Editorial | &
Comunicação
Cultura
n.º 7 | primavera-verão 09
| Rita Figueiras
Comunicação & Cultura
Directora
Isabel Capeloa Gil
Editor
José Alfaro
Conselho Consultivo
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Appadurai (New York University), Gabriele Brandstetter (Freie Universität Berlin), Elisabeth Bronfen
(Universität Zürich), Marcial Murciano (Universitat Autònoma de Barcelona), Christiane Schönfeld
(Huston School of Film, National University of Ireland), Michael Schudson (Journalism School, Columbia University), Michel Walrave (Universiteit Antwerpen), Barbie Zelizer (Annenberg School for
Communication, University of Pennsylvania)
Conselho Editorial
Ana Maria Costa Lopes, Ana Gabriela Macedo, Aníbal Alves, Carlos Capucho, Estrela Serrano,
Fernando Ilharco, Isabel Ferin, Jorge Fazenda Lourenço, José Augusto Mourão, José Miguel Sardica,
José Paquete de Oliveira, Manuel Pinto, Maria Augusta Babo, Maria Luísa Leal de Faria, Mário Jorge
Torres, Mário Mesquita, Rita Figueiras, Roberto Carneiro, Rogério Santos
Conselho de Redacção
Carla Ganito, Catarina Duff Burnay, Fátima Patrícia Dias, Maria Alexandra Lopes, Nelson Ribeiro,
Verónica Policarpo
Arbitragem
Aníbal Alves, Carlos Capucho, Fernando Ilharco, Isabel Ferin, Jorge Fazenda Lourenço, José Augusto
Mourão, José Paquete de Oliveira, José Miguel Sardica, Manuel Pinto, Maria Augusta Babo, Maria Luísa
Leal de Faria, Mário Jorge Torres, Rita Figueiras, Roberto Carneiro, Rogério Santos
Coordenação deste número
Rita Figueiras
Revisão
Conceição Candeias (revisão em língua portuguesa)
Edição
Com uma periodicidade semestral, Comunicação & Cultura é uma revista do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa), editada
por BonD – Books on Demand. O CECC é apoiado pela FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Artigos e recensões
A revista Comunicação & Cultura aceita propostas de artigos para publicação que se enquadrem na
área das Ciências da Comunicação e da Cultura. Todos os elementos relativos a essas colaborações
– normas de apresentação de artigos, temas dos próximos números, princípios gerais de candidaturas,
contactos e datas – devem ser consultados no final desta publicação.
Assinatura anual
Custo para Portugal e Espanha: 20 euros. Para outros países, contactar a editora. Os pedidos de assinatura
devem ser dirigidos a: [email protected] | www.bond.com.pt
Impressão: Rolo & Filhos II, SA | Depósito legal: 258549/07 | ISSN: 1646-4877
Solicita-se permuta. Exchange wanted. On prie l’échange.
Editorial | &
Comunicação
Cultura
n.º 7 | primavera-verão 09
intelectuais
e media
Bon D
BOOKS
on DEMAND
| Rita Figueiras
Editorial | Índice
Editorial
Os intelectuais e os media................................................................................................... 9
rita figueiras
dossier/artigos.................................................................................................................... 15
O jornalismo e a intelligentsia portuguesa nos finais
da Monarquia Constitucional.................................................................................... 17
José Miguel Sardica
No Portugal monárquico das últimas décadas do século xix e dos primeiros
anos do século xx, a imprensa tornou-se o meio por excelência para a reorganização sociocultural da nação, e os jornalistas os grandes agentes construtores e porta-vozes desse novo país acordado para uma maior consciência
e participação cívicas. Perante um espaço público e uma opinião pública em
processo de alargamento, o papel exercido pelos jornais na orientação da
vida política e do quotidiano tornou-se tópico de redobrada discussão entre
a intelligentsia, sobre a utilidade, as virtualidades, os defeitos e os perigos do
jornalismo. Este texto procura explorar as cambiantes dessa reflexão, que
oscilou entre o entusiasmo e o cepticismo, esclarecendo algumas das esperanças conjunturais e dos estrangulamentos estruturais do Portugal desse
tempo.
