Northwestem University Library Evanston, lilinois 60208-2300 Liiiii LI O INICIO DA LUTA ARMADA EM TETE, 1968-1969: A Primeira fase da guerra e a reacção colonial João Paulo Borges Coelho Estudos 7 Arquívo Histórico de Moçambique Série: Estudos 07 Tijulo: O Iniíio da Luta Armada em Tete, 1968-1969: A Primeira Fase da Guerra e a Reacção Colonial Autor: João Paulo Borges Coelho Edição: Arquivo Histórico de Moçambique/ Nucleo Editorial da Universidade Eduardo Mondiane Registo: 073311NLD189 Maputo. Setembro de 1989 'NDICE Introdução, 9 Capítulo 1 O dispositivo das forças portuguesas no território de Tete e a sua concepçao global de defesa, 21 O dispositivo das forças portuguesas, 23 A concepção global de defesa, 29 Capítulo II A FRELIMO e a preparação da luta armada em Tete, 45 A situação polítíco-mílitar interna da FRELIMO, 46 A reestruturação militar da FRELIMO, 47 Os grandes objectivos da Frente de Tete, 48 O aparelho da F.RELIMO no Malawi, 51 A Zâmbía, rectaguarda da Frente de Tete, 58 O COREMO e os outros grupos "dissidentes no Norte de Tete, 61 CondiçÕes do desencadeamento da luta no interior, 64 Capitulo III A abertura da Frente de Tete (1968-1969), 69 A lígaçao com as populações, 70 O estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros, 75 A ofensiva da FRELIMO, 84 A contra-ofensiva militar portuguesa, 92 A FRELIMO retoma a iniciativa, 102 Notas, 113 Bibliografia, 137 Siglas usadas na documentação, 141 Anexo 1 Principais acçoes militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonial entre Março de 1968 e Junho de 1969, 143 Anexo II Operações militares efectuadas pelo exercito portugues em Tete no âmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de 1968), 153 rNDICE DOS MAPAS 1. A Província de Tete, 7 1 2. O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra em 1968-1969, 8 3. Os regulados na zona de guerra, 25 4. Dispositivo militar português na zona de guerra. Março de 1968, 26 5. Rotas possíveis de infiltração da FRELIMO segun do prevísões do exército colonial em fínaís, do ano de 1967, 44 6. O estabelecimento da FRELIMO no Sul do Malawi em 1967, 57 7. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada. Março de 1968, 80 8. Bases principais da FRELIMO durante a ofensiva do primeiro semestre de 1968 (Maio-Agosto), 81 9. Dispositivo militar português na zona de guerra: criação do Subsector FBN no ambito da contra-ofen siva militar portuguesa. Setembro de 1968, 94 10. Operaçoes especiais do exército português no âm bito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968, 95 11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guer ra. Abril de 1968, 98 12. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guer ra em Setembro de 1968: aumento generalizado dos contingentes, 99 13. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exército português no final de 1968, 104 14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado a iniciativa, no primeiro semestre de 1969, 105 15. Dispositivo militar português na zona de guerra em Abril de 1969: reforço dos contingentes, 108 16, Dispositivo paramilitar colonial na zona de guer ra, no primeiro semestre de 1969: aumento das forças de milícias, 109 17. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guer ra entre finais de 1968 e início de 1969, 111 ........... ai, a' 4 à~ vp .. ...... :« '*t,.*.,t S3. . *0 :.:::. - 11< ,#-« O -.... ::.::.:.: :.-' ,,, .. ..-. ...i,... :-:-:-:-:..:.:.:.: : í,, , , 1 , I ..... . .,. . '. .... . . ... .. .. . . _ ..- . . ... . j <r . . '' ..... . .. .'<- . .'.'.'.' .. . ., . , .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .: .. . .. . . .. . : : . . I :. .......-. ... . .4 .. 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O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra. Março de 1968. 8 INTRODUÇÃO O presente trabalho debruça-se sobre a abertura da Frente de Tete no decorrer da Luta Armada de Libertação Nacional, privilegiando os aspectos mili tares desse processo e fazendo recurso quase exclusívo à documentação colonial disponivel, particular mente a documentação militar portuguesa. Duas opçoes que colocam certos riscos: Por um lado, o da milita rização de um processo que foi muito mais global e no decorrer do qual a FRELIMO visava muito mais que a vitória militar; por outro, o de fazer recurso a fontes por assim dizer coloniais, partindo-se do princípio que se pretende escrever uma história em que o Movimento de Libertação está no centro do pro cesso. São necessárias, por isso, algumas explicaçoes. Em primeiro lugar, parte-se da convicção que o aspecto militar da luta nao e, de forma alguma, um aspecto isolado, desligado do universo de factores políticos e sociais. A guerra não é - nem mesmo a sua forma táctica particular que e a guerra de guer rilha - revolucionária em si mesmaI, mas antes cons titui um meio para realizar os desígnios políticos dos seus promotores. No que respeita a luta de libertação moçambícana, o recurso à luta armada constituiu uma decisão política, tomada após a constata ção de que todas as outras formas de luta estavam condenadas ao fracasso devido a intransigencia do colonialismo português2. Assim, quer na sua origem como no seu desenvolvimento, sao inumeros os factores que motivam a guerra, lhe definem a natureza e condicionam o sucesso. Para tomarmos um exemplo da experiência moçambicana poderíamos dizer que a participaçao popular na luta nao so constituiu a prati ca de uma opção política profunda como tambem se afi gurou, do ponto de vista estritamente militar, um factor de sucesso absolutamente fundamental. Sem a participação popular em todas as suas múltiplas for mas o exército colonial muito mais dificilmente teria sido derrotado. Tal não exclui, no entanto, que o inverso também seja verdadeiro, ou seja, quea pra tica da luta também tenha influenciado profundamente a construção das relações entre a população e os guerrilheiros, como o demonstra a experiencia das zo nas libertadas, prefiguração e prática de construção de uma sociedade alternativa a sociedade colonial. Contudo, não podemos afirmar que a literatura existente tenha dado suficiente importância às rela çoes entre esses dois aspectos na medida em que o aspecto militar da luta e, ainda hoje, praticamente desconhecido no seu detalhe, ignorado pela literatu ra dos mais diversos quadrantes ideológicos3. Não ca bendo aqui determo-nos na análise dessa literatura4, podemos no entanto afirmar que tal situação para além de, no geral, constituir uma lacuna no estudo da nossa historia, arrasta consigo outros mialefícios dos quais, seguramente, o menor não é depararmos com afirmaçoes e interpretações categóricas que o acesso a novas fontes vem depois dismistificar completa mente. Para apontarmos apenas um exemplo, Walter Opello afirma que "em 1968 as actividades militares da FRELIMO em Tete limitaram-se à mínagem de estradas e a realização de