EFEITO DO ÓXIDO NÍTRICO NA VIABILIDADE, PROLIFERAÇÃO E ESTEROIDOGÊNESE DAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE BOVINOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO MÁRCIA REZENDE FAES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ SETEMBRO – 2005 EFEITO DO ÓXIDO NÍTRICO NA VIABILIDADE, PROLIFERAÇÃO E ESTEROIDOGÊNESE DAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE BOVINOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO MÁRCIA REZENDE FAES “Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal.” Oritentadora: Profª. Drª Maria Clara Caldas Bussiere CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ SETEMBRO – 2005 EFEITO DO ÓXIDO NÍTRICO NA VIABILIDADE, PROLIFERAÇÃO E ESTEROIDOGÊNESE DAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE BOVINOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO MÁRCIA REZENDE FAES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Aprovada em 2 de setembro de 2005 Comissão Examinadora: Profª. Cláudia Lima Verde Leal (Doutora, Reprodução Animal) – FZEA - USP Prof. Reginaldo da Silva Fontes (Doutor, Reprodução Animal) – UENF Prof. Francisco Aloísio Fonseca (Doutor, Fisiologia Animal) – UENF Profª. Maria Clara Caldas Bussiere (Doutora, Fisiologia Animal) – UENF (Orientador) “Não procures o que excede a tua capacidade, nem procures penetrar o que está acima de ti. Aplicate àquilo que te for ordenado, e não te ocupes em coisas impenetráveis. Não te obstines em busca daquilo que te ultrapassa, pois já te foi mostrado mais do que o espírito humano pode compreender. Muitas são as opiniões dos homens, e as más imaginações conduzem ao engano. Sem pupila falta a luz e sem conhecimento, a sabedoria” Eclesiástico 3:21-25 Aos meus grandes amigos e queridos pai (in memoriam) e mãe, por sempre me apoiarem e acreditarem em mim. Aos meus queridos esposo Gustavo e filhos, Mariana e Pedro, pelo amor e compreensão. DEDICO AGRADECIMENTOS A Deus por estar sempre comigo À minha orientadora, pela orientação, pelo constante incentivo, pelas palavras amigas, pelo carinho, por tudo...Meu crescimento profissional e minhas conquistas são seus também... Ao professor Reginaldo da Silva Fontes, por toda a contribuição... Ao professor Ângelo Burla Dias, por estar sempre disposto a nos escutar e ajudar... Aos professores Francisco Aloísio Fonseca e Cláudia Verde Leal, pelas sugestões para o aperfeiçoamento desta tese À professora Telma Pereira, pela grande contribuição ao deixar seu laboratório à disposição (Citogenética Vegetal) Ao professor Alexandre Viana, pela ajuda na análise estatística Ao professor Eulógio e Antônio (LSA) pelo auxílio na obtenção de resultados À professora Rosemery Bastos pela grande amizade e sugestões... À professora Célia Quirino da pós-graduação, pela compreensão e seu esforço em melhorar cada vez mais o curso de pós-graduação À professora Isabel Cândia Nunes e ao professor Frederico Straggiotti, pela compreensão À amiga e técnica de nível superior Carla Sobrinho Paes de Carvalho, obrigada por tudo que me ensinou... À técnica e amiga Bruna Dias (Radioimunoensaio), pelas análises hormonais Aos técnicos Wânia e Tiago e todos os bolsistas do laboratório e funcionários da imunogenética (LMGA) Às alunas de pós-graduação Fabiane Costa (Laboratório Citogenética Vegetal, CCTA) e Rita Escorcard (Laboratório de Biologia do Reconhecer, CBB), pela grade ajuda técnica Às amigas Kellen Sararoli, Sílvia Matta e Lio Moreira, pela ajuda técnica, pelo carinho e conforto que vocês sempre me deram... À querida Mariane, pela boa vontade, carinho, amizade... Aos amigos pós-graduandos Elga, Carol, Janaína, Guilherme e Victor, pela amizade e carinho. Aos profissionais da pós-graduação, em especial Etiene e Giovana, sempre com boa vontade... Às funcionárias da biblioteca do CCTA pelo auxílio e boa vontade À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo apoio financeiro. BIOGRAFIA Márcia Rezende Faes nasceu em 21 de outubro de 1970, na cidade de Rio do Janeiro. Concluiu o segundo grau no colégio José Bonifácio (Rede MV1). Ingressou no curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Foi monitora durante o período 03/1994-08/1995 da disciplina de Fisiopatologia da Reprodução e Inseminação Artificial, diplomada em outubro de 1995. Trabalhou como veterinária autônoma, dando assistência a criadores de gado de leite em Duas Barras-RJ. Em 03/1998, ingressou no curso de pósgraduação em Produção Animal, mestrado em Reprodução Animal, na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, e submeteu-se à defesa de tese para conclusão do curso 09/2000. Em seguida, ingressou no curso de Doutorado da mesma instituição, submetendo-se, em 02/09/2005, aos exames finais de defesa de tese. Atualmente, trabalha como Médica Veterinária na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro na área de Clínica Reprodutiva de Pequenos Animais. CONTEÚDO LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................ix RESUMO .................................................................................................................xi ABSTRACT ............................................................................................................xiii 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1 2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................4 2.1. Foliculogênese...................................................................................................4 2.2. Células da granulosa.........................................................................................5 2.2.1. Controle hormonal do ciclo celular das células da granulosa.................7 2.3. Esteroidogênese folicular...................................................................................8 2.3.1. Papel do FSH e LH na esteroidogênese das células da granulosa.....12 2.4. Atresia folicular ovariana..................................................................................13 2.4.1.Regulação hormonal da apoptose das células da granulosa................14 2.4.2. Mecanismo da apoptose nas células da granulosa..............................15 2.5. Òxido nítrico (NO)............................................................................................17 2.5.1. Mediador do efeito citotóxico ou citoprotetor........................................19 2.5.2. Na função ovariana...............................................................................21 2.5.3. Doadores de óxido nítrico.....................................................................22 2.5.4. Sistema óxido nítrico/guanosina monofosfato cíclica (NO/GMPc).......22 2.5.5. Inibidor da guanilato ciclase..................................................................23 2.6. Cultivo in vitro de células da granulosa...........................................................23 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................26 4. TRABALHOS......................................................................................................43 4.1. EFEITO DO FSH NA SÍNTESE DE HORMÔNIOS ESTERÓIDES E ÓXIDO NÍTRICO NA CULTURA DE CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE BOVINOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO................44 4.2. EFEITO DO ÓXIDO NÍTRICO NA VIABILIDADE, PROLIFERAÇÃO E ESTEROIDOGÊNESE DURANTE O CULTIVO DAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE FOLÍCULOS PEQUENOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO............71 4.3. ÓXIDO NÍTRICO MODULA A SÍNTESE DE 17β- ESTRADIOL VIA GMPC, MAS NÃO A SÍNTESE DE PROGESTERONA PELAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO ......................................................................................................99 5. CONCLUSÕES GERAIS..................................................................................128 LISTA DE ABREVIATURAS AMPc – adenosina monofosfato cíclica BSA – albumina sérica bovina cdks – cinases dependentes de ciclinas E2 – 17 β-Estradiol FSH – hormônio folículo estimulante CG (s) – célula (s) da granulosa (s) GMPc – guanosina 3’ 5’ - monofosfato cíclica LH – hormônio luteinizante NO – óxido nítrico NO2- – nitrito NO3- – nitrato NOS – óxido nítrico sintase cNOS - óxido nítrico sintase constitutiva nNOS - óxido nítrico sintase neuronal eNOS – óxido nítrico sintase endotelial iNOS – óxido nítrico sintase induzível O2- – superóxido ONOO- – peroxinitrito PDE – fosfodiesterase SFB – soro fetal bovino ix SNAP – S-nitroso-N-acetilpenicilamina SNP – nitroprussiato de sódio STAR -proteína da regulação aguda da esteroidogênese TNFα – fator necrose tumoral -G0 - subdiploide G0/G1 - fase diplóide S - fase de síntese G2/M- fase tetraplóide e mitose DNAse - endonuclease x RESUMO FAES, Márcia Rezende, D, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; Setembro de 2005; Efeito óxido nítrico na viabilidade, proliferação, esteroidogênese das células da granulosa antrais em meio de cultura quimicamente definido; Professor(a) orientador (a): Maria Clara Caldas Bussiere. Professor conselheiro: Cláudia Lima Verde Leal. O presente experimento objetivou padronizar um sistema de cultivo quimicamente definido contendo álcool polivinílico para verificar o efeito óxido nítrico (NO) e a via utilizada para exercer seus efeitos na proliferação, viabilidade e esteroidogênese das CGs antrais de folículos de 3 -5 mm de diâmetro. O experimento I objetivou padronizar um modelo de cultivo que mantivesse a síntese de esteróides ao longo do tempo. CGs foram cultivadas com ou sem FSH (1 ng/ml) por 24, 48, 72, 96 e 120 h. Foram avaliadas a viabilidade e a proliferação celular pelo método MTT e citometria de fluxo, respectivamente, concentração de progesterona (P4) e 17βestradiol (E2) por quimioluminescência e nitrato/ nitrito (NO3-/NO2-) pelo método de Griess. O FSH aumentou a proliferação celular com 48 h e diminuiu com 72 h (P<0,05), além disso, diminuiu (P<0,05) a P4 (P<0,05) às 72 e 96 h, aumentou (P<0,05) o E2 até 24 h e não variou NO3- / NO2- (P>0,05). Os experimentos II e III utilizaram a mesma metodologia do experimento I. No experimento II, o nitroprussíato de sódio (SNP), doador de NO, foi adicionado nas concentrações 0 (controle), 10-9, 10-7 e 10-5 M à cultura de CGs. Todos os tratamentos com SNP xi aumentaram (P<0,05) a viabilidade e a proliferação celular no final de 120 h e inibiram a P4 (P<0,05), enquanto o E2 foi estimulado até as 24 h (P<0,05) e inibido (P<0,05) após 48h. O E2 foi correlacionado negativamente com a proliferação celular (P<0,001), enquanto NO3- / NO2- foi correlacionada positivamente com a proliferação (P<0,0001) e viabilidade celular (P<0,01). NO experimento III, as CGs foram cultivadas por 24 h com 0, 10-5, 10-3 e 10-1M de SNP com ou sem o inibidor da guanilato ciclase [1H]-[1,2,3] oxadiaziolo [4,3a] quinoxaline-1-one (ODQ). CGs cultivadas com 0, 10-5 M de SNP com ou sem ODQ formaram grumos celulares e não apresentaram variação (P>0,05) na viabilidade celular, enquanto que 10-3 e 10-1 M de SNP com ou sem ODQ levaram a desorganização e ausência de grumos celulares, respectivamente e diminuição da viabilidade celular e de esteróides (P<0,05), além disso, 100% das CGs cultivadas com 10-1 M de SNP apresentaram níveis subdiplóides de DNA. 10-5 M de SNP inibiu (P<0,05) a P4, por mecanismo independente do GMPc e aumentou (P<0,05) o E2 via GMPc. Os resultados sugerem que: 1) o sistema de cultivo das CGs com PVA pode ser utilizado para avaliar os efeitos do NO nas CGs, entretanto, a adição de FSH não deve ser utilizada, tendo em vista que a sua adição de forma crônica induz a diminuição de E2, o que demonstra seu papel na diferenciação das CGs; 2) O NO pode estar envolvido na progressão das CGs antrais no ciclo celular, e desta forma, regular a esteroidogênese das CGs; e 3) a via GMPc é um dos mecanismos utilizados pelo NO em concentrações baixas para regular positivamente a síntese de E2, mas não a de P4, enquanto concentrações elevadas de NO inibem os esteróides por via independente de GMPc, além de apresentarem efeito citotóxico. Palavras-chave: bovino, óxido nítrico, células da granulosa, GMPc, cultivo xii ABSTRACT FAES, Márcia Rezende, D, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; Setembro de 2005; Nitric oxide effect on antral granulosa cells viability, proliferation and steroidogenesis in chemically defined culture medium; Professor advisor Maria Clara Caldas Bussiere. Commitee members: Cláudia Lima Verde Leal The present experiment aimed to standardize a chemically defined culture system containing polyvinyl alcohol to verify the effect of nitric oxide (NO) and the pathway to exert its effects on antral granulosa cells (GCs) proliferation, viability and steriodogenesis of follicles 3-5 mm. Experiment I aimed to develop a culture model to maintain steroid synthesis throughout the culture period. GCs were cultured with or without FSH (1 ng/ml) for 24, 48, 72, 96 and 120 h. The cell viability and proliferation were evaluated by MTT method and flow cytometry, respectively, progesterone (P4) and oestradiol 17β (E2) concentration by chemiluminescence and nitrite/nitrate (NO3-/NO2-) by Greiss method. FSH increased cell proliferation at 48 h and decreased at 72 h (p<0.05), moreover, decreased (p<0.05) P4 at 72 and 96 h, increased (p<0.05) E2 at 24 h and did not affect NO3- / NO2- (p>0.05). Experiment II and III used the same methodology of experiment I. In experiment II, sodium nitroprusside (SNP), NO donor, was added at 0 (control), 10-9, 10-7 and 105 M concentrations to CGs culture. All the treatments with SNP increased (p<0.05) xiii cell viability and proliferation at 120 h and inhibited P4 (p<0.05), while E2 was stimulated at 24 h (p<0,05) and inhibited (p<0.05) after 48h. E2 was negatively correlated with cell proliferation (P<0.001), while NO3- / NO2- was positively correlated with cell proliferation (p<0.0001) and viability (p<0.01). In Experiment III, GCs were cultured for 24h with 0, 10-5, 10-3 and 10-1M SNP with or without the guanylate cyclase inhibitor [1H] - [1,2,3] oxadiaziolo [4,3a] quinoxaline-1-one (ODQ). GCs cultured with 0, 10-5 M SNP with or without ODQ formed cell groups and showed no variation (p>0.05) in cell viability, whereas 10-3 and 10-1 M SNP with or without ODQ lead to disorganization or non formation of cell groups, respectively, and decreased cell viability and steroids (p<0.05). Moreover, 100% of the CGs cultured with 10-1 M SNP presented subdiploid DNA levels. 10-5 M SNP inhibited (p<0.05) P4, by a mechanism independent of cGMP and increased (p<0.05) the E2 pathway cGMP. The results suggest that: 1) the culture system for CGs with PVA can be used to evaluate the effect of NO on CGs, however, FSH addition is not necessary since its chronic addition induces E2 reduction, demonstrating its role in CGs differentiation, 2) NO can be involved in cellular cycle progression of antral CGs and in such a way may regulate steroidogenesis in these cells, and 3) the cGMP pathway is one of the mechanisms used by NO in low concentrations to positively regulate E2 synthesis, but not P4, while high NO concentrations inhibit steroids by a cGMP independent pathway, besides presenting cytotoxic effect. Key-words: bovine, nitric oxide, granulosa cells, cGMP, culture. xiv 1 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O folículo é a unidade funcional do ovário dos mamíferos, consistindo de uma célula germinativa (oócito) e células somáticas (células da granulosa e teca). Durante o desenvolvimento e formação do antro folicular, são formadas três subpopulações de células da granulosa: murais alinhadas à parede folicular; antrais, em contato com o fluido folicular e do cumulus, que se encontram em torno do oócito, formando o complexo cumulus oócito (COC) (EPPIG, 1991). As células somáticas são responsáveis pela síntese de hormônios, fatores de crescimento, mensageiros intercelulares e, portanto, seus produtos de secreção são responsáveis pela formação do antro folicular. A célula da granulosa (CG) é o principal tipo celular responsável pela formação do antro folicular e, portanto, contribui para fornecer um micro-ambiente para o desenvolvimento do folículo-oócito (HENDRIKSEN et al., 2000). A principal atividade das CGs é a síntese de hormônios esteróides em resposta às gonadotrofinas (GORE-LANGTON e ARMSTRONG, 1994). Os estudos realizados com sistema de cultura in vitro de CGs vêm demonstrando que às CGs antrais possuem maior atividade esteroidogênica, em resposta às gonadotrofinas, quando comparadas as CGs murais (ROUILLER et al., 1996; ROUILLER et al 1998). A perda da atividade esteroidogênica das células da granulosa é um dos primeiros sinais indicativos de degeneração folicular e, conseqüentemente, a do 2 oócito também. A diminuição do aporte sanguíneo e de receptores para gonadotrofinas e diminuição da atividade das enzimas esteroidogênicas (IRELAND e ROCHE, 1983; GRIMES et al., 1987; JOLLY et al., 1994) vêm sendo considerados como um dos principais fatores envolvidos na perda da atividade esteroidogênica. Contudo, estudos realizados em ratas (SNYDER et al., 1996; DAVE et al., 1997; MATSUMI et al., 1998a, MATSUMI et al., 2000), mulheres (KAGABU et al. 1999) e codornas (VAN NASSAUW et al., 1999) vêm demonstrando que, além destes fatores, o óxido nítrico (NO), um radical livre, pode estar envolvido na regulação da esteroidogênese e apoptose ovariana. A baixa taxa de desenvolvimento de embriões in vitro (15-20%) vem sendo relacionada à qualidade dos folículos (JEWGENOW et al., 1998). Portanto, o folículo é que determina o futuro do oócito. Assim, é de considerável interesse o estudo sobre os fatores fisiológicos envolvidos no desencadeamento da atresia folicular para o entendimento dos eventuais problemas que ocorrem durante o uso das biotecnologias que utilizam a superovulação para obtenção de oócitos para a produção in vitro e in vivo de embriões. Em bovinos, os estudos sobre o efeito do NO nas CGs vêm sendo realizados em meio de cultura contendo soro fetal bovino (SFB) (BASINI et al., 1998) ou albumina sérica bovino (BSA) (BASINI et al., 2000). O SFB facilita a adesão das CGs na placa de cultura e aumenta a viabilidade celular (GONG et al., 1994), porém não impede a luteinização destas, mesmo quando tratadas com gonadotrofinas (LUCK et al., 1990; GUTIERREZ et al., 1997). O BSA comumente utilizado nos sistemas de cultivo é contaminado com várias moléculas definidas e não definidas, assim como colesterol, peptídeos, progesterona, andrógenos e outros (WANG et al., 1997; MINGOTI et al., 2002).e sua composição varia com o seu preparo, o que pode variar os seus efeitos durante o cultivo (KANE, 1983; MCKIERNAN e BAVISTER, 1992). PICCINATO et al. (2000) substituíram o BSA por álcool polivinílico (PVA) e observaram a manutenção das mesmas características morfológicas de CGs esteroidogenicamente ativas descritas por GUTIERREZ et al. (1997). Assim, o presente estudo utilizou o modelo de cultivo quimicamente definido, com algumas modificações, tais como: redução de células 3 sanguíneas como hemácias e macrófagos, que podem mascarar a esteroidogênese e síntese de NO (BECKMANN et al., 1991) para verificar o efeito do NO na viabilidade, proliferação e esteroidogênese das CGs, e se este utiliza a via GMPc para mediar seus possíveis efeitos. 