Engenharia Alimentar em Portugal: avanço, transmissão e aplicação de conhecimento F. Xavier Malcata UCE Universidade Católica Editora Sobre o Livro As competências em matéria de Engenharia Alimentar, envolvendo conhecimentos científicos e capacidades tecnológicas, devem ser desenvolvidas de forma selectiva, no sentido da especialização em domínios potencialmente estratégicos para Portugal. Nesse contexto, a presente obra descreve resumidamente a situação do sector industrial alimentar em Portugal (preâmbulo), enunciando depois as principais linhas orientadoras da formação avançada em Engenharia Alimentar (conceptualização), concretizadas em curricula do ensino superior (âmbito) e ilustradas nas formações disponíveis a nível nacional (oferta), caracterizando posteriormente as interfaces extracurriculares sob a égide de esforços interinstitucionais estruturados (colaboração) e de tipologia das saídas profissionais (percursos), abordando a perspectiva da globalização em termos de treino (internacionalização) e de impacto sobre a comunidade científica (publicações), e concluindo com uma abordagem prospectiva do futuro de médio e longo prazo que formatará as carreiras dos profissionais nesta área (oportunidades). Dado que o saber tem uma função instrumental estratégica para o desenvolvimento, a ênfase do texto é colocada sobre o capital humano, mercê do seu impacto sobre as previsíveis necessidades do País, porquanto alavanca decisiva para a performance das empresas, o empreendedorismo e a superioridade competitiva. Sobre o Autor Após ter completado a licenciatura em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1986, F. Xavier Malcata recebeu o grau de Doctor of Philosophy (Ph.D.) pela Universidade de Wisconsin, em Madison (WI-EUA) em 1991. Foi professor auxiliar entre 1991 e 1997 na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, tendo sido promovido a Professor Associado em 1997. Dos mais de 24 projectos de I&D em que colaborou (na maior parte dos casos como coordenador), resultaram c. 180 publicações em revistas científicas internacionais da especialidade sujeitas a processo de revisão pelos pares, bem como mais de 40 capítulos em livros editados e 5 monografias, a par de mais de 240 apresentações em congressos técnico-profissionais e mais de 60 conferências convidadas em vários países. Entre as várias distinções com que foi galardoado, incluem-se: o Prémio Centenário e o Prémio Cristiano P. Spratley, atribuídos pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1986; o John V. Luck Award, atribuido pelo Institute of Food Technologists dos EUA em 1990; o Ralph H. Potts Memorial Award, atribuido pela American Oil Chemists’ Society dos EUA em 1991; o CANDIA Institute Fellowship, atribuido pelo Centre de Recherches Internationales André Gaillard da França em 1993; o Foundation Scholar Award, atribuido pela American Dairy Science Association dos EUA em 1998; a nomeação como Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques, pelo PrimeiroMinistro francês em 1999; o Young Scientist Research Award, atribuido pela American Oil Chemists’ Society dos EUA em 2001; e o Canadian/International Constituency Group Young Scientist Award, atribuido pela Sigma Xi dos EUA em 2002. Desde o princípio de 1998, desempenha as funções de Director da Escola Superior de Biotecnologia, que acumula com as funções de AdministradorDelegado da Associação Empresarial para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (AESBUC), no Porto. Engenharia Alimentar em Portugal: avanço, transmissão e aplicação de conhecimento F. Xavier Malcata PATROCÍNIOS: UCE Universidade Católica Editora FICHA TÉCNICA Título: Engenharia Alimentar em Portugal: avanço, transmissão e aplicação de conhecimento Depósito legal: #####/2002 ISBN: ###-####-##-# Data de saída: Maio de 2002 Tiragem: 500 exemplares Execução gráfica: Serviços de Edição da Escola Superior de Biotecnologia ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 1. Índice “Deves escolher entrar no mar pelos pequenos riachos.“ S. Tomás de Aquino, filósofo italiano (1228-1274) 1. Preâmbulo 1. 2. 3. 4. 5. 6. Descrição Repartição Trocas Especialização Integração Inovação 11 13 18 20 21 23 27 2. Conceptualização 35 1. História 2. Missão 3. Definição 4. Objectivos 5. Padrões 5.1. Administração 5.2. Curriculum 6. Avaliação 6.1. Desempenho 6.2. Acreditação 6.3. Investigação 37 41 44 45 46 47 48 54 54 59 64 3. Âmbito 1. Perfil 2. Avaliação pelos discentes 2.1. Curriculum 2.2. Docência 3. Avaliação pelos docentes 3.1. Organização 3.2. Logística 3.3. Apoio 3.4. Impacto 4. Oferta 1. Enquadramento 2. Diplomas 2.1. Graduação 2.2. Pós-graduação 3. Deontologia 69 71 76 77 81 85 86 88 90 92 97 99 104 105 114 119 5. Colaboração 1. 2. 3. Introdução Projectos Análise 6. Percursos 1. 2. Empregabilidade Intervenção 7. Internacionalização 1. 2. Globalização Especificidade 125 127 127 148 151 153 158 173 175 181 8. Publicações 185 Produção Citações 187 203 1. 2. 9. Oportunidades 1. 2. 3. 4. 10. Dinâmicas macroeconómicas Dinâmicas microeconómicas Dinâmicas profissionais Dinâmicas formativas Bibliografia 209 211 217 224 228 239 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 1. Preâmbulo “Para ser um bom observador é preciso ser um bom teórico.“ Charles Darwin, naturalista inglês (1809-1882) 13 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Descrição O sector alimentar, conceptualizado como o conjunto das indústrias que produzem, transformam e processam bens alimentares provenientes da agricultura e da pecuária, e destinados a clientes finais, é essencial em qualquer nação: sem produtos alimentares, em quantidade e qualidade suficientes, não existe crescimento da população, nem tampouco desenvolvimento da economia. Por essa razão de carácter tão primordial, o Governo presta especial atenção ao fomento da fileira alimentar, quer através da concessão criteriosa de subsídios e da atribuição específica de incentivos, à produção e à transformação, quer ainda através da imposição de mecanismos legais de proteccionismo ao sector. Uma visão global sobre o sector alimentar permite identificar três grandes subáreas, a sabe: o sector agrícola (ou de produção vegetal), o sector pecuário (ou de produção animal) e o sector industrial (ou de transformação). Embora este último constitua o enfoque desta obra, é útil posicioná-lo em relação às características e tendências dos restantes dois, na medida em que deles depende de forma intrínseca. O sector agrícola satisfaz apenas parcialmente as necessidades da sociedade: a estrutura produtiva tem debilidades e distorções importantes, as tecnologias modernas não têm a utilização desejável, e a capacidade de auto-reforma (e auto-modernização) é limitada. O sector pecuário tem uma dependência excessiva da importação de produtos intermédios, e permanece com problemas sanitários que constituem factor importante de estrangulamento; porém, perspectivam-se resultados favoráveis e animadores com a melhor utilização de raças autóctones. O sector das indústrias alimentares é, daqueles três sectores, aquele em que se podem obter melhorias de qualidade mais apreciáveis, e onde pode ser trilhado um caminho mais promissor de diversificação de produtos. A par destas possibilidades, podem ser aplicadas novas tecnologias, nomeadamente as biotecnologias. A adaptação dos produtos às exigências dos mercados e às condições de comercialização são, igualmente, domínios de progresso desejável. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 14 A economia portuguesa regista, em termos globais, um rendimento anual per capita de 13 520 XEU, em estimativa de poder de compra comparável; estes valores correspondem a c. 71% da média da UE e 47% da média dos EUA. Com um Produto Interno Bruto (PIB) global de 98 mil milhões de XEU e c. 3% da população da UE, Portugal representa apenas 1.2 % do PIB da UE; consequentemente, a produtividade portuguesa é ainda muito baixa, não indo além de metade da média comunitária. Não obstante, o volume de negócios do sector industrial alimentar é de 7.8 % do total da indústria nacional, enquanto que este sector ocupa apenas 2.7% da sua população activa; estes números evidenciam uma produtividade consideravelmente acima da média nacional, o que pode constituir-se como factor de rendibilidade e dinâmica empresarial a médio prazo. O sector das indústrias alimentares e das bebidas está denotado pelo código 15 na Classificação das Actividades Económicas (CAE) – rev. 2. Este sector subdivide-se, por sua vez, em nove subsectores, a saber: (i) abate de animais, e preparação e conservação de carne e produtos à base de carne (CAE 151); (ii) indústria transformadora da pesca e aquacultura (CAE 152); (iii) indústria de conservação de frutos e produtos hortícolas (CAE 153); (iv) produção de óleos e gorduras animais e vegetais (CAE 154); (v) indústria de lacticínios (CAE 155); (vi) transformação de cereais e leguminosas, e fabricação de amidos, féculas e produtos afins (CAE 156); (vii) fabricação de alimentos compostos para animais (CAE 157); (viii) fabricação de outros produtos alimentares (CAE 158); e (ix) indústria das bebidas (CAE 159). Alguns elementos descritivos destes subsectores estão quantificados na Tabela 1.1. Com um número médio de trabalhadores por empresa inferior a 12, pode concluir-se que este sector é constituído essencialmente por PMEs; de facto, c. 74% das empresas pertencentes a este sector têm menos de 20 trabalhadores ao serviço, conforme se pode inferir por observação da Fig. 1.1. Acresce que existe uma grande atomização, i.e. as empresas que empregam um maior número de trabalhadores representam apenas uma minoria do número total de postos de trabalho: com efeito, as cinco maiores empresas do sector justificam apenas 5.5% do número UCE 15 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA total de trabalhadores, enquanto as dez maiores justificam 8.7% e as vinte maiores justificam 13.4%. CAE NÚMERO DE EMPRESAS NÚMERO DE TRABALHADORES 151 152 153 154 155 156 157 158 159 0 471 0 135 0 154 0 681 0 310 0 646 0 114 7 240 0 449 15 684 5 553 4 433 4 171 9 929 3 440 4 631 57 685 15 544 TOTAL 10 200 121 070 NÚMERO DE TRABALHADORES POR EMPRESA 33.3 41.1 28.8 6.1 32.0 5.3 40.6 8.0 34.6 MÉDIA 11.9 Tabela 1.1: Elementos caracterizadores das empresas e do pessoal ao serviço, nos principais subsectores da indústria alimentar em Portugal. < 20 20 - 39 40 - 49 50 - 99 100 - 199 200 - 499 500 - 999 > 999 < 25 25 - 100 101 - 250 251 - 1 000 1 001 - 5 000 5 001 - 10 000 10 001 - 20 000 > 20 000 (a) (b) Figura 1.1: Fracção das empresas (a) por número de trabalhadores ao seu serviço e (b) por volume de negócios (em 106 PTE). Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Dados: 1996. A inspecção da Fig. 1.1 permite também concluir que c. 88% das empresas têm um volume de negócios anual inferior a 1 milhão de contos. Conclui-se, portanto, que não obstante a forte pressão, a nível europeu e mundial, no sentido da concentração dentro do sector industrial alimentar, a situação prevalecente em Portugal está ainda longe dos padrões internacionais. Informação mais detalhada sobre a prestação económica das empresas, subdivididas por subsectores, está patente na Tab. 1.2. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL CAE VOLUME DE NEGÓCIOS (10 9 PTE) 151 152 153 154 155 156 157 158 159 315.3 75.1 80.7 187.9 296.3 104.9 214.1 419.1 405.7 TOTAL MÉDIA ■ PRÊAMBULO VOLUME DE NEGÓCIOS POR EMPRESA (10 6 PTE) 16 VALOR ACRESCENTADO BRUTO(%) PRODUTIVIDADE (10 3 PTE) 669.5 556.1 524.1 276.0 955.8 162.4 1 878.4 57.9 903.6 13.6 14.4 16.1 8.8 14.3 13.1 12.1 29.2 23.9 2 727 1 952 2 946 3 983 4 259 3 990 5 607 2 118 6 244 205.8 18.3 3 176 2 099.1 Tabela 1.2: Elementos económicos caracterizadores das empresas, nos principais subsectores da indústria alimentar em Portugal. Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Dados: 1998. O volume médio anual de negócios, de c. 206 mil contos, confirma a constatação de que o sector é genericamente caracterizado como constituído por PMEs; note-se, porém, que existe uma grande heterogeneidade por subsector, com valores médios que vão de c. 58 mil contos para o caso do subsector alimentar genérico até c. 1.9 milhões de contos para o subsector das rações para animais. Por outro lado, a produtividade média situa-se em c. 3 mil contos, com um valor mínimo de c. 2 mil contos para a indústria transformadora da pesca e aquacultura, e um valor máximo de c. 6.2 mil contos para a indústria das bebidas. Finalmente, note-se que o sector das indústrias alimentares português tem uma importância que segue padrões semelhantes aos verificados para o conjunto da UE: globalmente, este sector representa 6.1% do VAB da economia, bem como 6.1% das importações e 5.0% das exportações. No que se refere ao ritmo de crescimento do VAB, verifica-se que, em termos de série longa, a taxa média de crescimento anual é relativamente estável comparativamente à de outros sectores de actividade de natureza idêntica, conforme se pode visualizar na Fig. 1.2. Constata-se que o crescimento das indústrias alimentares é sempre menor, mas muito mais estável, do que o das indústrias transformado- UCE 17 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA valor acrescentado bruto (MPTE) 2 500 000 IAAI A A IT I T 2 000 000 1 500 000 1 000 000 500 000 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1990 1991 1989 1988 1987 1986 1985 1984 1983 1982 1980 1981 1979 0 ano Figura 1.2: Evolução do VAB, a preços constantes, das indústrias transformadoras (IT) e das indústrias agroalimentares (IAA) em Portugal. Fonte: Engenharia Alimentar: situação actual e tendências futuras. Dados: 2001. ras; este último apresenta grandes oscilações, embora a par de uma evolução média com maior ritmo. Esta grande inércia em relação a perturbações macroeconómicas é um dos principais pontos fortes do sector industrial alimentar, que lhe confere não apenas um elevado grau de previsibilidade mas, sobretudo, lhe permite actuar com algum desfasamento em relação a outros sectores mais voláteis. Portugal viu, na década de 90, a sua capacidade de produção alimentar estabilizar-se. Se quiser crescer nas próximas duas décadas não será com acréscimos significativos de produção bruta, mas pela forma como souber qualificar e acrescentar valor pela melhoria distintiva e pela modernização da gestão das suas unidades alimentares; por outras palavras, urge optar sobretudo por ganhos de gama em detrimento de ganhos de escala, tentando acrescentar valor na transformação e promoção comercial dos produtos alimentares, e envolvendo nesse valor acrescentado cada vez mais os agentes da produção de matérias-primas nacionais. Segundo Michael Porter, mais do que a existência de recursos (como sejam as matérias primas, as tecnologias e os capitais), cada vez mais móveis e disponíveis no mercado internacional no âmbito da envolvente económica sem fronteiras, o que determina a competitividade, separando, assim, o êxito do fracasso, é a forma como esses recursos são utilizados em termos da sua capacidade para criar mais-valias, quer pela diferen- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 18 ciação em relação a outros, quer pelo avanço para produtos e processos melhorados. De facto, num negócio global em que as vantagens competitivas se geram localmente, o trunfo crítico reside na aposta em economias de gama e não em economias de escala: a mão-de-obra barata não é mais uma vantagem competitiva para Portugal em geral, e algumas das suas regiões em particular, mas em contrapartida a manufactura de bens perfeitamente diferenciados em relação a similares (e possuindo uma excelente imagem de marca, geradora de lealdade por parte dos consumidores) e a aposta em nichos de mercado (caracterizados por clientes sofisticados, mas simultaneamente possuindo maior poder de compra) aparece como a estratégia mais promissora. 2. Repartição A distribuição das empresas alimentares pelo território nacional não é uniforme, devido à conjugação de diversas condicionantes históricas estruturais. A percentagem do número total de empregados em função da percentagem de empresas está representada na Fig. 2.1 para as várias regiões administrativas. Lisboa e Vale do Tejo 40 Norte 30 Regiões Autónomas número de empregados (%) 50 20 10 Centro Algarve 0 0 Alentejo 10 20 30 40 50 número de empresas (%) Figura 2.1: Repartição das empresas alimentares e do pessoal ao seu serviço, pelas diversas regiões administrativas. Fonte: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Dados: 1992-1995. UCE 19 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA O Norte detém 31.2% do total das empresas, enquanto o Centro e Lisboa e Vale do Tejo quase 26% cada. Em termos de pessoal ao serviço das empresas alimentares, o Norte apresenta um peso idêntico. Por sua vez, proporcionalmente ao número de empresas, as empresas do Centro empregam menos pessoas do que a média nacional, sendo Lisboa e Vale do Tejo a região cujas empresas empregam, em média, mais funcionários. A análise anterior pode ser complementada com a representação da percentagem do VAB em função da percentagem do número de trabalhadores, conforme se efectua na Fig. 2.2. 50 número de empregados (%) cereais e legumes 40 30 20 outros carnes bebidas 10 óleos e gorduras 0 0 10 lacticínios 20 30 40 50 valor acrescentado bruto (%) Figura 2.2: Repartição do VAB e do pessoal ao serviço, pelas empresas em vários subsectores alimentares. Fonte: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Dados: 1996. Nesta repartição do VAB, destacam-se as bebidas com 24.7%, seguidas dos cereais e legumes (20.4%), dos lacticínios (20.4%) e de outros produtos alimentares (19.4%). Em contrapartida, observa-se que exactamente metade do emprego nas indústrias alimentares se encontra no sector dos produtos dos cereais e legumes, seguido, muito mais abaixo, pelos sectores dos outros produtos alimentares (17.8%) e das carnes (16.7%), e, ainda mais abaixo, pelo sector das bebidas. Ao lançar tais dados uns em relação aos outros, conclui-se ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 20 que o VAB por empregado, que é uma medida da produtividade (e, consequentemente, da rendibilidade económica) das empresas, se afasta extraordinariamente da média nacional (sendo inferior a esta) no caso dos cereais e legumes, enquanto se verifica um afastamento substancial (mas em sentido contrário) no caso das bebidas e, sobretudo, dos lacticínios. Assim sendo, potenciais oportunidades de sucesso no desenvolvimento do sector alimentar em Portugal residem nos lacticínios e nas bebidas. A estes subsectores poderão, naturalmente, ser acrescentados os produtos mediterrânicos, embora exista ainda um longo caminho a trilhar no sentido do aumento da sua produtividade. 3. Trocas As empresas que operam no sector alimentar têm como principais clientes o consumidor final, a grande distribuição (produtos alimentares embalados ou engarrafados com marca distribuidor) e outras indústrias (p.ex. fornecedores de ingredientes). Apesar de grande bebidas 30 20 lacticínios 40 óleos e gorduras valor de exportações (%) 50 cereais e legumes 10 outros carnes 0 0 10 20 30 40 50 valor de importações (%) Figura 3.1: Repartição, pelos diversos subsectores, das importações e das exportações de produtos alimentares. Fonte: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Dados: 1995. 21 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA parte da distribuição nacional se destinar ao mercado interno, existem interacções significativas (da ordem dos 10% do valor global de negócios neste sector) com o mercado externo através de exportações. As exportações têm vindo a exibir um aumento sustentado ao longo dos anos, com valores superiores a 170x109 PTE em 1996 (o que corresponde a 8.8% do volume total de negócios); porém, no mesmo período as importações atingiram os 320x109 PTE, o que se traduz num desequilíbrio de 150x10 9 PTE desfavorável a Portugal - este deficit da balança comercial é praticamente igual ao valor das próprias exportações. Porém, o balanço entre importações e exportações não é uniforme dentro do sector alimentar, como se evidencia na Fig. 3.1. Existe um claro superavit de exportações versus importações no caso das bebidas (associado essencialmente aos vinhos de mesa e generosos); uma análise mais desagregada indica a quase ausência de importação de carnes de porco e ovino, e de ovos, bem como um equilíbrio entre as exportações de hortofrutícolas e as importações de cereais; ao invés, as carnes (devido sobretudo ao bovino) apresentam um claro deficit, bem como o grupo de outros produtos não especificados (de que é parte importante o açúcar). Os produtos alimentares importados são, sobretudo, provenientes de Espanha e França, e cada vez mais da Alemanha. 4. Especialização De entre os factores que permitem a diferenciação, a qualidade instituiu-se desde a década de 80 como indubitavelmente o mais importante. As ferramentas fundamentais para gerar e manter qualidade são a informação, o conhecimento e o know-how. A aplicação de tais ferramentas aos produtos específicos portugueses passa, por um lado, pela tipificação dos produtos com denominação de origem protegida (através da sua caracterização microbiológica, físico-química e organoléptica, susceptível de criar padrões de referência objectivos, e de servir de base a métodos de despistagem de falsificações) e, por outro, pela racionalização do seu processo produtivo (através do estabelecimento de relações causais entre as variáveis de fabrico e maturação, e as propriedades do produto final, que servirão de base ao melhoramento e optimização das técnicas artesanais de produção). Ambas as ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 22 tarefas exigem a promoção de estudos de cariz científico-tecnológico cada vez mais aprofundados, os quais irão, no médio prazo, traduzirse em melhoramentos e inovações no processo e no produto e, finalmente, no aumento da produtividade, conceito que em última análise será determinante na competitividade do sector alimentar No outro extremo, a crescente urbanização, a par da procura de factores que contribuam, de forma intensiva, para uma existência metabolicamente mais sã (por forma a contrabalançar o efeito negativo dos factores agressivos do meio ambiente típicos das grandes metrópoles, como sejam os derivados da poluição), têm provocado um novo padrão de consumo ao traduzirem-se em maiores exigências de qualidade e de informação, que obrigam a oferta a personalizar-se. Ao contrário do que acontecia há duas décadas atrás, as famílias portuguesas não necessitam de comprar os seus alimentos numa base diária, havendo o recurso, na maior parte dos casos, a uma periodicidade semanal. Os alimentos para congelar são já comprados congelados (p.ex. peixe, pizzas e refeições pré-preparadas), ou são comprados frescos (p.ex. carne e peixe) e posteriormente congelados no domicílio do consumidor final. Apesar de, na sua maioria, a fruta e os legumes serem comprados frescos, um número crescente de consumidores tem desenvolvido preferência por vegetais congelados, p.ex. ervilhas, produtos de batata e misturas de vegetais. A decisão de compra de alimentos é ainda, e de forma geral, da responsabilidade da dona de casa; contudo, as crianças e os jovens desempenham um papel crescente ao induzirem a dona de casa a comprar os seus produtos preferidos (normalmente os publicitados na televisão), p.ex. cereais de pequeno almoço, pizzas, snacks e algumas especialidades de padaria/confeitaria. Finalmente, os restaurantes de fast food têm desempenhado um papel importante nos hábitos alimentares dos mais novos; como resultado, a procura de comida tradicional portuguesa, assim como o consumo de vinho, tem vindo a diminuir nesta faixa etária, enquanto que o consumo de comidas de preparação rápida e de refrigerantes tem aumentado. Depois de, numa primeira fase, as cadeias de fast food se reduzirem a hamburgers e pizzas, o leque de oferta expandiu-se neste momento a sandwiches e a galinha frita, entre outros, bem como a comida étnica (p.ex. chinesa e africana). O consumo de bebidas fracamente alcoólicas tem aumentado, bem como as bebidas com baixo poder calórico (rotuladas como diet). 23 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA O aumento do poder de compra, o maior consumismo, a maior sofisticação dos gostos e a crescente apetência por novos produtos têm favorecido o desenvolvimento do sector alimentar; em 1996, as vendas de produtos alimentares processados aumentaram ca. 12% em relação ao ano anterior. Os maiores aumentos registaram-se nos seguintes produtos: pet foods, cereais de pequeno almoço, bolos embalados, azeite, maionese, produtos de panificação, gelados (take-home), legumes congelados e enlatados, snacks salgados, chás de ervas e refeições pré-preparadas. Estes dados não reflectem apenas o aumento da procura, mas principalmente uma alteração do padrão de consumo para produtos mais sofisticados, de maior valor acrescentado, e de utilização mais fácil e cómoda (i.e. os chamados convenience foods). Os principais factores de escolha por parte dos consumidores passaram, por isso, a ser a qualidade, a variedade, a responsabilidade para com a saúde e o ambiente, e o custo. 5. Integração O desenvolvimento do sector alimentar português está condicionado por sete factores principais: (i) atomização excessiva; (ii) concentração reduzida; (iii) baixa diferenciação; (iv) fraco valor acrescentado; (v) capacidade financeira reduzida; (vi) relacionamento incipiente com a produção primária a montante; e (vii) dificuldades no relacionamento com a grande distribuição. À excepção da capacidade financeira reduzida, todos os restantes aspectos estão directa ou indirectamente ligados à gestão das cadeias agroalimentares. O conceito de cadeia agroalimentar é, portanto, nuclear, sendo esta entendida como todo o sistema através do qual um conjunto de organizações fornece produtos alimentares aos utilizadores finais dos mesmos, sendo os vários passos normalmente executados por diferentes intervenientes (ou agentes da cadeia), a saber: produtores, transformadores, distribuidores, retalhistas, empresas de serviços e consumidores. As cadeias agroalimentares podem ser divididas de acordo com o tipo de produtos que envolvem: (i) cadeias de produtos frescos ou minimamente processados (i.e. que lidam com produtos muito perecíveis, sendo extremamente importante que as suas quali- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 24 dades intrínsecas se mantenham desde a produção, ou processamento, até ao consumidor final); (ii) cadeias de produtos processados (i.e. em que os processos de transformação têm uma influência predominante na qualidade do produto que chega ao consumidor final, não obstante a grande importância da qualidade das matérias-primas); e (iii) cadeias de produtos processados, que são usados como matériasprimas para outras cadeias onde são processados adicionalmente. Os diferentes agentes da cadeia desenvolvem diferentes funções, conforme se esquematiza na Fig. 5.1. A forma como os diferentes agentes da cadeia se conjugam e interactuam é tão importante como, ou mesmo mais importante do que, a forma como estas funções são desempenhadas. De facto, uma cadeia é uma realidade organizacional, mas o seu funcionamento eficiente requer que seja encarada não apenas como um somatório de diferentes actividades ou organizações, mas outrossim como uma estrutura integrada (ou network): os diversos agentes não se podem limitar ao estabelecimento de relações bilaterais, devendo partilhar o objectivo comum de entregar ao consumidor o melhor produto possível e da forma mais eficiente possível. As empresas que tiverem a capacidade de desenvolver, de forma continuada, parcerias com outras empresas (e instituições do Ensino Superior) na cadeia agroalimentar poderão facilmente obter mais-valias, as quais lhes permitirão um posicionamento concorrencial mais favorável no mercado; por outras palavras, a capacidade de integração pode traduzir-se numa vantagem competitiva. Embora existam diversas motivações para a criação de parcerias entre empresas, estas podem ser divididas em três argumentações básicas: (i) por forma a satisfazer requisitos de diferenciação de produtos numa estratégia de segmentação de mercado, deve optar-se pela diferenciação da cadeia; (ii) por forma a satisfazer requisitos de qualidade, segurança e sustentabilidade ambiental, deve optar-se por uma integração da cadeia; e (iii) por forma a satisfazer uma estratégia de baixos custos, deve optar-se por uma optimização da cadeia. Naturalmente que a promoção das referidas parcerias pode (e deve) ser catalizada pela intervenção, sistemática e racional, do Ensino Superior, mercê da sua capacidade intrínseca de obter e gerir informação actualizada de várias fontes. UCE 25 fluxo de produtos ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA fluxo de dinheiro PRODUTORES desenvolvimento produção armazenagem transporte marketing compra e venda TRANSFORMADORES desenvolvimento processamento armazenagem transporte marketing compra e venda DISTRIBUIDORES distribuição armazenagem transporte compra e venda marketing CONSUMIDORES compra transporte armazenagem SERVIÇOS fornecimentos matérias primas embalagem transporte logística RETALHISTAS compra e venda armazenagem marketing fluxo de informação Figura 5.1: Funções dos vários agentes das cadeias agroalimentares, e vectores de inter-relacionamento. Fonte: Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares. Dados: 1998. A criação de parcerias pretende sobretudo responder no sentido do aumento do poder negocial, da melhoria da qualidade dos produtos, do planeamento e sincronização da produção, do desenvolvimento de produtos, e da diminuição de custos. No caso de parcerias horizontais, podem citar-se, como exemplos de sucesso, as parcerias entre empresas transformadoras: no subsector dos lacticínios, com o objectivo de negociar protocolos de adaptação da legislação ambiental; e ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 26 no subsector dos óleos e margarinas, com o objectivo de aumentar a eficiência e diminuir os custos, através da centralização do aprovisionamento de matérias-primas. No caso de parcerias verticais, podem citar-se, como exemplos de sucesso, as parcerias: entre empresas produtoras e de grande distribuição, no subsector dos hortofrutícolas, com o objectivo de estabelecer contratos de produção, visando a melhoria da qualidade dos produtos e a sincronização da produção; entre empresas transformadora, de embalagem e de grande distribuição, no subsector das bolachas, com o objectivo de desenvolver embalagens adaptadas aos produtos e de acordo com requisitos específicos do ponto de venda; entre empresas transformadora e de grande distribuição, no subsector das carnes, com o objectivo de fornecer de forma exclusiva a segunda; entre empresas produtoras e transformadora, na fileira do tomate, com o objectivo de aumentar a área de produção e planear a sua exploração, no intuito de responder às especificações de matéria-prima da última; entre empresas produtoras e exportadoras, na fileira do vinho do Porto, com o objectivo de desenvolver a competitividade da cadeia em termos de exportação; e entre empresas de embalagem e transformadora, no subsector das águas minerais e refrigerantes, com o objectivo de diminuir os custos e aumentar a eficiência, através da instalação de unidades de produção de embalagem na própria instalação fabril. Em termos de coordenação das cadeias, existem medidas particulares que podem ser tomadas com vista à prossecução de determinados objectivos: gestão cooperativa com os parceiros da cadeia (p.ex. através de parcerias informais para benefícios mútuos, relações contratuais entre agentes da cadeia, ou detenção de ligações críticas de negócios); conhecimento das necessidades do utilizador final e responsabilização face à satisfação do consumidor (p.ex. através de vendas directas para, e negociações directas com, os utilizadores finais); procura activa de oportunidades para melhorar a eficiência da cadeia (p.ex. através da integração de sistemas de qualidade do produtor ao consumidor, ou da inovação tecnológica); e vantagens competitivas baseadas na identificação da cadeia (p.ex. através da marca da cadeia). Em termos de resposta ao consumidor, as medidas particulares que podem ser tomadas incluem: conhecimento das necessidades dos utilizadores finais (p.ex. através da adopção de sistemas de 27 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA qualidade direccionados para o utilizador final); e incorporação do conceito de importância do consumidor na cultura da cadeia (p.ex. através do estabelecimento de relações de proximidade entre produtores e consumidores, ou utilizadores finais). Finalmente, em termos de investimento no conhecimento do mercado, pode considerar-se como medida importante a aquisição de competências negociais e culturais, para lidar eficazmente com mercados alvo (p.ex. através da contratação de consultadoria, ou da capitalização de experiência obtida ao longo do tempo). O valor da produção do sector alimentar português irá continuar a crescer no futuro próximo, com tendência para eventualmente estabilizar em ca. 2% ao ano. Consequentemente, os ganhos a alcançar a médio e longo prazo poderão ser bastante significativos, mas tal exigirá novas medidas de gestão: os problemas de atomização e de reduzida concentração podem ser obviados pela criação de parcerias horizontais, i.e. entre elementos congéneres de uma cadeia; o desenvolvimento de produtos diferenciados e de elevado valor acrescentado (designadamente os baseados nos produtos tradicionais com denominação de origem protegida) carece de esforços coordenados de I&D a par de estudos de mercado adequados, estando o seu sucesso dependente da capacidade de traduzir, ao longo da cadeia, a percepção das expectativas dos consumidores, bem como o estabelecimento de parcerias entre empresas (p.ex. empresas transformadoras e empresas produtoras de embalagens) e entidades do sistema nacional de I&D; e os problemas derivados das relações com a produção primária e a comunicação com a grande distribuição só podem ser ultrapassados desde que os vários elementos intervenientes se apercebam de que o estabelecimento de relações conduz a benefícios mútuos, e se traduz em vantagens competitivas face a outras cadeias similares. 6. Inovação Os principais determinantes para o nosso País ser competitivo são quatro: (i) capacidade de produzir inovação, local e autonomamente, ou de integrar de forma útil, nos seus processos produtivos específicos, a inovação produzida por outros; (ii) capacidade para modificar ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 28 o perfil da sua especialização produtiva, face a países e regiões com estado de desenvolvimento tecnológico semelhante ou superior; (iii) dotação regional em infraestruturas, que se traduzem em economias externas e permitem reduzir a situação de perifericidade relativa perante os importantes mercados centrais europeus e mundiais; e (iv) dotação em recursos humanos qualificados e ajustados ao nível de desenvolvimento pretendido. De entre os factores acima expostos, a inovação destaca-se pelo seu carácter decisivo. Para além da boa gestão das marcas, a criação de produtos inovadores é cada vez mais importante na luta pelas preferências dos consumidores. Nesse sentido, as empresas mais competitivas do sector alimentar procuram desenvolver continuamente novas ideias, produtos e negócios, com o objectivo de entrar e dominar nichos de mercado emergentes. No sector industrial alimentar, tais inovações estão a ser realizadas a vários níveis: (i) utilização da Biotecnologia lato senso e da engenharia genética stricto senso para criar matérias-primas de melhor qualidade, designadamente com valor nutrofarmacêutico mais elevado; (ii) recurso a novas tecnologias mecânicas e químicas (p.ex. no descasque de frutos) e recurso a ferramentas biotecnológicas (p.ex. uso de enzimas na tenrificação da carne) - tais tecnologias de produção permitem o alargamento do leque de oferta de produtos alimentares ao consumidor pela manutenção de propriedades originais desejadas através de processamentos mais naturais, ou pela incorporação de inovações ao nível das propriedades organolépticas; (iii) criação de produtos fortificados (p.ex. leite vitaminado com cálcio ou com ácido fólico), desenvolvimento de produtos substitutos (p.ex. leite de soja isento de lactose, amido frito tipo batata frita, batidos nutritivos e dietéticos, frutos contendo vacinas bebíveis e café descafeinado); e (iv) concepção de embalagens que assegurem, de forma integral e efectiva, a manutenção da qualidade do produto (p.ex. embalagens compostas estéreis no campo dos lacticínios e sumos de frutas, e embalagens sob atmosfera modificada no campo da salsicharia). Existem, porém, alguns problemas que devem ser encarados de forma pragmática. Em primeiro lugar, os consumidores devem ser educados por forma a reconhecer que a segurança alimentar consiste num conceito de 29 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA risco aceitável e não de risco absoluto. Independentemente desta necessidade, a indústria alimentar deverá desenvolver esforços para garantir a segurança dos seus produtos. Tal significará um esforço médio maior dedicado à segurança alimentar no decorrer do processo produtivo, o que exige um conhecimento integral da história e dos riscos associados com cada um e todos os ingredientes, bem como com os diversos passos de processamento. Obviamente que as instâncias governamentais podem desempenhar neste particular um papel significativo, através de uma maior eficiência na coordenação entre diversas agências e institutos, e da educação do consumidor e da promoção activa de práticas e processos alimentares seguros. Em segundo lugar, de molde a aumentar as vendas os empresários alimentares terão de oferecer valor acrescentado suplementar, por forma a justificar preços mais elevados e margens superiores. Algumas das maiores oportunidades para o futuro centram-se em torno da oferta de alimentos benéficos para a saúde, i.e. contendo níveis mais elevados de nutrientes e compostos fisiologicamente activos, que trazem consigo benefícios potenciais para o consumidor ao nível da manutenção da saúde e da prevenção da doença. O grande interesse nas dietas e na saúde lançou uma indústria praticamente nova nos anos 90 — a dos alimentos funcionais. Trata-se de uma categoria abrangente, e por isso algo imprecisa, que inclui alimentos nutracêuticos, alimentos concebidos por encomenda, alimentos clínico-farmacêuticos e alimentos fitoquímicos. Tal categoria inclui indubitavelmente vários alimentos que hoje em dia são vendidos em larga escala, embora muitas vezes não especificamente por causa dos seus benefícios nutracêuticos. Alguns exemplos incluem (mas não se limitam a) produtos cerealíferos ricos em hidratos de carbono complexos, e frutos contendo substâncias com papel fitoquímico, destinados a providenciar contribuições positivas para a saúde tais como a profilaxia dos ossos e do tracto urinário. A forma como a indústria alimentar poderá tomar partido desta janela de oportunidade é uma questão aberta. Existem barreiras óbvias, designadamente os custos de investimento, as restrições regulatórias, as dificuldades e o tempo requerido pelos ensaios clínicos destinados a estabelecer a segurança e eficácia, as incertezas quanto ao preço, a harmonização entre os países produtores, a propriedade intelectual e os direitos de exclusividade. De qualquer modo, a liderança ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 30 técnica no processamento alimentar deveria insistir igualmente na segurança desses alimentos funcionais, pois o risco para o consumidor não poderá exceder o associado a produtos alimentares correntemente no mercado. Acresce que a eficácia, cientificamente comprovada, dos benefícios reclamados para tais produtos é crítica, em última análise, para a credibilidade de todo o mercado dos alimentos funcionais, pelo que se deveria advogar elevados padrões neste segmento de mercado. Em terceiro lugar, refira-se a biotecnologia, que incide particularmente sobre um tópico que se irá tornar cada vez mais recorrente no futuro próximo: o problema dos produtos alimentares transgénicos. Desde 1986, foram conduzidas mais de 25 000 experiências com culturas transgénicas. Embora as culturas inicialmente tivessem sido projectadas para lidar com doenças importantes ou com problemas graves provocados por plantas daninhas, os próximos desenvolvimentos serão feitos com o intuito de provocar variações composicionais, tais como lípidos e proteinas melhorados. De facto, quase todas as culturas vegetais irão provavelmente possuir alguns elementos transgénicos no futuro e, mercê do aumento da procura de alimentos funcionais, irão surgir cada vez mais possibilidades para modificações do perfil nutricional e terapêutico. A questão que se coloca é se a indústria alimentar irá participar nestes esforços de forma pro-activa, ou se se limitará a observar de forma interessada numa postura meramente reactiva, esperando que as companhias farmacêuticas e agroquímicas invistam nessas tecnologias. Ou seja, o que não está ainda claro é se a indústria alimentar irá aproveitar esta oportunidade única, oferecida pela ciência do séc. XXI, para modificar culturas (e consequentemente alterar processos de transformação) no sentido de benefícios maiores para a saúde humana, passando tal benefício para o consumidor através da sua gestão da cadeia agroalimentar. A forma como tais vectores de inovação irão ser endogeneizados pelas indústrias alimentares em Portugal será certamente múltipla. A título de exemplo, incluem-se na Tab. 6.1 as principais fontes de inovação nas indústrias alimentares. 31 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA novos ingredientes novas embalagens novos processos, tecnologias ou equipamentos combinação de alimentos existentes obtenção de um produto sucedâneo, ou análogo de outro existente produtos bem sucedidos no mercado de outros países ou regiões do mundo requisitos nutricionais e dietéticos, aconselhados em geral, ou relativos a segmentos específicos da população ideias da concorrência alteração nos padrões de vida e perspectivas evolutivas sócio-profissionais da população em geral, e de segmentos populacionais em particular inquéritos de opinião a grossistas, retalhistas e consumidores concursos e revistas de culinária refeições em restaurantes livros, revistas e patentes congressos e feiras (exposições) criatividade individual brainstorming Tabela 6.1: Principais fontes de inovação nas indústrias alimentares. Fonte: Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares. Dados: 1999. Regra geral, se uma empresa alimentar conseguir uma taxa de sucesso da ordem dos 20%, já considera como bem empregues os elevados montantes financeiros dispendidos na inovação. As actuais tendências no sector alimentar conduzem então, e necessariamente, a uma maior segmentação da procura e à proliferação de nichos de mercado, dedicados a produtos vocacionados para a saúde, a segurança, a conveniência, o bem estar e o fraco impacte ambiental. Paralelamente, a informação científica, cada vez mais abrangente e mais fiável, sobre os efeitos ao nível pediátrico, geriátrico, nutricional, estético e energético está a contribuir, de forma integrada e gradual, para o desenvolvimento de consumidores mais responsáveis e, ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 32 por isso, também mais exigentes, i.e. mais habilitados a discernir entre os produtos em oferta. São exemplos desta tendência os substitutos da gordura (designadamente os de origem proteica, derivados de polissacáridos ou combinações entre hidratos de carbono e gorduras) e da proteina animal (derivados de proteina vegetal, devidamente texturizada); ambos estes produtos se centram claramente no impacto em termos de saúde, sendo resultantes de tecnologias avançadas recebidas de forma favorável pelos consumidores. Existe, porém, uma postura mais holística, segundo a qual o impacto da inovação no sector industrial alimentar deve ser encarado em termos das consequências que são percepcionadas após ingestão de um alimento, a saber: (i) consequências imediatas, as quais estão associadas a respostas sensoriais; (ii) consequências de curto e médio prazo, as quais estão associadas a respostas fisiológicas directas; e (iii) consequências de médio e longo prazo, as quais estão associadas a efeitos indirectos e cumulativos desses produtos sobre o ambiente. Esta argumentação está esquematizada na Fig. 6.1. Assim, as modificações destinadas ao melhoramento do carácter apelativo de um alimento sobre um potencial consumidor (e concomitante aumento na sua procura e, portanto, no seu preço) deverão ser focalizadas (i) no fortalecimento das suas características organolépticas, (ii) no melhoramento do seu impacto nutracêutico e/ou (iii) na redução do carácter poluente dos produtos secundários associados ao seu processo de fabrico. Uma última questão relevante na análise da procura, na medida em que pode condicionar fortemente a aceitabilidade dos esforços de inovação no sector alimentar, prende-se com o nível de segurança do consumidor, na sequência das alterações dos padrões de consumo e do crescente peso dos alimentos, transformados e processados, na dieta diária; este ponto ficou tristemente ilustrado pelos problemas provocados pelo consumo de carcaças de animais contaminados com BSE, ou de aves contaminadas com dioxinas contidas em gorduras usadas na sua alimentação. Em termos genéricos, a evolução da indústria alimentar tem privilegiado o aumento de qualidade, variedade, sabor e prestação nutricional, a par da segurança dos alimentos. Porém, em todas as fases UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ambiente mundial escala espacial 33 redução do poder poluente forte corpo humano intensidade de percepção aumento do impacto nutracêutico órgãos sensoriais fortalecimento das características organolépticas fraca escala temporal imediato curto prazo médio prazo longo prazo Figura 6.1: Lógica das modificações destinadas a tornar um alimento mais atractivo do ponto de vista do consumidor, relativamente às escalas temporal e espacial afectadas pela intensidade do efeito correspondente. Fonte: Journal of Dairy Science. Dados: 1999. da indústria alimentar (i.e. produção, transformação, embalagem, armazenagem e transporte) subsiste o risco de deterioração e contaminação dos alimentos, ou pelo menos de alguns dos seus componentes mais sensíveis. E esse risco aumenta à medida que novas tecnologias e matérias-primas são postas à disposição do sector: factores de risco adicionais incluem a corrupção das cadeias alimentares normais do gado e animais de capoeira (que levou, p.ex. à ocorrência de BSE e à acumulação de dioxinas), a incorporação inadequada de aditivos (que levou, p.ex. à crise do azeite espanhol contendo compostos cancerígenos) e a intensificação das trocas comerciais de alimentos (que levou, p.ex. à disseminação transeuropeia de pâtés de fígado contaminados com Listeria). ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PRÊAMBULO 34 Consequentemente, torna-se necessário estabelecer protocolos e mecanismos de controlo de qualidade para assegurar de uma forma eficaz (e não muito onerosa) a segurança de produtos alimentares de origem nacional ou estrangeira, a qual se deve basear sobretudo na prevenção. Igualmente crucial é a manutenção de condições óptimas de manuseamento e conservação ao longo da cadeia alimentar, designadamente entre o fim da produção e o consumo final. Tal pode ser efectuado, de forma eficiente e fiável, através da utilização de indicadores integrais de tempo-temperatura, os quais respondem, de forma visualmente detectável, à temperatura a que são sujeitos e ao período de tempo durante o qual tal acontece, funcionando por isso como registos irreversíveis da história de conservação do alimento em causa. Esta tecnologia é, obviamente, muito mais poderosa do que a simples indicação, em local apropriado na embalagem, da data limite de consumo do alimento perecível. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 2. Conceptualização “Atingir a dúvida da dúvida é começar a certeza.” Léon Daudet, jornalista francês (1867-1942) 37 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. História Com a realidade que hoje se traduz por uma população docente, discente e auxiliar que ultrapassa os 380.000 indivíduos, o Ensino Superior em Portugal teve os seus primórdios quase conjuntamente com o início da nacionalidade, através das Escolas Episcopais e Monásticas, de que se destacaram os casos de Santa Cruz, em Coimbra, e de Santa Maria, em Alcobaça. A primeira Universidade portuguesa foi instalada em Lisboa em 1288, tendo sido dotada da faculdade exclusiva para conceder o respectivo grau. Porém, a verdade é que, já na primeira metade do séc. XIII, Portugal fornecia professores às grandes universidades europeias, de que são exemplos cimeiros Pedro Hispano (que mais tarde viria a ser entronizado como Papa João XXI) e Fernando de Bulhões (que mais tarde viria a ser canonizado como Santo António) - este último com leccionações de Teologia em França e Itália, na sequência das bases que havia recebido nas escolas dos Cónegos Regrantes de S. Vicente, em Lisboa, e de Santa Cruz, em Coimbra. A primeira Universidade atrás mencionada foi transferida para Coimbra em 1308, transferida para Lisboa em 1348, novamente transferida para Coimbra em 1354, transferida depois para Lisboa em 1377, e transferida definitivamente para Coimbra em 1537. Em 1556, com o patrocínio do Cardeal D. Henrique e a docência dos Jesuítas, nasceu em Évora o Colégio do Espírito Santo, o qual foi transformado, três anos depois, em Universidade. Os Jesuítas tiveram igualmente a seu cargo, entre 1553 e 1759, o Colégio de Santo Antão, em Lisboa, e entre 1555 e 1759, o Colégio das Artes, em Coimbra, onde eram igualmente ministrados cursos superiores. A Universidade de Évora viria a encerrar, bem como aqueles dois Colégios, em 1759 por força da expulsão dos Jesuítas no consulado do Marquês de Pombal. De notar também que, em meados do séc. XVI, e quase simultaneamente com a criação da Universidade de Évora, Jesuítas e Dominicanos haviam introduzido o Ensino Superior em Goa, conferindo ali graus académicos em Teologia e Medicina. O Ensino Superior ficou, assim, entre 1759 e 1825, limitado à ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 38 Universidade de Coimbra; neste derradeiro ano, foi criada a Escola Médico-Cirúrgica no Porto, após o que foi instalada, em Lisboa, a Escola Politécnica em 1837, e o Curso Superior de Letras em 1858. Com a Reforma Republicana de 1911, foram criadas as Universidades de Lisboa e do Porto, bem como a Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. A partir de 1931, o Ensino Superior em Lisboa foi distribuído por duas universidades, a Clássica e a Técnica, tendo esta última agrupado escolas até aí dispersas, p.ex. o Instituto Superior de Agronomia, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (hoje Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), o Instituto Superior Técnico, e a Escola de Medicina Veterinária, a que mais tarde se viriam juntar o Instituto de Educação Física (hoje Faculdade de Motricidade Humana) e a Faculdade de Arquitectura. Em 1962, instala-se o Ensino Superior em Angola e Moçambique, tendo tais universidades constituído ricos alfobres, e importantes plataformas de experiência, para a formação de uma boa parte do corpo docente que viria a servir nas universidades em Portugal, nas décadas de 70 e 80. Em 1967, ao abrigo jurídico da Concordata estabelecida entre Portugal e a Santa Sé, é criada a Universidade Católica Portuguesa, o primeiro estabelecimento de Ensino Superior público não-estatal dos tempos modernos, reconhecida pelo Estado Português através do Decreto-Lei nº 307/71. Esta universidade surgiu a partir da Faculdade de Filosofia existente em Braga, desde 1947, e que a Santa Sé havia já declarado, no Decreto Lusitanorum nobilissima gens de 1967, como a primeira realização da Universidade Católica Portuguesa. Estatutariamente como universidade una, esta adoptou desde logo uma estrutura regional, tendo fixado no ano seguinte a sua sede em Lisboa. Em 1973, o Ensino Superior sofreu um importante reforma, de que foi autor e impulsionador o Prof. Veiga Simão (primeiro Reitor da Universidade de Lourenço Marques, actual Maputo), no âmbito da qual foi criada a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade do Minho, a Universidade de Aveiro, e os Institutos Universitários dos Açores, da Beira Interior, de Évora, e de Trás-os-montes e Alto Douro; estes institutos viriam, posteriormente, a transformar-se em universidades. 