GEOLOGIA GERAL
PRÁTICA DE
CAMPO
Prof. Milton Matta
INTRODUÇÃO
O principal objetivo da parte prática da disciplina Geologia
Geral é o de familiarizar o estudante com os preceitos
fundamentais do trabalho de campo em geologia, incluindo
a utilização do instrumental de campo, principalmente
bússolas e GPS, além da coleta de informações geológicas e
suas descrições nas cadernetas de campo.
Estão também incluídos nesse assunto, as técnicas de estudo
dos diversos mapas utilizados nos trabalhos geológicos,
principalmente mapas topográficos e geológicos.
Começaremos, nesse estudo, com o estudo de mapas.
ATITUDE DE FEIÇÕES PLANARES
Antes de estudas os mapas utilizados nos A atitude de uma feição
planar é a sua representação espacial, através de suas coordenadas
geológicas e pode ser expressa através de sua direção, seu mergulho e
do sentido do mergulho.
Direção de um plano  é a orientação em relação ao norte de uma
linha resultante da interseção desse plano com um plano
horizontal imaginário. Representa o orientação de uma linha
horizontal contida no plano em questão (Fig. 25).
Mergulho de um plano  é o ângulo diedro entre o plano em
questão e um plano horizontal. Esse ângulo deve ser tomado
perpendicularmente à direção do plano. A linha de mergulho
representa a linha de maior declive do plano considerado (Fig.
25)
Para se representar a atitude de um plano em mapas utiliza-se o
símbolo mostrado na Figura 25B, semelhante ao sinal utilizado em
geometria para indicar o perpendicularismo (). A linha maior
representa a direção da camada, sendo traçada paralela a mesma no
mapa. A linha menor indica o sentido do mergulho, sendo
perpendicular à direção. O número disposto entre as duas linhas é o
valor angular do mergulho em graus. Para o caso de planos
horizontais e verticais usam-se os símbolos mostrados na Figura 26.
Fig. 26 - Blocos diagramas e mapas ilustrando os símbolos de
coordenadas geológicas para planos: A) inclinados, B) verticais e C)
horizontais (Segundo Loczy & Ladeira, 1976).
Em diversas situações práticas tem-se mergulhos aparentes de feições
planares segundo variadas direções (Fig. 27)
Fig. 27 - Relação entre mergulho verdadeiro e mergulho
aparente em uma determinada direção.
Diversas são as nomenclaturas existentes para se escrever a atitude de uma
feição planar. A seguir, alguns exemplos.
N 600 W 550/SW  representa um plano que tem a direção de 600
com o norte, no sentido anti-horário e tem um mergulho de 550 para o
quadrante sudoeste .
550/2100 Az  a mesma atitude acima escrita de uma outra forma
3000 Az 550/SW  outra maneira de escrever a mesma atitude
550 / S30W  idem !
S600 E 550/SW  idem !
1200 Az 550/NE  idem !
3 - ATITUDE DE FEIÇÕES LINEARES
As retas podem ser representadas, basicamente, de duas
maneiras:
Pelo mergulho da reta e o rumo ou azimute da direção desse
mergulho:
Ex. = 380 /310 0 Az
Pela direção da reta, acrescida do valor do mergulho e do seu
sentido:
Ex. = 310 Az 380 /NW
ANOTAÇÕES GEOLÓGICAS DE CAMPO
I - Introdução
O principal objetivo desse estudo é o de mostrar ao discente que inicia
as atividades de campo os principais fundamentos que embasam as
observações de afloramentos, as descrições nas cadernetas de campo, os
desenhos das principais feições de interesse geológico, etc...
Pretende-se mostrar as principais orientações em relação à postura no
campo, os cuidados com o equipamento de trabalho e os fundamentos
dos estudos de afloramentos.
São apenas noções básicas para encaminhar o alunado à adquirir sua
própria metodologia de descrições de campo, no sentido de saber extrair
dos pontos estudados a maior quantidade de informações possíveis que
servirão de base aos relatórios geológicos.
II - Utilização das Cadernetas de Campo
Considerações Iniciais
A organização das cadernetas de campo e as descrições de
afloramentos devem seguir critérios pessoais, de acordo com a
personalidade e experiência de cada indivíduo. As observações que se
seguem pretendem, apenas, orientar o estudante iniciante na arte de
descrever as informações geológicas de campo.
Deve-se ter em mente que a caderneta de campo é uma valiosa
ferramenta nos trabalhos geológicos, uma vez que será uma
importante fonte de referências e informações para trabalhos
acadêmico-científicos. Ela deve ter uma organização mínima que,
respeitando as individualidades, permita um acesso fácil e eficiente às
informações, sempre que necessário.