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Foliculogênese No ovário fetal bovino, são encontradas, aproximadamente, 2.739.000 células germinativas e, ao nascer, é observada a presença de 120.000 a 150.000 folículos primordiais ou primários, 200 a 500 folículos em crescimento e 20 a 50 folículos antrais. Obviamente, os folículos pré-antrais, que incluem primordial, primário e em crescimento, representam 99% da reserva de germoplasma (ERICKSON, 1966; FIGUEIREDO et al., 1997). Contudo, menos de 1% dos folículos são ovulados durante a vida reprodutiva da vaca. Assim, mais de 99 % dos folículos sofrem mudanças degenerativas nos vários estádios de desenvolvimento folicular, que fazem parte da função ovariana normal (BYSCOV, 1978; MARIANA et al., 1991). Este processo degenerativo pelo qual os folículos são eliminados antes de atingirem a ovulação é designado atresia folicular (HSUEH et al., 1994). A foliculogênese é caracterizada por uma marcante proliferação e diferenciação das células somáticas do folículo. O desenvolvimento folicular produz um ambiente ótimo para a maturação do oócito e sua subseqüente fertilização após a ovulação. Os principais reguladores da foliculogênese são as gonadotrofinas que regulam o desenvolvimento folicular ovariano via o clássico mecanismo endócrino de retroalimentação positiva ou negativa (ADASHI e ROBAN, 1992; MANSON e 5 FRANKS, 1997; TERRANOVA e RICE, 1997). Os folículos ovarianos são conhecidos por produzirem uma série de peptídeos, fatores de crescimento e sinalizadores que agem localmente. Estes podem interagir com o mesmo tipo celular, do qual foi produzido (ação autócrina) ou com outro tipo celular (ação parácrina) para estimular ou atenuar a resposta celular às gonadotrofinas. Portanto, o crescimento e desenvolvimento folicular são processos integrados em compasso com sinais extraovarianos, como as gonadotrofinas e hormônios metabólicos (ARMSTRONG e WEBB, 1997) e intra-ovarianos, como os fatores de crescimento (TELFER, 1997) e mensageiros inter e intracelulares, como o óxido nítrico (BASINI et al., 1998; BASINI et al., 2000, ISHIMARU et al., 2001; LAPOLT et al., 2002). A foliculogênese está associada com o desenvolvimento de um grupo de folículos de vários estádios de desenvolvimento, do qual um número espécie-específico é selecionado para crescer (WEBB et al., 1992; FORTUNE, 1994; CAMPBELL et al., 1995; CONG e WEBB, 1996). A foliculogênese pode ser dividida em três estádios de desenvolvimento folicular: 1) recrutamento, estádio durante o qual um grupo de folículos em crescimento é selecionado para crescer rapidamente; 2) seleção, processo pelo qual os folículos são selecionados para continuar o seu crescimento; e 3) dominância, processo pelo qual o folículo selecionado cresce rapidamente, enquanto que os demais regridem (folículos subordinados). Este padrão de desenvolvimento folicular está associado a várias mudanças na expressão de RNAm, que codificam receptores para gonadotrofinas e enzimas esteroidogênicas que permitem que os folículos selecionados, quando expostos ao ambiente adequado, ovulem em resposta à onda de gonadotrofina ovulatória 2.2. Células da granulosa O crescimento e o desenvolvimento do compartimento de células somáticas e germinativas do folículo ovariano ocorrem de uma maneira mutuamente dependente e coordenada. Os folículos ovarianos de mamíferos consistem de 6 camadas de células da teca e granulosa que cercam a célula germinativa ou oócito. Durante o crescimento folicular, ocorre formação do antro e separação anatômica e funcional das células da granulosa em três subtipos celulares: granulosas murais alinhadas à parede folicular formando um epitélio estratificado com a lamina basal; granulosas antrais, em contato com o fluido folicular e do cumulus, que se encontram em torno do oócito, formando o complexo cumulus oócito (COC) (EPPIG, 1991; ALBERTINI et al., 2001). O contato físico e a comunicação intercelular entre as células somáticas e o oócito são necessários para a sobrevivência, desenvolvimento e maturação do oócito (EPPIG, 1991; GORDON, 1994). Esta cooperação metabólica entre o oócito e as células do cumulus, que tem importante função nutritiva para o oócito durante a maturação, ocorre por meio das junções comunicantes. Assim, a perda destas junções implica na degeneração do oócito e folículo (SUTOVSKY et al., 1993). Adicional a este controle parácrino do metabolismo do COC, via junções comunicantes, há também um controle via substâncias secretadas pelas células foliculares no fluido folicular (RABAHI et al., 1993). Do crescimento folicular até a ovulação, as células da granulosa mostram extensivas mudanças na atividade mitótica e secreção de esteróides. Além disso, dentro de um mesmo folículo, verifica-se uma heterogeneidade bioquímica e morfológica entre as células de um mesmo folículo ovariano, caracterizando um gradiente de diferenciação (AMSTERDAN et al., 1989). Em ratas, relatam-se diferenças entre o número de junções comunicantes, receptores para FSH e índice mitótico. ROUILLIER et al. (1996) verificaram, em cultura de células da granulosa de bovinos livre de soro fetal, uma resposta mais acentuada ao FSH na síntese de esteróides pelas células da granulosa antrais quando comparadas às células da granulosa murais. 7 2.2.1. Controle hormonal do ciclo celular das células da granulosa O crescimento dos folículos ovarianos, ovulação e formação do corpo lúteo são processos complexos que envolvem mudanças na função das células da granulosa. Estas mudanças são seqüenciais e ordenadas em resposta às gonadotrofinas, esteróides, fatores de crescimento, citocinas (HIRSHIFIELD et al., 1991; RICHARDS, 1978). No período peri-ovulatório, as células da granulosa passam de estádio proliferativo para não - proliferativo, período no qual as células da granulosa encontram-se diferenciadas, característica de células da fase luteal. Nos folículos primordiais, o oócito é cercado por uma única camada de células que se encontram detidas na fase G0/G1 do ciclo celular, ou seja, na fase diplóide, na qual as células não estão se dividindo. Os folículos saem do estádio quiescente e iniciam a fase de crescimento lento (fase S/G2), no qual as células entram no ciclo celular, mas a proliferação é muito lenta (HIRSHIFIELD et al., 1991). Durante esta lenta proliferação, as células da granulosa vão adquirindo e aumentando a sua responsividade ao FSH e LH, aumentando a síntese de estradiol (RICHARDS, 1980). A exposição das células foliculares a estes hormônios induz um aumento na fase proliferativa, que resulta na formação de um folículo pré-ovulatório (RAO, 1978). As células da granulosa de folículos pré-ovulatórios são muito proliferativas e mais diferenciadas e adquirem receptores para LH (UILENBROEK et al., 1979). Com o pico de LH, o crescimento folicular é interrompido juntamente com a mudança na função e estrutura folicular, resultando na saída das células da granulosa de folículos pré-ovulatório do ciclo celular (HIRSHIFIELD et al., 1991). Esta saída do ciclo celular coincide com a diferenciação das células da granulosa em células luteinizadas, caracterizada por finalização da divisão celular. A progressão pelo ciclo celular e a proliferação são controladas por um complexo de quinases dependentes de ciclinas (cdk) (MURAY e HUNT, 1993). Algumas ciclinas dirigem a fase G1 (células diplóides), enquanto outras, a fase de transição G2 a M (células poliplóides – mitose). A ciclina D2 (INABA et al., 1992, 8 XIONG et al., 1992a) age como regulador positivo da progressão pelo ciclo celular, devido à sua habilidade em se ligar às cdks 4 ou 6, que, por sua vez, ativam a cascata de eventos que permitem a progressão através da fase G1 do ciclo celular (XIONG et al., 1992b). A ciclina E age, também, como um regulador positivo da progressão do ciclo celular ao se ligar à cdk 2. A cdk2 ativada regula a transição da fase G1 para S (fase de síntese de DNA) (LEW et al., 1991; POLYAK et al., 1994). A progressão pela fase S é regulada pelo complexo ciclina A e a mitose é iniciada pelo complexo ciclina b-cdc2 (REBECCA et al., 1998), enquanto a ciclina p27 kip1 inativa a cascata de quinases dependentes de ciclinas e impede a progressão pelo ciclo celular, que fica detido em fase G1 (POLYAK et al., 1994). Assim, tem sido demonstrado que a proliferação estimulada pelo FSH e o estradiol ocorrem por meio da ciclina D2 (SICINSKI et al., 1996), enquanto, o LH diminui a ciclina D2 e E e aumenta a concentração de ciclina p27 kip1, finalizando a proliferação celular e resultando em luteinização das células da granulosa (NAKAYAMA et al., 1996; FERO et al., 1996). O FSH e o LH, ao se ligarem aos seus receptores, aumentam a síntese de AMPc intracelular. O AMPc gerado em baixa concentração, quando estimulado pelo FSH, aumenta a concentração de ciclina D2 e E. Ao contrário, a concentração de AMPc estimulado pelo LH é mais elevada e diminui a ciclina D2 e E e aumenta a ciclina p27 kip1 , que cessa a divisão celular e finaliza a diferenciação celular (ROBKER e RICHARDS, 1998) 2.3. Esteroidogênese folicular Os hormônios esteróides são classificados com base na sua estrutura química ou ações fisiológicas. Os principais hormônios sexuais esteróides pertencem a três classes maiores: progestágenos, andrógenos e estrógenos, cujas estruturas químicas são derivadas dos seguintes compostos: pregnane (C21), androstane (C19) e estrane (C18), respectivamente (GORE-LANTON e ARMSTRONG, 1994). 9 A pregnenolona (P5) é o progestágeno mais importante produzido no folículo devido ao seu papel chave como precursor dos esteróides. No folículo ovariano, a progesterona é a forma mais abundante da P5 (GORDON, 1994). A P5 se origina do colesterol, e este, por sua vez, pode originar-se a partir de três possíveis fontes: (a) colesterol pré-formado, que se encontra ligado a lipoproteínas circulantes de baixa (LDL) e alta (HDL) densidade na corrente sangüínea; (b) colesterol pré-formado armazenado dentro da célula ovariana, ou livre (constituinte da membrana celular), ou liberado de ésteres de colesterol armazenado dentro das gotas lipídicas citoplasmáticas e (c) colesterol, sintetizado de novo nas células ovarianas, derivado do metabolismo de carboidratos, gorduras ou proteínas dentro da célula (STRAUSS et al., 1981). A utilização de cada fonte de colesterol está sujeita à regulação de acordo com a importância quantitativa de uma fonte ou outra, que varia com o estado fisiológico. Além disso, a fonte de colesterol utilizada pode, ainda, variar com a espécie animal e com o tipo celular envolvido (STRAUSS et al., 1981). Em tecido ovariano, a principal fonte de colesterol utilizado para a esteroidogênese é do colesterol ligado às lipoproteínas. As lipoproteínas extracelulares se ligam à membrana celular via seu componente apoproteico, seguindo-se a internalização do complexo lipoproteína-receptor, captação do complexo pelo lisossomo, degradação das lipoproteínas pelas esterases lisossomais e liberação do colesterol, que está apto para ser utilizado na esteroidogênese (GWYNNE e STRAUSS, 1982). A identificação dos andrógenos (testosterona e androstenediona) no fluido folicular demonstrou que as células foliculares, especificamente as células da teca, são uma significante fonte de andrógenos ovarianos, os quais constituem o principal substrato para a biossíntese de estrógenos pelas células da granulosa (SHORT, 1960). Os estrógenos possuem a mais ampla extensão de funções de todos os esteróides (17β-estradiol e estrona), sendo necessários para o desenvolvimento e a 10 atresia folicular, manifestações psíquicas comportamentais do cio ou estro, além de atuar em vários sistemas fisiológicos (GORE-LANGTON e AMSTRONG, 1994). A esteroidogênese (Figura 1) tem início com a clivagem do colesterol nas ligações C20, C22, cuja reação é catalisada pela enzima P450scc (clivagem da cadeia lateral do colesterol), localizada sobre a matriz da membrana interna mitocondrial, resultando nos compostos P5 (C21) e um fragmento de 6 carbonos (aldeído isocapróico) (FARKASH et al., 1986). A P450scc tem sido considerada taxa limitante na síntese de hormônios esteróides (MILLER, 1988). A produção de hormônios esteróides pode seguir duas vias, a partir da P5, dependendo da sua biodisponibilidade e das atividades específicas das enzimas esteroidogênicas. A via ∆5 é a via utilizada em ovários bovinos (FORTUNE, 1986). Os esteróides da via ∆5 podem passar para via ∆4 e vice-versa. Isto se deve à ação da enzima ∆5-3 3β-hidroxiesteróide desidrogenase ou ∆5-4 isomerase (3β-HSD) (LACROIX et al., 1974; FORTUNE, 1986). Na via ∆5, o complexo enzimático 17α-hidroxilase/C17,20 liase, presente na membrana do retículo endoplasmático liso, é taxa limitante na biossíntese dos andrógenos no folículo. Este complexo catalisa a conversão da P5 em 17α-OHpregnenolona e em deidroepiandrostenediona (DHEA). Mediante a ação da 3β-HSD, o DHEA é convertido em androstenediona (A4), que, posteriormente, será convertido pela enzima 17 β-hidroxiesteróide desidrogenase (17β-HSD) em testosterona (Figura 1) (BAO et al., 1997). Pela via ∆4, a enzima 3β-HSD converterá a P5 em P4, que, por sua vez, será convertida em 17α-OH-progesterona, pela ação da enzima 17α-hidroxilase, e em seguida, será transformada em A4 pela C17,20 liase. (GORE-LANGTON e AMSTRONG, 1994). Nos folículos ovarianos, precisamente nas células da granulosa, os esteróides (C19) androstenediona e testosterona serão convertidos à estrona (E1) e 17β-estradiol (E2), respectivamente, pela ação do complexo enzimático P450arom (Figura 1), localizado no retículo endoplasmático liso de diferentes tipos celulares 11 ovarianos. Em adição, a E1 pode ser convertida em E2 por meio da ação da enzima 17β-HSD (GOWER, 1984). Figura 1: Esquema mostrando a biossíntese dos hormônios esteróides pela via ∆5 e ∆4 . O colesterol é clivado pela P450scc em pregnenolona (P5). Pela via ∆5, P5 é convertida em deidroepiandrostenediona (DHEA) pelo complexo enzimático 17α-hidroxilase/C17,20 liase. A 3βHSD converte DHEA em androstenediona (A4), que será convertida em testosterona pela enzima 17β-HSD. Pela via ∆4, a 3βHSD converte P5 em P4, e o complexo enzimático 17α-hidroxilase/C17,20 liase converte P4 em A4, que será convertida em testosterona pela 17β-HSD. A androstenediona e testosterona são convertidas a estrona (E1) e 17β-estradiol (E2), respectivamente, pela ação do complexo enzimático P450arom (GORELANGTON e AMSTRONG, 1994; GOWER et al., 1994). 12 2.3.1. Papel do FSH e LH na esteroidogênese A síntese de hormônios esteróides necessita da cooperação das células foliculares (células da granulosa e teca) e da participação das gonadotrofinas FSH e LH, que define o modelo proposto como “duas células/dois hormônios”. Neste modelo, as células da granulosa possuem receptores para FSH e as da teca para LH. Assim, em resposta ao LH as células da teca sintetizam os andrógenos, que por sua vez, serão convertidos em E2 pelas células da granulosa estimuladas pelo FSH (FORTUNE et al., 1994; FORTUNE et al., 1996). As ações do LH e FSH são mediadas por receptores trans – membrana, acoplados à proteína G estimuladora (SIMONI et al., 1997). Com a ligação destas gonadotrofinas ao seu receptor, o ligando induz a uma mudança na conformação dos receptores, resultando na liberação da subunidade Gsα e ativação da adenilato ciclase, aumentando a produção de AMPc que ativa a proteína quinase A (EDELMAN et al., 1987). A proteína quinase A, por sua vez, promove a fosforilação de proteínas nos resíduos de cisteína e serina, que pode diretamente influenciar a expressão e/ou atividade da via esteroidogênica, promovendo o aumento da atividade da P450 aromatase, pelo fenômeno de transcrição ou tradução (YOSHIURA et al., 2003). O aumento da atividade da P450 aromatase é o principal requisito para síntese de estradiol pelas células da granulosa e conseqüente maturação folicular. A estimulação da via AMPc leva ao aumento da transcrição da proteína regulatória aguda da esteroidogênese (StAR) (STRAUS et al., 1999), que possui como função transportar o colesterol para membrana interna da membrana mitocondrial, onde será utilizado para síntese de esteróides (STOCCO et al., 1996; CHRISTENSON et al., 2001). Embora a expressão de StAR seja aumentada pelo FSH e dependente de LH, o aumento de AMPc e exposição tônica das células da granulosa (macacas) ao FSH in vivo não resultou em aumento da transcrição de StAR (CHRISTENSON et al., 2001). O autor sugere que a expressão de StAR pode ser dose-dependente do AMPc, ou que o LH ativa uma única via de sinalização que orienta a expressão de StAR ou ainda que o FSH ativa uma via de sinalização que 13 inibe a ação estimuladora do AMPc na expressão de StAR e esteroidogênese das CGs. 2.4. Atresia folicular ovariana Durante o desenvolvimento folicular ovariano em bovinos, mais de 99,9% dos folículos não atingem a ovulação, devido ao mecanismo de deleção celular presente no ovário, que impede que vários folículos alcancem a ovulação. Assim, um limitado número de folículos é selecionado para a ovulação, enquanto que os remanescentes sofrem degeneração pelo processo de atresia folicular (MARIANA et al., 1991). A atresia folicular é mediada por um organizado mecanismo de morte celular designado de apoptose ou morte celular programada (HUGHES e GOROSPE, 1991; TILLY et al., 1991). O principal tipo celular acometido pela apoptose é a célula da granulosa (CG). A CG possui a enzima endonuclease Ca2+/Mg2+, que, quando ativada, cliva o DNA em fragmentos múltiplos de 180-200 pb. Este padrão de clivagem é utilizado como um marcador bioquímico de apoptose nas CGs (TILLY et al., 1991). O início do crescimento dos folículos primordiais, designado de recrutamento inicial, é seguido por crescimento, diferenciação e atresia. Quando os folículos adquirem a cavidade antral tornam-se dependentes do FSH. Durante cada ciclo reprodutivo, o aumento do FSH recruta os folículos antrais em crescimento. Portanto, o FSH vem sendo considerado como um fator de sobrevivência para os folículos antrais. Estes achados são confirmados por evidências bioquímicas, que mostram que a atividade da enzima endonuclease Ca2+/Mg2+ dependente é modulada por mudanças nas concentrações de FSH (ZELEZNIK et al., 1989). 14 2.4.1. Regulação hormonal da apoptose das células da granulosa Uma das características iniciais da atresia folicular é a perda da atividade da enzima aromatase e C17,20-liase. A conseqüência deste evento é: 1) a diminuição da conversão de progestágenos a andrógenos, que pode ser evidenciada pelo aumento das concentrações de P4 no fluido folicular e 2) a falha das células da granulosa metabolizar andrógenos a estrógenos, que resulta em concentrações reduzidas de E2 no fluido folicular (MCNATTY et al., 1984a; MCNATTY et al., 1984b). A perda da atividade das enzimas aromatase e 17α-hidroxilase:C17,20-liase tem sido associada com a diminuição de receptores para FSH e LH nas células foliculares (BOGOVICH et al., 1982; JOLLY et al., 1994). Os folículos estrógenos-ativos têm mais células da granulosa e maior capacidade para se ligarem à gonadotrofinas comparados aos folículos estrógenos inativos. Assim, a concentração de esteróides no fluido folicular ou a presença de receptores para gonadotrofinas nas células da granulosa, índices de qualidade folicular, podem também ser utilizados como índices de atresia folicular ovariana (BOMSEL-HELMREICH et al., 1979; IRELAND e ROCHE, 1982). Os sistema de cultivo de células da granulosa vêm demonstrando vários fatores estimuladores e inibidores da apoptose. Sabendo-se que o folículo estrógeno ativo é indicador de viabilidade folicular, os fatores que regulam negativamente a esteroidogênse das células da granulosa podem estar implicados na indução da apoptose. Os principais fatores já estudados como reguladores de sobrevivência do folículo ovariano são: as gonadotrofinas, fator de crescimento semelhante à insulina, fator de crescimento epidermal, fator de crescimento fibroblástico, estradiol e óxido nítrico (CHUN et al., 1995; GUTHIE et al., 1998; PETROFF et al., 2001; MANCHANDA et al., 2001). Ao contrário destes, o TNFα (fator necrose tumoral), concentrações elevadas de AMPc e GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) podem induzir a apoptose das CGs (KEREN-TAL et al., 1995; AMSTERDAN et al., 1999; SASSON et al., 2002) 15 Em sistema de cultivo livre de soro, o FSH e substâncias que elevam o AMPc intracelular induzem a diferenciação das células da granulosa de folículos préantrais (AMSTERDAN et al., 1981). Ao contrário, CGs de folículos pré-ovulatórios são mais sensíveis à retirada do soro, e o FSH não é capaz de inibir a apoptose. Além disso, os análogos do AMPc podem, ainda, aumentar a apoptose. Isto sugere que a amplitude e a duração da sinalização via AMPc podem determinar se as células da granulosa irão se luteinizar e sobreviver ou sofrer apoptose (AHARONI et al., 1995). A progesterona produzida nos sistemas de cultura pode agir sinergicamente com o AMPc e reduzir a incidência de apoptose induzida pela remoção do soro ou estimulação prolongada ao AMPc (TILLY et al., 1992). Assim, conclui-se que: a) as CGs adquirem sensibilidade ao AMPc dependendo do seu grau de maturação e da amplitude e duração de exposição ao AMPc, e b) a relação cruzada entre vias sinalizadoras pode controlar se a CGs esteroidogenicamente ativas irão se luteinizar e sofrer morte celular programada ou sobreviver na sua forma diferenciada. 