39 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Em 1977, nasceu a Universidade Livre de Lisboa, pertencente à Cooperativa de Ensino Superior Universidade Livre, exemplo que viria a ser retomado no Porto no ano seguinte. Reconhecidos formalmente como de Ensino Superior em 1979, aqueles dois estabelecimentos foram a base do que é actualmente o Ensino Superior privado em Portugal. Finalmente, em 1983, inicia-se a instalação da Universidade do Algarve. Com a reforma de 1973, e a consequente instalação de estabelecimentos de Ensino Superior fora dos tradicionais pólos universitários de Coimbra, Lisboa e Porto, a que viria a juntar-se a descentralização da Universidade Católica Portuguesa (com Centros Regionais no Porto desde 1978, em Viseu - Beiras desde 1980, e em Braga desde 1999; Pólos em Leiria e em Figueira da Foz desde 1991; e Extensões em Caldas da Rainha desde 1999, e em Sintra desde 2000) e, posteriormente, do próprio Ensino Superior particular e cooperativo, através de pólos espalhados por todo o país, foi dado um grande impulso ao desenvolvimento de cidades e regiões; estas viram instalar-se não só os próprios estabelecimentos de Ensino Superior, fixando populações jovens antes obrigadas a migrar dentro do país, mas também outras instituições públicas e privadas que os acompanharam, tendo como alvos os locais onde uma população, maior e mais qualificada (e tomando partido das verbas canalizadas para esses locais através dos próprios estabelecimentos de Ensino Superior), criava uma nova economia e um novo impulso de progresso. Citam-se normalmente como vantagens da descentralização citada: (i) a fixação, em zonas afastadas dos grandes centros urbanos e até aí carenciadas de meios humanos possuindo elevada formação científico-tecnológica, de especialistas que, se por um lado beneficiam de uma maior percepção dos problemas específicos sentidos nas respectivas áreas geográficas de intervenção, por outro passam a estar próximos das actividades locais dinamizadoras de desenvolvimento, e para as quais o seu apoio pode ser decisivo; (ii) a disponibilidade de laboratórios e centros de investigação para apoio in loco aos serviços, indústrias e outras actividades económicas; (iii) a criação de pólos de desenvolvimento cultural e económico, nos novos estabelecimentos e a partir deles; (iv) a captação, por esses estabelecimentos, de subsídios ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 40 externos de investigação, uma boa parte do quais acabará por ser gasta, directa ou indirectamente, na região e em benefício dela; (v) a formação de técnicos especializados, indispensáveis ao desenvolvimento da região de influência de cada estabelecimento e para ela sensibilizados, que terão a tendência, sobretudo na sua actividade de investigação, para atender privilegiadamente aos problemas e às valências locais; (vi) o rejuvenescimento das populações do interior, com a presença e, frequentemente, a fixação de uma população estudantil ou recém-formada jovem, a que se junta o corpo docente, não raro também de uma faixa etária jovem e, não raro ainda, portador de experiências (cultural e científica) enriquecedoras, adquiridas nos países onde obtiveram ou prepararam os seus doutoramentos; (vii) o estudo, a recuperação e a activação de construções antigas, muitas das quais, depois de criteriosamente restauradas, passaram a fazer parte integrante dos próprios campi universitários; (ix) o direccionamento, para regiões antes menos favorecidas, de importantes contributos financeiros, designadamente ao nível do investimento em infraestruturas; e (x) a criação de novos empregos, e até de novas profissões, suscitados, directa ou indirectamente, pela própria actividade universitária e de investigação. Para além da perspectiva binomial do ponto de vista de quem o patrocina (i.e. público, podendo ser estatal ou concordatário; e privado, podendo ser particular ou cooperativo), o Ensino Superior em Portugal tem, nos nossos dias, uma natureza dual, do ponto de vista dos objectivos que pretende alcançar. Assim, existe actualmente uma componente universitária, mais antiga, e uma componente politécnica, mais recente. O ensino politécnico tem por função transmitir saberes e conhecimentos para que os estudantes estejam em condições de executar, e não tanto de conceber, como acontece no ensino universitário. Como tal, o ensino experimental, o ensino prático e demonstrativo, os estágios curriculares e os estágios de profissionalização são instrumentos fundamentais para que o Ensino Superior politécnico atinja os objectivos a que se propõe, que são objectivos de aplicabilidade e de savoir faire. O referido sistema dual é provavelmente o melhor, em termos de eficácia do Ensino Superior; países que acabaram a posteriori com tal 41 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA sistema (p.ex. o RU e a Austrália) através da promoção dos institutos politécnicos a universidades, tentando com isso promover um efeito benéfico sobre as antigas universidades baseado numa postura de competição, viram-se confrontados com a estratificação do sistema, e consequente criação de universidades de primeira e de segunda categorias. De facto, as instituições de menor prestígio, em vez de procurarem uma solução diversificada, tentaram imitar as instituições de êxito na procura de recompensas (inclusive financeiras); tal fez com que os ex-politécnicos acabassem por cair numa situação de menor prestígio do que anteriormente, com a desvantagem acrescida de terem perdido muitas das características que faziam a diferença dentro do sistema, e sem qualquer vantagem global para o Ensino Superior em termos de qualidade. 2. Missão Felizmente para o desenvolvimento económico dos países, tem-se vindo a assistir, nos últimos anos, a uma transformação da função do Ensino Superior no sentido da preparação para o emprego. O conceito de Universidade, aceite ao longo de toda a idade contemporânea até há alguns anos atrás, foi sobretudo herdado do modelo proposto em 1809 por Humboldt e Fichte para a Universidade de Berlim, em que se conjugavam dois grandes objectivos de âmbito genérico: a formação de uma elite (i.e. a transmissão do saber) e a realização de investigação avançada (i.e. o desenvolvimento do saber). Embora subsista ainda uma parte importante do Ensino Superior que consagra as suas actividades e os seus estudos ao saber pelo saber, sem qualquer outra finalidade de âmbito mais oportunístico, a parte mais significativa tem evoluido definitivamente no sentido do saber tecnológico e económico de cariz fortemente aplicado, e por isso concebido para o emprego. É sobre esta segunda parte que essencialmente incide esta obra, sem obviamente omitir a constatação de que a ciência, na sua acepção puramente cognitiva, é, em última análise, a principal fonte de inovação, que por sua vez está na base do crescimento económico. As grandes transformações conceptuais sobre a instituição universitária, surgidas a partir da década de 70, consubstanciaram-se na tran- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 42 sição dos referidos dois objectivos clássicos, i.e. desenvolvimento do saber e transmissão do saber, para um espectro diversificado e interligado de não menos de dez objectivos: (i) providenciar educação póssecundária; (ii) desenvolver investigação e conhecimento de fronteira; (iii) dotar a sociedade com as capacidades de intervenção necessárias; (iv) efectuar treino altamente especializado; (v) fortalecer a competitividade da economia; (vi) actuar como passo de triagem para empregos extremamente exigentes; (vii) contribuir para a mobilidade social; (viii) prestar serviços à comunidade; (ix) servir como paradigma da igualdade social; e (x) preparar os líderes das gerações futuras. Os últimos anos têm sido pródigos em novos desafios, especialmente de missão e de contexto. O grande desígnio da sociedade do conhecimento, ao prevalecer sobre as perspectivas de simples conhecimento económico, suscita redobrado esforço do Ensino Superior ao serviço da formação contínua e da difusão do conhecimento, sem restrições de forma nem de conteúdo. Por outro lado, os ritmos de mudança da sociedade e do conhecimento traduzem-se em contextos menos estáveis e mais incertos. Finalmente, a globalização e a segmentação da organização social e económica, com apreciável aumento do número e variedade de instituições com as quais o Ensino Superior se deve relacionar, resultam em âmbitos mais complexos e diversificados. Consequentemente, é cada vez mais apropriado definir a educação e a aprendizagem no Ensino Superior como um conjunto de processos de transmissão do que é conhecido, apenas quando a escala de tempo das mudanças culturais dominantes é maior do que a esperança de vida dos receptores desses conhecimentos. Em tempos remotos, o que os indivíduos aprendiam permaneceria válido e seria útil durante o resto das suas vidas; actualmente, esta premissa é falsa, pois tal escala de tempo é consideravelmente mais curta do que a esperança de vida humana. A aceleração do processo das mudanças sociais, tecnológicas e culturais impõe adaptações e inovações frequentes no que respeita a necessidades educacionais de aprendizagem, e aos métodos para lidar com elas. Portanto, o treino formal deve preparar indivíduos para fazer face a uma série de novas condições: a educação e o treino devem deixar de ser sinónimos de transferência pontual de conhecimentos para as gerações mais novas numa fase precoce das 43 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA suas vidas, e surgir alternativamente em resposta à renovação constante de necessidades ao longo de toda a vida do sujeito. Nesta perspectiva, o conhecimento esperado em trabalhadores intelectuais deveria ser visto como a capacidade para compreender o que está a ser feito, ao enfrentar, de forma eficiente e criativa, situações com componentes tecnológicas, organizativas e empresariais mutuamente dependentes umas das outras, num ambiente de incerteza. Assim, o conjunto de modelos fixos, que tem sido considerado como válido ao longo de vários anos a esta parte, está gradualmente a dar lugar a outra concepção alternativa, em que os indivíduos são supostos aprender como aprender, em vez de serem simplesmente treinados. Não surpreende, pois, que se atribua ao Ensino Superior novos paradigmas e novas morfologias. Um deles é a integração de valores e de conhecimento, porquanto as Universidades e os Institutos Politécnicos são as instituições que melhor poderão evitar a desagregação de culturas e até de identidades. Acresce a internacionalidade e o regionalismo, pois se é importante que a investigação se insira na comunidade científica mundial, não é menos importante a capacidade de integração e de interligação com o espaço local e regional: os casos mais significativos de sucesso (p.ex. a região de Baden-Wurttenberg na Alemanha, e o eixo Austin-San Antonio, nos EUA) baseiam-se de facto em redes de universidades. Finalmente, a inovação e a cooperação em rede, que são cruciais para se poder exercer as novas funções ora solicitadas, devem ter em conta a evolução da tecnologia e a necessidade de integrar saberes especializados. Em Portugal, o estabelecimento de tais redes tem carácter algo incipiente, sendo exemplar o caso da Associação das Universidades da Região Norte (AURN), a qual integra, para além do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, a Universidade do Porto, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Braga, e a Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro. Estes novos desafios estão a transformar o Ensino Superior sob múltiplas perspectivas, desde o seu governo à estruturação das suas actividades; poderão, a este propósito, ser referidas algumas evoluções marcantes. No ensino, diversificam-se os níveis da formação inicial, e expande-se concomitantemente a formação contínua. Na investigação científica, acentua-se o chamado Mode 2 of research (conceito intro- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 44 duzido por Gibbons), em que se desenvolvem espaços interdisciplinares de investigação orientados para a resolução de problemas reais. Nos modelos organizacionais, substituem-se as estruturas mais tradicionais e de estilo piramidal (geralmente conhecidas por modelo napoleónico) por redes de cooperação e centros de competências. O modelo de Ensino Superior começa, então, a ser apreendido segundo três vectores nucleares: (i) a maior importância dada à formação e ao ensino dos valores, em oposição às modas tecnocráticas de curricula de espectro estreito (característicos dos anos 70), consubstanciando o dever das Universidade e dos Institutos Politécnicos procurarem orientar o seu saber para a resolução de problemas e a promoção do bem estar dos indivíduos na sociedade, através de uma constante procura de significado; (ii) a prevalência da interdisciplinaridade, porquanto integração de conhecimentos, em lugar da cátedra ou da torre de marfim unidisciplinar, segundo a melhor tradição oligárquica universitária; e (iii) o imperativo da cooperação como essencial à funcionalidade da rede de unidades, em oposição à conflituosidade própria dos saberes não integrados. 3. Definição No âmbito mais alargado do Ensino Superior, surge a formação em Engenharia Alimentar, estruturada sobre duas áreas de intervenção principais: a ciência alimentar e a tecnologia alimentar. A ciência alimentar é a área de conhecimento em que as ciências de engenharia, biologia e física são utilizadas para estudar a natureza dos alimentos, as causas da sua deterioração, os princípios basilares de processamento alimentar e o melhoramento de alimentos para o público consumidor. A tecnologia alimentar é a aplicação da ciência alimentar à selecção, conservação, processamento, embalagem, distribuição e utilização de alimentos seguros, nutritivos e saborosos. A criação em Portugal da licenciatura em Engenharia Alimentar correspondeu à necessidade de preparação de quadros superiores especializados, capazes de contribuir para a modernização da indústria alimentar, a qual constitui um dos principais sectores das indústrias 45 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA transformadoras como antes se discutiu. Em Portugal, tal sector possui diversas deficiências estruturais, incluindo subdimensionamento, excessiva dispersão espacial, ausência de estratégia de médio e longo prazo, e fraca qualificação dos recursos humanos, que se conjugam para justificar uma grande fragilidade ao nível do potencial endógeno para inovar. Um aumento de valor acrescentado passa pela obtenção de novos produtos, e de produtos com qualidade maior e mais constante, o que envolve uma maior endogeneização tecnológica, a qual por sua vez exige quadros altamente qualificados. A percentagem de quadros especializados neste sector é ainda baixa, sendo por isso indispensável o seu aumento para fazer face à concorrência crescente provocada pela liberalização dos mercados mundiais. 4. Objectivos A formação superior em Engenharia Alimentar tem por objectivo dotar o futuro diplomado de competências profissionais específicas, que se distinguem de forma substancial daquelas que são veiculadas por outras licenciaturas em Engenharia (designadamente Engenharia Química ou Engenharia Agronómica), tornando-o capaz de actuar ao nível do processo produtivo, da distribuição, do controlo de qualidade, da inovação e investigação, e da gestão e marketing. Ao nível do processo, o Engenheiro Alimentar é o quadro técnico possuindo uma formação multidisciplinar em engenharia, biologia, química e bioquímica, que lhe permite desempenhar as funções de engenheiro de produção. De facto, os produtos alimentares devem ser atraentes, ter sabor, aroma e textura agradáveis, ser nutricionalmente ricos e equilibrados, e estar livres de contaminações microbiológicas e químicas. Para criar produtos optimizados sob todos estes aspectos, é fundamental compreender cientificamente bem as alterações que o processamento provoca nos alimentos, bem como controlar adequadamente cada passo do processo produtivo. A gestão da distribuição, associada à gestão de stocks, não pode ser adequadamente realizada sem uma compreensão dos produtos alimentares enquanto entidades biológicas, sujeitas a constantes trans- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 46 formações e contaminações que podem afectar drasticamente o seu valor. A área da distribuição alimentar deve, por isso, ser entendida numa perspectiva integrada similar a uma linha de produção, com programas de controlo de qualidade e escolha de soluções tecnológicas adequadas. A embalagem, os sistemas de frio e o controlo de degradação dos produtos alimentares são aspectos essenciais a considerar, e que só um licenciado em Engenharia Alimentar domina de uma forma abrangente. Em termos gerais, pode afirmar-se que existem quatro factores de qualidade: sensorial, nutricional, microbiológica e constância. O Engenheiro Alimentar é o quadro técnico com competências específicas não só para desenvolver programas de controlo de qualidade, mas igualmente para actuar de forma pragmática, rápida e eficiente no sentido da reposição da mesma. A área de produtos alimentares apresenta uma elevada competividade no mercado, o que implica uma constante necessidade de inovação e investigação. A mutação do mercado é muito forte, exigindo por isso empresas capazes de responder adequadamente, de forma imaginativa e rentável. Daí o aparecimento da necessidade de técnicos com formação multidisciplinar única, os Engenheiros Alimentares, capazes de responder a esta nova realidade. Como em muitas outras áreas, as competências em gestão e marketing são fundamentais para a indústria alimentar, mercê da necessidade de optimização de processos a montante, conjugada com o requisito de tratamento da interface com o consumidor a jusante. Novamente aqui o Engenheiro Alimentar possui competências em áreas complementares à sua formação técnica nuclear, que lhe permitem estar à altura das referidas exigências. 5. Padrões Para que seja possível o desenvolvimento profissional de Engenheiros Alimentares, existem padrões de formação que, uma vez definidos, permitem auxiliar as instituições de Ensino Superior na avaliação da 47 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA eficácia da selecção académica, e da orientação e preparação de licenciados. Com a aplicação de tais padrões pretende-se promover a excelência, de forma sustentada, na educação em Engenharia Alimentar. Os estudantes dotados das capacidades previstas por tais padrões irão igualmente possuir os fundamentos para o seu desenvolvimento profissional contínuo a posteriori. A intenção dos referidos padrões é, assim, a de promover o treino científico rigoroso, e o desenvolvimento de competências profissionais em estudantes matriculados na licenciatura de Engenharia Alimentar. Concomitantemente, tais padrões são úteis como guia para: as Universidades, no sentido de avaliar programas existentes de Engenharia Alimentar, ou de conceber e desenvolver novos programas; os estudantes, no sentido de seleccionar programas coerentes de ensino de Engenharia Alimentar; e as agências governamentais e a indústria, no intuito de permitir a percepção dos padrões básicos de competência profissional para os licenciados provenientes de programas de Engenharia Alimentar. Por razões de metodologia, os padrões podem classificar-se segundo dois grandes grupos: os respeitantes (i) à administração e os respeitantes (ii) ao curriculum. 5.1. Administração O programa de ensino deverá ser, de preferência, administrado por uma unidade institucionalmente definida, e dotada de orçamento suficiente para a manutenção da qualidade do programa académico. O corpo docente de Engenharia Alimentar deverá ter tamanho e competência comensuráveis com a diversidade de cursos necessários para satisfazer as competências antes discutidas. A maior parte dos elementos do corpo docente deverão ter previamente realizado o Doutoramento; alguns poderão possuir experiência profissional extensiva em vez de tal grau. Recomenda-se um tamanho mínimo do corpo docente próprio de quatro professores em dedicação exclusiva (para além de elementos do corpo docente que poderão compartilhar actividades noutras licenciaturas), por forma a assegurar massa crítica nas áreas de conhecimento e capacidade efectiva de desenvolvimento, e bem assim providenciar apoio pedagógico aos estudantes na endogeneização das competências previstas nos padrões de educação. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 48 Os campos de especialização do corpo docente devem estar distribuidos pelas diversas áreas das disciplinas do curriculum de Engenharia Alimentar. Regra geral, as disciplinas deverão ser leccionadas por professores cujo treino pós-graduado, ou experiência recente, tenha envolvido especialização na área da disciplina, ou em áreas afins. Embora possa não ser operacional incluir todo o corpo docente numa única unidade administrativa, a direcção da instituição universitária deve prever a existência de um quadro próprio, composto por um corpo docente com as qualificações exigidas para executar as funções de supervisão, leccionação, investigação e orientação do programa. Os laboratórios de ensino deverão possuir instalações e equipamentos modernos e adequados, destinados a conduzir experiências de química, microbiologia, engenharia e processamento. Igualmente deverão estar disponíveis instalações de tipo piloto, destinadas a ilustrar o ensino de operações unitárias em processamento alimentar e de processos integrados de obtenção de produtos alimentares. As instalações de documentação e biblioteca deverão ser capazes de providenciar suporte informativo ao nível da ciência e tecnologia alimentar, susceptível de apoiar, encorajar e estimular o estudo e a pesquisa independente, quer pelos estudantes quer pelo corpo docente. 5.2. Curriculum Por forma a permitir aos estudantes de Engenharia Alimentar adquirir as competências específicas previstas pelo seu perfil profissional, diversas disciplinas básicas (ou introdutórias) são necessárias, as quais deverão incluir, no mínimo: (i) química (pelo menos duas disciplinas de química geral, seguidas de uma disciplina de química orgânica e de uma disciplina de bioquímica, sendo ainda aconselhável uma disciplina de química analítica e uma disciplina de química física); (ii) biologia (pelo menos uma disciplina de biologia geral, e uma disciplina de microbiologia geral com componentes laboratoriais); (iii) nutrição (pelo menos uma disciplina envolvendo conceitos básicos de nutrição humana, e relacionamento entre o consumo de alimentos e a saúde e o bem-estar); (iv) física (pelo menos uma disciplina de física geral); (v) matemática (pelo menos duas disciplinas de análise matemática); (vi) estatística (pelo menos uma disciplina de estatística geral); e (vii) complemento (pelo menos uma disciplina capaz de trazer apports estruturantes de competências de expressão verbal, escri- UCE 49 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ta e oral). A escolha de disciplinas básicas deverá basear-se nos recursos disponíveis na Universidade, conjugados com as restrições a que a licenciatura estará sujeita (p.ex. carga lectiva máxima). Os padrões curriculares nucleares incluem dois elementos estruturantes: conteúdo curricular específico, e competências expectáveis de apendizagem. Note-se que as competências listadas são assaz abrangentes, pelo que cada programa de Engenharia Alimentar deverá desenvolver o seu próprio conjunto de resultados detalhados para cada disciplina, e para o curriculum como um todo. Os resultados deverão especificar o nível de aprendizagem, baseados numa taxonomia de Bloom (ou abordagem similar); cada programa deverá igualmente prever ferramentas de verificação, utilizadas para monitorizar os resultados da aprendizagem. As competências nucleares são cinco, a saber: (i) química e análise de alimentos; (ii) segurança e microbiologia de alimentos; (iii) engenharia e processamento de alimentos; (iv) ciência alimentar aplicada; e (v) sucesso pessoal e capacidade de interface. As competências de química e análise de alimentos, subdivididas em conteúdo e objectivos, estão listadas na Tab. 5.2.1. CONTEÚDO ■ estrutura e propriedades dos componentes alimentares, incluindo água, hidratos de carbono, proteinas, lípidos, outros nutrientes e aditivos alimentares OBJECTIVOS ■ ■ ■ química das alterações ocorridas durante o processamento, armazenagem e utilização ■ ■ ■ ■ princípios, métodos e técnicas para a análise qualitativa e quantitativa dos alimentos e dos seus ingredientes, em termos físicos, químicos e biológicos ■ ■ compreensão da química na base das propriedades e das reacções dos diversos componentes alimentares conhecimento suficiente de química alimentar para o controle das reacções nos alimentos compreensão das principais reacções químicas que limitam o tempo de vida útil dos alimentos capacidade de utilização de técnicas laboratoriais comuns à química alimentar básica e aplicada compreensão dos princípios que sustentam as técnicas analíticas associadas aos alimentos capacidade de selecção da técnica analítica apropriada quando em face de um problema prático demonstração de proficiência prática num laboratório de análise de alimentos Tabela 5.2.1: Conteúdo e objectivos das disciplinas conducentes à competência nuclear de química e análise de alimentos. Fonte: Guidebook for Food Science Programs. Dados: 2001. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 50 As competências referidas na Tab. 5.2.1 deverão ser veiculadas através de um mínimo de 10% dos créditos curriculares da licenciatura em Engenharia Alimentar. As competências de segurança e microbiologia de alimentos, subdivididas em conteúdo e objectivos, estão listadas na Tab. 5.2.2. CONTEÚDO OBJECTIVOS ■ ■ microorganismos patogénicos e de degradação em alimentos ■ ■ ■ ■ microorganismos benéficos em matrizes alimentares ■ ■ influência da matriz alimentar no crescimento e sobrevivência de microorganismos ■ ■ controle de microorganismos identificação da importância dos microorganismos patogénicos e de degradação em alimentos, e das condições sob as quais eles crescem identificação das condições sob as quais os patogéneos importantes são normalmente inactivados, mortos ou tornados não-virulentos em alimentos utilização de técnicas laboratoriais para identificar microorganismos em alimentos compreensão dos princípios envolvendo a conservação de alimentos através de processos fermentativos compreensão do papel e significância da inactivação microbiana, adaptação e ecologia sobre o crescimento e resposta dos microorganismos a vários ambientes (em termos de aW, pH e temperatura) capacidade de identificar condições, incluindo práticas de sanitação, sob as quais os microorganismos patogénicos e de degradação mais importantes são inactivados, mortos ou tornados não-virulentos em alimentos Tabela 5.2.2: Conteúdo e objectivos das disciplinas conducentes à competência nuclear de segurança e microbiologia de alimentos. Fonte: Guidebook for Food Science Programs. Dados: 2001. As competências referidas na Tab. 5.2.2 deverão ser veiculadas através de um mínimo 10% dos créditos curriculares da licenciatura em Engenharia Alimentar. As competências de engenharia e processamento de alimentos, subdivididas em conteúdo e objectivos, estão listadas na Tab. 5.2.3. UCE 51 CONTEÚDO características da matéria prima ■ ■ princípios de conservação de alimentos, incluindo temperaturas reduzidas e elevadas, e actividade da água ■ ■ ■ princípios de engenharia, incluindo balanços de massa e energia, termodinâmica, fluxo de fluidos, e transferência de massa e energia ■ ■ ■ ■ princípios das técnicas de processamento alimentar (p.ex. liofilização, pressão elevada, processamento asséptico e extrusão) ■ ■ materiais e métodos de embalagem ■ limpeza e sanitação ■ água e gestão de resíduos UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA OBJECTIVOS ■ ■ ■ ■ ■ compreensão da fonte e variabilidade das matérias-primas, e do seu impacto sobre as operações de processamento alimentar conhecimento dos mecanismos de deterioração e apodrecimento dos alimentos, e dos métodos para o seu controle compreensão dos princípios que tornam um produto alimentar seguro para consumo compreensão dos processos de transporte e das operações unitárias em processamento alimentar, conforme demonstrado conceptualmente e em dispositivos de verificação laboratorial prática capacidade de utilizar balanços de massa e energia para um determinado processo alimentar compreensão das operações unitárias requeridas para obter um dado produto alimentar compreensão dos princípios e práticas correntes nas técnicas de processamento, e dos efeitos dos parâmetros de processamento na qualidade do produto compreensão das propriedades e usos de vários materiais de embalagem compreensão dos princípios e práticas básicos de limpeza e sanitação em operações de processamento alimentar compreensão dos requisitos de utilização de água, e de gestão de resíduos em alimentos e em processamento alimentar Tabela 5.2.3: Conteúdo e objectivos das disciplinas conducentes à competência nuclear de engenharia e processamento de alimentos. Fonte: Guidebook for Food Science Programs. Dados: 2001. As competências referidas na Tab. 5.2.3 deverão ser veiculadas através de um mínimo 20% dos créditos curriculares da licenciatura em Engenharia Alimentar. As competências de ciência alimentar aplicada, subdivididas em conteúdo e objectivos, estão listadas na Tab. 5.2.4. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO CONTEÚDO ■ integração e aplicação dos princípios de ciência alimentar (p.ex. química, microbiologia e engenharia) ■ competências computacionais ■ competências estatísticas ■ controle de qualidade OBJECTIVOS ■ ■ ■ ■ ■ métodos analíticos efectivos para a avaliação das propriedades sensoriais dos alimentos utilizando ferramentas estatísticas ■ problemas actuais em ciência alimentar ■ legislação e regulamentação do sector alimentar 52 ■ ■ ■ capacidade de aplicacão e de incorporação dos princípios de ciência alimentar a problemas práticos e situações da vida real conhecimento sobre como usar computadores na resolução de problemas de ciência alimentar capacidade de utilização dos princípios estatísticos em aplicações de ciência alimentar capacidade de aplicação dos princípios de ciência alimentar ao controlo e garantia de qualidade de géneros alimentares compreensão dos princípios básicos de análise sensorial actualização sobre tópicos actuais com importância para a indústria alimentar conhecimento e compreensão das regulamentações governamentais exigidas pela manufactura e venda de alimentos Tabela 5.2.4: Conteúdo e objectivos das disciplinas conducentes à competência nuclear de ciência alimentar aplicada. Fonte: Guidebook for Food Science Programs. Dados: 2001. As competências referidas na Tab. 5.2.4 deverão ser veiculadas através de um mínimo 40% dos créditos curriculares da licenciatura em Engenharia Alimentar. As competências de sucesso pessoal e capacidade de interface, subdivididas em conteúdo e objectivos, estão listadas na Tab. 5.2.5. CONTEÚDO OBJECTIVOS ■ ■ ■ competências de comunicação (oral, escrita, auditiva e de entrevista) competências de raciocínio crítico e de resolução de problemas (p.ex. criatividade, senso comum, combinação de recursos variados, raciocínio científico e pensamento analítico) ■ ■ demonstração do uso das competências orais e escritas de comunicação (p.ex. escrita de relatórios técnicos, cartas e memorandos; comunicação de informação técnica a audiência não-técnica; e apresentações públicas, formais e informais) definição do problema, identificação das potenciais causas e das possíveis soluções, e enunciação criteriosa de recomendações aplicação de competências de raciocínio crítico a novas situações ▲ UCE 53 ■ ■ competências de profissionalismo (p.ex. ética, deontologia, integridade e respeito pela diversidade) ■ ■ ■ ■ ■ competências de aprendizagem ao longo da vida competências de interacção (p.ex. trabalho em equipa, supervisão, liderança, trabalho em rede e relações humanas) competências de aquisição de informação (p.ex. pesquisas em papel e em suporte informático, bases de dados e Internet) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ competências de organização (p.ex. gestão de tempo e gestão de projectos) ■ ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA compromisso com os mais elevados padrões de integridade profissional e com valores éticos trabalho e interacção com indivíduos de culturas distintas explicação das competências necessárias para permitir uma auto-educação sustentada e sistemática trabalho efectivo com outros liderança numa variedade de situações gestão de conflitos individuais e colectivos pesquisa independente de informação científica e não-científica utilização competente de recursos bibliográficos gestão eficaz do tempo facilitação de projectos em grupo gestão de múltiplas tarefas sob múltiplas solicitações Tabela 5.2.5: Conteúdo e objectivos das disciplinas conducentes à competência nuclear de sucesso pessoal e capacidade de interface. Fonte: Guidebook for Food Science Programs. Dados: 2001. As competências referidas na Tab. 5.2.5 deverão ser veiculadas através de um mínimo 10% dos créditos curriculares da licenciatura em Engenharia Alimentar. Qualquer que seja a área de especialização, ou a ênfase da licenciatura em Engenharia Alimentar em causa, é no entanto evidente que existem elementos comuns: no início as ciências básicas, e no final o desenvolvimento de processos e produtos. Os aspectos de engenharia são tipicamente cobertos em quase todos os programas existentes até à data, se bem que com extensões e abordagens diferentes: nos programas mais orientados para a ciência, as disciplinas de engenharia cobrem apenas os aspectos básicos. Nos programas com orientação subsectorial, existe apenas um número limitado de disciplinas que complementam as disciplinas de cariz tecnológico (empírico), numa perspectiva de engenharia processual. Em abordagens de engenharia industrial, a componente de engenharia envolve um número alargado de disciplinas, que cobrem desde a área de ciência de engenharia até às operações processuais, numa perspectiva de operações unitárias. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 54 6. Avaliação A avaliação formal e sistemática dos cursos do Ensino Superior assume hoje em dia, e em sentido lato, um número considerável de formas: (i) avaliação do desempenho, sob a égide da Fundação das Universidades Portuguesas, FUP; (ii) avaliação da investigação, sob a égide da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, FCT; (iii) avaliação institucional, sob a égide do Conselho de Reitores Europeu, CRE; (iv) avaliação para acreditação, sob a égide das Ordens profissionais; e (v) auditorias de gestão, ao abrigo do Decreto-Lei 252/97. Das formas referidas, assumem especial relevância, no âmbito do desenvolvimento da licenciatura em Engenharia Alimentar, as avaliações de desempenho, para acreditação e da investigação, razão pela qual serão tratadas de seguida em maior detalhe. 6.1.Desempenho As finalidades específicas da avaliação de desempenho estão consignadas na Lei nº 38/94 de 21 de Novembro, e no Decreto-Lei nº 205/98 de 11 de Junho, a saber: (i) estimular a melhoria da qualidade das actividades desenvolvidas; (ii) informar e esclarecer a comunidade educativa e a comunidade portuguesa em geral; (iii) assegurar um conhecimento mais rigoroso e um diálogo mais transparente entre as instituições de Ensino Superior; e (iv) contribuir para o ordenamento da rede de instituições do Ensino Superior. Acrescem o contributo da avaliação para o reconhecimento de diplomas académicos e títulos profissionais a nível europeu, bem como para a racionalização das actividades de ensino e investigação universitárias, designadamente no que respeita aos meios humanos, físicos e financeiros. O sistema de avaliação e acompanhamento incide sobre a qualidade do desempenho científico-pedagógico das instituições de Ensino Superior, de acordo com a natureza e a tipologia de ensino, a preparação académica do corpo docente, e as condições de funcionamento. Tal sistema toma especialmente em consideração: (i) o ensino, designadamente as estruturas curriculares, o nível científico, os processos pedagógicos e as suas características inovadoras; (ii) a qualificação dos agentes de ensino; (iii) a investigação realizada; (iv) a 55 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ligação à comunidade, designadamente através da prestação de serviços e da acção cultural; (v) o estado das instalações e do equipamento pedagógico e científico; e (vi) os projectos de cooperação internacional. O sistema de avaliação e acompanhamento das instituições de Ensino Superior considera ainda, sem prejuízo de outros aspectos relevantes: (i) a procura efectiva dos alunos, o sucesso escolar e os mecanismos de apoio social; (ii) a colaboração interdisciplinar, interdepartamental e interinstitucional; (iii) a inserção dos diplomados no mercado de trabalho; e (iv) a eficiência de organização e de gestão. O âmbito deste sistema é nacional, obedecendo aos princípios de: (i) autonomia e imparcialidade da entidade avaliadora; (ii) participação das instituições avaliadas; (iii) audição de docentes e discentes; e (iv) publicidade dos relatórios de avaliação, respeitantes a cada instituição, e das respostas dos estabelecimentos avaliados. O Relatório de Auto-avaliação é um dos componentes basilares previsto no processo de avaliação externa das Universidades, sendo um dos mais importantes vectores de participação da instituição avaliada. Na elaboração do guião do curso superior, são consideradas cinco dimensões: relevância (i.e. porquê e para quê), adequabilidade (i.e. que e qual), alunos (i.e. para quem), processos (i.e. como) e recursos (i.e. com quê). No que diz respeito à relevância, podem ser identificados dois critérios: o que tem a ver com a justificação do próprio curso face aos requisitos da sociedade em que se insere, e das estratégias e metas de desenvolvimento da Universidade que o acolhe (i.e. critério de pertinência); e o que tem a ver com a influência interna e externa do curso (i.e. critério de impacto). A dimensão adequabilidade pode ser igualmente equacionada de forma dual: por um lado, respeita à sua estrutura organizativa (i.e. critério de organização científica); por outro, refere-se à capacidade de se adaptar às modificações ocorridas na sociedade (i.e. critério de flexibilidade). A dimensão alunos respeita aos destinatários do curso, tendo interesse qualificar quer as características dos alunos que o procuram (i.e. critério procura), quer a progressão dos alunos no sistema (i.e. critério efectividade). A dimensão processos tem a ver com a organização didácticopedagógica do curso. Finalmente, a dimensão recursos diz respeito aos meios humanos, equipamentos e infraestruturas disponibilizados para o funcionamento do curso. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 56 Este Relatório consta de uma apreciação global e de uma avaliação autocrítica de pontos fortes e fracos, designadamente em termos dos processos e do funcionamento (lógica do bulk), e da posterior inserção na vida activa (lógica do interface), incluindo o ponto de vista dos docentes, o ponto de vista dos alunos, e o ponto de vista das entidades empregadoras. A apresentação deste Relatório corresponde ao resultado de reflexão pelo corpo docente e discente sobre a vida interna da instituição universitária, a qual ocorre com uma periodicidade suficientemente elevada para ser útil em termos de acompanhamento da execução dos planos de curto prazo, mas suficientemente baixa para ser compatível com a elaboração de estratégias de médio prazo. A experiência indica que, regra geral, as instituições conseguem identificar pontos fortes (o que pode ser visto como recompensa para os esforços sistemáticos e empenhados desenvolvidos ao longo dos sucessivos anos lectivos), mas igualmente pontos fracos (os quais devem então passar a ser cuidadosa e especificamente acautelados). Da parte da Comissão de Avaliação Externa, evidencia-se grande rigor e postura crítica construtiva na avaliação das unidades de Ensino Superior. Como exemplo de Relatório de Avaliação Externa, apresenta-se na Tab. 6.1.1 o respeitante à avaliação da mais antiga licenciatura em Engenharia Alimentar em Portugal, a oferecida pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. TÓPICO Planos de estudo da licenciatura COMENTÁRIOS “[…] Não deixa de referir-se, quanto à licenciatura em Engenharia Alimentar, a vantagem que resulta da diversidade de curricula entre as várias Escolas que ministram cursos dessa área, como decorrência das capacidades humanas presentes, dos recursos materiais existentes e das características do meio em que se inserem. […] Enquanto curso de Engenharia, entre as matérias básicas e iniciais de uma licenciatura em Engenharia Alimentar têm de estar a Matemática e a Física. Há, nestas áreas científicas, todo um conjunto de conceitos essenciais para o desenvolvimento de conhecimentos associados a disciplinas da área das Ciências da Engenharia e para o estabelecimento de uma atitude característica do Engenheiro. A Engenharia Alimentar estabelece uma ponte entre a Engenharia Química e os sistemas que são de origem biológica ou que envolvem transformações biológicas, pelo que os seus requi▲ UCE 57 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA sitos básicos específicos têm de ser a Química, por um lado, e a Biologia, por outro, nomeadamente na sua componente microbiológica. Esta orientação não poderá deixar de estar presente em qualquer plano de estudos de licenciatura em Engenharia Alimentar, não obstante a diversidade e identidade procurada por cada uma. Haverá também toda a vantagem em que o curriculum apresente flexibilidade, dinamismo e adaptabilidade e, assim, deverá, na medida do possível, permitir aos alunos alguma liberdade de escolha na sua formação. A licenciatura deverá, ainda, renovar as ofertas de áreas de formação, adequando-as às necessidades da sociedade e à evolução científica e profissional. Os princípios expostos serão tanto mais verificados quanto a estrutura universitária for mais aberta, e permitir maximizar a actividade de pólos de investigação existentes, comprometendo-os na formação e divulgação científica. […] Finalmente, não poderá esquecer-se que é indispensável a vivência de uma forte componente prática que permita a formação, não só em termos de resolução de problemas científicos, mas também no domínio e uso eficiente de instrumentos e técnicas clássicas e avançadas das diferentes áreas com aplicação na Engenharia Alimentar. E tudo isto deverá conduzir à formação de profissionais capazes de responder às necessidades de investigação científica, do ensino, da tecnologia e da indústria, e ainda da intervenção social.” Organização da avaliação “[…] Este relatório segue as linhas gerais […]; dá-se relevância especial aos aspectos mais salientes do relatório de auto-avaliação, da discussão dos pareceres dos relatores designados para esses relatórios, das visitas institucionais efectuadas e da discussão final realizada em Comissão Alargada.” Programa de ensino “A licenciatura em Engenharia Alimentar tem por objectivo formar engenheiros de processamento industrial, especializados na área alimentar, capazes de actuar na produção, no controle da qualidade, na investigação e desenvolvimento de novos produtos, na distribuição, e ainda em gestão e marketing. Esta formação multidisciplinar justifica-se pelo facto de o sector agro-alimentar ser extremamente diversificado. É também objectivo do curso garantir que os seus licenciados tenham um conhecimento das realidades académicas, científicas e empresariais a nível internacional. Para tal, é considerado fundamental o programa de estágios no estrangeiro, que decorre no primeiro semestre do último ano. O conteúdo da licenciatura apresenta as características geralmente presentes nos cursos deste tipo, no que diz respeito à sua natureza, métodos de ensino e métodos de avaliação. […] No caso da licenciatura em Engenharia Alimentar, reconhece-se que o plano de estudos, actualmente em vigor, se apresenta bastante satisfatório. […] Atribui-se uma inequívoca importância à realização do estágio terminal, quase sempre no estrangeiro, sendo de realçar o interesse de que se reveste e o sucesso que parece ter. É claramente de ▲ ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 58 incentivar a sua continuação. […] É de reconhecer a importância das teses de mestrado e de doutoramento elaboradas no âmbito das diferentes áreas específicas da licenciatura em causa.” Alunos “O número de alunos que entraram para o primeiro ano […] foi de 50. […] A maioria dos alunos conclui a sua licenciatura no número de anos previsto no plano de estudos, ou em mais um ano. Entende-se dever realçar as excelentes condições de estudo que são proporcionadas aos alunos no que se refere a instalações. […]” Professores e meios humanos “[…] Regista-se, como facto positivo, que muitas das aulas teóricas são leccionadas por docentes com qualificação adequada, já doutorados ou com curriculum específico na área. […] Da mesma forma, regista-se o esforço desenvolvido no sentido de facultar aos assistentes condições para a obtenção do grau de doutor. É também de salientar o método de avaliação integral da actividade do corpo docente para definir a sua progressão na carreira. No que se refere a pessoal técnico, este existe em quantidade que parece ser suficiente, apresenta-se como competente e mostra-se bem aproveitado. […]” Estruturas “Como já foi anteriormente referido, são de realçar as excelentes condições de trabalho oferecidas.” Gestão da qualidade “É de realçar a procura de qualidade que esta Escola pratica como filosofia de base. O trabalho de investigação realizado tem uma repercussão muito positiva na qualidade do ensino oferecido, sendo de salientar, como positiva, a boa articulação entre a actividade de investigação e a de ensino. É de salientar quer o número, quer a qualidade dos projectos de investigação em curso. É altamente meritório o trabalho desenvolvido pelo Serviço de Carreiras e de Consulta Psicológica, e pelo Observatório de Entradas na Vida Activa. Dada a actual dificuldade de inserção dos licenciados […], o trabalho desenvolvido por este serviço é extremamente importante para minorar esse problema.” Relações externas “Entende-se ser de realçar a capacidade científico-tecnológica para a realização de trabalhos ao exterior, sendo de elogiar a diversidade e a qualidade dos que actualmente decorrem, dadas as suas repercussões na própria imagem social da Universidade e no futuro dos seus alunos […].” Tabela 6.1.1: Excertos do Relatório de Avaliação Externa de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Fonte: Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas. Dados: 1999. Consequentemente, tal relatório pode (e deve) servir de ferramenta na procura incessante de padrões mais elevados de qualidade científico-pedagógica. No caso da Escola Superior de Biotecnologia, tal 59 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA decorre em consonância com o objectivo último explicitado na sua missão: o de prestar um serviço à comunidade envolvente nas áreas de intervenção da Biotecnologia, afirmando-se como um fórum de excelência internacional com forte consciência nacional, numa simbiose entre avanço e transmissão do conhecimento de fronteira, e valores humanistas. 