CEFAC-CEDIAU
KEILA ALESSANDRA BARALDI KNOBEL
PERFIL DOS PACIENTES EM TERAPIA PARA
HABITUAÇÃO DO ZUMBIDO (TRT)
SÃO PAULO
2000
CEFAC - CEDIAU
KEILA ALESSANDRA BARALDI KNOBEL
PERFIL DOS PACIENTES EM TERAPIA PARA
HABITUAÇÃO DO ZUMBIDO (TRT)
Monografia apresentada ao CEFAC-CEDIAU
para conclusão do Curso de especialização em
Audiologia Clínica, sob orientação da Dra. Katia
de Almeida.
SÃO PAULO
2000
Nada hay que temer,
... una sabiduría interior las acompaña...
porque cada semilla sabe.....
cómo llegar a ser árbol.
(Jorge Bucay)
Aos meus pais, Geraldo e Angela, por terem me
dado todas as condições concretas, intelectuais
e emocionais que me permitiram optar pela
fonoaudiologia,
atuar
na
área
e
continuar
estudando sempre, e pelo apoio incondicional.
Ao Marcelo, meu marido e meu Norte.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Profa. Dra. Katia de Almeida, minha orientadora. "Mesmo nos fins de
tarde, cansada e com mil problemas na cabeça, você sempre teve uma palavra de
incentivo e de confiança para me oferecer. Acreditou no meu potencial, me
ofereceu oportunidades valiosas que contribuíram para o meu crescimento
profissional, e esteve sempre disponível para ouvir e responder às minhas
dúvidas. Muito obrigada pelo apoio e pela amizade!"
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Iêda Chaves Pacheco Russo, uma educadora que, com suas
lições sobre o valor da vida, do respeito e da ética, ensinou muito além da
audiologia;
À Profa. Dra. Thereza Momenhson dos Santos, por acreditar sempre no
potencial de cada profissional;
A todos os professores do curso de Especialização do CEFAC-CEDIAU,
por terem dividido conhecimentos e experiências que certamente contribuíram
para a elaboração deste trabalho;
Ao meu marido, Marcelo Knobel, por ter participado ativamente de cada
etapa deste trabalho e por ter sido sempre meu maior incentivador para o estudo e
para a pesquisa científica;
À Fga. Fátima Cristina Alves Branco, amiga com quem divido dúvidas,
experiências, idéias, referências bibliográficas... sobre questões relacionadas ao
zumbido e à atuação do fonoaudiólogo de maneira geral;
Às Fgas. Thaís Helena Teixeira Camargo e Viviane Maria Fachiolli,
colegas de turma, amigas e companheiras de viagem, por terem feito do percurso
entre Campinas e São Paulo um grande prazer;
À Fga. Silvana Mouco, pelo constante incentivo pessoal e profissional e,
principalmete, por estar sempre de "portas abertas";
À minha irmã, Karen Fernanda Baraldi, que é um exemplo de dedicação à
pesquisa científica na área da saúde;
Aos meus sogros, Maurício e Clara Knobel, pelo incentivo e pela amizade;
À Roxana Knobel, pelas sugestões no tratamento estatístico;
Aos meus pacientes com queixa de zumbido, que me ensinaram muito
mais que todos os livros; e
A todos que, direta ou indiretamente, tornaram possível a conclusão deste
trabalho."Muito obrigada!"
RESUMO
O zumbido é a presença de um ou mais sons nas orelhas ou na cabeça sem que
haja um estímulo sonoro externo correspondente. Atinge cerca de 17% da
população geral e adquire forma severa em 20% dos casos. Como os tratamentos
médicos tradicionais são ineficazes na maioria dos casos, outras alternativas
terapêuticas, tal como a Terapia de Habituação do Zumbido (TRT), têm sido
pesquisadas e aplicadas no intuito de minimizar a percepção do zumbido e o
incômodo causado por ele. Nesta pesquisa foram levantados dados dos
prontuários de 21 pacientes com zumbido que iniciavam a TRT, divididos em
grupos etários: A, até 50 anos e B, acima de 50 anos. 81,0% dos pacientes eram
do sexo masculino, com média de 52,6 anos, a maioria tinha história de vertigem,
exposição pregressa ao ruído, ansiedade, depressão, estresse e outros distúrbios
psiquiátricos. A maioria dos pacientes apresentou audiometria alterada em pelo
menos uma das orelhas, com perdas do tipo neurossensorial, de configuração
descendente. O zumbido à esquerda, contínuo e de surgimento gradual foi o mais
comum. O grau de severidade e de incômodo atribuído ao zumbido foi alto, as
atividades mais afetadas pelo zumbido foram a concentração e o sono, mais
percebidas pelo grupo A. Analisando os dois grupos conjuntamente, a
porcentagem de sujeitos com alguma queixa de hipersensibilidade auditiva foi
61,9%.
ABSTRACT
Tinnitus is the presence of one or more sounds in the ears or within the head
without a correspondent external sound. It affects about 17% of the general
population and it is a severe problem in 20% of the cases. As traditional methods
are helpless in the majority of the cases, other alternative methods, like Tinnitus
Retraining Therapy (TRT), have been studied and applied with the aim of
minimizing the perception and the annoyance of tinnitus. This is a retrospective
research made with 21 tinnitus patients who were beginning TRT. They were
divided into two groups: A, aged up to 50 years and B, above 50 years. 81.0% of
those patients were male, their average age was 52.6 years, most of them had
already had vertigo, noise exposure, anxiety, depression, stress, and other
psychiatric diseases. Most of them presented hearing loss at least in one ear, and
the most frequent audiometric finding was sensorineural and descendent.
Continuous tinnitus on the left ear with a gradual onset was the most common one.
The severity and the annoyance of tinnitus was considered high and the activities
most affected by tinnitus were concentration and sleep, noticed with more intensity
by group A. Analyzing both groups together, 61.9% of the patients had
hypersensitivity to sound.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1
2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................5
2.1 NEUROFISIOLOGIA .............................................................................................6
2.2 PREVALÊNCIA/INCIDÊNCIA DO ZUMBIDO ...............................................................8
2.3 FATORES ASSOCIADOS AO ZUMBIDO ..................................................................10
2.3.1 Doenças relacionadas ao zumbido .........................................................10
2.3.2 Características Audiológicas ...................................................................12
2.3.3 Características do zumbido.....................................................................14
2.3.4 Aspectos psicossociais dos pacientes com zumbido ..............................15
2.3.5 Ruído.......................................................................................................17
2.3.6 Drogas, cafeína, nicotina e álcool ...........................................................19
2.3.7 Zumbido e Hipersensibilidade a Sons.....................................................20
2.4 TRATAMENTOS ................................................................................................21
3. MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................24
3.1 ANAMNESE......................................................................................................25
3.2 ACHADOS AUDIOLÓGICOS ................................................................................25
3.2.1 Audiometria Tonal ...................................................................................25
3.2.2 Grau da Perda Auditiva...........................................................................25
3.2.3 Tipo da Perda Auditiva............................................................................28
3.2.4 Configuração da Curva Audiométrica .....................................................28
3.3 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ....................................................................29
4. RESULTADOS...................................................................................................31
4.1 HISTÓRICO GERAL ...........................................................................................32
4.1.1 Antecedentes Familiares.........................................................................32
4.1.2 Exposição à Ruído ..................................................................................32
4.1.3 Antecedentes otológicos .........................................................................33
4.1.4 Saúde Geral ............................................................................................33
4.2 AUDIÇÃO.........................................................................................................36
4.3 ZUMBIDO E HIPERSENSIBILIDADE A SONS ..........................................................39
5. DISCUSSÃO ......................................................................................................43
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ....................................................................44
5.2 HISTÓRICO GERAL ...........................................................................................44
5.2.1 Antecedentes Familiares.........................................................................44
5.2.2 Exposição à Ruído ..................................................................................45
5.2.3 Antecedentes otológicos .........................................................................45
5.2.4 Saúde Geral ............................................................................................46
5.3 AUDIÇÃO.........................................................................................................47
5.4 ZUMBIDO E HIPERSENSIBILIDADE A SONS ..........................................................49
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................52
6. CONCLUSÕES ..................................................................................................54
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................57
ANEXO I ...................................................................................................................I
ANEXO II .................................................................................................................II
LISTA DE TABELAS
Tabela I. Distribuição dos sujeitos de acordo com a idade e o sexo......................29
Tabela II. Distribuição dos sujeitos nos Grupos A e B em função da idade ...........29
Tabela III. Distribuição de indivíduos segundo os antecedentes ...........................32
Tabela IV. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com ..............33
Tabela V. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com
Antecedentes Otológicos. .................................................................................33
Tabela VI. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com as
principais alterações da saúde geral.................................................................33
Tabela VII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com os
hábitos de consumo possivelmente relacionados ao zumbido. ........................35
Tabela VIII. Distribuição de orelhas dos indivíduos dos grupos A e B de acordo
com a audição normal ou alterada..................................................................36
Tabela IX. Distribuição de orelhas dos indivíduos do Grupo A e B de acordo com o
grau da perda auditiva nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz)
e nas freqüências altas (3000 e 4000 Hz).........................................................36
Tabela X. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo
com o tipo da perda auditiva por orelha............................................................37
Tabela XI. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo
com a configuração da perda auditiva por orelha. ............................................38
Tabela XII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com a
lateralização do zumbido. .................................................................................39
Tabela XIII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o tipo do
zumbido. ...........................................................................................................39
Tabela XIV. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o
surgimento do zumbido.....................................................................................40
Tabela XV. Distribuição das atividades afetadas ou impossibilitadas pelo zumbido
nos Grupos A e B..............................................................................................41
Tabela XVI. Distribuição dos indivíduos dos Grupos A e B com queixa de
Hipersensibilidade Auditiva (H.A.).....................................................................42
Tabela XVII. Distribuição das atividades afetadas ou impossibilitadas pela
hipersensibilidade a sons nos Grupos A e B.....................................................42
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com as
principais alterações emocionais. .....................................................................35
Figura 2. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com
o tipo da perda auditiva por orelha....................................................................37
Figura 3. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com
a configuração da perda auditiva por orelha. ....................................................38
Figura 4. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o tipo do
zumbido. ...........................................................................................................40
Figura 5. Média dos valores de 0 a 10 da avaliação subjetiva do zumbido nos
Grupos A e B de acordo com o grau da severidade, do incômodo e dos efeitos
na vida diária.....................................................................................................41
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Critérios e procedimentos para classificação do grau da perda auditiva
nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas freqüências altas
( 3000 e 4000 Hz). ............................................................................................27
Quadro 2. Classificação do grau da perda auditiva ...............................................27
1. INTRODUÇÃO
Introdução
O zumbido tem sido tema de inúmeras pesquisas que focalizam aspectos
neurofisiológicos, audiológicos, terapêuticos, farmacológicos e psicológicos. Os
profissionais da área médica e fonoaudiológica estão cada vez mais envolvidos na
busca de uma avaliação precisa do paciente e de alternativas terapêuticas
eficientes e definitivas.
Caracterizado pela presença de um ou mais sons nas orelhas ou na
cabeça e ausência de estímulo sonoro externo correspondente, o zumbido atinge
aproximadamente 17% da população geral, e 33% da população de idosos
(JASTREBOFF et al. 1996). Adquire forma severa em 20% dos casos, afetando de
maneira direta ou indireta o indivíduo em atividades profissionais e de lazer,
interferindo em relacionamentos familiares e sociais e pode levar até mesmo ao
suicídio, em casos extremos.