Palavras-chave: Imprensa, Jornalismo, Opinião pública, Intelligentsia, Portugal,
Monarquia
| Rita Figueiras
Ousar lutar, ousar vencer: a imprensa periódica oitocentista
como motor da promoção intelectual feminina....................................................... 39
Ana Maria Costa Lopes
As mulheres de Oitocentos que ousaram inverter a ordem estabelecida e se
assumiram publicamente como intelectuais na imprensa periódica foram
verdadeiras heroínas. Os textos por elas escritos sobre a sua evolução intelectual, ou sobre a emancipação da mulher, sobre a igualdade entre sexos
e sobre as condições de vida das mulheres do seu tempo, são testemunhos
de arrojo raro. Desmontando múltiplos preconceitos relativos à educação e
à instrução, elas provocaram a mudança de velhas e impostas identidades
relativas à mulher.
Palavras-chave: Igualdade, Instrução, Mulheres intelectuais, Imprensa periódica,
Visibilidade feminina
A Falange intelectual: a Falange excepcional............................................................ 49
Inês Espada Vieira
Burgos, Espanha, 1938. Em plena Guerra Civil (1936-1939), o chefe dos
militares sublevados contra a ordem constitucional republicana, Francisco
Franco, forma o seu primeiro governo e nomeia ministro do Interior Serrano
Suñer, que se encarregou de unificar os serviços de imprensa e propaganda
sob a sua alçada. Para chefiar o gabinete de propaganda, Serrano Suñer chamou o jovem de 25 anos com quem travara amizade no ano anterior, Dionisio
Ridruejo. O presente trabalho acompanha o percurso de Ridruejo e dos seus
companheiros do «Grupo de Burgos», inserindo-os também na chamada
«geração de 1936». O ensaio salienta a importância da sua intervenção ideo­
lógica na imprensa afecta ao Movimiento, situando-os como responsáveis
pela invenção da vida cultural durante o primeiro franquismo e assinalando
a sua evolução posterior de puros intelectuais falangistas para posições liberais, sempre consentâneas com a sua consciência.
Palavras-chave: Falange espanhola, Guerra Civil de Espanha, Intelectuais fascistas,
Geração de 1936, Grupo de Burgos, Franquismo
Manuel Maria Múrias: um «intelectual orgânico»
na RTP ao tempo de Salazar........................................................................................ 67
Francisco Rui Cádima
Ao longo de boa parte dos anos 60, a informação da RTP é dirigida por
Manuel Maria Múrias, que surge então com um duplo estatuto, quer de
comissário do regime na informação televisiva, quer de «intelectual orgânico» panfletário e radical, delineando uma estratégia e um estilo adequados à crise colonial e ao crescendo de insatisfação e resistência perante o
regime. Como «político funcional» e indefectível de Salazar, Múrias manteve
Editorial | a sombra do ditador sempre presente na RTP, procurando «ilustrar» obsessivamente a ditadura com a demagogia e a propaganda, nomeadamente nos
seus comentários de abertura de telejornais e nos seus editoriais relativos às
«efemérides» do regime.
Palavras-chave: Televisão, Ditadura, Informação, Censura, Política
A presença dos media nos diários pessoais............................................................... 85
Mário Mesquita
Neste ensaio, o autor analisa a relação entre os diários pessoais e os jornais.
Compara os critérios de reconstrução dos acontecimentos nos diários e nos
jornais, exemplificando com autores como José Régio, Miguel Torga ou Vergílio Ferreira. Nos diários, a impossível objectividade informativa cede lugar
à não menos irrealizável sinceridade autobiográfica. O diarista procura ou
simula a autenticidade, enquanto o noticiarista se legitima através da retórica da objectividade. Este artigo ocupa-se ainda da representação do jornalismo nas páginas dos diários, sendo que a presença dos media nos diários
pessoais tanto assume a perspectiva crítica como revela fascínio pelos dispositivos mediáticos.
Palavras-chave: Diários, Jornais, Acontecimentos, Objectividade jornalística, Sinceridade autobiográfica
Public intellectuals – past, present and future........................................................ 115
Maria Laura Bettencourt Pires
Este artigo analisa os vários papéis que os intelectuais públicos têm representado ao longo do tempo e a sua posição no passado e nas sociedades democráticas do século xxi e do futuro. O título indica que, nesta análise, não são
consideradas balizas temporais específicas. Não se tratando de um artigo de
opinião, não se apresenta uma nova interpretação do tema ou uma opinião
polémica que se afaste das de outros estudiosos. Embora a cultura intelectual
inclua diversas capacidades e formas de conhecimento, ela pode, também,
definir-se, de forma sintética, como o talento para reflectir, analisar, criticar
e exprimir e contestar ideias. E, tal como Michael Oakeshott, no seu ensaio
«O Papel da Poesia nos Diálogos da Humanidade», tão bem nos ensinou,
requer-se o domínio de um discurso intelectual e dos seus vocabulários
abrangentes para os implementar suficientemente bem para poder intervir
na nossa cultura, tal como os intelectuais públicos deviam fazer.