6.2. Acreditação O estatuto da Ordem dos Engenheiros, aprovado por Decreto-Lei 119/92 de 30 de Junho, remete para Regulamento próprio o regime de admissão e qualificação dos membros daquela Ordem; tal documento, consagrando as normas para a admissão e acreditação de cursos e estágios, foi posteriormente aprovado pela Assembleia de Representantes em 29 de Março de 1993. A acreditação, a realizar curso a curso, tem em vista verificar a conformidade da preparação conferida por cada um deles com o modelo técnico-profissional de Engenheiro que a Ordem representa; pretende-se, assim, distinguir aquelas habilitações que, pela forma como são ministradas, garantem um perfil de formação base correspondente ao modelo atrás referido. Existindo uma grande diversidade de escolas e perfis de cursos de Engenharia, com características muito variáveis, há que adoptar um procedimento objectivo e igual para todos os casos. Por outro lado, mercê da grande variedade de percursos profissionais nos dias de hoje (e cada vez maior no futuro próximo), não compete à Ordem forçar padrões rígidos de ensino e de perfis-tipo; o processo de acreditação visa outrossim o nível, a qualidade e as características de aplicação do ensino à Engenharia, que assegurem a continuidade da boa formação de base que caracteriza o acesso à Ordem. Indirectamente, o processo de acreditação funciona como um estímulo à melhoria contínua do ensino de Engenharia em Portugal. A apresentação da candidatura de uma licenciatura de Engenharia à acreditação pela Ordem é feita no pressuposto de que esse curso satisfaz às condições genéricas de um curso de Engenharia, possuindo por isso um programa curricular, um corpo docente e uma actividade académica adequados à formação de profissionais de Engenharia reconhecidos como Engenheiros pela Ordem, i.e. alguém que se ocupa da aplicação das ciências e das técnicas respeitantes aos diferentes ramos ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 60 da Engenharia nas actividades de investigação, concepção, estudo, projecto, fabrico, construção, produção, fiscalização e controlo de qualidade, incluindo a coordenação e gestão dessas actividades (e outras com elas relacionadas), a um nível técnico e científico compatível com o ingresso na Ordem. O pedido é formulado conjuntamente com a submissão de um Dossier de Curso, contendo: (i) dados gerais (informações sobre o corpo docente, horas de escolaridade e frequências do curso); (ii) texto de apresentação (documento formal, onde se identificam os motivos de criação do curso e o seu objectivo actual); (iii) plano do curso (organização do curso, plano das opções disciplinares, equivalências e especializações); (iv) funcionamento pedagógico (política de ensino e esquema do funcionamento pedagógico do curso); (v) aconselhamento (descrição da política de acompanhamento da, e apoio pelos docentes à evolução curricular do aluno); (vi) informação técnica e científica (dados sobre a formação, os meios e os hábitos dos alunos); (vii) docentes (lista do pessoal docente da Escola das disciplinas específicas do curso, com indicação da sua qualificação e do tempo de presença na Escola); (viii) fichas de professor (curriculum abreviado dos professores das disciplinas específicas do curso); (ix) fichas de disciplina (conteúdo programático das disciplinas específicas do curso, com a respectiva carga horária, principais livros e outros elementos de apoio utilizados na preparação e trabalho nas aulas, bibliografia fundamental, e métodos de avaliação); (x) e fichas de laboratório (caracterização do equipamento e infraestrutras de laboratórios, oficinas e salas de computadores utilizados nas disciplinas específicas). Igualmente deve ser submetido um Dossier de Instituição, contendo: (i) ficha da instituição (dados gerais sobre órgãos directivos, número de alunos, orçamento, cursos ministrados e biblioteca); (ii) apresentação (informação sobre a evolução do ensino na instituição, incluindo caracterização de instalações, localização e adequação à actividade de ensino); e (iii) I&D e prestação de serviços (listagem dos contactos e das colaborações em actividades técnico- científicas com, e em prestação de serviços a, entidades nacionais e internacionais). UCE 61 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Dado que apenas uma licenciatura de Engenharia Alimentar – a ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa - se encontra actualmente acreditada pela Ordem dos Engenheiros (embora temporariamente sob a égide do Colégio de Engenharia Química, estando em curso esforços no sentido da criação da respectiva especialidade até meados de 2002), apresenta-se de seguiTÓPICO COMENTÁRIOS Processo de acreditação “Foi considerado completo e bem organizado, não tendo dado lugar a qualquer pedido de esclarecimento ou de aperfeiçoamento.” Objectivos do curso “A licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESBUCP), no Porto, iniciou-se em 1983, visando criar uma licenciatura de base processual voltada para a indústria alimentar, sem especializações, leccionando disciplinas de Matemática, Física, Microbiologia e Bioquímica, e ainda Fenómenos de transporte, Conceitos de cinética, Operações elementares, Economia, Gestão e Investigação operacional, para além de alguns temas específicos como Análise sensorial e Embalagem de produtos alimentares, e reservando ainda tempo para um estágio obrigatório de 6 meses e a realização de um trabalho final de Curso. Esta concepção inicial foi evoluindo mercê das contribuições sucessivas colhidas do diálogo com a Indústria e com Escolas estrangeiras que abordam domínios próximos, e bem assim contribuições do próprio processo de integração de Portugal nas Comunidades Europeias, determinando um ajustamento curricular em 1992. Ainda que atenta a todos os aspectos evolutivos, a Escola não favorece revisões curriculares frequentes e, nomeadamente pelos contactos que tem com instituições congéneres estrangeiras, considera o presente conteúdo curricular como muito satisfatório.” Integração do curso na estrutura institucional “Convirá referir, pelos diversos aspectos de inter-disciplinaridade e sinergia que tal estrutura necessariamente determina, que a ESBUCP concilia actividades formais de ensino com prestação de serviços às Empresas e realização de Investigação. […] Existem em funcionamento dois Mestrados, em Ciência e engenharia alimentar e em Informática de gestão, e bem assim são ministrados cursos de pós-graduação em Enologia, Ciências cervejeiras, e Economia e gestão agro-alimentar. Uma Divisão de Extensão está especificamente vocacionada para prestar serviços a empresas e contém seis centros de competência: Centro de Cálculo e Tecnologias de Informação, Centro de Embalagem de Produtos Alimentares, Centro de Instrumentação e Electrónica Industrial, Centro de Economia e Gestão das Indústrias Agro-alimentares, Centro de ▲ ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 62 Qualidade Alimentar, e Centro de Tecnologia Alimentar. Nestes Centros cabem actividades de formação de quadros médios para a Indústria e a própria Escola. A investigação está estruturada em Microbiologia, Tecnologia enzimática, Biotecnologia vegetal, Tecnologia de bioprocessamentos, Engenharia alimentar, Engenharia do ambiente e Química alimentar. Existem ainda três consórcios sectoriais: Vinhos, Lacticínios e Pescado, cada um destes confiado a um Docente. É considerado que os consórcios, pela sua organização temática, facilitam muito os contactos com o exterior. A Escola procura acompanhar permanentemente a formação ministrada na Europa e América do Norte na área alimentar, e participa, com o apoio comunitário, na rede ERASMUS e nos programas COMETT e TEMPUS. Com importante intervenção da Escola, foi lançado o Mestrado Europeu em Estudos Alimentares, em que 20 alunos europeus vão iniciar um ciclo de formação em diversas instituições europeias.” Corpo docente “O corpo docente inclui 15 doutorados a tempo inteiro, ocupando ainda a Escola 33 quadros técnicos superiores, também a tempo inteiro, […] que leccionam no Curso de Engenharia Alimentar; admite-se que esse número possa vir a atingir brevemente os 18 ou mesmo 20. O tempo dos docentes é repartido entre a docência e outras actividades (serviços e investigação, compreendendo a ligação a empresas), equilibrando-se a extensão relativa dessas duas componentes. Os 15 professores referidos encontram-se a tempo inteiro na escola e constata-se uma rigorosa gestão dos respectivos planos de aulas. Verifica-se uma evidente preocupação em que a actividade de cada Docente se traduza igualmente numa rentabilização das capacidades que a Escola pode proporcionar para apoios e serviços à Indústria, e para intervenção em projectos comunitários. Assim, existe um esquema de avaliação de docentes, com vários escalões que são atingidos à medida que os curricula vão sendo enriquecidos, e em que a “produtividade individual” tem consideração importante. O número de projectos comunitários em que a Escola participa é actualmente de 12 […]; o número total de projectos de investigação com financiamentos exteriores é […] de 25. […] O corpo docente está geralmente motivado […]. A actividade científica da Escola está em franco aumento, havendo já um número significativo de publicações anuais. […]” Corpo discente “Um exame de admissão selecciona os alunos e abrange as áreas de matemática (obrigatória) e de duas das três disciplinas seguintes, à escolha do aluno: química, biologia e física. Os alunos podem inscrever-se em exames de admissão para ingresso no ano propedêutico ou no 1º ano. Em qualquer caso, o exame de admissão tem um peso preponderante na média ponderada de admissão (65% para admissão ao 1º ano e 75% para admissão ao ano propedêutico), existindo um limiar de classificação (9.5) aquém do qual os alunos ▲ UCE 63 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA não são admitidos mesmo que existam vagas. […] A progressão dos discentes no Curso acompanha uma importante melhoria do ambiente inicial, manifestando estes uma crescente integração e motivação, e valorizando o ambiente e as relações com o corpo docente. Como factores importantes de aperfeiçoamento da relação aluno/Escola, salienta-se a realização de um estágio obrigatório no 5º ano, no estrangeiro, que “abre horizontes”, para além de estágios “facultativos” durante o Verão (não influenciam a apreciação curricular mas “ajudam a abrir portas”) e de um trabalho de fim de curso, com carácter de aplicação e projecto, este realizado em grupos de 4 a 5 participantes. A Escola […] promoveu 313 estágios no Estrangeiro de alunos de Engenharia Alimentar, e, por sua vez, recebeu 79 estagiários estrangeiros. A relativa juventude do Curso faz com que, nas estatísticas recentes, apenas 57% de licenciados sejam dados como trabalhando em actividades do ramo alimentar e 5% noutras actividades. A esses 62% há que juntar cerca de 25% de alunos que se mantêm em formação pós-licenciatura, sendo 2/3 em Portugal e 1/3 no Estrangeiro, muitos destes em condições bastante favorecidas por darem continuidade a contactos iniciados durante o estágio obrigatório do 5º ano. Os alunos finalistas mostram-se bem informados quanto ao seu papel e ao mercado de emprego, e valorizam bem a formação adquirida na Escola.” Pessoal técnico “A Escola procura formar o seu próprio pessoal técnico, e as oficinas mostram-se bem equipadas. As actividades de extensão e de projectos que a Escola desenvolve são de utilidade para a existência de um quadro razoavelmente dimensionado e preparado.” Plano de estudo, biblioteca e instalações “O plano de estudos tem uma distribuição adequada das diversas actividades que interessam ao licenciado em Engenharia e é exigente, com uma carga semanal elevada. O plano de estudo do curso de Engenharia Alimentar mostra um aceitável equilíbrio entre conjuntos de disciplinas (ciências básicas, ciências de engenharia, tecnologia, controle e disciplinas de especialidade), com opções muito limitadas (mas existentes) a partir do 3º ano. A componente laboratorial é reforçada, bem como as componentes práticas, através do já referido estágio e do trabalho de fim de curso. […] Algumas cadeiras – p.ex. Embalagem alimentar – são não-tradicionais e inovadoras, e revelam uma preocupação louvável de permanente actualização numa área sensível. Esta disciplina é, aliás, um exemplo da interiorização da experiência prática proporcionada pelos Centros. Tanto a Biblioteca como as instalações abertas ao ensino (incluindo meios informáticos) revelam bastante qualidade, e a Escola atravessa um período de grande expansão que vai certamente disponibilizar mais e melhor equipamento. Se de facto os laboratórios de serviços e de investigação não estão abertos ao ensino, como se compreende, são porém óbvias as vantagens que, para o ensino, resultam da sua existência, dotação e exploração activa. […]” ▲ ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL Conclusões ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 64 “Tendo em consideração o referido no presente Relatório e, bem assim, o Documento de Acreditação e a visita efectuada, o Júri […] emitiu o seguinte parecer: a) o Curso de Engenharia Alimentar da ESBUCP corresponde aos objectivos que lhe estão atribuídos por essa Escola, e concede uma preparação académica compatível com o exercício profissional de Engenheiro; b) […] o respectivo Corpo Docente está dimensionado e proporciona um ensino de qualidade; c) a investigação realizada na referida Escola apresenta uma evolução significativa, e a preocupação da Escola em desenvolver uma activa relação com o exterior, seja com a Indústria nacional interessada, seja com instituições congéneres estrangeiras, seja por participação num número relevante de projectos comunitários, é considerada do maior interesse - igualmente importantes são os cursos de pós-graduação que proporciona; pelo que é conclusão do Júri que o Curso de Engenharia Alimentar apresentado no Processo de Acreditação pela ESBUCP, no Porto, seja reconhecido pela Ordem dos Engenheiros […].” Tabela 6.2.1: Excertos do Relatório de Acreditação de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Fonte: Conselho de Avaliação da Ordem dos Engenheiros - Colégio de Engenharia Química Dados: 1996. da, e a título ilustrativo, o relatório de avaliação respeitante à mesma. Para além de aferir, de forma pragmática e factual, da qualidade da licenciatura de Engenharia Alimentar, enquanto vector de formação susceptível de conduzir a um perfil técnico-científico compatível com as actuais exigências profissionais da indústria, a acreditação pela Ordem dos Engenheiros isenta os licenciados do exame de admissão específico para ingresso na mesma. 6.3. Investigação O Ministério da Ciência e da Tecnologia protagoniza um modelo de financiamento plurianual das unidades de investigação em Portugal, baseado em critérios de responsabilização, avaliação independente e estabilidade. A avaliação das unidades é feita por painéis constituídos essencialmente por cientistas estrangeiros, sendo que o resultado final desta se traduz, para cada unidade, num relatório do painel contendo recomendações sucintas para comunicação à unidade, uma recomendação quanto à atribuição de financiamento programático e uma classificação de qualidade geral da unidade de investigação. Para preparação da decisão final, é pedido ao painel de avaliação 65 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA que, sem prejuízo doutros factores que entenda relevantes, inclua na sua análise os seguintes parâmetros: (i) resultados, em termos de qualidade e quantidade, relativos ao número de doutorados (publicações nas revistas científicas mais importantes, protótipos tecnológicos inovadores e patentes, supervisão de alunos de pós-graduação e treino de jovens investigadores, envolvimento de jovens investigadores e/ou investigadores pós-doutorados nas actividades de investigação, e organização de encontros científicos e seminários regulares de investigação avançada); (ii) relevância da actividade de investigação (abrangência e profundidade das actividades de investigação em curso e planeadas, importância actual dos grupos de investigação, multidisciplinaridade e relevância para outras áreas de investigação científicas e/ou tecnológicas, e interacção com as actividades de investigação noutras instituições); (iii) internacionalização, em termos qualitativos e quantitativos (publicações conjuntas com investigadores estrangeiros, participação em projectos científico-tecnológicos em parceria com instituições estrangeiras, e interacção com investigadores e/ou unidades de investigação no estrangeiro); (iv) mérito intrínseco das actividades de investigação (objectivos, plano de acção e desenvolvimento estratégico no futuro, resultados obtidos, intervenção interdisciplinar, e know-how acumulado e capacidade para efectuar a sua transferência na forma de Extensão); (v) atitudes e ambiente de trabalho (adequabilidade da organização da unidade e liderança, bem como cultura de criatividade e oportunidade, e encorajamento da iniciativa de jovens investigadores); e (vi) recursos disponíveis para a actividade de investigação (facilidades, biblioteca, equipamento, suporte técnico, apoio de secretariado e financiamento). Para efeitos de organização do trabalho de avaliação, é seguida uma escala de classificação para cada conjunto de parâmetros, a saber: (i) 5 – níveis atingidos de excelência internacional (referida a um padrão absoluto na área de avaliação do painel, independente das condições disponibilizadas para a investigação por cada unidade) na maioria das subáreas de actividade (aplicadas ao trabalho de investigadores individuais ou de pequenos grupos), e níveis atingidos de excelência nacional em praticamente todas as restantes; 4 – níveis atingidos de excelência internacional nalgumas (mas não na maioria) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 66 das subáreas de actividade, e níveis atingidos de excelência nacional em praticamente todas as restantes; 3 – níveis atingidos de excelência nacional em praticamente todas as subáreas de actividade, ou de excelência internacional nalgumas subáreas e de excelência nacional na maioria das restantes; 2 – níveis atingidos de excelência nacional na maioria das subáreas de actividade e níveis atingidos de excelência internacional em praticamente nenhuma das restantes; e 1 – níveis atingidos de excelência nacional numa minoria de subáreas de actividade. Note-se que as classificações anteriores destinam-se a preparar a avaliação e as recomendações finais, não sendo automaticamente traduzíveis na classificação final da unidade (a qual traduz o julgamento global do painel, obtido por consideração das opiniões pessoais dos avaliadores, na sequência da ponderação de todas as componentes de avaliação). Um dos exemplos mais interessantes, relacionado de forma directa e nuclear com a intervenção em Engenharia Alimentar, respeita ao Centro de Biotecnologia e Química Fina (unidade acreditada junto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia com a ref. 108), instituto de I&D de Biotecnologia com intervenção estruturada no campo alimentar, e que integra uma forte ligação à realidade empresarial. Este Centro desenvolve actividades de investigação de suporte à Licenciatura em Engenharia Alimentar leccionada na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, as quais podem ser conceptualizadas segundo a estrutura matricial patente na Fig. 6.3.1. Existe, assim, uma dualidade na concepção e desenvolvimento das actividades de I&D segundo uma lógica de disciplina (horizontal) e segundo uma lógica de produto (vertical); tais actividades estão claramente enquadradas em áreas afins à Licenciatura em Engenharia Alimentar, constituindo um forte contributo para a sua qualidade, designadamente através dos seguintes aspectos: (i) formação contínua e avançada dos professores, trabalhando na fronteira do conhecimento; (ii) possibilidade dos alunos se envolverem precocemente em actividades de investigação, quer em trabalhos curriculares quer como forma voluntária de ocupação extracurricular; e (iii) vivência dos alunos num meio onde decorrem actividades de investigação de UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA vinhos e derivados pescado e produtos marinhos hortofrutícolas e cereais leite e lacticínios carne e derivados 67 biomateriais catálise enzimática engenharia de bio-reactores métodos automáticos de análise e monitorização taxonomia, fisiologia e ecologia microbianas modelização e optimização processual Figura 6.3.1: Estrutura matricial das actividades de I&D em curso no Centro de Biotecnologia e Química Fina. Fonte: Gabinete de Estudos Graduados. Dados: 1997. qualidade, reconhecida nacional e internacionalmente. Como exemplos de Relatórios de Avaliação Externa, apresentam-se na Tab. 6.3.1 os respeitantes ao Centro de Biotecnologia e Química Fina da Escola Superior de Biotecnologia, em dois períodos consecutivos ANO COMENTÁRIOS 1993 “This is a very well managed Research Center, clearly focused on a few areas of Food Technology. The organization and operation concepts are quite impressive, and they show a strong drive and leadership. The facilities are very good and there is a good adequacy of other resources to the research activities. […] Overall Research Unit quality: VERY GOOD.“ 1996 “This unit is clearly focused on Science and Technology for Agroindustry with topics on food science and technology and non▲ ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ CONCEPTUALIZAÇÃO 68 food valorisation of agroproductions. The natural link of these two fields is bioenvironmental sciences for Agroindustry and Agriculture. The strategy ‘Sciences of food and agroproducts’ is in priority oriented towards the ‘Engineering sciences’. This is connected in part to the demands of Portuguese industry, but is also a world trend. In consequence, the strategy of the unit is, in priority, oriented to product/consumer’s needs with research for improving product quality and safety, ‘pre-normative’ research and help to the political management and trade. It is a very original and useful research which needs highly skilled people working within GLP (good laboratory practice) framework. The connection with industry is excellent [...]. The capital in know-how is very good and inestimable for the future. [...] The panel appreciated: the quality of the management, the impressive organisation, the quality of the facilities and the efficiency of the scientific work [...]; the high level of skills in the following areas - wine, fruits and vegetables, dairy, and fish and sea products; the strategy of technology transfer by diffusion of information, seminar lectures, books and courses at the adequate levels - this has led to an extremely high degree of co-operation with industry; the integration of knowledge acquisition, the creation of new technological concepts and their diffusion within the agroindustry; and the level of professionalism. [...] Resources are used efficiently. [...] Overall Research Unit quality: VERY GOOD.” Tabela 6.2.1: Excertos do Relatório de Avaliação Internacional do Centro de Biotecnologia e Química Fina. Fonte: Painel de Avaliação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia - Engenharia Química e Biotecnologia. Dados: 2000. de avaliação trienal. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 3. Âmbito “Como é fecunda a pequena propriedade quando se sabe cultivá-la bem.” Joseph von Goethe, escritor alemão (1794-1832) 71 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Perfil O avanço inexorável da ciência e da tecnologia alimentar, e as pressões da concorrência no sector à escala mundial, fazem com que o vector formação assuma, cada vez mais, um relevo especial, e se posicione entre as preocupações dos responsáveis pela governação. Ao Ensino Superior compete a formação do capital intelectual, considerado a força motriz de todo o processo de desenvolvimento. Porém, a oferta do Ensino Superior deve privilegiar áreas onde existam carências de qualificações, tendo em conta as alterações estruturais do emprego – urge, pois, criar situações de tendência para um equilíbrio entre as qualificações dos licenciados e as exigências da procura por parte das entidades empregadoras. Por outro lado, a contribuição crescente da ciência e da tecnologia para o progresso económico, e a rápida degradação do capital intelectual face à acelerada evolução científica e tecnológica, exigem que as instituições de Ensino Superior se dediquem sistematicamente à actualização dos seus curricula, de molde a manter o elevado nível de qualificação dos recursos humanos que formam para o mercado de trabalho – caso contrário, surge um desfasamento conducente a quebras de produtividade, com reflexos negativos na competitividade das empresas. Pelas razões expostas, é importante reflectir sobre o posicionamento dos curricula a nível nacional e supranacional, e efectuar uma análise frequente aos seus conteúdos porquanto suportes de futuro sucesso profissional. É nesse contexto que se procedeu ao levantamento exaustivo, a nível europeu, da formação superior na área alimentar, pela rede temática FOODNET, no âmbito do programa SOCRATES. A conclusão unânime foi que o plano de estudos da licenciatura em Engenharia Alimentar oferecida pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa é o mais abrangente; por esse facto, lista-se na Tab. 1.1 tal plano para o caso da formação básica. Recordando os padrões indicativos discutidos na secção 5.2 do Cap. 2, conclui-se que as competências básicas em química, biologia, nutrição, física, matemática, estatística e complemento/interface estão Química Biologia Nutrição Física Matemática Estatística Interface ÂMBITO Número de créditos DISCIPLINA (ordem alfabética) 72 Obrigatória ou Opcional Área disciplinar ■ Ano / Semestre ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL Bioquímica geral I 2º/ 1º Obr. 7 Química analítica 2º/ 1º Obr. 7 Química física e cinética 1º/ 2º Obr. 7 Química geral 1º/ 1º Obr. 7 Química orgânica 2º/ 1º Obr. 7 Biologia geral 1º/ 1º Obr. 5 Microbiologia geral I 2º/ 1º Obr. 7 Análise sensorial 4º/ 2º Obr. 5 Controlo de qualidade alimentar 4º/ 2º Opc. 5 Física I 1º/ 1º Obr. 7 Análise matemática I 1º/ 1º Obr. 7 Análise matemática II 1º/ 2º Obr. 7 Álgebra 1º/ 1º Obr. 5 Métodos estatíticos 3º/ 2º Obr. 5 Estudos avançados 5º/ 1º Obr. 8 Seminários 4º/ 1º Obr. 6 Tabela 1.1: Lista de disciplinas básicas componentes do curriculum de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. asseguradas, sendo mesmo superiores aos mínimos recomendados para cada uma daquelas áreas. A Tab 1.1 refere-se às ciências de base, as quais correspondem às disciplinas que ministram formação estruturante; aquelas deverão ser complementadas com as ciências de engenharia, que correspondem às disciplinas que tratam das aplicações das ciências de base a modelos gerais; com as ciências da especialidade, que correspondem às disciplinas que respeitam à aplicação directa das matérias na resolução de problemas reais de engenharia, constituindo o último elo da cadeia; e, finalmente, com as ciências complementares, que correspondem às disciplinas cujo conteúdo não se insere na linha científica principal da especialidade, não obstante serem essenciais. Como exemplo ilustrativo, e pelas razões já antes explicitadas, inclui-se na UCE 73 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Química e análise de alimentos Segurança e microbiologia de alimentos Engenharia e processamento de alimentos Ciência alimentar aplicada Número de créditos DISCIPLINA (ordem alfabética) Obrigatória ou Opcional Área disciplinar Ano / Semestre Tab. 1.2 o plano de estudos da licenciatura em Engenharia Alimentar oferecida pela Escola Superior de Biotecnologia, em termos de disciplinas nucleares nas diversas vertentes de ciências de engenharia, de ciências da especialidade e de ciências complementares. Bioquímica aplicada 3º/ 2º Obr. 7 Bioquímica geral II 3º/ 1º Obr. 5 Química alimentar 4º/ 1º Obr. 5 Métodos instrumentais de análise I 2º/ 2º Obr. 7 Métodos instrumentais de análise II 3º/ 1º Obr. 7 Biologia celular 1º / 2º Obr. 5 Microbiologia alimentar 3º/ 1º Obr. 7 Microbiologia do ambiente 3º/ 2º Opc. 7 Microbiologia geral II 2º/ 2º Obr. 7 Dinâmica e controle de processos 4º / 2º Obr. 7 Engenharia bioprocessual 4º/ 1º Obr. 7 Introdução à engenharia processual 2º/ 2º Obr. 7 Mecânica de fluidos 3º/ 1º Obr. 7 Mecânica de partículas aplicada 3º/ 2º Opc. 7 Tecnologia de processos alimentares I 4º/ 1º Obr. 7 Tecnologia de processos alimentares II 4º/ 2º Obr. 7 Fenómenos de transferência I 3º/ 1º Obr. 7 Fenómenos de transferência II 3º/ 2º Obr. 7 Física II 1º/ 2º Obr. 7 Termodinâmica 1º/ 2º Obr. 7 Elementos de análise numérica 2º/ 2º Obr. 5 Electrónica e instrumentação 4º/ 2º Opc. 5 Embalagem 5º/ 2º Obr. 5 Introdução à programação 2º/ 1º Obr. 5 Investigação operacional e inovação 4º/ 1º Opc. 5 Opção de sector 5º/ 1º Obr. 5 Produção agrícola 4º/ 2º Opc. 5 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO Bioética Sucesso pessoal e capacidade de interface 74 4º/ 2º Opc. 3.5 Economia e finanças da empresa 5º/ 2º Obr. 5 Gestão industrial 5º/ 2º Obr. 5 Introdução à economia 2º/ 2º Obr. 5 Marketing 5º/ 2º Obr. 5 Projecto industrial I 5º/ 1º Obr. 7 Projecto industrial II 5º/ 2º Obr. 7 Projecto laboratorial 5º/ 1º Obr. 7 Qualidade e protecção do ambiente 3º/ 2º Obr. 5 Sistemas informáticos 4º/ 1º Opc. 5 Tópico especial 5º/ 1º Obr. 5 Tabela 1.2: Lista de disciplinas nucleares componentes do curriculum de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Comparando a tabela supra com as Tabs. 5.2.1-5 do Cap. 2, verifica-se que as competências nucleares em química e análise de alimentos, segurança e microbiologia de alimentos, engenharia e processamento de alimentos, ciência alimentar aplicada, e sucesso pessoal e capacidade de interface estão garantidas, sendo mesmo superiores aos mínimos recomendados para cada uma daquelas áreas. Conforme se deduz por análise da tabela supra combinada com a Tab. 1.1, o plano de estudos foi elaborado de modo a promover uma integração sequencial das disciplinas ao longo do curso. O 1º ano é constituído por disciplinas base típicas de um curso de Engenharia, concentrando-se nas ciências da matemática, física e química, e existindo suplementarmente uma componente de índole biológica. No 2º ano do curso, os alunos são expostos a uma forte componente de química. Durante o 3º ano, os alunos têm uma componente mais intensa nas ciências de engenharia, que serve de preparação para o estudo da engenharia e dos processos industriais. A área das ciências e tecnologias alimentares representa a componente dominante nos 4º e 5º anos; as disciplinas incluídas nesta área visam a consolidação e integração de conhecimentos, a sensibilização e preparação para o processamento alimentar, assim como para a gestão e o controle da qualidade alimentar, não sendo dispiciendo o peso de formação humanística e de gestão. 75 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Na Fig. 1.1 encontra-se representada a distribuição de créditos da referida licenciatura em Engenharia Alimentar pelas diversas diversas competências básicas e nucleares. Q B N F M E I QAA SMA EPA CAA SPCI Figura 1.1: Distribuição fraccional de créditos de uma licenciatura em Engenharia Alimentar pelas cinco competências básicas (Q: Química; B: Biologia; N: Nutrição; F: Física; M: Matemática; E: Estatística; e I: Interface) e pelas cinco competências nucleares (QAA: Química e Análise de Alimentos; SMA: Segurança e Microbiologia de Alimentos; EPA: Engenharia e Processamento de Alimentos; CAA: Ciência Alimentar Aplicada; e SPCI: Sucesso Pessoal e Capacidade de Interface). Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. A distribuição de créditos correspondente às sete competências básicas – química, biologia, nutrição, física, matemática, estatística e interface – é de 10.6, 3.6, 3.0, 2.1, 5.7, 1.5 e 4.2%, respectivamente, o que perfaz um total de 30.7%. No que concerne às cinco competências nucleares – química e análise de alimentos, segurança e microbiologia de alimentos, engenharia e processamento de alimentos, ciência alimentar aplicada, e sucesso pessoal e capacidade de interface – a distribuição de créditos é de 9.4, 7.9, 14.8, 19.1 e 18.0%, respectivamente, conduzindo a um total de 69.3%. Num mundo em que a formação permanente ocupará cada vez mais os futuros diplomados nas suas carreiras, é importante garantir na licenciatura uma sólida formação de banda larga, ao nível de disciplinas básicas e nucleares. Assim, a Ordem dos Engenheiros recomenda, com carácter indicativo médio e para o conjunto de todas as Engenharias, a seguinte repartição-tipo do peso das diferentes disciplinas na licenciatura: (i) Ciências de base - peso mínimo de 20% e peso recomenda- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 76 do de 25%: no caso da licenciatura em Engenharia Alimentar ministrada na Escola Superior de Biotecnologia, tal valor cifra-se em c. 31 %; (ii) Ciências de engenharia - peso recomendado de 20%: no caso da referida licenciatura, tal peso situa-se em c. 15%; (iii) Ciências da especialidade - peso recomendado de 45%: no caso da referida licenciatura, tal valor cifra-se em c. 36%, sendo aqui contabilizadas conjuntamente a química e análise de alimentos, a segurança e microbiologia de alimentos, e a ciência alimentar aplicada (com um peso mínimo de 55% no conjunto das disciplinas de Engenharia e das Ciências da especialidade: no caso vertente, tal peso ascende a c. 51%); e (iv) Ciências complementares - peso recomendado de 10% e peso mínimo de 5%: no caso da referida licenciatura, tal valor cifra-se em 18.0%. A tendência actual vai no sentido de programas curriculares menos extensos e mais integrados, designadamente ao nível da articulação entre as várias disciplinas e componentes práticas, tecnológicas e expressivas. Igualmente os modos de aprender os conteúdos específicos das várias disciplinas devem ser diferenciados, e tem de existir intercâmbio com as instâncias culturais, científicas e artísticas da sociedade. 2. Avaliação pelos discentes Se o perfil da licenciatura em Engenharia Alimentar é importante em termos absolutos, na óptica da avaliação da formação académica, a opinião dos alunos, enquanto destinatários finais das acções formativas, é igualmente importante em termos de validação da referida formação. Um dos exemplos mais interessantes e sistemáticos de avaliação de curriculum e de docência em Engenharia Alimentar, e também o sistema formal de avaliação em funcionamento ininterrupto há mais tempo (desde 1994), é o activo na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. O sistema baseia-se num inquérito que inclui cinco questionários, cada um deles integrando uma série de perguntas que abordam separadamente os seguintes pontos: (i) aspectos gerais da disciplina; (ii) aulas laboratoriais; (iii) aulas teórico-práticas; (iv) docência das aulas teóricas; e (v) docência das 77 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA aulas laboratoriais e teórico-práticas. Tais inquéritos foram criteriosamente desenvolvidos com base em inquéritos similares utilizados em diversas instituições estrangeiras (nomeadamente dos EUA), tendo sido feita uma adaptação cuidada e pragmática às especificidades institucionais e culturais. Os inquéritos, preenchidos sob anonimato, são distribuídos pelo docente na penúltima aula do semestre lectivo; entretanto, o docente retira-se da sala, sendo os inquéritos recolhidos por um aluno após alguns minutos, e entregues nos Serviços Académicos, que procedem então a uma análise estatística das respostas. Cada docente recebe a informação sobre a(s) disciplina(s) que leccionou, após as notas finais da mesma terem sido publicamente divulgadas. Institucionalmente, pretende-se valorizar a componente pedagógica construtiva deste processo, no sentido de detectar pontos fracos que deverão merecer atenção redobrada por parte do docente e da instituição em anos lectivos seguintes. Note-se que a validade dos resultados depende largamente da representatividade da amostragem e da postura no momento do preenchimento dos questionários, pelo que os alunos são previamente elucidados sobre a importância de tais inquéritos para a melhoria da qualidade do ensino, e motivados a estarem presentes na aula em que os inquéritos são distribuídos, bem como a efectuarem um preenchimento responsável, honesto e criterioso. 2.1. Curriculum Os assuntos mais relevantes relativos aos aspectos gerais das disciplinas ministradas na licenciatura em Engenharia Alimentar podem consubstanciar-se em dez afirmações, a saber: 1 - a disciplina está bem organizada; 2 - a disciplina correspondeu às minhas expectativas; 3 - o programa da disciplina cobre um número razoável de assuntos; 4 - os assuntos são cobertos nesta disciplina com a profundidade adequada; 5 - as relações entre os diversos assuntos cobertos por esta disciplina são claras; 6 - os textos e materiais didáticos de apoio a esta disciplina são adequados; 7 - a quantidade de trabalho solicitado nesta disciplina é aceitável; 8 - os meios disponibilizados para a realização dos trabalhos solicitados nesta disciplina são suficientes; 9 o sistema de avaliação em vigor nesta disciplina é justo; e 10 - em geral, esta é uma boa disciplina. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 78 A título de exemplo, listam-se na Fig. 2.1.1 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à licenciatura em Engenharia Alimentar oferecida pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Matemática Química Biologia Engenharia Tecnologia Humanísticas grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 afirmação Figura 2.1.1: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre avaliação de aspectos gerais das disciplinas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. As disciplinas foram divididas em seis áreas temáticas: Matemática, Química, Biologia, Engenharia, Tecnologia e Humanísticas. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Verifica-se que as médias de todos os resultados relativos a cada afirmação correspondem a pareceres positivos, sendo que os scores mais baixos são sistematicamente obtidos pelas disciplinas na área da Matemática, enquanto os scores mais elevados são obtidos pelas disciplinas na área da Química para as afirmações 1-8, pelas disciplinas na área das Tecnologias para a afirmação 9, e pelas disciplinas na área da Biologia para a afirmação 10; a deficiente preparação em Matemática trazida pelos alunos contribui sobremaneira para este padrão de resultados. Os assuntos mais relevantes relativos à componente laboratorial das disciplinas ministradas na licenciatura em Engenharia Alimentar podem consubstanciar-se em nove afirmações, a saber: 1 - os trabalhos laboratoriais propostos são consentâneos com a matéria e com UCE 79 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA a preparação dos alunos; 2 - os trabalhos laboratoriais propostos consolidam e complementam a matéria leccionada; 3 - o apoio do docente das aulas laboratoriais é suficiente; 4 - existem equipamentos e materiais suficientes para a cabal realização dos trabalhos propostos; 5 - a descrição protocolar dos trabalhos propostos é clara; 6 - os alunos contam com apoio adequado para a elaboração dos relatórios descritivos dos trabalhos laboratoriais propostos; 7 - a realização, descrição e interpretação dos trabalhos propostos são conduzidas pelo docente das aulas laboratoriais de modo a incentivar o espírito crítico e científico; 8 - a quantidade de trabalhos laboratoriais propostos é adequada; e 9 - o material didático de apoio às aulas laboratoriais é suficiente. No que concerne à referida componente para a licenciatura ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia, representam-se na Fig. 2.1.2 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01. Química Biologia Engenharia Tecnologia grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 afirmação Figura 2.1.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre avaliação da componente laboratorial das disciplinas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. As disciplinas foram divididas em quatro áreas temáticas: Química, Biologia, Engenharia e Tecnologia. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Constata-se que as médias de todos os resultados relativos a cada afirmação correspondem a pareceres positivos, sendo que os scores mais baixos são obtidos pelas disciplinas na área da Engenharia para ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 80 as afirmações 1-6 e 8-9, e pelas disciplinas na área de Tecnologia para a afirmação 7, enquanto os scores mais elevados são sistematicamente obtidos pelas disciplinas na área da Química; devido à utilização intensiva de ferramentas matemáticas nas disciplinas da área de Engenharia, a falta de proficiência naquelas ferramentas conduz aos fracos resultados exibidos nestas disciplinas. Finalmente, sublinhe-que que os assuntos mais relevantes relativos à componente teórico-prática das disciplinas ministradas na licenciatura em Engenharia Alimentar podem consubstanciar-se em quatro afirmações, a saber: 1 - as aulas teórico-práticas consolidam e complementam a matéria leccionada; 2 - as aulas teórico-práticas ajudam a desenvolver uma abordagem correcta da matéria leccionada; 3 - o apoio do docente das aulas teórico-práticas é suficiente; e 4 - o material didático de apoio às aulas teórico-práticas é suficiente. Na figura seguinte ilustram-se os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, no caso da licenciatura oferecida pela Escola Superior de Biotecnologia. Matemática Química Biologia Engenharia Tecnologia Humanísticas grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 afirmação Figura 2.1.3: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre avaliação da componente teórico-prática das disciplinas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. As disciplinas foram divididas em seis áreas temáticas: Matemática, Química, Biologia, Engenharia, Tecnologia e Humanísticas. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. 81 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Observa-se que as médias de todos os resultados relativos a cada afirmação correspondem a pareceres favoráveis, sendo que os scores mais baixos são obtidos pelas disciplinas na área de Humanísticas para as afirmações 1-2, e pelas disciplinas na área de Matemática para as afirmações 3-4, enquanto os scores mais elevados são obtidos pelas disciplinas na área da Química para as afirmações 1 e 3-4, e pelas disciplinas na área de Biologia para a afirmação 2; novamente se constata o efeito negativo que a deficiente preparação de base em Matemática e em Humanísticas exerce sobre as cotações dadas pelos alunos. 2.2. Docência O conceito de educação é global para a inter-culturalidade e a cidadania democráticas – por isso o ensino deverá ser cada vez mais centrado nos alunos e nas aprendizagens, havendo equiparação e complementaridade do cognitivo, do operativo, do expressivo e do valorativo. Os objectivos são a motivação e o desenvolvimento global dos alunos, e o sucesso nas avaliações, na sequência de estudos e da aquisição de saberes estruturantes. Porém, uma aprendizagem de elevada qualidade exige formadores de não menor qualidade. Acresce que os professores devem ser alvo de reciclagem activa e sistemática para novos modelos, recebendo formação inicial e contínua para metodologias de coordenação, e de intere trans-disciplinaridade. Obviamente que tudo isto deverá ser alicerçado em sólida competência científica e em forte experiência pedagógica, as quais podem ser aferidas pela respectiva formação académica ao nível do grau mais elevado detido. A título de exemplo, representase na Fig. 2.2.1 a distribuição, pelo seu grau académico mais elevado, de docentes da licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. É notável que c. 3/4 das regências (incluindo especificamente a leccionação das aulas teóricas) estejam a cargo de professores doutorados, num total de 24 profissionais responsáveis por cinco anos de licenciatura. Recorde-se, a este propósito, a regra prevalecente na análise governamental dos dossiers pedagógicos do Ensino Superior particular e cooperativo de, no mínimo, um doutorado por cada ano curricular e por cada licenciatura; no caso da instituição em causa, tal ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 82 Doutoramento Mestrado Licenciatura (a) (b) Figura 2.2.1: Distribuição de docentes (a) das aulas teóricas e (b) das aulas teórico-práticas e laboratoriais de uma licenciatura em Engenharia Alimentar, por grau académico mais elevado. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2002. mínimo é de longe ultrapassado, e traduz uma aposta clara na qualificação dos docentes escolhidos. Como é usual no Ensino Superior, as aulas de índole laboratorial ou teórico-prática, que se destinam a complementar a matéria leccionada nas aulas teóricas, são ministradas por docentes com menor senioridade mas já detentores de curriculum relevante do ponto de vista escolástico, sendo na sua grande maioria assistentes e investigadores em fase de realização de Doutoramento sob a supervisão dos docentes doutorados da instituição. Os professores enfrentam neste momento um desafio, que é similar ao que se coloca aos gestores no sector empresarial: trata-se do desafio de uma autoridade ganha através da sua capacidade para criar ambientes que maximizem as oportunidades dos estudantes aprenderem e se tornarem produtivos. A este respeito, espera-se do professor: (i) flexibilidade; (ii) compreensão de necessidades; (iii) habilidade de comunicação; (iv) capacidade para desenvolver novas iniciativas; (v) inovação; (vi) capacidade de resolução de conflitos; (vii) cooperatividade; (viii) auto-crítica e profissionalismo; (ix) tomada de uma multiplicidade de vertentes em linha de conta; (x) transformação das restrições em recursos; (xi) gestão eficaz da incerteza; (xii) admissão de limitações próprias e erros, e correcção atempada dos mesmos; (xiii) revisão do seu próprio papel; (xiv) avaliação de situações educacionais; e (xv) conhecimento de como se deve processar a aprendizagem. Os assuntos mais relevantes relativos à prestação dos docentes das UCE 83 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA aulas teóricas das disciplinas da licenciatura em Engenharia Alimentar podem consubstanciar-se em dez afirmações, a saber: 1 - o docente está bem preparado para as aulas; 2 - o docente demonstra ter bons conhecimentos da matéria leccionada; 3 - o docente exibe entusiasmo pela matéria leccionada; 4 - o docente fala alto e claramente; 5 - o docente escreve legivelmente; 6 - o docente explica bem a matéria leccionada; 7 - o docente dá boas respostas às questões colocadas pelos alunos; 8 - o docente está disponível para atendimento fora dos tempos lectivos; 9 - em geral, as aulas são interessantes e sinto-me motivado a assistir às mesmas; e 10 - nas aulas fui tratado com atenção e respeito. A título de exemplo, listam-se na Fig. 2.2.2 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/ 01, relativo à docência teórica das disciplinas ministradas na licenciatura em Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia. Matemática Química Biologia Engenharia Tecnologia Humanísticas grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 afirmação Figura 2.2.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a prestação dos docentes das aulas teóricas das disciplinas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. As disciplinas foram divididas em seis áreas temáticas: Matemática, Química, Biologia, Engenharia, Tecnologia e Humanísticas. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Verifica-se que as médias da quase totalidade dos resultados relativos a cada afirmação correspondem a concordância, sendo que os scores mais baixos são sistematicamente obtidos pelos docentes das disciplinas na área da Matemática, enquanto os scores mais elevados ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 84 são obtidos pelos docentes das disciplinas na área da Química para as afirmações 1-3 e 5-10, e pelos docentes das disciplinas na área das Humanísticas para a afirmação 4; a deficiente preparação de base dos alunos na área de Matemática afigura-se novamente como uma das razões estruturais para tal tipo de resultados. Os assuntos mais relevantes relativos à prestação dos docentes das aulas teórico-práticas e laboratoriais das disciplinas da licenciatura em Engenharia Alimentar podem consubstanciar-se em sete afirmações, a saber: 1 - o docente está bem preparado para as aulas; 2 - o docente demonstra ter bons conhecimentos da matéria leccionada; 3 - o docente exibe entusiasmo pela matéria leccionada; 4 - o docente dá boas respostas às questões colocadas pelos alunos; 5 - o docente está disponível para atendimento fora dos tempos lectivos; 6 - em geral, as aulas são interessantes e sinto-me motivado a assistir à mesmas; e 7 - nas aulas fui tratado com atenção e respeito. A título de exemplo, incluem-se na Fig. 2.2.3 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à docência das componentes teórico-prática e laboratorial das disciplinas ministradas na licenciatura em Engenharia Alimentar ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia. Química Biologia Engenharia Tecnologia grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 afirmação Figura 2.2.3: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a prestação dos docentes das aulas laboratoriais e teórico-práticas das disciplinas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. As disciplinas foram divididas em quatro áreas temáticas: Química, Biologia, Engenharia e Tecnologia. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. 85 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Constata-se que as médias de todos os resultados relativos a cada afirmação correspondem a pareceres positivos, sendo que os scores mais baixos são sistematicamente obtidos pelos docentes das disciplinas na área de Engenharia e de Tecnologia, enquanto os scores mais elevados são obtidos pelos docentes das disciplinas na área de Química para todas as afirmações; novamente se regista que a deficiente preparação dos alunos na área de Matemática se traduz numa fraca valorização da docência das disciplinas que se baseiam naquela área enquanto ferramenta. Comparando os resultados representados nas Figs. 2.1.1-3 e 2.2.2-3, conclui-se que existe uma forte correlação entre os resultados da avaliação da prestação dos docentes e os resultados da avaliação das próprias disciplinas, o que é natural pois a intervenção humana na leccionação predispõe à avaliação da percepção curricular num determinado sentido. 3. Avaliação pelos docentes Se a opinião dos alunos, enquanto destinatários finais das acções formativas, é importante em termos de validação da licenciatura, uma visão global e equilibrada só é possível se se der igualmente oportunidade ao corpo docente de manifestar a sua opinião, de forma regular e segundo critérios estruturados. É novamente digno de nota o sistema, especificamente desenvolvido a este propósito pela (e em vigor na) Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa para avaliação da licenciatura em Engenharia Alimentar que ministra. O sistema baseia-se num inquérito que inclui nove questionários, cada um deles integrando uma série de perguntas que abordam separadamente os seguintes pontos: (i) organização científica e pedagógica da licenciatura; (ii) avaliação de conhecimentos; (iii) preparação e atitude dos alunos; (iv) condições gerais das instalações; (v) salas de aulas, laboratórios e biblioteca; (vi) apoio técnico e administrativo; (vii) cultura institucional; (viii) pessoal docente; e (ix) internacionalização. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 86 3.1. Organização Sob a égide da organização, encontram-se duas grandes temáticas: a organização científica e pedagógica da licenciatura; e a avaliação de conhecimentos. Os assuntos mais relevantes relativos à organização científica e pedagógica da licenciatura podem consubstanciar-se em treze afirmações, a saber: 1 - o programa da licenciatura oferecida permite desenvolver a capacidade de resolução de problemas, e incentivar a procura de novos conhecimentos relacionando-os com as necessidades profissionais de empregos futuros; 2 - o desenvolvimento das matérias científicas de base é compatível com o objectivo da licenciatura; 3 - o âmbito das matérias científicas especializadas leccionadas é compatível com as exigências de formação inerentes à licenciatura; 4 - existe uma adequada relação entre as disciplinas da especialidade e as disciplinas de base; 5 - os alunos têm a possibilidade de realizar tarefas específicas directamente relacionadas com as futuras actividades profissionais; 6 - a proporção entre os conteúdos teórico, teórico-prático e laboratorial das matérias leccionadas é adequado; 7 - a profundidade atingida em disciplinas da especialidade é compatível com os conhecimentos básicos ministrados; 8 - o equilíbrio entre ensino e investigação é satisfatório; 9 - a carga horária semanal é adequada; 10 - existe um carácter interdisciplinar na abordagem das matérias nas disciplinas da especialidade; 11 - as matérias ministradas estão actualizadas e recorrem a metodologias modernas; 12 - os trabalhos laboratoriais são periodicamente reformulados; e 13 - a comunicação entre os docentes das diversas disciplinas é adequada. A título de exemplo, listam-se na Fig. 3.1.1 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à organização científica e pedagógica da licenciatura em Engenharia Alimentar ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Em termos gerais, a opinião manifestada pelos docentes é assaz positiva, sendo os scores mais elevados atingidos pelas afirmações 2 e 6, e os mais baixos atingidos pelas afirmações 12 e 13, resultado de algumas restrições na logística laboratorial não permitirem mudanças excessivamente frequentes em trabalhos práticos; por forma a aumen- UCE 87 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA tar a interacção entre docentes, foi entretanto criada a figura de coordenador de licenciatura. grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 afirmação Figura 3.1.1: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a organização científica e pedagógica de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 afirmação Figura 3.1.