O zumbido é, na maioria da vezes, uma percepção auditiva fantasma
percebida exclusivamente pelo paciente (JASTREBOFF, 1990; SANCHEZ et al.,
1997). Por ser uma sensação subjetiva não mensurável objetivamente, com
diversos fatores etiológicos que dificilmente podem ser isolados, e que sofrem
interferências de flutuações emocionais, as condições para investigação científica
da fisiopatologia do zumbido são limitadas.
SANCHEZ (1997) levantou os primeiros relatos históricos escritos à
respeito do zumbido, iniciando com o papiro de Ebers, do século XVI a.C., que
citou e propôs um tratamento com infusão de óleos para o então chamado "ouvido
enfeitiçado". Relatou que no ano 700 a.C. crenças de magia relacionavam a
presença de fantasmas ao apito nos ouvidos, referiu-se ao capítulo de Itard de
1821, dedicado ao zumbido, chegando finalmente aos dias de hoje em que,
graças aos avanços nos estudos da fisiologia da audição, muitas questões à
respeito do zumbido já são compreendidas.
2
Introdução
Apesar de tais progressos, SANCHEZ et al. (1997) apontaram para o
despreparo de alguns otorrinolaringologistas que, ao dizerem a pacientes com
queixa de zumbido frases do tipo "nada pode ser feito" ou "você vai ter que
aprender a conviver com isso", poderiam até mesmo provocar agravamento do
caso.
Propuseram, então, uma atitude positiva dos profissionais por meio da
busca do conhecimento de teorias sobre a origem, a detecção e percepção do
zumbido, a fim de proporcionar algum grau de alívio aos pacientes que os
procuram com tal queixa.
São várias as condições médicas que podem causar ou afetar a presença
do zumbido, incluindo doenças otológicas, alterações cardiovasculares, doenças
metabólicas, neurológicas, psiquiátricas , fatores odontológicos, efeitos colaterais
de medicamentos e possivelmente da ingestão de drogas, cafeína, nicotina e
álcool (SCHLEUNING, 1998).
Também a associação entre zumbido e perda auditiva é bastante descrita
na literatura. Entre os pacientes com zumbido, cerca de 78% a 90% apresentam
quadro audiológico alterado (FUKUDA, 1990; MARTINS, 1991; KIRKWOOD,
1995).
Além dos aspectos médicos e audiológicos, as reações psicológicas e as
conseqüências psicossociais do zumbido têm sido considerados fatores
fundamentais para a compreensão desses pacientes. Estudos vêm comprovando
o que pode ser facilmente observado na prática clínica: o zumbido pode alterar o
desempenho do sujeito em suas atividades profissionais e sociais e de lazer,
interferindo até mesmo nas relações familiares.
Infelizmente, os tratamentos médicos tradicionais se mostram ineficazes
na maioria dos casos, e até hoje não se conhece um tratamento capaz de curar
totalmente o zumbido, entendendo-se por cura a eliminação dos seus mecanismos
de geração. No entanto, a ausência da possibilidade de cura não quer dizer que
3
Introdução
nada possa ser feito pelo paciente com tal queixa. Diversas terapias, tais como a
Terapia do Mascaramento, a Terapia Cognitiva, a Acupuntura, o Biofeedback, a
Tinnitus Retraining Therapy (TRT) entre outras, visam diminuir tanto as reações e
o incômodo desencadeamos pelo sintoma, quanto reduzir ao máximo a percepção
do zumbido.
Este é um trabalho que foi realizado em uma clínica de Campinas, S.P., a
partir do levantamento de prontuários de pacientes cuja queixa principal era o
zumbido e que haviam procurado a clínica para iniciar a TRT (Tinnitus Retraining
Therapy). Com o conhecimento das principais características de cada paciente,
desde seus antecedentes familiares, antecedentes mórbidos, quadro audiológico,
características auditivas e efeitos não-auditivos do zumbido, temos como principal
objetivo entender a dimensão das queixas e o perfil dos pacientes que procuraram
por este tratamento.
4
2. REVISÃO DA LITERATURA
Por questões didáticas a revisão da literatura está dividida em sub-itens
que discursam a respeito da neurofisiologia, da ocorrência e dos fatores
Revisão da Literatura
endógenos (sexo, idade, doenças, características audiológicas, características do
zumbido e fatores psicossociais) e exógenos (ruído, álcool, fumo, cafeína)
relacionados ao zumbido, sua relação com as hipersensibilidades a sons e as
principais linhas de tratamento.
O Commitee on Hearing, Bioacoustics and Biomechanics definiu zumbido
como "a experiência sonora consciente originária da cabeça de quem o possui"
(McFADDEN, 1982). Outros autores o definiram como uma percepção auditiva
fantasma (JASTREBOFF, 1990; SANCHEZ et al., 1997). Segundo a American
Tinnitus Association (1997), trata-se de uma experiência na qual o indivíduo ouve
um som na ausência de um estímulo sonoro correspondente.
2.1 Neurofisiologia
O zumbido oferece à neurosciência uma questão desafiadora, que pouco
a pouco tem sido respondida.
HALLAM et al. (1984)
hipotetizaram que a exposição repetida e
persistente a altos níveis de estímulo auditivo ou a associação do aumbido a um
significado afetivo impediria a habituação a este som "fantasma", denominado
zumbido. Os autores sugeriram que os sistemas neurais envolvidos na percepção
do zumbido estariam ligados ao hipocampo, uma parte do sistema límbico que é a
porta de entrada para os centros mediadores de controle emocional e importante
componente do sistema de memória. Afirmaram ainda que a severidade do
impacto psicológico do zumbido deveria depender da natureza e extensão das
transformações plásticas dentro do sistema auditivo central.
Dados clínicos mostraram que a descrição psicoacústica do zumbido, tal
como freqüência, intensidade e nível mínimo de mascaramento, não tinham
nenhum valor prognóstico e estavam vagamente associados ao nível de incômodo
provocado pelo zumbido (HAZELL et al., 1985; JASTREBOFF, 1990). Como a
6
Revisão da Literatura
severidade
do
zumbido
não
apresenta
correlação
imediata
com
suas
características psicoacústicas, outros fatores deveriam determinar o impacto
emocional causado por ele.
Movido ainda pelo questionamento de como sinais contínuos e
relativamente fracos podem ser discriminados das outras atividades espontâneas
sem provocar e não sofrer habituação, JASTREBOFF (1990) realizou uma
pesquisa em ratos a partir do paradigma comportamental de Pavlov que se
baseia na técnica de supressão e da avaliação eletrofisiológica da atividade
espontânea de células do colículo inferior. Seus achados confirmaram a hipótese
de que o zumbido seria resultado de uma atividade neural aberrante das vias
auditivas internas, que é interpretada pelos centros auditivos superiores como
sendo som. Contudo, ressaltou que o zumbido, tal qual fora descrito em seu
trabalho, deveria ser totalmente diferenciado do somato-som, que é resultado de
fluxo sangüíneo anormal ou de atividade miogênica. Ele propôs, então, que o
resultado da interação dinâmica entre os centros auditivos e não-auditivos do
sistemas nervoso, especialmente do sistema límbico e do sistema nervoso
autônomo, fosse responsável pelo desencadeamento de associações emocionais
negativas e reações de incômodo referidas pelos pacientes com zumbido
clinicamente significativo. Portanto, o fator diferenciador entre a pessoa que tem
zumbido e o ignora totalmente e aquela que tem desconforto significativo com o
zumbido seria a habilidade que o indivíduo tem de se habituar a ele.
A definição clássica de habituação é "um procresso fisiológico
caracterizado
pelo
declínio
progressivo
de
respostas
às
estimulações
repetitivas”(NORRÉ, 1979). A habituação apenas ocorre se o estímulo for neutro,
ou seja, livre de associações com estados emocionais negativos. Assim sendo,
JASTREBOFF (1990) e JASTREBOFF e JASTREBOFF (2000) sugeriram que a
associação do zumbido com situações desagradáveis (por ser contínuo, repetitivo
e fora do controle da pessoa) ou de perigo (associação com doenças graves,
perda de audição e outros) contribuiria para a percepção do zumbido e aumento
7
Revisão da Literatura
do incômodo. A presença contínua do estímulo, neste caso, aumentaria ainda
mais o incômodo, que por sua vez, reforçaria a ativação dos centros de percepção
.
LOCKWOOD (1999) estudou a percepção do zumbido usando os avanços
recentes na imagem da PET (Positron Emission Tomography), que tornaram
possíveis a identificação de regiões do cérebro responsáveis pela produção de
sensações subjetivas transientes. Avaliou um pequeno grupo de indivíduos com
zumbido de grau leve a severo em freqüências altas, deficiência auditiva
neurossensorial de leve a moderada, e com a característica de conseguirem
alterar a intensidade do zumbido com movimentos oro-faciais e comparou seus
resultados a um grupo-controle. Observou que um tom externo apresentado em
uma cóclea produzia ativação bilateral do córtex auditivo no grupo com zumbido e
no grupo-controle. Em contrapartida, nos indivíduos com alteração de intensidade
do zumbido por movimentos oro-faciais eles observaram uma ativação apenas
unilateral oposta ao lado do zumbido. A partir de tais resultados concluiu que (i)
uma porção mais central das vias auditivas, e não a cóclea, é responsável pela
atividade espontânea neural que provoca o zumbido; (ii) a localização perceptual
do zumbido parece estar ligada à atividade do hemisfério cerebral oposto e; (iii) a
habilidade de alguns pacientes de modular o zumbido com movimentos oro-faciais
evidenciaria a existência de ligações neurais entre os centros auditivo e áreas
sensório-motoras do SNC.
2.2 Prevalência/Incidência do Zumbido
Neste item, buscamos na literatura as características quanto à idade e o
sexo de diversas populações com zumbido clinicamente significante.
Em um estudo realizado em 50 pacientes atendidos em um ambulatório
otorrinolaringológico com queixa principal de zumbido, FUKUDA et al. (1990)
8
Revisão da Literatura
encontraram em indivíduos entre 50 e 70 anos a maior proporção de portadores
de zumbido, sem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos.
MARTINS (1991) observou a ocorrência do zumbido em aproximadamente
50% dos 467 pacientes que se submeteram à avaliação audiológica e/ou
otoneurológica em um hospital de São Paulo e descreveu suas características. A
autora não evidenciou uma relação direta entre a presença do zumbido e a idade
ou sexo.
SANCHES et al. (1999) estudaram um grupo de 1453 idosos entre 70 e
103 anos, no qual encontraram 17,6% de indivíduos com zumbido e não
observaram diferença significativa em função do sexo.
Na Alemanha, 24% da população tem ou já teve alguma vez "barulho" na
orelha ou na cabeça, 3,6% da população tem ou teve zumbido durante mais de
um mês, 53% dos indivíduos com zumbido crônico relatavam também ter perda
auditiva, mas somente 7,5% destes usavam prótese auditiva, segundo
PILGRAMM et al. (1999).
Em uma investigação epidemiológica feita com adultos na Polônia,
FABIJANSKA et al. (1999) apontaram para a alta incidência do zumbido no país.
Os resultados indicaram a presença de zumbido ocasional (com duração de mais
de 5 minutos) em 20,1% da população, o zumbido constante afetava em 4,8%, e a
hiperacusia é percebida por 15,2% da população.
