi elevada para 140°C, permanecendo por 8 horas. Análise termogravimétrica As análises foram realizadas em um equipamento SHIMADZU modelo TGA 51H. Aplicando-se taxa de aquecimento de 10 ºC/min até a temperatura de 900 ºC. Foi utilizada uma atmosfera oxidante de ar sintético com vazão de 50ml/min. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Análise termo-dinâmico-mecânica As dimensões dos corpos-de-prova foram definidas com base na Norma ASTM D 5023-01, adequando-se aos suportes do equipamento DMA modelo Q 800 da TA Instruments. Todos os ensaios foram realizados no módulo de flexão em três pontos, com deformação máxima de 0,3 %. O intervalo de temperatura estudado foi entre a temperatura ambiente e 200°C, utilizando uma taxa de aquecimento de 2 ºC/min. A temperatura de transição vítrea média (Tg) foi determinada com base nos picos de tan δ para cada tipo de material. Microscopia eletrônica de transmissão As amostras de nanocompósitos foram fatiadas a temperatura ambiente em um ultramicrotomia da marca RMC modelo MT-7000 usando-se uma faca de diamante da marca Diatome tipo CryoHisto 45o com velocidade de corte a 0,3 mm/s e espessura de 25nm. As análises morfológicas foram realizadas no microscópio eletrônico de transmissão (MET) da marca PHILIPS, modelo CM120 utilizando uma tensão aplicada de 120kV. Resultados e Discussão Análise termogravimétrica A estabilidade térmica dos nanocompósitos é uma informação importante para sua aplicação. Por isso a necessidade de conhecer a temperatura de uso dos nanocompósitos antes do início da degradação térmica. Nas Figuras 1-a a 1-c são mostradas as curvas de análise termogravimétrica (TG) dos nanocompósitos com partículas de SiO2 sem e com tratamentos, Tipo I e Tipo II, respectivamente, e comparados com o polímero puro. Observa-se em todas as curvas de TG que até 300 °C não há perda de massa considerável. Isso era esperado, já que as amostras passaram por um processo de pós-cura, para que todos os monômeros da resina epóxi fossem consumidos. A termogravimetria mostrou que a massa de resíduo final aumenta em função do percentual de nanopartículas SiO2, confirmando as formulações dos nanocompósitos epóxi/ SiO2 preparadas Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Figura 1: Curvas de análise termogravimétrica (TG) dos nanocompósitos: (a) Partículas sem tratamento; (b) Partículas tratadas com silano Tipo I; (c) Partículas tratadas com silano Tipo II. O início da degradação térmica dos nanocompósitos foi pouco afetado pela adição de nanopartículas, Tabela 1. Verificou-se que a adição de nanopartículas de SiO2 tende a aumentar a temperatura de início da degradação térmica, entretanto o tratamento de silanização provoca um desbalanceamento desta propriedade. Mas a perda de propriedade se mantem ao do epóxi puro. Essa perda de propriedade dos nanocompósitos é devido ao tratamento de silanização, pois tanto o silano tipo I como o do tipo II apresentam temperatura de degradação inferior a da resina epóxi e, portanto, conduzindo a uma maior perda de propriedade em função do aumento da concentracão das nanopartículas tratadas [4]. Tabela 1: Temperatura de início de degradação da resina epóxi e dos nanocompósitos. Amostra Epóxi 2% SiO2 4% SiO2 8% SiO2 2% Tipo I 4% Tipo I 8% Tipo I 2% Tipo II 4% Tipo II 8% Tipo II T. i. de Degradação (°C) 385 390 401 394 388 386 384 381 386 383 Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Análise termo-dinâmico-mecânica A temperatura de transição vítrea (Tg) foi avaliada por DMTA. A análise foi realizada em função da curva de tan δ (Tg corresponde à temperatura onde ocorre o pico de tan δ ), que é determinada a partir da relação do módulo de perda com o módulo de armazenamento. Na Figura 2 é observado que para todos os nanocompósitos, os picos das curvas de tan δ deslocaram-se para a direita em relação à resina epóxi pura. Isso significa que ocorreu um aumento na temperatura de transição vítrea do material. Entretanto, o aumento do percentual de nanopartículas não produziu efeitos consideráveis na Tg entre os nanocompósitos. Para melhor visualização dos dados foi elaborado um gráfico de barras das temperaturas de transição vítrea de todas as composições (Figura 3). Observa-se no gráfico que a adição de nanopartículas sem tratamento alterou a Tg do polímero para mais 5 ºC e que o aumento de nanopartículas não produziu nenhum efeito significativo [5]. Figura 2: Curvas de Tan δ dos nanocompósitos: (a) Partículas sem tratamento; (b) Partículas tratadas com silano Tipo I; (c) Partículas tratadas com silano Tipo II. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Figura 3: Resultados estatísticos da Tg dos nanocompósitos. Os tratamentos de silanização das nanopartículas aumentaram expressivamente os valores de Tg em relação aos não tratados. Os nanocompósitos com nanopartículas tratadas com o silano tipo I tiveram as Tgs alteradas, de 148 C do polímero puro, para aproximadamente 158 ºC, 159 ºC e 160 ºC para as composições de 2, 4 e 8% em massa de sílica, respectivamente. E para o tratamento com o silano tipo II as Tgs mudaram para 155 ºC, 157 °C e 155 ºC, respectivamente. Estes tratamentos superficiais das nanopartículas, de natureza inorgânica, com o silano permitiram a compatibilização com o polímero, de natureza orgânica, aumentando as ligações entre elas [5, 6]. O comportamento observado nos nanocompósitos contendo 8% de partículas tratadas com o silano tipo II, onde houve uma queda na Tg, está relacionado o aumento da concentração de aglomerados, visto que quanto mais aglomerados menor a quantidade de nanopartículas dispersas no polímero e conseqüentemente menor o teor de ligações C-O-Si na rede. Este comportamento foi também observado no trabalho de Li et al., 2007 [7]. A diferença de Tg obtida entre os dois tipos de tratamentos de silanização está relacionada a diferenças dos grupos reativos dos dois silanos. Como o silano tipo II possui grupos reativos maiores, mais fácil é a ligação com as nanopartículas de silício como também entre eles, facilitando a formação de aglomerados [8]. Microscopia eletrônica de transmissão As fotomicrografias dos nanocompósitos com 4% de sílica estão apresentadas nas Figuras 4-a a 4-c, para as nanopartículas sem tratamento e com tratamento com silano tipo I e tipo II, respectivamente. Nas imagens são observados: a distribuição, o tamanho e a forma como as nanopartículas estão na matriz polimérica. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 De acordo com as fotomicrografias, a utilização do moinho de alta energia permitiu uma boa dispersão de nanopartículas não tratadas em nanocompósitos com 2% em massa de sílica, se comparado com outros métodos de mistura apresentados na literatura [2, 5, 9-11]. Nas amostras com fração em massa de SiO2 acima de 4% verificou-se que a há uma menor dispersão à medida que aumenta a fração em massa das nanopartículas. Figura 4: Fotomicrografias de MET dos nanocompósitos com 4% em massa de SiO2: (a) Partículas sem tratamento; (b) Partículas tratadas com silano Tipo I; (c) Partículas tratadas com silano Tipo II. O tratamento das nanopartículas com silanos não reduziu as aglomerações como mostrado na Figura 4. Uma possível causa da ocorrência dessas aglomerações é a interligação das cadeias do silano das nanopartículas vizinhas que dificulta a dispersão. O silano tipo II possui três pontas de cadeias de etil, que por sua vez são maiores que as três pontas de metil do silano tipo I. Por isso, a silanização tipo II formou aglomerados maiores na matriz polimérica. À medida que se aumenta a fração de nanopartículas verificam-se maiores quantidades de aglomerados, independente do tipo de silano utilizado no tratamento. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Entretanto, mesmo com a formação desses aglomerados, os tratamentos com os silanos influenciaram na temperatura de transição vítrea e também na temperatura inicial de degradação do polímero. Conclusões Foi estudado e avaliado o efeito da silanização de partículas nanométricas de sílica nas propriedades térmicas (temperatura de transição vítrea e temperatura inicial degradação) de uma resina epóxi. Cujos resultados de aumento da Tg e da temperatura de início de degradação térmica é de interesse para aplicações industriais, como para revestimentos internos de dutos de transporte de petróleo e gás natural, os quais trabalham em temperatura acima da temperatura ambiente. Agradecimentos Os autores agradecem ao LCE/DEMa/UFSCar, pelas análises de microscopia eletrônica de transmissão e a Eduardo Luiz Andrade de Paula Lopes da D´Altomare Química Ltda pelo apoio técnico e doação dos silanos. Referências Bibliográficas 1. K. Kalaitzidou, H. Fukushima, L.T. Drzal, Comp. Sci. Tech., 2007, 67, 2045. 2. J. D. D. Melo, C. R. R. Almeida, C. A. Paskocimas, 16th Int. Conf.on Comp. Mat., Kyoto, Japan, 2007. 3. Y. W. Mai, Z. Z. Yu, 1ª edição, Woodhead Pub. Lim. and CRC Press LLC, 2006. 4. T.-H. Ho, H.-J. Hwang, J.-Y. Shieh, M.-C. Chung, 2008, 93, 2077. 5. A. C. C. Esteves, A. B. Timmons, T. Trindade, Quím. Nova, 2004, 27, 798. 6. A. B. T. Lima, Dissertação de Mestrado, Esc. Pol. da Universidade de São Paulo, 2007. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 7. Li, H., Zhang, Z., Ma, X., Hu, M., Wang, X., Fan, P., Synthesis and Characterization of Epoxy Resin Modified with Nano-SiO2 and γ-glycidoxypropyltrimethoxy Silane, Surface & Coatings Technology, v. 201, p. 5269–5272, 2007. 8. Dupon, Apostila. Disponível em:http://www.vulcanizar.com.br/arquivos/30296 839-6F85-4DDC-AD2D-CCFB25D2FBAF.pdf. Acessado em: 25 de Janeiro de 2008 9. V. Yong, H. T. Hahn, Nanotechnology, 2004, 15, 1338. 10. V. Yong, Thesis of Doctor of Philosophy, University of California, Los Angeles, 2005. 11. Yasmin A., Abot, J. L., Daniel, I. M., Processing of Clay/Epoxy Nanocomposites by Shear Mixing, Scripta Materialia, v. 49, p. 81 - 86, 2003B. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009