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre avaliação de conhecimentos numa licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 88 Os assuntos mais relevantes relativos à avaliação de conhecimentos podem consubstanciar-se em quatro afirmações, a saber: 1 - o sistema de avaliação em vigor é adequado; 2 - a natureza e o grau de exigência dos exames são adequados às matérias em avaliação; 3 - os meios disponíveis para a realização dos exames são adequados; e 4 - o período disponibilizado para a realização dos exames é adequado. Ilustram-se na Fig. 3.1.2 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à organização científica e pedagógica da licenciatura em Engenharia Alimentar leccionada na Escola Superior de Biotecnologia. Em termos gerais, a opinião manifestada pelos docentes é bastante positiva, sendo o score mais elevado atingido pela afirmação 2, e o mais baixo atingido pela afirmação 3 (embora a amplitude de variação seja marginal). 3.2. Logística Sob a égide da logística, encontram-se duas grandes temáticas: as condições gerais das instalações; e as salas de aula, laboratórios e biblioteca. grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 afirmação Figura 3.2.1: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre condições gerais das instalações de suporte a uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. 89 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Os assuntos mais relevantes relativos às condições gerais das instalações podem consubstanciar-se em cinco afirmações, a saber: 1 as instalações são em número e dimensão suficiente para a sua população; 2 - o arranjo e conforto das instalações é adequado; 3 existe civismo na utilização das instalações; 4 - a localização das instalações é funcional; e 5 - os gabinetes dos docentes dispõem das condições de conforto e funcionalidade necessárias. No caso da licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo às condições gerais das instalações, estão patentes na Fig. 3.2.1. As opiniões manifestadas apresentam médias praticamente invariantes, e consideravelmente positivas. Os assuntos mais relevantes relativos às salas de aula, laboratórios e biblioteca podem consubstanciar-se em oito afirmações, a saber: 1 – as salas de aula são em número suficiente e têm a dimensão adequada; 2 – as salas de aula dispõem de arejamento e luz suficiente; 3 – o equipamento dos laboratórios é actualizado e está em condições de funcionamento; 4 – a biblioteca dispõe de meios de pesquisa eficazes e suficientes; 5 – o acervo documental da biblioteca é actualizado periodicamente, e está acessível a docentes e a discentes; 6 – o acesso a meios informáticos é bom; 7 – existem equipamentos informáticos disponíveis em simultâneo e em número suficiente; e 8 – há possibilidade de utilização dos laboratórios e biblioteca fora dos horários normais de funcionamento. Os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo às salas de aula, laboratórios e biblioteca de apoio à licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia, estão representados na Fig. 3.2.2. Sendo a opinião geral positiva, regista-se uma valorização particular da biblioteca (afirmação 5), a que não será estranha a sua acreditação oficial como Centro de Recursos do Conhecimento no Sector Agroalimentar; por outro lado, exigências estritas de segurança de pessoas e bens penalizam as opiniões sobre a afirmação 8, a pior cotada. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 90 grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 afirmação Figura 3.2.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre as salas de aula, laboratórios e biblioteca, relativos a uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. 3.3. Apoio Sob a égide da logística, encontram-se duas grandes temáticas: o apoio técnico e administrativo; e o pessoal docente. Os assuntos mais relevantes relativos ao apoio técnico e administrativo podem consubstanciar-se em duas afirmações, a saber: 1 – existem apoios administrativos que asseguram um correcto processamento de dados académicos, científicos, financeiros e administrativos; e 2 – existem apoios de secretariado que contribuem para uma melhor execução das tarefas a desenvolver pelos docentes. A título de exemplo, listam-se na Fig. 3.3.1 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, sobre o apoio técnico e administrativo à licenciatura em Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Os referidos resultados, sendo positivos, reflectem a profissionalização no apoio administrativo corrente (afirmação 1), a par da opção por um sistema de self-service em relação a funções de secretariado formal, com provisão de meios informáticos compatíveis (que, não obstante, conduzem ao score mais baixo para a afirmação 2). UCE 91 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 afirmação Figura 3.3.1: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre apoio técnico e administrativo a uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 afirmação Figura 3.3.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre o pessoal docente de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 92 Os assuntos mais relevantes relativos ao pessoal docente podem consubstanciar-se em cinco afirmações, a saber: 1 – o pessoal docente é, em geral, competente, e possui qualificações académicas satisfatórias; 2 – as remunerações são adequadas; 3 – existem docentes em número suficiente para cobrir todas as áreas curriculares; 4 – existe um balanço satisfatório entre as actividades de ensino, investigação e administração; e 5 – o rácio alunos/docente é adequado. Na Fig. 3.3.2 estão representados os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo ao pessoal docente que lecciona na licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia. Verifica-se que os scores são positivos, sendo mínimos para as afirmações 2-3 (em consequência da imposição de padrões de elevada produtividade profissional, decorrente das óbvias restrições orçamentais associadas ao estatuto de instituição não suportada pelo Orçamento do Estado) e máximo para a afirmação 1, o que novamente reforça as conclusões veiculadas pela Fig. 2.2.1. 3.4. Impacto Sob a égide do impacto, encontram-se três grandes temáticas: a preparação e atitude dos alunos; a cultura institucional; e a internacionalização. Os assuntos mais relevantes relativos à preparação e atitude dos alunos podem consubstanciar-se em doze afirmações, a saber: 1 – o nível de preparação dos alunos é bom; 2 – a selecção dos alunos é adequada; 3 – os alunos manifestam interesse pela licenciatura; 4 – os alunos possuem boa capacidade de comunicação escrita; 5 – os alunos possuem boa capacidade de comunicação oral; 6 – os alunos são interessados e assíduos, e estão motivados para a aprendizagem; 7 – os alunos são atentos e participativos nas aulas; 8 – o tempo dispendido pelos alunos a estudar é adequado; 9 – os alunos evidenciam boa capacidade para realizar trabalhos e tarefas de índole prática; 10 – os alunos desenvolvem um bom relacionamento entre si; 11 – os alunos têm um bom relacionamento com os docentes; e 12 – os alunos participam activamente na vida da instituição. A título de exemplo, listamse na Fig. 3.4.1 os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à preparação e atitude dos alunos da licenciatura em Engenharia Alimentar ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. UCE 93 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 afirmação Figura 3.4.1: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a preparação e atitude dos alunos de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Constata-se que os scores são negativos em relação às afirmações 1, 4 e 8, o que confirma a fraca preparação que os alunos trazem do Ensino Secundário, ao nível de conhecimento científico, de proficiência na comunicação escrita, e de treino em rotinas de trabalho individualizado. Em contrapartida, os elevados scores das afirmações 10-11 traduzem o excelente ambiente humano prevalecente na instituição. Os assuntos mais relevantes relativos à cultura institucional podem consubstanciar-se em cinco afirmações, a saber: 1 – existe uma cultura de eficácia, profissionalismo e dedicação ao trabalho; 2 – o relacionamento entre os diversos quadros é bom; 3 – os conflitos destrutivos não são frequentes, ou quando existem são adequadamente geridos pela hierarquia; 4 – existe informação sobre a vida e os problemas institucionais, havendo preocupação em informar; e 5 – o quotidiano da instituição reflecte um espírito humanista. Na Fig. 3.4.2 estão esquematizados os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01, relativo à cultura institucional associada à licenciatura em Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ ÂMBITO 94 grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 afirmação Figura 3.4.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a cultura institucional de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Embora haja ainda algum deficit nos mecanismos de transmissão interna de informação de natureza institucional - patente no baixo score atingido pela afirmação 4 (embora haja esforços em curso no sentido de o atenuar), deve sublinhar-se a preocupação subliminar na manutenção dum bom relacionamento humano intra-institucional, traduzido pelas elevadas cotações concedidas às afirmações 2 e 3. Dignos ainda de registo são o empenho e compromisso voluntários numa cultura de eficácia, profissionalismo e dedicação, que diferenciam a instituição em causa relativamente às suas congéneres. Finalmente, os assuntos mais relevantes relativos à internacionalização podem consubstanciar-se em três afirmações, a saber: 1 – os programas internacionais em que a instituição participa são numerosos, dando lugar a intercâmbio de alunos e professores; 2 – as oportunidades existentes são atempadamente divulgadas; e 3 – o impacto das relações internacionais desenvolvidas tem reflexos positivos na licenciatura. Para o caso da licenciatura em Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia, ilustram-se de seguida os resultados do inquérito correspondente ao ano lectivo de 2000/01 sobre a internacionalização. UCE 95 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA grau de concordância 4 3 2 1 0 1 2 3 afirmação Figura 3.4.2: Resultados (média e desvio padrão) dos inquéritos sobre a internacionalização de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Grau de concordância: 0 – discordo fortemente; 1 – discordo; 2 – neutro; 3 – concordo; 4 – concordo plenamente. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2001. Com resultados globais bastante positivos, é de realçar a intervenção, qualitativa e quantitativa, da instituição no esforço de internacionalização e na endogeneização do mesmo, traduzido no elevado score atribuído às afirmações 1 e 3. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 4. Oferta “A tentação mais perigosa: não se parecer com nada.” Albert Camus, escritor francês (1913-1960) 99 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Enquadramento O nosso país encontra-se numa situação ímpar no contexto europeu, especialmente quando se observam certos indicadores de desempenho económico. Entre outros, refira-se a fraca cobertura educativa e a sensibilidade científico-tecnológica pouco elevada, a par da baixa satisfação da procura de bens culturais e de inovação, quando comparadas com as prevalecentes noutros espaços europeus de igual peso demográfico e produtivo.Esta situação configura-se como um problema a médio e longo prazo, não só pelo afastamento verificado em relação às médias comunitárias e à totalidade dos restantes países europeus, mas sobretudo porque a modernização tecnológica das empresas e dos processos na sociedade do conhecimento vai exigir limiares mínimos de literacia, substancialmente superiores aos que têm sido exigidos à população activa. Tais níveis de literacia correspondem à capacidade para pesquisar e integrar informação proveniente de várias fontes, e resolver problemas relativamente complexos. Apesar de não se poder estabelecer uma relação directa entre este nível e um determinado grau de escolaridade, regista-se uma forte correlação entre o mesmo e a escolaridade de nível secundário/superior. Assim sendo, afigura-se como fundamental o investimento na formação, de modo a elevar drasticamente os graus de literacia da população portuguesa, sob pena de graves problemas de emprego e de empregabilidade de longo termo, bem como de um decréscimo de competitividade nacional em virtude das desvantagens comparativas no aproveitamento de oportunidades em mercado aberto. Uma forma efectiva de antecipar a performance em Engenharia e Tecnologia recorre às prestações em Matemática e em Ciências, conforme ilustrado na Fig. 1.1. O Japão e a Coreia do Sul são os países com melhores resultados na literacia em Matemática e Ciências. No caso do nosso país, o desempenho naquele tipo de análise, para além de estar bastante abaixo da média, coloca-o efectivamente na cauda da OCDE, apenas à frente do Luxemburgo e do México, em ambos os tipos de teste, e ainda acima da Grécia no caso da Matemática. Coreia do Sul Japão Finlândia RU Canadá Nova Zelândia Austrália Áustria Irlanda Suécia República Checa França Noruega EUA Hungria Islândia Bélgica Suíça Espanha Alemanha Polónia Dinamarca Itália Grécia Portugal Luxemburgo México resultado do teste Japão Coreia do Sul Nova Zelândia Finlândia Austrália Canadá Suíça RU Bélgica França Áustria Dinamarca Islândia Suécia Irlanda Noruega República Checa EUA Alemanha Hungria Espanha Polónia Itália Portugal Grécia Luxemburgo México resultado do teste ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 100 600 500 média (a) 400 300 país 600 500 média (b) 400 300 país Figura 1.1: Resultados dos testes de avaliação da prestação em (a) Matemática e em (b) Ciências em vários países, e média da OCDE. Fonte: Program for International Student Assessment. Dados: 2001. 101 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA De uma forma geral, os alunos dos países com maiores recursos económicos revelam melhores desempenhos; porém, no caso de Portugal, as competências demonstradas pelos alunos ficam consideravelmente abaixo do que seria expectável, atendendo às elevadas verbas investidas na educação. O estado de grande deficit da cultura científica em Portugal é, em primeira análise, explicado pelas fracas condições de ensino e aprendizagem, conjugadas com a escassez de oportunidades de contacto com o mundo da ciência e da tecnologia. De facto, o nível de escolaridade, pelas oportunidades de aprendizagem e de socialização que a escola proporciona, é a variável que melhor explica os diferentes graus de conhecimento científico-tecnológico, bem como as representações e atitudes perante a ciência e o conhecimento. No que diz respeito às aprendizagens científicas e tecnológicas de base, Portugal também se distingue por um deficit quase total no ensino experimental das ciências, a par de uma reduzida afirmação do ensino tecnológico: um quarto dos alunos declara nunca ter realizado experiências científicas na sala de aula (sozinho ou em grupo), enquanto os alunos que apresentaram melhores desempenhos foram aqueles que afirmam realizar com frequência experiências científicas na sala de aula. Outro ponto de grande relevância é o grau de literacia do agregado familiar de onde o aluno do Ensino Superior provém; dados relativos a este tópico, representados na Tab. 1.1 para os candidatos a cursos de Engenharia, tornam visível tal marca nas escolhas escolares. PAI MÃE Não sabe ler nem escrever 0.4 1.1 Sabe ler e/ou escrever 0.8 2.7 1º Ciclo do Ensino Básico 38.8 47.7 2º Ciclo do Ensino Básico 7.6 6.5 3º Ciclo do Ensino Básico 11.4 7.9 Ensino Secundário 8.9 5.8 12º ano, propedêutico ou equivalente 6.6 5.3 ▲ NÍVEL DE ESCOLARIDADE ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 102 Bacharelato 5.6 9.2 Licenciatura 17.1 11.3 Pós-graduação 0.2 0.1 Mestrado 0.2 0.3 Doutoramento 0.6 0.1 Outro 1.7 2.0 Tabela 1.1: Nível de escolaridade dos pais dos diplomados em Engenharia, em percentagem. Fonte: INOFOR. Dados: 2000. Existe um score notável (de c. 21 e 24%, para a mãe e o pai, respectivamente) de níveis de escolaridade superiores detidos pelos progenitores, mas somente quando comparados com a situação prevalecente para os diplomados pelo Ensino Superior noutra áreas cuja formação tem duração mais curta. Refira-se, mesmo assim, a acção democratizadora do Ensino, na medida em que c. 40% dos pais e c. 50% das mães de licenciados em Engenharia não foram além do 1º ciclo do Ensino Básico. Naturalmente que, para além da influência subliminar do grau de instrução do respectivo agregado familiar, existe uma variedade de factores que condicionam e dirigem a escolha de uma ou outra formação académica, em detrimento doutras. No caso dos licenciados em Engenharia, dados sobre este tema estão plasmados na Tab. 1.2. RAZÕES PERCENTAGEM Por ser um curso com prestígio 1.7 Pela estrutura curricular do curso 6.3 Pelas saídas profissionais 13.9 Por permitir aquisição de conhecimentos em área de interesse pessoal 80.1 Por já ter trabalhado em áreas afins 4.3 Para desempenhar uma profissão que realize profissionalmente 38.4 Para desempenhar uma profissão útil 0.7 Para desempenhar uma profissão bem remunerada 4.2 Por ser um curso com tradição na família 4.7 Por influência de familiares / amigos / professores 2.0 ▲ UCE 103 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Por ser um curso para o qual tinha média suficiente para entrar 5.9 Por resultados de testes psicotécnicos / influência do Ensino Secundário 1.0 Outras 2.0 Tabela 1.2: Razões de escolha no momento de ingresso na licenciatura em Engenharia. Fonte: INOFOR. Dados: 2000. Verifica-se que o que mobiliza mais fortemente os alunos no momento de escolha do curso não são tanto as saídas profissionais, mas antes (e de longe) a aquisição de conhecimentos em área de interesse pessoal, seguida muito atrás pela realização profissional (que pode ser tomada como equivalente, neste contexto, a realização pessoal). As escolhas após o Ensino Secundário, e em particular a preferência por percursos mais profissionalizantes ou mais académicos, acabam por ditar o perfil evolutivo do Ensino Superior ao longo dos anos lectivos; na Fig. 1.2 elucida-se tal evolução geral. número de diplomados 35 000 Universitário público Politécnico público Universitário privado Politécnico privado 30 000 25 000 20 000 15 000 10 000 5 000 0 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 ano lectivo Figura 1.2: Distribuição fraccional, por natureza da instituição, dos diplomados pelo Ensino Superior. Fonte: Direcção Geral do Ensino Superior. Dados: 2000. Para além da dominância, clara e sistemática, do Ensino Superior universitário público, observa-se ainda um forte acréscimo no número de diplomados entre 1991-92 e 1993-94, em resultado do processo de crescimento e diversificação iniciado na década de 80 ao nível da oferta de cursos e de vagas no Ensino Superior: criação de novas universidades ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 104 públicas, criação do Ensino Politécnico público, e crescimento da oferta por parte das instituições privadas, com impacto ao nível regional. Entre 1987 e 1992, o número de vagas do Ensino Superior público aumentou c. 40%, ao passo que o do Ensino Superior particular e cooperativo aumentou c. 250%; no ano lectivo de 1992/93, o aumento do número de diplomados deveu-se fundamentalmente ao Ensino Superior Politécnico (quer público quer privado), enquanto o crescimento verificado no ano lectivo de 1993/94 foi uma consequência sobretudo do crescimento do Ensino Superior privado. 2. Diplomas Um aspecto fundamental da formação superior em Engenharia Alimentar relaciona-se com a sua multidisciplinaridade, o que faz com que o número de disciplinas eventualmente importantes para este tipo de programa seja demasiado grande para que possa ser comportável numa única acção de formação. Assim, cada programa tende, de forma geral, a estabelecer uma área especial de competência, definida com base numa filosofia própria relativamente ao perfil dos licenciados a formar: profissionais orientados para qualidade, nutrição, estudos do consumidor, engenharia industrial, produção primária, etc. Por este facto, não há ainda acordo na UE em relação às designações apropriadas para cursos destinados a formar técnicos que possam intervir lato senso na indústria alimentar. Existem cursos denominados Ciência alimentar, Tecnologia alimentar, Engenharia alimentar, Ciência e tecnologia alimentar, Química alimentar, Engenharia agroindustrial, Engenharia biológica e Engenharia bioprocessual, entre outros. Nalguns países, existe ainda a possibilidade de combinar áreas diferentes (joint degrees), tais como Economia agrícola e Ciência alimentar, ou Bioquímica e Ciência alimentar. Por outro lado, existem cursos muito especializados, tais como Tecnologia de carnes ou Tecnologia cervejeira. Em geral, as designações não são perfeitamente descritivas; existem, por vezes, mais semelhanças entre programas com nomes diferentes do que entre programas com nomes idênticos. A diversidade dos títulos atribuídos aos cursos manifestase também numa diversidade de conteúdos e de abordagens. UCE 105 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Existe ainda uma outra razão para a multiplicidade de abordagens: a origem dos cursos. As iniciativas pioneiras, na primeira metade do séc. XX, estavam sobretudo associadas a escolas de agricultura, e tendiam a ser organizadas por subsector (p.ex. panificação, viti- e vinicultura, e lacticínios). Mais tarde, começaram a surgir iniciativas na área de engenharia química, com componentes tecnológica industrial e de engenharia mais fortes, baseadas no conceito de operações unitárias. As áreas de microbiologia, química e bioquímica alargaram-se do mesmo modo, criando abordagens mais orientadas para ciência alimentar e para aspectos de qualidade. 2.1. Graduação A diversidade apresentada relativamente a formações estrangeiras encontra eco na profusão de titularidades superiores na mesma área em Portugal, consubstanciando por acréscimo um ponto fraco do sistema, porquanto tradutor da dificuldade estrutural do Ensino Superior em preparar diplomados com conhecimentos suficientemente abrangentes (e, por isso, inaptos para desenvolver visões de conjunto equilibradas e convincentes, bem como articular princípios básicos com novas situações). Para concretizar esta análise, apresenta-se na Tab. 2.1.1 uma listagem exaustiva dos cursos de bacharelato e/ou licenciatura existentes em Portugal, e que cobrem, de forma nuclear ou marginal, o sector alimentar, bem como a designação das instituições que conferem tais graus, e a respectiva tipologia e localização geográfica. GRAU INSTITUIÇÃO LOCAL TIPO L Universidade do Minho Braga UP Biologia Aplicada aos Recursos Animais L Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Lisboa UP Biologia Marinha e Pescas L Universidade do Algarve Faro UP Biologia Vegetal Aplicada L Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Lisboa UP Biologia Aplicada ▲ DESIGNAÇÃO (ordem alfabética) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 106 Biotecnologia B Instituto Superior de Humanidades e Tecnologias Castelo Branco IPPr Biotecnologia B Instituto Superior de Humanidades e Tecnologias Lisboa IPPr Biotecnologia B Instituto Superior de Humanidades e Tecnologias Torres Vedras IPPr Biotecnologia dos Produtos Naturais L Universidade Independente Lisboa UPr Ciências da Nutrição L Universidade do Porto Instituto Superior de Ciências da Nutrição e Alimentação Porto UP Ciências do Mar L Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Lisboa UPr Ciências do Meio Aquático L Universidade do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Porto UP Engenharia Agrária B Instituto Politécnico de Portalegre - Escola Superior Agrária de Elvas Elvas IPP Engenharia Agrária B L Instituto Politécnico de Viana do Castelo Escola Superior Agrária de Ponte de Lima Ponte de Lima IPP Engenharia Agrária e Desenvolvimento Regional B Instituto Politécnico de Portalegre – Escola Superior Agrária de Elvas Elvas IPP Engenharia Agrícola B L Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior Agrária de Viseu Viseu IPP Engenharia Agrícola L Universidade de Évora Évora UP Engenharia Agrícola L Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro Vila Real UP Engenharia Agrícola L Universidade dos Açores Angra do Heroísmo UP Engenharia Agroalimentar B Instituto Politécnico de Santarém - Escola Superior Agrária de Santarém Santarém IPP Engenharia Agroindustrial L Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP ▲ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Engenharia Agronómica L Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior Agrária de Bragança Bragança IPP Engenharia Agronómica B L Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Engenharia Agronómica B Universidade do Algarve Faro UP Engenharia Agropecuária L Instituto Politécnico de Beja - Escola Superior Agrária de Beja Beja IPP Engenharia Agropecuária B L Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior Agrária de Coimbra Coimbra IPP Engenharia Alimentar B L Instituto Politécnico de Beja - Escola Superior Agrária de Beja Beja IPP Engenharia Alimentar B Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior Agrária de Coimbra Coimbra IPP Engenharia Alimentar B Instituto Politécnico de Viana do Castelo - Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viana do Castelo Viana do Castelo IPP Engenharia Alimentar L Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares Almada IPPr Engenharia Alimentar L Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares Mirandela IPPr Engenharia Alimentar L Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares Viseu IPPr Engenharia Alimentar L Universidade Católica Portuguesa - Escola Superior de Biotecnologia Porto UC Engenharia Alimentar B L Universidade do Algarve Escola Superior de Tecnologia de Faro Faro IPP Engenharia Biológica L Universidade do Minho Braga UP Engenharia Biológica L Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior Técnico Lisboa UP Engenharia Biotecnológica B Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior Agrária de Bragança Bragança IPP ▲ UCE 107 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 108 Engenharia Biotecnológica L Universidade do Algarve Faro UP Engenharia Biotecnológica L Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Lisboa UPr Engenharia das Ciências Agrárias B Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior Agrária de Castelo Branco Castelo Branco IPP Engenharia das Ciências Agrárias L Universidade do Porto Vairão UP Engenharia das Indústrias Agroalimentares B L Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior Agrária de Viseu Viseu IPP Engenharia da Produção B Instituto Politécnico de Santarém - Escola Superior Agrária de Santarém Santarém IPP Engenharia de Produção Biológica L Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais B Instituto Politécnico de Viana do Castelo Escola Superior Agrária de Ponte de Lima Ponte de Lima IPP Engenharia Hortícola e Paisagista B Instituto Politécnico de Viana do Castelo Escola Superior Agrária de Ponte de Lima Ponte de Lima IPP Engenharia Química ramo de Polímeros e Agromateriais L Universidade de Aveiro Aveiro UP Engenharia Técnica Agroindustrial B Instituto Politécnico de Beja - Escola Superior Agrária de Beja Beja IPP Engenharia Técnica da Produção Agrária B Instituto Politécnico de Beja - Escola Superior Agrária de Beja Beja IPP Engenharia Zootécnica L Universidade de Évora Évora UP Engenharia Zootécnica L Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro Vila Real UP Engenharia Zootécnica L Universidade dos Açores Angra do Heroísmo UP Universidade Católica Portuguesa - Escola Superior Caldas da Rainha de Biotecnologia UC ▲ UCE 109 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Enologia L Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro Vila Real UP Gestão Agrícola B Instituto Superior de Humanidades e Tecnologias Lisboa IPPr Nutrição B Universidade do Algarve - Escola Superior de Tecnologia de Faro Faro IPP Nutrição e Engenharia Alimentar L Instituto Superior das Ciências da Saúde - Sul Lisboa IPPr Química - ramo de Bioquímica e Química Alimentar L Universidade de Aveiro Aveiro UP Tabela 2.1.1: Programas académicos de graduação, oferecidos pelo Ensino Superior na área alimentar. Nota: B - Bacharelato; IPP - Instituto Politécnico Público; IPPr - Instituto Politécnico Privado; L - Licenciatura; UC - Universidade Concordatária; UP - Universidade Pública; UPr Universidade Privada. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. É notório o número elevadíssimo de titularidades do Ensino Superior que versam, de alguma forma, o sector alimentar: 63 cursos superiores, dos quais 60% são de licenciatura e 40% são de bacharelato. Os cursos de bacharelato são exclusivamente ministrados por Institutos Politécnicos, enquanto os cursos de licenciatura são classicamente ministrados por Universidades, embora alguns Institutos Politécnicos ministrem igualmente licenciaturas na forma bi-etápica (i.e. formação básica correspondente ao bacharelato, seguida de complemento de formação conducente à licenciatura). Actualmente, com o início da implementação da Declaração de Bolonha (e os pressupostos por ela abrangidos em termos da acessibilidade de leitura e comparação de graus académicos, adopção de dois ciclos académicos principais, estabelecimento de sistema de créditos, promoção de mobilidade intra- e internacional, cooperação europeia na avaliação de qualidade, e promoção da dimensão europeia do Ensino Superior), irá gradualmente desaparecer a exigência de formações exageradamente longas e específicas, na medida em que elas restringem as oportunidades dos licenciados no mercado de trabalho. Para além da reformulação curricular que tal irá implicar, refira-se que tal ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 110 oportunidade deverá igualmente ser aproveitada para colmatar o deficit de trabalho inter-universitário, envolvendo instituições que leccionam cursos com designações similares ou afins. Recorde-se que a justificação para a aposta num sistema dual de Ensino Superior em Portugal baseava-se nas especificidades concretas e diferentes das Universidades e dos Institutos Politécnicos. De facto, entre 1977 e 1981, verificou-se uma política consistente de criação de uma rede de Ensino Superior politécnico, com o argumento político de que era necessário regionalizar o Ensino Superior e de que o tecido industrial português tinha grande necessidade de mão-de-obra qualificada, ao nível intermédio. Porém, a orientação para o mercado de trabalho não implicava (como acabou por acontecer) uma equivalência automática a cursos de banda estreita, demasiado especializados, que se provou não serem adequados às alterações constantes dos nichos de mercado; trata-se de uma visão algo míope, uma vez que não houve integração das expectativas e necessidades reais das empresas do sector industrial alimentar. Por outro lado, o longo período de instalação a que estiveram sujeitos os institutos politécnicos tornou-os mais vulneráveis a interesses políticos locais, decorrente de uma tradição histórica em que o maior valor social está exclusivamente associado ao diploma de licenciatura universitária, em detrimento do diploma de bacharelato ou mesmo de licenciatura politécnica. Em relação às intituições de Ensino Superior que concedem tais graus, a distribuição pela sua natureza encontra-se resumida na Fig. 2.1.1. Verifica-se que c. 18% de todos os graus académicos são concedidos por instituições de Ensino Superior privado: 13% correspondem a Institutos Politécnicos e 5% correspondem a Universidades. Por outro lado, ca. 79% de todos os graus académicos são concedidos por instituições de Ensino Superior público: 44% correspondem a Institutos Politécnicos e 35% correspondem a Universidades. Finalmente, ca. 3% de todos os graus académicos são concedidos por Universidades públicas não-estatais (i.e. de direito concordatário). No Ensino Superior, a mão invisível do mercado não foi ainda capaz de produzir os efeitos desejados sobre a oferta. Com efeito, a grande 111 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA IPP IPPr UP UC UPr Figura 2.1.1: Distribuição fraccional, por natureza da instituição, dos títulos de graduação no sector alimentar (IPP – Instituto Politécnico Público; IPPr – Instituto Politécnico Privado; UC – Universidade Concordatária; UP – Universidade Pública e UPr – Universidade Privada). Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. maioria das instituições mais novas dificilmente conseguem competir com as já estabelecidas, e os valores simbólicos impedem que as instituições de elite sejam contestadas. O mercado, em vez de criar um sistema mais diversificado, acaba por criar um sistema estratificado, com um segmento superior incontestado e um segmento inferior onde existe competição, e onde, por isso, as dificuldades de sobrevivência são grandes. Paradoxalmente, as instituições do Ensino Superior mais antigas são as mais resistentes à mudança e, por isso mesmo, as mais imunes à pressão do mercado. De facto, o mercado do Ensino Superior não se baseia apenas uma competição entre fornecedores institucionais, mas também entre alunos consumidores; e em Portugal, a diminuição do número de candidatos a este grau de ensino aumentou a competição entre os estabelecimentos de Ensino Superior por novos estudantes, tendo ficado demonstrado que algumas instituições e cursos não têm dificuldades de recrutamento (neste contexto, as Universidades desenvolvem um conjunto muito forte de normas e valores académicos, que condicionam a sua capacidade de transformação). A verdade é que a expansão e a excessiva diversificação verificada no Ensino Superior parece ter sido mais a consequência de interesses estratégicos das instituições no sentido do desenvolvimento de novas áreas de conhe- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 112 cimento, do que a oferta de cursos para preencher reais, ou novas, necessidades do mercado. Assim, o Ensino Superior privado tende a oferecer cursos pouco dispendiosos, enquanto o público oferece cursos e licenciaturas excessivamente variados, de formação demasiado especializada, e frequentemente redundantes e repetitivos. Finalmente, os politécnicos tendem a copiar as universidades nestas deficiências, em vez de as complementarem e cumprirem uma função única, no âmbito do Ensino Superior, de maior proximidade ao mundo do trabalho, e de resposta mais rápida às suas necessidades e expectativas. O Estado falhou no seu papel de regulador do mercado, pelo que urge a criação de um organismo independente que assegure esta função, premiando a qualidade e garantindo a pluralidade (constitucionalmente prevista, porquanto requisito para uma escolha efectivamente livre) – de facto, sem igualdade de oportunidades não poderá haver liberdade de opção. 12 Ensino Superior privado Ensino Superior concordatário Ensino Superior público 10 8 6 4 2 0 Aveiro Beja Braga Bragança Castelo Branco Coimbra Évora Faro Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto Santarém Setúbal Viana do Castelo Vila Real Viseu Madeira Açores número de títulos de graduação No que respeita à oferta geográfica dos cursos de bacharelato e licenciatura, a informação disponível pode ser sintetizada conforme efectuado na Fig. 2.1.2. distrito Figura 2.1.2: Distribuição regional dos títulos de graduação no sector alimentar. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. 113 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Desta forma, constata-se que o Ensino Superior privado está localizado praticamente apenas em Lisboa, em termos de oferta de bacharelatos e licenciaturas, enquanto o público está disperso por praticamente todo o país; é de sublinhar o elevado número (entre 4 e 6) de titularidades disponíveis nos distritos de Beja, Faro, Viana do Castelo e Viseu, os quais não são particularmente populosos, havendo, mercê da reduzida pressão de procura, indícios de redundância curricular. Por forma a aprofundar um pouco mais a análise dos referidos curricula, representa-se na Fig. 2.1.3 os resultados da ênfase dos bacharelatos e licenciaturas por grandes subsectores económicos. produção vegetal produção animal transf. biotecnol. serv. consumidor Figura 2.1.3: Distribuição fraccional, por ênfase de sector científico-profissional (produção vegetal, produção animal, transformação biotecnológica ou serviço ao consumidor), dos títulos de graduação no sector alimentar. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino SuperiorEmpresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. Verifica-se que c. 46% dos graus académicos têm uma componente maioritária de sector primário: 29% debruçam-se essencialmente sobre a produção de alimentos por via vegetal, enquanto 17% se debruçam principalmente sobre a produção de alimentos por via animal. Por outro lado, ca. 44% dos graus académicos estão especialmente focados no sector secundário, ao nível de transformações bioquímicas e microbiológicas, naquilo que convencionou designar-se por biotecnologia. Finalmente, ca. 10% dos graus académicos versam sobretudo temas englobados no sector terciário, relacionados com serviços prestados, designadamente nas vertentes de gestão de recursos e nutrição do consumidor. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 114 2.2. Pós-graduação Uma alternativa à existência de cursos de banda estreita no Ensino Superior (que já está implícita na Declaração de Bolonha) é a existência de cursos de banda larga, seguidos de pós-graduações dotadas de considerável especificidade. A este propósito, é útil proceder a uma análise exaustiva de títulos, ao nível de Mestrado, oferecidos pelas diversas instituições universitárias e politécnicas, que cobrem, de forma nuclear ou marginal, o sector alimentar, bem como das instituições que os conferem, e respectiva tipologia e localização geográfica, conforme disponível na Tab. 2.2.1; por conveniência, incluiu-se também a listagem de Doutoramentos oferecidos por essas instituições. DESIGNAÇÃO GRAU INSTITUIÇÃO LOCAL TIPO Agricultura e Horticultura Sustentáveis M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Aquacultura M Universidade do Algarve Faro UP Aquacultura - ramo Biotecnologia; - ramo Nutrição D Universidade do Algarve Faro UP Biologia - ramo Biotecnologia D Universidade do Algarve Faro UP Bioquímica D Universidade da Beira Interior Covilhã UP Bioquímica - ramo Enzimologia; - ramo Microbiologia; - ramo Tecnologia bioquímica D Universidade de Coimbra Coimbra UP Bioquímica - ramo Enzimologia; - ramo Tecnologia bioquímica D Universidade de Lisboa Lisboa UP Biotecnologia D Universidade Católica Portuguesa - Escola Superior de Biotecnologia Porto UC Biotecnologia Vegetal D Universidade de Évora Évora UP Ciência e Engenharia Alimentar M Universidade Católica Portuguesa - Escola Superior de Biotecnologia Porto UC (ordem alfabética) ▲ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Ciências Agrárias D Universidade de Évora Évora UP Ciências Agrárias D Universidade do Algarve Faro UP Ciências Agrárias D Universidade do Porto Porto UP Ciências Biotecnológicas D Universidade do Algarve Faro UP Ciências do Mar D Universidade de Lisboa Lisboa UP Ciências do Mar D Universidade do Algarve Faro UP Ciências e Tecnologias das Pescas D Universidade do Algarve Faro UP Engenharia Agroindustrial D Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Engenharia Agronómica D Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Engenharia da Rega e dos Recursos Agrícolas M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Engenharia Química - ramo Biotecnologia D Universidade de Coimbra Coimbra UP Gestão de Recursos Biológicos M Universidade de Évora Évora UP Gestão de Recursos Naturais M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Melhoramento de Plantas M Universidade de Évora Évora UP Nutrição Clínica M Universidade de Coimbra Coimbra UP Nutrição Vegetal, Fertilidade dos Solos e Fertilização M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Produção Agrícola Tropical M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Produção Animal M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Produção Vegetal M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP ▲ UCE 115 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 116 Química - ramo de Química de produtos naturais D Universidade de Coimbra Coimbra UP Química de Produtos Naturais e Alimentos M Universidade de Aveiro Aveiro UP Viticultura e Enologia M Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia Lisboa UP Tabela 2.2.1: Programas de pós-graduação oferecidos pelo Ensino Superior na área alimentar e conferentes de grau académico. Nota: D - Doutoramento; IPP - Instituto Superior Politécnico Público; IPPr - Instituto Superior Politécnico Privado; M – mestrado; UC - Universidade Concordatária; UP - Universidade Pública; UPr - Universidade Privada. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. Registe-se a diferença substancial entre o número total de títulos de graduação (i.e. 63, entre bacharelatos e licenciaturas) e o número total de títulos de pós-graduação curricular (i.e. 14 mestrados). Em contrapartida, existem mais títulos de doutoramento (i.e. 18) do que de mestrado, pelo que facilmente se conclui da ausência de um bom sistema de especialização intermédia ao nível pedagógico, a par de um forte sistema de especialização avançada ao nível de investigação. Em relação às instituições que concedem tais graus, a distribuição pela sua natureza encontra-se resumida na Fig. 2.2.1. Mestrado - UP Doutoramento - UP Mestrado - UC Doutoramento - UC Figura 2.2.1: Distribuição fraccional, por natureza da instituição, dos títulos de pós-graduação no sector alimentar (UC – Universidade Concordatária; UP – Universidade Pública). Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. UCE 117 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Observa-se que não existem títulos de mestrado ou doutoramento concedidos pelo Ensino Superior privado. Em contrapartida, apenas c. 6% dos títulos de mestrado e doutoramento são concedidos pelo Ensino Superior concordatário, enquanto a esmagadora maioria (i.e. os restantes ca. 94%) são concedidos por instituições de Ensino Superior público; em qualquer das tipologias, apenas as Universidades (e não os Institutos Politécnicos) estão representadas, mercê de normativos legais. No que respeita à oferta geográfica dos programas de mestrado e doutoramento, a informação disponível pode ser sintetizada como efectuado na Fig. 2.2.2. 14 Doutoramentos Mestrados número de títulos de pós-graduação 12 10 8 6 4 2 Faro Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto Santarém Setúbal Viana do Castelo Vila Real Viseu Madeira Açores Aveiro Beja Braga Bragança Castelo Branco Coimbra ´ Evora 0 distrito Figura 2.2.2: Distribuição regional dos títulos de pós-graduação no sector alimentar. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. Constata-se que a maior parte das titularidades de mestre e de doutor (12) são atribuídas em Lisboa, seguindo-se Faro (7), Évora e Coimbra (4), Porto (3), e finalmente Aveiro e Guarda (1). É de sublinhar o facto de, não obstante a quase totalidade de títulos de pós-graduação ser atribuído por Universidades públicas estatais, existir uma dramática heterogeneidade na sua distribuição geográfica, ao contrário do que acon- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 118 tecia com os graus de bacharelato e de licenciatura, a qual nem sequer correlaciona com o volume de potenciais formandos (suposto proporcional ao volume demográfico na respectiva região): são exemplos deste facto Faro, num extremo (com muitos títulos de pós-graduação e uma população diminuta), e Porto, no outro extremo (com poucos títulos de pós-graduação e uma população substancial). Aprofundando ainda mais esta análise, representa-se na Fig. 2.2.3 os resultados da ênfase por subsectores dos respectivos curricula. produção vegetal produção animal transf. biotecnol. serv. consumidor Figura 2.2.3: Distribuição fraccional, por ênfase de sector científico-profissional (produção vegetal, produção animal, transformação biotecnológica ou serviço ao consumidor), dos títulos de pós-graduação no sector alimentar. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino SuperiorEmpresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. Verifica-se que c. 59% dos graus académicos têm uma componente maioritária de sector primário: 40% debruçam-se essencialmente sobre a produção de alimentos por via vegetal, enquanto 19% se debruçam pricipalmente sobre a produção por via animal. Por outro lado, c. 31% dos graus académicos estão especialmente focados no sector secundário, ao nível de transformações bioquímicas e microbiológicas, naquilo que concencionou designar-se por biotecnologia. Finalmente, c. 9% dos graus académicos tratam sobretudo temas englobados no sector terciário, relacionados com serviços prestados, sobretudo nas vertentes de gestão de recursos e nutrição do consumidor. 