No Brasil, SANTOS et al. (1999) investigaram a ocorrência da queixa de
zumbido em uma clínica audiológica de São Paulo. Dos 406 pacientes avaliados
no período de seis meses, 58% apresentaram queixa de zumbido, sendo que,
destes, 68% eram do sexo feminino e 32% eram do sexo masculino. Eles
avaliaram pacientes entre idades 5 e 92 anos, e a ocorrência da queixa de
zumbido foi mais freqüente em mulheres na faixa etária de 55 a 75 anos (69%).
9
Revisão da Literatura
BRANCO (1999) analisou 1405 prontuários dos pacientes adultos
atendidos no Setor de Audiologia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo e identificou 20,78% com queixa de zumbido. Destes, 60,28% eram do
sexo feminino e 39,72% do sexo masculino.
A maioria dos pacientes com zumbido e/ou hiperacusia que procuraram
Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (disponível em 19/11/2000)
para Terapia de Habituação do Zumbido (TRT) era do sexo masculino (64%), com
idades entre 14 e 89 anos e média etária de 42 anos.
2.3 Fatores associados ao zumbido
Menos de 0,5% dos casos de zumbido são resultado de uma lesão que
possa ser prontamente identificada e retificada com sucesso (SIMPSON, 1999).
Por ser um sintoma, e não uma doença, pode estar associado à inúmeras
doenças sistêmicas, otológicas e psiquiátricas, embora tal correlação nem sempre
possa ser comprovada. Outros fatores, tais como exposição a ruídos e a agentes
químicos e a ingestão de cafeína, álcool e fumo e a relação entre zumbido e
hipersensibilidades a sons também são consideradas na literatura, e serão
descritas a seguir.
2.3.1 Doenças relacionadas ao zumbido
Dos 50 pacientes avaliados por FUKUDA et al. (1990), 58% relataram
tonturas ou vertigens e 50% relataram intolerância à sons intensos, seguidos por
queixas de cefaléia (48%), sensação de pressão nos ouvidos (46%), hipertensão
arterial sistêmica (16%), diplacusia (16%) e otalgia (12%).
Entre as várias condições médicas que podem causar ou afetar a
presença do zumbido, SCHLEUNING (1997) descreveu as seguintes:
10
Revisão da Literatura
Doenças otológicas: doença de Ménière, otite média crônica,
otosclerose, surdez súbita e neuroma do acústico.
Alterações cardiovasculares: 37% das pessoas com zumbido têm uma
ou mais doenças cardio-vasculares. Tal ocorrência pode estar ligada à
idade avançada dos portadores de zumbido. O autor destacou a
hipertensão arterial, a anemia, arteriosclerose, e alterações do fluxo
sangüíneo venoso.
Doenças metabólicas: diabete e doenças da tireóide são as mais
comuns, seguidos por níveis elevados de colesterol e hiperlipidemia,
embora a ocorrência de tais doenças em indivíduos com zumbido não
seja significativamente maior que em outra população de idade
semelhante.
Doenças neurológicas: traumatismos cranianos estão associados à
10% dos casos de zumbido severo. Meningite e esclerose múltipla
também podem ser acompanhadas de zumbido, com ou sem perda
auditiva.
Fatores odontológicos: desordens da articulação têmporo-mandibular
(ATM), bruxismo e dores de dente parecem estar associados à piora
do zumbido.
Segundo SISMANIS (1997), o zumbido pulsátil difere do zumbido contínuo
quanto a etiologia e quanto ao tratamento. Ele ressalta a importância da avaliação
detalhada de um otorrinolaringologista ou de um cirurgião de cabeça e pescoço. O
autor relatou que o zumbido pulsátil geralmente é originário de estruturas
vasculares da cabeça e do pescoço, em alguns casos pode ser ouvido por outras
pessoas, na maioria das vezes é sincrônico com a pulsação arterial e quase
sempre o fator causal pode ser tratado, com abolição do sintoma. As principais
causas do zumbido pulsátil são: a síndrome de hipertensão intracraniana benigna,
o glomus, a arterosclesores da artéria carótida, a hipertensão arterial, artérias
tortuosas (má-formação), a displasia fibromuscular, lesões vasculares intracranianas e causas não-vasculares (mioclonias).
11
Revisão da Literatura
WALDVOGEL et al. (1998) consideraram o zumbido pulsátil um sintoma
raro, mas destacaram que este pode ser a primeira ou a única manifestação de
uma doença grave. A partir da análise de 84 pacientes, enumeraram as principais
desordens
responsáveis
pelo
sintoma.
Os
problemas
vasculares
foram
responsáveis por 54% , os não-vasculares por 14% dos casos e, em 32% dos
indivíduos, não foi possível estabelecer a etilogia do zumbido pulsátil.
GANANÇA (1999) citou o zumbido como uma das manifestações clínicas
da Doença de Ménière, um quadro clínico composto também por vertigem aguda,
hipoacusia, e sensação de plenitude auricular.
Um levantamento das possíveis causas de zumbido que mais acometiam
os pacientes do Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (disponível em
19/11/2000) apontou em primeiro lugar para o trauma acústico, seguido dos
traumatismos cranianos, das reações a medicamentos e das desordens autoimunes.
2.3.2 Características Audiológicas
Na audiometria tonal liminar de pacientes com zumbido, FUKUDA et al.
(1990) encontraram 23% das orelhas com níveis auditivos normais, 65% com
perda auditiva neurossensorial, 5% com perda mista, 4% com perda condutiva e
3% com anacusia .
MARTINS (1991) notou relação direta entre a presença do zumbido e as
características do quadro audiológico. Observou que a localização do zumbido
estava diretamente ligada ao quadro audiológico do paciente em função da
presença ou não de alterações auditivas e da simetria entre as orelhas sem,
contudo, sofrer influência do tipo de perda auditiva. Tendo encontrado a
ocorrência de zumbido em indivíduos com audição normal, questionou ainda se o
12
Revisão da Literatura
zumbido poderia ser um sintoma indicativo de uma futura perda auditiva ou de
uma alteração já existente, porém ainda não detectada pelos métodos
convencionais de avaliação auditiva.
De acordo com KIRKWOOD (1995), haveria uma forte relação entre o
zumbido e a perda auditiva. Em seu levantamento, cerca de 20% dos pacientes
com perda auditiva apresentaram queixa de zumbido, enquanto 90% dos
pacientes com zumbido intenso tinham perda auditiva.
A importância das freqüências altas na classificação do grau da perda
auditiva foi descrita por SILMAN e SILVERMAN (1997). Segundo os autores, a
sensibilidade auditiva destas freqüências interferiria na audição de pessoas que
fazem uso de próteses auditiva tanto no ruído quanto em ambiente silencioso,
assim como seriam importantes para o aproveitamento auditivo de pessoas com
audição normal na presença de ruído competitivo.
SCHLEUNING (1998) chamou a atenção à necessidade da avaliação das
freqüências altas, entre 3000 e 8000 Hz, pois mais de três quartos dos seus
pacientes com zumbido tinham limiares tonais de 30 dB ou mais nas freqüências
citadas.
Segundo SANTOS et al. (1999), o quadro audiológico mais encontrado
nos pacientes com queixa de zumbido foi a perda auditiva neurossensorial, em
55% dos casos, e de configuração descendente, em 64,5% dos casos. Contudo,
os autores atribuíram tais achados ao fato de grande parte desta população ter
acima de 55 anos. Eles enfatizaram, ainda a presença de 27% de indivíduos com
queixa de zumbido que apresentavam audição normal.
Já SANCHES et al. (1999), estudando um grupo de idosos com zumbido,
observaram que estes apresentaram pior desempenho nos testes de audição, em
comparação ao grupo de idosos sem queixa de zumbido.
13
Revisão da Literatura
2.3.3 Características do zumbido
Na a população avaliada por FUKUDA et al. (1990), a localização do
zumbido em 28% dos casos era unilateral à direita, em 36% era unilateral à
esquerda, em 36% era bilateral e em 10% na cabeça.
MARTINS (1991) constatou uma estreita relação entre a localização do
zumbido e o quadro audiológico. Não observou diferenças significativas entre a
ocorrência de zumbido no ouvido direito e no ouvido esquerdo em indivíduos com
perdas auditivas simétricas, mas observou uma maior ocorrência de zumbido
ipsilateral ao lado de maior perda auditiva quando a perda era bilateral e
assimétrica (81,6%), e um maior número de zumbido uni e ipsilateral à perda
auditiva (80,0% e 48,4% respectivamente) em perdas unilaterais e bilaterais
assimétricas. Identificou também a ocorrência de zumbido bilateral com
predomínio do lado ipsi-lateral à lesão em perdas auditivas unilaterais (6,0%) e
bilaterais assimétricas (29,7%) e a tendência à maior ocorrência de zumbido
bilateral e na cabeça nos indivíduos com quadro audiológico normal (55,3%).
BRANCO (1998), sugeriu a adoção do termo lateralidade para descrição
do lado em que o paciente percebe o zumbido, por se referir à localização de uma
percepção na cabeça, ao passo que o termo localização diria respeito à
determinação da direção da fonte sonora.
No Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (disponível em
19/11/2000), que recebe pacientes com zumbido e hiperacusia para Terapia de
Habituação do Zumbido (TRT), o zumbido de instalação gradual foi a queixa de
68% dos indivíuduos, enquanto o zumbido de instalação repentina acometeu 32%
dos pacientes.
14
Revisão da Literatura
2.3.4 Aspectos psicossociais dos pacientes com zumbido
JASTREBOFF (1990) relatou que a análise psicológica de pacientes com
zumbido revelou haver correlação entre a incidência de depressão e o zumbido,
embora tenha ressaltado que o zumbido seria uma desordem fisiológica do
sistema auditivo e não uma desordem psicológica ou psiquiátrica.
Em sua casuística, FUKUDA et al. (1990) encontraram entre os sintomas
associados ao zumbido a labilidade emocional/irritabilidade em 44% dos casos, a
depressão em 38%, e os distúrbios do sono em 46% dos pacientes avaliados.
MC KEE e STEPHENS (1992) submeteram um grupo de indivíduos com
zumbido e outro sem zumbido a um teste para a mensuração dos traços de
tendência neurótica na personalidade (Crown - Crisp Index) e encontraram traços
neuróticos acentuados nos indivíduos com zumbido, concluindo que tais traços
poderiam ser secundários ao zumbido.
Estudando indivíduos adultos com audição normal e queixa de zumbido,
BRANCO (1998) aplicou um questionário baseado no proposto por Newman et al.
(1996) para avaliar o handicap dos pacientes com queixa de zumbido e audição
normal. Os resultados refletiram um grau leve de handicap, com valores maiores
nos sujeitos que tinham zumbido há menos tempo. Relatou ainda que a sensação
de freqüência (pitch) do zumbido não teria relação com o grau de handicap, ao
contrário do que ocorreu com e a sensação de intensidade (loudness) do zumbido,
pois em sua amostra, quanto mais forte era o zumbido, maior era o handicap
observado.
O grupo de idosos com zumbido estudado por SANCHES et al. (1999)
apresentou pior desempenho nos testes de qualidade de vida, principalmente
15
Revisão da Literatura
devido à dificuldade para dormir e depressão mais grave em relação ao grupo de
idosos sem queixa de zumbido.