2 - Organização das Cadernetas
Algumas orientações básicas podem ser bastante úteis ao iniciante:
A caderneta deve ser dividida por etapas de campo, separadas por
folhas-chaves, constando os períodos de cada etapa, as áreas de
trabalho/estudo e os participantes:
Exemplo 1: Excursão de Geol. Estrutural
Região de Capanema-Gurupi
Prof. Milton Matta e Geólogos da CVRD
Período: 07 a 09/11/97
Deve-se ter cuidados especiais com a conservação das cadernetas de
campo, pois se constituem em fontes de informações que podem ser
necessárias por longos períodos de tempo. Algumas sugestões:
•
•
capa dura é imprescindível;
numeração das cadernetas por ordem cronológica;
•
Grafia legível e “permanente” (canetas à base de água ou lápis com
grafite pouco marcante devem ser evitados).
•
Como o trabalho de campo pode consistir de estudos de pontos isolados
ou de seções contínuas, essa metodologia deve estar clara na caderneta;
•
Os afloramentos devem ser descritos na ordem cronológica em que são
visitados. Ao final de cada ponto descrito deve-se deixar um espaço em
branco que deverá ser útil para qualquer informação adicional
podendo, inclusive, ser fruto de discussão com terceiros.
3- Descrições
•
Durante a viagem deve ser perseguida a orientação no percurso seguido,
através de mapas rodoviários e geológicos, com os marcos das rodovias,
localidades, rios, etc., no sentido de se localizar com a máxima precisão
cada ponto estudado. Para tanto podem também ser utilizados a
fotografia aérea, imagens de radar ou satélite, GPS, etc;
•
Devem ser observadas, também, as variações da paisagem,
(morfologia, vegetação) e solos, uma vez que esses aspectos extraafloramentos serão relevantes quando da correlação entre os
pontos estudados;
Para cada ponto deve ser anotado:
A- Localização: o número do ponto, quilometragem da estrada (se
houver) ou distância para um ponto de referência (cidade, rio, etc) ou
qualquer outra forma de identificação do ponto:
Exemplo 2: ponto 02, localizado no Km-200 da Br-316;
Exemplo 3: ponto 23, localizado na Br-316, sob a ponte do Rio
Gurupi, em sua margem direita
B- Aspectos gerais da área no ponto estudado: situação topográfica,
tipo de solo, vegetação, etc;
C- Aspectos gerais do afloramento: tipo, forma, dimensões, disposição.
É aconselhável que, de forma rápida e objetiva , se dê um passeio por
todo o afloramento, antes de se fazer qualquer anotação. Nesse passeio
deve-se procurar obter uma visão geral do conjunto do afloramento,
com seus tipos de rochas e variações, estruturas, etc. Será possível se
identificar quais os setores do afloramento que merecerão exames mais
detalhados. Se este esquema for seguido ganha-se em tempo e
eficiência.
D- Estudos de mais detalhes: selecionados os pontos a serem
examinados com mais detalhes, deve-se descrevê-los e fazer as
correlações com o restante do afloramento. Cada descrição deve
conter o máximo de detalhes que o tempo permitir, seguindo
enfoques diferentes para diferentes tipos de rocha (magmática,
metamórfica ou sedimentar);
Descrição: de uma maneira geral pode-se seguir o seguinte
esquema:
1- Descrição das rochas
A descrição das rochas terá enfoques diferentes para diferentes
litotipos. Para rochas sedimentares a ênfase deverá ser nos
aspectos dos grãos (granulometria, arredondamento, seleção, etc),
na composição mineralógica, nos contatos entre leitos
(acamamento) e nas estruturas sedimentares. Para as rochas
magmáticas a composição percentual dos constituintes minerais
será importante para a classificação dos litotipos, os aspectos
texturais, as formas dos corpos ígneos, etc. Para as rochas
metamórficas serão mais importantes as estruturas metamórficas
(xistosidades, clivagens ardosianas) e os minerais índices de
metamorfismo (clorita, biotita, silimanita, etc.).