emboscadas na bacia do rio Ca poche, entre Gago Coutinho e Cassacatiza, perto da fronteira com a Zâmbia, e no planalto da Angónía, perto da fronteira com o Malawi''5. É evidente o intuito de mínimizar a gravidade da situação para a or dem colonial. De facto, as fontes portuguesas, mili tares e administrativas, demonstram que durante o ano de 1968 a guerra penetrou profundamente no território até a Sul das localidades de Fingoé e Bene e que, por outro lado, nunca chegou à Angónia, como procuraremos mostrar adiante. Nesta perspectiva, coloca-se com acuidade o pro blema do acesso e avaliação das fontes, que nos con duz a outra das opções tomadas para a realização do presente trabalho: o recurso à documentação colonial. Muito esquematicamente, a lutaarmada de liber tação pode ser estudada atraves de dois tipos de fon tes "primárias", quanto à sua proveniência, obviamente as produzidas pelo Movimento de Libertação e as coloniais. Em relação a uma parte das primeiras, o seu registo escrito encontra-se fundamentalmente nos arquivos do Partido, em processo de organização e fechados a consulta, e sobre os quais nao nos podemos, portanto, pronunciar. Quanto à recolha de de poimentos de antigos combatentes ou camponeses envolvidos no processo da luta, ela tem sido feita de forma dispersa ao longo destes anos, no âmbito de es tudos parcelares e localizados6. Constituindo inega velmente um tipo de fonte privilegiado, pela sua lo calizaçao no cenarío global da luta, pelo seu envol vimento directo nos acontecimentos e porque a luta foi mais acçao do que registo escrito, a recolha de depoimentos apresenta contudo algumas limitações que importa considerar. Alguns autores, referíndo-se aos "problemas" levantados pelas fontes orais, consideram-as de estatuto incerto no que respeita a consti tuirem sinais históricos: se bem que baseadas no princípio da repetição como forma de preservar o pas sado, e difícil verificar teoricamente a fidelidade dessa mesma repetição e a medida em que nao surgem alterações impostas por conjunturas do presente. Além disso as fontes orais nao tem uma vocaçao globalizante: são normalmente selectivas no seu conteúdo e - o que constituí uma limitação muito importante não estabelecem uma cronologia objectiva, na maioria dos casos 7. É certo que em relaçao aos acontecímentos da luta de libertação não deparamos com tradiçoes antigas transmitidas por sectores específicos da sociedade. De facto, trata-se de uma historia re cente, gravada - por vezes de forma bem dramatica na maioria dos moçambícanos do Norte do país. Todavia, muitos problemas permanecem, relacionados even tualmente com o facto de terem decorrido alguns anos, tornando-se portanto difícil exigir precisão e deta lhe nos depoimentos dos protagonistas, assim como com o facto dos testemunhos terem uma perspectiva parcelar dos acontecimentos; muitas vezes confinada a uma aldeia, e que a massífícaçao dos inquéritos por si so não consegue solucionar. Alem dísso, gran de parte dos problemas tem a ver com a orientação do proprio trabalho de recolha de depoimentos. Em muitos casos esta tem sido efectuada "teleologicamente", quer para ilustrar enredos-previamente bem definidos quer colocando as questões de forma a que as respostas sigam ao encontro daquilo que o inquiridor "quer ouvir", num processo muitas vezes subconsciente, até. Neste sentido há muítas vezes tendência para considerar simples afirmações e juizos individuais como profundas verdades científicas. Mais do que retirar informação ao protagonista e necessário apoia-lo, no sentido positivo, na elaboração do seu testemunho. Tal pode ser feito, pesem.embora os riscos, com o recurso a doçumentação colonial, as conclusões que dela poderemos retirar devido ao seu carácter sistemático e as contradiçoes internas que apresenta. A documentação colonial pode ajudar-nos no estudo das modificações do próprio Estado colonial, dos seus aparelhos, na sua tentati va para se adaptarem ao decorrer da guerra assim co mo, indirectamente, no estudo do impacto das acções levadas a cabo pela FRELIMO no território. Neste sen tido afigura-se possível reproblematizar - nos aspectos específicos como no geral todo o contexto em que se insere esta documentação. Produzida no qua dro particular de servir a administração colonial do território e a vitória das forças coloniais sobre o Movimento de Libertação, ela pode ser subvertida no sentido de apoiar o estudo deste período numa perspectiva totalmente outra. Trata-se portanto de lhe retirar o carácter de meio exclusivo de interpretaçao e de verdade para a remeter'ao papèl mais modes to de mais um dos instrumentos que nos permite estu dar o período especifico que ela cobre num quadro teórico que a transcende. Com esta documentação e possível definir cenários e hipóteses de trabalho que podem ser levados ao confronto com os testemunhos orais, ajudando os protagonistas, no concreto e no detalhe, a precisar e clarificar as suas memorias e, igualmente, ajudando os inquiridores a cons trúir um sentido para as suas questões que, de outra maneira, são frequentemente postas de forma dis persa e desconexa8 O presente trabalho parte portanto do principio que, constituindo as fontes coloniais uma parte importante da totalidade da documentação sobre a lu ta armada, e importante portanto em si, e possível, através de uma reproblematízação das mesmas, umgran de passo em frente no sentido de se poder recorrer com mais eficácia às outras fontes visando a construção da história nacional. Tratando-se de uma pri meira experiência pretende, com o seu desenvolvimen to, demonstrar concretamente essa importancia no am bito atrás apontado, assim como colocar alguns dos problemas e possibilidades que o trabalho comas fon tes levantou. Tentaremos ainda, neste espaço introdutório, fazer referência a alguns aspectos ~esse processo9. O Estado colonial foi sempre um grande produtor de documentos, uma característica comum a todos os seus aparelhos civis e militares, que burocratizava o seu funcionamento mas que - e por isso não devemos substimã-la - lhe deu recursos no campo das informações e da contra-guerrilha. Esse volume de doçumentação, é bem certo, possuí a carga ideológica que ele veiculava, a sua visao do mundo e o seu posicionamento concreto no cenario da luta. Essa vi são tem subjacente, por exemplo, a FRELIMO como ins trumento do "comunismo internacional" e a autoconsideração paternalísta do Estado colonial como defensor dos valores da civilização ocidental e protector das populações vítimas do "complot" comunista localizado para lá das fronteiras. Todavia, e em bora sempre com as devidas precauções, e possível afirmar uma distinção entre os documentos de pura propaganda e aqueles que, apesar de invariavelmente imbuidos dessa ideologia, se destinavam ao funciona mento dos aparelhos, nomeadamente no ambito das informaçoes, a planificação das acções