LINDBERG e SCOTT (1999) aplicaram testes psicológicos e compararam
as respostas de indivíduos adultos com zumbido não-significativo clinicamente às
respostas de indivíduos com zumbido clinicamente importante, isto é, de pessoas
que procuraram ajuda profissional para lidar com o zumbido. Os testes usados
foram: Life Orientation Test (LOT), Spilberger Trait Anger Scale (STATS-T),
Negative Mood Scale (NM), State-Trait Anxiety Inventory (STAI-S), Daily Hassles
Scale, e Center for Epidemiological Studies' Depression Scale (CES-D). O grupo
de indivíduos com zumbido que havia procurado ajuda profissional teve
pontuações altas nas medidas psicológicas da depressão, da reação ao estresse
e da ansiedade. Eles apresentaram ainda mais problemas somáticos e cognitivos
nas áreas da concentração e do sono, por exemplo. Apresentaram, portanto,
problemas psicológicos em grau mais severo e outros problemas multifatoriais
associados ao zumbido. Os autores defenderam que as diferenças de fatores
psicológicos individuais , como as respostas psicológicas a problemas específicos
ou situações do dia-a-dia, seriam fatores preditores da capacidade individual para
lidar e para se adaptar com o zumbido e, portanto, poderiam influenciar o
processo terapêutico.
FORMER et al. (1999) compararam a sensação de intensidade (loudness)
e de severidade do zumbido em 121 pacientes com depressão e em 285 sem
história de depressão por meio de um questionário. Embora não tenham
encontrado diferenças significantes em relação à intensidade do zumbido,
observaram
que
pacientes
com
depressão
tiveram
um
pontuação
significativamente mais alta nas perguntas sobre a severidade do zumbido, o que
os levaram a concluir que a depressão estaria ligada à severidade do zumbido em
alguns pacientes.
16
Revisão da Literatura
McKENNA e HALLAM (1999) afirmaram que o zumbido estaria associado
a dificuldades em funções cognitivas tais como a concentração e as habilidades
intelectuais, mas que muitas vezes estes sinais estariam mascarados pelos efeitos
das perdas auditivas associadas ao zumbido.
SIBELLE e VESTERAGER (1999) mostraram a grande importância da
inclusão do contexto psicossocial na compreensão da psicodinâmica dos
indivíduos com zumbido por meio da pesquisa realizada com 407 pacientes com
zumbido severo. Eles observaram a presença de doenças psicossomáticas, de
distúrbios psiquiátricos, suas relações com o status empregatício dos pacientes e
compararam os achados com os dados da população geral realizado pela Danish
National Board of Health, 1997. Entre o grupo de pacientes com zumbido severo,
22% era composto por desempregados, aposentados precoces ou indivíduos sob
a ação da Assistência Social, o que foi considerada uma proporção
significativamente alta.
apresentavam
outras
De todos os pacientes com zumbido severo, 43%
doenças
físicas,
sendo
que
destes,
52%
eram
desempregados, aposentados precoces ou indivíduos sob a ação da Assistência
Social. Na população geral, estes números variavam de 20% para os homens, à
33% nas mulheres. Os autores encontraram, ainda, distúrbios psiquiátricos em
24% dos pacientes com zumbido severo, enquanto na população geral, este
índice era de apenas 2%. A pesquisa revelou que 61% dos pacientes com
zumbido severo apresentavam um ou mais distúrbios psicossomáticos. Nesta
amostra, 53% dos pacientes empregados sofriam de estresse, 89% dos
estudantes tinham problemas com a concentração e o estresse, 32% dos
desempregados, aposentados precoces ou indivíduos sob a ação da Assistência
Social tinham dores e, 7,33% dos pensionistas aposentados por idade
apresentavam problemas para dormir e outros distúrbios psicossomáticos.
2.3.5 Ruído
17
Revisão da Literatura
MARTINS (1991), considerou a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) a
alteração audiológica mais relacionada com a presença de zumbido.
ZIMMERMANN (1998) estudou 200 trabalhadores expostos a ruído, e
observou a prevalência do zumbido em 15,5% dos trabalhadores. Relacionando-o
com o quadro audiológico, concluiu que 33,3% dos indivíduos com perda auditiva
induzida por ruído apresentavam zumbido, enquanto a prevalência nos grupos
com outras alterações auditivas e com audição normal foi, respectivamente, 20% e
9,7%.
Segundo KALTENBACH e AFMAN (2000), o zumbido decorrente de PAIR
(Perda Auditiva Induzida por Ruído) é tipicamente de intensidade fraca, entre 5 e
30 dBNA, e de freqüência alta, acima de 3.000 Hz e freqüentemente acima de
5.000 Hz. Estudando cobaias em laboratório, os autores mostraram que a principal
causa de zumbido crônico seria a exposição prolongada a sons intensos, devido à
hiperatividade do núcleo coclear dorsal (NCD). Eles estudaram o efeito da
exposição a um tom de 10.000 Hz em forte intensidade (127 dB NPS) em cobaias
e observaram, através de análises eletrofisiológicas, o aumento da atividade
espontânea (hiperatividade) do núcleo coclear dorsal (NCD). Os dados colhidos
mostraram que a magnitude da hiperatividade do NCD dos animais expostos ao
som era equivalente à atividade evocada normal de NCD respondendo a um
estímulo de 20 dBNA. Tais resultados sugerem que a alteração do NCD após
exposição intensa ao tom de 10.000 Hz se comporta fisiologicamente, como se
estivesse respondendo à presença de um tom de 10.000 Hz na intensidade de 20
dBNA.
ALTAHONA et al. (2000) aplicaram em um grupo de jovens um
questionário sobre a percepção da intensidade do ruído usado no lazer, a
presença de ruído relacionado a essas atividades e outros possíveis sintomas
associados à perda auditiva. Todos os indivíduos foram avaliados através de
audiometria tonal e emissões oto-acústicas por produto de distorção (EOAPD). Os
18
Revisão da Literatura
resultados revelaram uma alta porcentagem de jovens que experenciavam
zumbido ocasionalmente, e levaram os pesquisadores a questionar se o zumbido
não poderia refletir uma lesão do sistema auditivo que pudesse ser considerada
como predisponente ao desenvolvimento de perda auditiva induzida por ruído
(PAIR).
De acordo com OLSEN (2001), o zumbido seria o primeiro sinal de uma
exposição a estímulo sonoro intenso e poderia ser o sintoma de uma perda
auditiva temporária (Temporary Threshold Shifts ou TTS). Ele citou também que o
número de pessoas com perda auditiva induzida por ruído (PAIR) afetadas por
zumbido seria elevado, e aumentaria com o agravamento da perda auditiva.
2.3.6 Drogas, cafeína, nicotina e álcool
Segundo SCHLEUNING (1998), os efeitos colaterais de medicamentos e
drogas, tais como: Ácido Acetilsalicílico, mesmo em doses pequenas; antiinflamatórios não-esteróides; antibióticos aminoglicosídeos, principalmente quando
administrados concomitantemente a diuréticos; sedativos e anti-depressivos
tricíclicos, poderiam causar ou piorar o zumbido. O autor também explicou que,
por serem estimulantes e provocarem a constrição dos vasos sangüíneos, a
ingestão de cafeína (café, bebidas cafeinadas, chocolates) e nicotina poderiam
piorar o quadro do zumbido. Segundo ele, muitos médicos acreditam que 50% dos
pacientes com queixa de zumbido melhoram significativamente quando deixam de
fumar ou diminuem significativamente a ingestão de cafeína.
Os efeitos do consumo de álcool em pacientes com zumbido foi
examinado por STEPHENS (1999). Oitenta e quatro por cento dos 51 pacientes
analisados relataram piora do nível do zumbido com o consumo de álcool, 73%
relatavam ficar mais conscientes do zumbido, 49% disseram que o zumbido
piorava no dia seguinte à ingestão de álcool e, 47% percebiam aumento do sono.
19
Revisão da Literatura
Não houve diferença nos efeitos do álcool sobre o zumbido em função do tipo de
bebida.
2.3.7 Zumbido e Hipersensibilidade a Sons
No Brasil, FUKUDA et al. (1990) encontraram que 50% dos 50 pacientes
com zumbido que foram avaliados relataram ter intolerância à sons intensos.
O resultado da aplicação de um questionário à população clínica de
SANCHES e STEPHENS (1997) mostrou a hipersensibilidade a sons como um
sintoma relacionado a 8% dos casos de zumbido.
Já a pesquisa realizada pela American Tinnitus Association encontrou que
apenas 0,3% dos pacientes com zumbido apresentavam hiperacusia associada.
Destes, 53% a classificavam como pior que o zumbido e 25% a classificavam
como equivalente (VERNON e PRESS, 1998).
GOLD et al. (1999) encontraram para uma incidência de hipersensibiliade
a sons (hiperacusia e/ou fonofobia) em 40% dos casos de zumbido atendidos no
Tinnitus and Hyperacusis Center University of Maryland at Baltimore , E.U.A.
FABIJANSKA et al. (1999) afirmaram que 40% da população que referia
ter zumbido apresentavam também hiperacusia.
Embora não existam dados sobre a prevalência da hipersensibilidade a
sons na população geral e ainda sejam poucas as pesquisas sobre sua ocorrência
em associação com o zumbido ou a perda auditiva, SANTOS (2000) encontrou,
em vasta revisão da literatura, cerca de 50% dos trabalhos científicos publicados
na área associaram a hiperacusia ao zumbido, reforçando a idéia de que
houvesse estreitas ligações entre os dois sintomas.
20
Revisão da Literatura
Achados
do
Oregon
Tinnitus
&
Hyperacusis
Treatment
Center
(19/11/2000) mostraram a ocorrência concomitante de hiperacusia e zumbido em
45% dos casos atendidos.
2.4 Tratamentos
Em 1990, JASTREBOFF era pessimista quanto às perspectivas para uma
cura do zumbido. Embora considerasse que o paciente pudesse obter algum alívio
com técnicas de mascaramento auditivo e estimulação elétrica, medicamentos e
outros métodos, a maioria das abordagens parecia atuar sobre a atitude do
paciente em relação ao zumbido, e não nos mecanismos geradores do zumbido.
A partir do desenvolvimento do modelo neurofisiológico do zumbido
proposto por JASTREBOFF (1990), JASTREBOFF e HAZELL (1993) propuseram
um novo conceito na terapia do zumbido, a TRT - Tinnitus Retraining Therapy
(Terapia de Habituação do Zumbido), em que o objetivo não seria alterar os
mecanismos de geração do zumbido, sejam eles cocleares ou centrais, mas
induzir e facilitar a habituação do sinal do zumbido. Segundo os autores, o
zumbido provocaria uma série de respostas do Sistema Nervoso Autônomo que
evidenciariam ou aumentariam os sentimentos de ansiedade, frustração e
estresse. A remoção das associações negativas relacionadas ao zumbido, por
meio de sessões de orientação em que o paciente compreenderia o
funcionamento da audição e os mecanismos de percepção do zumbido, pode ser
suficiente para promover a habituação da reação ao zumbido, ou seja, o paciente
não deixaria de perceber o zumbido, mas sim de se incomodar com ele. Os
autores enfatizaram ainda a necessidade da adoção concomitante da Terapia
Sonora, que provê a entrada constante de estímulo auditivo no sistema auditivo,
seja por meio de geradores de som pessoais, de próteses auditivas ou de sons
ambientais. A escolha do tipo de aparelho usado, ou mesmo o não uso de
aparelhos dependerá da categoria do paciente. O tratamento consistiria de uma
consulta inicial, em que o paciente passaria por uma avaliação médica e
21
Revisão da Literatura
audiológica para que se obtenha o diagnóstico e se faça a opção pela abordagem
mais adequada à sua categoria, sessão de orientação e adaptação de aparelhos
quando necessário, e uma série de sessões de acompanhamento, que seriam
cruciais para o alcance dos objetivos estabelecidos. Segundo os autores, os
primeiros resultados da TRT já poderiam ser percebidos pelo paciente nos
primeiros meses de tratamento, mas a melhora seria mais perceptível após um
ano de tratamento. Para prevenir a ocorrência de recaídas, sugeriram que o
tratamento tivesse a duração mínima de 18 meses. Estudos retrospectivos dos
pacientes atendidos na University of Maryland Tinnitus and Hyperacusis Center
citados pelos pesquisadores apontaram para uma taxa de 80% de sucesso da
TRT, tendo esta abordagem demonstrado ser bastante efetiva e sem contraindicações ou efeitos colaterais.