2.4.2. Mecanismo da apoptose nas células da granulosa A apoptose é coordenada pela ativação de vários reguladores denominados caspases executoras da via apoptótica (HENGARTENER et al., 2000). As caspases são proteases que clivam proteínas nos resíduos de ácido aspártico. O mecanismo de ativação das caspases inclui: a ligação do ligando ao receptor de morte celular; associação com cofatores; ativação de caspases; clivagem de proteínas induzidas pelo aumento da concentração de caspases. (HENGARTENER et al., 2000). Existem mais de 100 proteínas que são utilizadas pelas caspases como substratos. A clivagem destas proteínas intracelulares ou de membrana leva a varias alterações morfológicas características de morte celular por apoptose, como por exemplo: a clivagem da lamina, presente na membrana celular, induz a retração e formação de botões nucleares; clivagem de fodrin e geosolina presentes na 16 membrana celular levam à perda da estrutura celular (CORSI et al., 1995; KOTHAKOTA et al., 1997). Na célula esteroidogênica, ocorre uma compartimentalização das organelas devido à clivagem de proteínas de membrana o que provoca alteração do citoesqueleto e separação dos botões apoptóticos da porção celular principal, que contém gotas lipídicas, mitocôndrias e retículo endoplasmático liso. Assim, diferente de outros tipos celulares, esta mudança na conformação das CGs permite a preservação das mitocôndrias, que são as últimas a serem atingidas durante a apoptose e, portanto, permite a continuidade da síntese de progesterona durante o processo de apoptose (AMSTERDAN et al., 1998). A granzima B é uma protease liberada por linfócitos T citotóxicos. Nas células da granulosa, esta protease pode ser estimulada pelas gonadotrofinas. A granzima B ao ser clivada se torna ativada e direciona a ativação das caspases, de forma que a mitocôndria seja preservada da destruição pelo mecanismo da apoptose. Assim, tem sido sugerido que esta proteína está envolvida no mecanismo de proteção das mitocôndrias durante o processo de apoptose nas células da granulosa. (AMSTERDAN et al., 2003). As caspases também ativam a enzima endonuclease Ca2+/Mg2+ dependente endógena (MATIKAINEN et al., 2001). Esta enzima cliva o DNA genômico nuclear (WYLLIE, 1980; ALFANAS`ev et al., 1986) nas regiões internucleossomais gerando fragmentos de DNA múltiplos 180-200 pb. Este evento regulado por nucleases é o ponto irreversível na cascata na morte celular (TILLY, 1996). Tem sido demonstrado que a endonuclease Ca+2/Mg+2 dependente, responsável pela degradação do DNA apoptótico no ovário, é a DNAse I (BOONE et al., 1995; BOONE e TSANG, 1997), encontrada no núcleo das células da granulosa e luteais de folículos antrais saudáveis. Isto sugere que a DNAse I está presente nas células da granulosa de folículos antrais, na sua forma inativa, sendo somente necessário um sinal para ativá-la. . 17 2.5. Óxido nítrico (NO) O oxigênio reativo e espécies de nitrogênio possuem importância na transdução de sinais (TORRES e FROMAN, 2000). Assim, o entendimento de como estas espécies são geradas nas células, algumas de suas propriedades químicas e reações não enzimáticas que produzem danos celulares se faz necessário para a compreensão do envolvimento destes na fisiologia celular. Mais de 95% do oxigênio consumido pelos tecidos é resultante da redução deste em H2O pela citocromo oxidase na mitocôndria. O consumo remanescente de oxigênio envolve sua redução univalente e divalente com formação de espécies reativas de oxigênio como o radical ânion superóxido (O2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2), respectivamente (TORRES e FROMAN, 2000). A redução univalente do O2 resulta na formação do ânion superóxido e ocorre sob várias condições: oxidase respiratória em fagócitos, perda de elétrons da cadeia transportadora de elétrons (maior fonte geradora de superóxidos), reações de algumas mono-oxigenases, reações catalisadas por desidrogenases, e autooxidação de pequenas moléculas e da oxihemoglobina catalisada por metais (TORRES e FROMAN, 2000). O radical superóxido possui propriedades redutoras e oxidantes. Em pH ácido, o superóxido é protonado para formar o hidroperoxila (HO2.) e reage com a membrana lipídica, por ser muito reativo e lipofílico (TORRES e FROMAN, 2000). A redução divalente do oxigênio por mono-oxigenases gera espécies não radicais de peróxido de hidrogênio. Outra fonte de peróxido de hidrogênio ocorre pela desmutação do superóxido. Esta reação ocorre em pH fisiológico, sendo acelerada pela superóxido desmutase. Nesta reação, o peróxido de hidrogênio completamente protonado, possui meia vida longa, é permeável à membrana, causando danos a sítios distantes de sua origem. Proteínas que possuem o íon ferro podem ser reduzidas pelo superóxido (TORRES e FROMAN, 2000). O peróxido de hidrogênio, na presença de metais reduzidos como ferro e cobre, é reduzido ao radical hidroxila (OH) e ao íon OH-. O radical hidroxila é 18 extremamente reativo, principalmente com moléculas orgânicas, e modifica moléculas imediatamente adjacentes ao seu sítio de geração. Isto pode resultar em uma reação em cadeia, assim como a peroxidação de lipídios. Muitas das toxidades dos superóxidos (O.2-) podem ser mediadas por meio de sua reação com o óxido nítrico, para formar o peróxinitrito (TORRES e FROMAN, 2000). O óxido nítrico (NO) é a menor molécula bioativa, sintetizado endogenamente pela enzima óxido nítrico sintase (NOS) que converte a L–arginina em L-citrulina e NO, na presença de oxigênio molecular e vários cofatores: Ca++, tetrahidrobiopterin, flavina adenina dinucleotídeo, flavina mononucleotídea (McDONALD e MURAD, 1996). A óxido nítrico sintase é encontrada em duas isoformas: iNOS (óxido nítrico sintase induzível) e cNOS (óxido nítrico sintase constitutiva) (MONCADA et al., 1991; SESSA, 1994). Estas isoformas possuem regulação diferente, a cNOS é cálcio calmodulina dependente e libera pequena quantidade de NO (<1 µM) em curtos períodos, em resposta à estimulação de receptor. Assim, a isoforma cNOS é ativada pelo influxo de cálcio, que se liga ao receptor calmodulina, enquanto a iNOS libera NO em grande quantidade (>10µM) e por longo período de tempo, após ativação de macrófagos e células endoteliais por citocinas (MONCADA et al., 1991; NATHAN, 1992). O NO liberado pela iNOS está envolvido na vasodilatação patológica e danos aos tecidos (KILBOURN et al., 1990; MONCADA et al., 1991). A forma constitutiva da óxido nítrico sintase possui duas isoformas: a neuronal (nNOS), que ocorre no cérebro, e a endotelial (eNOS), verificada em diferentes tipos celulares (BREDT et al., 1991; SNYDER, 1995). Estas duas isoformas liberam pequenas quantidades de NO, que participam de vários eventos fisiológicos como: neurotransmissão, inibição de agregação e prevenção de adesão plaquetária no endotélio vascular e regulação da morte celular programada (apoptose) (MCDONALD e MURAD, 1996; MONCADA et al., 1991; DAWSON e DAWSON, 1996; ROSSELLI, et al., 1998). O NO é altamente reativo e possui meia vida curta (5’’), sendo rapidamente oxidado ao nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-), que representam os dois produtos estáveis de oxidação do metabolismo do NO (MONCADA et al., 1991). 19 Durante as últimas décadas, os efeitos do NO eram anteriormente estudados somente nos eventos fisiológicos relacionados ao sistema nervoso, circulatório e imunológico. (MONCADA et al., 1991; NATHAN, 1992; KERWIN e HELLER, 1994; MURARD, 1999). A partir da década de 90, o NO vem ganhando grande destaque também na função ovariana, como regulador do desenvolvimento folicular (MATSUMI et al., 1998b; MASUDA et al., 2001; KIM et al., 2005); esteroidogênese (VAN VOORHIS et al., 1994; BASINI et al., 1998; BASINI e TAMINI, 2000; MASUDA et al., 2001; PINTO et al., 2002; JAROSZEWSKI et al., 2003; ESTÉVEZ et al., 2004); ovulação (SHUKOVSKI e TSAFRIRI, 1994; BONELLO et al., 1996; YAMAUCHI et al., 1997); regressão luteal (OLSON et al., 1996); maturação oocitária (JABLONKASHARIFF, 2000; HATTORI et al., 2000; HATTORI et al., 2001) e processo de apoptose nas células da granulosa (HURWITZ et al., 1992; ELLMAN et al., 1993; CHUN et al., 1995; BASINI et al., 1998; VAN-NASSAUW et al., 1999). 2.5.1. Mediador do efeito citotóxico ou citoprotetor As propriedades mediadoras do NO dependem de sua química. O NO pode sofrer várias reações que podem resultar na formação de espécies reativas, dentre estas, a geração de espécies reativas de óxido de nitrogênio (RNOS) (ESPEY et al., 2000). A maioria dos efeitos fisiológicos do NO in vivo está relacionada a reações diretas entre NO e proteínas contendo o radical heme. Os efeitos indiretos do NO envolvem RNOS (peróxinitrito), freqüentemente derivados de reações entre NO com o O2 ou superóxido (O2-). Estas reações estão associadas aos efeitos patofisiológicos e resposta imune a patógenos. Para que ocorra esta reação, é necessário que o NO esteja em alta concentração. Portanto, o NO em baixa concentração e liberado por curto período de tempo medeia efeitos diretos, enquanto que os efeitos indiretos do NO ocorrem na presença de concentrações elevadas do NO, sustentadas por um longo período de tempo (ESPEY et al., 2000). 20 Os efeitos diretos e indiretos estão correlacionados com as diferentes isoformas de óxido nítrico sintase. As formas constitutivas (eNOS e nNOS) e induzível (iNOS) estão relacionadas com os efeitos diretos e indiretos, respectivamente. Os intermediários reativos são responsáveis (RNOS) pelos efeitos indiretos do NO e podem também sofrer uma variedade de reações. Assim, os efeitos indiretos podem ser subdivididos em categorias de estresse nitrosativo e oxidativo (WINK e MITCHELL, 1998). A oxidação é conseqüência da formação do peroxinitrito (ONOO-) ou íon nitroxil (WINK et al., 1999). A oxidação química inclui a remoção de um ou dois elétrons e reações de hidroxilação do substrato. A nitrosação mediada pelo RNOS parece ocorrer in vivo por meio da reação primária com N2O3 (óxido de nitrogênio), sendo caracterizada pela adição de um equivalente de NO a uma amina, tiol ou grupo aromático. Por exemplo: os intermediários da reação NO/O2 (peroxinitrito) converte peptídeos tiol a peptídeos S-nitrosotiol. Por último, a nitração do grupo aromático envolve a adição de um equivalente de NO2+. Como exemplo desta reação, tem-se a formação da nitrotirosina, índice de espécies reativas (BECKMANN et al., 1992). Os tipos celulares contendo cNOS (eNOS e nNOS) geram baixo fluxo de NO por curtos períodos de tempo, portanto, os efeitos diretos são predominantes e os indiretos limitados, enquanto que na presença da iNOS, a produção de NO é muito maior, ocorrendo os efeitos indiretos como nitrosação, nitração e reações de oxidação. Além da fonte geradora do NO, deve-se considerar também que os tipos celulares ou tecidos próximos a uma fonte de NO podem experimentar os efeitos diretos e indiretos do NO. Fatores temporal e espacial são, portanto, importantes quando se considerada a química responsável pelos efeitos biológicos específicos do NO (LEWIS et al., 1995). 21 2.5.2. Na função ovariana O NO vem sendo considerado como um dos reguladores envolvidos nas diversas mudanças estruturais e funcionais que ocorrem no ovário durante o ciclo estral. Está envolvido na liberação de hormônios hipofisários, regulação do desenvolvimento folicular e função do corpo lúteo. Além disso, o NO afeta diretamente ou indiretamente de forma autócrina e/ou parácrina as células esteroidogênicas, sistema imune, vasos sanguíneos e neurônios no ovário (DAVE et al., 1997; MASUDA et al., 2001; MASUDA et al., 2001; JAROSZEWSKI et al., 2003; KIM et al., 2005) Acreditava-se que a fonte de NO folicular fosse oriunda só das células da granulosa, pois os estudos (VAN VOORHIS et al., 1994) revelaram a presença da enzima NOS induzível nas mesmas. Entretanto, estudos posteriores vieram comprovar a presença da NOS também nas células da teca, células do estroma e corpo lúteo (JABLONKA – SHARIFF e OLSON, 1997; JAROZENSKY et al. 2000). Em bovinos, o NO foi verificado em concentrações mais elevadas no fluido folicular de folículos pequenos (<5 mm) comparado aos folículos grandes (>8 mm) (BASINI et al., 1998; FAES et al., 2000). BASINE et al. (1998) demonstraram in vitro a síntese de NO pelas células da granulosa luteais. Recentemente, KIM et al. (2005) verificaram um padrão de expressão diferenciado das três isoformas iNOS, eNOS e nNOS no ovário durante o desenvolvimento folicular em suínos. Todos estes resultados sugerem um papel do NO na fisiologia ovariana. O NO exerce seus efeitos biológicos por meio de uma variedade de mecanismos, e muitas de suas ações são atribuídas à sua ligação a enzimas contendo o grupo heme e metal ferro. Assim, o NO é conhecido por ativar a guanilato ciclase ao se ligar ao grupo prostético heme, causando um aumento do GMPc (IGNARRO, 1990). Pode, ainda, combinar-se com o grupo heme da enzima ciclooxigenase, levando à produção de prostaglandinas (SALVEMINI et al., 1993). As enzimas esteroidogênicas (citocromo P450) possuem um centro heme, o que poderia sugerir um papel modulador do NO sobre a esteroidogênese, inibindo 22 diretamente a atividade da aromatase (GUENGERICH, 1989; VAN VOORHIS et al., 1994). Entretanto, SNYDER et al. (1996) demonstraram a ação direta do NO sobre o complexo enzimático P450arom (SNYDER et al., 1996), ao se ligar ao grupo sulfidrila da cisteína (sítio ativo da enzima), formando o grupo nitrosotiol, inibidor da atividade catalítica da aromatase ou, indiretamente, por inibição do gene de transcrição para aromatase (KAGABU et al., 1999). 2.5.3. Doadores de óxido nítrico Uma variedade de doadores de NO vem sendo utilizados como: nitroprussiato de sódio, nitrato e nitrito orgânicos, nitrosaminas, etc. O NO em baixa concentração é quase que estável com baixa reatividade. Contudo, em concentrações elevadas, o NO interage com muitos metais de transição, proteínas contendo heme e grupos tiols e pode oxidar os polinucleotídeos (RNA e DNA) e proteinas e pode causar quebras nos polinucleotídeos (IGNARRO e MURRARD, 1995) 2.5.4. Sistema óxido nítrico/guanosina monofosfato cíclica (NO/GMPc) O nucleotídeo GMPc é um segundo mensageiro potencial, formado a partir do do nucleotídeo GTP (guanosina tri-fosfato). A enzima catalisadora desta reação é a guanilato ciclase (Gc) descrita no final da década de 60 e metade da de 70 (GOLDBERG et al., 1969; HARDMAN e SUTHERLAND, 1969; CHRISMAN et al., 1975). Existem dois tipos de guanilato ciclase que diferem um do outro em função da localização celular, estrutura e regulação (WALDMAN et al., 1987). Assim, a Gc pode ser distinguida entre as formas solúvel ou citosólica e ligada à membrana. Entretanto, uma das isoformas da Gc solúvel foi encontrada associada à membrana celular, sendo esta sensível ao NO. A isoforma sensível ao NO é um heterodímero com duas subunidades diferentes designadas de α e β. Além disso, Gc sensível ao NO contém um grupo 23 prostético heme, no qual o NO se liga e efetua a ativação desta. As subunidades α e β.são requeridas para a propriedade ligante e orientação do grupo prostético heme. A estimulação da Gc sensível ao NO pelo seu ativador leva a um aumento de GMPc. A ativação da enzima requer o ion Mg ++ e promove a conversão de GTP em GDP (guanosina difosfato) e finalmente em GMPc (GERSER et al., 1981). No meio intracelular, o sinal induzido pelo NO, via GMPc, desencadeia a ativação de várias moléculas efetoras: fosfodiesterase-reguladas pelo GMPc, proteínas quinases dependentes de GMPc, canais iônicos dependentes de GMPc (LINCOLN, 1989; HOFMAN et al., 2000; FRIEBE e KOESLING, 2003). A estimulação da fosfodiesterase pelo GMPc ocorre por meio da ligação deste com o domínio regulatório da enzima, denominado GAF-A. Este processo é acompanhado pela fosforilação da proteína quinase 1 dependente de GMPc, que aumenta a afinidade do GMPc pelo dominio GAF-A (FRANCIS et al., 2002) 2.5.5. Inibidor da Guanilato ciclase Existem algumas substâncias que são inibidoras da GC sensível ao NO. Uma delas é a quinoxalina derivada do 1H-[1,2,4] oxadiazolo[4,3-a]-quinoxalin-1-one (ODQ). O ODQ é considerado um forte inibidor da GC sensível ao NO, por se ligar de forma competitiva e irreversível com a GC sensível ao NO, por meio da oxidação do Fe++ do grupo heme (SCHRAMMEL et al., 1996; ZHAO et al., 2000). 2.6. Cultivo in vitro de células da granulosa A atividade aromatase é uma das principais funções do folículo ovariano. A ocorrência de luteinização espontânea e falha em estimular a atividade da aromatase nas células da granulosa vem comprometendo os sistemas de cultivo que objetivam estudar a síntese de estradiol pelas células da granulosa e avaliar a contribuição de fatores autócrinos e parácrinos envolvidos na esteroidogênese e no desenvolvimento folicular. Doses fisiológicas de FSH (1-2 ng/ml) utilizadas nos sistemas de cultivo 24 vêm demonstrando um aumento da síntese de estradiol no primeiro dia de cultivo, ocorrendo uma queda na sua síntese, principalmente ao se utilizarem doses mais elevadas de FSH (10ng/ml) (GUTIERREZ et al., 1997). Os sistemas de cultivo de CGS vêm se desenvolvendo cada vez mais com o objetivo de assemelhar-se às condições esteroidogênicas encontradas in vivo no folículo ovariano. O soro fetal bovino utilizado como suplemento em muitos sistemas de cultivo in vitro de CGs não é capaz de manter a esteroidogênese ativa, pois as células se luteinizam e perdem a sua capacidade para sintetizar estradiol em resposta ao FSH (SIRARD., et al 1991; GONG et al., 1994). A prática de usar soro fetal durante as primeiras horas de cultivo ou placas pré-tratadas com soro fetal bovino também foram muito utilizadas, por facilitar a adesão das células na superfície da placa, aumentando a viabilidade celular (GONG et al., 1994). Entretanto, a breve exposição ao soro fetal induz a luteinização das CGs, com rápida perda da atividade aromatase (GONG et al., 1994). Assim, GUTIERREZ et al. (1997) desenvolveram um sistema de cultivo completamente livre de soro fetal bovino. Neste sistema, as células da granulosa expressam e mantêm a atividade aromatase e permanecem responsivas a concentrações fisiológicas do hormônio folículo estimulante (FSH) e fatores de crescimento. Alem disso, as células mantêm a forma esférica, característica das CGs na parede do folículo e se organizam em grumos ligados à placa por um pedúnculo, semelhante a um célula fibroblástica. Entretanto, concentrações elevadas de FSH diminuem a síntese de estradiol e levam a mudanças na forma da célula, que passa de cubóide para a forma achatada (GUTIERREZ et al., 1997). Atualmente, os sistemas de cultura de CGs que visam a conservar a atividade esteroidogênica das CGs utilizam a albumina de soro bovino 0,1% (BSA) como um substituto do SFB, o que mantém a atividade da P450 aromatase. Entretanto, tem sido demonstrado que o BSA comercial é contaminado com várias moléculas definidas e não definidas, assim como colesterol, peptídeos, esteróides e outros (WANG et al., 1997; MINGOTI et al., 2002), o que torna este sistema de 25 cultivo semidefinido. PICCINATO et al. (2000) substituíram BSA por álcool polivinílico 0,1% (PVA) e observaram que as CGs mantiveram as mesmas características esteroidogênicas quando cultivadas com BSA. O BSA possui uma macromolécula fixadora de nitrogênio com funções nutricionais, pois é uma grande fonte de proteínas, e sua hidrólise fornece aminoácidos no meio de cultivo que suporta o desenvolvimento das células. Além disso, alguns aminoácidos funcionam como agentes quelantes de metais divalentes tóxicos, reguladores do potencial de oxi-redução. Entretanto, esta macromolécula possui a composição muito variável em função do grau de ligação das pequenas moléculas e destas permanecerem ligadas durante o seu preparo. Assim, existem variação dos efeitos produzidos durante o uso de BSA nos meios de cultura (KANE, 1983; MCKIERNAM, 1992). A substituição do BSA pelo PVA já é bem aceita no cultivo de embriões (BAVISTER, 1981; BIGGERS et al., 1997, WRENZYCKI et al., 1999) e recentemente foi utilizada como um dos constituintes do meio de criopreservação de oócitos (DIEZ et al., 2005). O PVA é uma molécula inerte e sintética que mantém a osmolaridade dos sistemas in vitro sem toxidade para as células (BIGGERS et al., 1997; WRENZYCKI et al., 1999). 26 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADASHI, E.Y., ROBAN, R.M. (1992) Intraovarian regulation. Peptidergic signaling systems. Trends in Endocrinol. Metab. 3:243-248. AHARONI, D., DANTES, A., OREN, M., AMSTERDAN, A. (1995) c – AMP mediated signals as determinants for apoptosis in primary granulosa cells. Exp Cell Res., 218:271-282. ALBERTINI, D. F., COMBELLES, C. M., BENECCHIO, E., CARABATSOS, M. J. (2001) Cellular basis for paracrine regulation of ovarian follicle development. Reproduction, 121: 647-653. 