militares e ou tros. A complexa classificação que sempre se preten deu apôr aos documentos directamente relacionados com a guerra, desde o simples "reservado", passando pelo "confidencial", ate ao "secreto" e ao "muito secreto", revela uma hierarquização precisa do poder e do saber e conduz-nos ate às zonas mais íntimas desse Estado, onde ele se permite progressivamente afirmar a verdade sobre os acontecimentos, a sua verdade. Uma outra distinção que pode ser esboçada, sem pre cautelosamente, diz respeito aos documentos "ob jectivos" e "subjectivos". Entre os primeiros, e ape sar de existir sempre senão a possibilidade de falsificação pelo menos a de erro, poderíamos incluir, por exemplo, as listas dos contingentes militares e o díspositivo, ou as directívas das operaç'ões mílitares. Os segundos dirão mais respeito à documentaçao que "interpreta" os acontecimentos, documentação essa que, embora subjectiva, se torna objectiva quan do pretendemos conhecer a visão que o próprio Estado colonial tinha do processo da luta. A observação da estrutura organizativa do Esta do colonial, do ponto de vista da defesa e segurança, revela que ele era composto por diversos aparelhos de hierarquia vertical, coexistindo lado a lado. Podemos apontar entre eles a PIDE, os Serviços de Centralízação e Coordenação de Informações de Mo çambique (SCCIM), a Policia de Segurança Pública, a Guarda Fronteira. Todos eles eram dirigidos de Lourenço Marques, possuindo delegaçoes ou escalões dis tritais e mesmo a nível de concelho ou círcunscriçao, e posto. Tal estrutura originava como regra a dupla subordinaçao a nível distrital. O chefe da de legação dístrital de Tete dos SCCIM, por exemplo, prestava contas ao Governador do Distrito e ao direc tor dos SCCIM em Lourenço Marques. Tal situação, se bem que comum a todos os diferentes serviços, torna va-se delicada em campos sensíveis como os da segurança e das informações. E afigurava-se ainda mais complexa se considerarmos também o aparelho militar, totalmente autónomo dos restantes, com os seus soldados, a sua administração própria, os seus serviços de informaçoes e a sua dependência do Comando-Chefe em Nampula. Assim, foi sempre grande a preocupação colonial de aperfeiçoar os aparelhos com vocação de articulação entre as estruturas verticais, de modo a dar coesao e operacionalidade ao funcionamento do seu Estado10. A nível das ínformaçoes podemos apontar o exemplo dos SCCIM, que processayam informação de diversas origens e a distribuíam para um grande numero de aparelhos. Contudo, no nível distrital não passavam de um entre muitos serviços produtores de informações. Interessa-nos aqui o facto que as informaçoes, embora originarias do mesmo universo político e ideológico, eram frequentemente produzidas e veiculadas por canais completamente independentes uns dos outros. Trata-se de uma circunstancia que produziu alguns conflitos e contradiçôes no seio do Estado colonial o que, de alguma maneira, reforça o valor deste acervo documental como fonte para o estudo desta area. Em muitos casos e possível observar as diferentes formas como um acontecimento é relata do e interpretado, por exemplo, pela estrutura da ad ministração civil, pela PIDE e pelo exército para os respectivos escalões superiores, independentemente uns dos outros, antes que todas essas informaçoes sejam confrontadas, normalmente a nível do Governo do Distrito ou da delegação provincial dos SCCIM. Se, como se pretendeu mostrar brevemente, este tipo de documentação permite conhecer o Estado colo nial, o seu posicionamento e perspectivas face a guerra, a situação torna-se mais complexa, todavia, no que concerne ao estudo do Movimento de Libertação. De facto, salvo casos esporádicos de documentação apreendida aos guerrilheiros e transcrita ou mesmo reproduzida em "fac-símile" (incluindo diários pessoaís), trata-se de uma fonte duplamente indirecta. Os documentos não se referem ao corpo instítucional que os produz mas a outro que eles apreendem por sua vez indirectamente. Todavia, ainda aqui eles permitem certas possibilidades que não permitiam aos seus prôprios produtores, não só pelas diferenças de posicionamento perspectivo como pelo facto de não estarmos limitados por factores de ordem temporal. To memos o exemplo das bases de guerrilha da FRELIMO: estas, pela sua extrema mobilidade no terreno, cons tituiram 'm dos grandes quebra-cabeças da planifica ção táctica do exército colonial. Frequentemente, este s6 tinha conhecimento da sua localização ou de factos relacionados com elas meses apos a sua existencia num determinado local. Para nós, todavia, torna-se possível, em certos casos, "voltando atrás", tornar produtivo e com sentido num dado momento, o conhecimento de um facto que o exército colonial s6 conheceu muito mais tarde. Ou seja, usarmos uma indicação que nos e dada por ele mas que não foi possivel a ele próprio utilizar. Tal deve-se, em grande medida, ao carácter sistemático dos documentos produzidos em séries periódicas. Assim se torna pos sível, por exemplo, acompanhar durante semanas consecutivas a passagem de Yatuta Chisiza e do seu con tingente de dissidentes malawianos pelo território setentrional de Tete, através de informações "forne cidas" pelo Estado colonial que, por sua vez, so na fase final dessa incursao teve conhecimento da iden tidade do pequeno exército. Levantadas que foram algumas das potencialidades da documentação colonial, entre as quaiso apoio que poderiam prestar no trabalho de recolha de depoimentos de protagonistas não e seguramentea menos importante, é pertinente referir ainda o seu estado organizativo. Esta docVmentação encontra-se no Arquivo Histrico de Moçambique, no Fundo de Tete, cons tituldo pela documentação produzida e recebida por esse Distrito colonial, e organizado de forma ainda bastante preliminar tal como, de resto, outros Fundos como os de Cabo Delgado e Niassa. Tal situação, devida à escassez de recursos - nomeadamente humanos - do Arquivo Histórico de Moçambique, que no en tanto tem assegurado a conservação dos documentos, constitui um indício preocupante da situação incipiente em que se encontra a investigação sobre a história da luta armada. Onze anos decorridos desde a data da Independência Nacional, não há ainda um programa global de investigação desta importante área e desta importante fonte, programa esse que incluiria forçosamente o tratamento e organizaÇao do acer vo documental. Um tal programa, que poderia passar pela reconstituição de cenários regionais (nomeadamente Cabo Delgado, Niassa e Tete) e pelo esboço de uma periodização, a partir dos diferentes Fundos, assim como pela sua articulação e coordenação em fun ção de objectivos de investigação específicos, é ur gente nao só devido à importancia geral que tem para o Moçambique de hoje, mas tambem com o objectivo específico de permitir um trabalho estruturado e sis temático com