stf.empauta.com Brasília, 17 de fevereiro de 2008 Correio Braziliense - Brasília/DF STF A dança dos cartões corporativos OPINIÃO Maurício Corrêa mília, fixando-se, quanto ao governo deste, o termo inicial de abrangência a partir de 2001. Advogado A credibilidade dos políticos se mede pelo grau de responsabilidade com que cumprem ou não seus deveres na vida pública. A onda de desconfiança que os atinge, repetida numa sucessão irritante de fatos, se explica por atitudes como as que adotam no episódio relacionado com a investigação sobre o uso dos cartões corporativos. Ministros de Estado e um grande número ainda indefinido de servidores, devidamente credenciados por superiores hierárquicos, valeram-se desse meio para gastos particulares, pagos pelo contribuinte. O uso desregrado dos cartões esbanja a existência de ilícitos. A instalação de uma CPI, que a ética pública prontamente exige, ésedeconstitucionalprópria para apuração desse escândalo na utilização de recursos públicos. A oposição no Senado Federal, configurado o desmando, entrou em campo visando à criação do órgão. Quando tomava corpo a iniciativa, o governo anunciou que também desejava a investigação no Senado. Partiu para o contra-ataque. Autorizou a coleta de assinaturas de parlamentares. Tinha um trunfo. Queria que as apurações abrangessem todo o período do governo de Fernando Henrique Cardoso, em cujo mandato, aliás, foi introduzida a novidade dos cartões corporativos. Conseguiu o que queria. Na Câmara dos Deputados, um deputado do PSDB, da mesma forma, reunia subscrições para a instalação de outra CPI, dessa feita, de ambas as casas do Congresso, com o mesmo objetivo. Foi o suficiente para que fiéis escudeiros governistas desistissem da que pretendia promover no Senado. Governo e o deputado oposicionista sentaram-se à mesa para tratar do assunto. Desse encontro delineou-se o alvo. Essência dele: não se apura nada dos gastos pessoais de Lula e de sua família. O mesmo diz-se com relação a FHC e sua fastf.empauta.com Não é à toa que o presidente da República determinara que despesas desse gênero, pagas com cartões corporativos, devessem ficar de fora do alcance da internet. A grande questão a clarificar é exatamente essa. De fato, a Constituição Federal não restringe ninguém da obrigatoriedade da publicidade de gastos cobertos com verbas públicas. Não parece que o presidente, em face de imposição constitucional, possa expedir regras limitadoras de seu cumprimento. A controvérsia já foi instaurada por ações ajuizadas por partidos políticos perante o Supremo Tribunal Federal. Em seu julgamento, por certo, será definido se pode ou não o presidente criar limites de adimplência da norma constitucional. Se isso se verificar, é preciso explicitar quais são esses limites. Absurdo será se o sigilo criado puder abranger genericamente as despesas pessoais do presidente. O chefe da nação não pode escusar-se da obrigação constitucional. É inexplicável que, numa democracia de Estado de Direito, despesas assim contraídas sejam rotuladas de sigilosas. A prevalecer tal exceção, a caixa-preta dos gastos particulares do presidente e de seu entorno, quitados com o dinheiro do povo - que Lula sempre evocou existente no Judiciário -, jamais será aberta. No caso do presidente, todo mundo sabe que ele tem adoração por viagens. Quanto se gastou com hospedagens, por exemplo, onde o governo local não as cobriu? Com aluguéis de carro, deslocamentos, passagens, quanto se despendeu? Por quanto se pagou por caixas de uísque, vinho, champanhe, charutos, presentes, licor, por recepções oferecidas? Nunca se poderá saber. Não é sem razão que a disputa pelo controle da CPI sobre os cartões está emperrada por falta de entendimento acerca do preenchimento dos carpg.3 stf.empauta.com Brasília, 17 de fevereiro de 2008 Correio Braziliense - Brasília/DF STF Continuação: A dança dos cartões corporativos gos de relator e presidente. E o que é gasto no Palácio do Planalto, no Torto, no Alvorada, nos locais onde se hospeda o presidente nas viagens internas, sem que seja realmente imprescindível à sua segurança, tudo seria sigiloso? Se assim é, as irregularidades praticadas pelos titulares de cartões corporativos, a seu serviço, sempre ficarão imunes à publicidade. Os atos de qualquer ordenador de despesas públicas sujeitam-se à exigência da publicidade. É inescusável que assessores do chefe da nação, e ele próprio, com a faculdade de livremente sacar dinheiro e fazer compras - mesmo que tais despesas nada tenham a ver com algo sigiloso -, fiquem de fora do alcance da publicidade e do controle de stf.empauta.com contas, como ocorre com quem, no serviço público, exerça atos de gestão. Sem ser cassandra, vislumbra-se a previsão de que tudo poderá dar em nada. O governo finge que quer apurar, mas não abre mão do controle do órgão porque tem medo da verdade. A oposição do acordo submerso, temerosa de que possam remexer no que não deve, também finge. Se chegar a algum lugar, vão pegar a raia miúda. Tal como aconteceu com a ministra da Igualdade Social. O grande mistério se esconde no que não querem que apareça. Alguém que não teme o que fez, por acaso se esconde da verdade? Nessa corrida entre gato e rato, ambos serão vencedores. pg.4