chuva diretamente sobre a laje e depois que
pára de chover, essa água sobe sem precisar de
energia, de bombas, usando apenas as leis da
gravidade e da capilaridade. Esse mecanismo
é um jeito de melhorar a irrigação sem precisar de bomba nem de energia para acumular
a água sobre a laje. A impermeabilização
dura mais e tem uma série de vantagens na
proteção da canalização.
traga árvores frutíferas que estimulem o
paladar. Elas também são ótimas para que
as crianças possam pegar frutas do pé. As
árvores acabam trazendo os pássaros, que
por sua vez, cantam aguçando a audição.
O murmúrio de fontes, cascatas e espelhos
d’água aguçam a visão e ajudam a abafar o
barulho do trânsito. As texturas das plantas
e os percursos de sombra e sol estimulam
o tato, ou seja, aguçamos os cinco sentidos
nos jardins. E isso não encarece em nada
e só traz benefícios para as pessoas porque
você consegue melhorar suas vidas. Todos os
nossos projetos têm esse apelo aos sentidos.
Como você citou há pouco, a indústria
de produtos que atendem ao crescente
mercado imobiliário vem evoluindo
com bastante rapidez nos últimos
anos. Quais produtos você destaca pela
inovação e eficácia em seus projetos
paisagísticos?
O que te influencia mais na hora de
conceber o partido de um projeto paisagístico?
Acho que é imaginar o público alvo daquele
lugar. Cada incorporadora, empreendedora
tem uma filosofia. E nós, arquitetos paisagistas, não podemos ir de contra a filosofia das
empresas. Agora, tem determinadas coisas
que todos querem num projeto e se encantar
é a principal delas. Não posso simplesmente
fazer apenas o que o cliente pediu. Preciso
encantar esse cliente dando mais do que ele
esperava. Precisamos entender o que o cliente
quer e o que o público alvo vai precisar. Todo
cliente quer vender, quer que seu empreendimento seja um sucesso. Procuro entender
esse público alvo cada vez mais, pois esse
muda muito. Os objetivos das pessoas e o
jeito de usar os espaços mudam muito. Tanto
é que, até três anos atrás, não fazíamos áreas
externas pensando no trabalho e hoje temos
esse olhar de que as pessoas estão procurando mudar o seu ambiente de trabalho. São
elementos novos que surgem de tempos em
tempos e que precisamos estar antenados a
essas necessidades.
O paisagismo saiu das cercas de casas,
condomínios e edifícios para ganhar as
praças e ruas da cidade com o desafio de
fortalecer as comunidades sustentáveis.
Como seus projetos exercem esse papel?
Sustentabilidade é uma palavra que está na
moda, mas precisamos ter muito cuidado.
Uma coisa é a certificação, que pode ser feita
através do LEAD (selo fornecido pelo Green
Building Council), mais aceito por edifícios
corporativos e empreendimentos grandes
em geral, ou através do AQUA, certificação
mais adequada a edifícios de salas comerciais
pequenas e residenciais. Outra coisa é ima-
ginarmos a sustentabilidade para as cidades
de forma mais ampla a exemplo do projeto
de uma cidade chamada Pedra Branca que
fizemos e que talvez seja a primeira cidade
brasileira a ser certificada. Outra forma de
aplicarmos a sustentabilidade aos nossos
projetos é através da criação de produtos.
Nós fomos responsáveis pela criação do
primeiro piso drenante no Brasil. Há 4
anos, desenvolvemos junto com a ABCP
(Associação Brasileira de Cimento Portland)
esse piso para ser utilizado numa calçada da
Casa Cor São Paulo. Lembro que naquela
época as primeiras versões que fizemos
quebravam quando os carros passavam por
cima. Hoje eles agüentam até caminhões.
Desenvolvemos pisos drenantes com resina,
sem cimento, que são muito mais leves. Fico
satisfeito de ver como a indústria pegou a
idéia e sua aplicabilidade e está transformando isso. Quando fizemos a calçada da Casa
Cor, nossa intenção foi mostrar que a cidade
de São Paulo poderia evitar tantas enchentes
que são verdadeiras tragédias anunciadas nos
períodos de chuvas que acontecem todos
os anos. Se você impedir que essa gota de
água corra e se infiltre no solo, você estará
minimizando a quantidade de água que vai
correr para baixo, evitando assim que o local
inunde. Outro produto que lançamos em
Boston (EUA) foi o Tecgarden, que é usado
em jardins sobre lajes. Ele reserva a água da
Existem dois sistemas utilizados para reter
a água de chuva. Um é chamado de “piscinão”. Para evitar as enchentes, a prefeitura
faz um buraco para que a água da chuva se
acumule. O piscinão é uma solução inteligente, mas complicada porque a água que
cai vem com muito lixo, matéria orgânica e
tudo isso acaba descendo para os piscinões.
No dia seguinte, quando o rio baixa o volume, você bombeia essa água acumulada
e depois que sai toda aquela água fica o
lixo no fundo. Então, é preciso retirar esse
material. Mesmo com a retirada do lixo fica
o lodo que é difícil de retirar e isso começa
a apodrecer, a cheirar mal e a atrair insetos,
ratos, etc. A população detesta morar perto
de piscinões. O piso drenante é uma solução
muito mais simples que veio para minimizar
os piscinões. Já as “piscininhas” consistem
na mesma sistemática dos piscinões, só que
em menor escala, pois ficam dentro dos
prédios e é de responsabilidade do construtor. Atualmente, todos os projetos têm
de cumprir essa exigência de ter uma piscininha. O Tecgarden veio para substituí-las.
Aqui em São Paulo, 20% do terreno de um
prédio têm que ser de área permeável, com
gramado, pedriscos soltos, etc. A prefeitura
está aceitando o piso drenante dentro dessa
porcentagem porque já entende que isso é
importante. Não resolve o problema das
enchentes, mas ajuda a minimizá-las.
Certa vez, você citou um projeto que
estava realizando numa comunidade
com altos índices de violência. E, a partir
de uma pesquisa, você descobriu que a
construção de quadras de esporte seria
uma solução para reduzir a criminalidade. É o paisagismo interagindo com a
psicologia humana numa fronteira que
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