Palavras-chave: Intelectual, Cultura intelectual, Intelectual público, Discurso intelectual
dossier/entrevistas........................................................................................................... 131
|
Entrevista a Arjun Appadurai.................................................................................... 133
Teresa Ferreira
Entrevista a Andreas Huyssen .................................................................................. 141
Ana Fabíola Maurício
Entrevista a Daniel Dayan.......................................................................................... 153
pedro veiga
recensões............................................................................................................................ 167
Wolf Lepenies, ¿Qué es un intelectual europeo?: Los intelectuales y la política del
espíritu en la historia europea
(Inês Espada Vieira)
Tiago Baptista, As Cidades e os Filmes – Uma biografia de Rino Lupo
A Invenção do Cinema Português
(Carlos Capucho)
Carla Ganito, O Telemóvel como Entretenimento
(Catarina Duff Burnay)
Arjun Appadurai, Fear of Small Numbers: An Essay on the Geography of Anger
(Patrícia Dias)
Daniel Dayan (dir.), O Terror Espectáculo: Terrorismo e Televisão
(Isabel Capeloa Gil)
montra de livros................................................................................................................ 183
agenda................................................................................................................................ 191
abstracts............................................................................................................................. 197
próximos números........................................................................................................... 203
normas para o envio de artigos e recensões............................................................. 208
| Editorial
Os intelectuais e os media
rita figueiras *
Quando em 2007 Andrew Keen lançou The Cult of Amateur, lançou também
um debate sobre as implicações das novas tecnologias na destruição da cultura e
dos seus modelos de negócio. Para Keen, nos últimos anos, a Internet tem sido
uma das principais responsáveis pela perda de relevância da cultura erudita, do
conhecimento e dos especialistas nas sociedades contemporâneas, bem como pela
falência eminente dos seus modos de expressão, como os livros ou os jornais.
Num tempo em que o conhecimento é entendido cada vez mais como algo superficial e banal, e em que a Internet se apresenta como um dos media dominantes,
os conteúdos dos blogues, da Wikipédia ou do YouTube, gerados por indiví­­duos
sem credenciais ou obra intelectual que valide o que produzem, têm suscitado um
conjunto de questões sobre as consequências culturais destas novas práticas. Se
qualquer um, independentemente do grau de conhecimento sobre os assuntos,
pode colaborar com este novo meio, qual é o lugar reservado aos especialistas e
aos intelectuais numa sociedade que privilegia o amadorismo e dele se alimenta?
Andrew Keen explica o triunfo do amadorismo com as características tecnológicas da Internet. Como qualquer media, esta tem a capacidade de influenciar a
_______________
* Professora auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC).
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sociedade; no entanto, não deixa de ser apenas a ponta do icebergue de uma mudança cultural maior, que lhe é anterior e externa.
A Internet tem vindo a ampliar um fenómeno que começou na televisão, ao
promover a vox populi e ao pô-la ao mesmo nível dos especialistas. Quão excessivo tem sido o destaque dado ao «cidadão anónimo», que tem o palco mediático
sempre disponível para se expressar sobre qualquer assunto em talk shows, mas
também nos jornais televisivos? O que têm valorizado os reality shows ao longo
dos anos se não a ambição instantânea e sem esforço de quem busca validar a sua
(mera) existência, ao invés de um talento artístico ou um trabalho intelectual, através do reconhecimento mediático? Que indicação dão os concursos de talentos à
sociedade quando o júri de especialistas é secundarizado pelo voto dos telespectadores, que nada precisam de saber do métier para escolherem?
Por imperativos comerciais, a televisão passou a centrar-se no cidadão comum, valorizando-o e legitimando a sua forma de expressão e interesses, criando
uma arena cultural aberta, acessível e inteligível a todos: velhos e novos, homens e
mulheres, instruídos e não-instruídos. Desde então, a vox populi passou a falar por
si própria e a recusar os intelectuais como seus porta-vozes, e estes começaram a
perder relevância no espaço público. Deixou de ser preciso ter «capital cultural»,
no dizer de Bourdieu, para se aceder a determinados circuitos outrora reservados
aos intelectuais.