as fontes orais cuja perspectiva se em pobrece a cada dia que passa. Este trabalho abrange o período entre 1966 e o inicio de 1969, portanto o espaço de tempo que decor re entre a frustração da chamada primeira Frente de Tete, nos finais de 1965, e a abertura da mesma Fren te. Os anos de 1966 e 1967 constituem fase de prepa ração de condições para a luta, não so no interior do território como nos países vizinhos. O ano de 1968 assinala o início das acçoes armadas e o perío do de um ano, sensivelmente, foi definido porque cor responde a um ciclo completo de actividade guerrilheira, que tem os seus picos altos na epoca das chuvas. Trata-se, portanto, do tempo decorrido entre o final de uma epoca das chuvas e o final da época das chuvas seguinte. O período definido, -apesar da sua extensao (o ano entre 1968 e 1969), é abrangido pela designação de Início da Frente de Tete porque se considera a abertura não como um acontecimento pontual, que ocorreu em 8 de Março de 1968, mas sim co mo um processo que levou um ano a desenvolver-se ca balmente. De facto, podemos dizer que durante esse ano, do ponto de vista militar, era objectivo dos guerrilheiros não só penetrar como também manterem-se no terreno de operaçoes. O exercito colonial, por seu turno, alimentou a esperança de até ao final do ano de 1968 conseguir "limpar" o território, para usarmos a sua terminologia, de toda a presença guerrilheira o que, de resto, quase foi conseguido. Assim, considerou-se que o processo de abertura da Frente de Tete só se consumou quando, no inicio de 1969, se tornaram claros a sólida presença gueýrilheira no terreno e o falhanço da estratégia colonial tendente a resolver o conflito militarmente e de forma definitiva. O ano de 1969 assinala já uma reformulação da estratégia colonial, com o acelaramento da edificação dos aldeamentos e o reconhecimento subjacente que o Movimento de Libertação esta va no terreno "para ficar". Pensa-se, em suma, que os elementos apresentados definem as balizas de um período, aqui designado por primeira fase da guerra. O trabalho foi organizado em três capítulos. Os dois primeiros abordam, nos seus diversos aspectos, a preparação do cenário da luta. Do lado coloníal, o primeiro detém-se na organização e disposição das forças no terreno, assim como no processo de edificação da sua concepção global de defesa. o se- gundo procura desenvolver as questoes gerais ligadas a preparação da abertura da Frente pela FRELIMO. Finalmente, o terceiro capítulo analisa a questão militar da Frente considerando que houve três momen tos distintos - uma ofensiva dos guerrilheiros, uma reacção militar colonial e um retomar definitivo da iniciativa por parte das forças da FRELIMO - antes de terminado este ciclo. O texto agora apresentado foi defendido como dissertação de licenciatura em 1986. As alteraçoes introduzidas são mínimas, consistindo apenas na inclusão, no espaço reservado às notas, de extractos dos documentos originais citados, julgados pertinen tes e sugestivos. Por razoes de comodidade foi mantida a antiga designação das localidades e dos acidentes geográficos. Capitulo 1 O DISPOSITIVO DAS FORÇAS PORTUGUESAS NO TERRITÓRIO DE TETE E A SUA CONCEPÇAO GLOBAL DE DEFESA O dealbar da luta armada na Frente de Tete, em Março de 1968, encontrou as forças portuguesas simultaneamente preparadas e desprevenidas. Preparadas se considerarmos que havia quatro anos vinham esperando este momento, anunciado nas múltiplas informaçoes que colhiam e na reacção popular, tomando as medidas que julgavam eficazes para o abortar e, aos poucos, edificando uma concepçao global de defe sa do território. Desprevenidas no sentido em que não puderam prever com a nitidez que julgavam neces sária a altura e os locais do desencadeamento da lu ta, nem souberam encontrar respostas imediatamente eficazes. Este capítulo procurará avaliar o dispositivo portugues, a sua organização e o universo de factores constituintes daquilo a que poderíamos chamar a sua preparaçao para enfrentar a luta armada em Tete. Procurar-se-a igualmente analisar a concepção global de defesa construída pelas forças coloniais no terrítório de Tete, a sua estrategía, na qual um pa pel central era reservado a população, que pretendiam não só conquistar para a sua causa como também "accionar", ou seja, dar-lhe um papel activo na defesa da ordem colonial. Pode dizer-se que as autoridades coloniais em Tete sabiam que, mais tarde ou mais cedo, teriam a luta armada no território. A grande agitação dos fi naís do ano de 1964 e do ano de 1965 com, inclusiva mente, ataquoq armados a postos administrativos, constituira já um primeiro sinal e sentia-se, a cada passo, um trabalho subterrâneo que ccnduzia ao crescimento da consciencia antícolonial. Pao. as au toridades portuguesas e segundo as conclusões quo elas próprias tiravam do evoluir da situação, trata va-se de 'um aviso que, tal como em relação a Cabo Delgado e a Niassa, as punha cruamente face à sua in capacidade de controlar o território e as suas popu laçoes, pela extensão daquele, pela dispersão destas e pela fraca implantação dos aparelhos administrati vos, instrumento essencial da colonização. O então Distrito de Tete tinha características que levavam as autoridades coloniais a ver ali reunídas todas as condições para o desenvolvimento daquilo que consideravam ser "actividades subversivas". De facto, do ponto de vista geo- estratégico, o seu território tem uma configuraçao particular que fazia dele uma espécie de "península" cercada quase total mente por territórios estrangeiros. A partir do ano de 1964, se excluirmos a então Rodésia do Sul, rela tivamente pacÍfica em termos de infiltração das for ças anti-coloniais, existiam fronteiras como Malawi e com a Zâmbía, cerca de 1150 quilómetros de linha de fronteira com dois países africanos independentes e, portanto, encarados pelas autoridades coloniais como sendo potencialmente hostis. Além disso, uma das suas circunscriçoes, a Mutarara, era atravessada pela rota natural de passagem para o centro do país, que através do rio Chire ligava o Malawi directamente ao rio Zambeze e à serra da Gorongosa, no coração de Moçambique. Por outro lado, o território era ocupado por uma população dispersa e diversificada, numa teia complexa que, historicamente, ficou a dever-se a rea lídade do rio Zambeze como ponto de passagem e zona de cruzamento de várias migrações. Uma população com ligações económicas, culturais e familiares intensas com todos os territórios circundantes, e que tinha portanto dificuldades em assumir as fronteiras determinadas no papel pelas potências coloniais - fron teiras, além do mais, mal definidas no terreno e pra ticamente não policiadas1. Tal situação havia sido historicamente intensificada pelo desenvolvimento económico das colónias inglesas que cercavam o território de Tete, particularmente a Rodesia do Sul mas, também, a