Muito mais que um lindo jardim Por Benedito Abbud – arquiteto paisagista Estamos vivendo uma revolução no mercado imobiliário brasileiro, diversas empresas do setor fizeram suas Ofertas Públicas de Ações (IPO) e estão capitalizadas com um caixa bem reforçado. Paralelo a isso, medidas governamentais oferecem segurança jurídica e incentivam o crédito bancário para o crescente financiamento. Em um cenário cada vez mais exigente e disputado, profissionais que atuam na concepção de novos empreendimentos imobiliários estão a cada dia reinventando seus processos de trabalho. Há uma crescente profissionalização e valorização do setor. Pesquisa, ousadia e, principalmente, criatividade são fundamentais. Não há mais espaço para repetir fórmulas que deram certo e muito menos para amadorismo. Os lançamentos atuais são grandes, alguns verdadeiros bairros. Quanto maior o empreendimento, maior o risco e, consequentemente maior a necessidade de sucesso e responsabilidade dos envolvidos. Um único fracasso pode comprometer o todo, e até (em casos extremos) levar uma empresa à falência. Diante desse panorama, a arquitetura paisagística ganhou novos horizontes. A começar pelas reuniões, que envolvem de 20 a 30 profissionais, multidisciplinares, para discutir um novo produto desde sua concepção. Arquitetos, decoradores, arquitetos paisagistas, construtores, empresas de vendas, marketing e publicidade, sugerem idéias, temas e conceitos a serem trabalhados por todos. Nesses encontros não uso mais desenhos em papéis, mas sim projeções em data show para facilitar a compreensão do trabalho por todos. A simpatia, a empatia, a assertividade, a experiência, a síntese dos argumentos, a capacidade de adaptação e a prática de falar em público, são alguns elementos que devem ser praticados com firmeza e respeito entre os participantes. Nessas reuniões de “brainstorm”, todos os profissionais contribuem com impressões e soluções para a concepção do produto final. A partir daí nasce um paisagismo diferenciado, moldado em função do público alvo e, ao mesmo tempo, harmonizado com todas as disciplinas envolvidas no projeto. Essa nova forma de produção nos incentivou a criar metodologias e ferramentas de trabalho para a nossa equipe interna, entre elas gostaria de destacar: o hábito de explicar o projeto percorrendo seus espaços, comentando cada descoberta, cada sensação provocada por esse caminhar; e de treinar apresentações multimídia com cronômetro. Por fim, é importante lembrar que hoje as questões ambientais são levadas em consideração desde a gênese do projeto. O aquecimento global alerta para a questão da sustentabilidade e desmistifica as comunidades auto-sustentáveis. Tenho desenvolvido materiais tais como: piso drenante com fibra de coco para minimizar enchentes, piso antiimpacto feito com pneu triturado para a prática de esportes, e um sistema composto por placas de plástico reciclado para irrigação natural do jardim por capilaridade. Técnicas que, além de desempenharem funções específicas, contribuem ecologicamente para a sustentabilidade do paisagismo nos novos empreendimentos.