De
maneira
semelhante
à
sessão
de
orientação
proposta
por
JASTREBOFF e HAZELL (1993), GREIMEL et al. (1999) defenderam a adoção de
estratégias que interferissem nas crenças e teorias implícitas dos pacientes sobre
seu próprio zumbido, diminuindo assim os efeitos que este sintoma poderia trazer
para o paciente e ajudando-o a modificar seu comportamento frente ao problema.
Segundo
tratamentos
do
a
American
zumbido
Tinnitus
incluem:
uso
Association
de
(1997),
amplificação,
os
principais
mascaramento,
biofeedback, tratamento medicamentoso, Tinnitus Retraining Therapy (TRT),
tratamento dentário, aconselhamento, implantes cocleares e estimulação elétrica.
LINDBERG e SCOTT (1999) admitiram que a diferenciação psicológica
entre pessoas que sofrem com o zumbido e pessoas que se habituaram a ele
espontaneamente ainda não estaria completamente compreendida, mas alertaram
para a possibilidade de que uma abordagem terapêutica que privilegie apenas a
habituação neurofisiológica e sensorial pudesse ser menos eficiente que outra que
incluísse a intervenção psicológica comportamental e cognitiva.
22
Revisão da Literatura
Já os tratamentos farmacológicos para o tratamento do zumbido não
evoluíram tanto quanto a compreensão do problema (SIMPSON e DAVIES, 1999).
Revisando os tratamentos tradicionais mais adotados no controle do zumbido, os
autores separaram os remédios mais indicados para o tratamento do zumbido em
cinco
categorias:
Lidocaína;
ansiolíticos,
sedativos
e
hipnóticos;
anti-
convulsivantes; vasodilatadores e; reguladores osmóticos. De todos estes, os mais
indicados foram os anti-depressivos e os ansiolíticos, particularmente as
benzodiazepinas.
Eles
consideraram,
ainda,
que
a
indicação
cirúrgica
especificamente para o zumbido seria muito rara, embora tenham admitido que
diversos procedimentos cirúrgicos poderiam conferir uma alívio incidental ao
sintoma.
FORMER et al. (1999) propuseram o uso de medicamentos antidepressivos e psicoterapia para reduzir a severidade do zumbido.
RADHA-ROSE (2000) elaborou um programa para redução do zumbido e
da hiperacusia que incluia a combinação da terapia cognitiva e de exercícios de
meditação, respiração e alongamento, chamado Tinnitus Reduction Program
(TRP), e relatou ter obtido bons resultados a partir do terceiro mês de terapia.
23
3. MATERIAL E MÉTODOS
Foram levantados os prontuários de todos os pacientes com queixa de
zumbido atendidos entre maio de 1999 e junho de 2000 que buscaram a Terapia
Material e Métodos
de Habituação do Zumbido (TRT) em uma clínica de Campinas, S.P., de acordo
com o consentimento da coordenação da mesma (ANEXO I).
Dos prontuários foram coletados os dados da anamnese e dos achados
audiológicos.
3.1 Anamnese
Todos os dados dos prontuários foram obtidos durante a anamnese clínica
para a TRT sugerida por JASTREBOFF et al. (1998), traduzida e adaptada para o
português, e compilados para um questionário resumido que foi elaborado para
esta pesquisa (ANEXO II). Para inclusão na pesquisa, foram considerados apenas
os prontuários que continham todas as informações requeridas pelo referido
questionário.
Em todos os casos o informante foi o próprio paciente e a
entrevistadora foi a pesquisadora.
3.2 Achados Audiológicos
Os dados audiológicos provieram das audiometrias trazidas pelos
pacientes já na primeira consulta ou de exames audiométricos realizados logo
após o encaminhamento a outros serviços.
3.2.1 Audiometria Tonal
Devido à importâncias das freqüências altas na caracterização do quadro
audiológico dos pacientes com queixa de zumbido (SCHLEUNING, 1998), as
audiometrias tonais por via aérea (V.A.) e via óssea (V.O.) foram classificadas de
acordo com os critérios de tipo e grau de perda auditiva propostos por SILMAN e
SILVERMAN (1998), que são descritos a seguir.
3.2.2 Grau da Perda Auditiva
25
Material e Métodos
Os critérios e procedimentos para classificação do grau da perda auditiva
nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas freqüências altas
(3000 e 4000 Hz) são descritos no Quadro 1. As médias encontradas na região de
freqüências baixas-médias e na região de freqüências altas foram utilizadas para
classificação do grau de perda, conforme mostra o Quadro 2. Dessa forma,
dependendo da configuração audiométrica poderíamos encontrar todas as
combinações entre os graus de perda auditiva, como por exemplo: normal/leve,
normal/severo, moderado/moderado, severo/moderado, moderado/profundo, etc.
26
Material e Métodos
Quadro 1. Critérios e procedimentos para classificação do grau da perda auditiva
nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas freqüências altas ( 3000 e 4000
Hz).
Critério
Procedimento para determinar a
média com base em uma, duas ou
três freqüências
Freqüências baixas e médias
1. Se o limiar de 500 Hz varia até 20 dB Média tradicional das três freqüências
do limiar de 2000 Hz
2. Se o limiar de 500 Hz varia mais de
Média das duas freqüências piores
20 dB do limiar de 2000 Hz mas não há
diferença maior que 20 dB entre as
duas piores freqüências
3. Se o limiar de 500 Hz varia mais de
Média entre a pior freqüências e a inter-
20 dB do limiar de 2000 Hz e há
oitava das duas piores freqüências
diferença maior que 20 dB entre as
duas piores freqüências
Freqüências altas
1. Se o limiar de 2000 Hz varia até 20
Considerar o limiar de 4000 Hz
dB do limiar de 4000 Hz
2. Se o limiar de 2000 Hz varia mais de
Média dos limiares de 3000 e 4000 Hz
20 dB do limiar de 4000 Hz
Quadro 2. Classificação do grau da perda auditiva
dB NA
Grau
< 26
Audição normal
26 - 40
Leve
41 - 70
Moderado
71 - 90
Severo
> 90
Profunda
27
Material e Métodos
3.2.3 Tipo da Perda Auditiva
• Condutiva: limiares de V.O. normais (até 15 dBNA) e limiares de V.A.
rebaixados (abaixo de 25 dBNA), com diferencial aéreo-ósseo igual ou
superior a 15 dB;
• neurossensorial: limiares de V.O. e V.A. rebaixados (abaixo de 15
dBNA e de 25 dBNA respectivamente), e sem diferencial aéreo-ósseo
significativo (no máximo 10 dB); e
• mista: limiares de V.O. e V.A. rebaixados (abaixo de 15 dBNA e de 25
dBNA respectivamente), e com presença de diferencial aéreo-ósseo
significativo (acima de 15 dB).
3.2.4 Configuração da Curva Audiométrica
Para caracterização da configuração da curva audiométrica, foram usados
os critérios propostos por SANTOS e RUSSO (1991), descritos abaixo:
•
perda auditiva horizontal: perda semelhante em todas freqüências;
•
perda auditiva descendente: maior nas freqüências altas;
•
perda auditiva ascendente: maior nas freqüências baixas;
•
perda auditiva em "U": maior nas freqüências médias;
•
perda auditiva irregular: curvas que não se enquadram em
nenhuma das anteriores.
Os achados foram colocados em tabelas e foram comparados entre si. O
cruzamento dos dados, assim como a análise estatística pertinente dos achados
foram feitos com o auxílio do programa EPINFO, versão 6.0.
Os achados da Audiometria Vocal (S.R.T. e I.R.F.) não foram computados
por não se relacionarem diretamente com o zumbido e a TRT. Também não foi
28
Material e Métodos
realizada a coleta de dados da Imitanciometria Acústica pois poucos prontuários
continham o exame completo.
3.3 Caracterização da População
Foram analisados 25 prontuários de pacientes que iniciaram a Terapia de
Habituação do Zumbido (TRT), mas 4 foram descartados por não conterem todas
as informações requeridas pelo questionário aplicado.
Dos 21 prontuários selecionados, 81,0% (n=17) eram de pacientes do
sexo masculino, e 29,0% (n=4) de pacientes do sexo feminino, e a idade mínima
encontrada foi 25 anos, a máxima foi 72 anos e a média foi 52,6 anos, conforme
pode ser observado na Tabela I. Como não há na literatura estudos que mostrem
diferenças significativas das características do zumbido em função do sexo
(SANCHES et al., 1999), mas sim quanto à idade (JASTREBOFF, GRAY e GOLD,
1996), a amostra foi dividida apenas em grupos etários, denominados Grupo A,
de 25 a 50 anos, e Grupo B, de 51 a 72 anos, como pode ser visto na Tabela II.
Esta divisão facilitou a análise dos dados, que teria ficado comprometida caso os
grupos fossem muito assimétricos.
Tabela I. Distribuição dos sujeitos de acordo com a idade e o sexo
Faixa etária
1. 20 à 30 anos
2. 31 à 40 anos
3. 41 à 50 anos
4. 51 à 60 anos
1. 61 em diante
Total
Média de idade
Sexo Masculino
N
%
1
4,8%
1
4,8%
6
28,6%
9
42,8%
0
0%
17
81,0%
48,58
Sexo Feminino
N
%
0
0%
0
0%
2
9,5%
0
0%
2
9,5%
4
19,0%
56,75
Total
N
%
1
4,7%
1
4,7%
8
38,2%
9
42,8%
2
9,5%
21
100%
52,66
Tabela II. Distribuição dos sujeitos nos Grupos A e B em função da idade
Grupo A
Grupo B
Total
29
Material e Métodos
N
%
N
%
N
%
11
52,4%
10
47,6%
21
100%
Todos os dados pesquisados, com exceção da curva audiométrica,
correspondem apenas ao relato do paciente, podendo ou não terem sido
comprovados por exames ou diagnósticos clínicos específicos.
30
4. RESULTADOS
31
Resultados
Os dados coletados na anamnese permitiram a caracterização dos
antecedentes familiares, otológicos e de saúde geral, assim como uma
visualização das características subjetivas da audição, do zumbido e sua
instalação e da hipersensibilidade auditiva. Por questões didáticas, este capítulo
foi divido em três partes: histórico geral, audição e zumbido e hipersensibilidade a
sons.
4.1 Histórico Geral
4.1.1 Antecedentes Familiares
A Tabela III mostra os principais antecedentes familiares para zumbido
dos grupos A e B.
Tabela III. Distribuição de indivíduos segundo os antecedentes
familiares dos grupos A e B.
