Automação de Biorrefinarias de Etanol de 2ª Geração
Tecnologia e Desafios na Produção de Biocombustíveis
RESUMO
O artigo presente conceitua o novo modelo produtivo com a incorporação da rota biotecnológica no
setor sucroenergético, e demonstrar como este processo demanda uma nova forma de medição e
aplicar novas tecnologias de controle, rompendo a barreira das rotas químicas que operam nas
usinas atuais, que certamente, através da inovação aplicada, traçará um novo cenário de produção
de etanol para atender a demanda nacional quanto para oferta ao mercado global dentro das normas
de sustentabilidade.
O aumento de custos de produção no setor sucroenergético, tendo como viés o aumento de demanda
do consumo de etanol, abrem novas fronteiras na produção deste bicombustível. Tanto na primeira
quanto na segunda geração. A segunda geração trata-se de inovação tecnológica do momento. Mais
especificamente a introdução da rota biotecnológica na produção deste combustível abre espaço para
novos ganhos de produtividade necessários para atender a demanda de energia no país, além de
posicionamento estratégico frente às questões globais, tais como sustentabilidade e a viabilidade e
produção em grande escala de combustíveis renováveis.
Os bioprocessos basicamente são alterações na estrutura físico-química partir da ação de seres vivos
como uma operação unitária do processo. Por exemplo, a fermentação alcoólica ou na alteração da
estrutura do bagaço e da palha da cana para poderem ser processados, transformando em fibras
celulósicas de açúcares solúveis, que depois serão fermentados pelas leveduras tradicionais no caso
das hexoses ou de leveduras especiais no caso das pentoses.
A introdução de leveduras especiais desde a primeira geração até as pentoses na segunda geração,
ou em outras tecnologias da química verde em desenvolvimento; requer a incorporação de técnicas
de sanidade e cuidados com o bem estar dessas leveduras, para que possam desempenhar sua
atividade fim sem direcionar seus esforços para sobrevivência e competição.
Portanto, para que este processo possa ser operado com viabilidade econômica em escala industrial,
muitas questões técnicas e desafios são envolvidos, onde a automação é elemento de grande
importância para que esses processos possam ser desenvolvidos com eficiência energética.
Questões como medição analítica, dos biorreatores onde ocorrem a quebra e as reações enzimáticas
das fibras, por exemplo, remetem a soluções que transcendem as soluções de medições físicoquímicas convencionais e se aproximam de técnicas desenvolvidas ou em desenvolvimento para a
saúde humana. Tais como sistemas de controle por som e imagem que não agridem as leveduras.
Para que haja o biocontrole - um novo termo a incorporar na engenharia da automação; é necessária
a aplicação de novas tecnologias, tais como, os softsensores para controle inferencial de malhas e
controle avançado de processos, sendo ferramentas de softwares analíticos, utilizando-se de
modelagem de sistemas especialistas.
Palavras Chave: Etanol, 2ª Geração, Bioprocesso, Biocontrole, Automação
INTRODUÇÃO
Muito temos falado sobre a evolução tecnológica do setor sucroenergético (usinas de açúcar, etanol e
energia elétrica, derivada da cana de açúcar), estamos vivendo um momento de grandes pressões no
setor, em função do aumento custo, principalmente CCT. Por outro lado, existe demanda excedente
de Etanol, melhoria da qualidade do açúcar e aproveitamento energético da palha na geração de
energia elétrica.
Ocorre que a produção destes produtos energéticos, derivados da cana de açúcar, é processada no
conhecido processo de combustíveis de 1ª geração, isto é, a matéria prima é cultivada, neste caso a
cana.
Fig. 01 – Combustíveis de 1a Geração
Uma das evoluções que vem ocorrendo, é a discussão da produção de biocombustíveis de 2ª
geração, que por conceito são oriundos de rejeitos ou detritos da biomassa, por exemplo, a palha e o
bagaço de cana.
Fig. 02 – Refinaria e Biorrefinaria
Para continuarmos a entender a respeito da produção no setor sucroenergético, vamos descrever a
diferença entre processos físicos, químicos e bioquímicos. Dizemos que a rota é física utilizamos
somente o processo de alteração do estado, por exemplo, a moagem e a destilação (retificação) é um
processo físico.
Os processos de rota química são alterações estruturais internas, por exemplo, a hidrólise é um tipo,
que é a quebra da molécula de hidrocarbonetos ou compostos inorgânicos pela água (BARCZA,
2012).