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Sabendo-se que o FSH está envolvido na diferenciação das CGs de bovinos e que o óxido nítrico (NO) também modula a diferenciação das CGs, o presente estudo objetivou verificar o efeito do FSH na viabilidade e proliferação celular, síntese de esteróides e de NO, utilizando meio de cultura quimicamente definido. As CGs antrais (5,0 x 105/ml) de folículos de 3-5 mm foram cultivadas com ou sem FSH (1ng/ml) por 24, 48, 72, 96 e 120 h em meio de cultura contendo polivinilálcool (PVA). No final cada período de cultivo, foram avaliadas a viabilidade e proliferação celular pelo método do MTT e citometria de fluxo, respectivamente, concentração de progesterona (P4) e 17β-estradiol (E2) por quimioluminescência e nitrato/nitrito (NO3- / NO2-) pelo método de Griess. O sistema de cultivo manteve a síntese de esteróides e viabilidade celular ao longo do cultivo. O FSH aumentou (P<0,05) a proliferação e diminuiu a (P<0,05) viabilidade celular às 48 h. Entretanto, às 72 h a viabilidade celular aumentou (P<0,05) e foi mantida até 120 h de cultivo, não diferindo (P>0,05) do controle. A síntese de P4 não variou (P>0,05) com a adição de FSH ao longo da cultura, mas foi menor (P<0,05) às 72 e 96 h em relação ao controle. O FSH aumentou (P<0,05) a síntese E2 às 24 h e inibiu (P<0,05) nos demais tempos em relação ao controle. O NO3- / NO2-não variou ao longo do tempo com ou sem FSH e não houve diferença entre os dois grupos. Os resultados sugerem que: 1) o sistema de cultivo utilizado foi representativo das condições in vivo, pois aumentou a síntese de esteróides ao longo do tempo, 2) o FSH induziu a uma rápida diferenciação das CGs e não alterou síntese de NO pelas CGs, pelo menos na concentração utilizada. Palavras - chave: FSH, bovino, células da granulosa, cultura, esteroidogênese 45 ABSTRACT Studies to improve the in vitro culture systems of granulosa cells (GCs) have been developing with intention of likely to the in vivo conditions. Knowing that FSH is involved in bovine GCs differentiation and that nitric oxide (NO) also modulates GCs differentiation, the this work aimed to verify the effect of the FSH on GCs viability and proliferation, steroids and NO synthesis using chemically defined culture system. GCs (5,0 x 105/ml) of follicles measuring 3-5 mm were cultured with or without FSH (1ng/ml) for 120 h in a culture medium containing polyvinyl alcohol (PVA). In the end of 24, 48, 72, 96 and 120h of culture were evaluated cellular viability and proliferation by MTT method and flow cytometry, respectively, progesterone (P4) and oestradiol- 17β (E2) concentration by chemiluminescence and nitrite/nitrate (NO3-/NO2-) by Greiss method. The culture system maintained steroids synthesis and cellular viability along the culture. FSH has increased (p<p.05) cell proliferation and has decreased cell viability at the end of 48 h (p<0.05). However, at 72 h the viability has increased (p<0.05) and was maintained until 120 h of culture, not differing (p<0.05) from the control. The P4 synthesis haven`t changed with FSH addition, but it is smaller at 72 and 96h (p<0.05) in relation to control. FSH increased E2 at 24 h and after this period inhibited when it compared by the control. NO3- / NO2- haven’t changed along the time with or without FSH (p>0.05). These results suggest that: the 1) the culture system was similar to that observed in vivo conditions, since it has increased steroids synthesis along the time, 2) FSH has induced to a faster GCs differentiation and didn’t change the NO synthesis. Key words: FSH, bovine, granulosa cells, culture, steroidogenesis 46 INTRODUÇÃO O sucesso para o desenvolvimento dos folículos ovarianos é caracterizado como a capacidade de sintetizar estrógenos (HSUEH et al., 1984). As células da granulosa (CGs) contribuem para formar o folículo, cuja função é prover um ambiente adequado para que o oócito se desenvolva. A principal atividade das CGs é a biossíntese de E2 e P4, regulada pelas gonadotrofinas. Entretanto, o processo de crescimento e diferenciação dos folículos ovarianos também é regulado por outros fatores extra e intrafoliculares com ação endócrina, parácrina e autócrina. O NO vem sendo descrito como regulador da função ovariana (MASON e FRANKS, 1997; TERRANOVA E RICE, 1997). Este radical livre é sintetizado via oxidação da L-arginina em L-citrulina pela enzima óxido nítrico sintase (NOS). Existem três formas da NOS: a forma endotelial (eNOS), a neural (nNOS), reguladas pelo cálcio-calmodolina (BREDT et al., 1991; LAMAS et al., 1992) e a induzível (iNOS), regulada por citocinas (LOWENSTEIN et al., 1992). No ovário, já foi verificada a presença das três isoformas (VAN VOORHIS et al., 1995; TAKESUE, et al., 2001; TAO et al., 2004; KIM et al., 2005), estando o NO envolvido na foliculogênese, esteroidogênese, maturação oocitária, ovulação e atresia folicular (ELLMAN et al., 1994; BEN-SHLOMO et al., 1994; CHUN et al., 1995, BASINI et al., 1998; JABLONKA –SHARIFF e OLSON, 1997, JABLONKASHARIFF e OLSON, 2000). O NO já foi demonstrado por ser estimulado pelo FSH em cultura de células da granulosa de suínos (TAKESUE et al., 2001), enquanto em bovinos ainda não existe nenhum estudo que comprove a ação do FSH na síntese de NO. Estudos vêm focando no estabelecimento de um modelo de sistema in vitro que possa refletir a ação de fatores de crescimento, hormônios e sinalizadores intra e extracelulares no desenvolvimento das células da granulosa (GC) in vivo. GUTIERREZ et al. (1997) substituíram o soro fetal bovino, comumente utilizado no cultivo in vitro, pela albumina sérica bovina (BSA). Neste sistema de cultura, as CGs expressam e mantêm a atividade da aromatase que 47 permanece responsiva a concentrações fisiológicas de hormônio folículo estimulante (FSH) e fatores de crescimento. Além disso, as CGs mantêm a forma esférica, como no folículo, e formam agregados celulares ancorados ao fundo da placa por células, que se assemelham ao fibroblasto. A albumina sérica bovina (BSA) mantém a atividade esteroidogênica das CGs, mas é contaminado por testosterona, progesterona (P4) (MINGOTI et al., 2000), colesterol, peptídeos e outros fatores (BRACKETT, 1996; WANG et al., 1997). PICCINATO et al. (2000) substituíram o BSA pelo álcool polivinílico (PVA) na cultura de CGs e obtiveram resultados semelhantes aos de GUTIERREZ et al. (1997). O PVA é uma molécula inerte e foi utilizado em sistemas de cultura de embriões por manter a osmolaridade do meio sem efeito tóxico (BIGGERS et al., 1997, THOMPSON et al., 1998; WRENYCKI, 1999). A manutenção da atividade esteroidogênica é o principal objetivo dos estudos que visam a melhorar o cultivo in vitro das CGs, porém pouco enfoque é dado à contaminação por células sanguíneas provenientes da punção folicular. As CGs são cultivadas juntamente com grande quantidade de hemácias e, possivelmente, macrófagos e outros tipos celulares presentes no sangue. Em humanos (BECKMANN et al., 1991), a contaminação por células sanguíneas diminui a esteroidogênese. Além disso, a hemoglobina se liga ao NO e os macrófagos podem também sintetizar NO quando na presença de lipopolissacarídeos (QUI et al., 2006). Assim, o presente estudo utilizou um sistema de cultivo quimicamente definido (PICCINATO et al., 2002) com algumas modificações, sem a presença de hemácias e macrófagos, para verificar o efeito do FSH na síntese de P4, E2 e NO, viabilidade e proliferação das CGs 48 MATERIAL E MÉTODOS Reagentes A maioria dos reagentes, exceto aqueles especificados, foram obtidos da Sigma Sta Louis, MO, EUA. Obtenção das células da granulosa Ovários de vacas cíclicas foram obtidos semanalmente em abatedouros locais. Após a colheita, foram imediatamente colocados em frascos contendo solução salina e transportados à temperatura ambiente para o laboratório, onde tiveram os restos de tecidos eliminados. Em seguida, os ovários foram lavados com solução salina acrescida de antibiótico e enxaguados brevemente com etanol 70%, sendo novamente lavados (3 vezes) com solução salina. Os folículos pequenos (3 - 5 mm) apresentando 70 % da sua superfície exposta clara e vascularizados (GRIMES et al., 1987) foram puncionados e as CGs antrais aspiradas (ROUILLER et al., 1998) e depositadas em tubos de polietilenoglicol de 15 ml contendo 2 ml de meio base [(Meio Dulbeccos Eagles modificado – Ham´s F12 com Hepes 15 mM; (Gibco, São Paulo - BRL), adicionado de bicarbonato de sódio 10 mM, ; penicilina G 100 UI/ml, e sulfato de estreptomicina 100ug/ml, (Merck, Rio de Janeiro- BRL) acrescido de heparina (50UI) para evitar a formação de grumos. A suspensão de CGs foi filtrada em uma malha para retirar os oócitos e debris celulares. Em seguida, o filtrado foi centrifugado (300 x g/ 10 minutos) à temperatura ambiente e o sobrenadante eliminado. As células foram lavadas (2 vezes) com 1 ml de meio base. Posteriormente, para retirar as hemácias, o precipitado de CGs foi tratado com 300 µl de uma solução de cloreto de amônio 0,9% pré-aquecida (37º C) e 49 incubado por 1 minuto. Em seguida, foi adicionado meio base ao tubo com as CGs até completar o volume de 12 ml, restaurando, assim, a isotonicidade das CGs. As CGs foram centrifugadas (300 x g/ 10 minutos) e o precipitado lavado com meio base. O precipitado de CGs foi ressuspendido em 1 ml de meio base e semeado em discos de cultura de 32 mm de diâmetro contendo 2 ml do mesmo meio. As CGs foram incubadas por 2 h, a 37,5oC em ambiente com atmosfera contendo 5% de CO2 para retirada dos macrófagos (BECKMANN et al., 1991). As CGs não aderidas foram coletadas da placa de cultura, centrifugadas (300 x g/ 10 minutos) e ressuspendidas em 2 ml de meio de cultivo [Meio Dulbeccos Eagles modificado - Hams F12 contendo Hepes 15mM, adicionado de bicarbonato de sódio 10 mM, penicilina G 100U/ml, e sulfato de estreptomicina 100ug/ml; androstenediona, 10-7 M; PVA 0,1%; 1% de MEM aminoácidos não essenciais 100 vezes concentrado e 1% de solução ITS 100 vezes concentrado (selenito de sódio -1,4 ng/ml; transferrina - 5,0 µg /ml; insulina-10ng/ml). A viabilidade e o número de células foram estimados utilizando-se o microscópio invertido (Telaval 31, Zeiss), aumento de 400x, hemocitômetro e o método de exclusão com azul de trypan 0,4%. A viabilidade celular média foi de 70 %. Foram realizados esfregaços da suspensão celular antes e após o tratamento para retirada de hemácias e macrófagos. Após terem sido corados com hematoxilina, foram contadas 100 células com 10 repetições (1000 células totais). Para cada 100 células contadas antes do tratamento para retirada de hemácias e macrófagos foram encontrados, em média, 39,8% (± 7,7) de hemácias, 8,5% (±3) de macrófagos. Após o tratamento, foram encontrados 9% (± 4) de hemácias e 0,4 % de (± 0,5) de macrófagos. Cultura das CGs As células da granulosa antrais (5,0 x 105 células/ml) foram cultivadas em placas de 24 poços contendo meio de cultivo com ou sem FSH (1 ng/ml). Em seguida, as CGs foram incubadas a 37,5oC em ambiente com atmosfera 50 contendo 5% de CO2 A cada 24 h de cultivo, 70% do meio foi substituído por meio fresco contendo os tratamentos. O efeito do FSH foi verificado na viabilidade, proliferação celular e síntese de progesterona (P4), 17β-estradiol (E2) e nitrato/nitrito (NO3-/NO2-) pelas células da granulosa no final de 24, 48, 72, 96 e 120 h de cultivo. Determinação da viabilidade celular No final de cada período de cultura, foi estimada a viabilidade celular usando-se o método MTT. Este ensaio é baseado na habilidade das células vivas com mitocôndrias ativas reduzirem o sal brometo de difeniltetrazolium 3-[4,5dimetiltrazol-2yl]-2,5 - ao produto final azul de formazan (metiltriazole). (MOSMANN, 1983). No final do cultivo 700µl de meio de cultivo foram retirados para realizar as dosagens necessárias, restando apenas 300 µl de meio. Assim, 30 µl de MTT (5mg/ml) foram adicionados em cada poço, e, em seguida, as CGs foram incubadas por 3 h a 37º C. Posteriormente, foram adicionados 300 µl de isopropanol acidificado com HCl (0,04 N) contendo 10 % de Triton X 100 para solubilizar os cristais formados, durante 14-16 h em temperatura ambiente. Após este período, 200 µl da mistura de cor azul foram transferidos para placas de 96 poços. A leitura foi realizada em um espectrofotômetro (Multiskan EX Primary EIA V 2.1-0) com comprimento de onda de 570 nm, com subtração do background (620 nm). A relação entre a absorbância e o número de células foi determinada pela incubação prévia de quantidades conhecidas de células com MTT, criando, assim, uma curva padrão. A relação entre a absorbância e o número de células foi linear (R2=0,99; P<0,05). Proliferação celular Para determinar o efeito do FSH na proliferação das CGs antrais (fase S + G2/M do ciclo celular), foi realizada citometria de fluxo (BLONDIN et al., 1996). As 51 CGs foram coletadas após a incubação com 1 ml de PBS Ca++ Mg++ e EDTA (125 mg/l) por 10 minutos e centrifugadas a 400g a 4º C por 5 minutos. O sobrenadante foi removido e o precipitado foi ressuspendido em 500 ul de PBS Ca++ Mg++. As CGs foram fixadas por no mínimo, 1 hora a 4º C com 1 ml de etanol absoluto gota a gota durante agitação em vortex. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas e o precipitado ressuspendido com 500 µl de etanol 70% e estocadas a – 20º C até o dia da análise por citometria de fluxo. Antes das análises, as CGs foram centrifugadas e o sobrenadante descartado. O precipitado foi lavado duas vezes com PBS (400g a 4º C por 5 minutos). As CGs foram ressuspendidas com 1ml de PBS contendo 50 µg/ml de ribonuclease (RNAse, Merck, Rio de Janeiro-BRL) e incubadas por 30 minutos a 37 oC. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas a 400g a 4º C por 5 minutos e o precipitado ressuspendido com PBS acrescido de iodeto de propídio (50 µg/ml) e incubadas por 30 minutos a 0o C. As amostras foram filtradas em filtro de 40µm de diâmetro e lidas no comprimento de 540 nm (Analisador PARTEC PA). Os dados foram derivados de histogramas do DNA analisados pela citometria de fluxo. A percentagem de células em estádio G0/G1(diplóides), S (síntese de DNA) e G2/M (tetraplóide) do ciclo celular e percentagens de células contendo níveis subdiplóides de DNA (DNA fragmentado) foram calculados utilizando – se um software DPAC. Dosagens hormonais No final de cada período de tempo, o meio de cultura foi coletado e armazenado a -20oC para dosagem de E2 e P4 pelo sistema automatizado de quimioluminescência ACS:180®. O teste é um imunoensaio competitivo que usa tecnologia quimioluminescente direta. O anticorpo anti-P4 e anti-E2 monoclonal é marcado com éster de acridina. A curva de P4 variou de 0,86 a 29,80 ng/ml e a de E2 de 88 a 785 pg/ml. Amostras de meio de cultivo das CGs foram utilizadas sem diluição e com diluições (1/40 e 1/400) e o hormônio mensurado. A média do 52 coeficiente de variação foi de 1,6 % e 3 % para e progesterona e 17β-estradiol respectivamente. Dosagem de nitrato/nitrito (NO3- / NO2-) A concentração de NO3- / NO2- (µM) foi mensurada utilizando-se o método colorimétrico de Griess (RICART-JANÉ et al., 2002). O reagente de Griess é composto de uma mistura de sulfanilamida 2% e N-(1-naphthyl) ethylene-diamine 0,2% em água Milii Q. A primeira reação na amostra ocorre com o nitrito para formar o sal diazonium que reage com o segundo reagente para formar a cor púrpura com um pico de absorbância a 540 nm. Para reduzir o nitrato a nitrito, as amostras (40 µl) foram incubadas com 40 µl de uma mistura contendo 1000 µl da enzima nitrato redutase oriunda de bactéria [100 µl da enzima (10 UI diluída em 500 µl de água Milli Q) diluída em 900 µl de água Milli Q], 1000 µl do cofator NADPH (5mg/ml diluído em água Milli Q) e 1000 µl de tampão fosfato de potássio (0,5 M). As amostras foram incubadas a 37 oC por 14-16 horas. Posteriormente, 80 µl do reagente de Griess foram adicionados às amostras. O método foi desempenhado em placa de 96 poços. Todas as soluções foram protegidas da luz. Uma curva padrão de nitrito de sódio diluída em DMEM/Ham`s-F12 contendo valores conhecidos de nitrito foi realizada, onde o valor mínimo de nitrito foi de 0,5 µM e o máximo de 100µM. Com os valores da absorbância foi montado um gráfico de dispersão. A relação entre a absorbância e a concentração de NO3- / NO2- foi linear (R2=0,98; P<0,05). Análise estatística O experimento foi repetido duas vezes e cada tratamento constou de duas repetições por experimento. Foi aplicada uma análise de regressão polinomial para verificar a viabilidade celular, proliferação celular e concentração de P4, E2, NO3-/NO2- ao longo do tempo, com respectivo teste de significância de 53 5% e coeficiente de determinação (R2). Foi realizada uma ANOVA com um fator. As médias foram comparadas por teste de Tukey (<0,05). O programa utilizado foi SAS (Statistical Analysis System). Além disso, a correlação de Pearson (P<0,05) foi utilizada para verificar correlação entre as variáveis P4, E2, NO2- / NO-3, viabilidade celular e proliferação celular. Os dados estão representados como médias ± desvio padrão. RESULTADOS Características morfológicas das células da granulosa cultivadas com ou sem FSH ao longo de 120 h de cultivo As CGs mantiveram a característica arredondada como in vivo (Figura 1), formaram vários e pequenos grumos celulares no final de 24 h nos dois grupos. Estes grumos celulares aumentaram de tamanho ao longo do tempo, formando grumos maiores e ancorados ao fundo da placa de cultura por células de aparência semelhante a de um fibroblasto. No final de 48 h, as CGs cultivadas com FSH pareciam ter seu tamanho aumentado em relação ao controle. Após 96 e 120 h de cultivo, as CGs cultivadas com FSH ficaram mais achatadas e havia formação de gotas de aspecto gorduroso no fundo da placa. Viabilidade celular A viabilidade das CGs cultivadas sem FSH (controle) aumentou (P<0,05) no final de 48 h (9,8 x 105 ± 0,7 células) e 120 h (8,9 x 105 ± 0,6 células) de cultivo em relação aos demais períodos de cultivo (Tabela 1), enquanto a viabilidade das CGs cultivadas com FSH (Tabela 1) diminuiu (P<0,05) às 96 h (7,0 x 105 ± 0,7 células) e aumentou (P<0,05) às 120 h (8,7 x 105 ± 0,6 células). A regressão foi 54 linear significativa (R2= 0,94, P<0,0001 e R2= 0,67, P<0,001 para CGs cultivadas sem FSH ou com FSH, respectivamente). A viabilidade das CGs cultivadas sem FSH (9,8 x 105 ± 0,7 células) foi maior (P<0,05) comparada à das CGs cultivadas com FSH (7,1 x 105 ± 0,6 células) no final de 48h, enquanto nos demais períodos de cultivo não houve diferença (P>0,05) na viabilidade celular entre os dois grupos (Tabela 1 ). Proliferação celular A maioria das CGs encontrou-se na fase G0/G1 (estádio diplóide de DNA) do ciclo celular nos dois grupos. A percentagem de CGs na fase S+G2/M (mitose) foi maior (R2= 0,55, P<0,05) no final de 48 h (27, 0 ± 2,0 %) e 72 h (25,4 ± 1,0 %) do que nos demais períodos, quando as CGs foram cultivadas sem FSH (Figura 2). O FSH aumentou (R2= 0,13, P>0,05) a percentagem de CGs na fase S+G2/M somente no final de 48 h (41,1 % ± 1,5) comparada aos demais períodos de cultivo e também com as CGs cultivadas sem FSH (27, 0 ± 2,0 %) (Figura 2). Porém, após 72h, a percentagem de CGs na fase S+G2/M cultivadas sem FSH (25,4 ± 1,0 %) foi maior (P<0,05) comparada às CGs cultivadas com FSH (14,75 ± 0,8 %). Nos demais períodos de cultivo, não houve diferença (P>0,05) entre os dois grupos de tratamento (Figura 2). A percentagem de CGs com níveis sub-diplóides de DNA foi inferior a 5 % para CGs cultivadas para os dois grupos ao longo de todo o cultivo. Síntese de P4. A síntese de P4 pelas CGs cultivadas sem FSH aumentou (P<0,05) às 72 h (529,9 ± 109 ng/ml), mantendo-se elevada até 96 h (673,9 ± 6,5 ng/ml) e diminuiu (P<0,05) às 120h (380,8±89,1ng/ml). Não houve variação (P>0,05) na síntese de P4 quando as CGs foram cultivadas com FSH ao longo de 120 h. A regressão foi linear significativa (R2= 0,83; P<0,0001 e R2= 0,50; P<0,01) para 55 CGs cultivadas com ou sem FSH, respectivamente. A síntese de P4 pelas CGs cultivadas com ou sem FSH (controle) não diferiu até 48 h (407,0 ± 104 ng/ml; 316,4 ± 60ng/ml, respectivamente). Ao final de 72 h e 96 h, a síntese de P4 pelas CGs cultivadas com FSH (347,4 ± 24 ng/ml; 324, 1 ± 118 ng/ml, respectivamente) foi menor (P<0,05) do que a síntese de P4 pelas CGs cultivadas sem FSH (529,9 ± 109 ng/ml; 673,3 ± 6,5 ng/ml, respectivamente) (Tabela 2). Síntese de E2 A síntese de E2 pelas CGs cultivadas sem FSH (controle) aumentou (P<0,05) até 72 h (24,5 ± 0,3 ng/ml) e se manteve até 120 h (23,9 ± 2,1 ng/ml) de cultivo, enquanto que, com FSH, a síntese de E2 diminuiu (P<0,05) no final de 48 h (0,72 ± 0,1 ng/ml) e manteve – se baixa até o final do cultivo. A regressão foi linear significativa (R2= 0,94, P<0,0001 e R2= 0,63, P<0,005) para CGs cultivadas sem ou com FSH, respectivamente. O FSH aumentou (P<0,05) a síntese de E2 às 24 h (3,2 ± 0,003 ng/ml) e depois diminuiu nos demais períodos de tempo em relação ao controle (Tabela 3). Síntese de NO3- / NO2A síntese de NO2- / NO3- sem ou com FSH não variou ao longo do tempo (R2= 0,40, P>0,05 e R2= 0,22, P>0,01, respectivamente) e nem diferiu (P>0,05) entre os grupos (Tabela 4). Relação entre a síntese de P4 e E2, NO3- / NO2-, viabilidade e proliferação celular A síntese de P4 foi correlacionada positivamente com a síntese de E2 pelas CGs (0,32, P<0,05). A síntese de P4 foi correlacionada positivamente com a proliferação celular (0,45, P<0,005). Embora não tenha sido significativo, a síntese 56 de E2 foi correlacionada negativamente com a proliferação celular (- 0,07, P>0,6). As demais correlações não foram significativas (P>0,05). Tabela 1 Número de células da granulosa viáveis (x 105 ) de folículos de 3-5mm de diâmetro cultivadas sem (controle) ou com FSH ao longo de 120 h. Tratamento 24h 48h 72h 96h 120h Controle 7,3 ±0,7 aA 9,8 ±0,7bA 7,31 ±0,3aA 7,0 ±0,8aA 8,9 ±0,6aA FSH 8,2 ±0,4abA 7,1 ±0,3bcB 7,6 ±0,6bcA 7,0 ±0,7cA 8,7 ±0,6aA ab Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. AB Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Cada valor representa média ± desvio padrão independentes com duas repetições por tratamento. de dois experimentos 