119 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 3. Deontologia A deficiência cultural dos licenciados em Engenharia Alimentar (a par, aliás, dos licenciados noutras áreas do conhecimento) constitui um handicap actual, porquanto tradutor da dificuldade estrutural genérica do sistema de Ensino Superior em ensinar valores e não números, tornando os profissionais incapazes de avaliar, de forma introspectiva e crítica, a sua actividade e a sua postura. Porém, juntar os termos engenharia/tecnologia e cultura numa mesma frase não é antagonístico. A engenharia e a tecnologia, tal como todas as outras profissões, embora desempenhem um papel distinto na sociedade especificamente vocacionado para as empresas transformadoras, são enformadas pelos requisitos e padrões culturais daquela; ao mesmo tempo, ajudam a criar e a desenvolver a cultura da sociedade. Porém, enquanto os diplomados podem ser vistos, seguindo uma visão reducionista, como hermeticamente técnicos e decididamente desinteressados nos assuntos da sociedade, o senso comum e a realidade histórica atestam claramente que eles não existem (nem nunca existiram) exclusivamente in vacuo. Longe de ser autónoma, a engenharia (e a tecnologia) coexiste com, e é interdependente de, outras disciplinas e profissões na nossa intrincada sociedade, por forma a assegurar que o projecto e o processo, designadamente na área alimentar, produzam o máximo impacto benéfico sobre os indivíduos e o seu ambiente natural. Tal facto nunca foi tão claro como na presente década, devido à conjugação de duas forças emergentes na arena global: (i) a explosão desimpedida do conhecimento, e concomitante aparecimento de múltiplos campos de estudo que, ao tornar os diplomados cada vez mais especialistas e cada vez menos generalistas, expande continuamente o espectro do conhecimento total acumulado; e (ii) a diminuição do tamanho e do número de empregados das indústrias alimentares, de acordo com uma reestruturação que confere ênfase dominante à holística systems approach, mandatando para a colaboração entre as diversas disciplinas, e requerendo o esforço conjugado no seio de equipas ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 120 multidisciplinares. Por outras palavras, o inter-relacionamento sobrepôs-se ao intra-relacionamento, transformando-se então na norma. A assunção social da engenharia (e da tecnologia) contribui, assim, para uma visão equalitária e democrática das profissões, e, por arrastamento, de toda a sociedade. Os diplomados não são, de facto, autómatos técnicos que projectam, criam e constroem de forma cega e desumanizada; eles projectam, criam e constroem através das suas interfaces culturais com o mundo. Desde tempos imemoriais, a Engenharia tem vindo a ser enformada e guiada, não apenas por importantes necessidades técnicas mas também por uma variedade de valores culturais e motivações pessoais. Uma análise aprofundada da situação nos nossos dias revela, contudo, um estereótipo para a Engenharia, nas suas vertentes técnicas e éticas, digno de alguma reflexão. Em termos operacionais, um engenheiro lida com quantidades e não com números, pelo que a perspectiva quantitativa impera sobre a perspectiva contabilística, e o valor intrínseco (que se distingue do valor nominal) dos algarismos combinados num número não é uniforme, conforme percepcionado por um matemático, mas aumenta com a sua ordem da direita para a esquerda. Um engenheiro lida com sistemas e não com unidades, logo a interacção entre as partes e a integração no conjunto produz sinergias ao criar um valor superior ao da soma dos elementos independentes. Um engenheiro lida mais com síntese e menos com análise, usando modelos que reduzem a descrição da realidade física a formas intelegíveis, tanto mais poderosas quanto mais simples, exigindo naturalmente inúmeras hipóteses simplificativas, mas conferindo uma estrutura racional, compreensível e quantificável às relações de causalidade. Para o engenheiro, as ciências fundamentais ou fenomenológicas (p.ex. matemática, física, química e biologia) são o meio e não o fim. Finalmente, um engenheiro, sem ser oportunista, tem um enorme e único sentido de oportunidade, pelo que inclui invariavelmente o conceito de utilidade como variável nos seus raciocínios; tal sentido esboça (e conduz) o seu protocolo típico de aprendizagem. Em termos culturais, o conjunto de princípios basilares pelos quais 121 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA se devem reger os engenheiros pode ser formulado de uma variedade de maneiras, as quais são, em essência, equivalentes entre si. Estrategicamente, os engenheiros devem manter e avançar a integridade, honra e dignidade da profissão de engenharia (i) através da utilização do seu conhecimento e da sua capacidade para o melhoramento do bem-estar humano, (ii) sendo honestos e imparciais, e servindo fielmente o público, os seus empregadores e os seus clientes, (iii) tentando melhorar a competência e o prestígio da profissão de Engenharia, e (iv) apoiando as sociedades profissionais e técnicas onde têm cabimento as suas competências. Tacitamente, os engenheiros devem (i) tomar como seminal a segurança, saúde e bem-estar do público aquando do desenvolvimento dos seus deveres profissionais, (ii) prestar serviços somente nas áreas da sua competência, (iii) fazer declarações públicas apenas de forma verdadeira e objectiva, (iv) actuar em assuntos profissionais, para cada empregador ou cliente, como agentes de confiança, evitando conflitos de interesses ou de lealdades, (v) construir a sua reputação profissional baseada no mérito dos seus serviços, sem competir injustamente com outros, e (vi) prosseguir o desenvolvimento profissional ao longo das suas carreiras, providenciando igualmente oportunidades para o desenvolvimento profissional dos técnicos sob a sua supervisão. A Engenharia compreende, portanto, dois tipos de contributos: o operacional (ou de quantidades) e o cultural (ou de valores). Os postulados operacionais de Engenharia referem-se às abordagens e aos procedimentos técnicos (naquilo que convencionou designar-se por mecanismo), os quais são requeridos pelo projecto e pelo processo em Engenharia, que alargam e quantificam os objectivos, e que são necessários para a implementação activa; os postulados culturais referemse aos ideais humanos e sentimentos abstractos (no que convencionou designar-se por ética), que restringem e qualificam os objectivos, e que são necessários para a reflexão passiva. Os postulados operacionais e os postulados culturais de uma dada disciplina de Engenharia moldam conjuntamente a sua identidade nuclear, e determinam consideravelmente o seu impacto e o seu reflexo na sociedade. Assim, é da maior importância que os utilizadores da Engenharia na área alimentar, e os estudantes da Engenharia e ciências afins naquela área, não só adquiram o conhecimento operacional nos seus ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OFERTA 122 campos de actuação, mas também apreendam os valores culturais da profissão conformes à tradição histórica. Tal abordagem não implica, necessariamente, posturas defensivas ou conservadoras, mas, ao invés, a consideração de forma aberta, sistemática e equilibrada das possibilidades trazidas pelos avanços científico-tecnológicos. Para além do exposto, existe um qualificativo único na prática de Engenharia que, por isso, merece referência especial: um engenheiro sabe (e deve) lidar confortavelmente com o erro, aprendendo com ele e tomando decisões baseado nele. Note-se, porém, que o erro diminui à medida que a sofisticação das técnicas analíticas, bem como a capacidade e a rapidez de cálculo informático, aumentam. Acresce que um estatístico também lida com erro: mas enquanto este traduz por erro a incapacidade em obter informação de todos os elementos constituintes de um sistema, o engenheiro traduz por erro a incapacidade em obter informação sobre todas as relações entre elementos do sistema. Os conhecimentos operacionais referidos atrás são preferencialmente veiculados nos estabelecimentos de Ensino Superior, embora as posturas culturais exijam uma pluralidade de vectores que não se restringem apenas ao meio académico, antes englobam a sociedade tout court. Mas se as Universidades e os Institutos Politécnicos são o local adequado e proporcionam a envolvente ideal para a transmissão de conhecimento superior (e para o avanço do conhecimento de fronteira), o Ensino Superior deve sobretudo primar por proporcionar e promover cada vez mais aprendizagem e cada vez menos ensino. Os conhecimentos operacionais das disciplinas de Engenharia, e não os seus valores culturais, ditam o quadro básico dos seus curricula por duas razões principais: (i) o conhecimento operacional é intrinsecamente procedimental, sendo susceptível de tratamentos metodológicos e organizativos sistemáticos; e (ii) os valores culturais geralmente servem como qualificativos e como restrições para os objectivos, conduta e efeitos dos métodos operacionais, sendo frequentemente não-metodológicos. Portanto, a essência arquitectural no desenvolvimento curricular em Engenharia é operacional e não cultural, produzindo uma colecção integrada e sequencial de disci- 123 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA plinas, organizadas sobre princípios, ferramentas e experiências relevantes. Tal quadro curricular básico deve, contudo, ser tratado como rudimentar, na medida em que é deliberada e puramente técnico. Um curriculum de Engenharia, rico e equilibrado, requer a integração orgânica das suas bases operacionais e das suas dimensões culturais, preferencialmente em todas as disciplinas nucleares. Os estudantes do Ensino Superior devem, por isso, ser proficientes na utilização do conhecimento operacional, mas devem igualmente ser sede de valores culturais, ao avaliar os objectivos, a conduta, e os efeitos sobre as pessoas e sobre o ambiente natural, da aplicação do projecto e do processo de Engenharia; pedagogicamente, tal exige a explicitação, contextual e factual, da integração concertada destes dois postulados basilares. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 5. Colaboração “Tu dizes-me, eu esqueço; tu ensinas-me, eu lembro-me; tu comprometes-me, eu aprendo.” Benjamin Franklin, físico americano (1706-1790) 127 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Introdução A forma como as Universidades desempenham a sua função é determinante para o desenvolvimento económico e social do país, no seu sentido mais alargado. Com efeito, o desenvolvimento económico, do qual Portugal faz depender toda a sua prestação enquanto nação, não poderá ser atingido e conservado, de forma duradoura, a não ser pela inovação: inovação nas empresas existentes, e inovação na criação de novas empresas de tecnologia de ponta. Inovar exige recursos humanos de elevada qualidade e consultores competentes, sendo por demais óbvio que é no Ensino Superior que se encontra a maior parte de tais competências. Porém, na óptica da cooperação, importa confrontar as diversas vertentes funcionais das instituições de Ensino Superior com as características próprias da actividade das empresas e, em particular, com as especificidades do tecido empresarial português: o objectivo da obtenção do lucro é uma característica dominante da actividade das empresas e, ao mesmo tempo, condição essencial da sua sobrevivência e desenvolvimento. A cooperação entre o Ensino Superior e as empresas tem vindo a processar-se de forma ascendente nos últimos anos – para tal, têm contribuído quer os projectos comunitários (ao abrigo dos Programas Quadro), quer os programas nacionais sob a tutela de diversos Ministérios (ao abrigo dos Quadros Comunitários de Apoio), no âmbito da investigação e desenvolvimento tecnológico. Todavia, a cooperação entre aqueles dois mundos está ainda longe das necessidades reais da indústria, no sentido do aumento da sua competitividade. 2. Projectos A inovação com maior potencial de exploração e de retorno sustentado ao nível empresarial baseia-se na montagem e execução de projectos de colaboração, em consórcio das empresas com as Universidades e outras instituições de I&D; tal processo tem mostrado virtualidades enquanto incentivo à criação de laços de cooperação, enquanto veículo de fortalecimento das capacidades próprias de investigação das empresas, e enquanto forma de endogeneização, ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 128 pelo tecido económico, de novas tecnologias relevantes (conseguidas, nomeadamente, pela assimilação de know-how adquirido pela instituição de investigação e que o faculta à entidade empresarial). A orientação seguida nos últimos anos, segundo a qual a investigação aplicada deve contar com a participação dos utilizadores, revelou-se correcta, apesar da maior exigência em relação à prática tradicional. Por forma a avaliar a diversidade e magnitude dos esforços de I&D, relacionados com produtos alimentares obtidos no sector industrial, e envolvendo pelo menos uma empresa e pelo menos uma instituição de Ensino Superior (sendo uma delas, pelo menos, sediada em Portugal), procede-se de seguida a uma enumeração exaustiva dos projectos contratualizados, activos durante o período 1995-2000, e financiados por entidades nacionais ou internacionais. Na Tab. 2.1 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector do leite e laticínios. Título do projecto Programa financiador (país) Avaliação da aplicabilidade de proteases de Centaurea calcitrapa no desenvolvimento de produtos lácteos PAMAF (P) Caracterização qualitativa e quantitativa do leite e queijo de ovelha produzidos na região do queijo “Serpa” PAMAF (P) Control, acceleration and diversification of cheese flavour formation by enzymatic conversions of amino acids FAIR (UE) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Efeitos de diversos níveis de suplementação energética, proteica e lipídica, a uma dieta base de pastagem na produção e composição do leite e queijo de ovelha PAMAF (P) ■ ■ Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências (P) Martins & Rebello s.a. (P) Instituto Politécnico de Beja Escola Superior Agrária de Beja (P) Universidade de Évora (P) Associação de Criadores de Ovinos do Sul (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Campina Melkunie b.v. (H) M. D. Foods a.m.b.a. (D) Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Medicina Veterinária (P) Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela - ANCOSE (P) ▲ UCE Forragens alternativas para vacas leiteiras ■ ■ PRAXIS - AdI (P) ■ ■ IMPACTO: Investigação dirigida ao Melhoramento do Processo de produção de queijo serrA por integração de abordagens Científicas e TecnOlógicas PRAXIS - FCT (P) ■ ■ ■ ■ Melhoramento do processo de produção de queijo Serra da Estrela ■ ■ ■ PAMAF (P) Melhoramento de queijo Castelões por utilização de ciprozinas para coagulação do leite de vaca PRAXIS - AdI (P) PROTOLACTIS: PROdução, por Tecnologias Optimizadas, de LACticínios TradicionaIS certificados PAMAF (P) PROTOTIPO: PROdução, por Tecnologias Optimizadas, de lacTIcínios POrtugueses ICPME - AdI (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Universidade do Porto – Faculdade de Ciências (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) União das Cooperativas de Produtores de Leite de Entre Douro e Minho e Trás-os-montes u.c.r.l. - AGROS (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) Cooperativa dos Produtores do Queijo da Serra - ESTRELACOOP (P) Federação das Associações de Produtores de Queijo da Serra – FAPROSERRA (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Instituto Politécnico de Coimbra Escola Superior Agrária de Coimbra (P) Universidade de Coimbra (P) Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela - ANCOSE (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências (P) LACTOGAL (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior Técnico (P) Associação de Criadores de Ovinos da Cova da Beira - OVIBEIRA (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela – ANCOSE (P) ARSOPI, Indústrias Metalúrgicas s.a. (P) ▲ 129 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO Sistema de garantia da qualidade do leite e gestão da saúde em bovinos leiteiros ■ ■ PRAXIS - AdI (P) ■ ■ Utilização de Lactococcus lactis como reactores biológicos: modelação do metabolismo de carbo-hidratos com base em medições não-invasivas PRAXIS - FCT (P) Validation of the sensory evaluation procedure for acceptance of butter at intervention SMT (UE) ■ ■ ■ ■ ■ Valorização das proteinas e lactose do soro de queijo ■ ■ PRAXIS - AdI (P) ■ ■ ■ 130 Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Medicina Veterinária (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) União das Cooperativas de Produtores de Leite de Entre Douro e Minho e Trás-osmontes u.r.c.l. - AGROS (P) Universidade Nova de Lisboa Instituto de Tecnologia Química e Biológica (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) Instituto Politécnico de Viana do Castelo – Escola Superior de Tecnologia e Gestão (P) Empresa de Lacticínios Âncora lda. (P) Valio ltd. (F) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior Técnico (P) Universidade do Minho (P) Empresa de Lacticínios Âncora lda. (P) Lacticínios Halos s.a. (P) Quinta dos Ingleses Agroindústria lda. (P) Tabela 2.1: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector do leite e lacticínios, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: D Dinamarca; F - Finlândia; H - Holanda; P - Portugal; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Católica Portuguesa (7), através da Escola Superior de Biotecnologia. Em contrapartida, a empresa nacional mais frequentemente envolvida é a Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (3). Por outro lado, verifica-se que dos 14 projectos em causa, 11 projectos estão relacionados com queijo, enquanto 2 projectos estão relacionados com leite, e 1 projecto está relacionado com manteiga. Na Tab. 2.2 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector das bebidas alcoólicas UCE 131 Aplicação da electrodiálise na estabilização tartárica de vinhos e suas implicações nos equilíbrios dos constituintes de cor PAMAF (P) Bagaceiras de vinho verde branco: caracterização do processo tradicional de produção e melhoramento tecnológico PAMAF (P) Caracterização de vinhos elementares alentejanos Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ ■ ■ ■ PAMAF (P) Desenvolvimento de instrumentação baseada em SIA para análises de água e vinho ■ ■ ■ PRAXIS - AdI (P) Desenvolvimento de sistemas de tratamento que melhorem a funcionalidade da rolha (organoléptica e mecânica) e equipamentos de controlo de qualidade no processo industrial PRAXIS - AdI (P) ■ ■ ■ ■ ■ Estudo de algumas das causas da ocorrência do gosto a rolha em vinhos PAMAF (P) ■ ■ ■ Identificação de parâmetros associados à qualidade em castas tintas e dos respectivos vinhos da Região Demarcada do Douro ■ ■ ■ PAMAF (P) UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ■ Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior Técnico (P) Quinta do Minho, Agricultura e Turismo s.a. (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) Universidade de Évora (P) Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade do Porto Faculdade de Farmácia (P) PARALAB - Equipamentos Industriais e de Laboratório lda. (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior Técnico (P) ARTESIS - António Armindo da Silva Oliveira (P) CORK SUPPLY Portugal s.a. (P) GLOBAL CORK lda. sucrs. (P) Universidade de Évora (P) Correia & Gomes lda. (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade do Porto Faculdade de Ciências (P) Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (P) ▲ Título do projecto Programa financiador (país) ■ ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO Improving quality and safety in fortified wines: an integrated, low-input approach to minimising bacterial spoilage AIR (UE) ■ ■ ■ ■ Influência da tecnologia de fabrico e conservação em madeira na qualidade dos vinhos PAMAF (P) Inovações na produção do Vinho Verde tradicional com vista à obtenção de um produto comercialmente viável PRAXIS - AdI (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Instabilidade proteica de vinhos: origem, causas e metodologias para a sua eliminação específica PRAXIS - FCT (P) Isolamento e caracterização de leveduras: aplicações em enologia ■ ■ ■ ■ ■ PAMAF (P) Leveduras do género Dekkera em vinhos: ecologia e síntese de etil-fenóis PRAXIS - FCT (P) Tecnologia de vinificação e estabilização de vinhos tintos com denominação de origem Porto e Douro PAMAF (P) ■ 132 Universidade Católica Portuguesa - Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade do Porto (P) BNIC (F) Cockburn Smithes lda. (P) Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Agronomia (P) José Maria da Fonseca sucrs. Vinhos s.a. (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Casa de Villar - Sociedade Agrícola lda. (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) Quinta do Minho, Agricultura e Turismo lda. (P) União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes u.c.r.l. – VERCOOPE (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Comissão de Viticultura Regional Alentejana (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade do Minho (P) Universidade do Porto (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) ■ Universidade de Évora (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) ■ Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (P) ■ ■ ■ ■ Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (P) Casa do Douro (P) Tabela 2.2: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector das bebidas alcoólicas, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: F - França; P - Portugal; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. UCE 133 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Católica Portuguesa (6), através da Escola Superior de Biotecnologia, a par da Universidade Técnica de Lisboa (6), através do Instituto Superior de Agronomia e do Instituto Superior Técnico. Em contrapartida, a empresa nacional mais frequentemente envolvida é o Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte (3). Por outro lado, verifica-se que dos 14 projectos em causa, 7 estão relacionados com vinhos de mesa, 3 estão relacionados com vinhos generosos, 2 estão relacionados com leveduras para produção de vinhos, e 2 estão relacionados com rolha para engarrafamento de vinhos. Na Tab. 2.3 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector da carne e derivados. Caracterização de enchidos regionais de porco “Alentejano” - estudo de culturas microbianas promotoras da tipicidade PAMAF (P) Developing the ECCEAMST training network through improved telecommunication Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ LEONARDO DA VINCI 1 (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Universidade de Évora (P) Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Medicina Veterinária (P) Agrupamento de Produtores de Enchidos Tradicionais do Alto Alentejo (P) Aristotelian University (G) Bristol University (RU) Dublin Institute of Technology (RU) Instituto Politécnico de Santarém Escola Superior Agrária de Santarém (P) Royal Veterinary Agricultural University (D) Swedish University of Agricultural Sciences (S) University College Cork (I) University College Dublin (RU) Universidad de Leon (E) Afabricar (P) Agrocar (P) APTSIA (P) Aqua T. T. (I) Carnes Primor (P) Danish Poultry Meat Associations (D) Delicatessen Cornby (B) Esmeraldo de Almeida (P) Foodwest ltd. (F) Gooddy’s (G) N. V. Imperial (B) Porcave s.a. (P) Santa Carnes (P) Slakteriförbundet s.c.a.n. (S) S. V. O. Opleidingen (H) Taurus lda. (P) ▲ Título do projecto Programa financiador (país) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO Melhoramento do sabor de produtos cárneos fermentados: estudo da actividade lipolítica de Lactobacillus JNICT - PBIC (P) Tratamento dos efluentes dos matadouros por ultrafiltração e osmose inversa EUREKA (UE) ■ ■ 134 Universidade Nova de Lisboa (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica - IBET (P) ■ Universidad Complutense de Madrid (E) ■ S. S. L. Equipamentos Industriais lda. (P) Tabela 2.3: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector da carne e derivados, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: B – Bélgica; D – Dinamarca; E – Espanha; F – Finlândia; G – Grécia; H – Holanda; I – Irlanda; P – Portugal; RU – Reino Unido; S – Suécia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. As únicas instituições nacionais do Ensino Superior que participam em projectos neste subsector são a Universidade de Évora (1), a par da Universidade Técnica de Lisboa (1), através da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade Nova de Lisboa (1), e do Instituto Politécnico de Santarém (1), através da Escola Superior Agrária de Santarém. Entretanto, não existe nenhuma empresa que sobressaia em termos de frequência de envolvimento neste tipo de projectos em consórcio. Por outro lado, verifica-se que dos 4 projectos em causa, 2 projectos estão relacionados com salsicharia tradicional, enquanto 1 projecto está relacionado com tratamento de efluentes, e 1 projecto está relacionado com treino profissional. Na Tab. 2.4 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector do peixe e derivados. Título do projecto Programa financiador (país) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas Alimentos para aquacultura ■ EUREKA (UE) ■ Criação de PME de base tecnológica na área de biotecnologia ICPME - AdI (P) ■ ■ Academia Sinica (C) Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas ltd. – NECTON (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas lda. – NECTON (P) ▲ UCE 135 Development of microalgal pigments for aquaculture ■ ■ ■ ■ ■ FAIR (UE) ■ ■ Implementation on board of systems of atmospheres with variable composition applied to fresh fish FAIR (UE) Improvement of yield and food conversion in salmonids and maricultured fish ECLAIR (UE) ■ ■ ■ ■ ■ ■ Spoilage and safety of cold-smoked fish ■ FAIR (UE) ■ Training European professionals in the food canning industry LEONARDO DA VINCI 1 (UE) ■ ■ ■ ■ ■ Utilização de processos biotecnológicos na valorização de microalgas ■ ■ ■ PRAXIS - FCT (P) ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Liverpool John Moore’s University (RU) Universidad de Santiago de Compostela (E) Universidade do Porto (P) University of Plymouth (RU) Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas ltd. – NECTON (P) SORGAL - Sociedade de Óleos e Rações s.a. (P) Swedish University of Agricultural Sciences (S) Universidad de Santiago de Compostela (E) Associação de Pesca Profissional Responsável e Competitiva - APPRECO (P) Universidade de Lisboa (P) Biocompatibles ltd. (RU) Société Européenne de Biotechnologie s.a. (B) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) ASEPT - Association sur l’Asépsie de Production (F) Katholieke Universiteit Leuven (B) Universidad de Murcia (E) Associação para a Escola Superior de Biotecnologia – AESBUC (P) Indústrias de Carnes Nobre s.a. (P) Póvoa Exportadora Lda. (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade do Algarve (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica - IBET (P) Tabela 2.4: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector do peixe e derivados, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: B Bélgica; C - China; E - Espanha; F - França; P - Portugal; RU - Reino Unido; S – Suécia; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 136 A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Católica Portuguesa (4), através da Escola Superior de Biotecnologia. Em contrapartida, a empresa nacional mais frequentemente envolvida é a Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas (2). Por outro lado, dos 8 projectos em causa, 3 projectos estão relacionados com microalgas, 2 projectos estão relacionados com aquacultura, 2 projectos estão relacionados com conservas de peixe, e 1 projecto está relacionado com pescado fresco. Na Tab. 2.5 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector dos cereais, leguminosas e derivados. Título do projecto Programa financiador (país) Conservação de germoplasma de centeios transmontanos e sua valorização nos produtos regionais PAMAF (P) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ ■ ■ Estudo de sistemas culturais para o Baixo Mondego e de tecnologias das principais culturas PAMAF (P) ■ ■ ■ Improving the quality of EU wheats for use in the food industry Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) Acácio José Araújo - Pão Seramota (P) Cooperativa Agrícola do Alto Paiva (P) Empresa para Agroalimentação e Cereais s.a. – EPAC (P) Sociedade de Panificação do Marão lda. (P) Instituto Politécnico de Coimbra Escola Superior Agrária de Coimbra (P) Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego (P) Cooperativa Agrícola de Montemor-o-Velho (P) ■ Universidade de Aveiro (P) FAIR (UE) ■ Svaløf Weibull a.b. (S) Novel fermentation feedstocks ■ Universidade de Évora (P) AIR (UE) ■ ■ ■ ■ Pão de milho: caracterização do processo tradicional de produção e melhoramento tecnológico PAMAF (P) ■ ■ Agrol ltd. (RU) Amylum n.v. (B) CEC Technologie Entwicklung (A) Crows Hall Farms (RU) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte – IDARN (P) ▲ UCE 137 Recuperação do trigo Barbela e seu aproveitamento industrial PAMAF (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) Acácio José Araújo - Pão Seramota (P) Cooperativa Agrícola do Alto Paiva (P) Empresa para Agroalimentação e Cereais s.a. – EPAC (P) Sociedade de Panificação do Marão lda. (P) Tabela 2.5: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector dos cereais, leguminosas e derivados, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: A - Alemanha; B - Bélgica; P - Portugal; RU - Reino Unido; S - Suécia; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (2). Em contrapartida, as empresas nacionais mais frequentemente envolvidas são a Acácio José Araújo – Pão Seramota (2), a par da Cooperativa Agrícola do Alto Paiva (2), da Empresa para Agroalimentação e Cereais (2), e da Sociedade de Panificação do Marão (2). Por outro lado, verifica-se que dos 6 projectos em causa, 2 projectos estão relacionados com trigo, enquanto 1 projecto está relacionado com centeio, 1 projecto está relacionado com milho, 1 projecto está relacionado com arroz, e 1 projecto está relacionado com upgrade de resíduos de processamento. Na Tab. 2.6 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector dos hortofrutícolas. A condução em LYS como alternativa para a Região dos Vinhos Verdes: carga e relações entre rendimento e qualidade PAMAF (P) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ Actividade antimicrobiana de bactérias lácticas e qualidade da azeitona de mesa ■ ■ PAMAF (P) ■ Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte – IDARN (P) Sociedade dos Vinhos Borges s.a. (P) Instituto Politécnico de Beja Escola Superior Agrária de Beja (P) Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior Agrária de Castelo Branco (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) ▲ Título do projecto Programa financiador (país) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO A novel approach to preserve the intrinsic quality of fruits and vegetables in dry conservation processes - process/quality relationships supported by macroscopic and microscopic parameters AIR (UE) ■ ■ ■ Aumento da vida útil de vegetais minimamente processados EUREKA (UE) ■ ■ ■ Comando do crescimento da cerejeira e valorização das produções ■ ■ PAMAF (P) Desenvolvimento de alimentos menos poluentes – rações verdes SINDEPEDIP (P) Estudo e desenvolvimento de produtos alternativos com base nos excedentes da produção vitícola e frutícola PAMAF (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ Estudos de selecção e caracterização em sabugueiro (Sabucus nigra L.): potencialidades de aproveitameto do fruto PAMAF (P) Estudos orientados para a admissão à certificação de castas de Vitis vinifera portuguesas recomendadas para as regiões de vinho de qualidade PAMAF (P) Extraction of useful food and cosmetic ingredients of vegetable origin ■ Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Dalgety Foods Holland (H) Vereniging Nederlandse Kruiden Cooperatie u.a. (H) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) CAMPOTEC - Comercialização e Consultoria em Hortofrutícolas s.a. (P) CRYOVAC - Grace Packaging (RU) Instituto Politécnico de Bragança Escola Superior Agrária de Bragança (P) Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte – IDARN (P) Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) SOJAMIL – Sociedade de Nutrição Animal s.a. (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) FAVOFRUTO Produtos Alimentares lda. (P) REFRIGOR lda. (P) Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (P) ■ Cooperativa Agrícola do Vale do Varosa (P) ■ Universidade de Évora (P) ■ Viveiros Jorge Bohm lda. (P) ■ ■ AIR (UE) 138 ■ Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior Técnico (P) Universidade do Porto (P) Companhia Produtora de Conservas Alimentares s.a. - COMPAL (P) ▲ UCE Fermentative utilization of fruit and vegetable pomace and biowaste for production of novel types of products AIR (UE) Improvement of processed fruit and vegetable texture by using a new technology: vacuum technology AIR (UE) Influência da rega na qualidade do vinho e perenidade da videira no Alentejo ■ ■ ■ ■ ■ ■ PAMAF (P) OLITEXT - improvement of texture characteristics of some European olive-fruit varieties suitable for table-olive purposes FAIR (UE) ■ ■ ■ ■ ■ ■ O olival de azeitona Galega, Bical e Cordovil na parte sul do distrito de Castelo Branco selecção de morfotipos, caracterização isoenzimática e qualidade de azeites elementares PAMAF (P) Optimização da adubação azotada em couve lombarda, nabiças e alface com vista à redução das perdas por lixiviação e do teor de nitratos das plantas PAMAF (P) Optimização das condições de conservação de frutos tipicamente nacionais (pêra Rocha, maçã Bravo de Esmolfe e uva de mesa) ■ ■ ■ ■ ■ ■ PAMAF (P) ■ Optimização da secagem de frutos no Alentejo ■ ■ PAMAF (P) ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Eden-Waren g.m.b.h. (A) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) TMI International s.a. (RU) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) Universidade de Évora (P) Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (P) Universidade de Aveiro (P) Agro Sevilla Aceitunas Sociedad Cooperativa Andaluza (E) D. E. Georgoudis co. a.e. (G) Fratelli Carli s.p.a. (I) Maçarico ltd. (P) Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior Agrária de Castelo Branco (P) Associação dos Olivicultores da Beira Interior (P) Instituto Politécnico de Coimbra Escola Superior Agrária de Coimbra (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) GERMIPLANTA (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) CAMPOTEC – Comercialização e Consultoria em Hortofrutícolas s.a. (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade de Évora (P) HOECHST Portuguesa s.a. (P) ▲ 139 ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO Plantas aromáticas e condimentares: selecção e avaliação de usos tradicionais e aplicações alternativas em agroindústrias PAMAF (P) Qualidade física e química de frutos no período pós-colheita com vista à optimização da data de maturação e equipamento de calibragem JNICT - PBIC (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Redução de efluentes na indústria do açúcar ■ EUREKA (P) ■ Reutilização de lamas de carbonatação no processo de refinação do açúcar e no tratamento de gases de combustão PRAXIS - AdI (P) Reutilização dos efluentes e substratos alternativos em culturas sem solo de tomate de estufa PAMAF (P) Selecção de clones de cultivares de Olea europoea L. utilizados na produção do Azeite de Moura (donominação de origem) para renovação dos olivais de Serpa e Moura PAMAF (P) Substitution of synthetic sweeteners through Stevia rebaudiana bertoni FAIR (UE) Tecnologias para a valorização de plantas medicinais autóctones do Entre Douro e Minho Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior Agrária de Castelo Branco (P) União de Produtores de Plantas Aromáticas e Condimentares de Trás-os-montes (P) Universidade do Algarve (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Agroactiva, Sociedade Agrícola lda. (P) Cooperativa Agrícola dos Citricultores do Algarve – CACIAL (P) Confederação dos Empresários do Algarve – CEAL (P) União dos Produtores Hortofrutícolas do Algarve – UNIPROFRUTAL (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) RAR – Refinarias de Açúcar Reunidas s.a. (P) ■ Universidade do Minho (P) Universidade do Porto – Faculdade de Engenharia (P) ■ RAR – Refinarias de Açúcar Reunidas s.a. (P) ■ Universidade do Algarve (P) ■ HUBEL - Electrotecnia e Bombagem lda. (P) ■ ■ ■ Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) Universidade de Évora (P) ■ Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos (P) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) ■ Universidade do Algarve (P) ■ Wintersteiger g.m.b.h. (Au) ■ ■ ■ PRAXIS - AdI (P) 140 ■ ■ Universidade do Minho – Escola de Ciências (P) Universidade do Porto – Faculdade de Ciências (P) ADITIVA – Fármacos e Suplementares lda. (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte - IDARN (P) ▲ UCE 141 The effect of new and improved drying technologies in the quality of dehydrated foods ■ ■ ■ ■ FLAIR (UE) Utilização de fungicidas em vitivinicultura: efeitos em leveduras e fermentações vinárias ■ ■ ■ PAMAF (P) ■ ■ Valorização da qualidade dos produtos certificados do Norte Alentejano ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA École Nationale Supérieure des Industries Agricoles et Alimentaires (F) National University of Cork (Ir) University of Reading (RU) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Indústrias Metalúrgicas Arlindo S. Pinho s.a. (P) Instituto Politécnico de Bragança Escola Superior Agrária de Bragança (P) Universidade do Minho (P) Adega Cooperativa de Murça (P) Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte – IDARN (P) Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior Agrária de Castelo Branco (P) PAMAF (P) ■ Valorização de material vegetal cítrico ■ Universidade do Algarve (P) PAMAF (P) ■ Centro de Citricultura (P) Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre (P) Tabela 2.6: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector dos hortofrutícolas, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: A Alemanha; Au - Áustria; E - Espanha; F - França; G - Grécia; H - Holanda; I - Itália; Ir - Irlanda; P - Portugal; RU - Reino Unido; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Técnica de Lisboa (9), através do Instituto Superior de Agronomia e do Instituto Superior Técnico. Em contrapartida, a empresa nacional mais frequentemente envolvida é o Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte (4). Por outro lado, verifica-se que dos 30 projectos em causa, 7 projectos estão relacionados com processamento pós-colheita, enquanto 5 projectos estão relacionados com uvas, 5 projectos estão relacionados com upgrade de resíduos de processamento, 4 projectos estão relacionados com azeitona, 4 projectos estão relacionados com ingredientes cosméticos, medicinais e condimentares, 1 projecto está relacionado com couves, 1 projecto está relacionado com baga de sabugueiro, 1 projecto está relacionado com cereja, 1 projecto está relacionado com produtos certificados, e 1 projecto está relacionado com rações alternativas. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 142 Na Tab. 2.7 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector dos óleos e gorduras. Título do projecto Programa financiador (país) Efeito da fertilização mineral na produção da oliveira e na qualidade do azeite Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ PAMAF (P) Natural antioxidants from olive oil processing waste water FAIR (UE) O azeite virgem português como veículo de aromas alimentares e fármacos de origem natural – desenvolvimento de produto ■ Associação de Olivicultores da Beira Interior (P) Associação de Olivicultores de Trás-os-montes e Alto Douro (P) ■ Università degli Studi di Milano (I) ■ ACH Consultores lda. (P) ■ ■ ■ ■ ICPME - AdI (UE) Produção de nutricêuticos a partir de materiais subvalorizados PRAXIS - FCT(UE) Production and utilisation of Cynara cardunculus L. biomass for energy, paper-pulp and food industry JOULE 1 (UE) Production of polyunsaturated fatty acids (PUFAs) by algae: a complete bioprocessing concept for the large scale production of high quality DHA-containing oils FAIR (UE) Instituto Politécnico de Bragança Escola Superior Agrária de Bragança (P) Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia (P) ■ ■ Universidade de Coimbra – Faculdade de Farmácia (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico (P) Plumapor – Comércio e Indústria de Lípidos Alimentares lda. (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico (P) ■ Simão Cia. – Comércio e Indústria (P) ■ Universidade de Lisboa (P) ■ Azienda Agricola Baldelli Celozzi (I) ■ University of Hull (RU) ■ Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas – NECTON (P) ▲ UCE 143 Seed oils for new chemical applications ■ ■ ■ ■ ■ ■ ECLAIR (UE) ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Georg August Universität Göttingen (A) Justus Liebig Universität Giessen (A) Ruhr Universität Bochum (A) Universität Bayreuth (A) Università degli Studi di Pisa (I) Università degli Studi di Udine (I) Portusem Sementes (P) Tabela 2.7: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector dos óleos e gorduras, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: A Alemanha; I - Itália; P - Portugal; RU - Reino Unido; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Técnica de Lisboa (4), através do Instituto Superior de Agronomia e do Instituto Superior Técnico. Em contrapartida, não existem empresas destacadas em termos de número de participações. Por outro lado, verifica-se que dos 7 projectos em causa, 3 projectos estão relacionados com azeite, e os restantes 4 projectos estão relacionados com fontes não convencionais de óleos. Na Tab. 2.8 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector das bebidas não-alcoólicas. Título do projecto Programa financiador (país) Improving methods and protocols used to insure the microbiological quality of bottled mineral waters FAIR (UE) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ ■ ■ Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Universidade de Coimbra (P) DANONE Group (F) NESTEC (S) Tabela 2.7: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector das bebidas não-alcoólicas, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: F - França; P - Portugal; S - Suíça; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. As únicas instituições nacionais do Ensino Superior que participam em projectos neste subsector são a Universidade Católica Portuguesa (1), através da sua Escola Superior de Biotecnologia, a par da Universidade de Coimbra (1). Em contrapartida, não existem empre- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 144 sas nacionais envolvidas. Por outro lado, verifica-se que o único projecto em causa está relacionado com águas minerais. Na Tab. 2.9 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector da comercialização e distribuição. Título do projecto Programa financiador (país) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas Agroalimentaire paysan européen: caracteristiques distinctives des produits transformés à la ferme - comportement des consommateurs et des marchés ■ FAIR (UE) ■ Beyond supply chain management in food industry ■ INCO (UE) ■ Circuitos de comercialização de produtos hortícolas do Algarve: situações de bloqueio e perspectivas ■ PRAXIS - FCT (P) ■ ■ ■ ■ ■ Desenvolvimento de técnicas para aumentar a competitividade da comercialização de borregos de alta qualidade ■ EUREKA (UE) ■ ■ ■ Universidade Técnica de Lisboa (P) Vakakis International s.a. – agricultural development consultants (G) University College Galway (RU) Estudos e Tecnologias da Informação ESTEC (P) Universidade do Algarve (P) Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Agroactiva, Sociedade Agrícola lda. (P) Confederação dos Empresários do Algarve – CEAL (P) Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve c.r.l. – CACIAL (P) União dos Produtores Hortofrutícolas do Algarve - UNIPROFRUTAL (P) Instituto Tecnologico de Aragon (E) Universidade de Évora (P) Agrupamento de Produtores de Montemor-o-Novo s.a. – ACOMOR (P) Carne Aragon Sociedad Cooperativa lda. (E) Logistics to support continuous improvement for SMEs in the virtual enterprise ■ National University of Ireland (I) ESPRIT 4 (UE) ■ Alfamicro (P) ▲ UCE 145 The preservation of frozen food quality and safety throughout the distribution chain FAIR (UE) ■ ■ ■ ■ Optimização de qualidade e redução de custos na cadeia de distribuição de produtos hortofrutícolas PRAXIS - AdI (P) ■ ■ ■ ■ ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) AIR Products plc – European Technology Group (E) NESTEC ltd. (S) Unilever UK Central Resources ltd. (RU) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) Instituto de Desenvolvimento Agrário da Região Norte – IDARN (P) PORTUCEL Embalagem s.a. (P) SONAE Comércio e Serviços s.a. (P) Tabela 2.9: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector da comercialização e distribuição, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: E - Espanha; G – Grécia; I - Irlanda; P - Portugal; RU - Reino Unido; S - Suíça; UE União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. As instituições nacionais do Ensino Superior mais frequentemente envolvidas são a Universidade Católica Portuguesa (2), através da Escola Superior de Biotecnologia, a par da Universidade de Lisboa (2), através do Instituto Superior de Agronomia. Em contrapartida, não existem empresas que se destaquem em termos da sua frequência de participação em projectos em consórcio neste subsector. Por outro lado, verifica-se que dos 7 projectos em causa, 2 projectos estão relacionados com a logística da cadeia de distribuição, 2 projectos estão relacionados com hortofrutícolas, 1 projecto está relacionado com carnes, 1 projecto está relacionado com alimentos congelados, e 1 projecto está relacionado com o comportamento dos consumidores. Na Tab. 2.10 estão listados os projectos de I&D, de cariz industrial, no subsector da formação e disseminação supra-sectorial. A new approach to heat distribution and heat penetration studies for thermal processing of foods in modern batch-type overpressure rotary retorts AIR (UE) Instituições participantes - Ensino Superior Instituições participantes - Empresas ■ ■ Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) FMC Europe n.v. (B) ▲ Título do projecto Programa financiador (país) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO Cell engineering in Lactococcus lactis ■ ■ ■ ■ BIOTECH 2 (UE) Construction of a database of physical properties of foods FAIR (UE) ■ ■ ■ ■ Demonstração e divulgação de variedades de grão de bico de sementeira outonal, para alimentação humana e animal PAMAF (P) Disseminating the results of EU research programmes to European food SMEs via a 17-country dynamic network system (the FAIR-innovation dissemination network) FAIR (P) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Food authenticity: issues and methodologies ■ AIR (UE) ■ ■ ■ Long-distance training for small food businesses ■ LEONARDO DA VINCI 1 (P) ■ ■ ■ Harmonization of safety criteria for minimally processed foods FAIR (UE) ■ ■ ■ ■ 146 Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse (F) National University of Ireland (Ir) Rijksuniversiteit Groningen (H) Université Catholique de Louvain (B) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica - IBET (P) Universidade do Porto (P) NESTEC ltd. (S) Rank Hovis McDougall Technology ltd. (RU) Instituto Politécnico de Beja Escola Superior Agrária de Beja (P) Universidade de Évora (P) Empresa Pública de Agroalimentação e Cereais s.a. – EPAC (P) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) Féderation des Industries Agricoles et Alimentaires (F) Food Group Denmark (D) Strategic Planning Effective Engineering & Development (SPEED) ltd. (G) Universidade de Aveiro (P) Allatini Northern Greece Cereal co. ic. Ltd. (G) Coca Cola International (E) Rank Hovis McDougall (RU) Scuola Superiore del Commercio, del Turismo e dei Servizi (I) Associação Nacional de Comerciantes de Produtos Alimentares (P) Coopercaldas c.r.l. (P) Escolha Supermercados (P) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) European Chilled Food Federation (Fi) Fruidor Les Crudettes (F) NESTEC s.a. (S) ▲ UCE 147 Nutrient management legislation in EU countries ■ FAIR (UE) ■ Optimização da produção microbiana de ácido láctico ■ ■ ■ ■ EUREKA (UE) Structural changes in the European food industry: causes and implications AIR (UE) EUREKA (UE) ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ FAIR (UE) Czech Technical University (RC) Middle East Technical University (Pa) Universidade Técnica de Lisboa (P) Universita Politechnica di Bucharest (R) Universidade Técnica de Lisboa (P) ■ Volume extraction and encapsulation of flavour chemicals, pharmaceutical substances, biochemicals and enzymatic systems Kemira Agro OY (Fi) ■ ■ Validação e aprovação de novos métodos de detecção e identificação de micro-organismos em alimentos e bebidas Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia (P) Biotechnik Fm. (A) Cooperativa de Produtores de Queijo da Beira Baixa c.r.l. (P) ■ AIR (UE) UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ■ ■ ■ Test methods development for the practical assessment of food processing and equipment cleanability ■ ■ ■ AGB Dogen b.v. (H) British Sugar p.l.c. (RU) Sudfleisch g.m.b.h. (A) Unilever UK Central Resources ltd. (RU) Universidade Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia (P) H. J. Heinz and Company (RU) Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia (P) E. Merck (A) Kraft General Foods (A) Nestlé Nederland b.v. (H) R-Biopharm g.m.b.h. (A) Riedel de Haen a.g. (A) Transia Biocontrol b.v. (F) UNILEVER Nederland b.v. (H) University of Nottingham (RU) Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica – IBET (P) Tabela 2.9: Lista dos projectos de investigação e desenvolvimento (por ordem alfabética de título), no subsector da formação e disseminação supra-sectorial, activos entre 1995 e 2000, em cada um dos quais intervém, pelo menos, um parceiro de uma empresa e um parceiro do Ensino Superior. Nota: A – Alemanha; B – Bélgica; D – Dinamarca; E – Espanha; F – França; Fi – Finlândia; G – Grécia; H – Holanda; I – Itália; Ir – Irlanda; H – Holanda; P - Portugal; Pa – Palestina; R – Roménia; RC – República Checa; RU - Reino Unido; S – Suíça; UE - União Europeia. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 148 A instituição nacional do Ensino Superior mais frequentemente envolvida é a Universidade Católica Portuguesa (5), através da Escola Superior de Biotecnologia. Em contrapartida, a empresa nacional mais frequentemente envolvida é o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (2). Por outro lado, verifica-se que dos 14 projectos em causa, 5 projectos estão relacionados com caracterização, autenticação e segurança de alimentos, 2 projectos estão relacionados com culturas de arranque, 2 projectos estão relacionados com formação e caracterização do sector agroindustrial, 2 projectos estão relacionados com disseminação de resultados de I&D para PMEs, 1 projecto está relacionado com processamento térmico, 1 projecto está relacionado com propriedades físicas, e 1 projecto está relacionado com produtos de base alimentar com alto valor acrescentado. 3. Análise Da inspecção conjunta dos dados apresentados na secção anterior, verifica-se que, por ordem decrescente de número total de projectos activos no período 1995-2000, os diversos subsectores em referência podem ser listados da seguinte forma: Hortofrutícolas (30), Bebidas alcoólicas (14), Leite e lacticínios (14), Peixe e derivados (8), Óleos e gorduras (7), Cereais, leguminosas e derivados (6), Carne e derivados (4), e, por último, Bebidas não-alcoólicas (1). As áreas de competência das diversas instituições, universitárias e industriais, são portanto muito concentradas nalguns sectores, de que são exemplo os hortofrutícolas, as bebidas alcoólicas, e o leite e lacticínios, sendo os dois primeiros especificamente característicos do nosso país, porquanto lidam com matérias primas de origem vegetal, directamente associadas ao clima mediterrânico prevalecente e à composição dos sólos existente. Coligindo os valores de financiamento dos referidos projectos, em cada subsector, obtém-se uma estimativa dos gastos em I&D nesse subsector; a representação gráfica dessas estimativas, em função do total de vendas no mesmo subsector, conduz à Fig. 3.1. Observa-se um grande desequilíbrio entre os diversos subsectores industriais alimentares, no que respeita aos esforços de I&D versus UCE 149 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA fracção de financiamento externo (%) 35 LL BA CD PD CLD H OG BnA 30 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 fracção de vendas (%) Figura 3.1: Financiamento externo de I&D em cada subsector (em percentagem do total) versus volume de vendas nesse subsector (em percentagem do total); LL – leite e lacticínios; BA – bebidas alcoólicas; CD – carne e derivados; PD – peixe e derivados; CLD – cereais, leguminosas e derivados; H – hortofrutícolas; OG – óleos e gorduras; e BnA – bebidas nãoalcoólicas. Fonte: Livro Verde da Cooperação Ensino Superior-Empresa: sector industrial agroalimentar. Dados: 2001. valor de vendas: por um lado, no subsector dos hortofrutícolas e no subsector do peixe e derivados, e, em menor escala, no subsector dos óleos e gorduras, a fracção estimada de financiamento externo para projectos em cada um daqueles subsectores em relação ao total dos projectos financiados de cooperação Ensino Superior - Empresa em todos os subsectores, é consideravelmente superior à fracção de vendas desse subsector em relação ao total de vendas de todos os subsectores; por outro lado, no subsector da carne e derivados e no subsector dos cereais, leguminosas e derivados, e, em menor escala, no subsector de bebidas alcoólicas, e, ainda em menor escala, no subsector das bebidas não-alcoólicas e no subsector do leite e lacticínios, a fracção estimada de financiamento externo para projectos em cada um daqueles subsectores em relação ao total dos projectos financiados de cooperação Ensino Superior - Empresa em todos os subsectores, é substancialmente inferior à fracção de vendas desse subsector em relação ao total de vendas de todos os subsectores. Conclui-se, portanto, que o financiamento recebido através de projectos de I&D não incide preferencialmente nos subsectores alimentares onde se observa o maior consumo, embora esta situação tenda a corrigir-se ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ COLABORAÇÃO 150 com o decorrer dos anos; consequentemente, os esforços de maior qualidade científica e as melhores parcerias são ainda incapazes de responder às expectativas e necessidades mais prementes, porquanto relacionadas com os produtos alimentares de maior expressão comercial. O valor estimado de financiamento externo global é de c. 30 MXEU para os oito sectores estritamente produtivos (i.e. Leite e lacticínios, Bebidas alcoólicas, Carne e derivados, Peixe e derivados, Cereais, leguminosas e derivados, Hortofrutícolas, Óleos e gorduras, e Bebidas não-alcoólicas); o valor médio de vendas global neste oito subsectores (no período 1992-95) é de c. 866 MXEU; assim sendo, o valor médio dispendido em esforços de I&D, em consórcio Ensino Superior - Empresa, é de c. 3.5% das vendas, valor que pode ser rotulado de significativo face aos padrões internacionais clássicos no sector alimentar. Em termos do valor de financiamento externo aplicado na cobertura de esforços de I&D em consórcio Ensino Superior - Empresa, concluise que o Peixe e derivados é o subsector em que a fracção relativa ao volume de vendas é mais elevada (ca. 17.7%); segue-se o dos Hortofrutícolas (ca. 11.3%), o dos Óleos e gorduras (ca. 9.4 %), o do Leite e lacticínios (ca. 2.5%), o das Bebidas alcoólicas (ca. 1.6%), o das Bebidas não-alcoólicas (ca. 1.3%) e, finalmente, o das Carnes e derivados (ca. 0.3%). Verifica-se, finalmente, que a capacidade de atrair financiamento comunitário para os esforços de I&D tem vindo a diminuir gradualmente ao longo dos sucessivos Programas Quadro; tal denota uma incapacidade para fazer face à competição por parte de outras instituições de I&D europeias, normalmente melhor equipadas em termos de recursos materiais e humanos (esta observação aplica-se quer ao número de projectos, quer ao valor do seu orçamento global). ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 6. Percursos “É sempre prudente olhar em frente, mas é difícil olhar para mais longe do que pode ver-se.” Winston Churchill, político britânico (1874-1965) 153 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Empregabilidade Dado que as novas medidas de política educativa conduziram a um aumento substancial no número de jovens diplomados pelo Ensino Superior, coloca-se aos responsáveis políticos a questão de saber até que ponto a nossa economia tem capacidade para permitir a todos estes diplomados encontrar emprego. O problema é, não obstante, mais complexo do que pode parecer à primeira vista, pois não reside apenas em saber se existe um desajustamento quantitativo, i.e. se o volume da população diplomada transcende (ou fica aquém) das solicitações do mercado de emprego; a questão coloca-se, também, em termos de desajustamento qualitativo, i.e. se as qualificações da população diplomada se encontram desfasadas (ou não) das necessidades reais da economia, podendo assim obstar ao desenvolvimento do país, internamente e na sua envolvente europeia mais alargada. Quanto às saídas profissionais do Ensino Superior, verifica-se que até 1984 os diplomados por este grau de ensino se encontravam numa situação generalizada de pleno emprego. O mercado de trabalho revelou, até 1993, uma elevada capacidade de absorção, apesar da rápida expansão desse nível de ensino registada na segunda metade da década de 80. A taxa de desemprego, registada em 1993 para este grupo de ex-alunos, era de 2.8%, e reporta-se predominantemente às formações na área de Letras (27.6%) e de Ciências humanas e sociais (19.9%); 87% dos alunos diplomados entre 1985 e 1990 exerceram actividades directamente relacionadas com o respectivo curso, alegando, no entanto, em ca. 40% dos casos, ter sentido uma deficiente preparação prática ao nível da sua formação inicial. Entre 1993 e 1996, registou-se uma inversão de tendência, com um desemprego crescente dos diplomados. A elevação em c. 97% do desemprego neste período revela um desajustamento entre a oferta recente de Ensino Superior (nomeadamente resultado da expansão do Ensino Superior politécnico e universitário de iniciativa privada) e a procura do mercado, na medida em que no final de 1996, 65.8% destes desempregados tinham menos de 30 anos de idade, e 63.2 % procuravam emprego há pelo menos 1 ano. O desemprego dos licenciados incide maioritariamente nas áreas de Administração e gestão (25.2%), Justiça e ordem pública (8%), Serviço social (5.3%), Linguística e literatura (4.9%) e Relações públi- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 154 cas (4.8%); não se registam problemas de monta para os licenciados nas áreas de Engenharia, e em particular na subárea alimentar. Dados informativos sobre a empregabilidade no sector das Engenharias/Tecnologias apontam para as tendências inscritas na Tab. 1.1. TEMPO DE ESPERA À PROCURA DE EMPREGO EMPREGO GENÉRICO (%) EMPREGO COMPATÍVEL COM HABILITAÇÕES (%) 0 meses 74.32 - 0 - 6 meses 9.77 38.35 6 – 12 meses 10.68 40.60 1 – 3 anos 5.23 18.80 3- 5 anos - - > 5 anos - 2.26 Tabela 1.1: Tempo que medeia entre a conclusão da licenciatura na área de Tecnologia e a obtenção de emprego, para licenciados no período 1979-90. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. Os dados desta tabela confirmam a constatação anterior: regra geral, os licenciados nas áreas de Tecnologia não apresentam grande dificuldade em ser absorvidos pelo mercado de trabalho, uma vez concluída a sua formação superior (mais de 80% conseguem emprego nos primeiros 6 meses), embora a contratação num emprego compatível com as habilitações só ocorra tipicamente mais tarde (até 1 ano póslicenciatura em c. 80% dos casos). Não basta, portanto, elevar o nível educativo da população activa aumentado o volume da população diplomada; torna-se imperioso que as instituições do Ensino Superior funcionem com os cursos adequados, e ministrem os curricula que permitam aos diplomados obter os conhecimentos necessários à modernização do tecido empresarial, tornando a economia portuguesa mais competitiva no panorama internacional. Para efeitos ilustrativos, representa-se na Fig. 1.1 a fracção de diplomados pelo Ensino Superior em grandes áreas sectoriais. Da observação da figura supra, ressalta que a maioria da população diplomada realizou o seu curso na área de Letras e ciências humanas; ressalta igualmente a terceira posição ocupada pelas Tecnologias (onde se inclui a formação em Engenharia Alimentar), com 13.5% da referida 155 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA LCH CEN CS A D T CMPF AP CA OC Figura 1.1: Distribuição, em 1991 e por áreas de cursos, dos licenciados pelo Ensino Superior no período 1979-90. LCH – Letras e Ciências Humanas; CEN - Ciências Exactas e Naturais; CS - Ciências Sociais; A - Artes; D: Direito; T: Tecnologias; CMPF – Ciências Médicas, Paramédicas e Farmacêuticas; AP – Agro-Pecuária; CA – Ciências do Ambiente; e OC – Outros Cursos. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. população – note-se, a este propósito, que os cursos de Tecnologia ocupavam a segunda posição, com 15.5%, no período 1979-84, tendo caído para a terceira posição, com 12.8%, no período 1985-90. A situação de deficit de diplomados nas áreas de Tecnologias é susceptível de originar um desajustamento estrutural no binómio educação/emprego, impeditivo de uma maior competitividade da economia, na medida em que o capital humano não está a ser integralmente rentabilizado. Tradicionalmente, as empresas nacionais tinham nos seus quadros uma pequena percentagem de técnicos com formação superior, em consonância com o baixo grau de formação da população portuguesa: em 1970, as profissões científicas e técnicas, e os dirigentes e quadros superiores representavam apenas 4% do conjunto da população activa, enquanto em 1991 tal valor havia já subido para 12%. O deficit de qualificações no tecido económico era altamente penalizador de qualquer política tecnológica, mas a situação está a evoluir rapidamente. De facto, em 1972 existiam em Portugal c. 15 mil diplomados em Engenharia, dos quais 65% desenvolviam a sua actividade em empresas; em 1991, os diplomados eram já c. 54 mil, mantendo-se a mesma percentagem dos que desenvolviam a sua actividade em empresas. Na Tab. 1.2 inclui-se uma distribuição dos diplomados do Ensino Superior por ramos de actividade. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 156 SECTOR DE ACTIVIDADE ECONÓMICA (ORDEM ALFABÉTICA) 1979-84 1985-90 Agricultura, silvicultura e pescas 1.74 0.74 Indústrias extractivas 0.19 0.00 Indústrias alimentares 0.58 0.66 Indústrias têxteis 0.29 0.85 Indústrias da madeira e da cortiça 0.39 0.07 Indústrias químicas e do papel 1.16 1.66 Outras indústrias transformadoras 2.71 3.61 Construção civil 2.61 2.58 Comércio, restauração e hotelaria 8.70 5.04 Transportes e comunicações 0.19 2.10 Banca e seguros 2.61 2.83 Serviços prestados às empresas 12.85 13.98 Serviços colectivos, sociais e pessoais 65.99 65.89 Tabela 1.2: Distribuição percentual dos diplomados do Ensino Superior, no período 1979-90, por sectores de actividade económica. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. Constata-se, então, que a percentagem de diplomados na área das indústrias alimentares é ainda diminuta (não obstante a procura elevada do mercado), embora com tendência para aumento. A distribuição dos funcionários das indústrias alimentares pelas várias tipologias de licenciados está representada na Fig. 1.2. LCN CEN CS D T AP Figura 1.2: Distribuição, nas indústrias alimentares, dos licenciados no período 1979-90 por grandes áreas de formação. LCU – Letras e Ciências Humanas; CEN - Ciências Exactas e Naturais; CS - Ciências Sociais; D: Direito; T: Tecnologias; e AP – Agro-Pecuária. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. UCE 157 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Conclui-se que a esmagadora maioria dos lugares de diplomados é ainda ocupada por licenciados na áreas da agro-pecuária, o que indicia fortes oportunidades de carreira para os Engenheiros Alimentares à medida do envelhecimento desses quadros, que se verifica concomitantemente com a baixa de procura de formações superiores no sector primário. Os próximos anos vão ser decisivos para consolidar, de forma estratégica e planeada, o esforço de investimento e de formação de recursos humanos, o qual se virá necessariamente a exprimir num maior nível de produção científica, na criação de massas críticas em certas áreas de excelência, no alargamento da cooperação científica e tecnológica internacional, e na articulação mais estreita entre os sistemas de ciência e tecnologia e os sistemas de inovação empresarial. A este título, observe-se a distribuição de diplomados em Tecnologias, por faixa etária e sexo, conforme consta da Fig. 1.3. percentagem da população activa (%) 30 sexo feminino sexo masculino 25 20 15 10 5 0 < 30 anos 31 - 40 anos 41 - 50 anos > 50 anos faixa etária Figura 1.3: Distribuição percentual, em relação à respectiva população activa em 1991, por faixa etária e por sexo, dos licenciados pelo Ensino Superior na área de Tecnologias. Fonte: COMPTA-RH Dados: 1996. A distribuição supra evidencia não apenas uma relativa juventude da população de diplomados nas áreas de Tecnologia (o que é, em geral, favorável à renovação do tecido industrial), mas igualmente uma predominância do sexo masculino, que tende, não obstante, a reduzir-se ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 158 com os anos (o que é, regra geral, favorável ao melhoramento das relações humanas, e ao equilíbrio de funcionamento no seio das empresas). 2. Intervenção A necessidade de actualização e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos durante o percurso escolar, aliada à crescente oferta de cursos de especialização pós-licenciatura, tem vindo a reflectir-se na apetência da população diplomada para aumentar os seus conhecimentos técnico-científicos. A aquisição de qualificações e de graus académicos mais elevados contribuem para a estabilidade do emprego, assim como para a progressão profissional. Uma breve panorâmica àcerca do impacto que os cursos de graduação têm tido na população diplomada está patente na Fig. 2.1. Doutoramento Mestrado MBA Pós-Graduação Curso de especialização Curso de formação Figura 2.1: Distribuição dos diplomados do Ensino Superior pelas diversas tipologias de formação pós-graduada. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. Existe uma preferência nítida pelos cursos de especialização, seguida consideravelmente atrás pela formação de Mestrado; o Doutoramento foi escolhido por uma pequena fracção, sendo residual a obtenção do título de Master in Business and Administration (MBA). Note-se, porém, que apenas c. 21% dos licenciados aprofundaram os seus conhecimentos técnico-científicos ao nível da pós-graduação, sendo esta percentagem mais elevada para o sexo masculino do que para o sexo feminino. UCE 159 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA percentagem de licenciados (%) No caso particular dos licenciados em Engenharia Alimentar, e para o case study da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, a distribuição entre o mercado de trabalho e a formação pós-graduada é apresentada na Fig. 2.2. 100 formação pós-graduada emprego 80 60 40 20 0 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 ano lectivo Figura 2.2: Distribuição de licenciados em Engenharia Alimentar, após término da sua formação universitária. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. Verifica-se, assim, que uma porção significativa dos licenciados (entre 10 e 40 %, dependendo do ano lectivo em causa) opta por prosseguir os seus estudos, sendo que tal fracção tende a aumentar com o decorrer do tempo. A natureza de tais oportunidades de formação, ao nível complementar, para os licenciados em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia é conforme se exemplifica na Fig. 2.3. Constata-se que os programas de Mestrado são o tipo de formação preferida após a licenciatura, logo seguidos das pós-graduações de carácter mais profissional, conducentes a diploma mas não a título académico. Um ponto importante, porquanto inicial, do percurso profissional dos licenciados em Engenharia Alimentar prende-se com a forma de recrutamento pelas entidades empregadoras. Os resultados para o caso geral dos diplomados em Engenharia estão plasmados na Tab. 2.1. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 160 Doutoramento Mestrado Pós-Graduação Curso de formação Figura 2.3: Distribuição de licenciados em Engenharia Alimentar pelos diversos tipos de formação pósgraduada. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2001. FORMA DE ACESSO AO EMPREGO ACTUAL Resposta a anúncio PERCENTAGEM 21.9 Colocação de anúncio 0.5 Redes familiares / amigos / professores 29.8 Canais ligados ao estabelecimento de ensino 1.6 Sequência de estágio 4.7 Candidatura espontânea 16.8 Inscrição em Centro de Emprego 0.5 Criação do próprio emprego 5.5 Convite 3.6 Concurso 18.4 Outras 1.4 Tabela 2.1: Trajectória de ingresso na vida activa dos licenciados em Engenharia. Fonte: INOFOR. Dados: 2000. O emprego actualmente ocupado foi maioritariamente obtido (c. 40% dos casos) através de vias formais de acesso, i.e. concurso e resposta a anúncio. No entanto, é de realçar que as redes de relação pessoal são também um importante meio de acesso ao emprego, ocupando a segunda posição com c. 30%. Registe-se ainda que c. 23% dos finalistas tiveram uma atitude activa em relação ao emprego, através de candidaturas espontâneas, criação do próprio emprego e colocação de anúncio. 161 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA No caso mais específico dos licenciados em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia, são os seguintes os resultados obtidos em relação ao início da carreira profissional. resposta a anúncio Serv.Ac.Psic.Prof. candidat. espontânea conhecimento prévio Figura 2.4: Vectores de ingresso no mundo profissional de licenciados em Engenharia Alimentar. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. Conclui-se que as empresas contratam preferencialmente através do Serviço de Acompanhamento Psicológico e Profissional, que serve assim de vector directo de ingresso no mundo profissional a c. 1/3 de todos os licenciados — tal indicia uma preferência por licenciados pela Escola Superior de Biotecnologia em detrimento doutras instituições de origem. No entanto, existe igualmente contratação por resposta a anúncio e conhecimento prévio dos responsáveis e, mais atrás, por candidatura espontânea. Em termos de grandes tipologias de intervenção profissional, a distribuição dos licenciados em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia está esquematicamente representada na Fig. 2.5. Constata-se que o sector industrial é o que tem absorvido maior número de licenciados: de facto, c. 51% trabalham no sector industrial, c. 30% no sector do comércio e serviços, e c. 19% no sector do ensino/investigação. Por outro lado, a absorção de licenciados pelo ensino e investigação tem vindo a decrescer à custa do aumento de absorção pela indústria, enquanto o comércio/serviços exibem um comportamento oscilatório. percentagem de licenciados (%) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 162 100 Comércio e Serviços Ensino e Investigação Indústria 80 60 40 20 0 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 ano lectivo Figura 2.5: Distribuição de licenciados em Engenharia Alimentar pelas diversas tipologias de intervenção profissional. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. Em relação especificamente à actividade industrial, a distribuição por subsectores de actividade dos licenciados em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia não é uniforme, conforme se atesta por observação da Fig. 2.6. Verifica-se que c. 92% dos licencia- alimentar geral bebidas café conservas lacticínios massas e moagem pescado não-alimentar Figura 2.6: Distribuição de licenciados em Engenharia Alimentar por subsector de intervenção industrial. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. dos estão adstritos ao sector alimentar, sendo que 21% do total exerce actividade profissional no subsector das bebidas e que idêntica percentagem é assegurada pelo subsector alimentar geral. 163 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Esta análise pode ser ainda mais aprofundada se se incidir na natureza da intervenção industrial dos licenciados em Engenharia Alimentar; no caso da licenciatura ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia, a situação actual é descrita de seguida. Aprovisionamento Certificação Comercial Consultoria Ensino I&D Produção Qualidade Outra Figura 2.7: Distribuição de licenciados em Engenharia Alimentar por natureza de intervenção industrial. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. Observa-se que a área da qualidade é dominante, embora exista alguma polivalência de funções. Seguem-se, bastante atrás, as áreas do ensino e I&D, da consultoria, e comercial, com aproximadamente o mesmo peso. Por forma a obter uma imagem global e completa dos percursos profissionais, o ponto de vista das entidades empregadoras assume grande relevância, em especial no que respeita aos motivos que levam uma empresa a contratar um Engenheiro Alimentar. Os resultados do inquérito às entidades empregadoras de Engenheiros Alimentares, licenciados pela Escola Superior de Biotecnologia, conduziu aos resultados representados na Fig. 2.8. A principal razão sobre a qual assenta a contratação prende-se com o facto de a empresa desenvolver a sua actividade no sector alimentar. Refira-se, logo de seguida, a relevância da formação específica em qualidade, área estratégica que se tem mostrado fundamental para as empresas devido ao seu impacto estruturante. Outras razões apontadas respeitam às boas formações básica e específica, ao enquadra- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 164 mento estratégico, e à conjuntura de mercado; mais atrás, surge a existência de protocolo com a Escola Superior de Biotecnologia através da sua associação empresarial, a AESBUC. área alimentar conjuntura de mercado formação básica formação específica enquadram. estratég. gestão da qualidade protocolo AESBUC Figura 2.8: Motivos conducentes à contratação de Engenheiros Alimentares por empresas. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. No caso geral dos diplomados em áreas de Tecnologia no período 1979-90, um levantamento exaustivo ao regime de actividade profissional indicou que: (i) 9.09% exercem profissão liberal (correspondentes a 14.29% do sexo masculino e 1.78% do sexo feminino); (ii) 9.51% encontram-se na situação de estagiário (6.52% do sexo masculino e 11.11% do sexo feminino); (iii) 11.64% estão contratados a prazo (20.77% do sexo masculino e 5.85% do sexo feminino); e (iv) 16.24% são efectivos (27.61% do sexo masculino e 5.62% do sexo feminino). Conclui-se, assim, sobre a relativa precaridade do emprego (que, aliás, acompanha as tendências a nível nacional em todos os sectores da economia), a qual é mais frequente no caso do sexo feminino. A produtividade concertada das empresas é essencial para permitir o aumento sustentado da massa salarial, o qual se traduz no aumento dos índices de conforto e dos indicadores de bem-estar dos seus funcionários e, por último, da população em geral. Por outro lado, tal não significa necessariamente um aumento da taxa de desemprego, mas obriga à actualização permanente de qualificações para permitir a adaptação a novos desafios e condicionantes externas inesperadas, as quais deverão ser cada vez mais dirigidas para o consumidor, UCE 165 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA tomando partido de utilities tecnológicas e informação actualizada. Em termos de remunerações médias nas empresas do sector alimentar, é interessante analisar os dados apresentados na Fig. 2.9. renumeração média mensal (103 PTE) 200 0-4 5-9 10-19 20-49 50-99 100-199 200-399 400-499 50-999 ≥ 1000 150 100 50 0 todas as actividades ind. agroalimentares Figura 2.9: Remuneração média mensal nas indústrias agroalimentares e nas restantes actividades económicas em Portugal, em função da dimensão da empresa em pessoal. Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Dados: 1996. Constata-se que os salários médios praticados nas PMEs do sector agroalimentar são um pouco inferiores aos salários médios nacionais para essa tipologia de empresas. Em contrapartida, o salário médio nas empresas alimentares cresce tipicamente com o aumento do tamanho da empresa em termos de pessoal, sendo particularmente notórios os valores praticados pelas empresas de maior dimensão; neste caso, o salário médio situa-se consideravelmente acima da média nacional respeitante a todas as actividades empresariais. No caso particular dos Engenheiros Alimentares licenciados pela Escola Superior de Biotecnologia e contratados por empresas, a distribuição salarial em início de carreira é conforme representada na Fig.2.10. O salário médio é de c. 206 c. mensais, o que posiciona os Engenheiros Alimentares bem acima da média salarial nas indústrias alimentares, conforme aferido por inspecção da Fig. 2.9. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 166 140-180 180-220 220-260 260-300 Figura 2.10: Remuneração média mensal (em 103 PTE) de Engenheiros Alimentares contratados pela indústria. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. A título comparativo com a situação prevalecente no início de carreira (após estabilização no emprego) no caso de Engenheiros contratados por empresas, inclui-se na Fig. 2.11 a respectiva distribuição de remunerações. 40 sexo masculino sexo feminino percentagem 35 30 25 20 15 10 5 > 500 450 - 500 400 - 450 350 - 400 300 - 350 250 - 300 200 - 250 150 - 200 100 - 150 61.3 - 100 <61.3 (SMN) 0 gama salarial Figura 2.11: Distribuição salarial de licenciados em Engenharia, por sexos, cinco anos após a obtenção do respectivo diploma. Fonte: INOFOR. Dados: 2000. Conclui-se que a remuneração da maior parte dos licenciados em Engenharia se situa no escalão 150-200 kPTE, sendo que c. 60% recebem menos de 200 kPTE mensais no caso do sexo feminino, e c. 55% UCE 167 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA recebem menos de 250 kPTE mensais no caso do sexo masculino; os salários médios são de 204.3 ± 2.0 e 265.5 ± 2.3 kPTE para o sexo feminino e o sexo masculino, respectivamente. Note-se que os valores da Fig. 2.11 correspondem à situação respeitante a cinco anos após a entrada na vida activa pós-licenciatura, enquanto os da Fig. 2.10 se reportam ao início de carreira, pelo que existem diferenciais óbvios relativos à progressão profissional durante aquele período (que deverão ser levados em linha de conta para efeitos de comparação). A aptidão da formação académica recebida durante a licenciatura em Engenharia Alimentar para o exercício profissional é da maior relevância. Os resultados do inquérito feito aos ex-alunos da Escola Superior de Biotecnologia sobre esta temática conduziu à elaboração da Fig. 2.12. grau de relevância 4 3 2 1 Tecnol. alimentar Química alimentar Técnicas analíticas Marketing Microbiologia Informática Gestão Estatística Embalagem Elabor. projectos Controlo Qualidade Desenvolv. produto Comunicação Análise sensorial 0 aptidão académica Figura 2.12: Opinião de licenciados em Engenharia Alimentar sobre as aptidões académicas exigidas pelo desempenho profissional: 0 – muito fraco; 1 – fraco; 2 – médio; 3 – bom; 4 – muito bom. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. De um modo geral, pode concluir-se que os licenciados classificam a formação ministrada na instituição de positiva, com especial destaque para as componentes analíticas e de microbiologia; em contrapartida, as componentes de gestão são cotadas como ligeiramente fracas. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 168 No caso do sector industrial alimentar considerado como um todo, c. 57% dos licenciados acham que a actividade que desenvolvem é compatível com o seu curso, c. 14% consideram que existe fácil passagem da teoria à prática, e c. 14% concluem que a actividade que desenvolvem está de acordo com a carreira profissional almejada; apenas c. 14% dos licenciados se manifestou descontente com o seu percurso profissional, designadamente por a actividade desenvolvida ser incompatível com a formação recebida no curso. Quando questionados sobre as causas da compatibilidade entre a formação superior e a actividade profissional, c. 78 % dos licenciados pronunciaram-se no sentido de as funções desenvolvidas estarem relacionadas com o curso, e apenas c. 9% em sentido contrário; o curriculum da licenciatura foi considerado insuficiente em c. 13% dos casos. Gosto pela profissão Falta de condições Maior ambição Incompatibilidades Insatisfação profissional Baixa renumeração Para além da preparação técnico-científica, um dos pontos mais importantes ao nível do desempenho profissional decorre da motiva- 65.79 10.53 5.26 - - - - - 100.00 - - - Indústrias alimentares 91.67 - - - - - Indústrias têxteis 73.08 - 7.69 3.85 3.85 11.54 Indústrias da madeira e da cortiça 66.67 - 33.33 - - - Indústrias químicas e do papel 54.39 - 22.81 - - 3.51 Outras indústrias transformadoras 78.57 3.97 12.70 - 2.38 - Construção civil 76.29 1.03 15.46 - - 3.09 Comércio, restauração e hotelaria 66.52 2.20 12.78 7.49 1.32 2.20 Transportes e comunicações 72.88 - 18.64 - - - Banca e seguros 50.00 2.88 18.27 14.42 7.69 - Serviços prestados às empresas 68.23 0.58 17.35 0.78 0.58 1.95 Serviços colectivos, sociais e pessoais 70.41 5.54 9.42 1.98 3.11 3.35 SECTOR DE ACTIVIDADE ECONÓMICA (ordem alfabética) Agricultura, silvicultura e pescas Indústrias extractivas Tabela 2.2: Distribuição percentual das causas da realização profissional (ou ausência da mesma) para os diplomados do Ensino Superior, no período 1979-90, por sectores de actividade económica. Fonte: COMPTA-RH. Dados: 1996. 169 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ção com que são desenvolvidas as actividades no emprego; alguns dados a este propósito estão tabelados na Tab. 2.2, para diversos sectores de actividade profissional. É surpreendente o grau de satisfação dos licenciados com a profissão actualmente desempenhada no sector das indústrias alimentares, em especial quando comparado com os dados respeitantes aos outros sectores de actividade. As empresas empregadoras, quando questionadas acerca da relação entre a formação académica e o desempenho profissional, respondem de forma geral que tal relação é perfeitamente adequada, i.e. a licenciatura em Engenharia Alimentar confere um nível de integração de conhecimentos adequado ao exercício prático das funções profissionais pelo licenciado. Um aspecto focado com especial ênfase é a capacidade de resolução de problemas de forma eficiente, o que pressupõe não só a existência de competências técnicas avançadas e abrangentes, mas igualmente a capacidade de integração transversal e multidisciplinar. Dados complementares, em termos qualitativos e quantitativos, sobre a formação ministrada na instituição, e em particular sobre o quão adequada esta é em relação às expectativas e exigências profissionais, podem ser obtidos por análise da reacção das entidades empregadoras aos Engenheiros Alimentares licenciados pela Escola Superior de Biotecnologia; os resultados médios estão plasmados na Fig. 2.13. Todas as competências consideradas nos inquéritos são classificadas como importantes; porém, a iniciativa, a motivação e as relações humanas são particularmente valorizadas. Tais resultados confirmam a importância do percurso académico incluir no seu curriculum oportunidades de desenvolvimento destes soft skills, de modo integrado e sistemático. Outras características, de índole mais técnica, da licenciatura em Engenharia Alimentar, tais como o controlo de qualidade, a análise sensorial, a embalagem, a informática e a elaboração de projectos, são igualmente destacadas; em contrapartida, o marketing e a gestão assumem a menor valorização. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PERCURSOS 170 grau de relevância 4 3 2 1 Tecnol. alimentar Técnicas analíticas Relações humanas Motivação Química alimentar Marketing Microbiologia Iniciativa Língua estrangeira Gestão Informática Estatística Embalagem Elabor. projectos Desenvolv. produto Análise sensorial Controlo Qualidade 0 aptidão académica Figura 2.13: Opinião das entidades empregadoras sobre as competências técnicas e pessoais de Engenheiros Alimentares para o desempenho de funções: 0 – muito fraco; 1 – fraco; 2 – médio; 3 – bom; 4 – muito bom. Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. Adaptação a novas situações Autonomia e capacidade de relacionamento Bases de engenharia e biologia alimentar Boas práticas de laboratório Bom desempenho na área produtiva Bons conhecimentos de análise sensorial Bons conhecimentos na área da qualidade Capacidade de análise Capacidade de argumentação Conhecimentos de tecnologias alimentares e técnicas analíticas Formação multidisciplinar Iniciativa Visão geral do funcionamento de uma empresa num subsector Tabela 2.3: Especificidades de formação de Engenheiros Alimentares (por ordem alfabética). Fonte: Serviços de Acompanhamento Psicológico e Profissional. Dados: 2002. 171 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA As principais especificidades apontadas pelas empresas empregadoras, acerca da formação em Engenharia Alimentar ministrada pela Escola Superior de Biotecnologia, estão listadas na Tab. 2.3. Note-se que as respostas supra foram obtidas em formato aberto, não tendo havido direccionamento artificial das questões colocadas. Novamente se regista que não apenas os aspectos técnicos, como também as competências transversais, são aspectos valorizados na formação destes licenciados. Em conclusão, as necessidades ao nível das competências e da formação requeridas para os licenciados em Engenharia Alimentar, podem ser global e sinteticamente descritas como: (i) boa cultura geral; (ii) sólida formação tecnológica; (iii) conhecimentos razoáveis de gestão; (iv) domínio de línguas (para além do português); (v) domínio de linguagens técnicas específicas (p.ex. informática e matemática); (vi) capacidades de comunicação e de relacionamento interpessoal (com estilo firme, mas não autoritário); (vii) participação, criatividade, inovação e autonomia; e (viii) atitude de permanente aprendizagem. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 7. Internacionalização “O viajante é, ainda, o que mais conta numa viagem.” André Suarès, escritor francês (1868-1948) 175 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Globalização Encontramo-nos hoje numa sociedade profundamente transformada, cuja velocidade de mudança é cada vez maior — o mundo é, de facto, atravessado por correntes de ideias e aspirações, que se trespassam, misturam e fecundam. A mobilidade, a informação, a tecnologia, e o carácter não-linear das relações sociais e políticas não são fenómenos de hoje; o que é verdadeiramente novo é a sua intensidade, gerada pelo denso e fértil campo de relações cruzadas de ideias, sistemas e fenómenos, a todos os níveis da vida humana, e das suas construções materiais e intelectuais, naquilo que se convencionou designar pelo neologismo de globalização (na economia, na circulação de informação ou na produção industrial). A globalização da economia é um fenómeno complexo, que se caracteriza pelo carácter transnacional dos diferentes mercados e sectores produtivos, e por uma interacção à escala mundial dos actores económicos, mormente as empresas. Porém, tal fenómeno não ocorreu de forma repentina: houve uma primeira fase, nas décadas de 50 e 60, caracterizada por um forte crescimento do comércio internacional; uma segunda fase, na década de 70, com a ênfase nos mercados de capitais; e uma terceira fase, na qual nos encontramos desde os anos 80, com fortes investimentos de carácter trans-nacional correlacionados com a internacionalização da tecnologia. Aliás, a globalização da economia está profundamente ligada ao crescimento tecnológico, pois uma e outra catalizam-se mutuamente. O mundo viu cair um dos últimos bastiões da linearidade dos sistemas políticos, com o desmantelamento da União Soviética em 1989. A partir desta data, nas múltiplas vertentes que vão da política à actividade científica, as sociedades evoluídas deixaram de estar moldadas aos padrões do pós-guerra, caracterizados por um mundo bipolar. Quebrada a bipolaridade política do mundo, as características da sua não-linearidade começaram a sobressair. E as consequências de uma tal nãolinearidade são, essencialmente, a capacidade de certas pequenas acções de países, empresas ou indivíduos produzirem grandes efeitos em prazos relativamente curtos, embora sempre mais longos do que os produzidos por actuações de grandes potências, monopólios ou grupos ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ INTERNACIONALIZAÇÃO 176 científicos. Com isto diminui o nosso horizonte de previsibilidade; e com a perda da capacidade de previsão, vem a perda de coesão — a ignorância e a incerteza nunca foram capazes de gerar solidariedade. Presentemente, assistimos à mobilidade estratégica das empresas e dos seus meios de produção, a qual, associada à mobilidade dos meios financeiros e à baixa dos custos de transporte, permite a deslocalização industrial em busca de custos salariais e encargos sociais mais baixos. Caminhamos, portanto, rumo a uma sociedade onde a economia assenta cada vez mais no conhecimento profissional, conducente a elevadas destrezas e capacidades, alta tecnologia e salários elevados: novos padrões de trabalho, melhor ajustados à mudança e à imprevisibilidade; maior flexibilidade e adaptabilidade; melhores conhecimentos básicos e formação permanente; skills menos especializados; capacidade mais elevada de inovação e reciclagem; e maior responsabilidade individual de cada trabalhador (de colarinho azul ou branco). Mas, ao mesmo tempo, outros problemas surgem ou se agudizam: cresce o desemprego e a exclusão social; a população está a envelhecer; os valores tradicionais assentes no papel da família estão em declínio; e ocorrem a revolução dos multimedia, o consumismo e a rápida obsolescência de bens. Não obstante, os saberes científico e técnico possuem um carácter cumulativo, que permite um crescimento ilimitado do capital humano a nível mundial, em contraste com os bens físicos, que se tornam inadequados em prazos relativamente curtos. O sucesso ou o fracasso dos diferentes países no primeiro quartel do sec. XXI continuará a depender do factor crescimento. E este está ainda intimamente associado às forças e fraquezas das diferentes indústrias produtivas de cada país, embora o valor acrescentado do bem produzido se situe cada vez mais na sua componente imaterial, i.e. mais na concepção e menos na execução. Eis, pois, onde se está a jogar a competitividade das nações, e eis porque o investimento no conhecimento apresentará rendibilidades muito maiores, a médio e longo prazos, do que o investimento em bens estritamente materiais. No âmbito do investimento em conhecimento numa perspectiva globalizante, qualquer análise deve começar por se debruçar sobre o grau de cultura dos estudantes universitários (na medida em que, UCE 177 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA sendo potenciais profissionais no curto e médio prazo, irão estar provavelmente encarregados das actividades de concepção e coordenação susceptíveis de provocar as maiores mudanças); tal população é consumidora de informação veiculada pelos mass media, a qual possui âmbito cada vez mais internacional. A este propósito, observemse os resultados patentes na Tab. 1.1. ASSUNTOS PERCENTAGEM Educação 37.7 Cinema 36.3 Música 32.5 Televisão 29.2 Desporto 28.9 Local / regional 27.9 Ciência 24.9 Moda / beleza 21.9 Viagens / turismo 19.3 Política 19.2 Economia 14.5 Informática 15.9 Literatura 13.9 Sociedade / faits divers 9.9 Artes plásticas 7.4 Tabela 1.1: Perfil da prática de leitura frequente por assuntos em jornais e revistas (por ordem decrescente de percentagem). Fonte: CNASES. Dados: 1997. Registe-se a importância da educação como tema de leitura (c. 38%); porém, pode constatar-se que os assuntos lidos com maior frequência pela maioria dos estudantes referem-se a cinema, música, televisão e desporto, no que se aproximam do perfil da população em geral. É interessante também verificar que c. 25% dos estudantes se interessam por temas de ciência, score bastante acima do atingido por assuntos respeitantes a uma cultura mais diferenciada (p.ex. artes plásticas, literatura, economia ou política). Esta análise parcelar deve ser complementada com os tópicos de leitura de livros (porquanto repositórios mais estruturados e profundos ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ INTERNACIONALIZAÇÃO 178 de informação); para este efeito, tabelam-se de seguida o resultados obtidos no seio da população universitária. GÉNERO LITERÁRIO PERCENTAGEM Romance 20.4 Aventuras 18.8 Banda desenhada 15.8 Ciência 12.3 Policial / mistério 12.2 Ficção científica 10.8 Poesia 7.9 Ensaio político / filosófico / social 6.3 Arte 5.1 Turismo 4.1 Teatro 1.2 Tabela 1.2: Perfil da prática frequente de leitura por género literário (por ordem decrescente de percentagem). Fonte: CNASES. Dados: 1997. Existe uma dominância dos géneros mais leves, i.e. romance, aventuras e banda desenhada, aparecendo só então a ciência com c. 12%, e mais atrás a ficção científica com c. 11%. Comparando as duas tabelas anteriores, conclui-se que a orientação dos estudantes em relação a temas científicos é sobretudo dirigida para os veículos mais generalistas e sintéticos de divulgação, em detrimento dos vectores mais específicos e analíticos. A combinação das referidas tabelas com os resultados de análises complementares sobre as práticas culturais dos estudantes do Ensino Superior, conduzem à constatação de que tais práticas se apresentam quantitativamente pouco diversificadas, tendendo, ao mesmo tempo, a ser indiferenciadas, pelo que dificilmente se detecta um efeito escolar (i.e. o facto de os estudantes se encontrarem envolvidos num nível de ensino mais elevado não os predispõe necessariamente a um consumo cultural muito mais elevado). Assim sendo, o Ensino Superior parece desempenhar um papel essencialmente instrumental, enquanto local onde se adquire determinada competência, e não como local de formação mais ampla. Resta saber se tal efeito se manterá no longo UCE 179 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA prazo, ou se pelo contrário poderá ser ultrapassado no médio prazo. As mudanças estruturais que o mundo ocidental conheceu nos últimos anos alteraram, a nível europeu e mundial, a oferta de Ensino Superior, conduzindo a um alargamento das origens sociais, culturais e mesmo geográficas dos alunos, e traduzindo-se por uma diversificação das suas trajectórias escolares, das suas motivações, das suas representações, das suas estratégias face ao ensino e às instituições, dos seus modos de sociabilidade, e das suas práticas culturais. É possível uma visão comparativa abarcando os países desenvolvidos a nível mundial, referenciando os resultados prospectivos da educação portuguesa em 2006 com a situação prevalecente em 1996 nos países da OCDE, conforme se efectua na Fig. 1.1. fracção da população (%) 50 40 30 20 10 Itália Áustria Portugal 1996 República Checa Polónia Luxemburgo Grécia Espanha França Portugal 2006 RU Finlândia Dinamarca Irlanda Alemanha Bélgica Holanda Austrália EUA Suécia Canadá 0 país Figura 1.1: Distribuição fraccional da população em Portugal (relativa a 1996 e projectada a 2006) e nos restantes países da OCDE (relativa a 1996), por nível de educação mais elevado. Fonte: OCDE. Dados: 1997. Por observação da figura supra, torna-se nítido o atraso estrutural de Portugal, que é de aproximadamente uma década em relação à média dos países da OCDE. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ INTERNACIONALIZAÇÃO 180 Por forma a refinar esta análise, apresenta-se na Fig. 1.2 o perfil de formação médio respeitante ao mesmo universo. 9º ano 12º ano Sup. politécnico Sup. universitário (a) (b) Figura 1.2: Repartição, em 1996, da população total por níveis de habilitação (a) nos países da OCDE e (b) em Portugal. Fonte: OCDE. Dados: 1997. A inspecção destes dados evidencia uma grande distância de Portugal à generalidade dos países desenvolvidos em termos da população habilitada com o Ensino Secundário, mas evidencia igualmente uma aproximação surpreendente da população detentora de diplomas do Ensino Superior universitário (a qual não é acompanhada pelo Ensino Superior politécnico). Ainda assim, Portugal é o único país no âmbito da UE que possui uma percentagem desta população abaixo dos 40%; neste indicador, encontra-se a uma distância de 15-20% da Espanha e da Itália, e a 30% da Grécia e da Irlanda. A internacionalização da economia exige maior competitividade das empresas e agentes económicos portugueses. Entre as medidas a tomar, a qualificação dos recursos humanos situa-se no centro das prioridades, pelo lugar estratégico que ocupam em todo o processo de modernização do tecido empresarial; porém, tal qualificação deverá ser desenvolvida seguindo padrões internacionais, articulando os processos formativos com os sistemas de ensino/formação congéneres no estrangeiro, e privilegiando sobretudo a mobilidade transnacional por forma a endogeneizar competências externas no próprio processo formativo individual. De facto, para se poder produzir e garantir excelência, há que apostar na internacionalização do sistema educativo no Ensino Superior, e promover a mobilidade crescen- UCE 181 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA te desse sistema. A mobilidade deverá extravasar cada vez mais para o nível internacional, visto possuirmos ainda um sistema rígido, com fraca movimentação inter-institucional de estudantes e professores. A mobilidade global de estudantes do Ensino Superior, sob os auspícios do principal programa comunitário disponível para intercâmbio estudantil, está ilustrada na Fig. 1.3. número de estudantes 2500 2000 1500 1000 500 0 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 ano Figura 1.3: Evolução do número de estudantes portugueses do Ensino Superior deslocados ao abrigo do programa comunitário SOCRATES/ERASMUS. Fonte: Direcção Geral do Ensino Superior. Dados: 1999. Verifica-se que o grau de mobilidade dos estudantes do Ensino Superior não parou de crescer desde a adesão de Portugal à UE, embora se note, à medida que os anos passam, algum abrandamento nesse ritmo de evolução. 2. Especificidade Conforme discutido anteriormente, o perfil de um Engenheiro Alimentar deve corresponder ao de um engenheiro processual, especializado na área alimentar, e capaz de intervir em diversos domínios, designadamente na produção, na qualidade, na investigação, no desenvolvimento, na distribuição, na gestão e no marketing. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ INTERNACIONALIZAÇÃO 182 percentagem de estudantes (%) Uma vez que o sector alimentar é extremamente diversificado, tornase, portanto, pertinente que a formação de um Engenheiro Alimentar seja multidisciplinar. Acresce que, mercê do processo de globalização em curso, deve ser objectivo curricular garantir que os licenciados tenham um conhecimento das realidades académicas, científicas e empresariais a nível internacional. Para se alcançar tal objectivo, é fundamental a implementação de um programa de estágios, de preferência curriculares, em empresas, universidades e/ou centros de I&D no estrangeiro, por um período mínimo de um semestre. Como forma de ilustrar este ponto, incluem-se na Fig. 2.1 dados sobre a mobilidade internacional dos estudantes finalistas de Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. 100 ESB/UCP FLAD (P/EUA) FOTAN (UE) KRAFT (A) LEONARDO (UE) NESTLE´ (S) SOCRATES (UE) UNILEVER (RU) 80 60 40 20 0 1999/00 2000/01 2001/02 ano lectivo Figura 2.1: Evolução da distribuição de estudantes finalistas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar, com indicação das entidades e programas financiadores. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2002. Para a concretização deste objectivo, tem havido o concurso indispensável de entidades financiadoras nacionais e internacionais, de entre as quais se destacam a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD – Portugal/EUA) para intercâmbio com os EUA, os programas LEONARDO e SOCRATES (UE) para intercâmbio no seio dos países europeus, e o projecto FOTAN (UE) para intercâmbio com o Canadá. Verifica-se que existe um peso crescente, em termos de número de estágios financiados, do programa LEONARDO, e um 183 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA decréscimo concomitante do programa SOCRATES. Sublinhe-se, igualmente, a comparticipação financeira integral de diversos estágios por parte de algumas reputadas empresas multinacionais do sector alimentar, como é o caso da NESTLÉ (Suíça), da KRAFT (Alemanha) e da UNILEVER (RU). Por outro lado, a distribuição gobal por países europeus de estudantes portugueses no ano lectivo de 1998/99 está representada na Fig. 2.2. França Espanha Itália RU Alemanha Bélgica Holanda Finlândia Suécia outros Figura 2.2: Distribuição, por países, dos estágios de estudantes portugueses do Ensino Superior, ao abrigo do programa comunitário SOCRATES/ERASMUS. Fonte: Direcção Geral do Ensino Superior. Dados: 1999. Constata-se que metade dos estudantes universitários portugueses envolvidos em mobilidade internacional realiza os seus estágios nos países mediterrânicos mais próximos, i.e. a Espanha, a França e, um pouco atrás, a Itália. No caso específico dos alunos finalistas de Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia, a distribuição de estagiários por países estrangeiros está patente na Fig. 2.2. Destacam-se, como países de acolhimento, a Holanda, e, mais atrás, a Suécia e a Suíça, em número de estagiários e em constância de envolvimento ao longo dos sucessivos anos lectivos. Algumas das entidades onde são realizados tais estágios são: na Alemanha, o Institut Fraunhofer, a KRAFT e o GBF; na Áustria, a University of Bodenk; na Bélgica, a University of Leuven; no Brasil, a Universidade de Campinas; no Canadá, a University of St. Hyacinte, a University of Alb, a University of Guelph e a University of McGill; na Dinamarca, a ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ INTERNACIONALIZAÇÃO 184 percentagem de estudantes (%) Danish Technical University; nos EUA, a University of Cornell e a University of Florida; na Espanha, o Instituto del Frio; na Finlândia, a University of Turku; na França, a Université de Bordeaux, a NESTLÉ e a DANONE; na Holanda, o ATO-DLO, a NIZO, a UNILEVER e a Free University of Amsterdam; na Irlanda, o University College Cork; na Itália, a TETRAPAK e a TETRABRIK; no RU, a UNILEVER; na Suécia, a University of Lund e o SIK; e na Suíça, a NESTLÉ. 100 80 60 40 20 0 1999/00 2000/01 2001/02 Alemanha Áustria Bélgica Brasil Canadá Dinamarca Espanha EUA Finlândia França Holanda Irlanda Itália RU Suécia Suíça ano lectivo Figura 2.3: Evolução da distribuição por país de destino dos estudantes finalistas de uma licenciatura em Engenharia Alimentar. Fonte: Serviços Académicos. Dados: 2002. Tal programa de estágios no estrangeiro tem sistematicamente demonstrado ser bastante positivo na formação profissional e no desenvolvimento das capacidades dos alunos, quer de índole académica e profissional, quer de índole pessoal e cultural. O estágio constitui, com efeito, uma experiência enriquecedora, na medida em que permite aos alunos serem confrontados com outras realidades universitárias e industriais, progredindo não só ao nível do conhecimento técnico-científico, mas igualmente na capacidade de comunicação e de inserção em grupo de trabalho. Uma prova das elevadas expectativas de formação derivadas de tal programa está patente na fracção baixa, e decrescente ao longo dos anos, dos alunos finalistas que preferem realizar o seu estágio curricular em Portugal: 17% em 1999/00, 11% em 2000/01 e apenas 5% em 2001/02. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 8. Publicações “Não se deve exigir dessa categoria de homens [investigadores] que professem e ensinem, mas que inventem e publiquem.” Jean-Marie Caritat (Marquês de Condorcet), filósofo francês (1743-1794) 187 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Produção O clima de competição e mudança que envolve o mundo contemporâneo exige que as empresas apostem na inovação, bem como na concepção de novos produtos obtidos através de processos de fabrico mais económicos e menos poluentes. Mas a capacidade de inovar reside na capacidade de investigar, e de rapidamente aplicar os resultados de tal investigação aos processos produtivos, suportados a jusante por eficazes redes de distribuição e comercialização. A criação e a aplicação de novas tecnologias, bem como a concepção de novos produtos e serviços, exige das empresas a contratação de pessoal com níveis educativos mais elevados e compatíveis com aquele desiderato, capazes de intervir activamente no avanço de conhecimento de fronteira, i.e. treinados na investigação científico-tecnológica, e nos diversos procedimentos de interacção e disponibilização formal à comunidade dos seus pares. De entre os vectores de tal intervenção, destacam-se a produção de material científico escrito, a ser publicado em revistas sujeitas a processo de arbitragem. A produção científica portuguesa tem crescido significativa e sustentadamente nos últimos anos, e o actual perfil de especialização – distribuição dos esforços de investigação pelas diversas áreas do saber – é, em Portugal, semelhante ao prevalecente noutros países europeus; tal constatação encontra suporte nos dados listados no Science Citation Index™ (produzido pelo Institute of Scientific Information), que contempla mais de 3500 revistas científicas em todo o mundo. De facto, o número de publicações tem vindo a aumentar de forma gradual: 2 199 trabalhos em 1995, 2 331 em 1996 e 2 271 em 1997. Por outro lado, regista-se uma crescente internacionalização da ciência portuguesa: p.ex. em 1997 foram escritos 251 artigos científicos em parceria com equipas do RU, 198 dos EUA, 189 da França, 160 da Espanha, 128 da Alemanha, 109 da Itália, 100 da Holanda e 44 do Brasil. Por forma a possibilitar comparações com significado, é costume classificar as publicações por grandes áreas bibliométricas; embora tais áreas sejam oficialmente definidas pelo sistema de referência da Biblioteca do Congresso Americano para indexação, a sua concatena- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PUBLICAÇÕES 188 ção em superáreas é efectuada, por conveniência, de modo mais arbitrário. Uma possibilidade pondera a existência de cinco dessas áreas: (i) Física, química e ciências da Terra; (ii) Ciências da vida; (iii) Ciências clínicas; (iv) Agricultura, biologia e ciências do ambiente; e (v) Engenharia, computação e tecnologia. A Engenharia Alimentar localiza-se na área (iv); os principais intervenientes nesta área, graficamente representados na Fig. 1.1, são, por ordem decrescente, a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESB-UCP), o Departamento de Biologia Vegetal da Universidade de Lisboa (DBV-UL), o Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB-UNL), o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP), o Departamento de Zoologia e Antropologia da Universidade de Coimbra (DZA-UC), o Departamento de Oceanografia da Universidade dos Açores (DO-UAç), o Departamento de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (DEB-UM), o Departamento de Química da Universidade de Aveiro (DQ-UA), o Departamento de Zoologia da Universidade de Coimbra (DZ-UC), e o Instituto de Investigação Científica e Tropical da Universidade de Lisboa (IICT-UL). ESB-UCP DBV-UL ITQB-UNL ICBAS-UP DZA-UL DO-UAç DEB-UM DQ-UAV DZ-UC IICT-UL Figura 1.1: Distribuição, relativa ao período 1995-1997, do número de publicações internacionais (em revistas sujeitas a processo de revisão pelos pares) originárias de instituições portuguesas, nas áreas bibliométricas combinadas da Agricultura, biologia e ciências do ambiente. Fonte: Observatório para as Ciências e as Tecnologias. Dados: 1998. Verifica-se uma clara dominância por parte da Escola Superior de Biotecnologia, com uma primeira posição consubstanciada em 87 referências; seguem-se muito atrás, e aproximadamente a par, o 189 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Departamento de Biologia Vegetal com 43, o Instituto de Tecnologia Química e Biológica com 41, e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar com 36. O processo de arbitragem internacional, por decorrer de forma anónima em relação ao conhecimento pelo(s) autor(es), permite colocar questões e fazer juízos de valor técnico-científico sem qualquer tipo de limitação argumentativa, em forma e conteúdo, ou receio de ferir susceptibilidades pessoais. Por outro lado, o facto de tal processo ocorrer à escala mundial garante, com elevada probabilidade, que foram encontrados peritos na área em causa. Finalmente, a utilização da língua inglesa assume especial relevância, pois torna acessíveis tais relatórios a toda a comunidade científica, que os poderá, por sua vez, utilizar como ponto de partida para avançar ainda mais o conhecimento. Por estas razões, a publicação dos resultados de investigação em revistas internacionais, sujeitas a processo de revisão pelos pares, é uma das formas de garantir que as actividades de investigação se pautam por elevados padrões de qualidade, e incidem sobre tópicos com interesse e actualidade para a comunidade científica lato senso. A título de exemplo, incluem-se na Tab. 1.1 alguns dados descritivos das publicações internacionais impressas em 1998, da autoria ou coautoria de equipas sediadas na zona de intervenção geográfica da Associação das Universidades da Região Norte (AURN), na área de Engenharia Alimentar (englobando toda a cadeia alimentar, desde a componente de produção até à componente de consumo). Andrade, P. B., Carvalho, A. R. F., Seabra, R. M. & Ferreira, M. A. van der Roost, R., Lopes, S. C. C., Escola Superior de Komen, H., Satumalay, K., van der Bos, Biotecnologia R., Heida, H. & Vermeulen, N. P. E. 7 H A previous study of phenolic profiles of quince, pear and apple purées by HPLC: diode-array detection for the evaluation of quince purée genuineness 8 P Assessment of environmental quality and inland water pollution using biomarker responses in caged carp Cyprinus carpio - use of a bioactivation-detoxication ratio as a biotransformation index Universidade do Porto Marine Environmental Research 46: 315 Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 968 Journal of Food Engineering 38: 69 Frias, J. M., Oliveira, J. C., Cunha, L. M. & Oliveira, F. A. 6 O Application of D-optimal design for determination of the influence of water content on the thermal degradation kinetics of ascorbic acid at low water contents Escola Superior de Biotecnologia Belton, P. S., Colquhoun, I. J., Universidade de Aveiro Food Chemistry 61: 207 Kemsley, E. K., Delgadillo, I., Roma, P., Dennis, M. J., Sharman, M., Holmes, E., Nicholson, J. K. & Spraul, M. 5 H Application of chemometrics to the 1H-NMR spectra of apple juices - discrimination between apple varieties Universidade de Aveiro Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 145 Rocha, S., Delgadillo, I., Correia, A. J. F., Barros, A. & Wells, P. Aquatic Living Resources 11: 187 Food Additives and Contaminants 15: 265 Zeitschrift für Lebensmittel Untersuchung und Forschung A 206: 161 revista científica volume: 1ª página ■ 4 V Application of an electronic aroma sensing system to cork stopper quality control Universidade do Porto Silva, J. G. & Teles, A. O. 3 P Apparent digestibility coefficients of feedstuffs in sea-bass Dicentrachus labrax juveniles Lima, J. L. F. C., Matos, C. D., Nouws, Universidade do Porto H. P. A. & Vaz, M. C. V. F. Universidade do Porto instituições envolvidas 2 O An automatic determination of caffeine in soft drinks using flow injection system with amperometric detection autor(es) Andrade, P., Seabra, R., Ferreira, M., Ferreres, F. & Vigueira, C. G. nº de ordem tópico 1 V Analysis of non-colored phenolics in Port wines by capillary zone electrophoresis: influence of grape variety and ageing título da publicação (ordem alfabética) ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL PUBLICAÇÕES 190 Gomes, A. M. P., Silva, M. L. P. C. & Malcata, F. X. 12 L Rocha, A. M. C. N., Cano, M. P., Escola Superior de Galeazzi, M. A. M. & Morais, A. M. M. B. Biotecnologia Vasconcelos, J. M. J., Silva, A., M. S. & Universidade de Aveiro Phytochemistry 49: 1421 Cavaleiro, J. A. S. Cordeiro, N., Belgacem, M. N., Silvestre, Universidade de Aveiro International Journal of Biological Macromolecules A. J. D., Neto, C. P. & Silva, P. S. 22: 71 15 H Characterization of Starking apple polyphenoloxidase 16 H Chromones and flavonones from Artemisia campestris subsp. maritima 17 V Cork suberin as a new source of chemicals: 1 - isolation and chemical characterization of its composition Almeida, M. C., Venâncio, A., Teixeira, Universidade do Minho Journal of Chromatography B 711: 151 J. A. & Barros, M. R. A. Euphytica 104: 107 20 O Cutinase purification on polyethylene glycol / hydroxypropyl starch aqueous 2-phase systems Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Brito, J. L. & Pinto, H. G. 19 H Crossability between tritordeum and triticale Universidade de Aveiro Bioresource Technology 63: 153 ■ Cordeiro, N., Belgacem, M. N., Gandini, A. & Neto, C. P. UCE 18 V Cork suberin as a new source of chemicals: 2 - crystallinity, thermal and rheological properties Journal of the Science of Food and Agriculture 77: 527 Phytochemistry 49: 1435 Freitas, V. A. P., Glories, Y., Bourgeois, Universidade do Porto G. & Vitry, C. 14 V Characterization of oligomeric and polymeric procyanidins from grape seeds by liquid secondary ion-mass spectrometry Universidade do Minho Carbohydrate Polymers 37: 279 Zeitschrift für Lebensmittel Untersuchung und Forschung A 207: 386 American Journal of Enology and Viticulture 49: 74 Fish Physiology and Biochemistry 18: 213 Food Chemistry 62: 117 Gama, F. M. & Mota, M. Escola Superior de Biotecnologia Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Universidade do Porto Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Universidade do Porto 13 O Cellulases for oligosaccharide synthesis - a preliminary study Caprine cheese with probiotic strains: the effects of ripening temperature and relative humidity on proteolysis and lipolysis Oliveira, M. Lima, J. L. F. C., Matos, C. D. & Vaz, M. C. V. F. 11 V Calculation of budbreak and flowering base temperatures for Vitis vinifera var. Touriga Francesa in the Douro region of Portugal Automation of iron and copper determination in milks using FIA systems and colorimetric detection Valente, L. M. P., Gomes, E. F. S. & Fauconneau, B. L 10 P Biochemical growth characterization of fast and slow growing rainbow trout strains - effect of cell proliferation and size 9 191 UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Fernandes, S. M. V., Rangel, A. O. S. S. & Lima, J. L. F. C. Gomes, A. M. P. & Malcata, F. X. 23 V Determination of total sulfur dioxide in beer by flow injection spectrophotometry using gas-diffusion and the merging zones technique 24 L Andrade, P. B., Leitão, R., Seabra, R. M., Oliveira, M. B. & Ferreira, M. A. Luís, J. F. S. & Monteiro, M. D. Pereira, J. O. B., Henriques, M. A. R., Sanchez, J. L. & Costa, J. M. Bakker, J., Bridle, P., Bellworthy, S. J., Vigueira, C. G., Reader, H. P. & Watkins, S. J. Freitas, A. C. & Malcata, F. X. Mourão, I. M. G. & Dadley, P. 25 O 3,4-Dimethoxycinnamic acid levels as a tool for differentiation of Coffea canephora var. Robusta and Coffea arabica 26 O Dynamics of broadleaved Castanea sativa conifer Pseudotsuga menziesii mixed stands in Northern Portugal 27 P Effect of protein source on the reproductive performance of female rainbow trout, Oncorhynchus walbaum 28 V Effect of sulfur dioxide and must extraction on color, phenolic composition and sensory quality of red table wine Effects of different ripening procedures on the final characteristics of Picante cheese 29 L 30 H Environmental control of plant growth development and yield in broccoli Brassica oleracea L. var. Italica Plenk Development of probiotic cheese manufactured from goat milk: response surface analysis via technological manipulation Ferreira, I. M. P. L. V. O., Gomes, A. M. P. & Ferreira, M. A. Determination of sugars and some other compounds in infant formulas, followup milks and human milk by HPLC/UV/RI 22 L Food Chemistry 61: 511 Journal of Dairy Science 81: 1492 Journal of the Institute of Brewing 104: 203 Carbohydrate Polymers 37: 225 Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 168 Instituto Politécnico de Viana do Castelo Escola Superior de Biotecnologia Cockburn Smithes s. a. Instituto do Mar Universidade do Porto Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Acta Horticulturae 459: 71 Zeitschrift für Lebensmittel Untersuchung und Forschung A 207: 281 Journal of the Science of Food and Agriculture 78: 297 Aquaculture Research 29: 751 ■ Instituto Politécnico de Forest Ecology and Management 107: 183 Bragança Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Universidade do Porto Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Universidade do Porto Araújo, A. N., Couto, C. M. C. M., Lima, Universidade do Porto J. L. F. C. & Montenegro, M. C. B. S. M. 21 V Determination of SO2 in wines using a flow injection analysis system with potentiometric detection ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL PUBLICAÇÕES 192 Pinho, O., Ferreira, I, M. P. L. V. O., Oliveira, M. B. P. P. & Ferreira, M. A. Lima, J. L. F. C., Matos, C. D. & Vaz, M. C. V. F. 32 C FIA evaluation of nitrite and nitrate contents of liver patés 33 L Chamber, P., Oliveira, M. B., Andrade, Universidade do Porto P. B., Fernandes, J. O., Seabra, R. M. & Ferreira, M. A. Sousa, M. J. & Malcata, F. X. Freitas, V. A. P., Glories, Y. & Laguerre, M. Rocha, A. M. C. N., Brochado, C. M. & Morais, A. M. M. B. Freitas, A. C., Fresno, J. M., Prieto, B., Escola Superior de Franco, I., Malcata, F. X. & Carballo, J. Biotecnologia 38 O Identification of 5,5-oxy-dimethylene-bis-2-furaldehyde by thermal decomposition of 5-hydroxymethyl-2-furfuraldehyde Identification of peptides from ovine milk cheese manufactured with animal rennet or extracts of Cynara cardunculus as coagulant 39 L 40 V Incidence of molecular structure in oxidation of grape seed procyanidins 41 H Influence of chemical treatment on quality of cut apple cv. Jonagored 42 L Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Food Control 9: 187 Journal of Food Quality 21: 13 Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 376 Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 4034 Food Chemistry 63: 473 Cereal Research Communications 26: 211 ■ Escola Superior de Biotecnologia Universidade de Trásos-montes e Alto Douro UCE Influence of milk source and ripening time on free amino acid profile of Picante cheese Nascimento, M. P., Carnide, V. P., Igrejas, G. & Pinto, H. G. 37 H High-molecular weight glutenin subunit variation in the Portuguese wheat landrace Barbella Journal of Dairy Science 11: 2817 Gomes, A. M. P., Malcata, F. X. & Klaver, F. A. M. Growth enhancement of Bifidobacterium lactis Bo and Lactobacillus acidophilus Ki by milk hydrolyzates 36 L Escola Superior de Biotecnologia Animal Genetics 29: 135 Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias e Agroalimentares Branco, M., Lopes, G. & Ferrand, N. 35 C Genetic polymorphism of properdin factor B in domestic rabbit Journal of Agricultural and Food Chemistry 46: 1386 Food Chemistry 62: 359 Kijjoa, A., Cidade, H. M., Gonzalez, M. Universidade do Porto Phytochemistry 47: 875 J. T. G., Afonso, C. M., Silva, A. M. S. & Universidade de Aveiro Herz, W. Universidade do Porto Universidade do Porto Universidade do Minho Phytochemistry 48: 795-799 34 O Further prenyflavonoids from Artocarpus elasticus Flow injection system with potentiometric detection for the determination of urea content in milks Pereira, I. M. S. A. & Ferreira, M. F. 31 H Essential oils and hydrocarbons from leaves and calli of Origanum vulgare ssp. virens 193 UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Balcão, V. M. & Malcata, F. X. 46 L Moreira, R. F., Fernandes, P. A. & Ferreira, P. M. Balcão, V. M., Kemppinen, A., Malcata, F. X. & Kalo, P. J. 50 V Kluyveromyces marxianus flocculence and growth at high temperature is dependent on the presence of the protein P37 Lipase-catalyzed acidolysis of butterfat with oleic acid - characterization of process and product Lipase-catalyzed modification of milkfat Lipolysis in Picante cheese: influence of milk type and ripening time on free fatty acid profile 51 L 52 L 53 L Freitas, A. C. & Malcata, F. X. Balcão, V. M. & Malcata, F. X. Queirós, O., Casal, M., Althoff, S., Ferreira, P. M. & Leão, C. Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Instituto Superior de Ciências da Saúde Le Lait 78: 251 Biotechnology Advances 16: 309 Enzyme and Microbial Technology 23: 118 Microbiology - UK 144: 681 Yeast 14: 401 Instituto Superior de Ciências da Saúde Universidade do Minho Universidade do Porto Journal of Applied Ichthyology 14: 109 Field Crops Research 59: 81 Enzyme and Microbial Technology 22: 511 Animal Feed Science and Technology 72: 205 Aquaculture 161: 415 ■ 49 V Isolation and characterization of Kluyveromyces marxianus mutants deficient in malate transport Gomes, E. F., Teles, A. O., Gouveia, A. Universidade do Porto & Rema, P. Universidade de Trásos-montes e Alto Douro 48 P In vivo and in vitro digestibility of diets and feedstuffs for rainbow trout Oncorhyncus mykiss Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Correia, C. M., Areal, E. L. V., Pereira, M. S. T. & Pereira, J. M. G. T. Escola Superior de Biotecnologia 47 H Intraspecific variation in sensitivity to ultraviolet-B radiation in maize grown under field conditions: 1 - growth and morphological aspects Interesterification and acidolysis of butterfat with oleic acid by Mucor javanicus lipase: changes in the pool of fatty acid residues Fonseca, A. J. M., Silva, A. A. D. & Orskov, E. R. 45 C In sacco degradation characteristics as predictors of digestibility and voluntary intake of roughages by mature ewes Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Henrique, M. M. F., Gomes, E. F., Universidade do Porto Gouilloucoustans, M. F., Teles, A. O. & Davies, S. J. 44 P Influence of supplementation of practical diets with vitamin C on growth and response to hypoxic stress of seabream, Sparus aurata Universidade de Aveiro Carbohydrate Polymers 37: 283 Nunes, F. M. & Coimbra, M. A. 43 O Influence of polysaccharide composition in foam stability of espresso coffee ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL PUBLICAÇÕES 194 Tavaria, F. K. & Malcata, F. X. Microbiological characterization of Serra da Estrela cheese throughout its Appélation d’Origine Protegée region Microbiological quality of Portuguese yoghurts Microstructure and distribution of microorganisms within mature Serra cheese 57 L 58 L 59 L Vicente, A. A., Dluhy, M., Ferreira, E. C. & Teixeira, J. A. Balcão, V. M., Kemppinen, A., Malcata, F. X. & Kalo, P. J. 60 V Modelling diffusion-reaction phenomena in yeast flocs of Saccharomyces cerevisiae 61 L Balcão, V. M. & Malcata, F. X. 64 L On the performance of a hollow-fiber bioreactor for acidolysis catalyzed by immobilized lipase Velho, M. V., Duarte, G. & Gibbs, P. 63 P Occurrence of Listeria spp. in salmon trout Oncorhynchus mykiss and salmon Salmo salar Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Instituto Politécnico de Viana do Castelo Universidade do Porto Biotechnology and Bioengineering 60: 114 Food Science and Technology International 4: 121 Diseases of Aquatic Organisms 34: 27 Journal of the American Oil Chemists Society 75: 1347 ■ Afonso, A., Lousada, S., Silva, J., Ellis, A. E. & Silva, M. T. Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Minho Bioprocess Engineering 18: 335 Journal of Applied Microbiology 84: 523 Journal of Industrial Microbiology and Biotechnology 21: 19 Journal of Food Protection 61: 601 Journal of AOAC International 81: 645 UCE 62 P Neutrophil and macrophase responses to inflammation in the peritoneal cavity of rainbow trout Oncorhyncus mykiss - a light and electron microscopic cytochemical study Modification of butterfat by selective hydrolysis and interesterification by lipase - process and product characterization Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Parker, M. L., Gunning, P. A., Macedo, Escola Superior de A. C., Malcata, F. X. & Brocklehurst, T. F. Biotecnologia Nogueira, C., Albano, H., Gibbs, P. & Teixeira, P. Fernandes, S. M. V., Rangel, A. O. S. S. & Lima, J. L. F. C. 56 V Merging zones standard addition technique for determination of copper in beer by flow injection atomic absorption spectrophotometry Sousa, M. J., Rodrigues, F., Corte-Real, Universidade do Minho Microbiology UK 144: 665 M. & Leão, C. Journal of Food Process Engineering 21: 271 55 V Mechanisms underlying the transport and intracellular metabolism of acetic acid in the presence of glucose in the yeast Zygosaccharomyces bailii Escola Superior de Biotecnologia Gekas, V., Chronakis, I. S., Escada, C. & Sjoholm, I. 54 O Measurement of the heat transfer coefficient in a thawing tunnel 195 UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 75 V Relationships between storage conditions of grape pomace and volatile composition of spirits obtained therefrom Silva, M. L. & Malcata, F. X. Escola Superior de Biotecnologia Lameiras, J., Soares, M. E., Bastos, M. Universidade do Porto L. & Ferreira, M. Quantification of total chromium and hexavalent chromium in UHT milk by ETAAS 74 L Escola Superior de Biotecnologia Mendes, E., Proença, E. B., Ferreira, I. Universidade do Porto M. P. L. V. O. & Ferreira, M. A. Silva, S. V. & Malcata, F. X. Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia 73 O Quality evaluation of Portuguese honey Proteolysis of ovine caseins by cardosin A, an aspartic acid proteinase from Cynara cardunculus L. 72 L Sousa, M. J. & Malcata, F. X. Lopes, M., Neto, C. P., Evtuguin, D., Universidade de Aveiro Holzforschung 52: 146 Silvestre, A. J. D., Gil, A., Cordeiro, N. & Gandini, A. 70 V Products of the permanganate oxidation of cork, desuberized cork, suberin and lignin from Quercus suber Proteolysis of ovine and caprine caseins in solution by enzymatic extracts from flowers of Cynara cardunculus Leach, G., Oliveira, G. & Morais, R. 69 P Production of a carotenoid-rich product by alginate entrapment and fluid bed drying of Dunaliella salina Universidade do Porto American Journal of Enology and Viticulture 49: 74 Analyst 123: 2091 Carbohydrate Polymers 37: 219 Le Lait 78: 513 Enzyme and Microbial Technology 22: 305 Journal of the Science of Food and Agriculture 78: 297 Aquaculture 166: 311 Industrie Alimentari S12: 18 ■ 71 L Gouveia, A. & Davies, S. J. 68 P Preliminary nutritional evaluation of pea seed meal Pisum sativum for juvenile European sea bass Dicentrarchus labrax Centro Tecnológico da Cortiça Neto, P. V. 67 V Prediction of the mechanical behavior of cork stoppers according to their visual quality and density Analyst 123: 653 Ribeiro, L. M. B. C. A. & Machado, A. Universidade do Porto A. S. C. Journal of Food Engineering 37: 175 66 O Optimization of a bipotentiometric flow-injection analysis system for simultaneous determination of calcium and chloride ions in natural waters Escola Superior de Biotecnologia Cunha, L. M., Oliveira, F. A. R. & Oliveira, J. C. 65 O Optimal experimental design for estimating the kinetic parameters of processes described by the Weibull probability distribution function ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL PUBLICAÇÕES 196 Torres, A. P. & Oliveira, F. A. R. Torres, A. P. & Oliveira, F. A. R. Pintado, M. E., Silva, J. A. L., Pintado, A. I. E. & Malcata, F. X. 77 O Residence time distribution of liquids in a continuous tubular thermal processing system: part II - relating hold tube efficiency to processing conditions 78 O Residence time distribution studies in continuous thermal processing of liquid foods - a review 79 L Leach, G., Oliveira, G. & Morais, R. Balcão, V. M., Oliveira, T. A. & Malcata, F. X. 83 P Spray-drying of Dunaliella salina to produce a βcarotene rich powder 84 L 85 C Studies on growth and form - multivariate analysis of distribution of muscle and fat in Portuguese cattle breeds Universidade do Porto Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Livestock Production Science 55: 261 Biocatalysis and Biotransformation 16: 45 Journal of Industrial Microbiology and Biotechnology 20: 82 Journal of Horticultural Science and Biotechnology 73: 145 ■ Silva, M. F., Lemos, J. P. C., Monteiro, L. S. & Portugal, A. V. Santos, A., Silva, A. P. & Rosa, E. 82 H Shoot growth and yield of hazelnut Corylus avellana L. and the influence of climate - 10 years of observations Analyst 123: 661 Journal of Applied Microbiology 84: 802 Carbohydrate Polymers 37: 1 Journal of Food Engineering 36: 1 Journal of Food Engineering 35: 165 Journal of Food Engineering 35: 147 UCE Stability of a commercial lipase from Mucor javanicus - kinetic modelling of pH and temperature dependencies Rangel, A. O. S. S. & Toth, I. V. 81 V Sequential determination of titratable acidity and tartaric acid in wines by flow-injection spectrophotometry Escola Superior de Biotecnologia Silva, M. V., Gibbs, P. A. & Kirby, R. M. Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia Escola Superior de Biotecnologia 80 P Sensory and microbial effects of gaseous ozone in fresh scad Trachurus trachurus Rheological characterization under shear of a fraction of polymer produced via fermentation of wheyrelated media by Rhanella aquatilis Torres, A. P., Oliveira, F. A. R. & Fortuna, S. P. 76 O Residence time distribution of liquids in a continuous tubular thermal processing system: part I - relating RTD to processing conditions 197 UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Ferreira, T. C. & Carr, M. K. V. Afonso, A., Silva, J., Lousada, S., Ellis, A. E. & Silva, M. T. Gomes, A. M. P. & Malcata, F. X. 89 H The effects of crop environment on the leaf water potential of potatoes Solanum tuberosum L. grown in a hot, dry climate 90 P Uptake of neutrophils and neutrophilic components by macrophages in the inflammed peritoneal cavity of rainbow trout Oncorhyncus mykiss 91 L Universidade do Porto Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Aquatic Living Resources 11: 93 Journal of Food Processing and Preservation 22: 221 Aquatic Living Resources 11: 255 Journal of Applied Microbiology 85: 839 Fish and Shelfish Immunology 8: 319 Potato Research 41: 194 Journal of the Science of Food and Agriculture 78: 208 Carbohydrate Polymers 37: 257 Journal of Food Engineering 36: 281 PUBLICAÇÕES Tabela 1.1: Lista das publicações (por ordem alfabética de título), impressas em 1998 em revistas científicas de língua inglesa sujeitas a processo de revisão pelos pares, da autoria (ou co-autoria) de investigadores sediados em instituições localizadas na área geográfica de intervenção da AURN. Nota: C - carnes e derivados; H - hortofrutícolas e gramíneas; L - leite e lacticínios; O - outros produtos; P - pescado e produtos do mar; V - vinhos e bebidas alcoólicas. Fonte: Observatório para as Ciências e as Tecnologias. Dados: 1998. 94 P Voluntary feed intake, feed and nutrient utilization in slow and fast growing rainbow trout strains Valente, L. M. P., Fauconneau, B. & Gomes, E. F. S. Gomes, A. M. P., Teixeira, M. G. M. & Escola Superior de Malcata, F. X. Biotecnologia 93 L Viability of Bifidobacterium lactis and Lactobacillus acidophilus in milk: sodium chloride concentration and storage temperature effects Teles, A. O., Pereira, J. P., Gouveia, A. Universidade do Porto & Gomes, E. 92 P Utilization of diets supplemented with microbial phytase by seabass Dicentrarchus labrax juveniles Escola Superior de Biotecnologia Universidade do Porto Universidade de Trásos-montes e Alto Douro Universidade de Trásos-montes e Alto Douro RAR - Refinarias de Açúcar Reunidas s.a. Escola Superior de Biotecnologia ■ Use of small ruminants milk supplemented with available nitrogen as growth media for Bifidobacterium lactis and Lactobacillus acidophilus Rosa, E. A. S. & Rodrigues, P. M. F. 88 H The effect of light and temperature on glucosinolate concentration in the leaves and roots of cabbage seedlings Gomes, A. M. P., Vieira, M. M. & Malcata, F. X. Bento, L. S. M. & Sá, S. Studies of probiotic microbial strains in a cheese matrix during ripening - simulation of rates of salt diffusion and microorganism survival 87 O Study of high molecular weight compounds in sugar using gel-permeation chromatography with an evaporative light-scattering detector 86 L ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 198 199 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Verifica-se que os tópicos das publicações são variados e o número destas substancial, assim como as instituições de origem, entre as quais se incluem mais uma vez empresas industriais e centros de prestação de serviços. É igualmente interessante notar que a quase totalidade das publicações são produzidas por mais de um autor, havendo nalguns casos (embora poucos) participação de equipas pluri-institucionais formadas no seio da AURN. As revistas seleccionadas como veículo para os resultados da investigação são muito diversas, em termos qualitativos. Como seria de esperar, verifica-se uma clara predominância da área bibliométrica da Ciência e Tecnologia Alimentar: 36 publicações em revistas internacionais, o que corresponde a c. 38% do número total de publicações em causa. Das 94 publicações referenciadas, apenas 2 não foram impressas em revistas listadas no Science Citation Index™, o que corresponde apenas a c. 2%. Das que foram listadas neste índice, 16 publicações (o que corresponde a ca. 17 % de todas as publicações listadas) apareceram em revistas situadas no 9º ou 10º decis superiores, quando as revistas foram dispostas por ordem crescente de factor de impacto. Existem apenas 4 publicações em revistas situadas no 2º decil e 1 publicação numa revista situada no 1º decil. Acresce que 76 publicações (o que corresponde a c. 83% de todas as revistas listadas) foram impressas em revistas situadas no, ou acima do, 6º decil, pelo que a esmagadora maioria das revistas escolhidas está acima da mediana. Ao analisar diversos anos consecutivos em perspectiva, verifica-se que existe uma tendência para: o aumento do número de publicações em revistas internacionais; a diminuição, em termos de número e percentagem, das publicações em revistas não listadas no Science Citation Index™; a estabilização do número de publicações, e o aumento da percentagem de publicações em revistas internacionais na área bibliométrica de Ciência e Tecnologia Alimentar; e o aumento do número e da percentagem de publicações em revistas situadas acima da mediana da respectiva área bibliométrica. Por forma a aprofundar a análise dos tópicos escolhidos, representa-se na Fig. 1.2 a distribuição das instituições de onde são originárias as publicações, a saber: (i) instituições universitárias - Escola ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PUBLICAÇÕES 200 Superior de Biotecnologia (ESB), Universidade de Aveiro (UA), Universidade do Minho (UM), Universidade do Porto (UP) e Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (UTAD); (ii) instituições politécnicas - Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Instituto Politécnico do Porto (IPP) e Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC); (iii) instituições públicas - Centro Aquícola do Rio Ave (CARA), Centro de Ciências e Tecnologias Ópticas (CCTO), Centro Tecnológico da Cortiça (CTC), Direcção Geral de Agricultura de Entre Douro e Minho (DRAEDM), Instituto de Ciências e Tecnologias Agrícolas e Agro-Alimentares (ICTAAA), Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IIPM), Instituto do Mar (IM) e Parque Natural de Montesinho (PNM); e instituições privadas Cockburn Smithes s.a. (Cockburn), Instituto Superior de Ciências da Saúde (ISCS), Refinarias de Açúcar Reunidas s.a. (RAR) e União Cervejeira s.a. (UNICER). ESB UA UM UP UTAD IPB CARA CCTO IM Cockburn RAR ESB UA UM UP UTAD IPB IIPM PNM RAR 1995 1996 ESB UA UM UP UTAD IPB IPP DRAEDM Cockburn RAR UNICER ESB UA UM UP UTAD IPB IPVC CTC ICTAAA IM Cockburn ISCS RAR 1997 1998 Figura 1.2: Distribuição, entre 1995 e 1998, de publicações originárias das diversas instituições localizadas na zona de intervenção geográfica da AURN. Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte. Dados: 2001. 201 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Verifica-se que a instituição líder em número de publicações é, de forma sustentada e sem qualquer sombra de dúvida, a Escola Superior de Biotecnologia, cujo score de 20, 28, 25.5 e 37 publicações equivalentes em 1995, 1996, 1997 e 1998, respectivamente, conduz a percentagens do total de publicações naqueles anos de ca. 50, 41, 49 e 39%, respectivamente; esta performance torna-se ainda mais dramática se considerarmos o número global de publicações apenas das universidades integradas na AURN, situando-se então em ca. 56, 46, 55 e 43%, respectivamente. Em segundo lugar, aparece sistematicamente a Universidade do Porto, com uma gama de scores de c. 13-28% ao longo dos vários anos. Mais atrás aparecem, em pelotão e revezando-se em posição relativa, a Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (que assegura o terceiro lugar em 1996 e 1998) e a Universidade do Minho (que assegura o terceiro lugar em 1995 e 1997); finalmente, e ainda no pelotão, aparece a Universidade de Aveiro (que mantém o quarto lugar nos vários anos). O posicionamento da Escola Superior de Biotecnologia é particularmente digno de nota, em especial devido ao período relativamente diminuto da sua existência como instituição universitária (ca. 18 anos) quando comparada com a situação dos restantes membros da AURN. Para esta situação, terá provavelmente contribuido a conjugação de quatro factores principais: (i) a grande maioria dos membros do seu quadro permanente realizaram o seu doutoramento no estrangeiro (em universidades conceituadas dos EUA, França, RU e Alemanha), e aqueles que o não fizeram eram originários de outras instituições universitárias, o que, para além de ter evitado o inbreeding institucional e consequente limitação de visão estratégica e cristalização de procedimentos, permitiu que a instituição se constituísse como melting pot de algumas das melhores escolas nacionais e estrangeiras no sector; (ii) a primeira licenciatura oferecida por esta instituição foi Engenharia Alimentar, a qual surgiu em resposta às necessidades, prévia e devidamente quantificadas, do tecido industrial da Região Norte, sendo caracterizada por extensas componentes laboratoriais e tecnológicas, a par de um forte grau de internacionalização; (iii) na definição de estratégias de intervenção, a instituição contou, desde a sua criação, com o apport de um conjunto de ca. 30 empresas nacionais de grande dimensão, oriundas sobretudo do sec- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PUBLICAÇÕES 202 tor industrial alimentar, reunidas sob a égide de uma associação empresarial sem fins lucrativos (a AESBUC); e (iv) os recursos materiais e humanos, próprios da investigação, integram-se de maneira estruturada, segundo uma perspectiva globalizante, com os demais recursos de extensão industrial existentes in situ, em especial os sediados nos Serviços de Embalagem, de Química e Organoléptica, de Tecnologia e Inovação, e de Microbiologia do CINATE (Centro de INovação e Apoio Tecnológico e Empresarial). A produção científica das Universidades na área de Engenharia Alimentar tem vindo a aumentar e a melhorar de forma gradual: quantitativamente, observa-se um aumento do número de publicações, associado a um aumento genérico do número de publicações por doutorado; qualitativamente, os jornais escolhidos como veículo para os artigos científicos são cada vez mais os listados no Science Citation Index™, estando situados, em termos de factor de impacto, cada vez em maior percentagem acima da mediana das respectivas áreas bibliométricas. Por outro lado, as publicações em revistas internacionais correlacionam bem, e cada vez melhor, com a importância de mercado dos vários subsectores alimentares - tal indica que os esforços de investigação se centram na compreensão dos fenómenos subjacentes a, e avanço do conhecimento na, Engenharia Alimentar, com o intuito de ajudar a melhorar ou inovar processos e produtos alimentares, funcionando assim como vector de desenvolvimento. A título ilustrativo, inclui-se na Fig. 1.3 a evolução do número total de publicações pelo corpo docente próprio da Escola Superior de Biotecnologia. Constata-se um forte aumento no número de publicações entre 1989 e 1995, após o que houve uma tendência para a estabilização em torno de c. 30 publicações por ano, o que corresponde a um dos mais elevados níveis (se não mesmo o mais elevado nível) de produtividade científica de instituições nacionais intervindo na área de Engenharia Alimentar. As áreas de competência das diversas instituições universitárias são muito concentradas nalguns sectores, e distribuidas de forma equilibrada noutros. Porém, existem ainda deficiências na colaboração entre instituições geograficamente mais próximas: não obstante a UCE 203 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA existência de complementaridades temáticas e facilidades logísticas evidentes, continua a preferir-se a colaboração com instituições internacionais, ou instituições nacionais mais afastadas, havendo por isso perda de capacidade de resposta a problemas de índole mais regional. número de publicações 50 40 30 20 10 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1990 1991 1989 1988 1987 0 ano Figura 1.3: Evolução do número de publicações internacionais (em revistas sujeitas a processo de arbitragem pelos pares). Fonte: Serviços de Documentação e Biblioteca. Dados: 2001. 2. Citações Uma forma simples de aferir do interesse e actualidade das publicações baseia-se no número de pedidos de separatas (ou reprints) das mesmas; a evolução de tais números num triénio, para o caso do corpo docente de Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, está representada na Fig. 2.1. Verifica-se uma relativa constância na frequência de solicitação do referido material bibliográfico, na ordem dos 250 pedidos anuais. Igualmente notória é a origem de tal material, literalmente de todas as partes do mundo, em particular de (e citando apenas, por ordem decrescente, as quinze proveniências mais frequentes): França, Espanha, EUA, Argentina, Polónia, Cuba, Portugal, Holanda, Itália, Egipto, Canadá, México, Bélgica, República Eslovaca e RU. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PUBLICAÇÕES 204 número total de pedidos de separatas 300 250 200 150 100 50 0 1998 1999 2000 ano Figura 2.1: Evolução do número de pedidos de separatas oficialmente recebidos no Centro de Recursos do Conhecimento do Sector Agro-Alimentar, relativos a publicações da autoria de membros do corpo docente de Engenharia Alimentar. Fonte: Serviços de Documentação e Biblioteca. Dados: 2001. Mais importante ainda do que os pedidos de separatas, são as citações efectivas por publicações em revistas arbitradas, na medida em que tal confirma não apenas a qualidade do trabalho nelas relatado, mas sobretudo a relevância e utilidade do mesmo para o avanço da ciência e da tecnologia por terceiros. No caso das publicações da autoria dos membros do corpo docente da licenciatura em Engenharia Alimentar ministrada na Escola Superior de Biotecnologia, as citações que constam da base de dados do Science Citation Index™ estão representadas na Fig. 2.2. Observa-se uma tendência quase exponencial ao longo dos anos, com valores que em 2000 ultrapassavam já as 300 citações por ano; tratase de um valor absoluto, que naturalmente também reflecte o acréscimo cumulativo de publicações. Assim, por forma a eliminar tal efeito, representa-se na Fig. 2.3 o número médio de citações, por ano e para cada publicação, novamente no caso da autoria por membros do corpo docente de Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia. Sublinhe-se o forte crescimento registado entre 1987 e 1995, seguido de uma tendência para a estabilização (embora com oscilações) em UCE 205 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA número total de citações 350 300 250 200 150 100 50 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1990 1991 1989 1988 1987 0 ano Figura 2.2: Evolução do número de citações oficialmente documentadas de publicações em Engenharia Alimentar. Fonte: Personnal Citation Report by the Institute of Scientific Information. Dados: 2001. número médio de citações por publicação 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1990 1991 1989 1988 1987 0 ano Figura 2.3: Evolução do número médio (e respectivo desvio padrão) de citações, oficialmente documentadas, de cada uma das publicações da autoria de membros do corpo docente de Engenharia Alimentar. Fonte: Personnal Citation Report by the Institute of Scientific Information. Dados: 2001. torno de c. 1.2 citações por publicação e por ano; trata-se de um valor com grande significado, mas que igualmente traduz uma forte dispersão consubstanciada no elevado desvio padrão (i.e. existem publi- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ PUBLICAÇÕES 206 cações com um número reduzido de citações, que são contrabalançadas por publicações com um número extremamente elevado de citações). Este ponto fica mais elucidado pelos dados lançados na Fig. 2.4, relativos ao case study da Escola Superior de Biotecnologia. 14 número médio de citações por ano 12 10 8 6 4 2 0 1 11 21 31 41 51 61 número de publicações Figura 2.4: Distribuição, por ordem decrescente, do número efectivo de citações por ano documentadas, relativas ao quartil superior do conjunto de publicações da autoria de membros do corpo docente de Engenharia Alimentar. Fonte: Personnal Citation Report by the Institute of Scientific Information. Dados: 2001. Verifica-se que, nos 25% de publicações mais citadas, o número médio de citações por ano varia entre c. 1 e 10, novamente com alguma variabilidade, em especial no que concerne às publicações com maior frequência de citação. Pode ser argumentado que a escolha de revistas com elevado factor de impacto (i.e. cujos artigos são, em média, mais frequentemente citados pelos pares) ajuda de forma artificial à divulgação do material publicado junto de um público mais extenso (que assim, e probabilisticamente, tenderá a citar maior número de vezes esses artigos), para além do facto inultrapassável de que publicações mais antigas detêm, em cada momento, uma maior idade susceptível de aumentar a oportunidade de citação; porém, tal não corresponde à realidade – pelo menos no caso das publicações pelo corpo docente da Escola Superior de Biotecnologia, conforme se aduz da observação da Fig. 2.5. UCE 207 ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 150 número efectivo de citações número esperado de citações número de citações 100 50 0 -50 -100 -150 1 11 21 31 41 51 61 número de publicações Figura 2.5: Distribuição, por ordem decrescente, do número efectivo de citações documentadas relativas ao quartil superior do conjunto de publicações da autoria de membros do corpo docente de Engenharia Alimentar, versus o número esperado de citações, calculado em função do factor de impacto da revista e do ano de publicação. Fonte: Personnal Citation Report by the Institute of Scientific Information. Dados: 2001. Com efeito, verifica-se, com 4 únicas excepções no conjunto das 67 publicações listadas, que as publicações são citadas muito mais frequentemente do que seria esperado em função do factor de impacto da revista e da idade da publicação; tal vem atestar do interesse e qualidade intrínsecos (e absolutos) das referidas publicações. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 9. Oportunidades “O futuro não é senão o presente que há que pôr em ordem. Não tens de o prever, mas somente permiti-lo.” Antoine de Saint-Exupéry, escritor francês (1900-1944) 211 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA 1. Dinâmicas macroeconómicas As estruturas económicas actuais caracterizam-se, de forma cada vez mais acentuada, por uma vincada tendência para a mundialização das actividades e dos agentes económicos, e para uma integração internacional, em profundidade, de mercados, tecnologias, conhecimentos, saberes e comportamentos, consubstanciando a emergência de um novo paradigma económico-social e técnico-organizacional, fenómeno cuja designação mais corrente (e consagrada) se encontra na expressão “globalização”. O referido processo deve ser visto como um autêntico salto qualitativo, e não como uma mera aceleração de tendências anteriores, atingindo simultaneamente processos (concepção e desenvolvimento, e produção e distribuição), produtos (bens e serviços) e modelos (de financiamento e de consumo). Como grandes vectores deste processo, destacam-se: (i) a mobilização de recursos humanos, científicos e tecnológicos para a organização de actividades económicas à escala planetária, mas integradas globalmente em cadeias de valor empresariais; (ii) as redes logísticas, de mobilidade de pessoas, produtos, informação e conteúdos; (iii) a interligação entre fluxos/movimentos de comércio, investimento directo, e cooperação e integração empresarial, ao nível internacional; (iv) o desenvolvimento de mercados financeiros e de capitais, numa base mundial; (v) as normas de regulação dos mercados, combinando-se movimentos de desregulamentação, a nível nacional, com formas de harmonização e organização institucional, à escala supranacional; (vi) as redes organizacionais, valorizadas por uma crescente intensidade científica e de conteúdo informativo sobre a produção de bens e serviços (produzindo-se novas realidades nos domínios dos recursos humanos, do capital e dos custos de produção), que promovem cada vez mais o imaterial e virtual (design, marcas, propriedade intelectual, sistemas formais de garantia de qualidade, imagem global dos países e regiões de origem, e modelos culturais e de consumo associados aos produtos); e (vii) uma ligação estreita entre concepção, produção e distribuição, associada a uma alteração das práticas de concorrência e cooperação empresarial, no sentido da sua articulação. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 212 O progresso tecnológico, as novas condições de concorrência, a intensificação das relações económicas internacionais e a globalização são fenómenos interdependentes que se têm vindo a afirmar cada vez mais, e que envolvem: (i) a abertura e o alargamento dos mercados domésticos, em articulação com a formação de grandes mercados internos em diversos blocos regionais de dimensão supranacional; (ii) a consolidação das realidades planetárias, nomeadamente através do surgimento de mercados quase completamente globalizados (mercados de capitais e mercados cambiais) e do lançamento de produtos visando directamente o mercado mundial; (iii) a redução drástica do ciclo de vida dos produtos (e também das tecnologias, equipamentos e qualificações que lhes estão associados), embora através de processos muito diversificados e de consequências heterogéneas sobre os respectivos ciclos de concepção e desenvolvimento; (iv) a segmentação de massa dos mercados consumidores, articulando de forma complexa a uniformização e a diferenciação dos gostos e dos padrões de consumo, num contexto de clara hierarquização do poder de compra das famílias, resultante de novas tendências para a concentração de rendimentos (difusão generalizada do núcleo duro de um modelo de consumo de massa, comportando inúmeros eixos de diferenciação, e do respectivo capital simbólico, em especial entre as jovens gerações, apoiada na mundialização dos media, mas com emergência paralela de movimentos localizados de rejeição dos produtos, símbolos e quadros de valores por eles veiculados); (v) a crescente importância dos factores intangíveis e dinâmicos de competitividade (I&D, capacidade de concepção e desenvolvimento de novos produtos e processos, flexibilidade, qualidade, produtividade, design, imagem de marca, e controlo de canais de distribuição e logística, entre outros) associados às novas formas de promoção do encontro entre o saber (ciência e tecnologia) e as necessidades humanas (consumo); (vi) o reforço da normalização e da certificação (de produtos, processos, serviços, qualificações e empresas), facilitando e respondendo ao movimento de afirmação de múltiplas e intensas formas de cooperação empresarial, e de proliferação de redes de negócios; e (vii) a progressiva afirmação de uma nova economia de procura, moldada por uma dinâmica de organização económica de resposta rápida e flexível a consumidores segmentados (originando um novo paradigma de eficiência, apoiado em eixos e valores como o delivered by referido a soluções, 213 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA a minimização de recursos e custos, e a produtividade puxada pelo par organização/valor), que vai ocupando o valor anteriormente preenchido por uma dinâmica de oferta (que sustentou o paradigma de eficiência apoiado em eixos e valores como o made in referido a meras mercadorias, a maximização de receita, e a produtividade puxada pelo par equipamento/produção). Assiste-se, portanto, à proliferação de novos e múltiplos movimentos estratégicos empresariais, tais como: a implantação triádica (nos EUA/Canadá, na UE e na Ásia desenvolvida) dos grandes operadores globalizados; a deslocalização da produção para regiões que oferecem melhores condições para a utilização dos factores produtivos (num primeiro movimento dominado pela lógica de custos, originando formas simples de deslocalização industrial associadas ao que se veio a designar por outward processing trade, e num segundo movimento muito mais dominado pela lógica do rendimento, valorizando os países emergentes de baixos salários, e boa qualificação e capacidade técnica da força de trabalho); o domínio de sectores-chave e a concentração estratégica (embora o core business dos diferentes grupos e actividades seja cada vez mais flutuante), apoiados num recrudescimento de processos de fusão e aquisição internacional (crossborder mergers & acquisitions); e a emergência de empresas-rede globais, com estabelecimento de acordos de cooperação horizontais e verticais. Os últimos anos têm sido marcados, deste modo, pelo desenvolvimento de estratégias empresariais onde se destacam, como seus principais resultados e características: (i) empresas-rede (suportadas, por um lado, por investimento directo internacional, subcontratação internacional e acordos de cooperação verticais à escala mundial, orientados para a criação de redes mundiais integradas de produção, servidas por cadeias logísticas intercontinentais e intermodais, fortemente informatizadas; e, por outro lado, pelo peso crescente e dominante do comércio intra-firmas e intra-redes); (ii) fusões e aquisições (usadas como forma de ganhar dimensão crítica, de penetrar e/ou dominar sectores e mercados-chave, de eliminar concorrentes, de adquirir recursos úteis como matérias-primas, tecnologias e capacidades de gestão, e de obter ganhos financeiros); (iii) acordos de cooperação horizontais e verticais (utilizados como forma de: partilhar ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 214 e reduzir custos; reduzir a incerteza; alargar mercados e gamas de produtos; aproveitar sinergias e complementaridades; agilizar as lógicas de cadeia de valor e de cadeia de fornecimento/aprovisionamento; e aceder a novos modelos de gestão e organização, know-how e competências não detidas, novas tecnologias, processos, e produtos e mercados, bem como canais de distribuição e comercialização internacionais); (iv) “glocalização” (reflectindo a progressiva relevância da qualidade dos territórios e do ambiente humano e empresarial para a criação de valor, o que significa procurar uma vantagem competitiva global, mas simultaneamente conseguir adaptar-se às vantagens competitivas específicas para o suceso em cada mercado. A globalização, e a concorrência acrescida daí decorrente (a concorrência transformou-se numa competição global entre empresas, regiões e Estados, marcada por normas estritas de promoção da competitividade) é perspectivada por alguns como sendo uma espécie de jogo de soma nula (win-lose, em que o ganho de uns corresponde à perda de outros), do qual beneficiam as economias e as empresas mais competitivas à custa das que revelam uma performance menos dinâmica. Surgem, assim, propostas e atitudes proteccionistas, bem como exigências de maior voluntarismo e intervencionismo por parte do Estado e das políticas públicas, por forma a preservar o status quo e a eliminar, ou pelo menos minorar, os efeitos negativos associados à liberalização dos mercados. Porém, o verdadeiro problema é o da criação e institucionalização de formas novas e eficazes de regulação dos mercados liberalizados e globalizados, e não o de uma oposição estéril entre liberais e estatistas. De facto, a globalização deve ser encarada como um potencial jogo de soma positiva (win-win, em que o ganho de uns não está directamente associado à perda de outros, embora a repartição de ganhos não seja necessariamente equilibrada), em que, pelo menos numa óptica de médio e longo prazo, os ganhos podem ser bastante disseminados desde que as economias e, em particular, as empresas, de forma dinâmica e pro-activa, e numa lógica de antecipação, aceitem os seus desafios (até porque, ao lado das economias de escala, surgem novas oportunidades para a exploração de economias de gama e de especialização, muito mais ao alcance das PMEs). 