E os processos bioquímicos são rotas que utilizamos de alterações do elemento a partir da
incorporação ele elementos vivos para alterações na estrutura ou para o processamento em si do
próximo elemento (carga) a processar, a fermentação é um excelente exemplo para isso.
Outro ponto importante é entendermos a diferença entre refinarias e biorrefinarias.
As refinarias são plantas de processos industriais que processam basicamente hidrocarbonetos, isto
é, petróleo, este processo consiste em diversas fases, de rotas físicas e químicas, até a obtenção de
combustíveis e derivados, utilizando tradicionalmente processos fisioquímicos.
As biorrefinarias são plantas de processos industriais que utilizam biomassa, por exemplo, a cana de
açúcar que uma vez moída nas moendas, fornece através desta biomassa caldo e bagaço para
geração de energia. Também foram desenvolvidas sobre as rotas tecnológico físico-químico.
Como a idéia desta introdução é apresentar conceitos de processos, concluímos que uma usina
sucroenergética é uma planta de bioprocesso, isto é, uma biorrefinaria, com rotas físicas e
bioquímicas de combustíveis de 1ª geração, tal qual como conhecemos hoje.
Uma vez tendo todos estes conceitos básicos, vamos nos envolver então com o tema central, que é o
desafio da automação e controle industrial na evolução destas plantas industriais, entendendo que a
próxima fronteira nestes setores serão os bicombustíveis de 2ª geração, ou mais profundamente, da
evolução dos controles de processo das rotas físicoquímicas atuais para conceitos biotecnológicos
(BIOMINAS, 2004), mesmo na primeira geração.
Fig. 03 – Combustíveis de 2ª Geração
Não queremos neste artigo ser simplista com o tema, pois a própria temática nos recorre ao
conhecimento de biotecnologia e todo um arcabouço de conhecimento sobre o assunto, porém nossa
intenção é ser simples e direto, com foco na automação destas plantas industriais em seus principais
desafios.
O ponto principal no processo de combustíveis de 2ª geração se refere à incorporação dos processos
enzimáticos, isto é, transformar esta biomassa residual ou equivalente em material (carga), que tenha
condições de fermentação.
Um dos processos pesquisados, que estão sendo estudados para aplicação em escala, são os
biorreatores enzimáticos, estes processos de forma simplificada quebram as moléculas de celulose,
com isso pode-se fazer o processo fermentativo e seguir no processo de produção do etanol.
Desse ponto de vista, ao invés de controlar apenas entradas e saídas, como atualmente na
fermentação alcoólica de sacarose, é fundamental que se controle as condições em que estão
presentes para a eficiência dos seres vivos responsáveis pelos processos fermentativos, como
medidas biométricas desses, presença de invasores e aplique correções mais adequadas
prontamente ao processo,
Um dos pontos especialmente estudados no passado é métodos eficientes de esterilização do caldo,
particularmente micro-ondas (VALSECHI, 2005). Atualmente com o aumento do domínio da energia
nuclear, essa alternativa deverá ser mais bem estudada, pois possibilitaria a eliminação do
tratamento ácido ou antibióticos que atacam além dos invasores, também os microorganismos
responsáveis pela fermentação.
Acontece, diante desses ataques, necessita consumir energia (açúcares) para recuperação de
vitalidade e funcionalidade ou reprodução, o que implica em queda da eficiência global do processo
fermentativo.
Mas mais profundamente, a mudança do paradigma físico-químico atual para um paradigma
biotecnológico, como avaliar as condições do desenvolvimento dos microorganismos durante o
desenvolvimento dos processos biotecnológicos (como a fermentação),é um ponto de
desenvolvimento que pode resultar em ganhos de eficiência global significativos no processo, além
de permitir a aplicação de organismos geneticamente modificados (OGM), permitindo o melhor
desenvolvimento da segunda geração, assim como novas tecnologias verdes (bioplásticos,
bioquímicos, bioenergia, biofármacos etc., melhorando a sustentabilidade da atividade humana.
Algumas iniciativas nesse sentido estão em desenvolvimento em vários setores pelo mundo, como o
enorme desenvolvimento de tecnologias de imagem e som, que podem perfeitamente serem
aplicadas nessa função. Mas além de possibilidades de medir, é importante desenvolver sistemas de
interferência, principalmente preditivas, que evitem que esses organismos enfrentem sistemas de
stress que resultem em consumo energético excessivo e aumentem sua vida útil.
CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO
Todo o arcabouço da produção de etanol, independentemente da rota utilizada ou a geração
tecnológica, isto é, de primeira ou segunda geração, nos remete ao fato de que a cana desde seu
corte já está contaminada e, desde o transporte, moagem e bombeamento do caldo, vão aumentando
o número de contaminantes.
A questão toda é que para se tratar a contaminação, hoje se utiliza a rota química e isto faz com que
o processo utilize muita energia para que o nível de contaminação seja controlado, fazendo com que
na ponta, haja uma grande perda de eficiência produtiva (AL SUKKAR, 2013).
Caminhamos para outras tecnologias, como por exemplo, a rota bioquímica, a química verde,
diminuído a agressão no tratamento, elevando a eficiência do processo.
Além de toda a característica no tratamento do contaminante do caldo, temos um fator de processo
que é o tempo, nos processos convencionais o modelo de controle se baseia na coleta de amostras,
onde são levadas ao laboratório e após 24h, temos o nível de contaminantes para aí sim, fazermos
uma interferência de controle para correção, porém neste tempo temos um ponto cego no processo,
pois não temos condições de saber quantitativamente a correção necessária e perdemos eficiência
energética até que haja essa correção.
Entendendo a descrição técnica proposta como a produção de etanol, independente da geração,
como foi dito, a questão fermentativa ganha um espaço de destaque no biocontrole proposto, pois
para a engenharia de automação, o fator tempo de correção é um desafio a ser solucionado, pois há
um atraso em resposta, interferindo diretamente no processo produtivo.
Fig. 04 – Fluxo de Processo da Produção de Etanol
BIORREATORES
Para conhecermos o processo central dos combustíveis de 2ª geração, vamos falar dos biorreatores,
que são equipamentos que tem a função de catalisar reações, em nosso caso as enzimas por
hidrólise.
Há diversos tipos de reatores e processos que compõem este equipamento, em nosso caso foge de
nosso escopo descrever os mesmos, vamos falar sobre os principais efeitos que ocorrem nos
mesmos, de forma genérica, que servirá de base para conhecermos as necessidades da automação.
Fig. 04 – Tipos de Biorreatores
Os processos fermentativos para produção de enzimas neste biorreatores podem ser conduzidos
basicamente de duas formas:
•
Biorreatores de fermentação submersa – Líquidos
•
Biorreatores de fermentação semi-sólida – Sólidos
No caso de nosso processo, que é a utilização do bagaço e palha da cana, os biorreatores de
fermentação semi-sólida se aplicam.
BIOAUTOMAÇÃO
Para falarmos sobre os desafios da medição e controle industrial nestes tipos de processos, vamos
recordar alguns conceitos muito importantes da engenharia de automação.
As medições industriais mais simples são as que se referem a grandezas físicas do processo, que
agora se correlacionam com as chamadas rotas físicas de processos.
Fig. 05 – Medição Industrial Linear
Estas medições utilizam sensores chamados transdutores que através do contato direto no processo,
emitem um sinal elétrico, por exemplo, um sensor de temperatura em contato com um fluido, a
temperatura uma vez variando, varia-se o sinal elétrico para o medidor.
Quando dizemos transdutores é porque não estamos ainda falando em padrão de sinal de controle,
linearidade, repetibilidade, entre outras características com medidor, que somente é possível através
de uma eletrônica para qualificá-lo de transmissor de sinal, que ai sim teria todas as qualidades
mínimas de uma medição de grandeza, naturalmente sendo bem aplicado nas características de
cada processo.
Estamos explanando todos estes termos porque uma das grandes características de se fazer
medição em bioprocessos é que conceitos de medições físicas não são aplicados, ou pelos menos se
aplicados, são limitados em função de gradientes fora de respostas padrões nas medições
convencionais.
Fig. 06 – Medição Industrial Não Linear
Uma das principais características da bioautomação, utilizaremos esta convenção em nosso caso, é
que vamos ter um cenário de medições analíticas, porém fora de laboratório, isto é, em ambiente
produtivo industrial, por exemplo, medição de oxigênio e pH, além da necessidade de medir variáveis
que não são lineares.
As medições não lineares entram num escopo de controle fora do convencional, pois, via de regra, a
automação como conhecemos, com instrumentos e controladores, medem grandezas lineares, ou
pelo menos os equipamentos tratam elas como tal, ficando relativamente fácil elaborar malhas de
controle com algoritmos bem definidos.