57 Tabela 2 Concentração de progesterona (ng/ml) sintetizada pelas CGs antrais cultivadas sem (controle) ou com FSH (1ng/ml) no final de cada período de tempo. Tratamento 24 h 48 h 72 h 96 h 120 h Controle 174,8±22aA 316,3±60abA 529,9±109cdA 673,3±6,5dA 380,8±89cdA FSH 249,8±44aA 407,0±104aA 347,4±24aB 324,1±118aB 437,4±86aA abcd Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. AB Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Cada valor representa média ± desvio padrão de experimentos independentes com duas repetições por tratamento 58 Sem FSH Com FSH a b c d e f 96h g h 120h i j 24h 48 h 72h Figura 1 Células da granulosa antrais de folículos de 3-5 mm de diâmetro cultivadas sem FSH (a, c, e, g, i) ou com FSH (b, d, f, h, j), aumento de 400 x no final de 24, 48, 72, 98 e 120 h de cultura. % de células proliferativas (S+G2/M) 59 c 45 40 b 35 b 30 25 20 a a a a a a a Seqüência1 Sem FSH Com FSH Seqüência2 15 10 5 0 24 48 72 96 120 Período de cultivo (horas) Figura 2: Percentagem (%) de células da granulosa antrais de folículos de 3-5 mm de diâmetro em estádio proliferativo (S+G2/M) sem ou com FSH (1ng/ml) no final de cada período de cultivo analisado por citometria de fluxo. Médias com letras diferentes indicam diferença estatística de um mesmo tratamento ao longo cultivo e de tratamentos diferentes no final de cada período cultivo (P<0,05). Cada valor representa média ± desvio padrão de independentes com 2 repetições por tratamento. . dois experimentos 60 Tabela 3 Concentração de 17 β-estradiol (ng/ml) sintetizada pelas CGs antrais de folículos de 3-5 mm de diâmetro cultivadas sem (controle) ou com FSH (1ng/ml) no final de cada período de tempo. Tratamento abc 24 h 48 h aA Controle 2,0 ± 0,3 FSH 3,2 ± 0,003 aB 72 h bA 8,6 ± 0,9 bB 0,72 ± 0,1 96 h cA 26,46 ± 3,7 cA 23,85 ± 2,1 cA bB 0,52 ± 0,06 bB 0,38 ± 0,07 bB 24,49 ± 2,2 0,42 ± 0,07 120 h Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. AB Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Cada valor representa média ± desvio padrão de experimentos independentes com duas repetições por tratamento 61 Tabela 4 Concentração de NO3- / NO2- (µM) sintetizada células da granulosa antrais (n x 105) cultivadas sem (controle) ou com FSH (1ng/ml) ao longo do tempo e no final de cada período de tempo Tratamento 24 h 48 h 72 h 96 h 120 h Controle 1,89 ±0,56ªA 2,40 ±1ªA 2,74 ±0,5ªA 2,98 ± 0,91ªA 1,83 ±0,37ªA FSH 1,74 ±0,7ªA 2,19 ±0,6ªA 1,59 ±0,9ªA 2,70 ±0,4ªA 2,46 ±0,7ªA a Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. A Médias acompanhadas de letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Cada valor representa média ± desvio padrão de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento DISCUSSÃO O sistema de cultivo utilizado no presente estudo, no qual o BSA foi substituído pelo PVA, aumentou a síntese de esteróides (P4 e E2) ao longo do cultivo pelas células da granulosa como descrito por GUTIERREZ et al. (1997) em sistema de cultivo com BSA e confirmam os resultados de PICCINATO et al. (2000), que, ao substituírem BSA pelo PVA no cultivo de CGs de bovinos, verificaram também o aumento da síntese de esteróides ao longo do cultivo. As CGs conservaram a forma arredondada, formando agregados celulares, mantendo as características de células da granulosa de um folículo saudável e funcional. Portanto, este sistema de cultivo pode ser utilizado para estudos que visam a melhor compreender os fatores reguladores da esteroidogênese ovariana, visto 62 que a síntese de esteróides é a principal atividade das células da granulosa, sendo utilizada como uma forma de predizer o destino do folículo, se este irá sofrer atresia ou luteinização (HSUEH et al., 1994; JOLLY et al., 1994). O PVA é uma macromolécula sintética não protéica que pode substituir o BSA (BIGGERS et al., 1997; PICCINATO et al., 2000). O BSA também é uma macromolécula utilizada nos sistemas de cultura como fonte de aminoácidos, entretanto é um produto quimicamente muito variável, pois a sua composição depende do grau de como as pequenas moléculas permanecem ligadas à macromolécula durante o seu preparo. Assim, o seu efeito no cultivo também é muito variável (MCKIERNAN e BAVINSTER, 1992). Além disso, o BSA também é contaminado com testosterona e progesterona e a suplementação do meio de cultura contendo BSA com um destes hormônios poderia inibir a síntese de E2 pelas CGs (MINGOTI et al., 2002). A substituição do BSA pelo PVA, com adição de aminoácidos e fatores de crescimento, mantém a atividade esteroidogênica e as características morfológicas das células da granulosa de um folículo estrógeno ativo (PICCINATO et al., 2000). PICCINATO et al. (2000) demonstraram, por meio de microscopia eletrônica, que as CGs cultivadas em meio de cultivo livre de soro fetal contendo PVA e insulina mantêm a forma poliédrica, presença de gotas lipídicas, alta relação núcleo/citoplasma, abundantes ribossomos e mitocôndrias com cristas trabeculares. Estas características são as mesmas descritas por GUTIERREZ et al (1997), em sistema de cultivo contendo BSA e insulina Os resultados demonstraram que a adição de FSH na concentração de 1ng/ml a cada 24 h, manteve a síntese de P4 sem variações ao longo do cultivo, entretanto a síntese de E2 só foi estimulada até 24 h de cultivo com uma diminuição considerável na sua síntese após 48 h de cultivo comparada às CGs cultivadas sem FSH. GUTIERREZ et al. (1997) demonstraram que a adição de FSH, na concentração de 1 ng/ml, a um sistema de cultivo contendo 10ng/ml de insulina, semelhante ao presente experimento, aumenta a síntese de E2 pelas CGs obtidas de folículos < 4mm, entretanto este mesmo tratamento possui pouco efeito positivo sobre a síntese de E2 de folículos médios (4-8 mm) e grandes (>8mm). ROULLIER et al. (1998) demonstraram que a produção de E2 pode ser aumentada 63 pelo FSH no final do cultivo da CGs, quando estas são cultivadas inicialmente sob condições mínimas de FSH (0,5ng/ml) e depois expostas à concentrações maiores de FSH, enquanto que sob estas condições ocorre uma diminuição da síntese de P4. Entretanto, a exposição das CGS ao FSH em doses crônicas aumenta a síntese de P4, e diminui a síntese de E2 pelas CGs de folículos > 8mm, sugerindo uma luteinização das CGs. Adicional a estes resultados, GONG et al. (1994) verificaram que a combinação do FSH com insulina estimula o aumento da síntese de E2,de uma maneira dose-dependente, em cultivo de CGs de folículos pequenos, médios e grandes. O FSH, quando utilizado sob condições de estimulação crônica ou em altas concentrações, diminui a produção de E2, tendo em vista que a constante exposição das CGs ao FSH regula negativamente os receptores para FSH (BERNDTSON et al., 1995; MINEGISHI et al., 1995; ROUILLER et al., 1996). Embora, no presente estudo, não tenha sido utilizado FSH em concentração elevada (10 ng/ml), a adição deste desde o início do cultivo pode ter favorecido uma rápida diminuição do E2. Esta diminuição não parece ser uma conseqüência da diminuição da viabilidade celular, embora esta tenha sido menor no final de 48 h de cultivo em relação às CGs cultivadas sem FSH. De uma forma geral, a viabilidade das CGs cultivadas com FSH se manteve semelhante à das CGs cultivadas sem FSH ao longo de 120 h. Contudo, o aumento da proliferação das CGs no final de 48h de cultivo quando estas foram estimuladas pelo FSH pode ter sido o causador da diminuição de E2, embora não tenha sido significativo, a síntese de E2 foi correlacionada negativamente com a proliferação celular. Como em ratas imaturas, ORLY et al. (1980) demonstraram, em sistema de livre de soro, que as CGs perdem a capacidade esteroidogênica induzida pelo FSH durante o aumento da proliferação celular. Como verificado no presente estudo, a síntese de P4 estimulada pelo FSH não mudou ao longo do tempo, entretanto, no final de 72 h e 96 h ela foi menor que a síntese de P4 pelas CGs cultivadas sem FSH e foi correlacionada positivamente com a proliferação celular. As CGs se diferenciam durante o cultivo in vitro mudando de estrógeno ativa para células produtoras de P4 (SKINNER e 64 OSTEEN, 1988). Entretanto, o aumento de P4 observado pelas CGs ao longo da cultura não significa que as CGs tenham se luteinizado, visto que as mesmas não mudaram sua forma esférica, encontrada em folículo estrógeno ativo. No modelo 2 células/2 hormônios (FORTUNE et al., 1994), as CGs sintetizam a P4 que irá servir como precursora da síntese de andrógenos pelas células da teca. No final do crescimento folicular, a atividade da P450 aromatase é modulada pela disponibilidade de andrógenos que aumenta de forma crescente até ocorrer o pico pré-ovulatório. Neste sistema de cultivo, o acúmulo de P4 se deve à não-utilização desta como substrato, tendo em vista a ausência das células da teca. O FSH pode estimular diferentes vias de transdução de sinais por meio da ligação com seu receptor. A via clássica de estimulação da síntese de esteróides pelo FSH é a via AMPc pela ativação da adenilato ciclase e aumento da proteína quinase A (LEUNG et al., 1992). Uma outra via independente do AMPc envolve a ativação da fosfolipase C (PLC) pelo FSH, que aumenta a síntese do 1,4,5 inositol tri-fosfato, que, por sua vez, aumenta a concentração de Ca++ intracelular (QUINTANA et al., 1994). Em camundongos (LEUNG et al., 1992), esse aumento do Ca++ intracelular inibe a produção de AMPc estimulada pela adenilato ciclase e portanto esta via tem impacto negativo sobre a síntese se esteróides. Assim, é possível que o FSH tenha atuado via fosfolipase C/proteína quinase C para inibir a síntese de E2, e portanto, esta via merece ser investigada em outros estudos. A síntese de NO ao longo do tempo tanto nas CGs cultivadas sem ou com FSH, na concentração de 1ng/ml não variou. Estes resultados sugerem que embora a enzima NOS esteja presente nas CGs antrais de bovinos, visto que as mesmas sintetizam NO, o FSH não foi capaz de aumentar a síntese de NO, pelo menos na concentração conhecida por ser fisiológica (GUTIERREZ et al.,1997). O envolvimento do NO na diferenciação celular e a estimulação da sua síntese por gonadotrofinas já foi descrito em suínos (HATTORI et al., 1996; NISHIDA et al., 2000; TAKESUE et al., 2001). O FSH em concentrações mais elevadas (10 ng/ml) estimula a síntese do NO e seu 2º mensageiro, GMPc, após 48 h de cultivo, que coincidi com o aumento da expressão do receptor para LH (TAKESUE et al., 2001). Deve ser ressaltado que o FSH na concentração de 10 ng/ml, considerada 65 elevada, vem sendo relacionada com a luteinização das CGs. Como verificado no presente estudo, as características morfológicas de CGs esteroidogenicamente ativas foram preservadas quando estas foram cultivadas com 1 ng/ml de FSH, sugerindo que elas não se luteinizaram. Mais estudos devem ser realizados para avaliar o possível envolvimento do NO no processo de diferenciação das CGs induzido pelo FSH. CONCLUSÕES Estes resultados permitem concluir que a substituição do BSA pelo PVA não altera a viabilidade e proliferação das CGs e nem as características morfológicas e esteroidogênicas das CGs demonstradas por GUTIERREZ et al. (1998), podendo ser utilizada como meio de cultivo quimicamente definido para verificar os efeitos de diversos fatores envolvidos na regulação da eteroiodogênese das CGs, como foi verificado no presente estudo, no qual foi demonstrado um efeito negativo da adição do FSH, de forma crônica, sobre a síntese de E2, confirmando seu papel na diferenciação das CGs. 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EFEITO DO ÓXIDO NÍTRICO NA VIABILIDADE, PROLIFERAÇÃO E ESTEROIDOGÊNESE DURANTE O CULTIVO DAS CÉLULAS DA GRANULOSA ANTRAIS DE FOLÍCULOS PEQUENOS EM MEIO DE CULTURA QUIMICAMENTE DEFINIDO RESUMO O presente experimento objetivou verificar o efeito do óxido nítrico (NO) na viabilidade, proliferação e esteroidogênese das CGs antrais não diferenciadas em meio de cultivo quimicamente definido mantenedor da atividade aromatase. As CGs de folículos de 3-5 mm de diâmetro foram cultivadas por 24, 48, 72, 96 e 120h com 0, 10-9, 10-7 e 10-5 M de SNP (nitroprussiato de sódio), um doador de NO. No final de cada período de tempo de cultivo, foram avaliadas a viabilidade e ciclo celular pelo método do MTT e citometria de fluxo, respectivamente, concentração de progesterona (P4) e 17βestradiol (E2) por quimioluminescência e nitrato/nitrito (NO3- / NO2-) pelo método de Griess. A concentração mais elevada de SNP (10-5M) liberou mais (P<0,05) NO3- / NO2no meio de cultivo (P<0,05), entretanto, todos os tratamentos com SNP foram efetivos em aumentar a viabilidade celular. Todos os tratamentos com SNP inibiram a síntese de P4 (P<0,05) ao longo de 120 h de cultivo, enquanto a síntese de síntese de E2 foi estimulada até as 24 h (P<0,05) e inibida (P<0,05) após 48h de cultivo. A concentração de E2 apresentou uma correlação negativa com a proliferação celular (P<0,001), enquanto que a concentração de NO apresentou uma correlação positiva com a proliferação (P<0,0001) e viabilidade celular (P<0,01). Estes resultados sugerem que o NO pode estar envolvido na progressão das CGs antrais no ciclo celular e regulação da esteroidogênese, estando envolvido no processo de diferenciação das CGs antrais de folículos pequenos em bovinos. Palavras - chave: óxido nítrico, células da granulosa, bovino, esteroidogênese, proliferação celular 72 ABSTRACT The work aimed to verify the effect of nitric oxide (NO) on undifferentiated antral granulosa cells viability, proliferation and steroidogenesis using chemically defined culture medium to maintain aromatase activity. The antral GCs of folicles 3-5 mm were cultured for 24, 48, 72, 96 and 120h with 0, 10-9, 10-7 and 10-5 M SNP (sodium nitroprusside), a NO donor. In the end of each period of culture, were evaluated cell viability and proliferation by MTT method and flow cytometry, respectively, progesterone (P4) and oestradiol 17β (E2) concentration by chemiluminescence and nitrate / nitrite (NO3-/NO2-) by Greiss method. 10-5M SNP released more (p<0.05) NO in the medium of culture (p<0.05). All the treatments with SNP increased (p<0.05) cell viability and proliferation at 120 h and inhibited P4 (p<0.05), while E2 was stimulated at 24 h (p<0.05) and inhibited (p<0.05) after 48h. E2 was negatively correlated with cell proliferation (p<0.001), while NO3- / NO2- was positively correlated with cell proliferation (p<0.0001) and viability (p<0.01). These results suggest that NO can be involved on cellular cycle progression of antral GCs and steroidogenesis, being involved in the process of antral granulosa cells differentiation of bovine small follicles. Key words: nitric oxide, granulosa cells, bovine, steroidogenesis, cell proliferation INTRODUÇÃO O óxido nítrico (NO) é um radical livre na forma de gás altamente reativo e lipossolúvel e seu efeito vem sendo demonstrado em muitas funções celulares, principalmente na transdução de sinais intra e extracelulares. Assim, a ausência ou inadequada produção/liberação de NO pode levar a várias condições patológicas (LIU et al., 1998). 73 A síntese do NO é catalisada pela enzima óxido nítrico sintase (NOS) e envolve a oxidação da L-arginina, formando L-citrulina e NO (MCDONALD e MURAD, 1996). Existem duas isoformas da enzima óxido nítrico sintase: a constitutiva (cNOS), encontrada no endotélio vascular (eNOS) e no cérebro (nNOS) (BREDT et al., 1991; LAMAS et al., 1992) e a induzível (iNOS), presente nos macrófagos (MONCADA et al., 1991; SESSA, 1994). Mais recentemente, foi identificada a isoforma mitocondrial (mtNOS) (GIULIVI et al., 1998; GHAFOURIFAR et al., 1999). As isoformas cNOS sintetizam NO em pequena quantidade por curto período de tempo requerendo cálcio e calmodulina para sua atividade, enquanto citocinas e endotoxinas estimulam a iNOS a sintetizar NO em grande quantidade e por longo período de tempo (HEVEL et al.,1992). O NO também é sintetizado pelo ovário e vem sendo demonstrado como um importante modulador da fisiologia reprodutiva, incluindo: esteroidogênese (VAN VOORHIS et al., 1994; BASINI et al., 1998), apoptose das células da granulosa (CHUN et al., 1995; PONDERATO et al. 2000), ovulação (HEFLER et al., 2002), maturação oocitária (JABLONKA–SHERIFF, 2000; MATTA et al., 2001, MATTA et al., 2002; TAO et al., 2005; VIANA et al., 2005) e desenvolvimento embrionário (NISHIKIMI et al., 2001; ORSI et al., 2006) Estudos vêm demonstrando que o sistema NO/NOS está localizado nas CGs e que o NO inibe a esteroidogênese (BASINI et al., 1998, BASINI et al., 2000a, BASINI et al., 2000b) por inibição da P450 aromatase nas células da granulosa de ratas (VAN VOORHIS et al., 1995). Em bovinos, estudos sobre o efeito do NO nas CGs oriundas de folículos pequenos (<5mm) e grandes (>8mm) foram, inicialmente, realizados em sistemas de cultura contendo soro fetal bovino (SFB) (BASINI et al., 1998), que induz a luteinização das CGs (GUTIERREZ et al., 1997). Posteriormente, BASINI et al. (2000a), para avaliar a via utilizada para o NO exercer seus efeitos inibitórios sobre a síntese de E2, substituiram o SFB pelo BSA, confirmando seus achados iniciais. O BSA, comumente utilizado nos sistemas de cultivo, é contaminado com várias moléculas definidas e não definidas, assim como colesterol, peptídeos, 74 hormônios esteróides e outros (WANG et al., 1997; MINGOTI et al., 2002). PICCINATO et al. (2000) substituíram BSA 0,1% por álcool polivinílico 0,1% (PVA) e observaram que as CGs mantiveram as mesmas características esteroidogênicas, quando cultivadas com BSA. Assim, o presente estudo utilizou o modelo de cultivo quimicamente definido por PICCINATO et al. (2000) com algumas modificações, para investigar o papel do NO na viabilidade, proliferação celular (fase S+G2/M do ciclo celular) e esteroidogênese das CGs de folículos de 3-5 mm de bovinos. MATERIAL E MÉTODOS Reagentes A maioria dos reagentes, exceto aqueles especificados, foram obtidos da Sigma (Sta Louis, MO, EUA). Obtenção das células da granulosa Ovários de vacas cíclicas foram obtidos em abatedouros locais e transportados imediatamente em solução salina estéril (NaCl 0,9%) acrescida de antibióticos [(100 IU/ml de penicilamina e 100 µg/ml de sulfato de estreptomicina (Merck, Rio de JaneiroBRL)] e transportados para o laboratório, onde tiveram os restos de tecidos eliminados. Os ovários foram lavados com solução salina acrescida de antibióticos e enxaguados brevemente com etanol 70% e, posteriormente, lavados (3 vezes) com solução salina acrescida de antibióticos. Os folículos pequenos (3 - 5 mm) apresentando 70 % da sua superfície exposta clara e vascularizados (GRIMES et al., 1987) foram puncionados e as CGs antrais aspiradas (ROUILLER et al., 1998) e depositadas em tubos de polietilenoglicol de 15 ml contendo 2 ml de meio base[(Meio Dulbeccos Eagles modificado – Ham´s F12 com Hepes 15 mM; (Gibco, São Paulo-BRL), adicionado de bicarbonato de sódio 10 mM, ; 75 100 UI/ml penicilina G, e sulfato de 100ug/ml estreptomicina)] e acrescido de heparina 50UI para evitar a formação de grumos. A suspensão de CGs foi filtrada em uma malha para retirar os oócitos e debris celulares. Em seguida, o filtrado foi centrifugado (300 x g/ 10 min) à temperatura ambiente, o sobrenadante descartado e as células lavadas (2 vezes) com 1 ml de meio base. Tendo em vista que as hemácias se ligam ao NO (MCMAHON, 2002) e que os macrófagos podem sintetizar NO, e que ao puncionar as CGs, estas vêm com células sanguíneas devido à ruptura de pequenos vasos sanguíneos, foram realizados dois procedimentos com o objetivo de remover estas células. Para retirada das hemácias, o precipitado de CGs foi tratado com 300 µl de uma solução de cloreto de amônio 0,9% pré-aquecida (37º C) e incubado por 1 minuto. Em seguida, foi adicionado meio base ao tubo com as CGs até completar o volume de 12 ml, restaurando, assim, a isotonicidade das CGs. As CGs foram centrifugadas (300 x g/ 10 min) e o precipitado lavado com meio base. O precipitado de CGs foi ressuspendido em 1 ml de meio base e semeado em discos de cultura de 32 mm de diâmetro contendo 2 ml do mesmo meio. As CGs foram incubadas por 2 h a 37,5oC em ambiente com atmosfera contendo 5% de CO2 para retirada dos macrófagos, uma vez que estes aderem facilmente ao fundo da placa de cultivo (BECKMANN et al., 1991). As CGs não aderidas foram coletadas da placa de cultura, centrifugadas (300 x g/ 10 min) e ressuspendidas em 2 ml de meio de cultivo [Meio Dulbeccos Eagles modificado - Hams F12 contendo Hepes 15mM, adicionado de bicarbonato de sódio 10 mM, penicilina G 100U/ml, e sulfato de estreptomicina 100µg/ml; androstenediona, 10-7 M; PVA 0,1%; 1% de MEM aminoácidos não essenciais 100 % e 1% de solução ITS 100 % (selenito de sódio -1,4 ng/ml; transferrina - 5,0 µg /ml; insulina-10ng/ml)]. A viabilidade e o número de células foram estimados utilizando-se o microscópio invertido (400 x, Telaval 31, Zeiss), hemocitômetro e o método de exclusão com azul de trypan 0,4%. A viabilidade celular média foi de 67,4 %. Foram realizados esfregaços da suspensão celular antes e após o tratamento para retirada de hemácias e macrófagos. Após terem sido corados com hematoxilina, foram contadas 100 células com 10 repetições (1000 células totais). Para cada 100 76 células contadas antes do tratamento para retirada de hemácias e macrófagos foram encontradas, em média, 39,8 ± 7,7% de hemácias e 8,5 ±3 % de macrófagos. Após o tratamento foram encontrados 9 ± 4 % de hemácias e 0,4 ± 0,5 % de macrófagos. Delineamento experimental As CGs foram cultivadas com 0 (controle), 10-9, 10-7 e 10-5 M de SNP, em meio de cultura quimicamente definido, por 24, 48, 72, 96 e 120 h. No final de cada período, foi avaliado a concentração de (NO3-/NO2-) e o efeito dose resposta do SNP sobre a viabilidade, proliferação celular e síntese de progesterona (P4) e 17βestradiol (E2) Cultura das CGs Foram adicionadas 5,0 x 105 CGs antrais de folículos de 3-5mm em placas de 24 poços e o volume completado para 1000 µl de meio de cultura contendo os tratamentos com SNP. Em seguida, as CGs foram incubadas a 37,5oC em ambiente com atmosfera contendo 5% de CO2. A cada 24 h de cultivo, 70% do meio foi substituído por meio fresco contendo os tratamentos. Determinação da viabilidade celular O efeito do NO na viabilidade celular foi verificado no final de cada período de cultura por meio do método MTT. Este ensaio é baseado na habilidade das células vivas com mitocôndrias ativas reduzirem o sal brometo de difeniltetrazolium 3-[4,5dimetiltrazol-2yl]-2,5 - ao produto final azul de formazan (metiltriazole). (MOSMANN, 1993). No final do cultivo, 700µl de meio de cultivo foram retirados para realizar as dosagens necessárias, restando apenas 300 µl de meio. Assim, 30 µl de MTT (5mg/ml) foram adicionados em cada poço e, em seguida, as CGs foram incubadas por 3 h a 37º C. Posteriormente, foram adicionados 300 µl de isopropanol acidificado 77 com HCl (0,04 N) contendo 10 % de Triton X 100 para solubilizar os cristais formados por 14-16 h em temperatura ambiente. Após este período, 200 µl da mistura de cor azul foram transferidos para placas de 96 poços. A leitura foi realizada em um espectrofotômetro (Multiskan EX Primary EIA V 2.1-0) com comprimento de onda de 570 nm, com subtração do background (620 nm). A relação entre a absorbância e o número de células foi determinada pela incubação prévia de quantidades conhecidas de células com MTT, criando assim, uma curva padrão. A relação entre a absorbância e número de células foi linear (R2=0,99; P<0,05). Proliferação celular Para determinar o efeito do NO na proliferação das CGs antrais (fase S + G2/M do ciclo celular), foi realizada citometria de fluxo (BLONDIN et al., 1996). As CGs foram coletadas após a incubação com 1 ml de PBS Ca++ Mg++ e EDTA (125 mg/l) por 10 min e centrifugadas a 400 g a 4 ºC por 5 min. O sobrenadante foi removido e o precipitado foi ressuspendido em 500µl de PBS Ca++ Mg++. As CGs foram fixadas por, no mínimo, 1 h a 4ºC com 1 ml de etanol absoluto gota a gota durante agitação em vortex. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas e o precipitado ressuspendido com 500µl de etanol 70% e estocadas a -20 ºC até o dia da análise por citometria de fluxo. Antes das análises, as CGs foram centrifugadas e o sobrenadante descartado. O precipitado foi lavado duas vezes com PBS (400 g a 4 ºC por 5 min). As CGs foram ressuspendidas com 1ml de PBS contendo 50 µg/ml de ribonuclease (RNAse, Merck Rio de Janeiro-BRL) e incubadas por 30 min a 37 oC. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas a 400 g a 4 ºC por 5 min e o precipitado ressuspendido com PBS acrescido de iodeto de propídio (50 µg/ml) e incubadas por 30 min a 0o C. As amostras foram filtradas em filtro de 40µm e lidas no comprimento de 540nm (Analisador PARTEC PA). Os dados foram derivados de histogramas do DNA analisados pela citometria de fluxo. A percentagem de células em estádio G0/G1 (diplóides), S (síntese de DNA) e G2/M (tetraplóide) do ciclo celular e percentagens de células contendo níveis sub-diplóides de DNA (DNA fragmentado) foram calculados utilizando-se um software DPAC. 78 Dosagens hormonais No final de cada período de tempo, o meio de cultura foi coletado e armazenado a -20oC para dosagem de E2 e P4 pelo sistema automatizado de quimioluminescência ACS:180®. O teste é um imunoensaio competitivo que usa tecnologia quimioluminescente direta. O anticorpo anti-P4 e anti-E2 monoclonal é marcado com éster de acridina. A curva de P4 variou de 0,86 a 29,80 ng/ml e a de E2 de 88 a 785 pg/ml. As amostras foram utilizadas sem diluir e com diluição de 1/400 em meio de cultivo e o hormônio mensurado. A média do coeficiente de variação foi de 3 % e 1,6 % para 17β-estradiol e progesterona, respectivamente. Dosagem de nitrito/nitrato (NO3- / NO2-) A concentração de NO3- / NO2- foi mensurada utilizando-se o método colorimétrico de Griess (RICART-JANÉ et al., 2002). O reagente de Griess é composto de uma mistura de sulfanilamida 2% e N-(1-naphthyl) ethylene-diamine 0,2% em água Milii Q. A primeira reação na amostra ocorre com o nitrito para formar o sal diazonium que reage com o segundo reagente para formar a cor púrpura com um pico de absorbância a 540 nm. Para reduzir o nitrato a nitrito, as amostras (40 µl) foram incubadas com 40 µl de uma mistura contendo 1000 µl da enzima nitrato redutase oriunda de bactéria [100 µl da enzima (10 UI diluída em 500 µl de água Milli Q) diluída em 900 µl de água Milli Q], 1000 µl do cofator NADPH (5mg/ml diluído em água Milli Q) e 1000 µl de tampão fosfato de potássio (0,5 M). As amostras foram incubadas a 37 oC por 14-16 horas. Posteriormente, 80 µl do reagente de Griess foram adicionados às amostras. O método foi desempenhado em placa de 96 poços. Todas as soluções foram protegidas da luz. Uma curva padrão de nitrito de sódio diluída em DMEM/Ham`s-F12 contendo valores conhecidos de nitrito foi realizada, onde o valor mínimo de nitrito foi de 0,5 µM e o máximo de 100µM. Com os valores da absorbância foi montado um gráfico de dispersão. A relação entre a absorbância e concentração de nitrato/nitrito foi linear (R2=0,98; P<0,05). 79 Análise estatística Os resultados foram obtidos de dois experimentos independentes e cada tratamento constou de duas repetições, totalizando 4 repetições por tratamento. Uma análise de regressão polinomial foi utilizada para verificar as variáveis: viabilidade celular, proliferação celular e concentração de E2, P4, NO3-/NO2- ao longo do tempo de cultivo, com respectivo teste de significância de 5% e coeficiente de determinação (R2). Foi realizada uma ANOVA e aplicado o teste de Tukey (P<0,05) para comparação das médias. Além disso, a correlação de Pearson (P<0,05) foi utilizada para verificar correlação entre as variáveis P4, E2, NO-3/NO2-, viabilidade celular e proliferação celular. O programa utilizado foi SAS (Statistical Analysis System). Os dados são representados como médias ± desvio padrão. RESULTADOS Características morfológicas das CGs Em todos os tratamentos, as CGs mantiveram as mesmas características morfológicas descritas por GUTIERREZ et al. (1997). Encontraram-se arredondadas e organizadas em grupos celulares, que aumentaram de tamanho ao longo do tempo, formando grupos maiores e ancorados ao fundo da placa de cultura por células de aparência semelhante a um fibroblasto. No final de 120 h de cultura, as CGs cultivadas com SNP apresentavam-se com sua superfície mais brilhante em relação às CGs cultivadas sem SNP (controle) (Figura 1). Efeito do SNP na concentração de NO3-/NO2- no meio de cultivo A concentração de NO3-/NO2- ficou estável em todos os tratamentos com ou sem SNP ao longo do tempo. O tratamento com 10-5 M de SNP manteve a 80 concentração de NO3-/NO2- mais elevada no meio de cultivo em todos os períodos de cultivo quando comparada ao controle e às demais concentrações de SNP (Tabela 1). Efeito do SNP na viabilidade celular A viabilidade celular aumentou ao longo do tempo de cultivo (Tabela 2) tanto para CGs cultivadas com SNP (10-9, 10-7, 10-5M; R2= 0,95, R2 = 0,91, R2 = 0,85, respectivamente, P<0,0001) ou sem SNP (controle) (R2= 0,66, P<0,001), entretanto todos os tratamentos com SNP (10-9, 10-7, 10-5M) no final de 72h (7,7 x 105 ± 0,16; 7,3 x 105 ± 0,21; 8,0 x 105 ± 0,33 células, respectivamente) e 120 h (8,6 x 105 ± 0,25; 8,9 x 105 ± 0,12; 8,9 x 105 ± 0,13 células, respectivamente) de cultivo aumentaram a viabilidade celular comparado ao controle (6,5 x 105 ± 0,3; 7,2 x 105 ± 0,58 células, respectivamente) (Tabela 2). Efeito do SNP na proliferação celular A maioria das CGs encontraram-se na fase G1 do ciclo celular ao longo do tempo de cultivo. Todos os tratamentos com SNP (10-9, 10-7, 10-5 M) aumentaram a % de CGs na fase S + G2/M ao longo do cultivo (R2=0,56; 0,39; 0,40; respectivamente, P<0,05), enquanto que o tratamento sem SNP (controle) manteve o aumento da % de CGs na fase S+G2/M até 72h (R2 =0,55, P<0,05) (Tabela 3). Após 96 h de cultivo, todos os tratamentos com SNP (10-9; 10-7; 10-5 M) (39,2 ±2 %; 24,5 ±3,5 %; 24,3 ± 0,4%) foram mais eficazes (P<0,05) em manter as CGs na fase S+G2/M do ciclo celular em relação ao controle (13,0 ± 0,4%) (Tabela 3) 81 Efeito do SNP na esteroidogênese Síntese de P4 A síntese de P4 pelas CGs cultivadas sem SNP (controle) aumentou até 96 h de cultura e obteve uma diminuição no final de 120 h (R2=0,89, P<0,001). Durante o tratamento com SNP (10-9, 10-7e 10-5 M) ocorreu um aumento da síntese de P4 no final de 48h (R2=0,61, P<005; R2=0,70, P<0,0005; R2=0,57, P<0,005, respectivamente) e depois esta síntese foi mantida sem alterações (P<0,05) ao longo do cultivo (Tabela 4) O SNP (10-9, 10-7e 10-5 M) manteve a síntese de P4 até 96h de cultivo (239,92 ± 17 ng/ml; 260,03 ± 1,7 ng/ml; 360,34 ± 81 ng/ml, respectivamente) menor (P<0,05) do que o controle (673,29 ± 6,5ng/ml). No final de 120 h de cultura não houve diferença (P>0,05) na síntese de P4 pelas CGs cultivadas com SNP (10-9, 10-7 e 10-5 M; 270,14 ± 36 ng/ml; 300,61 ± 45 ng/ml; 388,35 ± 81 ng/ml, respectivamente) e controle (380,35 ± 89 ng/ml) (Tabela 4). Síntese de E2 A síntese de E2 (Tabela 5) pelas CGs cultivadas sem SNP (controle) (R2=0,96, P<0,0001) ou com SNP em todas as concentrações (10-9, 10-7 e 10-5 M) aumentou ao longo do tempo (R2=0,60, P<0,005; R2= 0,72, P<0,0005, R2=0,83, P<0,0001, respectivamente). No final de 24h, a síntese de E2 pelas CGs foi maior quando as CGs foram cultivadas com SNP em todas as concentrações (10-9, 10-7, 10-5M; 6,31 ±1,0 ng/ml; 7,19 ±1,0 ng/ml; 7,01±0,5 ng/ml, respectivamente) comparada ao controle (2,01 ±0,3 ng/ml). Com 48 h de cultura não houve diferença (P>0,05) na síntese de E2. pelas CGs cultivadas com SNP (10-9, 10-7, 10-5M; 9,64 ± 0,8 ng/ml, 9,17 ± 1,0ng/ml, 10,34 ± 0,8 ng/ml, respectivamente) e sem SNP (8,60 ± 0,9 ng/ml). A partir de 72 h de cultivo, todas as concentrações de SNP (10-9, 10-7, 10-5M) inibiram a síntese de E2 (11,55 ± 0,9 82 ng/ml, 11,2 ± 1,9 ng/ml, 12,10 ±1,2 ng/ml, respectivamente) comparada ao controle (24,49 ±2,2 ng/ml), que foi mantida até o final do cultivo (Tabela 5). Relação entre a síntese de E2, P4, NO3- / NO2- viabilidade e proliferação celular A síntese de P4 foi correlacionada positivamente com a síntese de E2 (0,79; P<0,0001) e não apresentou correlação (P>0,05) com a concentração de NO3-/NO2-, viabilidade e proliferação celular. A concentração de E2 apresentou correlação negativamente (-0,35, P<0,001) com a proliferação celular, não sendo verificada correlação significativa (P>0,05) com a concentração de NO3- / NO2- e viabilidade celular. A concentração de NO3- / NO2- foi correlacionada positivamente com a viabilidade (0,26; P<0,01) e proliferação celular (0,52; P<0,0001). A viabilidade celular foi correlacionada positivamente com a proliferação celular (0,36; P<0,0001). 83 Tabela 1: Concentrações médias de NO3- / NO2- (µM) no meio de cultivo com o uso do SNP nas concentrações 10-9, 10-7e 10-5 M durante diferentes períodos de incubação. [ SNP] (M) 24 h 48 h 72 h 96 h 120 h 0 (controle) 1,8 ± 0,6a A 2,4 ± 1,0 a A 2,7 ± 0,6 a A 2,2 ± 0,7 a A 1,8 ± 0,4 ª A 10-9 1,6 ± 0,9 a A 1,7 ± 1,7 a A 2,2 ± 0,4 a A 2,0 ± 0,6 a A 1,5 ± 0,7 ª A 10-7 1,9 ± 0,5 a A 3,4 ± 1,4 a A 2,7 ± 0,4 a A 2,8 ± 0,6 a A 1,9± 0,5 ª A 10-5 6,7 ± 0,6 a B 6,3 ± 0,4 a B 4,9 ± 0,2 a B 4,8 ± 0,5 a B 4,6 ± 0,3 a B a Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. AB Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma coluna são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey Dados são representativos de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento. 84 Tabela 2: Efeito do SNP nas concentrações 0 (controle), 10-9, 10-7e 10-5 M na viabilidade das CGs antrais de folículos de 3-5 mm de diâmetro (no de células x 105), mensurada pela habilidade das CGs reduzirem o MTT. [ SNP] (M) 24h 48h 72h 96h 120h 0 (controle) 6,2 ± 0,7 a A 8,0 ± 0,7 b A 6,5 ± 0,3 a A 6,4 ± 0,8 a AB 7,2 ± 0,6 ab A 10-9 6,1 ± 0,5 a A 6,0 ± 0,2 a B 7,7 ± 0,2 b B 6,3 ± 0,2 a B 8,6 ± 0,3 b B 10-7 6,6 ± 0,4 ab A 6,3 ± 0,3 a B 7,3 ± 0,2 b AB 6,9 ± 0,2 ab AC 8,9 ± 0,1 c B 10-5 7,1 ± 0,5 a A 8,1 ± 0,1 b A 8,0 ± 0,3 b B 7,3 ± 0,2 a C 8,9 ± 0,1 c B abc Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. ABC Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma coluna são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. Dados são representativos de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento. 85 Controle SNP 10-5 M 24 h 48 h 72 h 96 h 120 h Figura 1: Características morfológicas das CGs antrais de folículos de 3-5 mm de diâmetro cultivadas com 0 (controle) e 10-5M de SNP no final de 24, 48, 72, 98 e 120h. (400x). 86 Tabela 3: Efeito do SNP nas concentrações 0 (controle), 10-9, 10-7e 10-5 M na proliferação das CGs antrais de folículos de 3 – 5 de diâmetro (% de CGs na fase S+G2/M). [ SNP] (M) 24h 48h 72h 96h 120h 0 (controle) 19,0 ±1,4 a A 27,0 ±3,0 b A 24,0 ±2,1 b A 12,0 ±1,9 a A 13,0 ±0,4 a A 10-9 25,4 ±0,6 a B 38,4 ±0,7 b B 35,0 ±0,2 b B 36,0±2,0 b B 39,2 ±2,0 b B 10-7 27,9 ±2,9 a B 31,0 ±1,4 ab A 35,0 ±3,0 b B 22,7 ±0,5 c C 24,5 ±3,5 ac C 10-5 20,01±1,4 a A 31,5 ±4,0 b A 26,5 ±2,1 bc A 25,4±1,9 c C 24,4 ±0,4 c C abc Médias na mesma linha acompanhadas por letras diferentes são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. ABC Médias na mesma coluna acompanhadas por letras diferentes são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. Dados são representativos de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento. 87 Tabela 4. Efeito do SNP nas concentrações 10-9, 10-7e 10-5 M na síntese de progesterona (ng/ml) pelas CGs antrais de folículos de 3- 5 mm de diâmetro no final de diferentes períodos de incubação. [ SNP] (M) 0 (controle) -9 10 72 h 96 h 529,96 ±109 aA 316,34 ±60 ab A 123,25 ±15 aB 243,58 ±40 bB 257,62 ±91 a AB 231,16 ±47 bB 246,52 ±25 aB 268,26 ±84 ab B 349,33 ±150 161,83 ±25 -5 129,12 ±6 10 48 h 174,77 ±22 -7 10 abcd 24 h cd 120 h 673,29 ±6,5 dA bB 239,92 ±17 bB 270,14 ±36 bA bB 260,03 ±1,7 bB 300,61 ±45 bA 360,34 ±81 bC 388,35 ±81 bA A bC 380,35 ±89 bc A Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. ABC Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma coluna são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. Dados são representativos de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento. 88 Tabela 5. Efeito do SNP nas concentrações 10-9, 10-7e 10-5 M na síntese de 17-β estradiol (ng/ml) pelas CGs antrais de folículos de 3 - 5 mm diâmetro no final de diferentes períodos de incubação. [ SNP] (M) 24 h 48h 72h 96h 120h 0 (controle) 2,01 ±0,3 a A 8,60 ±0,9 b A 24,49 ±2,2 c A 26,46 ±3,7 cA 10-9 6,31 ±1,0 a B 9,64 ±0,8 ab A 11,55 ±0,9 b B 10,70 ±0,3 b B 9,50 ±3,3 ab B 10-7 7,19 ±1,0 a B 9,17 ±1,0 ab A 11,20 ±1,9 b B 11,44 ±0,5 b B 10,73 ±0,1 b B 10-5 7,01 ±0,5 aB 10,34 ±0,8 b A 12,10 ±1,2 b B 11,82 ±1,2 b B 10,90 ±0,8 b B abc 23,85 ±2,1 c A Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. AB Médias acompanhadas por letras diferentes na mesma coluna são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey. Dados são representativos de dois experimentos independentes com duas repetições por tratamento. DISCUSSÃO O presente experimento demonstrou que, embora a concentração de NO3/NO2- no meio de cultivo tenha sido maior ao se utilizar 10-5 M de SNP em relação ao tratamento 10-9 e 10-7 M de SNP e controle, todos os tratamentos com SNP melhoram a viabilidade e aumentaram a proliferação celular, que, por sua vez, foram correlacionadas entre si, sugerindo que o aumento da fase proliferativa contribuiu para o aumento da viabilidade celular no final do cultivo. 89 Recentemente, foi demonstrado em CGs de ratas (LI et al., 2005) que a via NO-GMPc estimula a expressão de um fator de transcrição (Fox01) que regula genes implicados na progressão do ciclo celular (MEDEMA et al., 2000), sobrevivência das células e apoptose (BRUNET et al., 1999), proteção contra estresse oxidativo (FURUKAWA-HIBI et al., 2002) e diferenciação (NAKAE et al., 2003). Em suínos, as CGs, quando cultivadas com 10-5 e 10-4 M de SNAP (S-Nitroso-N-acetil penicilamina,), doador de NO, apresentaram um aumento da atividade proliferativa verificado por incorporação de timidina de forma semelhante às células cultivadas sem o doador (GRASSELLI et al., 2001). Os resultados do presente experimento demonstraram que o NO nas concentrações utilizadas foi correlacionado positivamente com a proliferação celular, sugerindo que o NO pode regular a progressão das CGs antrais de folículos de 3-5mm no ciclo celular estando envolvido na diferenciação e sobrevivência das CGs. Assim, estudos futuros se fazem necessários para verificar qual ou quais os mecanismos utilizados pelo NO para regular o ciclo celular em CGs de bovinos. Um outro mecanismo que o NO também pode utilizar para aumentar a viabilidade celular é via formação de antioxidantes. O NO participa na formação da glutationa, um tripeptídeo que é considerado o maior antioxidante celular (MOELLERING et al., 1998). A glutationa participa da detoxicação de espécies de nitrogênio e oxigênio reativos oriundas do metabolismo do oxigênio, que provoca inevitável formação de peróxidos orgânicos (peroxinitrito e H2O2), peróxidos lipídicos e seus produtos de decomposição, como os aldeídos (MOELLERING et al., 1998). Durante a esteroidogênese ocorre a formação de radicais livres e, portanto, as células ficam expostas aos danos oxidativos. Estes dados sugerem que o NO pode, também, ter funcionado como um antioxidante, exercendo um efeito citoprotetor, contribuindo, também, para a viabilidade celular. O papel inibitório do NO na esteroidogênese ovariana já é bem documentado em alguns trabalhos com cultura de CGs de bovinos (BASINI et al., 1998; 2000a). Apesar dos resultados do presente estudo apresentarem algumas semelhanças com os resultados dos estudos relacionados acima, existem algumas diferenças que merecem atenção. Assim, ao contrário dos estudos que utilizaram doadores de NO em cultura de CGs de bovinos (BASINI et al., 1998; BASINI et al., 2000), nos quais foi 90 verificado um efeito inibidor do NO tanto na síntese de P4 e E2, os resultados do presente experimento, apesar de também terem demonstrado uma inibição da síntese de P4 pelo NO, não mostrou o mesmo com a síntese de E2, que foi estimulada nas primeiras 24h de cultivo e somente após 48 h de cultivo ocorreu sua inibição. O aumento inicial de E2, no presente experimento, não foi uma conseqüência do aumento da viabilidade celular, pois não houve correlação significativa entre síntese de E2 e viabilidade das CGs cultivadas com ou sem SNP, como foi verificada entre concentração de (NO3-/NO2-) com proliferação e viabilidade celular. Assim, o possível mecanismo utilizado pelo NO para aumentar a síntese de E2 merece ser investigado. Apesar de estes achados contrariarem os resultados de BASINI et al. (1998) em cultura de CGs em bovinos, existem relatos na literatura que correlacionam o aumento da concentração de nitrito, metabólito do NO, com o volume folicular e concentração de E2, mas não com a concentração de P4 no fluido folicular de mulheres durante a fase folicular (ANTEBY et al., 1996). Além disso, BONELLO et al., 1996, objetivando avaliar a regulação do NO na taxa de ovulação em ratas, demonstraram por meio da perfusão ovariana com o inibidor da enzima NOS (L-NAME, ester metil l-arginina -nitro-n-omega) uma diminuição da síntese de E2, sugerindo que o NO pode regular positivamente a síntese de E2 e ovulação. Assim, estes dados sugerem que o NO pode, em um dado momento durante o desenvolvimento folicular, regular positivamente a síntese de E2 e, posteriormente exercer um efeito inibitório. Deve ser ressaltado que o sistema de cultivo quimicamente definido utilizado neste experimento foi livre de soro fetal, BSA, hemácias e macrófagos, qu,e comprovadamente interferem na esteroidogênese das CGs (BECKMANN et al., 1991; PICCINATO et al., 2000; MCMAHON et al., 2002). Assim, as diferenças de alguns resultados encontradas no presente estudo quando comparados com outros relatos na literatura (BASINI et al., 1998; BASINI et al., 2000a) podem ser devido ao modelo de cultura utilizado no presente experimento. Os resultados do presente estudo demonstraram que as CGs em seu estado proliferativo é apresenta uma relação inversa com a síntese de E2, verificada pela sua diminuição após 48 h de cultivo. O aumento da fase proliferativa induzido pelo NO 91 diminuiu o número de células da granulosa com capacidade de síntese (células diplóides) e, conseqüentemente reduziu a esteroidogênese. Baseado nos achados de ORLY et al. (1980), que demonstraram que o aumento da fase proliferativa é inversamente correlacionado com a síntese de P4 estimulada pelo FSH em meio de cultivo contendo soro fetal bovino. Os resultados do presente estudo sugerem que o controle do ciclo celular pelo NO pode ser um mecanismo adicional para o NO controlar a esteroidogênese. As controvérsias com relação aos efeitos do NO vêm sendo relacionadas com a sua via de ação. CHUN et al. (1995) demonstraram que uma das vias utilizadas pelo NO para inibir a apoptose de células da granulosa de ratas é a via GMPc, que também vem sendo uma das vias preconizadas por ISHIMARU et al. (2001), como inibidora da esteroidogênese pelo NO. Em bovinos, BASINI et al. (2000a) demonstraram que a via NO/GMPc e intermediários da peroxidação lipídica (hidroperóxidos lipídicos) não estão envolvidos na inibição da esteroidogênese das CGs. Outros estudos (STAMLER et al., 1994; HANKE et al., 1998) indicaram que o NO pode ligar-se à enzima contendo o grupo heme e, assim, inibir sua atividade. Desta forma o NO pode ligar-se à enzima P450scc (clivagem da cadeia lateral do colesterol) e a enzima aromatase e/ou à guanilato ciclase e regular a síntese de estradiol. Assim, este radical livre pode exercer seus efeitos de várias formas e em função das circunstâncias, sensibilidade e tipo celular. As CGs de folículos de 3- 5 mm possuem uma atividade proliferativa maior do que aquelas obtidas de folículos pré-ovulatórios e, por não serem diferenciadas, a sua capacidade de síntese de esteróides aumenta com o período de cultivo (GUTIERREZ et al., 1997). Além disso, a concentração de nitrito e nitrato no fluido folicular de folículos < 5 mm é maior comparada a folículos maiores (BASINI et al., 1998; FAES et al., 2000). 