A televisão, indissociável da sua popularidade, representa assim um dos desenvolvimentos culturais mais significativos das sociedades contemporâneas; mas
a transformação a que se assiste hoje em dia na esfera cultural está ainda profundamente relacionada com a política cultural dos governos, nomeadamente para o
ensino (Furedi, 2005).
Inclusão social, acessibilidade e participação fazem parte de uma agenda política que pretende estabelecer pontos de contacto entre a elite cultural e o público
alargado (Furedi, 2005: 98). Este projecto, garantindo acesso e êxito escolar, tem-se concretizado numa contínua diminuição dos níveis de exigência e qualidade
que se corporificam, entre outras estratégias, na valorização da experiência pessoal
dos alunos, e na elevação dessa mesma experiência a conhecimento tão válido
quanto o ensinado (Chaplin, 2007).
Esta política cultural tem contribuído para a intellectual malaise (Furedi,
2005: 102) que assola as sociedades contemporâneas e que, conjuntamente com
a crescente comercialização do espaço público e com a mercantilização da esfera
cultural, tem conduzido à perda da relevância e da visibilidade dos intelectuais.
O afastamento é o corolário de um conjunto de mudanças sociais mais amplas, como o desencanto com a promessa do iluminismo e da modernidade (rejei-
Editorial | 11
ção da autoridade do conhecimento); o crescimento da influência do relativismo
(conhecimento como um mero ponto de vista) e da especialização (com um saber
cada vez mais fragmentado e menos abrangente); a institucionalização e profissionalização da vida intelectual (a crescente expansão da academia tornou os intelectuais mais centrados na carreira e ocupados em tarefas burocráticas) (Baumann,
1987; Bourdieu, 1989; Posner, 2004; Furedi, 2005).
Neste processo, as características tradicionalmente atribuídas aos intelectuais
– independência, autonomia, intervenção e universalidade do pensamento – ficaram comprometidas e levaram a que se perdesse, no entender de Baumann (1987),
o papel de «legislador» cultural, que cedeu lugar a uma mais modesta função de
«intérprete» da cultura.
No papel de legislador, os intelectuais faziam afirmações de autoridade que
tinham forte influência na construção da opinião pública. Muitas vezes não eram
apreciados – por serem considerados subversivos, perigosos e naysayers –, mas
eram sempre respeitados. Os intelectuais tendiam a ter uma relação dif ícil com o
statu quo, ainda que existissem os que serviam o poder dominante, os ideólogos e
apologistas, a quem Gramsci chamou de «intelectuais orgânicos».
A transformação do conhecimento em conhecimentos comprometeu o estatuto dos intelectuais e o seu saber passou a ser encarado como um mero ponto de
vista sem especial relevância para a sociedade. Ao mesmo tempo, o crescimento
da especialização foi alimentado por uma cultura em que os intelectuais passaram
a ser desencorajados de olharem para a big picture e incentivados a privilegiarem o
particular e o concreto.
Neste papel pós-moderno de intérpretes, os intelectuais tornaram-se facilitadores de comunicação, e alguns deles foram convertidos em celebridades mediáticas numa sociedade onde a tabloidização das instituições culturais parece ser uma
tendência crescente. Os académicos popularizam o seu trabalho para difundirem
o seu conhecimento a uma audiência mais vasta que os seus pares; a escola baixa
os níveis de exigência e qualidade para não comprometer o ensino universal; os
jornais popularizam-se para garantirem audiências e sobrevivência financeira; as
lojas dos museus vendem reproduções de peças de arte de valor cultural incalculável, nos mais variados suportes (agendas, T-shirts, canecas), para aproximarem a
alta cultura do grande público.
Para muitos autores (Debray, 1979; Baumann, 1987; Bourdieu, 1989; Said,
1994; Posner, 2004; Furedi, 2005; Chaplin, 2007; Fleck et al., 2008), as alterações assinaladas não conduzem apenas a uma variação em escala, mas a uma redefinição
fundamental do que é ser intelectual. E neste contexto são várias as interrogações
que emergem: Qual é o papel dos intelectuais num tempo em que se assiste a uma
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tão ampla reconfiguração cultural? Qual é o papel dos intelectuais numa sociedade
em que a busca do conhecimento já não entusiasma a imaginação colectiva e onde
os media promovem o culto do amadorismo?
Neste número 7 da revista Comunicação & Cultura, publicamos dois dossiers
subordinados ao tema de capa. No primeiro dossier, encontramos um conjunto de
seis artigos que reflectem sobre a relação entre os intelectuais e os media em diferentes contextos temporais e sociais.