A partir destes pontos vamos descrever os desafios da automação nas biorrefinarias de 2ª geração.
OS DESAFIOS
A medição da contaminação do processo, no nosso caso, passa a ter um papel de destaque, focando
na questão tempo de resposta, uma vez que necessitamos de 24h para obter uma curva de
contaminante para promover uma atuação no processo.
A instrumentação analítica ganha um papel de destaque, fundamentada num tripé, coleta, reação e
resposta, equipamentos que podem medir esta carga com alta eficiência de entrega, com objetivo de
diminuir o tempo para iniciar uma correção é a grande busca no quesito fermentativo.
Entendendo então que os bioprocessos são caracterizados por variáveis não lineares, podemos
relacionar as principais características que ocorrem nos biorreatores, onde nos remetem a buscar
soluções para estes casos.
As variações diversas de umidade e temperatura que ocorrem no processamento podem influenciar
negativamente a o metabolismo na reação dentro do biorreator.
Fig. 07 – Instrumentação Convencional
Como ocorre a respiração dos microorganismos, há calor no processo biorreativo, sendo assim,
existe uma dificuldade de remoção do calor gerado nesta fase dos processos, interferindo nas
variáveis de medição para controle;
Contudo, as medições de temperatura, ph, umidade, oxigênio dissolvido e concentrações do
substrato, são a fronteira para que haja condições de controle deste bioprocesso.
Para melhorarmos o entendimento sobre estas necessidades de medição nestes processos, vamos
conceituar os tipos de medição no campo da instrumentação e controle industrial.
Como conceituado anteriormente as medições físicas de processos são relativamente simples de
serem feitas, uma vez que há padrões definidos até mesmo para linearização de sinais, podemos
colocar estas medições no campo na instrumentação industrial.
Porém na instrumentação industrial temos um campo de estudos e aplicações chamadas de
instrumentação analítica, onde fazemos medições baseadas em análises, tais como, oxigênio, cor,
pH, ou seja, variáveis de características fisioquímicas, porém que necessitam dos chamados
comparativos amostrais.
A instrumentação analítica, também conhecida de laboratório, é conhecida assim, pois normalmente
são medições que ocorrem por amostragem, recolhendo parte de um material e analisando em
equipamentos de análise, estas medições são chamadas de off-line e tem como característica um
tempo grande para o resultado da medida, conhecida com timedelay.
Fig. 08 – Instrumentação Analítica
A instrumentação analítica também pode ser enquadrada como in-line, isto é, com medição em linha
no processo, porém normalmente são medições que exigem instrumentos sofisticados e manutenção
cara do medidor, isto quando não há limites de medidas, pois estes instrumentos normalmente são
calibrados para processos específicos.
Em função de todos estes elementos, da instrumentação industrial a analítica, não queremos aqui
esgotar o assunto, muito menos em definir os melhores meios de aplicação, como este artigo tem o
objetivo de focar o assunto, entendemos que para que estes desafios possam ser mitigados, temos
que caminhar para um complemento além da instrumentação analítica, uma vez que esta tem por
objetivo fazer a medição, porém temos a questão do controle, que este sim, por se tratar de
biovariáveis não pode ser modelado por PID’s (Proporcional, Integral e Derivativo) convencionais.
Para preencher esta lacuna, vamos tratar de dois assuntos que cabem como complementos desta
nossa bioautomação, os softsensores e os modelos APC, controle avançado de processos.
OS SOFTSENSORES
Os softsensores também conhecidos como sensores virtuais, são ferramentas avançadas da
engenharia da automação.
A idéia é que estes softsensores, que são na verdade modelos matemáticos se comportem como
inteligências de sistema, uma vez que não conseguimos por modelos convencionais fazer leituras e
atuações em processos complexos, como este de um biorreator.
Outro ponto de aplicação dos sensores virtuais é quanto não se consegue implantar fisicamente um
sensor em determinado ponto de um processo industrial, porém conhece-se a “curva” deste
processo, que foi modelada em um laboratório.
Fig. 09 – SoftSensor
Uma vez tendo esta curva, isto é, como este processo se comporta numa linha do tempo, mesmo que
tenha n variáveis, pode-se “programar” este sensor para funcionar como estivesse conectado
fisicamente ao processo, sendo que o mesmo pode emitir sinais para um controle de válvula, motor,
ou qualquer outro elemento para uma atuação fora de um padrão físico ou químico, neste caso nosso
um bioprocesso, com particularidades específicas.