92 CONCLUSÕES Os resultados do presente estudo permitem concluir que o NO nas concentrações estudadas pode regular a progressão das CGs no ciclo celular, podendo, também, regular a síntese de P4 e E2, e, portanto, está envolvido no processo de diferenciação das CGs. Provavelmente em condições de exposição crônica ao NO, esta redução do E2 poderá levar a célula a um estado deletério. Portanto, este pode ser um mecanismo regulador da maturação e/ou atresia folicular em bovinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTEBY, E. Y., HURWITZ, A., KORACH, O., REVEL, A., SIMON, A., FINCIYEHESKEL, Z., MAYER, M., LAUFER, N. (1996) Human follicular nitric oxide pathway: relationship to follicular size, oestradiol concentrations and ovarian blood flow. Hum Reprod., 11: 1947-1951. 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As CGs antrais de folículos com 3-5mm de diâmetro foram cultivadas com 0, 10-5, 10-3 e 10-1 M de SNP com ou sem ODQ por 24 h. No final deste período, foram avaliadas a concentração de nitrato/nitrito (NO3-/N02-) pelo método de Griess, a síntese de progesterona (P4) e 17β-estradiol (E2) pelas CGs por quimioluminescência, viabilidade e ciclo celular pelo método MTT (difeniltetrazolium 3-[4,5-dimetiltrazol-2yl]-2,5) e citometria de fluxo, respectivamente. A concentração de NO3-/N02- aumentou (P<0,05) de uma maneira dose-dependente no meio de cultivo de acordo com a concentração de SNP adicionada ao meio de cultura. As CGs cultivadas com 0, 10-5 M de SNP com ou sem ODQ formaram grumos celulares, e não apresentaram variação (P>0,05) na viabilidade celular, enquanto que as CGs cultivadas com 10-3 e 10-1 M de SNP com ou sem ODQ apresentaram desorganização e não formaram grumos celulares, respectivamente, diminuição da viabilidade celular e síntese de esteróides (P<0,05). A maioria das CGs cultivadas com 0, 10-5 e 10-3 M de SNP com ou sem ODQ encontram-se na fase G0/G1 (80 - 70 %) e em menor proporção (20 - 30 %) na fase S+G2/M do ciclo celular, enquanto todas CGs (100%) cultivadas com 10-1 M de SNP apresentaram níveis subdiplóides de DNA. O tratamento com 10-5 M de SNP inibiu (P<0,05) a síntese de P4 por mecanismo independente do GMPc e estimulou a síntese de E2 via GMPc. Estes resultados 100 sugerem que a síntese de E2 pelas CGs antrais de folículos pequenos é modulada pelo NO em concentrações mais baixas via GMPc, mas não a de P4, e que o NO em concentrações elevadas exerce efeito citotóxico, sugerindo o seu envolvimento na necrose celular e/ou apoptose das CGs. Palavras- chave: bovino; oxido nítrico; progesterona; 17β-estradiol-, GMPc ABSTRACT In the bovine ovary, NO it being characterized as one of the regulators of steroidogenesis and apoptosis of the granulosa cells (GCs). One of the ways used for NO to exert its effect is the cGMP pathway. This work aimed to verify the effect of the sodium nitroprusside (SNP), a NO donor, on antral CGs viability, cell cycle and steroidogenesis, and if this effect occurs way cGMP, by means of the combination of the SNP with 1H-[1,2,3 ] oxadiaziolo [ 4,3a]quinoxaline-1-one (ODQ), a selective guanilate cyclase inhibitor. The antral GCs from bovine follicles (3-5mm) were cultured with SNP (0, 10-5, 10-3 and 10-1 M) with and without ODQ for 24 h. In the end of time were been evaluated viability and cellular cycle by MTT (3- [4,5-dimethylthiazol-2yl] 2,3 dipheniltetrazolium bromide) and flow cytometry, respectively, the nitrato/nitrite (NO3-/N02-) concentration by Griess method, 17 β -estradiol (E2) and progesterone (P4) synthesis by chemiluminescence. NO3-/NO2- concentration has increased (p< 0.05) in a way dose-dependent according to SNP concentration. CGs cultured with 0, 10-5 M SNP with or without ODQ formed cell groups and showed no variation (p>0.05) in cell viability, whereas 10-3 and 10-1 M SNP with or without ODQ lead to disorganization or non formation of cell groups, respectively, and decreased cell viability and steroids (p<0.05). The majority of the GCs cultured with 0, 10-5 and 10-3 M of SNP with or without ODQ had met in the phase G0/G1 (80 - 70 %) and 20 - 30 % in phase S/G2 of the cellular cycle, Moreover, 100% of the CGs cultured with 10-1 M SNP presented subdiploid DNA levels. 10-5 M SNP inhibited (p<0.05) P4, by a mechanism independent 101 of GMPc and increased (P<0.05) the E2 pathway GMPc. These results suggest that the GMPc pathway is one of the mechanisms used by NO in low concentrations to positively regulate E2 synthesis, but not P4, while high NO concentrations inhibit steroids by a GMPc independent pathway, besides presenting cytotoxic effect suggesting its role on necrosis and /or apoptosis Key words: bovine, nitric oxide, progesterone, 17β-oestradiol, cGMPc INTRODUÇÃO O 17β-estradiol (E2) tem um papel essencial no estabelecimento e manutenção do sistema reprodutivo. A síntese de E2 pelas células da granulosa (CG) é dependente da enzima P450 aromatase, que converte andrógenos em estrógenos. O aumento da expressão desta enzima é induzido pelo hormônio folículo estimulante (FSH), que ao se ligar ao receptor acoplado à proteína G, ativa a adenilato ciclase e estimula a produção de AMPc, seu segundo mensageiro (HSUEH, 1988). Além do FSH, existem outros hormônios, fatores de crescimento, peptídeos e sinalizadores extra e intracelulares moduladores da função das CGs (LAPOLT e HONG, 1995, CHUN et al., 1995). O óxido nítrico (NO) é um gás transparente, cuja solubilidade máxima em pressão e temperatura ambiente é levemente maior do que a solubilidade do oxigênio em água. Assim, como O2, o NO é lipofílico e é 6 a 8 vezes mais solúvel em solventes não-polares e lipídeos de membrana comparada à água. Portanto, as taxas de reações do NO em ambiente hidrofóbico é maior do que em ambiente aquoso (LIU et al., 1998). Assim, possui alta solubilidade pelas membranas biológicas. O NO é formado a partir da L-arginina, cuja reação é catalisada pela enzima óxido nítrico sintase (NOS), que existe nas isoformas endotelial (eNOS) e neuronal (nNOS), reguladas pelo cálcio-calmodolina e a isoforma induzível (iNOS), regulada por citocinas (Snyder, 1995). A presença da eNOS e iNOS, como fonte geradora de NO em 102 compartimentos ovarianos e seu papel na regulação da esteroidogênse das CGs já foi demonstrado em camundongos (JABLONKA – SHARIFF e OLSON, 1997; MATSUMI et al., 1998; HURWITZ et al., 2002) e bovinos (BASINIi et al., 1998). Entretanto, ainda existem controvérsias com relação aos mecanismos utilizados para o NO exercer seus efeitos nas CGs. O NO vem sendo demonstrado como um regulador negativo da síntese de esteróides, e um dos mecanismos utilizados para o NO exercer seus efeitos é por meio da sua ligação a enzimas que contêm o grupo prostético heme. Assim, o NO pode se ligar diretamente à enzima P450 aromatase e inibir a esteroidogênese estimulada pelas gonadotrofinas (VAN VOORHIS et al., 1994; HANKE et al., 1998). Outro mecanismo de ação mediado pelo NO é via ativação da enzima guanilato ciclase por meio da ligação do NO ao grupo heme, presente também na enzima. A ativação da guanilato ciclase aumenta a concentração intracelular de GMPc (guanosina monofosfato cíclica) (MURARD, 1999; HANAFY et al., 2001). Tem sido sugerido que o GMPc aumenta a atividade da fosfodiesterase 2 (PDE2), que aumenta a hidrólise do AMPc, 2º mensageiro intracelular do FSH. Em cultura de células da granulosa de ratas (ISHIMARU et al., 2001) e suínos (GRASSELLI et al., 2001), a via NO/GMPc vem sendo sugerida como um dos mecanismos utilizados pelo NO para inibir a esteroidogênese. Ao contrário, em bovinos, o uso de análogos de GMPc não foi eficaz em inibir a esteroidogênese (BASINI et al., 2000). Os resultados acima são conflitantes, provavelmente devido a variações entre os modelos de cultivo utilizados, presença de células sanguíneas, diferença entre espécies e grau de diferenciação das CGs utilizadas nos estudos. O BSA, comumente utilizado na maioria dos sistemas de cultivo e também naqueles relatados acima, é contaminado com esteróides, colesterol, peptídeos e outras moléculas não definidas (WANG et al., 1997; MINGOTTI et al., 2002). Isto torna o meio de cultivo semi-definido, podendo interferir com os resultados. Além disso, a presença de células sanguíneas podem também alterar a esteroidogênese das CGs e síntese e concentração de NO (BECKMANN et al., 1991; SHAKIL et al., 1994) no meio de cultura. Assim, o presente 103 experimento utilizou um sistema de cultivo comprovadamente eficaz em manter a esteroidogênese das CGs (PICCINATO et al., 2000), no qual o BSA foi substituído pelo álcool polivinílico (PVA). Foram utilizados métodos para retirada de hemácias e macrófagos que vêm junto quando as CGs são aspiradas dos folículos. Com este modelo de cultivo, o presente experimento objetivou: 1) verificar o efeito do NO na viabilidade, ciclo celular e na síntese de esteróides das CGs antrais, visto que estas possuem maior atividade esteroidogênica (ROUILLER et al., 1996; ROUILLER et al., 1998), de folículos pequenos (3-5 mm) de bovinos, pois estes ainda não estão diferenciados e possuem maior atividade proliferativa (GUTIERREZ et al., 1997), e 2) verificar se os efeitos do NO são modulados pelo GMPc, utilizando-se o ODQ ([1H][1,2,3] oxadiaziolo[4,3a]quinoxaline-1-one), inibidor da enzima guanilato ciclase solúvel. MATERIAL E MÉTODOS Reagentes A maioria dos reagentes foram obtidos da Sigma Sta Louis, MO. Os reagentes de outros laboratórios foram especificados. Obtenção das células da granulosa Ovários de vacas cíclicas foram obtidos em abatedouros locais e transportados imediatamente em solução salina estéril (NaCl 0,9%) acrescida de antibióticos (100 IU/ml de penicilamina e 100 µg/ml de sulfato de estreptomicina) para o laboratório, onde tiveram os restos de tecidos eliminados. Os ovários foram lavados com solução salina acrescida de antibióticos e enxaguados brevemente com etanol 70% e posteriormente lavados (3 vezes) com solução salina acrescida de antibióticos. 104 Os folículos pequenos (3-5 mm), apresentando 70 % da sua superfície exposta clara e vascularizados (GRIMES et al., 1987), foram puncionados e as CGs antrais aspiradas (ROUILLER et al., 1998) e depositadas em tubos de polietilenoglicol de 15 ml contendo 2 ml de meio base [Meio Dulbeccos Eagles modificado – Ham´s F12 com Hepes 15 mM (Gibco, São Paulo - BRL), adicionado de 10 mM de bicarbonato de sódio; 100 UI/ml de penicilina G, e 100 µg/ml de sulfato de estreptomicina (Merck, Rio de Janeiro, BRL)] acrescido de 50 UI de heparina para evitar a formação de grumos. A suspensão de CGs foi filtrada em uma malha para retirar os oócitos e debris celulares. Em seguida, o filtrado foi centrifugado (300 x g/ 10 minutos) à temperatura ambiente, o sobrenadante descartado e as células lavadas (2 vezes) com 1 ml de meio base. Tendo em vista que as hemácias se ligam ao NO (MCMAHON et al., 2002) e que os macrófagos podem sintetizar NO (WHITEHEAD et al., 1996), e as CGs, ao serem puncionadas vêm junto com sangue, foram realizados dois procedimentos. Para retirada das hemácias, o precipitado de CGs foi tratado com 300 µl de uma solução de cloreto de amônio 0,9% pré-aquecida (37º C) e incubado por 1 minuto. Em seguida, foi adicionado meio base ao tubo com as CGs até completar o volume de 12 ml, restaurando, assim, a isotonicidade das CGs. As CGs foram centrifugadas (300 x g/ 10 minutos) e o precipitado lavado com meio base. O precipitado de CGs foi ressuspendido em 1 ml de meio base e semeado em discos de cultura de 32 mm de diâmetro contendo 2 ml do mesmo meio. As CGs foram incubadas por 2 h a 37,5o C em ambiente com atmosfera contendo 5% de CO2 para retirada dos macrófagos, uma vez que estes aderem facilmente ao fundo da placa de cultivo (BECKMANN et al., 1991). As CGs não-aderidas foram coletadas da placa de cultura, centrifugadas (300 x g/ 10 minutos) e ressuspendidas em 2 ml de meio de cultivo [Meio Dulbeccos Eagles modificado - Hams F12 contendo Hepes 15mM, adicionado de bicarbonato de sódio 10 mM, penicilina G 100 U/ml, e sulfato de estreptomicina 100µg/ml (Merck, Rio de JaneiroBRL); androstenediona, 10-7 M; PVA 0,1%; 1% de MEM aminoácidos não essenciais 100 % e 1% de solução ITS 100 % (selenito de sódio -1,4 ng/ml; transferrina - 5,0 µg /ml; insulina-10 ng/ml). 105 A viabilidade e o número de células foram estimados utilizando-se o microscópio invertido (Telaval 31, Zeiss), aumento de 400x, hemocitômetro e o método de exclusão com azul de trypan 0,4%. A viabilidade celular média foi de 70 %. Foram realizados esfregaços da suspensão celular antes e após o tratamento para retirada de hemácias e macrófagos. Após terem sido corados com hematoxilina, foram contadas 100 células com 10 repetições (1000 células totais). Para cada 100 células contadas antes do tratamento para retirada de hemácias e macrófagos foram encontrados, em média, 39,8 ± 7,7 % de hemácias, 8,5 ± 3 % de macrófagos. Após o tratamento, foram encontrados 9 ± 4 % de hemácias e 0,4 ± 0,5 % de macrófagos. Delineamento experimental As CGs foram cultivadas com 0, 10-5, 10-3, 10-1 M de nitroprussiato de sódio (SNP), doador de óxido nítrico, sem ou com 10- 4 M ODQ. A concentração de nitrato/nitrito (NO3-/NO2-), viabilidade e proliferação celular, síntese de progesterona (P4) e E2 pelas CGs foram avaliados no final de 24 h de cultura. Cultura das CGs Foram adicionadas 5,0 x 105 CGs antrais de folículos de 3 -5mm em placas de 24 poços e o volume completado para 1000 µl de meio de cultura contendo os tratamentos. Em seguida, as CGs foram incubadas a 37,5 oC em ambiente com atmosfera contendo 5% de CO2. Determinação da viabilidade celular A viabilidade celular foi verificada no final de 24h cultura por meio do método MTT. Este ensaio é baseado na habilidade das células vivas com mitocôndrias ativas reduzirem o sal brometo de difeniltetrazolium 3-[4,5-dimetiltrazol-2yl]-2,5 - ao produto 106 final azul de formazan (metiltriazole) (MOSMANN, 1993). No final do cultivo, 700µl de meio de cultivo foram retirados para realizar as dosagens necessárias, restando apenas 300 µl de meio. Assim, 30 µl de MTT (5mg/ml) foram adicionados em cada poço e, em seguida, as CGs foram incubadas por 3 h a 37º C. Posteriormente, foram adicionados 300 µl de isopropanol acidificado com HCl (0,04 N) contendo 10 % de Triton X 100 para solubilizar os cristais formados por 14-16 h em temperatura ambiente. Após este período, 200 µl da mistura de cor azul foram transferidos para placas de 96 poços. A leitura foi realizada em um espectrofotômetro (Multiskan EX Primary EIA V 2.1-0) com comprimento de onda de 570 nm, com subtração do background (620 nm). A relação entre a absorbância e o número de células foi determinado pela incubação prévia de quantidades conhecidas de células com MTT, criando, assim, uma curva padrão. A relação entre a absorbância e número de células foi linear (R2=0,99; P<0,05). Ciclo celular Para determinar o efeito dos tratamentos no ciclo celular das CGs antrais foi realizada citometria de fluxo (BLONDIN et al., 1996). As CGs foram coletadas após a incubação com 1 ml de PBS Ca++ Mg++ e EDTA (125 mg/l) por 10 minutos e centrifugadas a 400g a 4º C por 5 minutos. O sobrenadante foi removido e o precipitado foi ressuspendido em 500 µl de PBS Ca++ Mg++. As CGs foram fixadas por, no mínimo, 1 hora a 4º C com 1 ml de etanol absoluto gota a gota durante agitação em vortex. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas e o precipitado ressuspendido com 500 µl de etanol 70% e estocadas a - 20º C até o dia da análise por citometria de fluxo. Antes das análises, as CGs foram centrifugadas e o sobrenadante descartado. O precipitado foi lavado duas vezes com PBS (400g a 4º C por 5 minutos). As CGs foram ressuspendidas com 1ml de PBS contendo 50 µg/ml de ribonuclease (RNAse, Merck, Rio de Janeiro-BRL) e incubadas por 30 minutos a 37 oC. Posteriormente, as CGs foram centrifugadas a 400g a 4º C por 5 minutos e o precipitado ressuspendido com PBS acrescido de iodeto de propídio (50 µg/ml) e incubadas por 30 minutos a 0o C. As amostras foram filtradas em filtro de 40µM e lidas no comprimento de onda de 540 nm 107 (Analisador PARTEC PA). Os dados foram derivados de histogramas do DNA analisados pela citometria de fluxo. A percentagem de células em estádio G0/G1(diplóides), S (síntese de DNA) e G2/M (tetraplóide) do ciclo celular e percentagens de células contendo níveis sub-diplóides de DNA (DNA fragmentado) foram calculados utilizando -se um software DPAC. Dosagens de nitrato/nitrito (NO3-/NO2-) e de esteróides No final de 24h de cultivo, o meio de cultura foi coletado e armazenado a o 20 C para dosagem de NO3-/NO2-, P4 e E2. NO3-/NO2A concentração de NO3-/NO2- foi mensurada utilizando-se o método colorimétrico de Griess (RICART-JANÉ et al., 2002). O reagente de Griess é composto de uma mistura de sulfanilamida 2% e N-(1-naphthyl) ethylene-diamine 0,2% em água Milii Q. A primeira reação na amostra ocorre com o nitrito para formar o sal diazonium que reage com o segundo reagente para formar a cor púrpura com um pico de absorbância de 540 nm. Para reduzir o nitrato a nitrito, as amostras (40 µl) foram incubadas com 40 µl de uma mistura contendo 1000 µl da enzima nitrato redutase oriunda de bactéria [100 µl da enzima (10 UI) diluída em água Milli Q + 900 µl de água Milli Q), 1000 µl do cofator NADPH (5mg/ml diluído em água Milli Q) e 1000 µl de tampão fosfato de potássio (0,5 M). As amostras foram incubadas a 37 oC por 14-16 h. Posteriormente, 80 µl do reagente de Griess foram adicionados às amostras. O método foi desempenhado em placa de 96 poços. Todas as soluções foram protegidas da luz. Uma curva padrão de nitrito de sódio diluída em DMEM/Ham`s-F12 contendo valores conhecidos de nitrito foi realizada, onde o valor mínimo de nitrito foi de 0,5 µM e o máximo de 100µM. Com os valores da absorbância, foi montada um gráfico de dispersão. A relação entre a absorbância e concentração de NO3-/NO2- foi linear (R2=0,98; P<0,05). 