AGB – Seção Local Campinas
agbcampinas.com.br | fb.com/agbcps
junho de 2013
O que está em disputa é o direito à cidade
Temos observado, nas últimas semanas, o
crescimento de uma série de manifestações nas
grandes cidades brasileiras, motivadas pelos
aumentos das tarifas de ônibus, metrô e trem.
Campinas, que tem a tarifa de ônibus mais alta do
país, se mobiliza para a manifestação marcada
para esta quinta-feira (20), às 17h, no largo do
Rosário. De início, é importante esclarecer que há
uma
agenda
política
defendida
nessas
manifestações.
De imediato, a pauta é clara: a sociedade
não aceita os 30 centavos de aumento (que se
transformaram em 20 após a redução de
impostos pelo Governo Federal), tornando a
passagem ainda mais cara, e o transporte ainda
mais impeditivo financeiramente. Hoje, o
transporte coletivo é visto como um negócio — e,
como tal, fundamentado no lucro. Como ele não é
encarado como um direito essencial de todos os
cidadãos, poucos exercem, de fato, seu direito à
mobilidade. Esse é o grande incômodo, o
“estopim” dos levantes, em função dos sucessivos
aumentos que levaram a tarifa ao patamar atual.
Mas a questão é ainda maior: é o direito à cidade.
O direito à cidade é um direito coletivo de
todos os seus habitantes, que devem poder
circular e usar, de forma igualitária, a cidade e
suas possibilidades. Mas, em Campinas, não é este
o projeto de cidade em curso: ao contrário, o que
prevalece é uma cidade para poucos, para aqueles
que podem pagar; uma cidade-empresa, que
busca grandes projetos, megaeventos e grandes
intervenções para atrair investimentos, mas que
age com violência com os mais pobres ou,
comumente, que os segrega em bairros distantes
da cidade — longe, portanto, dos principais
equipamentos disponibilizados pelo poder
público. O que as atuais manifestações
demonstram são o descontentamento e o
esgotamento desse modelo de urbanização.
Nesse sentido, o que está em disputa em
Campinas é um outro projeto de mobilidade, que
engloba repensar o transporte público,
entendendo-o como direito. Para tanto, é
fundamental reduzir a tarifa, ampliando as linhas
e horários e invertendo a lógica de investimentos
no setor, de modo a privilegiar o transporte
coletivo.
Em um horizonte de mais longo prazo, o
Movimento Passe Livre — que iniciou a onda de
manifestações — defende também a tarifa zero,
entendendo a mobilidade como um direito de
todos (como educação e saúde), que deve ser
oferecido gratuitamente. É importante perceber
que esse debate — seja a redução da tarifa, seja a
tarifa zero — não é uma questão essencialmente
técnica, mas sobretudo política, já que tem em
sua base o processo de tomada de decisões em
relação à mobilidade urbana.
É vital, nesse sentido, que a sociedade
demonstre sua voz e sua vontade de participar do
planejamento e das decisões políticas da e para a
cidade, e de clamar por um outro projeto, que
atenda a todos os seus moradores. Por isso, a
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB - Seção
Campinas) apoia e incentiva a participação, de
maneira pacífica, da população de Campinas na
manifestação desta quinta-feira, em defesa do
direito à cidade e pela revisão do nosso atual
projeto de urbanização e de mobilidade urbana.
Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Campinas
Download

O que está em disputa é o direito à cidade