Estes sensores uma vez definidos que irão controlar um processo, chamamos este modelo de
controle inferencial, isto é, você tem um ponto de medição de referência, este alimenta o softsensor
que modela um controle matematicamente, e faz uma saída, isso chamou de controle inferencial, é
um estado dinâmico do processo conhecido.
Os modelos matemáticos podem ser diversos, mínimos quadrados, regressão, correlação, arvore de
decisões entre outros.
Para se construir um sensor virtual, que normalmente será programado em um controlador
programável, deve-se seguir alguns passos básicos:
•
Coletar dados do processo e seu comportamento dinâmico
•
Pré-processamento eliminando ruídos do processo
•
Construção do modelo e escolha das variáveis de inferência
•
Validação do modelo (comparar ao processo conhecido)
•
Instalação na planta e monitoração on-line
Não temos a intenção aqui de explicar todo o funcionamento de um algoritmo destes, porém o
conceito é muito importante para que possamos concluir a solução deste desafio.
APC CONTROLE AVANÇADO DE PROCESSO
Os APC (Advanced Process Control) ou Controle Avançado de Processos, são ferramentas de
automação que complementam situações onde precisamos obter controle complexos e/ou
otimizados.
O modelo mais utilizado para controle de processo na indústria hoje é o algoritmo PID (Proporcional
Integral e Derivativo), que tem como principal objetivo manter uma variável de controle dentro de um
SP (set point) pré ajustado, com correções deste erro dentro de um tempo aceitável para o processo.
Fig. 10 – Conceito de APC
Ocorre que como já descrevemos anteriormente, os bioprocessos tem características de elevadas
constantes de tempo e não linearidade em respostas, com isso a aplicação simplesmente de um
modelo PID, não consegue fazer uma correção numa curva especial de controle, como de um
biorreator por exemplo.
O APC não substitui o PID, isso é muito importante frisar, pois há confusões a este respeito, assim
como existem modelos que atribuem o APC como com complemente avançado de controle, como,
por exemplo, as lógicas nebulosas, ou simplesmente Fuzzy.
Com isso concluímos que, o APC é um complemento do PID onde o mesmo não é substituído pelo
PID, sua aplicação se dá em processos complexos, como no caso de biocontrole, e também como
ferramenta de otimização de processo, assunto este que foge do escopo deste artigo.
SOLUÇÃO PROPOSTA
Pontuando que os principais desafios de nosso processo, tempo de resposta na medição de
contaminantes, não linearidade de medições analíticas nas reações enzimáticas e controle não linear
de processo, a tecnologia que chamaremos de bioautomação e biocontrole passa a ser a resposta a
estes desafios na entrega de uma solução exeqüível.
Na questão da medição do contaminante, destacamos a aplicação de um equipamento de medição
analítica do caldo, onde através da coleta de amostras em pontos de carga do processo, podemos
identificar de forma antecipada o nível de contaminação da carga.
O equipamento proposto é um sistema automatizado de análise de ácido lático, que em nosso caso
vamos descrevê-lo como SAA, o retorno do processamento é a quantidade de ácido lático da
amostra, que por correlação num sistema computacional em modelagem de processo, temos uma
condição de fermentação, que por prevenção poderemos intervir na correção da contaminação, tudo
isso em 30 minutos, ante 24h no processo convencional (AL SUKKAR, 2013).
Fig. 11 – Princípio de Funcionamento do SAA
Neste processo de biocontrole, através da resposta da amostra, o equipamento pode enviar um sinal
para o PLC (Controlador Lógico Programável) ou DCS (Sistema Digital de Controle Distribuído), que
uma vez programado, pode tomar automaticamente ações de controle, fazendo com que a correção
por prevenção tenha ganhos de eficiência energética, como podemos ver abaixo um modelo de
aplicação.
Fig. 12 – Comparativo de controle convencional e com a aplicação do SAA
Desta forma destacamos que no modo convencional, em função do atraso em resposta para iniciar
uma correção, teremos um alto consumo de insumos, porém com a aplicação do SAA podemos
interferir no processo, que em nosso caso apresentado temos cerca de 50% de ganho.
No que tange ao controle do biorreator, uma vez que definimos nossos conceitos sobre bioprocessos,
especificamente para produção de biocombustíveis de 2ª geração, vimos que existem desafios que
devem ser solucionados na área de controle do processo.
De forma a simplificar o entendimento sobre nosso assunto, vemos que as variáveis da biorreação
devem ser tratadas de forma especial, uma vez que são analíticas, dependente de tempo que geram
atrasos em respostas e não são lineares.