Rodésia do Norte e a Niassalândia, qie se constituiram como polos de atracção da força de trabalho do Distrito. Uma força de trabalho que aquele não tinha capacidade de absorver, se conside rarmos que ainda em 1966 não havia indústria para alem da extracção do carvao de Moatize, e onde os empreendimentos agrícolas, fora do âmbito familiar, eram insignificantes e concentravam-se nas mãos de meia dúzia de colonos 2 Em suma e na perspectiva das forças coloniais, o fortalecimento do Movimento de Libertação (adivinhado no trabalho clandestino que fazia junto das po pulações), associado à configuração particular do territorio, ao abandono a que estava votado, a liga ção entre as suas populações e as populações dos ter ritórios vizinhos que ascendiam a independência, eram factores que levavam as autoridades coloniais a pre ver para breve o início da guerra em Tete e a tomar medidas para a enfrentar. O dispositivo das forças portuguesas Tal como nos restantes distritos da ProvÍncía, o Distrito de Tete era administrado directa e indirectamente. Divídia-se em concelhos e circunscrições e estes em postos administrativos dirigidos por admínístradores. Dependendo directamente dos administradores de posto estavam os regulados, dirigidos pelos régulos que faziam a ligação entre a administração colonial e o chamado "poder político indÍ gena". No interior do regulado estavam os grupos de povoações e as povoaçoes propriamente ditas, com os seus chefes respectivos3. Os régulos eram indi cados quer pela população, segundo as normas de sucessão particulares, quer pelas autoridades adminis trativas, segundo a conveníencia destas ultimas. Em qualquer dos casos eram sempre as autoridades que os confirmavam. Uma vez investidos, os régulos tinham o direito de formar nucleos de milícias de protecção nos quais apoiavam o seu poder, organizados localmente com armamento rudimentar e recebendo da ad mínistração algum armamento suplementar. Ligadas ao Governo do Distrito existiam ainda outras organizações milítarízadas: a Guarda Frontei ra, vocacionada para o controlo dos movimentos fron teiriços; a Polícia de Segurança Pública que, para além das funções de policiamento das zonas urbanas, desenvolveu, a partir dos inícios da década de sessenta a criação dos postos de PSP/Milícias. onde um elemento da policia enquadrava milícianos na "protecção" de localidades e aldeias. Esta estrutura veio mais tarde a ter grande importância no controlo dos aldeamentos. Para além das forças de milícias ligadas à PSP. existiam outras forças militarizadas dependentes directamente de organismos autónomos e destinadas a proteger as areas de actividade daqueles. São os casos das Milícias dos Caminhos de Ferro, dependentes da Polícia dos Portos e Caminhos de Ferro, das Milícias da Missão de Fomento e Povoamen to do Zambeze e das MilÍcías da Trans-Zambezía Rail ways4. Em 1966, paralelamente às forças milítarizadas, os contingentes militares do Distrito eram compostos por um total de dois batalhões mais duas companhias, cerca de mil e quinhentos homens, com uma ac tividade essencialmente de patrulhamento. Apesar de ser uma zona ainda sem guerra e devido às acções de patrulhamento por forças tão diferentes, com subordinaçoes tão diversas, o Governo do Distrito tinha em funcionamento um Gabinete de Operações que, ínformado dos patrulhamentos militares, coordenava a realização das acções militarizadas. Assim, em ter. 3. Os regulados na zona de guerra. 4. Dispositivo militar português na zona de guerra. Março de 1968. 26 mos práticos, toda a movimentação destas forças, os seus itinerários e operações, era coordenada centralmente a partir da cidade de Tete, de quem depen dia em última instância, e só em casos de emergência e que elas passavam a ser accionadas directamente pelas autoridades administrativas locais. Alem disso e no âmbito dessa coordenaçao, os postos de PSP/ /Milícias começaram a ser estabelecidos prioritaria mente nos locais onde não havia forças militares5. Todavia, as perspectivas da abertura da Frente de Tete impuseram grandes mudanças entre 1966 e 1968, sobretudo no tocante ao dispositivo militar, com a reorganização do sistema de ocupação do território e o aumento de efectivos. Assim, o mes de Março de 1968 vai encontrar o exército portugues em Tete constituido por um contingente de tres batalhões mais algumas companhias, obedecendo a uma lôgica de ocupaçao territorial determinada. De facto, o vasto território do entao Distrito, denominado Sector F na organizaçao militar, estava dividido em tres grandes regiões, os Subsectores, cada um deles sob a reés ponsabilidade de um batalhão: - O Subsector FFG, com sede no Fingoe e repre sentando uma área que ia desde a fronteira ocidental até ao rio Capoche, e desde a fronteira com a Zâmbía até ao rio Zambeze, defendido pelo Batalhão de Caçadores 1906 (que tinha vindo render, em Fevereiro do mesmo ano, o Batalhão de Artilharia 1882); - O Subsector FFR, com sede em Furancungo, cor respondendo às areas do Concelho da Macanga e da Cir cunscriçao do Bene, defendido pelo Batalhão de Caça dores 1890; - O Subsector FTT, com sede na cidade de Tete e o mais extenso em área, abrangendo todo o territó rio de Tete a Sul do rio Zambeze mais a Circunscrição da Mutarara e os Concelhos de Moatize e Angónia, defendido pelo Batalhão de Artilharia 1881. No interior de cada subsector, as diversas com panhias em quadricula dos respectivos batalhoes sedíavam-se nas localidades secundárias destacando, por sua vez, pelotões para os restantes lugares e assegurando, atraves de patrulhamentos determinados e planificados, o controlo da area que lhes estava atribuida. Por vezes, o contingente de cada subsector era reforçado por companhias exteriores ao bata lhão. Assim, para além das chamadas companhias em quadrícula, a quem estavam atribuídas operaçoes de rotina dentro das respectivas áreas, existiam compa nhias de reforço e companhias de intervenção, chama das a uma área específica para participar numa operação particular, quer de protecçao a acçoes de reor denamento populacional, quer assaltos a bases de guerrilheiros e outras. O tipo de ocupação do território efectuado pelo exército português era, assim, essencialmente "admínistratívo", ou seja, ele estendia-se desde a cidade de Tete até às mais pequenas localidades de uma forma vertical e regular, como se fosse ele pro prio uma estrutura da administração. Ressalvando as particularidades inerentes a cada uma das estruturas temos que, por exemplo, o pelotão estacionado no Zo buè dependia da Companhia de Artilharia 1512 de Moa tize e esta da sede do Batalhão de Artilharia 1881, em Tete, tal como, quanto a estrutura da administra ção, o Posto do Zóbuè dependia da sede do Concelho, em Moatize, e esta da capital em Tete. O paralelísmo não ressalta só no tocante à "verticalidade" da estrutura mas também na homogeneidade da distribuição dos contingentes