Grupo
D.A.
Zumbido
Vertigem
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
A
3
27,2%
3
27,7%
0
0%
6
55,4%
B
5
50,0%
1
10,0%
1
10,0%
7
70,0%
Total
8
38,0%
4
19,0%
1
4,7%
13
61,9%
4.1.2 Exposição à Ruído
A história de exposição pregressa a ruído dos indivíduos dos grupos A e B
pode ser vista na Tabela IV.
32
Resultados
Tabela IV. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com
a exposição a ruído.
Grupo
História de Exposição a
Sem História de exp. a
Ruído
Ruído
N
Total
%
N
%
N
%
A
9
81,8%
2
18,1%
11
52,3%
B
6
60,0%
4
40,0%
10
47,6%
15
71,4%
6
28,5%
21
100%
Total
4.1.3 Antecedentes otológicos
A Tabela V mostra os principais antecedentes otológicos presentes nos
grupos A e B.
Tabela V. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com Antecedentes
Otológicos.
Grupos
Otites
Vertigens
Cirurgias otológicas
N
%
N
%
N
%
A
3
27,2
5
45,4%
1
9,0%
B
2
20,0%
6
60,0%
3
30,0%
Total
5
23,8%
11
52,3%
4
19,0%
4.1.4 Saúde Geral
O levantamento quanto à saúde geral do paciente e suas principais
doenças pode ser observado na Tabela VI e na Figura 1.
Tabela VI. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com as principais
alterações da saúde geral.
33
Resultados
Alteração
Grupo A
Grupo B
Total
N
%
N
%
N
%
Estresse
7
63,6%
4
40,0%
11
52,3%
Ansiedade
9
81,8%
5
50,0%
14
66,6%
Depressão
2
18,1%
5
50,0%
7
33,3%
Alt.Metabólicas
3
27,2%
1
10,0%
4
19,0%
Rins
3
27,2%
1
10,0%
4
19,0%
Coração
0
0%
1
10,0%
1
4,7%
Hepatite
2
18,1%
0
0%
2
9,5%
HA
2
18,1%
5
50,0%
7
33,3%
Acidentes
1
9,0%
1
10,0%
2
9,5%
Outras
8
72,7%
6
60,0%
14
33,6%
34
Resultados
Porcentagem de indivíduos
100
90
Grupo A
Grupo B
81,8%
80
70
63,6%
60
50,0%
50,0%
50
40,0%
40
30
18,1%
20
10
0
Estresse
Ansiedade
Depressão
Figura 1. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com as principais
alterações emocionais.
Os hábitos de consumo que podem ter alguma ligação direta ou indireta
com a queixa de zumbido estão dispostos na Tabela VII.
Tabela VII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com os hábitos de
consumo possivelmente relacionados ao zumbido.
Alteração
Grupo A
Grupo B
Total
N
%
N
%
N
%
cafeína
4
36,3%
1
10,0%
5
23,8%
fumo
5
45,4%
2
20,0%
7
33,3%
álcool
0
0%
0
0%
0
0%
drogas
0
0%
0
0%
0
0%
35
Resultados
4.2 Audição
A distribuição de orelhas dos indivíduos dos grupos A e B com audição
normal e alterada pode ser visto na Tabela VIII.
Tabela VIII. Distribuição de orelhas dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com a
audição normal ou alterada.
Grupo
Normal
Alterada
Total
N
%
N
%
N
%
A
9
40,9%
13
59,1%
22
100%
B
6
30,0%
14
70,0%
20
100%
Total
14
33,3%
27
64,7%
42
100%
Os dados da Tabela IX evidenciam a ocorrência dos diferentes graus de
perda auditiva nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas
freqüências altas (3000 e 4000 Hz) por orelha.
Tabela IX. Distribuição de orelhas dos indivíduos do Grupo A e B de acordo com o grau da
perda auditiva nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas freqüências altas
(3000 e 4000 Hz).
Grau
Grupo A
Grupo B
N
%
N
%
Normal/Leve
4
30,7%
4
28,5%
Normal/Moderado
1
7,7%
0
0%
Leve/Moderado
3
23,0%
5
35,7%
Moderado/moderado
2
15,3%
2
14,3%
Moderado/Severo
1
7,7%
1
7,1%
Moderado/Profundo
1
7,7%
0
0%
Severo/Profundo
1
7,7%
0
0%
Profundo/Profundo
0
0%
2
14,3%
Total de alterações
13
100%
14
100%
36
Resultados
A Tabela X e a Figura 2 mostram uma análise mais detalhada do
quadro audiométrico dos pacientes dos grupos A e B por orelha.
Tabela X. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com o tipo da
perda auditiva por orelha.
Tipo
Grupo A
Grupo B
N
%
N
%
Neurossensorial
11
84,6%
12
85,7%
Condutiva
1
7,6%
0
0%
Mista
1
7,6%
2
14,2%
Total
13
100%
14
100%
Porcentagem de indivíduos
100
90
84,6%
85,7%
A
B
80
70
60
50
40
30
20
14,2%
7,6%
10
0
7,6%
0%
Neuro-sensorial
Condutiva
Mista
Figura 2. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com o tipo da
perda auditiva por orelha.
A tabela XI e a Figura 3 mostram a análise da configuração
audiométrica por orelha nos grupos A e B.
37
Resultados
Tabela XI. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com a
configuração da perda auditiva por orelha.
Configuração
Grupo A
Grupo B
N
%
N
%
Descendente
8
61,5%
11
78,5%
Ascendente
1
7,6%
0
0%
Plana
1
7,6%
1
7,1%
Em "U"
2
15,3%
1
7,1%
Irregular
1
7,6%
1
7,1%
Total
13
100%
14
100%
Porcentagem de indivíduos
100
90
70
A
B
78,5%
80
61,5%
60
50
40
30
20
10
0
15,3%
7,6% 7,1%
7,6%
7,1%
7,6% 7,1%
0%
Descendente Ascendente
Plana
Em "U"
Irregular
Figura 3. Distribuição das orelhas dos indivíduos dos Grupos A e B de acordo com a
configuração da perda auditiva por orelha.
38
Resultados
4.3 Zumbido e Hipersensibilidade a Sons
Da Tabela XII constam os dados referente à lateralização do zumbido nos
grupos A e B.
Tabela XII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com a lateralização do
zumbido.
Grupo
OD
OE
AO
cabeça
N
%
N
%
N
%
N
%
A
3
27,2%
3
27,2%
5
45,4%
0
0%
B
2
20,0%
4
40,0%
2
20,0%
2
20,0%
Total
5
23,8%
7
33,3%
7
33,3%
2
9,5%
A Tabela XIII e a Figura 4 evidenciam a maior ocorrência de zumbido
contínuo em ambos os grupos.
Tabela XIII. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o tipo do zumbido.
Grupo
contínuo
pulsátil
ambos
N
%
N
%
N
%
A
7
63,6%
2
18,1%
2
18,1%
B
10
100%
0
0%
0
0%
Total
17
80,9%
2
9,5%
2
9,5%
39
Porcentagem de indivíduos
Resultados
100,0%
100
A
B
90
80
70
63,6%
60
50
40
30
18,1%
18,1%
20
10
0%
0
contínuo
pulsátil
0%
ambos
Figura 4. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o tipo do zumbido.
A distribuição dos indivíduos dos grupos A e B quanto ao surgimento do
zumbido é mostrada na Tabela XIV.
Tabela XIV. Distribuição dos indivíduos dos grupos A e B de acordo com o surgimento do
zumbido.
Grupo
gradual
repentino
Total
N
%
N
%
N
%
A
6
54,5%
5
45,4%
11
100%
B
7
70,0%
3
30,0%
10
100%
A avaliação subjetiva quanto à severidade, incômodo e efeitos na vida
diária, avaliada pelos pacientes numa escala de 0 a 10, onde 10 é o grau máximo,
pode ser vista na Figura 5.
40
Resultados
10
A
B
Média dos valores da
avaliação subjetiva do zumbido
9
8
7
7,4
6,1
7,3
6,8
6,6
6
5
4
3,5
3
2
1
0
Severidade
Incômodo
Efeitos Vida Diaria
Figura 5. Média dos valores de 0 a 10 da avaliação subjetiva do zumbido nos Grupos A e B
de acordo com o grau da severidade, do incômodo e dos efeitos na vida diária.
Na
Tabela
XV
podemos
observar
as
atividades
afetadas
ou
impossibilitadas pelo zumbido em cada grupo.
Tabela XV. Distribuição das atividades afetadas ou impossibilitadas pelo zumbido nos
Grupos A e B.
Alteração
Grupo A
Grupo B
Total
N
%
N
%
N
%
Concentração
6
54,5%
3
30,0%
9
42,8%
Sono
5
45,4%
4
40,0%
9
42,8%
Atividades
4
36,3%
3
30,0%
7
33,3%
Trabalho
5
45,4%
1
10,0%
6
66,6%
Sociais
3
27,2%
1
10,0%
4
19,0%
Familiares
1
9,0%
0
0%
1
4,76%
Esportes
1
9,0%
0
0%
1
4,76%
Outras
1
9,0%
2
20,0%
3
33,3%
Silenciosas
41
Resultados
Na Tabela XVI podemos observar a ocorrência de hipersensibilidade
auditiva (H.A) nos indivíduos dos grupos A e B.
Tabela XVI. Distribuição dos indivíduos dos Grupos A e B com queixa de Hipersensibilidade
Auditiva (H.A.).
Grupo
Com H.A.
Sem H.A.
Total
N
%
N
%
N
%
A
8
72,7%
3
27,3%
11
100%
B
5
50,0%
5
50,0%
10
100%
Total
13
61,9%
8
38,1%
21
100%
Na Tabela XVII observamos as atividades afetadas ou impossibilitadas
pela hipersensibilidade auditiva em cada grupo.
Tabela XVII. Distribuição das atividades afetadas ou impossibilitadas pela hipersensibilidade
a sons nos Grupos A e B.
Alteração
Grupo A
Grupo B
Total
N
%
N
%
N
%
1
9,0%
0
0%
1
4,76%
Sono
0
0%
0
0%
0
0%
Trabalho
1
9,0%
0
0%
1
4,76%
Sociais
3
27,2%
1
10,0%
4
19,0%
Familiares
1
9,0%
0
0%
1
4,76%
Esportes
0
0%
1
10,0%
1
4,76%
Outras
2
18,1%
2
20,0%
4
19,0%
Concentraçã
o
42
5. DISCUSSÃO
Os resultados da coleta de dados da anamnese e da audiometria tonal
foram comparados aos achados de outros pesquisadores. As concordâncias e
43
Discussão
diferenças com a literatura são discutidos neste capítulo, divido em três partes:
histórico geral, audição e zumbido e hipersensibilidade a sons.
5.1 Caracterização da População
Dos 21 prontuários selecionados, 81% (n=17) eram de pacientes do sexo
masculino, e 29% (n=4) de pacientes do sexo feminino (Tabela I). No entanto, a
maioria dos autores que pesquisaram a incidência do zumbido em clínicas ou
hospitais encontraram uma maior incidência desta queixa em pacientes do sexo
feminino (SANTOS et al., 1999; BRANCO, 1999) ou sem diferença significativa
entre os sexos (FUKUDA et al., 1990; MARTINS, 1991; SANCHES et al., 1999).