Vamos montar um pequeno processo baseado em nosso reator proposto, a idéia não é dar uma
solução única, mas mitigar um conceito de solução apresentada na realidade de um sistema de
biorreação.
Vejamos abaixo um fluxograma com os instrumentos relacionados numa legenda que indica a função
básica dos mesmos.
O modelo matemático e de controle proposto é conceitual está demonstrado e descrito em seqüência.
Fig. 13 – Solução Proposta
LEGENDA DE INSTRUMENTOS
FT1
Transmissor de vazão gás entrada do biorreator
FT2
Transmissor de vazão gás saída do biorreator
TT1
Transmissor de temperatura gás entrada do biorreator
TT2
Transmissor de temperatura gás saída do biorreator
AT1
Transmissor de umidade gás entrada do biorreator
AT2
Transmissor de umidade gás saída do biorreator
AT3
Transmissor de O2 saída do biorreator
AT4
Transmissor de CO2 saída do biorreator
AT5
Transmissor de pH tanque fermentação
TT3
Transmissor de temperatura tanque fermentação
AT6
Transmissor de oC alcoólico tanque fermentação
LT1
Transmissor de nível tanque biorreator
LT2
Transmissor de nível tanque fermentador
XV1
Válvula de controle entrada de carga
XV2
Válvula de controle saída biorreator
XV3
Válvula de controle saída fermentador
A solução proposta acima nos mostra uma instrumentação industrial associada a uma instrumentação
analítica, de pH, e O2 e CO2 nos gases.
Estas medidas associadas a curvas conhecidas podem ser correlacionadas a outras variáveis que
ocorrem no processo de hidrólise dentro do biorreator.
Não faz parte de nosso escopo mostrar como se monta curvas de reação, porém é necessário ter
estas para montar os modelos matemáticos, conforme explicado anteriormente para compor os
softsensores.
Segue a solução em forma de um blocograma de controle, o importante é entender como associar
medição física do processo com elementos para o biocontrole, neste caso os analíticos e usando os
modelos conhecidos para ajustar a não linearidade nos softsensores.
Com isso formulador pode-se aplicar APC para liberação entre tanques e cargas, dando seqüência a
um processo.
A composição do processo de controle se dá por funções avançados no controlador programável,
hoje dispomos de uma gama grande de funções até mesmo pré-definidas.
A qualidade do controle está intimamente ligado a precisão da medida e processo é um espelho da
modelagem que se faz no softsensor, por isso é imprescindível sua validação no laboratório para
teste do modelo.
Fig. 14 – Modelagem no Controlador
CONCLUSÃO
É fato que as usinas sucroenergéticas como conhecemos hoje passarão por uma evolução e
alterações em suas rotas.
Não é entendível simplesmente aumentar somente áreas de plantios para continuarmos com rotas de
1ª geração, pois temos conhecimento apesar de necessitar muita pesquisa aplicada na área que
estamos descrevendo.
Tão ou mais importante frisar é que a mudança de rota é muito importante, isto é, temos que repensar o processo inclusive de primeira geração, antes mesmo que imaginar a segunda geração
como solução produtiva, uma vez que ainda temos grandes perdas no processo fermentativo, onde a
aplicação de novos conceitos, como a bioautomação, poderão certamente contribuir para um novo
desenho produtivo de nossas bioplantas.
Esperamos que este artigo esclareça o conceito de colocar em prática a própria evolução da
automação, pois somente com ela poderemos dar forma industrial as pesquisas que estão em
desenvolvimento e que certamente serão aplicadas em nossas usinas.
Não queremos esgotar o assunto, mesmo porque está escrito de forma simples e direta para uma
formação até mesmo de opinião e que abra novos questionamentos e sugestões de como
poderíamos aplicar novas técnicas de controle.
Seguramente termos como bioprocesso e bioautomação, farão cada vez mais parte de nosso dia a
dia nos projetos de engenharia, com o objetivo de sermos uma civilização inquieta pela busca e o
aperfeiçoamento de novas formas de melhorar o mundo em que vivemos, em especial pela busca da
energia.
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AUTORES
Wander Ribeiro – Engenheiro de Materiais, Mestrado em Inovação, Especialista em
Biocombustíveis
Márcio Venturelli – Ciência da Computação, Especialista de Automação e Controle
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Automação de Biorrefinarias de Etanol de 2ª Geração