Produ
Especialistas dizem que o óleo de mamona atende a exigências da
Agência Nacional de Petróleo (ANP) e que pode ser usado até na
produção do óleo B40; cultura gera emprego e renda no Nordeste
do País Fonte: Agência Sebrae
Giovana Perfeito
Brasília - A polêmica sobre a produção de biodiesel a partir de Divulgação Mamona é
alternativa para o clima semi-árido do Nordeste mamona – levantada pela Resolução número 7
da Agência Nacional de Petróleo (ANP), em março deste ano –, trouxe muitos mitos que pouco
a pouco são derrubados por pesquisadores dessa oleaginosa. Além dessa discussão, há
outros desafios a serem vencidos para a viabilidade da mamona, como a organização da
cadeia produtiva e a produção de sementes com padrão de qualidade.
Divulgação
Mamona é alternativa para o clima
semi-árido do Nordeste
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Pela resolução da ANP, o óleo de mamona é considerado muito viscoso, não sendo viável a
produção de biodiesel feito apenas com mamona. O produto teria que ser misturado a outros
óleos. Na opinião do chefe-geral da Embrapa Algodão, Napoleão Beltrão, não existe óleo que,
isoladamenapolnte, seja perfeito para a produção do biodiesel. "A melhor saída é a
mistura", diz.
Segundo Napoleão, uma boa mistura é a resultante do óleo de mamona com óleo de coco,
dendê ou buriti. "Dá um excelente biodiesel, bem leve e que atende às especificações
exigidas", destaca. A mesma defesa é feita pela coordenadora nacional da carteira de
projetos de agroenergia do Sebrae, Wang Ching. Segundo ela, faz parte de uma estratégia de
negócio o uso de mais de uma matéria-prima.
"É uma forma de se buscar um adequado balanceamento percentual entre os diversos
óleos, aumentar as possibilidades de abastecimento regular e permitir que o empreendimento
tenha impacto reduzido com as flutuações de preços de matérias-primas em decorrência de
sazonalidades naturais", afirma Wang.
Esse também é um meio de se aproveitar a biodiversidade do País, buscando maior
competitividade e consolidação de mercado. "O Brasil tem condição de usar mais de 100
óleos para a produção do biodiesel", diz Napoleão. O especialista destaca também que o
óleo de mamona suporta com boa viscosidade até a produção do B40, que seria a mistura de
40% de mamona com o óleo diesel. Atualmente, no Brasil usa-se apenas o B3.
Questão social
O apelo da mamona também passa pela sua feição social. Especialmente no semi-árido do
Nordeste brasileiro, a oleaginosa é vista como fonte de renda. Isso porque a mamona requer
apenas cerca de 500 mililitros de chuva no ano, importante característica para suportar os
longos períodos de seca. "É um produto que atende bem à agricultura familiar. Por não
ser alimento, não exige rígidos procedimentos para estoque. Tem mercado assegurado e em
alguns locais é tida como dinheiro, pois é usado como moeda de troca", diz Wang.
A gestora do projeto do Sebrae em Alagoas, Rita Gonçalves, reforça esse ponto positivo.
"A mamona é o que dá para plantar no semi-árido e gerar renda. Além disso, a plantação
é aliada ao cultivo de feijão, levando também alimento para as famílias", ressalta.
Atualmente, o projeto do Sebrae nesse estado atende cerca de 500 produtores que têm
vendido o quilo da mamona por R$ 0,80.
O engenheiro agrônomo Ronaldo Tenório, que trabalha na Usina de Biodiesel Governador
Miguel Arraes, em Pernambuco, conta que a empresa compra há quatro anos mamona de
produtores do estado. Há um ano passou a comprar também de produtores de Alagoas. Em
janeiro, somente de Alagoas foram adquiridas cerca de 30 toneladas. A usina, que já está
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pronta, vai começar a produção do biodiesel nos próximos meses.
"A idéia é usarmos principalmente a mamona na produção. Se não houver matéria-prima
suficiente, trabalharemos com outros óleos, como algodão e soja. Com o B3 que usamos hoje
não há problemas de viscosidade, portanto, a resolução da ANP não vai comprometer nossa
programação", afirma Ronaldo.
Desafios
Para Napoleão Beltrão, da Embrapa, a viabilidade da mamona no País também passa pela
construção de uma política de Estado para garantir a produção e a organização dessa cadeia
produtiva. Outro desafio é o desenvolvimento de sementes de qualidade.
"Estamos repassando para produtores a variedade de semente de mamona chamada de
BRS Energia. Ela tem alto teor, já que quase 50% de seu peso é composto de óleo. Além
disso, é resistente a fungos e tem um ciclo mais precoce, de 100 a 120 dias, enquanto as
outras sementes precisam de 200 a 230 dias", explica.
A busca por sementes de qualidade é um gargalo em toda a produção agrícola, especialmente
para o pequeno produtor. "No Brasil, cerca de 90% das sementes que chegam ao
produtor não têm identidade genética, não têm qualidade fisiológica e contêm misturas",
diz Napoleão.
Uma boa saída para essa dificuldade é a parceria entre Embrapa e Sebrae para o uso da
semente BRS Energia. No início do mês, foi realizado um dia de campo em Alagoas para o
plantio dessa variedade. "É uma forma de fomentarmos o cultivo da mamona com
qualidade", destaca.
O Brasil tem hoje área plantada de 150 mil hectares e a produção é de 85 mil toneladas por
ano. Já existem cerca de 4 milhões de hectares mapeados no Nordeste pela Embrapa para o
plantio da oleaginosa. 3/3
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