108 Esteroidogênese A concentração de P4 e E2 foi determinada pelo sistema automatizado de quimioluminescência ACS:180®. O teste é um imunoensaio competitivo que usa tecnologia quimioluminescente direta. O anticorpo anti-P4 e anti-E2 monoclonal é marcado com éster de acridina. A curva de P4 variou de 0,86 a 29,80 ng/ml e a de E2 de 88 a 785 pg/ml. As amostras com 0, 10-5 M de SNP com ou sem ODQ foram diluídas (1/400), enquanto que as amostras de meio de cultivo obtidas dos tratamentos com 10-3 e 10-1 M de SNP com ou sem ODQ não foram diluídas. Após as devidas diluições, os hormônios foram mensurados. A média do coeficiente de variação foi de 1,6 % e 3 % para progesterona e 17β-estradiol, respectivamente. Análise estatística O experimento foi repetido duas vezes e cada tratamento constou de duas repetições. Foi realizada uma ANOVA com um fator e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05). O programa utilizado foi SAS (Statistical Analysis System). Resultados Características morfológicas das CGs No final de 24 h, as CGs cultivadas com 0 (controle), 10-5 M de SNP com ou sem ODQ (Figura 1. painéis a, b, c, d) mantiveram as características arredondadas de CGs esteroidogenicamente ativas e formaram grupos celulares, enquanto as CGs cultivadas com 10-3 M de SNP com ou sem ODQ (Figura 1. painéis e, f) formaram grupos desorganizados, apresentaram-se escurecidas e com pouca aderência na 109 placa de cultura. As CGs cultivadas com 10 -1 M de SNP com ou sem ODQ (Figura 1. painéis g e h) não formaram grupos celulares e apresentaram- se escurecidas e achatadas na placa de cultura. Concentração de NO3-/NO2- A concentração de NO no meio de cultura aumentou (P<0,05) de maneira dose dependente de acordo com a concentração de SNP adicionada ao meio de cultivo (Figura 2, painel a). Controle (1,9 ±0,6 µM); ODQ (1,5 ±0,18 µM); 10-5 M de SNP (6,7±0,9 µM); 10-5 M de SNP +ODQ (6,6 ±2,3 µM); 10-3 M de SNP (48,6 ±11 µM); 10-1 M de SNP + ODQ (67,2± 2,9 µM); 10-1M de SNP +ODQ (67,4 ±1,7 µM). Viabilidade celular A viabilidade celular não variou (P>0,05) entre o grupo controle (6,8 x 105 ± 0,27 células), e o grupo de CGs cultivadas com ODQ (6,6 x 105 ± 0,75 células) e 10-5 M de SNP com ODQ (7,0 x 105 ± 0,5 células) ou sem ODQ (7,6 x 105 ± 0,8 células). Entretanto, após a adição de 10-3 e 10-1 M de SNP com ou sem ODQ, 100% das CGs (P<0,05) tornaram-se inviáveis (Figura2, painel b). Ciclo celular As maioria das CGs cultivadas com 0 (controle), 10-5 e 10-3 M de SNP com ou sem ODQ no final de 24 h de cultura encontraram-se na fase G0/G1 (80 - 70 %), enquanto, 20 - 30 % na fase S + G2/M do ciclo celular. Já as CGs cultivadas com 10-1 M de SNP apresentaram redução do conteúdo do DNA e desvio para esquerda do pico G0/G1 (G0/G1 - 0% S e G2- 0%) (Figura 3). 110 Esteroidogênese A síntese de P4 (Figura 4, painel a) pelas CGs foi inibida (P<0,05) pela adição tanto de 10-4M de ODQ (91,3 ± 0,02 ng/ml) quanto de 10-5 de SNP com ou sem ODQ (126,68 ± 0,044 ng/ml e 129,1 ± 0,006 ng/ml, respectivamente) ao meio de cultura em relação ao controle (174,7 ± 0,02 ng/ml), entretanto, esta inbição foi maior quando as CGs foram cultivadas com ODQ. Não houve diferença (P>0,05) na síntese de P4 pelas CGs os tratamentos 10-5 M de SNP e 10-5M com ODQ. O efeito inibitório da adição de 10-3 M de SNP com ou sem ODQ (16,35 ± 0,0007 ng/ml; 14,39 ± 0,003 ng/ml, respectivamente) foi maior do que o observado pelos demais tratamentos quando comparado ao controle (P<0,05). Tanto a adição de 10-4 M de ODQ quanto de 10-5 M de SNP no meio de cultura de CGs estimularam (P<0,05) a síntese de E2 (3,4 ng/ml, 6,8 ± 0,5 ng/ml, respectivamente) quando comparada ao controle (2,0 ng/ml, P<0,05), entretanto, o aumento da síntese de E2 foi maior (P<),05) quando as CGs foram cultivadas com 10-5 M de SNP do que o aumento observado com a adição de ODQ. A adição de ODQ inibiu (P<0,05) o aumento da síntese de E2 (3,3 ±0,3 ng/ml) estimulada pela adição de 10-5 M de SNP, não sendo observada diferença entre a síntese de E2 quando as CG foram cultivadas na presença de ODQ e ODQ com 10-5 M de SNP (P>0,05). A adição de 10-3 M de SNP inibiu (P<0,05) a síntese de E2 (0,02 ± 0,001 ng/ml) e este efeito não foi revertido pelo ODQ (0,02 ± 0,1 ng/ml) (Figura 4, painel b). A síntese de P4 e E2 pelas CGs cultivadas com 10-1 M de SNP foi menor que a concentração mínima detectada (> 0,86 ng/ml e > 88,0 pg/ml, respectivamente) pelo método de mensuração de esteróides utilizado. Por este motivo, não consta nos gráficos. 111 Figura 1 Células da granulosa cultivadas sem tratamento (a), com ODQ (b); 10-5 M de SNP (c); 10-5 M de SNP + ODQ (d); 10-3 M de SNP (e); 10-3 M de SNP + ODQ (f); 10-1 M de SNP (g); 10-1 M de SNP + ODQ (h) (aumento de 400 x). 112 (a) NO3- / NO2- (uM) 100 d 80 60 d c c 10-3 + 10-3 10-1 + 10-1 d d d d 10-3 + 10-3 40 20 0 a ODQ (10-4M) SNP (M) 0 a + 0 b b 10-5 + 10-5 (b) CGs viáveis (n x 10 5) 9 8 a 7 6 5 4 3 2 1 0 ODQ (10-4M) SNP (M) 0 b ab + 0 ab 10-5 + 10-5 + 10-1 10-1 Figura 2: Efeito do SNP (0, 10-5 , 10-3 e 10-1 M) com ou sem ODQ (10-4 M) na (a) concentração de NO3-/NO2- no meio de cultura e na (b) viabilidade celular (no de CGs antrais viáveis x 105) no final de 24 h de cultura. Médias com letras diferentes são (P<0,05) diferentes pelo teste de Tukey. Cada valor no gráfico representa média ± desvio padrão de dois experimentos independentes 113 ODQ Controle SNP10 -5 M Número de células G O /G 1 -Go S G2 Conteúdo de DNA SNP10 -3 M SNP10 -3 M + ODQ Número de células SNP 10 -5 M+ ODQ Conteúdo de DNA SNP 10 -1M +ODQ Número de células SNP 10 -1M Conteúdo de DNA Figura 3: Efeito do SNP no ciclo celular das CGs antrais de folículos de 3-5mm de diâmetro cultivadas com 0 de SNP (controle); 10-4 M de ODQ; 10-5 M de SNP, 10-5 M de SNP + 10-4 M de ODQ; 10-3 M de SNP; 10-3 M de SNP + 10-4 M de ODQ; 10-1 M de SNP; 10-1 M de SNP + 10-4 M de ODQ. – G0 – níveis subdiplóides de DNA; G0/G1- células diplóides; S - síntese de DNA; G2 – células tetraplóides (mitose). 114 P4 (ng/ml) (a) 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 a c c b d 1 ODQ (10-4M) SNP (M) 0 d 2 3 4 5 6 + 0 10-5 + 10-5 10-3 + 10-3 (b) 8 c 7 E2 (ng/ml) 6 5 b b 4 3 a 2 1 d 0 1 2 3 ODQ (10 M) SNP (M) 0 + 0 10-5 -1 -4 4 5 6 + 10-5 10-3 + 10-3 Figura 4: Efeito do SNP (0, 10-5, 10-3 M) com ou sem ODQ (10-4M) na síntese de P4 e E2 pelas CGs antrais de folículos de 3-5mm de diâmetro no final de 24 h de cultura. Cada valor no gráfico representa média ± desvio padrão de dois experimentos independentes com 2 repetições por tratamento. 115 DISCUSSÃO O presente experimento demonstrou que o NO pode regular a esteroidogênese das CGs de folículos pequenos de bovinos confirmando a hipótese do papel parácrino e autócrino do NO na fisiologia ovariana (BASINI et al., 1998). No presente estudo, foi verificado que, apesar da concentração 10-5M de SNP inibir a síntese de P4, esta estimulou a síntese de E2 nas primeiras 24 h de cultura, enquanto concentrações mais elevadas (10-3 e 10-1M) de NO inibiram a síntese tanto de E2 quanto de P4. Estes resultados contrariam em parte os resultados encontrados por Basine et al. (1998) que demonstraram com o uso do S-nitroso-N-acetylpenicillamine (SNAP), doador de NO, em concentrações semelhantes às utilizadas no presente estudo, uma inibição da síntese de esteróides logo nas primeiras 24 h de cultivo das CGs de bovinos. Entretanto, existem relatos na literatura que correlacionam o aumento da concentração de nitrito, metabólito do NO, com o volume folicular e concentração de E2, mas não com a concentração de P4 no fluido folicular de mulheres durante a fase folicular (ANTEBY et al., 1996). Além disso, BONELLO et al. (1996), objetivando avaliar a regulação do NO na taxa de ovulação em ratas, demonstraram por meio da perfusão ovariana com o inibidor da enzima NOS (Nω-nitro-L-arginine methyl ester, L-NAME) uma diminuição da síntese de E2, sugerindo que o NO pode regular positivamente a síntese de E2 e a ovulação. Assim, os resultados do presente estudo corroboram com estes achados, sugerindo que o NO pode participar na regulação positiva da síntese de E2 pelas CGs de bovinos. Os resultados deste estudo também demonstraram que a inibição da síntese de P4 pela adição 10-5 M de SNP e a inibição tanto de E2 quanto de P4 pela adição de concentrações mais elevadas de SNP (10-3 e 10-1M) ocorre por um mecanismo independente da via GMPc, semelhante aos resultados encontrados por BASINI et al. (2000), ao utilizarem doador de NO (SNAP, N-acetilpenicilamina s-nitroso) em cultura de CGs de bovinos. O NO pode agir por um mecanismo independente de GMPc, tendo em vista que este pode se ligar a enzimas contendo o grupamento heme, assim como 116 as ciclo-oxigenases (RETTORI et al., 1992) e enzimas do citocromo P450 (WINK et al., 1993). SNYDER et al. (1996) sugerem que NO regula a esteroidogênese por inibição direta das enzimas do citocromo P450. Adicional a estes resultados, o presente estudo mostrou que, embora a concentração mais baixa de SNP tenha reduzido a síntese de P4 nas primeiras 24h, esta manteve as características morfológicas de CGs esteroidogenicamente ativas (GUTIERREZ et al., 1997) e não alterou viabilidade e ciclo celular, enquanto que concentrações mais elevadas de SNP no meio de cultivo, além de inibirem a síntese de esteróides, alteraram as características morfológicas de CGs descritas por GUTIERREZ et al. (1997), induzindo a desagregação do grumos celulares e bloquearam a atividade das enzimas mitocondriais, evidenciado pela redução drástica da viabilidade celular. Entretanto, a concentração 10-3M não alterou o ciclo celular como verificado pela adição da concentração 10-1M, que induziu uma fragmentação do DNA das CGs. CHU et al. (1995) e BASINI et al. (1998) demonstraram que o NO inibe a apoptose das CGs em ratas e bovinos, respectivamente, e de fato concentrações reduzidas de NO (nmoles) podem reduzir a ativação de caspases, induzindo a expressão do gene Bcl2, que inibe a permeabilidade mitocondrial e previne a liberação do citocromo c e clivagem da polimerase poli (ADPribose) (GENARO et al., 1995; ROSSSIG et al., 1999). Entretanto, sabe-se que o NO em concentrações elevadas possui efeito citotóxico e vem sendo demonstrado por induzir a apotose e/ou necrose em outros estudos ligados à fisiologia da reprodução, como: ovário de ratas (ELLMAN et al., 1993), células epitélio- endometriais de mulheres (LI et al., 2001) e embriões bovinos (ORSI et al., 2005). As mitocôndrias possuem várias enzimas contendo o grupo heme, como as enzimas responsáveis pela respiração celular (citocromo oxidase) e síntese de esteróides nas CGs (citocromo P450scc e aromatase) (GORE-LANGTON et al., 1994 ). Como demonstrado no presente estudo pelo método do MTT, a inibição da atividade mitocrondrial pelo NO em concentrações elevadas se deve provavelmente à ligação do NO à enzima citocromo oxidade, prejudicando a respiração mitocondrial das CGs, levando à morte celular, provavelmente por depleção de ATP (LEIST et al., 1999) e clivagem do DNA (ZHANG et al., 1994). Em função dessa ação do NO nas mitocôndrias, estes resultados sugerem, também, uma provável ligação do NO ou de 117 seus derivados ao grupamento heme da P450 aromatase como um mecanismo de inibição da síntese de esteróides demonstrado por VAN VOORHIS et al. (1994) em cultura de CGs luteais de humanos. O NO em concentrações elevadas se liga ao grupamento heme das enzimas da cadeia respiratória, como a citocromo oxidade e inibe a atividade mitocondrial levando a morte das células por hipóxia (CLEMENTI et al., 1999; SARTI et al., 1999). Após várias horas de exposição ao NO, pode ocorrer uma inibição irreversível da enzima citocromo oxidase, devido à conversão do NO em espécies reativas de nitrogênio (peroxinitrito), que inibem vários sítios da respiração celular. A formação do peroxinitrito, que é um forte oxidante, pode causar peroxidação lipídica, aumentando a permeabilidade mitocondrial a prótons ou outros íons e, assim, causar danos ao DNA. Assim, os resultados do presente estudo mostram uma inibição da atividade mitocondrial pelo tratamento das CGs com 10-3M de SNP sem dano ao DNA pelo menos com 24 h de cultivo, enquanto a concentração 10-1M de SNP mostra dano mitocondrial e fragmentação do DNA, sugerindo que concentrações elevadas de NO parecem inicialmente inativar a função mitocondrial e, depois, induzirem a fragmentação do DNA, levando à morte das CGs por apoptose ou injúria. Os resultados demonstraram que, embora não tenha sido verificada a inibição de P4 pelo NO via GMPc, existe algum fator, que não é o NO, capaz de estimular a síntese de P4 via GMPc , visto que, a inibição da via GMPc diminuiu a síntese de P4, contudo, um resultado não esperado e inexplicável foi a ausência de um efeito negativo adicional sobre a síntese de P4, quando o ODQ foi adicionado ao tratamento com 10-5 M de SNP. Embora o maior ativador fisiológico da guanilato ciclase, enzima responsável pela síntese de GMPc, seja o óxido nítrico (IGNARRO et al., 1991), existem outros reguladores fisiológicos envolvidos na sua ativação, como: o cálcio (SITARAMAYYA, 2002) e a protoportfirin IX (MINGONE et al., 2006). No ovário, pouco se sabe sobre os ativadores e reguladores da guanilato ciclase (LAPOLT et al., 2002). Assim, estudos nesta área devem ser realizados com intuito de verificar outros possíveis reguladores da via GMPc para assim melhor compreender os eventos que controlam a função ovariana. 118 Ao contrário do efeito do NO sobre a síntese de P4, o presente estudo mostrou que a adição de 10-5 M de SNP aumentou síntese de E2 por um mecanismo dependente de GMPc, porém, como observado na síntese de P4, os resultados deste estudo também mostraram que existem outros mecanismos reguladores da via GMPc, entretanto, estes possíveis reguladores estão envolvidos na inibição da síntese de E2, pois a inibição da via GMPc estimulou um aumento de cerca de 20 % da síntese de E2 em relação ao controle, enquanto, aproximadamente, 50% do aumento da síntese de E2 em relação ao controle se deve ao efeito positivo do NO mediado pelo GMPc, observado após a adição de 10-5 M de SNP. Estes resultados sugerem que a via NO/GMPc não está envolvida na regulação da síntese de E2, mas pode existir um outro mecanismo que regula negativamente a síntese de E2 via GMPc indepentente do NO, ainda não elucidado. Apesar dos resultados serem conflitantes, já foi demonstrado que existe uma regulação por parte dos esteróides sobre a síntese do GMPc. Foi demonstrado que a P4 e o E2 estimulam a síntese de GMPc em células pancreáticas (ROPERO et al.,1999) e em CGs de mulheres (SIROTKIN et al., 1995), respectivamente. Assim, verifica-se que existe uma relação positiva e negativa entre estes hormônios e o GMPc. Mais estudos são necessários para se avaliar a regulação autócrina/parácrina da esteroidogênese nas CG de bovinos pela P4 e E2 via GMPc. Tem sido sugerido que o GMPc diminuí a concentração de AMPc pela ativação da fosfodiesterase-AMPc (PDE-AMPc), que cliva o AMPc (MACFARLAND et al., 1991). Entretanto, os sistemas celulares possuem duas classes de PDE, uma classe designada PDE 2, que é estimulada pelo GMPc, e outra classe PDE 3 que é inibida pelo GMPc (CONTI et al., 1995). Nas células, onde os sistemas AMPc e GMPc agem sinergicamente, a PDE 3, é inibida pelo NO e GMPc, resultando no aumento do AMPc e ativação da via dependente de AMPc (DRAIJER et al., 1995; KURTZ et al., 1998). Ao contrário, a ativação da PDE 2 pelo NO leva à hidrólise do AMPc (MACFARLAND et al., 1991). Assim, as interações entre GMPc e AMPc, induzidas pelo NO, podem ser sinérgicas ou antagônicas. 119 No ovário, observou-se que os oócitos expressam a PDE 3, e as CGs, a PDE 4 (TSAFRIRI et al., 1996). A regulação da PDE 2 no ovário não está relatada. Assim, fica claro que outros componentes da via de sinalização GMPc devem ser elucidados para o entendimento das ações do NO via GMPc e AMPc. Em adição, o efeito do análogo do GMPc (bromo GMPc) e doador de NO (SNP) na inibição da apoptose das CGs já foi verificado em folículos em estádio inicial antral (CHUN et al., 1995) e antrais em todos os estádios de desenvolvimento em ratas (MCGEE et al. (1997). O E2 (HSUEH et al., 1994) e o GMPc (CHUN et al., 1995; MCGEE et al., 1997) vêm sendo considerados como um dos fatores anti-apoptóticos das CGs, enquanto a P4 vem sendo relacionado à apoptose das CGs. Além disso, durante o desenvolvimento folicular em mulheres submetidas à superovulação, ocorre um aumento da concentração de nitrito/nitrato paralelo ao desenvolvimento folicular (ANTEBY et al., 1996). Já é bem estabelecido que o desenvolvimento folicular é correlacionado com a síntese de E2. Assim, concentrações menores de NO parecem estar envolvidas na regulação negativa da P4, por mecanismos não elucidados no presente experimento, e positiva da síntese de E2 via GMPc, provavelmente, este mecanismo pode estar envolvido na maturação folicular e proteção das CGs via GMPc. A discrepância entre os resultados do presente estudo com alguns dados encontrados na literatura pode ser devido a algumas diferenças relevantes existentes entre o sistema de cultivo utilizado e os sistemas utilizados em outros experimentos. BASINI et al. (1998), visando a verificar o efeito do NO nas CGs, utilizaram sistema de cultivo com soro fetal bovino (SFB) e, posteriormente, utilizaram um sistema de cultivo livre de SFB, contendo BSA, porém sem adição de insulina (BASINI et al., 2000). O soro fetal bovino induz a luteinização das CGs (GUTIERREZ et al., 1997) e o BSA contém colesterol, testosterona, progesterona, vários fatores de crescimento e outros componentes não determinados, além da variação da concentração destes componentes por ser um material biológico (WANG et al., 1977; MAURER, 1992, KESKINTEPE e BRACKETT, 1996, MINGOTI et al., 2002). MINGOTI et al. (2002) demonstraram uma diminuição da síntese de E2 pelas células do cumulus quando o complexo cumulus-oócito (COC) de bovinos foi maturado em meio de cultivo 120 suplementado com testosterona, sugerindo que concentrações elevadas de testosterona podem inibir a síntese de E2. Portanto, o meio de cultivo suplementado com BSA aumenta a concentração de andrógenos além da adicionada no meio de cultivo, que pode exercer um efeito negativo sobre a síntese de E2 e, assim, interferir nos resultados. A insulina possui grande importância nos sistemas de cultivo, pois mantém a atividade esteroidogênica das CGs (GUTIERREZ et al., 1997). O sistema de cultivo utilizado no presente estudo substituiu o SFB e BSA por PVA. Além disso, foram retirados as hemácias e macrófagos que, sabidamente, interferem na esteroidogênese e síntese de NO (BECKMANN et al., 1991; Shakil et al., 1994). Como demonstrado, o modelo de cultivo foi eficaz em manter as mesmas características morfológicas de células da granulosa esteroidogenicamente ativas, descritas por GUTIERREZ et al. (1997), como: forma arredondada e formação de grupos celulares ancorados ao fundo da placa por células semelhantes a um fibroblasto. CONCLUSÕES Diante disto, os resultados do presente estudo, utilizando este sistema de cultivo, sugerem que concentrações mais baixas de NO podem regular negativamente a síntese de P4 por via independente de GMPc, entretanto, os resultados também demonstraram que esta via está envolvida na regulação positiva da síntese de P4 por fatores não elucidados. Ao contrário destes achados, este experimento mostrou que a via NO/GMPc encontra-se envolvida na síntese E2, porém, esta via também parece ser utilizada para inibir a síntese de E2 por mecanismos independentes do NO. Concentrações de NO mais elevadas neste experimento tiveram efeito citóxico, e parecem, inicialmente, induzir uma inativação da função mitocondrial e depois fragmentação do DNA, levando à morte celular das CGs por injúria celular ou apoptose, além de inibirem a síntese de P4 e E2. Assim, o NO pode estar envolvido na regulação da esteroidogênese e diferenciação das GCs por mecanismos 121 independentes ou não do GMPc, mas também no processo de apoptose e /ou necrose celular. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTEBY, E. Y, HURWITZ, A., KORACH, O., REVEL, A., SIMON, A., FINCI-YEHESKEL, Z., MAYER M., LAUFER, N. (1996) Human follicular nitric oxide pathway: relationship to follicular size, oestradiol concentrations and ovarian blood flow. Hum Reprod., 11: 1947-1951. BASINI G., BARATTA, M., PONDERATO, N., BUSSOLATI, S., TAMANINI, C. (1998) Is nitric oxide an autocrine modulator of bovine granulosa cell function? Reprod Fertil Dev., 10: 471-478. BASINI, G., GRASSELLI, F., PONDERATO, N., BUSSOLATI, S., TAMANINI, C. (2000) Lipid hydroperoxide and cGMP are not involved in nitric oxide inhibition of steroidogenesis in bovine granulosa cells. Reprod Fertil., 12:289-295. BECKMANN, M. W., POLACEK, D., SEUNG, L., SCHREIBER, J.R. 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O FSH não utiliza a via NO para induzir a diferenciação das CGs, pelo menos em concentrações fisiológicas descritas por estimular a esteroidogênese das CGs de folículos pequenos em bovinos. Trabalho II 1. O NO em baixa concentração possui efeito citoprotetor 2. O NO inibe a síntese de E2 e P4 e induz a proliferação das células da granulosa, estando ligado à diferenciação das CG. 129 Trabalho III 1. O NO pode regular positivamente a síntese de E2 via GMPc e desta forma, modular a diferenciação das CGs; 2. A síntese de P4 é modulada pelo NO, mas não pela via GMPc 3. O NO em concentração elevada possui efeito citotóxico e induz a fragmentação do DNA.