Em «O jornalismo e a intelligentsia portuguesa nos finais da Monarquia Constitucional», José Miguel Sardica analisa o pensamento dos intelectuais portugueses
acerca do jornalismo e sua função político-cultural, entre os finais do século xix e
os princípios do século xx. O autor constata que o negativismo crescente em torno
da relação entre jornalismo, política e cidadania traduz o aumento do pessimismo
da intelligentsia portuguesa em face das possibilidades de progresso cultural do
país. Permanecendo em Oitocentos, encontramos em «Ousar lutar, ousar vencer.
A imprensa periódica oitocentista como motor da promoção intelectual feminina»
o registo do percurso sinuoso da afirmação intelectual das mulheres portuguesas
no século xix. Neste artigo, Ana Costa Lopes releva a importância da imprensa
na conquista de direitos, na divulgação de ideias, no combate de estereótipos e no
aggiornamento da imagem pública das mulheres.
«A Falange intelectual: a Falange excepcional» centra-se nos intelectuais do
primeiro franquismo, conhecidos por «Geração de 1936». Inês Espada Vieira salienta a importância destes homens de direita na vida cultural de Espanha da época, bem como a relevância da imprensa como espaço de expressão, explicação e
defesa da ideologia fascista por intelectuais.
Em «Manuel Maria Múrias: um “intelectual orgânico” na RTP ao tempo de
Salazar», Francisco Rui Cádima analisa o editorial de abertura do Telejornal entre os anos de 1963 e 1968, então a cargo daquele chefe de noticiários da RTP.
À frente da direcção de informação do canal de televisão do Estado, Múrias foi um
comissário político que se tornou também num «intelectual orgânico» do regime
de Salazar.
No ensaio «A presença dos media nos diários pessoais», Mário Mesquita põe
em paralelo o jornal diário e o diário-jornal, recorrendo a citações diarísticas de
escritores nacionais e estrangeiros. O autor centra a sua análise no que considera
serem semelhanças nem sempre evidentes entre os dois modos de expressão; na
representação dos media nos diários e na inscrição dos diários nos próprios media,
nomeadamente nos blogues.
Editorial | 13
Laura Pires, em «Public intellectuals – past, present and future», acompanha
a evolução histórica do conceito de «intelectual», indagando da sua relevância,
reputação e autoridade ao longo dos tempos. Reflecte ainda sobre os discursos
acerca do «declínio» e do «fim» dos intelectuais.
O segundo dossier é composto por entrevistas a três intelectuais de reconhecida importância na área da comunicação e cultura, e ilustres representantes
da intelectualidade humanística que se bate pela sustentabilidade das sociedades
democráticas: Arjun Appadurai, Andreas Huyssen e Daniel Dayan. Em discurso
directo dão-nos conta das suas reflexões acerca do mundo contemporâneo – suas
principais problemáticas, complexidades e contradições –, a partir da análise de fenómenos como a globalização, a memória, a identidade, a guerra ou o terrorismo,
entrecruzando-os com o papel dos media na contínua (re)construção de narrativas
que enformam as percepções histórica e culturalmente situadas das sociedades
ocidentais.
Os dois dossiers que aqui publicamos sobre os intelectuais e os media são um
contributo para a reflexão e para a discussão na comunidade científica, entre os
estudantes destas matérias e pelos demais interessados.
14 | Rita Figueiras
BIBLIOGRAFIA
Baumann, Z. (1987), Legislators and Interpreters – On Modernity, Post-Modernity and
Intellectuals, Ítaca, Nova Iorque: Cornell University Press.
Bourdieu, P. (1989), O Poder Simbólico, Lisboa: Difel.
Chaplin, T. (2007), Turning on the Mind. French Philosophers on Television, Chicago: The
University of Chicago Press.
Debray, R. (1979), Le pouvoir intellectuel en France, Paris: Ramsay.
Fleck, C.; Hess, A.; Lyon, E. Stina (2009), Intellectuals and Their Publics: Perspectives from
the social sciences, Burlington: Ashgate Publishing Company.
Furedi, F. (2005), Where Have All the Intellectuals Gone? Confronting 21st century philistinism, Nova Iorque: Continuum.
Keen, A. (2007), The Cult of Amateur. How today’s Internet is killing our culture, Nova Iorque: Currency Books.
Posner, R. (2004), Public Intellectuals: A study of decline, Cambridge: Harvard College.
Said, E. (1994), Representations of the Intellectual, Londres: Vintage.
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