pelo território: De uma forma geral, todas as sedes, postos e simples localidades tinham um corpo militar la colocado, por mais peque no que fosse. Tal forma de ocupação do território, que a pri meira vista pode parecer óbvia, começa a deixar de o ser se atentarmos no facto que nem todas as regiões do Distrito estavam "ameaçadas" no mesmo grau pelo desencadear da luta. Havia, de facto, zonas onde a probabilidade de ocorrência de acçoes armadas era mais elevada do que noutras, exigindo portanto a pre sença de maiores contingentes, ou mais preparados, ou pelo menos uma distribuição da ocupação militar que tivesse mais claramente em conta tal factor. Além disso, uma malha homogénea, se fosse afectada num ponto por acçoes armadas teria mais dificuldade em se reajustar, do ponto de vista operacional, considerando as dificuldades existentes em termos logísticos e de comunicações. Torna-se portanto interessante discutir as razões de tal situação, estreitamente relacionada com a concepção global de defesa das forças portuguesas. A concepção global de defesa As particularidades do Distrito de Tete assim como dos paises vizinhos, aliadas a um conhecimento crescente das experíencias coloniais e dos textos clássicos da guerra de guerrilhas 6 , assente na par tícipaçao popular, fizeram com que, durante a década de sessenta, as autoridades portuguesas desenvol vessem uma concepção e uma prática de defesa do ter ritório na qual a população tinha um papel central. De facto, a consciencia do papel vital desempenhado pela população no quadro de uma guerra de guerrilhas fez com que se generalizasse a idéia de que a vitória seria de quem conseguisse conquistar as populaçoes para o seu lado. Dai a conclusao dos Servi ços de Centralização e Coordenação de Informaçoes de Moçambique (SCCIM): "Essencial - e sempre - e a população. Lenine formulouees truturou toda uma teoria da chamada 'manobra de aproximaçao indirecta', que Mao-tse-tung actualizou e que outro alvo não visa senão a conquista das populações, porque é este o terre no em que se desenvolve a guerra subversiva"7. Por um lado, portanto, pretendia-se, com a colaboraçâo activa da população, "desmultiplícar" o esforço das autorídades, pondo aquela a actuar na defesa dos interesses portugueses. Por outro, controlar a população sígnifícava, simultaneamente, re tirá-la do contacto com os guerrilheiros e impedir o crescimento da sua consciência anti-colonial. Nes ta linha, desenvolveu-se todo um trabalho teorico, sobretudo a nível dos SCCIM. Em 1965, Ferraz de Frei tas, numa obra editada por aqueles serviços8, expunha os conceitos centrais da teoria do controlo da população, assente nos chamados "comandamento" e "accionamento". Considerava que a acção de mandar assentava apenas na força física e na intimidação por parte de quem manda. A esse conceito, limitado porque condenado quando diminuísse a força fÍsica da autoridade, ele opunha o conceito de "comandar", baseado na participação da população. Comandar, ou dirigir, implicava portanto um conhecimento das for ças sociais para criar condiçoes para a sua manipulação. Conhecer a população, "os seus interesses e aspirações", era pois a unica maneira de se chegar a saber como aliciá-la, ou seja, como "conquistarlhe as mentalidades". Paralelamente, um aliciamento bem conseguido possibilitava o "accionamento", que era definido9 como o conjunto de medidas destinadas a pôr a populaçao a trabalhar activamente na defesa da ordem colonial, nomeadamente na detecção de guer rilheiros e no controlo das suas áreas sob o ponto de vista da segurança. Na sequencia e em concordância com esta perspectiva o Governo do Distrito vai ter um papel de relevo, pois era a ele que cabia pô-la em prática. Em Abril de 1966, reunido com todos os seus adminis tradores de concelho e circunscrição, o Governador do Distrito de Tete, tenente-coronel João Cecílio Gonçalves, reafirmava a importância fundamental da população para ambos os contendores, no cenário da guerra que se avizinhava. Segundo ele, tal importan cia para as forças nacionalistas era comprovada pelo facto de todos os grupos de guerrilheiros, por mais pequenos que fossem, incluírem nas suas fileiras um responsável político com o papel central de "convencer" as populaçoes a aderir à sua causa. Por isso ele exortava os administradores a abandonarem uma posição meramente defensiva, caracterizada por um- silencio político, e a lutarem pela supremacia no próprio terreno onde surgia o desafio 10. É curioso notar que apesar do apelo à luta polÍtica, o que se tentava edificar era sobretudo uma tecnica - apurada mas, mesmo assim, apenas uma tec níca - de combate a luta nacionalista. Incapaz de compreender a natureza popular da luta de libertação, de compreender o facto do desenvolvimento da guerrilha poder desembocar na acção não só de guerrilheiros vindos de fora mas sim da própria população em armas contra a opressão colonial, esta análi se tinha apenas em conta uma população inerte, esta tica, à espera de ser conquistada ou pelas autorida des coloniais ou pelos guerrilheiros. Assim, na mesma ocasiao, o Governador definiu a responsabilidade de cada administrador na sua área de actuação: Conhecer as populações, as "forças ocul tas" que as fazem mover, para com esse conhecimento se poder jogar, manipulando-as11. Sobretudo os anos de 1966 e 1967 vão ser, neste contexto, caracteriza dos por uma "obsessão antropológica": conhecer profundamente as populaçoes, as suas etnias, as relaçoes do chamado poder tradicional. Dos níveis provincial e dístrital chegam aos administradores pedi dos para que investiguem os diversos grupos populacíonais da sua área de jurisdição para conhecer e controlar a sua extensão, a sua eventual subordinação em relação a chefes exilados ou fugidos, a sua receptividade face à acção das forças nacionalistas, a sua extensão territorial e numérica, a sua influên cia nos povos vizinhos, o seu grau de desenvolvimento sociál e muitos outros aspectos 12. Símultanea mente, com as informaçoes recebidas, elaboram-se e distribuem-se cartas étnicas detalhadas13. Sempre na mira da sensibilização das autoridades locais, os SCCIM apontam como exemplo da importancia da relação com a população um episódio ocorrido trinta anos antes, em 1935, quando a administração local se incompatibilizou com o Undí, chefe dos Acheuas, negligenciando a sua importância no seio das populações e o facto de ele ser o herdeiro do fundador do Império Karonga. O resultado foi a reti rada do Undi para a Rodésia do Norte, arrastando atrás de si uma grande população e pondo em risco toda a relação entre a administração portuguesa e as chamadas "autoridades tradicionais". Trinta e um anos depois, em 1966, os efeitos ainda se faziam sen tir na forma de regedorias desertas, nunca mais reo cupadas desde então, e de regedores menores que, quan do investidos pela autoridade portuguesa, argumenta