Nossos achados foram semelhantes apenas ao levantamento realizado pelo
Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (disponível em 19/11/2000), que
também recebe pacientes com zumbido para a Terapia de Habituação do Zumbido
(TRT). Tal dado nos faz pensar se os homens não seriam mais exigentes ou se
cuidariam mais que as mulheres, ou ainda se as mulheres teriam um limiar de
tolerância de incômodo mais alto que os homens e por isso os homens tenham
procurado em maior número um tratamento tão específico.
Quanto à faixa etária, a idade mínima encontrada foi 25 anos, a máxima
foi 72 anos e a média foi 52,6 anos (Tabela II), concordando com os estudos
anteriores (FUKUDA et al., 1990; MARTINS, 1991; Oregon Tinnitus & Hyperacusis
Treatment Center, disponível em 19/11/2000).
5.2 Histórico Geral
5.2.1 Antecedentes Familiares
Quanto aos antecedentes familiares, 55,4% (n=6) dos pacientes do grupo
A tinham pelo menos um fator de história auditiva dos precedentes, sendo que
27,7% (n=3) se relacionava a deficiência auditiva adquirida, 27,7% (n=3) a
zumbido. Já no grupo B 70% (n=7) dos casos tinham antecedentes familiares,
44
Discussão
50% (n=5) para deficiência auditiva adquirida, 10% (n=1) para zumbido e 10%
(n=1) para vertigem (Tabela III).
Não foram encontrados dados na literatura sobre antecedentes familiares
de pacientes com zumbido.
5.2.2 Exposição à Ruído
A história de exposição pregressa a ruído esteve presente em 81,8% (n=8)
dos casos do grupo A em 60% (n=6) do grupo B (Tabela IV). Do total, 73,4%
(n=11) foram por ruído ocupacional de naturezas diversas (tecelagem, estamparia,
máquina de costura, impressoras antigas, etc.), 9,2% por (n=2) trauma acústico e
14,2% (n=3) no lazer (tiro esportivo e marcenaria como lazer). A média de tempo
de exposição a ruído ocupacional foi de 20,5 anos.
Os dados obtidos apontam para uma forte relação entre a exposição
pregressa ao ruído e a queixa do zumbido, concordando
com a literatura
consultada (MARTINS, 1991; ZIMMERMANN, 1998; KELTENBACH e AFMAN ,
2000; OLSEN, 2001).
5.2.3 Antecedentes otológicos
O antecedente otológico mais presente no grupo A foi a vertigem, em
45,4% dos casos (n=5), seguido por 27,2% (n=3) de otites e 9,0% (n=1) de
cirurgias otológicas. Também no grupo B a vertigem foi o antecedente otológico
mais referido, presente em 60,0% (n=6) do casos, e seguido por 3% (n=3) de
cirurgias otológicas e 20,0% (n=2) de otites (Tabela V).
A literatura descreve
como comum a correlação entre a vertigem e o
zumbido (FUKUDA et al., 1990; GANANÇA, 1999), justificando os resultados
encontrados. Também os antecedentes de cirurgias otológicas e de otites foram
referidos pelos autores consultados (FUKUDA et al., 1990; SCHLEUNING, 1997)
45
Discussão
5.2.4 Saúde Geral
O levantamento quanto à saúde geral do paciente e suas principais
doenças é mostrado na Tabela VI e na Figura 1. No grupo A a ansiedade e o
estresse
foram
as
principais
alterações
de
saúde,
correspondendo
respectivamente a 81,8% (n=9) e 63,6% (n=7) das alterações. Em seguida vieram
as alterações metabólicas (27,2%, n=3), as alterações renais (27,2%, n=3), a
depressão (18,1%, n=2), a hepatite (18,1%, n=2) e a hipertensão arterial (18,1%,
n=2) e acidentes (9,0%, n=1). Já no grupo B, tanto a ansiedade quanto a
depressão e a hipertensão arterial foram encontradas em 50,0% dos casos (n=5).
O estresse foi referido por 40,0% dos indivíduos (n=4), e as alterações
metabólicas, renais, cardíacas e os acidentes foram, cada um, responsáveis por
10,0% (n=1) das alterações de saúde encontradas.
Na categoria "outras", ressaltamos no grupo A, por maior ocorrência, as
alterações gástricas (n=3) e de coluna (n=2). A ocorrência de alterações tais como
fobia social e síndrome do pânico estiveram presentes nos dois grupos, sendo 9%
(n=1) no grupo A e 10,0% (n=1) no grupo B.
É interessante observar como foi alta a porcentagem de indivíduos com
zumbido que apresentavam ansiedade, depressão, estresse e outros distúrbios
psiquiátricos, dado concordante com os achados da literatura (FUKUDA et al.,
1990; MC KEE e STEPHENS, 1992; LINDBERG e SCOTT, 1999; FORMER et al.,
1999; SIBELLE e VESTERAGER, 1999). Também constatamos que no grupo B
houve mais casos de depressão e de hipertensão arterial, doenças tipicamente
associadas ao avanço da idade, enquanto no grupo A o estresse foi mais
presente, possivelmente devido a atividade profissional mais intensa.
Os hábitos de consumo que podem ter alguma ligação direta ou indireta
com a queixa de zumbido estão dispostos na Tabela VII. Os indivíduos
classificados como tendo hábito de consumir cafeína relataram consumir entre 100
e 2000 ml de café ao dia e foram 36,3% (n=4) no grupo A e 10,0% (n=1) no grupo
46
Discussão
B. Entre os fumantes, encontramos 45,4% (n=5) no grupo A e 20,0% (n=2) no
grupo B. O número de cigarros consumidos ao dia variou entre 10 e 20.
O
consumo social do álcool (de uma a duas doses de álcool em ocasiões
esporádicas) não foi considerado como hábito. Em nenhum dos grupos foram
encontrados indivíduos que consumiam bebidas alcoólicas em excesso ou algum
tipo de droga. Os pacientes que abandonaram o consumo das substâncias
investigadas há mais de 1 ano foram configurados como não-usuários. No grupo
B apenas um paciente era ex-fumante. No grupo A encontramos um ex-alcoólatra
e um ex-viciado em drogas.
Podemos notar um maior consumo da cafeína e do fumo entre os
indivíduos do grupo A. Tal achado poderia estar relacionado ao maior índice de
estresse encontrado neste grupo ou a atuação profissional e de lazer
provavelmente mais intensas neste grupo.
Embora alguns autores descrevam os efeitos de tais substâncias sobre o
zumbido (SCHLEUNING, 1998; STEPHENS, 1999), nossos dados não puderam
ser comparados às pesquisas referidas por não termos enfocado os mesmos
aspectos.
5.3 Audição
No grupo A encontramos 40,9% (n=9) de orelhas com audição normal e
59,1% (n=13) de orelhas alteradas, enquanto no grupo B observamos 30,0% (n=6)
de orelhas normais, contra 70,0% (n=14) de orelhas com audição alterada (Tabela
VIII). Portanto, podemos observar que a maioria dos pacientes apresentavam
alguma alteração de audição, sendo mais evidente no Grupo B, provavelmente
pelo agravante do fator idade.
Os dados da Tabela IX evidenciam a ocorrência dos diferentes graus de
perda auditiva nas freqüências baixas e médias (500, 1000 e 2000 Hz) e nas
freqüências altas (3000 e 4000 Hz) por orelha. Observamos no Grupo A a
47
Discussão
ocorrência do grau normal/leve em 30,7% (n=4) das orelhas alteradas,
normal/moderado
em
7,7%
(n=1),
leve/moderado
em
23,0%
(n=3),
moderado/moderado em 15,3% (n=2), moderado/severo em 7,7% (n=1),
moderado/profundo em 7,7% (n=1) e severo/profundo em 7,7% (n=1). No grupo B,
foi 28,5% (n=4) a ocorrência do grau normal/leve nas orelhas alteradas, 35,7%
(n=5) de leve/moderado, 14,3% (n=2) de moderado/moderado, 7,1% (n=1) de
moderado/severo e 14,3% (n=2) do grau profundo/profundo. Não foram descritos
os graus de perda auditiva cuja ocorrência foi de 0%. Não pudemos caracterizar
diferenças importantes do grau de perda auditiva entre os grupos A e B.
A Tabela X e a Figura 2 mostram uma análise mais detalhada do quadro
audiométrico
dos pacientes dos grupos A e B por orelha. No grupo A
evidenciamos a ocorrência de 84,6% (n=11) de orelhas com alteração de audição
do tipo neurossensorial, 7,6% (n=1) do tipo condutiva e 7,6% (n=1) do tipo mista.
No grupo B houve 85,7% (n=12) de casos de alteração de audição do tipo
neurossensorial, contra 14,2% do tipo mista (n=2) e nenhuma ocorrência (n=0) do
tipo condutiva. Nos dois grupos foi significativamente alta a ocorrência de perdas
auditivas do tipo neurossensorial.
No grupo A evidenciamos a ocorrência de 61,5% (n=8) de curvas
descendentes, 7,6% (n=1) de ascendentes, 7,6% (n=1) de planas e 15,3% (n=2)
de irregulares. No grupo B, são 78,5% (n=11) de curvas descendentes, 7,1% (n=1)
de planas, 7,1% (n=1) de irregulares e nenhuma ocorrência (n=0) de curvas
ascendentes. Nos dois grupos a ocorrência de perdas auditivas de configuração
descendente foi significativamente alta (Tabela XI e a Figura 3).
Nossos achados são compatíveis com as principais descrições de quadros
audiológicos de indivíduos com zumbido (FUKUDA et al., 1990; MARTINS, 1991;
KIRKWOOD, 1995; SCHLEUNING, 1998; SANTOS et al., 1999).
48
Discussão
É importante ressaltar que, em vários casos, pudemos flagrar a presença
de limiares auditivos da via aérea abaixo de 25 dB nas freqüências de 6000 e
8000 Hz, que são desconsideradas pela classificação adotada (SILMAN e
SILVERMAN, 1997). Tal classificação também não contempla as perdas auditivas
em freqüências isoladas se não houver rebaixamento na média das freqüências.
Assim, vários casos com alteração de limiar auditivo em freqüências altas ou em
freqüências específicas, foram consideradas como audição normal, embora nós
acreditemos que todas as alterações do limiar de audição são importantes na
avaliação do paciente com zumbido.
5.4 Zumbido e Hipersensibilidade a Sons
Quanto à lateralização do zumbido, encontramos no Grupo A 27,2% (n=3)
de zumbidos à direita, 27,2% (n=3) à esquerda, 45,4% (n=5) em ambos as orelhas
e nenhuma referência de zumbido na cabeça. No Grupo B, foram 20,0% (n=2) de
zumbidos à direita, 40,0% (n=4) à esquerda, 20,0% (n=2) em ambos as orelhas e
20,0% (n=2) na cabeça (Tabela XII).
A maior porcentagem de zumbido à esquerda também foi descrita por
FUKUDA et al. (1990) e pelo Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center
(disponível em 19/11/2000).
No grupo A, 63,6% (n=7) dos indivíduos classificou o zumbido como
contínuo, 18,1% (n=2) como pulsátil, e 18,1% (n=2) referiam ter um zumbido
pulsátil e outro contínuo. Já no Grupo B, 100% (n=10) dos indivíduos relatou
perceber apenas o zumbido contínuo (Tabela XIII e a Figura 4).
Os dados obtidos confirmam que o zumbido contínuo corresponde à
categoria mais freqüente dos casos de zumbido (SISMANIS, 1997; WALDVOGEL
et al., 1998).