 aspectos gerais das rochas: cor (principal e alterações), granulação e
aspectos texturais, incluindo granulometria, seleção, arredondamento,
esfericidade, matriz e cimentação - para rochas sedimentares e sedimentos;
textura ígnea, contato entre grãos, pórfiros e matriz, etc. - para rochas
magmáticas; textura metamórfica, orientações, porfiroclastos e
porfiroblastos, etc. - para rochas metamórficas, composição mineralógica,
com estimativa das proporções entre os diversos minerais presentes,
separar entre essenciais e acessórios, entre primários e secundários,
enfatizar minerais importantes para a história da rocha (índices de
metamorfismo - clorita, silimanita, cianita, etc.; interesse econômico ouro, cobre, etc.). Para cada mineral, sempre que possível, descrever
formas, cores, contatos, alterações, tamanhos relativos, etc.;
 quando mais de uma rocha estiver presente no afloramento :
descrever relações de contato (gradativo, discordante, tectônico, lentes
etc.) e interpretar relações estratigráficas;
 estruturas: tipos de estruturas presentes, dimensões, classificações,
descrição de cada feição estrutural separadamente, orientações (medidas
estatísticas, quando necessário);
 correlação entre pontos estudados: posições estratigráficas levando
em consideração estruturas e topografia; recomposição ou
interpretação de estruturas maiores partindo das estruturas
mesoscópicas; possíveis discordâncias estruturais entre os pontos
estudados, correlações entre as orientações das estruturas presentes,
tentar interpretar as posições dos esforços relacionados à gênese das
feições descritas; comparação com outras áreas estudadas.
Desenhos geológicos
Deve-se sempre tentar desenhar o afloramento inteiro, com a
preocupação de registrar os seguintes aspectos:
• forma do afloramento
• contatos litológicos
• tipos de rochas presentes
• variações de um mesmo litotipo
• estruturas presentes e suas orientações
Tendo-se a visão geral do afloramento deve-se partir para caracterizar os
detalhes:
• estruturas isoladas , com suas morfologias
• relações gerais e localizadas entre estruturas (foliações e lineções,
acamadamentos e foliações que o cortam, etc.)
• relações locais entre tipos litológicos (lentes, intrusões, etc.)
• detalhes de um contato (gradativo, tectônico, etc.)
• vergências localizadas de estruturas (dobras em S ou Z, etc.)
• arranjos texturais.
Qualquer desenho de aspectos geológicos, deve conter os seguintes
elementos básicos, para que ele cumpra sua finalidade:
•Título do desenho - Ex. Detalhe da relação entre acamamento e foliação
•Escalas (horizontal e vertical, dependendo do caso)
•Legenda
•Orientação do desenho
Exemplo 4 : Relação entre arenitos e argilitos do Ponto 3
N
argilito
arenito
aarenito
50 cm
Modelo de descrição de afloramento
quartzo
Desenho esquemático do afloramento 07
micas
3m
120 m
270 Az
Afloramento de corte de estrada, localizado no Km-205 da Br-316, margem direita no
sentido Capema-Gurupi. Pode-se identificar dois tipos de rocha. A rocha do setor W
apresenta cor cinza-amarelada com tons mais esbranquiçados devido à alterações
localizadas e presença de veios de quartzo. A rocha apresenta granulação grossa e é
composta essencialmente por micas (sericita e clorita - 70%) e quartzo (25%), além de
opacos como acessórios.
A rocha apresenta uma forte foliação caracterizada por placas de micas formando
superfícies irregulares que contornam os grãos de quatzo, definindo a foliação milonítica.
Essa estrutura apresenta-se ondulada ao longo de todo o afloramento e desenha algumas
dobras centimétricas a métricas, abertas, com forte espessamento apical, caracterizando o
tipo 3 de Ramsay. Os eixos estão orientados preferencialmente para N30E a N45E e
mergulhos que variam de fracos a médios. Algumas medidas dos eixos das dobras e da
foliação milonítica foram tomadas para posterior representação em diagramas.
Veios de quartzo centimétricos a métricos estão presentes. A maioria concorda com a
foliação milonítica, porém alguns poucos a cortam. Fraturas centimétricas a
métricas, com orientações diversas, estão presentes, não foi possível se identificar
famílias de juntas. Diversas medidas foram tomadas para posterior tratamento
estatístico (45 medidas).
A rocha mais a leste forma um contato abrupto e tectônico com a rocha anterior.
Apresenta cor…
5- Equipamentos de Campo
1- Essencial:
• martelo de geólogo
• caderneta de campo
• bússola de geólogo
• fotografias aéreas e papel overlay
• estereoscópio de bolso
• cantil para água ou similar
• mapas
1- Acessórios importantes
• altímetro
• GPS
• rede estereográfica
• lupa
• trena
• imã
• sacos de amostras
• mochila ou similar
• ácido diluído 10 % (clorídrico)
• fita adesiva
• canivete ou faca pequena
Outros acessórios
régua, lápis e borracha
câmera fotográfica e
filmes
óculos de sol
tabela de tamanho de
grãos
tabela de dureza de
minerais
papel milimetrado
soro antiofídico
calculadora
relógio
lanterna
capa de chuva
roupas apropriadas
remédios e material de
higiene pessoais
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