215 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA A globalização caracteriza-se, deste modo, por mudanças significativas nas estruturas de organização, nos modos de produção, nos processos de decisão e de controlo, e nas estratégias e fluxos de troca de produtos, que são organizados à escala planetária. Por outro lado, a globalização caracteriza-se pela dispersão geográfica de capacidades, saberes estratégicos e tecnologias críticas – os recursos estratégicos são cada vez mais imateriais, baseados em competências humanas e organizacionais, desenvolvidas de forma complexa no seio das empresas e através do seu relacionamento com todo o tipo de instituições de ciência e tecnologia, originando perfis novos e diversificados de valorização da curva da experiência, que são por isso difíceis de imitar ou substituir. Nesta nova realidade, em que a rapidez de resposta se tornou numa arma fundamental, a detenção centralizada de recursos estratégicos distribuídos será progressivamente questionada pela possibilidade de acesso a recursos estratégicos descentralizados, dispersos e diferenciados, que se partilham com aliados estratégicos ou operacionais, no quadro da emergência de uma nova forma de capitalismo suportada por uma rede complexa de acordos de cooperação empresarial, de natureza vertical e horizontal. Mas se a evolução da oferta é crucial, o significado da mesma consubstancia-se apenas no consumo, o qual tende a evoluir no seu pefil em função de razões demográficas e de tendências estruturantes. Em termos de consumo, o envelhecimento progressivo da população, a perda de peso relativo dos jovens e a diminuição do número médio de membros do agregado familiar (p.ex. aumento de solteiros, redução do número de lares com crianças e proliferação de famílias monoparentais) irão marcar uma alteração profunda do perfil demográfico, com reflexos importantes na própria estrutura das depesas de consumo. Acresce que a organização das compras pelas famílias sofre também alterações significativas, traduzidas no surgimento de novos compradores e novas formas de comprar: atenua-se a tradicional divisão de tarefas entre homens e mulheres (questionada, em boa medida, pelo forte aumento da taxa de actividade feminina), aumentam as compras realizadas em conjunto e com a utilização de viatura própria (geradora de maior mobilidade), produz-se uma maior concentração das compras em termos de dias e horas atendendo ao maior envolvimento em actividades profissionais de membros adultos do agregado ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 216 familiar (menor número de visitas e preenchimento de períodos de tempo pós-laborais), e afirma-se substancialmente a componente lúdica dos tempos livres associada ao consumo, pressionando uma articulação muito maior entre comércio e lazer (de que o formato Shopping Center é um bom, mas não único, exemplo). O desenvolvimento das referidas tendências de longo prazo tem conduzido a uma progressiva redução do peso das compras de bens alimentares no total das despesas de consumo das famílias, de mais de 50% para menos de 25%, com a distribuição actual ilustrada na Tab. 1.1. DESIGNAÇÃO PERCENTAGEM NA DESPESA TOTAL Cereais e produtos à base de cereais 3.50 Carne e derivados 5.84 Peixe, custáceos, moluscos e derivados 3.00 Leite e produtos lácteos 2.65 Óleos e gorduras 1.21 Frutos, legumes e outras leguminosas secas 2.98 Batata, mandioca e outros tubérculos 1.62 Açúcar 0.33 Chá, café e cacau 0.34 Outros produtos alimentares 0.39 Bebidas 1.57 Tabaco 0.43 TOTAL de Produtos alimentares, bebidas e tabaco 23.86 Vestuário e calçado 6.27 Habitação, aquecimento e iluminação 20.59 Móveis e equipamento doméstico 6.94 Serviços médicos e de saúde 4.61 Transportes e comunicações 18.94 Distracções, espectáculos, instrução e cultura 4.18 Outros bens e serviços 12.33 Tabela 1.1: Consumo dos agregados familiares por classes de despesas, e por categorias de produtos alimentares. Fonte: Observatório do Comércio. Dados: 2001. 217 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Note-se o peso significativo no cabaz alimentar da carne e derivados, seguidos mais atrás pelos cereais e produtos à base destes. Portugal regista, ainda assim, algumas diferenças importantes face aos valores médios que caracterizam a realidade europeia: apesar da acentuada redução de quota dos bens alimentares no conjunto da despesa, o seu peso relativo e a sua evolução em valores absolutos registam níveis claramente superiores aos de outros países da UE, enquanto as despesas em valor absoluto associadas aos produtos alimentares não ultrapassam pouco mais de metade da média comunitária. Pode, assim, concluir-se que a significativa alteração do ambiente concorrencial, que se aprofunda e consolida na actual fase de crescimento económico, só pode ser compreendida se se prestar atenção às alterações verificadas ao nível do(s) consumidore(s): (i) nível geral de educação e informação muito mais elevado; (ii) diversidade muito maior, fruto da segmentação de rendimentos e estilos de vida, por um lado, e da aceleração drástica dos fluxos de turismo e de emigração/imigração; (iii) volatilidade e previsibilidade de comportamentos muito maiores; (iv) exigência de qualidade, segurança e responsabilidade ambiental muito maior, no quadro mais geral do surgimento de novas necessidades e expectativas; e (v) progressiva articulação do consumismo (i.e. o consumo pelo consumo, através de comportamentos pouco autónomos) com o consumerismo (i.e. o consumo como alavanca para a promoção da qualidade de vida, incorporando valores éticos, estéticos e culturais). A alteração global do ambiente competitivo e concorrencial, marcada em primeiro lugar pela diversificação, autonomização e complexificação dos comportamentos dos consumidores, aconselha, então, a procurar respostas para as questões levantadas pela indústria num quadro estratégico global, ao invés de uma lógica operacional, conjuntural e parcial. 2. Dinâmicas microeconómicas A par de políticas macroeconómicas, a competitividade de uma economia depende, cada vez mais, das políticas microestruturais tendentes a aumentar a competitividade das empresas, porquanto vectores de produção de valor significativo. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 218 A divisão internacional do trabalho pode, hoje em dia, ser melhor potenciada devido à facilidade em optimizar a localização dos processos produtivos pelas empresas transnacionais ou internacionalizadas, na sequência da redução dos custos de transporte e de comunicação, e à proliferação e desenvolvimento dos serviços de logística. Neste quadro, a possibilidade das empresas poderem estruturar e integrar, eventualmente no último estádio do seu processo de internacionalização, todas as suas operações de I&D, produção, sourcing e marketing à escala global, através das mais variadas formas de abordagem dos mercados internacionais (desde os fluxos comerciais, passando pelas redes de subcontratação e alianças estratégicas, até ao estabelecimento de filiais de concepção e produção), permite-lhes a obtenção de fortes ganhos de eficiência, à medida que vão produzindo para o mercado mundial em vez de produzirem para mercados de menor dimensão e mais diversificados. Embora seja uma fonte de riscos, a globalização é igualmente uma fonte de desafios para as empresas: a pressão do tempo, a concorrência em espaços abertos, o aparecimento de novos concorrentes e de produtos substitutos, as barreiras à entrada colocadas pelos novos desenvolvimentos tecnológicos, a tendência para o reforço da oligopolização, e o reforço das relações entre concepção, fabrico e consumo – a crescente terciarização da indústria, graças ao peso crescente, nos países desenvolvidos, das fases de concepção, inovação, geração de capital simbólico, organização, distribuição e comando logístico, devidamente integradas com a fabricação, em economias cuja evolução assenta, cada vez mais, no capital imaterial do conhecimento, é uma das tendências mais importantes a este nível – são alguns dos desafios colocados à actividade empresarial derivados do processo de globalização. No âmbito das oportunidades futuras da Engenharia Alimentar, é possível estabelecer uma série de tecnologias a adoptar, a saber: (i) tecnologias de processo; (ii) biotecnologia; (iii) tecnologia de materiais; (iv) tecnologias de produção discreta; (v) tecnologias de energia; (vi) tecnologias de optoelectrónica; (vii) tecnologias de informação e comunicação; (viii) engenharia de sistemas; (ix) tecnologias de infraestruturação e de construção; (x) tecnologias de sistemas ambientais; e (xi) tecnologias de transportes. A matriz de impactes futuros correspondente às áreas supracitadas está representada na Tab. 2.1, após subdivisão nos subsectores mais importantes. UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA impacte forte comercialização enlatados impacte médio congelados charcutaria impacte fraco lacticínios bens essenciais bebidas A intensidade do impacte é dada por: ■ confeitaria UCE 219 tecnologias de processo biotecnologia tecnologia de materiais tecnologias de produção discreta tecnologia de energia tecnologias de optoelectrónica tecnologias de informação e comunicação engenharia de sistemas tecnologias de infraestruturação e de construção tecnologias de sistemas ambientais tecnologias de transportes Tabela 2.1: Matriz de impactes futuros da Engenharia Alimentar, com listagem cruzada de áreas de conhecimento em engenharia/tecnologia (eixo vertical) e áreas de negócio/produto (eixo horizontal). Fonte: Engenharia e Tecnologia 2020. Dados: 2000. ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 220 Esta análise matricial é uma componente fundamental de metodologia; de facto, a matriz representa, em análise cruzada, o impacte de áreas de conhecimento em engenharia e tecnologia nas áreas de negócio e de produto mais significativas neste subsector. A percepção das áreas de conhecimento mais significativas pode contribuir, assim, para o enfoque dos recursos mais prementes, permitindo a optimização da sua utilização e a compreensão de quais as áreas estratégicas. É dramático o impacto sobre o emprego das tecnologias de informação e comunicação, que hoje caracterizam o nosso mundo. Primeiro, porque estas tecnologias não afectam só um determinado sector, mas todos; segundo, porque se estão a insinuar mais depressa do que as tecnologias de outrora, o que deixa menos tempo para adaptações; terceiro, porque tornam desnecessária a presença física em muitas das funções produtivas. Assim sendo, se as novas tecnologias criarem de per se novos empregos em número considerável, tal acontecerá provavelmente apenas nos países emergentes do Terceiro Mundo, e não nos países ricos do Ocidente. O efeito da tecnologia é amplificado pelas muitas e variadas estratégias a que as organizações normalmente recorrem para poder enfrentar a mudança: (i) porque têm de tomar decisões mais rapidamente, encurtam as cadeias de comando, achatam as hierarquias, e transferem a autoridade de muitas decisões para os empregados da linha da frente; (ii) porque têm de acelerar a produção de bens e a entrega de serviços, redefinem os seus processos a partir de equipas auto-geridas e multidisciplinares; (iii) porque se querem livar de fortes investimentos em stocks, mudam para sistemas just-in-time, que alteram processos e procedimentos em toda a organização; (iv) porque querem envolver os seus fornecedores mais intimamente nas operações, integram os fornecedores (e mesmo os clientes) nas suas equipas de desenvolvimento de novos produtos, o que acarreta mudanças substanciais para quem nelas estiver envolvido; (v) porque as tecnologias permitem automatizar as linhas de produção, eliminam tarefas repetitivas e reduzem o número de postos de trabalho; (vi) porque os clientes são cada vez mais exigentes, em vez da produção em massa e de grandes séries, apostam na produção tipo customized que corres- 221 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ponda às suas expectativas e, consequentemente, apostam na maior flexibilidade e polivalência; (vi) porque as grandes empresas são pouco flexíveis, desdobram-se em unidades autónomas de negócio, dirigidas a nichos de mercado mais restritos e rendíveis; (vii) porque as organizações reconhecem que os antigos hábitos de fazerem elas próprias se tornaram inadequados, limitam-se àquelas partes do negócio onde detêm competências especiais, externalizando tudo o resto a fornecedores terceiros (outsourcing); (viii) porque as novas tecnologias de comunicação trazem novas capacidades, facilita-se a colaboração entre uma empresa e a rede dos seus fornecedores externos, permitindo a colaboração entre os diferentes locais de uma dada organização com a mesma facilidade que entre dois gabinetes contíguos no mesmo edifício; (ix) porque as novas tecnologias de transferência de dados não páram de aumentar em quantidade e qualidade, permite-se o trabalho deslocalizado, apostando-se em trabalho à distância durante as horas normais de expediente; (x) porque, em grande número de organizações, o trabalho e os trabalhadores estão organizados ineficazmente, surge a reengenharia (conceito pioneiro devido a Michael Hammer) como processo sistemático de redefinir o trabalho, permitindo às organizações atingir economias sensíveis em tempo e dinheiro, ao mesmo tempo que melhoram a qualidade dos produtos, eliminando os vários níveis de gestão, comprimindo as categorias de trabalho, criando equipas de empregados pluricompetentes, encurtando e simplificando a produção e a distribuição, emagrecendo a componente administrativa, e tornando obsoleta a identidade tradicional do descritivo do job; e (xi) porque existe turbulência no mercado de trabalho, mesmo dentro de uma aparente situação estática, desaparecem os contornos dos empregos, pelo que as mudanças em torno da organização catalizam mudanças dentro da própria organização, que se vê compelida a reformatar a sua estrutura, os seus procedimentos e a sua cultura para poder subsistir com um mínimo de sucesso. O progresso da civilização implica o acesso a oportunidades de acção; porém, tais oportunidades encontram-se fora, o que implica que as organizações estejam cada vez menos fechadas sobre si mesmas, enveredando, no seu próprio interesse, por objectivos, estratégias e estruturas cada vez mais flexíveis. De facto, só irão subsistir as organiza- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 222 ções que possuam estruturas humanas adaptáveis e moldáveis às novas oportunidades derivadas de circunstâncias conjunturais; e como tais novos elementos no mundo das organizações não irão desaparecer, urge responder criando meios eficazes e humanos para subsistir com eles, adoptando a flexibilização como mote. O desaparecimento dos postos de trabalho actualmente em curso consiste numa mudança que pode ser explorada pelas pessoas e pelas organizações que saibam como actuar; de facto, é necessário saber gerir a mudança, pela simples razão de que se uma das viragens do enquadramento sócio-económico não for efectuada, tal tornará garantidamente obsoletas as pessoas e as instituições em causa. De facto, há vinte anos o trabalho para qualquer pessoa significava uma empresa – um emprego implicava um posto de trabalho. Hoje, a economia possui muitas cores e muitos matizes: as empresas começam a dar-se conta que não é preciso empregar todas as pessoas ao mesmo tempo para fazer o trabalho, porque aquilo que necessitam comprar é o produto e não o tempo de permanência no local de trabalho. Sendo assim, em vez de salários, passar-se-á a falar cada vez mais de honorários, e os empregos passarão a ser efémeros como os negócios, pelo que os empregados deverão reinventar continuamente o seu posto de trabalho. Emerge, assim, a nova classe de profissionais, originalmente designados por trabalhadores de portfolio, que vendem as suas competências a várias empresas ou organizações. A configuração emergente do mundo do trabalho assemelha-se, portanto, a um círculo de três coroas. Na interior e na exterior, os ocupantes são familiares: o centro, preenchido com o pessoal conhecedor da empresa, os empresários que dedicam a vida inteira à sua actividade, os executivos altamente treinados, os jovens ambiciosos que querem substituir os executivos mais velhos, os técnicos, os estrategas de marketing e os vendedores; a coroa exterior, preenchida com trabalhadores largamente intermutáveis e frequentemnte disponíveis, empregados de escritório, operários não qualificados, e trabalhadores do sector dos serviços. Mas é na coroa do meio que se encontra algo de novo: pessoas que, por opção ou por circunstâncias, se encontram no exterior da empresa a trabalhar – os trabalhadores de portfolio, que não pensam em termos lineares como projecto 223 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA organizativo de vida, antes adoptam uma estratégia espiralada, com diferentes segmentos marcados por diferentes ocupações, cada uma conduzindo ao aumento de experiência e ao aperfeiçoamento de skills. Evidentemente que as dimensões dos referidos segmentos estão constantemente a mudar, expandindo-se ou contraindo-se, e as ocupações e preocupações alteram-se: por vezes, um cliente ou um projecto enchem o portfolio, mas à medida que os interesses se alargam, os portfolios vão-se diversificando. Tais trabalhadores pagam-se pelo seu produto e não pelo seu tempo: quem se faz pagar à hora, só pode fazer mais dinheiro trabalhando mais horas; quem se faz pagar por produto, pode ganhar mais trabalhando com mais inteligência, e não necessariamente trabalhando mais tempo. As empresas do futuro serão, então, formadas por um núcleo estratégico de pessoas qualificadas (o organizing core), sendo as restantes funções desempenhadas por tais trabalhadores de portfolio, pelo que as organizações passarão a ter o seu núcleo-chave cada vez mais pequeno, e muitas pequenas organizações ou indivíduos orbitando à sua volta. Irão, por isso, desmoronar-se as organizações criadoras de empregos, e o emprego será cada vez mais criado individualmente. À medida que as organizações se contraem, cresce o número de pessoas a trabalhar para si mesmas - o trabalho significará, por isso, cada vez menos emprego com um patrão. Na Europa, c. 50% da força de trabalho pertence já ao conjunto dos desempregados, contratados a termo, part-timers, freelancers, profissionais independentes e subcontratados. Muito em breve, metade da força de trabalho no Ocidente estará fora da organização, e a prosperidade futura de todos nós dependerá cada vez mais da competência, do treino e da educação de cada um; se cada um não continuar a desenvolver e a actualizar os seus skills, não só perderá utilidade para as organizações, mas, pior ainda, tornar-se-á num peso crescente para o colectivo. Cada um estará empregado enquanto acrescentar valor à organização, sendo continuamente responsável por encontrar formas de adicionar valor; ou seja, cada um deverá questionar-se sobre como poderá contribuir para a empresa, e não sobre como a empresa ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 224 poderá contribuir para ele. 3. Dinâmicas profissionais Num enquadramento baseado em jobs, cada um faz o seu trabalho, o seu job. Num mundo dejobbed, cada um tem de fazer o que deve ser feito, para respeitar e realizar os valores e a visão da organização. Assim sendo, assiste-se à transição entre dois paradigmas. Por um lado, o paradigma dos jobs das organizações de ontem: (i) alocar cada empregado a um nível particular da hierarquia vertical, responsável perante alguém colocado acima e responsável pelas pessoas que se encontrem abaixo na cadeia hierárquica; (ii) alocar o empregado horizontalmente, a um departamento ou a uma unidade funcional responsável por um tipo particular de trabalho; (iii) dar a cada empregado uma área bem definida de responsabilidade, formalizada numa descrição do posto de trabalho; e (iv) estabelecer planos de carreira, a que os empregados possam aceder através da hierarquia e das estruturas salariais da empresa, com vista a obter melhor status e maior recompensa financeira. Por outro lado, o paradigma das novas regras de emprego nas organizações de hoje: (i) cada pessoa é um trabalhador contingente, não apenas os trabalhadores a tempo parcial ou sob contrato a termo — o emprego de cada um é contingente, como o são os resultados que a organização pode atingir (ao reconhecer a turbulência do enquadramento do negócio, os trabalhadores necessitam ver-se a si próprios como pessoas cujo valor para a organização deve ser demonstrado em cada situação que sucessivamente se lhes depare); (ii) à luz da sua contingência, os trabalhadores necessitam desenvolver uma abordagem ao seu trabalho como meio de gerir as suas próprias carreiras, mais como um fornecedor externo do que como um empregado tradicional (ter-se-á de ser suficientemente sensato para pensar que se é um negócio em si mesmo, e que as suas tarefas foram realmente externalizadas para si pela organização); (iii) os trabalhadores devem, por conseguinte, actuar como pessoas num negócio próprio, mantendo um plano para uma carreira de auto-desenvolvimento, assumindo prioritariamente as responsabilidades de investir na segurança da saúde e das pensões de reforma, e de renegociar as suas com- 225 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA pensações com a organização, quando e se a organização necessitar mudar; (iv) cada vez mais os esforços das organizações devem ser assumidos por equipas de projectos constituídas por indivíduos com diferentes backgrounds – os trabalhadores devem ser capazes de mudar rapidamente de uma tarefa para outra, interactuando com pessoas possuindo diferentes treinos vocacionais e mentalidades distintas, trabalhando em situações onde o grupo é o verdadeiro responsável e o gestor apenas um coordenador, para trabalhar sem descrição de funções claras e em vários projectos simultaneamente; (v) os trabalhadores devem estar prontos, não apenas para mudar de projecto dentro da organização, mas sobretudo para se moverem de uma organização para outra, embora a organização tenda a minimizar as alterações quando haja produtividade e empenho por parte do trabalhador, por forma a evitar rupturas desnecessárias e contraproducentes na eficácia, quer da organização quer do trabalhador; (vi) reconhecendo que tais novas exigências são difíceis de implementar, a organização deve fornecer a informação, o treino e o aconselhamento para aqueles que estão a fazer a transição das velhas para as novas regras, embora, em última análise, devam ser os trabalhadores a gerir tal transição nas suas carreiras e nas suas vidas; e (vii) no seu próprio interesse, a empresa deve trabalhar com o novo estilo de trabalhadores de forma colaborante, tornando as relações tão proveitosas quanto possível, embora os benefícios do novo tipo de arrangement sejam diferentes dos antigos. Haja ou não acordo completo, o que é facto é que por toda a parte as empresas, abertamente ou de forma mais encoberta, estão a mover-se nesta direcção; tal é presentemente a situação dominante na quase totalidade das empresas hi-tech. As novas regras do emprego no futuro próximo serão, por isso, traduzíveis num conjunto de grandes orientações: (i) os postos de trabalho deverão ser substituídos por áreas de trabalho; (ii) o valor do indivíduo deve ser demonstrado em cada situação; (iii) aparecem novos conceitos, p.ex. empregabilidade (aptidão para encontrar um emprego, que depende da formação inicial e das competências complementares entretanto adquiridas), competência (conjunto de três tipos de saber: saber-saber, ou conhecimento teórico; saber-fazer, ou experiência prática; e saber-ser, ou atitude e comportamento), polivalência (aptidão para desempenhar ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 226 adequadamente vários postos que requerem um mesmo âmbito de competências) e multicompetência (aptidão para desempenhar vários postos que requerem competências diversas); (iv) as carreiras dos trabalhadores devem ser geridas como se de fornecedores externos se tratassem; (v) as pessoas devem ter um plano profissional de negócio, uma estratégia de carreira, e um plano a longo prazo de desenvolvimento pessoal; (vi) os indivíduos devem trabalhar em equipas sem job descriptions, em vários projectos em simultâneo, mudando rapidamente de tarefa para tarefa; (vii) a transição para o novo contrato de trabalho significa passar do emprego para a empregabilidade, da promoção para o desenvolvimento pessoal, do planeamento de carreira para a estratégia de carreira, da segurança no posto de trabalho para a resiliência na carreira, e do emprego a longo prazo para a carreira de portfolio; (viii) a tendência actual favorece a mobilidade, pelo que deverá haver maior movimento interinstitucional das pessoas; (ix) a evolução profissional não deve depender das oportunidades do organigrama mas da competência, antecipando as competências-chave que a empresa necessitará dispor no futuro e fazendo o necessário para as possuir no momento, na quantidade e na qualidade precisas; e (x) uma vez que o conteúdo dos empregos varia cada vez mais depressa, já não se trata de aprender uma profissão que se exercerá durante toda a vida, mas de aprender a combinar competências diversas e a transferir os conhecimentos adquiridos para situações evolutivas (pelo que os diplomas, embora continuem a ser um elemento de referência muito importante para o mercado de trabalho, deixarão de significar, de per se, emprego e qualificação garantidos). Face a um enquadramento em constante mutação, só pode haver empresas sólidas se estas tiverem capacidade para se adaptar às mudanças, e conseguir vantagens competitivas num processo de constante adaptação: não se trata somente de responder a crises conjunturais, mas de aprender a gerir colectivamente processos de mudança permanente. Porém, as empresas não podem melhorar a sua competitividade se os seus empregados não disfrutarem de motivação para o fazer. A solução passa por satisfazer simultaneamente as necessidades da empresa e os interesses dos empregados – é o conceito de empregabilidade que responde a esta dupla exigência. 227 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA A empregabilidade desenvolve a polivalência dos trabalhadores, favorece a sua mobilidade dentro da empresa quando as necessidades mudam, e ajuda-os a encontrar mais facilmente trabalho no exterior quando as circunstâncias a tal obrigam. Por outro lado, as empresas têm de prever a sua própria evolução, detectar e antecipar as competências-chave que os seus empregados deverão dominar para poder levá-la a cabo com êxito, ter em conta os seus desejos pessoais, favorecer a auto-selecção por parte de cada um deles pelo seu próprio percurso individual, e ajudá-los com tempo e dinheiro a consegui-lo. Sendo as empresas pressionadas a desenvolver novos produtos ou serviços, a entrar em novos mercados, e a assegurar permanência nos existentes à custa de diversificação e diferenciação, muitas delas, pelas necessidades de redução de custos, têm realizado programas de downsizing sucessivos; como resultado, a estabilidade do emprego e o planeamento de carreira a longo prazo estão hoje desajustados da realidade. O planeamento de carreiras é um processo contínuo e não uma decisão tomada uma vez na vida – é, de facto, difícil avaliar opções para um futuro instável e imprevisível. Neste contexto de incerteza, torna-se vital uma nova abordagem na gestão de carreira: (i) procurar o desenvolvimento pessoal (o importante é encontrar um sentido global coerente, e não uma solução perfeita; reflectir sobre a carreira e procurar respostas pessoais; e ter uma nova visão em relação às funções actuais e às oportunidades de desenvolvimento pessoal); (ii) aprender com a resistência (perante as dificuldades, começam a surgir dilemas e obstáculos, pelo que é útil e salutar tentar compreender as razões de uma resistência, e dar-lhe expressão ao tentar incorporá-la nos sonhos de carreira); (iii) clarificar o futuro ideal (é conveniente ultrapassar a realidade e imaginar uma situação ideal para os 5-10 anos seguintes, o que é inclusive útil para a tomada de decisões); (iv) estudar-se a si próprio (através de avaliações psicológicas – traços de personalidade, fase actual da vida, disponibilidade para investir, e capacidade para assumir riscos; experiência passada – percurso profissional, actividades mais gratificantes e mais detestáveis, e feedback de amigos e colaboradores; e exercícios simbólicos – pedido de ajuda na descoberta e compreensão de atitudes e/ou motivações inconscientes); (v) análise de competências ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 228 passadas (elaboração de uma lista de aptidões e capacidades a utilizar na construção de um curriculum e, se necessário, na procura de um emprego); (vi) análise de competências ideais (avaliação das capacidades que se julguem fundamentais para a concretização dos objectivos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, estabelecendo uma hierarquia de prioridades para identificar quais as características a desenvolver em primeiro lugar); (vii) planear o futuro ideal (incluindo listagem dos objectivos e fases para os atingir, e levantamento dos recursos e tempo necessários para atingir as metas propostas); (viii) pedir a opinião de terceiros (partilhar os resultados das fases anteriores com pessoas do círculo de confiança, antes do envolvimento na implementação prática do plano proposto, constituindo uma rede de entreajuda que pode igualmente transformar-se numa fonte de identificação de oportunidades); (ix) executar um passo de cada vez (desenvolver as competências que se considerem mais importantes para o futuro, escolhendo as que dão maior satisfação ou que são críticas para passar à fase seguinte, devendo as opções de carreira ser consistentes com a visão de futuro, e das capacidades consideradas fundamentais de acordo com os objectivos pessoais); e (x) repensar o processo (avaliar a situação periodicamente, pensando sobre o futuro e seguindo uma abordagem de desenvolvimento a longo prazo na vida e no trabalho, notando que em momentos de crise é muito mais difícil começar a planear e a mudar). 4. Dinâmicas formativas A análise do perfil de habilitações dos trabalhadores do sector alimentar revela com grande clareza uma vulnerabilidade e uma forte limitação do potencial competitivo das indústrias em Portugal, a saber um nível muito baixo de educação e qualificação dos recursos humanos mobilizados, conforme se pode aferir da Tab. 4.1. Constata-se que mais de metade dos trabalhadores possuem um nível de educação inferior à actual escolaridade obrigatória, e mais de 3/4 não ultrapassam este nível, enquanto que aqueles que detêm uma graduação mínima de nível superior pouco mais são do que 3%. Acresce que o sector industrial alimentar apresenta uma estru- 229 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA tura ainda mais desfavorável do que a do padrão nacional quando se comparam os respectivos indicadores, sendo particularmente significativo o facto de o peso relativo dos trabalhadores com formação superior no sector ser aproximadamente metade do que HABILITAÇÕES Não sabe ler nem escrever Indústria alimentar Total nacional 1.6 0.8 Sabe ler e escrever sem possuir o 1º ciclo do Ensino Básico 2.9 1.7 1º ciclo do Ensino Básico 51.5 39.0 2º ciclo do Ensino Básico 21.1 22.3 3º ciclo do Ensino Básico (ou equivalente profissionalizante) 19.5 29.9 Bacharelato 1.2 1.9 Licenciatura 2.2 4.4 Tabela 4.1: Nível de educação do emprego assalariado no sector alimentar. Fonte: Ministério do Trabalho e da Solidariedade. Dados: 2001. acontece a nível nacional. Do exposto, decorre que um investimento em novas tecnologias, a nível empresarial, não acompanhado por um investimento em recursos humanos bem formados e altamente treinados, levanta obstáculos (dificilmente ultrapassáveis) ao aproveitamento do capital tecnológico em todas as suas potencialidades. Num plano horizontal, existem em última análise três forças motrizes que têm vindo a transformar, de forma profunda e perene, o contexto das actividades económicas e, consequentemente, a prestação da sociedade actual: (i) o advento da sociedade da informação, (ii) o domínio da civilização técnico-científica, e (iii) a globalização da economia. A expressão sociedade da informação refere-se a um modo de desenvolvimento social e económico em que a aquisição, armazenamento, duplicação, processamento, melhoramento, transmissão, distribuição e disseminação da informação, levando à criação de conhecimento e à satisfação das necessidades dos cidadãos e das empresas, irá cada vez mais desempenhar uma função central na actividade económica, na criação de riqueza e na definição da qualidade de vida dos cidadãos (e das práticas culturais a ela associadas e dela derivadas), ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 230 catalizando, assim, os eventos contemplados nos pontos (i) e (ii). Estamos neste momento a enfrentar o desafio da vulgarização maciça das tecnologias da informação, sofrendo por isso uma pressão inultrapassável do mercado mundial, e sentindo-nos então compelidos à renovação, nos pontos de vista científico e técnico, de tal forma que, independentemente dos desejos e expectativas individuais, entramos irreversivelmente numa nova forma de estar e numa nova sociedade. A construção de tal sociedade dependerá fortemente da nossa capacidade de resposta às consequências que resultam das referidas transformações, quer através da obtenção de elevados níveis culturais dos indivíduos, quer através do desenvolvimento das suas aptidões para o trabalho e a actividade profissional, e dependerá também de quanto as instituições educacionais e os agentes culturais souberem como proceder na senda do desenvolvimento sustentado, único susceptível de criar novas oportunidades de emprego. A sociedade da informação exige, assim, consolidação contínua, bem como actualização permanente do conhecimento dos seus cidadãos. Consequentemente, o conceito de educação ao longo da vida deve ser assumido como uma construção indispensável, gradual e ininterrupta do homem, do seu conhecimento, e das suas capacidades de discernimento e actuação. O Ensino Superior desempenha um papel de relevo no processo global da produção de cidadãos, aptos para viver e capazes de crescer no seio da sociedade de informação, pelo que deveria ser objecto de atenção e ênfase cada vez maiores, por forma a garantir uma trajectória segura e robusta para o futuro. O futuro nunca foi tão incógnito como o é agora, mas a construção do futuro também nunca foi um desafio tão irrecusável como o é actualmente. A evolução dos conhecimentos, das economias em geral e da actividade empresarial da indústria em particular, exige uma atenção continuada à realização de ajustamentos entre o Ensino Superior e as empresas, que não deverão ficar limitados à formação curricular de base. De facto, as empresas deverão poder continuar sempre a contar com a Universidade para a actualização, a reciclagem e o desenvolvimento dos conhecimentos dos seus profissionais. Neste domínio, desenham-se sobretudo dois grandes campos de actuação: as acções de pós-gra- 231 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA duação e as acções de formação contínua. Quanto às acções de pós-graduação, existe todo o interesse na sua articulação com a actividade empresarial, quer elas se destinem a recém-licenciados, quer (como em muitos casos será desejável que aconteça) se destinem a quadros já com experiência profissional. Essa articulação poderá abranger as matérias leccionadas, a realização de trabalhos práticos em empresas, o convite a quadros e gestores para ministrarem determinadas matérias, e a escolha de case studies empresariais concretos como temas de dissertação. No que respeita às acções de formação contínua, por natureza elas abrangerão profissionais já com experiência profissional, e desenvolver-se-ão ao longo das respectivas carreiras. Portanto, será naturalmente mais directa a relação com as necessidades, concretas e práticas, desses profissionais e das respectivas empresas. Além do conteúdo, a própria estruturação das acções (p.ex. duração e horários) deve ter em conta as condições de trabalho e as solicitações profissionais dos respectivos participantes, ainda que podendo requerer, do lado dos formandos e das respectivas entidades empregadoras, algum ajustamento dessas condições. Os próximos anos irão ser decisivos para consolidar o esforço de investimento e de formação de recursos humanos, expresso num maior nível de produção científica, na criação de massa crítica em certas áreas de excelência, no alargamento da cooperação científica e tecnológica internacional, e numa articulação mais estreita entre os sistemas de ciência e tecnologia, por um lado, e de inovação, por outro. A necessidade de desenvolver o raciocínio crítico dos alunos das Universidades e Institutos Politécnicos é provavelmente um dos pontos mais críticos da área abrangendo os recursos humanos, porquanto tradutor da dificuldade estrutural do sistema de Ensino Superior em preparar convenientemente para a utilização eficaz do mais importante processo mental, devido à amplitude da escala de tempo exigida por alterações a este nível antes de se tornarem palpáveis; tal dificuldade foi já ultrapassada, há algumas gerações, nos curricula dos países mais desenvolvidos do mundo. A apetência para o raciocínio crítico pode ser vista como o conjunto ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 232 de capacidades desenvolvidas quando os estudantes aprendem a resolver problemas, formular decisões ou fazer avaliações relativamente a padrões de excelência. Outras formas alternativas de conceber esta competência são: (i) processo em execução, de procura e análise de uma grande quantidade de informação, destinada a criar uma melhor compreensão e a conduzir à resolução mais eficaz de problemas, e de tomada de decisões em assuntos de grande complexidade; (ii) aplicação intencional de ferramentas intelectuais de elevado nível (p.ex. análise, síntese, reconhecimento cognitivo, resolução de problemas, inferência e avaliação); (iii) conjunto de investigações cujo objectivo é o de explorar uma situação, fenómeno, questão ou problema, por forma a chegar a uma hipótese ou conclusão sobre ele(a), que integra toda a informação disponível e que, por isso, pode ser justificada de forma convincente; e (iv) processo pelo qual uma pessoa toma decisões, razoáveis e reflectidas, focadas naquilo que deve fazer ou em que deve acreditar, envolvendo a aplicação de conhecimento extensivo e acessível, e requerendo a aplicação de processos de raciocínio executivos e não-executivos. Os níveis mínimos, que devem ser exigidos no Ensino Superior, destinam-se a trazer rigor e a encorajar o referido raciocínio crítico, bem como a capacidade para a resolução de problemas na sala de aula por parte daqueles que estão a receber treino educacional na área alimentar. A capacidade para o raciocínio crítico tem sido largamente reconhecida como vital para o sucesso profissional. Entre as actividades utilizadas para melhorar tal capacidade, incluem-se: a reflexão crítica sobre a informação científica, disponível na literatura popular, nas áreas de biologia; a utilização de abordagens computacionais, enfatizando a aplicação de conceitos previamente transmitidos em física, para ajudar os alunos a resolver problemas; ou a utilização de uma história de mistério, sobre um crime ficcional, para ajudar os alunos a utilizar propriedades químicas para o decifrarem. Uma das formas mais eficazes de fortalecer a capacidade para o raciocínio crítico inclui pesquisas bibliográficas; p.ex. um trabalho de casa, que consista na avaliação de métodos analíticos actuais versus métodos antigos, incluindo as razões por que a nova abordagem é melhor, bem como estimativas de custo e de exequibilidade, em várias situa- 233 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA ções, e sua utilidade académica ou empresarial. Ou, alternativamente, uma pesquisa do state-of-the-art em várias revistas científicas da especialidade, em que os alunos extraem e apresentam a informação mais relevante num formato acessível para o público em geral. Ou, ainda, a tarefa dada pelo professor relativa à avaliação de informação nutricional a partir de uma variedade de fontes (jornais, revistas populares e livros de divulgação), incluindo especificamente um conjunto de afirmações, cuidadosamente seleccionadas, todas de alguma forma incorrectas, pretendendo-se a detecção e a justificação do porquê de tais incorrecções. As técnicas de resolução de problemas são normalmente mencionadas como uma forma de desenvolver a capacidade para o raciocínio crítico; p.ex. sabendo que a reformulação de um produto, com um novo edulcorante, conduz a um produto mais escuro, como proceder no sentido de tornar mais ténue tal coloração, ou como avaliar se tal alteração virá a ter impactos significativos, de índole organoléptica ou química. Ou, alternativamente, propor vários problemas práticos, que envolvam alguns cálculos mas em que a informação disponível seja insuficiente para permitir análises detalhadas, e que são abertos por natureza, não possuindo uma solução particular, pretendendo-se que os alunos apresentem soluções lógicas para os mesmos. Pode também pretender-se colocar os estudantes a trabalhar em situações da vida real, relativas à operação de fábricas alimentares locais em que, após a apresentação do problema, são dados alguns dias para visitar a fábrica e discutir o problema no seio do grupo, sendo a apresentação das conclusões feita por um porta-voz, e focada na identificação clara do problema e na concepção de pelo menos uma proposta de solução viável. Naturalmente que estas tarefas em grupo podem incluir um followup mais profundo, incluindo um plano de verificação e/ou teste experimental da solução proposta, disponibilizando-se o responsável técnico da fábrica para intervir, ainda que marginalmente, no processo, fornecendo alguma restrição ou informação suplementar, ou contrapondo argumentos sobre a proposta apresentada. O trabalho individual em projectos, no seio de um grupo de alunos, escolhendo um processo interessante para os membros desse grupo, e passando pelas diversas fases de concepção do diagrama de fluxo, ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 234 incluindo quantificação através de balanços materiais e energéticos, estando o professor disponível para interactuar com o grupo, aperfeiçoando a abordagem e questionando, de forma crítica, as opções feitas, é uma forma eficaz de transmitir e apurar o raciocínio crítico. Outra possibilidade, em termos de química alimentar, é a de propor o estudo de um alimento complexo, constituído por múltiplos ingredientes, pretendendo-se a procura de pelo menos três publicações diferentes na literatura sobre esse tipo de produto (ou similar), selecção dos métodos para estimar as proporções e condições de formulação, e, finalmente, confirmação da veracidade do conteúdo informativo do rótulo; assim, os alunos determinam, por eles próprios, se uma análise está a conduzir a resultados aceitáveis, o que exige auto-avaliação e maturidade de julgamento sobre dados, e de como as observações se ajustam a conceitos anteriormente aprendidos. Uma possibilidade alternativa consiste no desenvolvimento de um projecto de controle de qualidade, em que os estudantes executam e completam o projecto como se eles fossem responsáveis pelo departamento de controlo de qualidade de uma empresa alimentar, tendo, em particular, a responsabilidade de verificar a conformidade das matérias-primas, dos produtos intermédios e dos produtos finais; desta forma, o estudante deverá identificar os testes necessários, e definir as características que são importantes, aquelas que podem ser medidas e aquelas que podem ser manipuladas, em suma, aquelas que podem ser controladas. O projecto de desenvolvimento de novos produtos deverá abranger toda a linha produtiva, desde a concepção à produção industrial, passando pela formulação, pelo teste de vida útil, pelo desenvolvimento da campanha de marketing e pelo estabelecimento dos parâmetros processuais óptimos; os estudantes do grupo devem apresentar relatórios sucintos de progresso numa base semanal, e justificar as suas decisões perante o resto da turma; dado que todos os produtos são diferentes, todos os problemas de desenvolvimento são também distintos, pelo que os estudantes desenvolvem a sua capacidade de raciocínio crítico para resolver o problema específico que lhes é proposto, enquanto apreendem formas alternativas de abordar problemas similares por parte dos colegas. Uma outra forma consiste na escrita de uma proposta para um pro- 235 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA jecto, a qual deve cobrir a análise do problema, a colecção e aplicação de informação pertinente, a interpretação e racionalização dessa informação, a organização e apresentação dos factos, e a síntese na forma das conclusões mais relevantes esperadas. Finalmente, o raciocínio crítico pode ser melhorado através da proposta de duplicação de um produto, tentando utilizar técnicas analíticas disponíveis, desde a cromatografia líquida de alta pressão à análise isotópica, ficando os alunos, desta forma, proficientes no uso de tais metodologias sofisticadas para eventual despistagem de falsificações. A escrita de artigos técnicos, numa base individual, que requer raciocínio crítico ou interpretação específica de informação, pode ser igualmente utilizada com sucesso. Uma possibilidade é o pedido aos alunos para avaliarem, de forma crítica, um composto químico presente em alimentos, no que respeita à sua funcionalidade, reactividade e segurança, integrando, assim, conhecimentos de química, tecnologia alimentar, toxicologia, nutrição e microbiologia. Uma outra possibilidade é a selecção de um composto, a ser analizado num sistema (ou matriz) alimentar específica, e, através de uma pesquisa informática em bases de dados convenientes, seleccionar e avaliar dois métodos distintos de detecção e quantificação desse composto. Pode também sugerir-se a preparação de um relatório do state-of-the-art, cobrindo um microorganismo patogénico transportado por alimentos, através da integração da informação obtida e da sua defesa pública perante o resto da turma; trata-se de um desafio particularmente difícil, na medida em que a resposta não está facilmente acessível, pelo que os alunos têm de recorrer a capacidades de integração e previsão para conseguirem construir a sua argumentação. Os exercícios de laboratório oferecem oportunidades para os estudantes identificarem produtos alimentares desconhecidos; p.ex. a proposta de identificação de um produto, a partir dos seus ingredientes e das suas proporções relativas, recorrendo (ou não) a testes organolépticos suplementares. Uma situação mais complicada é a selecção dos compostos a analisar, até um número máximo pré-definido, escolhendo cada composto a analisar após se ter procedido a análises para o anterior, tentando desta forma descobrir quais os compostos mais distintivos, numa perspectiva de aplicação do princípio da chave dico- ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL ■ OPORTUNIDADES 236 tómica ao processo de investigação. Por forma a promover as capacidades de raciocínio crítico, pode igualmente recorrer-se às técnicas da exposição oral, permitindo que dois grupos de alunos estudem, em profundidade, um determinado tema com relevância alimentar, sorteando depois qual o grupo que desenvolverá (e defenderá) argumentação a favor, e qual o grupo que desenvolverá (e defenderá) argumentação contra; em qualquer dos casos, o resto da turma fará o papel de júri, determinando no fim, por votação secreta, qual o veredicto, baseados unicamente nos argumentos utilizados pelos colegas. A capacidade de raciocínio crítico pode também ser estimulada através da realização de exames com consulta, sendo as perguntas criteriosamente escolhidas por forma a ter propositadamente mais de uma resposta possível e razoável, embora nenhuma delas possa ser encontrada per se no(s) livro(s) de texto. Outra possibilidade é propor uma descrição de fenómenos observados na prática, envolvendo o comportamento de alimentos específicos, e solicitar aos alunos uma (ou mais) justificações baseadas nos princípios da química e da microbiologia alimentar; p.ex. porque é que um fruto enlatado pode ser incorporado numa sobremesa à base de gelatina, mas o mesmo fruto fresco não pode. Desta forma, a informação de base, conjugada com o bom senso, ajuda a desenvolver a capacidade de raciocínio crítico, através da análise, síntese e apresentação para cada caso. Finalmente, poderá mesmo chegar-se a permitir a realização do exame fora da sala de aula, colocando à disposição dos alunos material bibliográfico contendo informação não necessariamente coberta nas aulas presenciais da disciplina, e incluindo deliberadamente material de fraca qualidade científica, dando deste modo oportunidade ao aluno para escolher criteriosamente as suas fontes; um indicador de sucesso é o nível de crítica das fontes cientificamente fracas, ou do grau de frequência e extensão de citação das fontes cientificamente fortes. Regra geral, os estudantes treinados no fortalecimento das suas capacidades de raciocínio crítico propõem soluções mais imaginativas, e frequentemente muito melhores, do que os que não foram habituados a treinar e fortalecer esta capacidade; demonstram, também, nas suas respostas que são capazes de abordar os problemas numa perspecti- 237 UCE ■ UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA va mais alargada, conseguindo então evoluir mais facilmente a partir da solução anterior para uma nova solução, caso deparem com algum problema ou desvantagem imprevista. Na vida real, os estudantes que foram melhor treinados no raciocínio crítico têm sistematicamente mais sucesso profissional, e sobem mais rapidamente nas suas carreiras; ao mesmo tempo, as empresas empregadoras tiram partido desse facto, capitalizando no seu património recursos intelectuais nobres, e aplicando-os no melhoramento da organização interna e da ENGENHARIA ALIMENTAR EM PORTUGAL 10. 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