vam sempre a necessidade de ir junto do Undi, na Zâm bia, para que ele confirmasse a eleição. Tal fenóme no, que abrangia areas tao vastas quanto a Marávia, Macanga, Máguè e certas zonas do Zumbo, indicava cla ramente, segundo os SCCIM, o preço a pagar pelo des conhecimento das relações do poder tradicional14. Lon ge de ser apenas teórica, esta perspectiva vai ter seguimento com o desenvolver de complicadas técnicas e praticas de recolha de informações e de manipulação da população, através da Acçao Psico-Social. A recolha de informaçoes constituía logicamente o meio privilegiado para a obtenção de dados relativos ao conhecimento das populações e ao inicio das acções armadas, essenciais portanto para a prevençao. Como a documentação claramente mostra, a ím portância da actividade de recolha de informaçõesestá no facto de todos os serviços lhe terem dedica do uma atenção especial. A situação era, no entanto, muito complexa: os diversos serviços tinham os seus agentes e metodos próprios. A Administraçao Civil, sobretudo a nível dos administradores de posto, rea lízava actividades por iniciativa propria ou a pedi do de escalões superiores, possuindo os seus mecanismos de contacto com as populações e os seus agen tes fixos ou itinerantes15. A PIDE tinha tambem as suas delegações regionais com os seus agentes locais, e coordenava ela própria as suas informações. Estes a nível de terreno, portanto. Depois, os SCCIM,ani vel da então ProvÍncia, com delegações a nÍvel distrital, processava as informaçoes civis e militares, produzindo boletins de diverso tipo e com cobertura variável. Havia ainda, claro, os serviços de informações militares. Todavia, a dificuldade residia, sobretudo, pre cisamente na articulação de informaçoes com origens tão diversas, e também no tipo de informações produ zidas, que tinha directamente a ver com o grau de inforniação e sensibilidade dos serviços particulares. Para um administrador de posto que nao estives se completamente informado sobre a problemática geral da defesa do territorio, por exemplo, umanotícia referente a uma outra circunscrição que não a sua poderia ser ignorada, por irrelevante para o seu trabalho. Um detalhe vital, no entender da PIDE, por jogar com toda uma série de informaçoes, poderia pa recer uma ninharia ridicula aos olhos de um guarda fiscal16. Uma falta de sensibilidade que tinha, por sua vez, que ver com a propria falta de informação das estruturas. Por outro lado, as informações veiculadas por escalões centrais como os SCCIM, se ganhavam em articulação e em nitidez (ou "recorte", como se dizia), porque recebiam "tudo de todos os lados", perdiam em oportunidade, pois a morosidade burocrática da viagem dos papéis fazia com que, regra geral, chegassem atrasadas e dissessem respeito a factos já conhecidos localmente ou acontecimentos que já não se podiam evitar ou, ainda, cuja veracidade jâ não se podia investigar. Todavia, era clara, para as autoridades coloniais, a necessidade de conhecer as populações mas não de uma forma passiva. De facto, era necessario, segundo essa perspectiva, o accionamento imediato, "fazer mover" as populações sob o seu comandamento. Assim, em Março de 1966 divulgavam-se junto dos administradores as experiencias do Governo do Distrito da Zambézia e do Concelho de Mecanhelas, no Nias sa, no combate à infiltração dos guerrilheiros, fazendo recurso ao accionamento das poptslações. Em Me canhelas é detectada e neutralizada uma coluna de guerrilheiros em passagem para a Zambezia, por meio de batidas organizadas por regedores e chefes de gru pos de povoaçoes, tendo-se a administração limitado a um trabalho previo de mentalização e a cedencía de cipaís armados, que deveriam actuar sob as ordens das "autoridades tradicionais"17. Em relação a Zambezia, foram divulgadas operações destinadas a localizar guerrilheiros mas que, curiosamente, tinham como objectivos prioritários não os guerrilheiros em si mas sim as próprias popu laçoes, o teste do seu comandamento. Por exemplo, eram os seguintes os objectivos a testar numa delas: "a) O papel primacial das populações na gjerra subversiva; b) A imprescindibilidade da sua colaboraçao na detecçâo de elementos subversivos; c) A importância fundamental da exploração dos efeitos psico logicos; d) A vantagem do comandamento directo das populações; e) A necessidade de as levarmos a vincularem-se a nos no com bate a subversão, comprometendo-as aos olhos daquela"18. NJo seguimento destes "testes" de comandamento também em Tete se fizeram algumas experiências, nomeadamente na Circunscriçao da Mutarara, zona estra tégica importante por ser atravessada no sentido Nor te-Sul pelo rio Chíre, corredor natural de penetração para o centro, e no sentido Este-Oeste pela linha de caminho de ferro que viria a abastecer o empreendimento de Cabora Bassa. O seu administrador, juntamente com o Governador do Distrito, foi um dos defensores de uma estratégia activa, afirmando que "A melhor forma de conhecer as terras e as gentes é percorrê -las a~pé, atingindo os recantos mais afastados em pequenas opera2oes de reconhecimento. Já algumas realizámos, numa con jugaçao de meios da administração, Polícia de Segurança Publica, OPV [OPVDC, Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil], exercito e populações nativas (...). Falei aos regedores, combinando com eles o ajuntamento das populações. Uma vez reunidas, fiz-lhes ver a utilidade das batidas com o fim da sua própria segurança. Uma semana ou menos é suficien te para a preparaçao de uma batida. Os resultados dependem da surpresa da batida. Um destes resultados é o comprometimento das populações; outro é o da intensificação do seu convívio connosco, o que nos permite observá-las de perto. Na primeira batida, a titulo de experiência, reunimos 30 homens; nase gunda 300. A finalidade desta grande concentração era impres sionarmos os indivíduos afectos à subversão"19. Só na Mutarara, entre Junho de 1966 e Março de 1967, foram realizadas pelo menos seis grandes operaçoes deste tipo 20, envolvendo a movimentação de mais de mil pessoas. Baseadas na iniciativa local dos administradores e no seu quadro de informaçoes, elas procuravam pôr em pratica o conceito de "coman damento", assentando a "conquista da adesão das po" pulações" no "accionamento" destas, ou seja, procurando ganhar as populações para a ordem colonial no decorrer do processo de as por a lutar pela defesa dessa mesma ordem - simultaneamente. Todavia, progressivamente este tipo de actividades, baseadas localmente, começou a ser posto de parte a medida que a possibilidade de "confiar" nas populações ia diminuindo, e que se ia impondo a necessidade de coordenar melhor o aspecto da conquista das populaçoes com a estratégia global de defesa. De facto, aos olhos das autoridades e a medida que o tempo corria, parecia eventualmente cada vez mais arriscada a movimentação da população