49
Discussão
O surgimento do zumbido deu-se de modo gradual em 54,5% (n=6) dos
indivíduos do Grupo A e repentino em 45,4% (n=5). No Grupo B foram 70,0%
(n=7) de casos de instalação gradual e 30,0% (n=3) de instalação repentina
(Tabela XIV).
Os achados desta pesquisa sugerem que a instalação gradual do zumbido
seja mais comum que a repentina. Dados semelhantes foram citados pelo Oregon
Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (disponível em 19/11/2000).
A avaliação subjetiva quanto à severidade, incômodo e efeitos na vida
diária foi realizada pelos pacientes, usando uma escala de 0 a 10, onde 10 é o
grau máximo. A média da severidade do zumbido foi 6,1 para o grupo A e 6,8 para
o grupo B. A média do incômodo causado pelo zumbido foi 7,4 para o grupo A e
6,6 para o grupo B. Já a média do impacto na vida diária foi 7,3 para o grupo A e
3,5 para o grupo B (Figura 5).
Tais resultados evidenciam que, embora o grau de severidade e de
incômodo atribuídos ao zumbido tenha sido semelhante para os dois grupos, os
indivíduos do grupo A referiram sentir de maneira muito mais intensa o impacto
do zumbido na sua vida diária. Não foram encontrados dados na literatura que
pudessem ser comparados aos achados aqui descritos.
Na
Tabela
XV
podemos
observar
as
atividades
afetadas
ou
impossibilitadas pelo zumbido em cada grupo. Dos indivíduos do grupo A, 54,5%
(n=6) sofreram prejuízos na concentração, 45,4% (n=5) no sono, 36,3% (n=4) nas
atividades silenciosas (AS), 45,4% (n=5) nas atividades ocupacionais, 27,2% (n=3)
nas sociais, 9,0% (n=1) nas atividades familiares, 9,0% (n=1) em atividades
esportivas e 9,0% (n=1) em outras. No Grupo B, 30,0% (n=3) sofreram prejuízos
na concentração, 40,0% (n=4) no sono, 30,0% (n=3) nas atividades silenciosas,
10,0% (n=1) nas atividades ocupacionais, 10,0% (n=1) nas sociais, 20,0% (n=2)
em outras atividades, não havido este grupo relatado nenhuma interferência do
zumbido em atividades familiares ou esportivas.
50
Discussão
É interessante notar que para o grupo A, as atividades mais afetadas são
a concentração, as atividades ocupacionais e o sono, enquanto no grupo B, a
atividade mais afetada é o sono, seguido pela concentração e atividades
silenciosas. Muito possivelmente, tais diferenças entre os dois grupos etários
tenham uma relação com o papel social desempenhado pelo sujeito, como
sugeriram SIBELLE e VESTERAGER (1999).
Embora não tenhamos encontrado dados na literatura passíveis de
comparação com os nossos achados, existiu a concordância com algumas
pesquisas ao menos quanto a existência de dificuldades em atividades específicas
atribuídas à presença do zumbido, como problemas com o sono (SANCHES et al.,
1999; LINDBERG e SCOTT, 1999; SIBELLE e VESTERAGER, 1999) e
concentração (LINDBERG e SCOTT, 1999; McKENNA e HALLAM, 1999;
SIBELLE e VESTERAGER, 1999).
Analisando os dois grupos conjuntamente, a porcentagem de sujeitos com
alguma queixa de hipersensibilidade auditiva foi de 61,9% (n=13) , sendo que
destes, 72,7% (n=8) eram do Grupo A e 50,0%(n=5) do Grupo B (Tabela XVI).
Os resultados obtidos estão de acordo com os encontrados por FUKUDA
et al. (1990), próximos aos de GOLD et al. (1999), FABIJANSKA et al. (1999) e do
Oregon Tinnitus & Hyperacusis Treatment Center (19/11/2000) e bastante
diferente dos achados de SANCHEZ e STEPHENS (1997) e da American Tinnitus
Association (VERNON e PRESS, 1998).
Na Tabela XVII observamos as atividades afetadas ou impossibilitadas
pela hipersensibilidade auditiva em cada grupo. Dos indivíduos do grupo A, 9,0%
(n=1)
sofreram prejuízos
na
concentração,
9,0%
(n=1)
nas
atividades
ocupacionais, 27,2% (n=3) nas sociais, 9,0% (n=1) nas atividades familiares e
18,1% (n=2) em outras, com ocorrência de 0% para sono e atividade esportivas.
51
Discussão
No Grupo B, as únicas atividades afetadas são as sociais, em 10,0% (n=1) dos
casos, as esportivas, em 10,0% (n=1) e outras, em 20,0% (n=2) dos indivíduos.
Assim, é possível perceber que os indivíduos do grupo A têm mais
atividades afetadas ou impossibilitadas pelo zumbido que o grupo B,
especialmente no tangente às atividade sociais.
Considerações Finais
Acreditamos que todos os dados aqui levantados contribuem para a
determinação de um perfil dos pacientes que procuraram como forma terapêutica
para seu zumbido a Terapia de Habituação do Zumbido (TRT), uma abordagem
ainda recente no país mas que vem despertando a cada dia mais o interesse de
profissionais e portadores de zumbido e de hipersensibilidades auditivas.
Todos os pacientes que buscaram este tratamento, sem exceção, já
haviam passado por um ou mais otorrinolaringologistas, por médicos de outras
especialidades, por dentistas, fisioterapeutas e, muitos desses paciente, admitiam
já ter tentado tratamentos esotéricos em centros espíritas e em candomblés. São,
portanto, em sua maioria pacientes sem um diagnóstico etiológico definido e que
sofrem enorme incômodo com o zumbido.
Chamamos então a atenção para o fato de que, apesar do grande número
de remédios ditos convencionais e alternativos para o tratamento do zumbido,
ainda não há um tratamento que seja amplamente aceito para este problema.
Existem ainda muitas controvérsias à respeito da geração, detecção e
percepção do zumbido, mas acreditamos que a constante pesquisa de modelos
neurofisiológicos do zumbido tem aberto um importante caminho no entendimento
desse sintoma e na busca de novos tratamentos.
52
Discussão
Embora nossa casuística seja pequena e a maioria dos dados colhidos na
anamnese não tenham sido confirmados com diagnósticos médicos ou testes
específicos (dados da saúde geral e da hipersensibilidade auditiva, por exemplo),
este trabalho mostra claramente o quão complexo é o paciente com zumbido.
Quantos fatores podem interferir na percepção psicoacústica do zumbido, e
quantos outros determinarão o impacto do zumbido na vida do paciente. E, apesar
de já conhecermos tais aspectos, ainda será longo o caminho para o
desvendamento do processo que une, fisiologicamente, todos esses fatores.
Julgamos ser extremamente importante o estudo aprofundado do paciente com
zumbido, do zumbido em si e de novas técnicas de tratamento que possam trazer,
senão a cura total, algum alívio e conforto a esses indivíduos, e por isso
esperamos ter contribuído de alguma maneira para o conhecimento na área.
53
6. CONCLUSÕES
Conclusões
A partir da análise de 21 prontuários de pacientes que procuraram a
Terapia de Habituação do Zumbido (TRT), podemos apresentar as seguintes
conclusões:
1. 81,0% dos pacientes eram do sexo masculino, e 29,0% eram do sexo
feminino, com a idade mínima de 25 anos, e a máxima foi 72 anos, média de 52,6
anos.
2. A exposição pregressa ao ruído parece ter uma forte relação com a
queixa do zumbido.
3. O antecedente otológico mais presente foi a vertigem, sem diferenças
significativas entre os dois grupos etários (A e B).
4. A maioria dos pacientes relatou sofrerem de ansiedade, depressão,
estresse e outros distúrbios psiquiátricos. No grupo A as principais alterações de
saúde foram a ansiedade (81,8%) e o estresse (63,6%), no grupo B foram a
ansiedade (50,0%), a depressão (50,0%) e a hipertensão arterial (50,0%).
5. A maioria dos pacientes apresentou audiometria alterada (59,1% no
grupo A e 70,0% no grupo B), sem diferenças importantes do grau de perda
auditiva entre os dois grupos.
6. Nos dois grupos foi significativamente alta a ocorrência de perdas
auditivas do tipo neurossensorial (84,6% no grupo A e 85,7% no grupo B) e de
configuração descendente (61,5% no grupo A e 78,5% no grupo B).
7. A maioria dos pacientes dos dois grupos referiu perceber o zumbido à
esquerda, contínuo e de surgimento gradual.
55
Conclusões
8. O grau de severidade e de incômodo atribuído ao zumbido foi
semelhante nos dois grupos, porém os indivíduos do grupo A referiram sentir de
maneira muito mais intensa o impacto do zumbido na sua vida diária.
9. Nos dois grupos as atividades mais afetadas pelo zumbido foram a
concentração e o sono.
10. Analisando os dois grupos conjuntamente, a porcentagem de sujeitos
com alguma queixa de hipersensibilidade auditiva foi 61,9%.
56
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
57
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63
Anexos
ANEXO I
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXX
Campinas, 20 de janeiro de 2000.
TERMO DE CONSENTIMENTO
Com o propósito de subsidiar a pesquisa realizada na área de audiologia
clínica, autorizo o levantamento dos prontuários audiológicos, bem como a
exposição de resultados, à Fga. Keila A. Baraldi Knobel, que está inscrita no curso
de especialização em Audiologia Clínica no CEFAC – CEDIAU.
Este material poderá ser utilizado em pesquisa científica, comprometendose em não fazer uso indevido do mesmo e, responsabilizando-se a não divulgar o
nome das partes interessadas, assim como o de qualquer participante no
processo.
Sem mais,
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX
i
Anexos
ANEXO II
Nome: ___________________________________________ Idade:__________
1. Antecedentes familiares
2. Antecedentes otológicos
( ) exposição à ruído por _____ meses / anos ( ) usa EPI
( ) otites ( ) vertigens/náuseas ( ) cirurgias otológicas
( ) AASI
outros:
3. Saúde geral
( ) estresse ( ) ansiedade ( ) depressão
doenças:
uso de medicamentos
( ) fumo ( ) cafeína
4. Audição (audio tonal)
250
500
1000
O.D.
O.E.
2000
3000
4000
6000
8000 Hz
dB
dB
5. Descrição do zumbido
local ______________ ( ) pulsátil ( ) contínuo ( ) flutuações de volume
surgimento: há quanto tempo? ______________ ( ) gradual ( ) repentino
____% de tempo com consciência do zumbido durante o último mês
Atividades impossibilitadas ou afetadas pelo zumbido:
Efeito do som sobre o zumbido:
( ) nenhum ( ) diminui ( ) aumenta por minutos / horas / dias / não sabe
6. Sensibilidade excessiva a sons? ( ) sim ( ) não ( ) desconforto físico
( ) medo de piorar zumbido / perda auditiva
Atividades impossibilitadas ou afetadas pela sensibilidade excessiva ao som
________________________________________________________________
_
( ) usa protetores auditivos
_____% do tempo ( ) no silêncio
7. Análise subjetiva do paciente
Grau de problema (de 0 à 5)
( ) audição ( ) zumbido ( ) intolerância a sons
Quanto ao zumbido (de 0 à 10)
( ) severidade ( ) incômodo ( ) efeitos na vida diária
8. Observações
ii
Download

perfil dos pacientes em terapia para habituação do zumbido