armada e comandada (ainda que em parte) pelas suas próprias es truturas de poder. A autonomia da população, consciente ou inconscientemente, era um risco. Além disso, era necessário coordenar os proces sos que visavam a conquista das populações, para el minar as incongruencias advenientes de eles ficarem entregues exclusivamente à iniciativa local. Assim, foram reactívados, nos finais de 1966, os Serviços de Acção Psico-Socíal. Na verdade, os Serviços de Acção Psico-Social existiam já desde há muito. Todavia, como coordenar implicava centralizar, a sua actividade manifestava -se no pedido dei inquéritos e relatórios aos administradores e no envio de brigadas pontuais para ac tuar sobre problemas específicos. Nunca se tinha questionado globalmente o problema nem a forma de articular mais eficazmente esses serviços, sobretudo com o aparelho da admínistraçao. O resultado era que os administradores preenchiam de forma mecânica os relatórios trimestrais, que eles encaravam como mais uma obrigação burocrática. Os temas que consta vam nos formulários, nomeadamente festivais de natu reza popular, sessoes culturais, sessoes de cinema, festas escolares, assistência a necessitados, visitas as terras, regimes de trabalho injustos e ilegais, processos viciosos de aquisição da lavra indi gena, contra-propaganda e outros, eram frequentemen te deixados em branco, alegando os administradores falta de meios para os desenvolver ou resolver. Af ir mava, em 1963, o Administrador de Moatize, a respei to da campanha de acção psico-social, que a falta crónica de meios, para alem de impedir o desenvolvi mento daquele tipo de acçoes, acabava por por em cau sa o próprio prestígio da adminístração, dando dela uma imagem de incapacidade e de ínutilidade21. Quanto à actuação das brigadas dos Serviços de Acção Psico-Social, é óbvio que o seu número era li mitado, destínando-se a actuar nas zonas onde se de tectavam "problemas". Tratava-se, portanto, de uma actuação mais "curativa" que preventiva22, contraríamente aos seus princípios orientadores e, necessariamente, com problemas de articulação com a estrutura administrativa que nem sempre via com bons olhos estas intromissões nos seus domínios. Pelo seu nível de centralizaçao e grandes meios requeridos, a reactívaçao da Acção Psico-Social, fun damental no quadro do desenvolvimento de uma conce£ çao global de defesa que, como vimos, dava tanta im portancia à população, foi um processo moroso. EmJa neíro de 1967 ela era tentada, ainda a nível central, na então Lourenço Marques, pelo Governador-Ge ral José Augusto da Costa Almeida que, em despacho de 25 desse mes, revia as chamadas "Normas para a Actividade da Informação e Formação da Opinião Pública", estabelecídas em 1966, e criava o GIFOP [Ga binete de Informação e Formação da Opinião Publica], dependente do Governo Geral. Destinava-se este Gabi nete a fazer o "estudo e determinação dos métodos e sistemas de propaganda e contrapropaganda com vista a se accionar ou promover o accionamento da informação e formaçâo da opinião pública no sector da contra-subversão' 23. Constituiam este Gabinete o Se cretário-Geral, que a ele presidia, o Director dos SCCIM, o Sub-director da PIDE e um delegado do Gabi nete Militar do Comando-Chefe das Forças Armadas. Na sequência da criação do GIFOP, apelou-se aos distritos para que criassem Centros Informativos, lo cais "onde se reunem diferentes meios visuais de ín formaçâo em painéis, que devem ser acessíveis, atraen tes e virados para captar a população". Estes Centros Informativos deveriam, priorítariamente, colaborar em operações psicológicas lançadas e difundir notícias de interesse. Subsidiariamente, poderiam ser usados para fins educativos como, por exemplo, conselhos sobre higiene, assistência materno-infantil, técnicas de agricultura e outros 24. Paralelamente, na mesma altura e incentivada a emissão radiofónica, através da Voz de Moçambique, de programas em changane, ronga, macua, chuabo, nian ja, ajaua e swahíli, visando cobrir toda a então Pro vlncia, mas dirigidos sobretudo às zonas de guerra. Ao mesmo tempo começa a ser distribuído, localmente, equipamento para a realização de entrevistas e depoimentos, a serem incluidos depois em filmes de propaganda25. A estruturaçao da Acção Psíco-Social em novos moldes parece ter conduzido a resultados pouco eficazes. Exigindo grandes investimentos de recursos humanos e financeiros que o Estado colonial nem sem pre estava capaz de suportar, pretendia apoiar-se num aparelho administrativo que nao tinha, de forma alguma, as capacidades que, a partida, contavam que tivesse. Donde resultavam morosidades burocráticas e avanços muito mais aparentes e formais do que aque les serviços queriam dar a entender. Além disso, pode-se dizer que a perspectiva que presidiu à reestruturaçao dos Serviços de Acção Psi cológica se afasta dos postulados do "comandamento" que preconizavam a conquista da adesão das populaçoes no decorrer da propria acção de as movimentar na defesa da ordem colonial. A perspectiva dos Centros Informativos e das emissões de rádio, por exem plo, subentende uma população estática, cuja consciência seria eventualmente "lavada" pelas mensagens produzidas. Enfim, ela constituía mais um aparelhoa montar no Distrito, ou então mais um encargo para as forças administrativas. Se tivermos em conta a fragíli dade do aparelho administrativo na altura, compreen deremos porque a acçao psico-socíal nunca chegou a extensas zonas de Tete nos anos que precederam o desencadeamento da luta armada. Alem disso, o GIFOP veio aumentar o número de estruturas destinadas a operar nesta area 26 sem a contrapartída de lhe dar uma atenção especial no Distrito: Como e óbvio, sen do uma estrutura central, dava mais atençao as zonas de guerra declarada como Cabo Delgado e Niassa. Assim se compreende só em Julho de 1968 ter sido criada a COCAP [Comissão de Coordenação da Acção Psi cológica], ôrgão centrado no Distrito, presídido pe lo Governador dístrital e destinado a organizar esta area27. Tinha por objectivo "trabalhar" as populaçoes sob controlo colonial ("impermeabílizá-las contra as tentativas do exterior que visem submete-las, mas também ídentificá-las cada vez mais com a nossa política...") e as populaçoes que estavam com os guerrilheiros. Subjacente a toda esta estratégia dirigída para as populações estavam dois aspectos que não foram ainda aqui referidos, mas que se afiguram excepcionalmente importantes: um reordenamento populacional e um discurso de desen-olvimento. Um reordenamento populacional porque tal era o pressuposto de toda esta concepção global. Agrupar uma população que ocupava o território de forma emi nentemente dispersa, para poder por em pratica a es tratégia de defesa preconizada, no sentido lato: pa ra mais eficazmente a poder isolar das forças nacio nalístas, do ponto de vista militar, mas também para melhor dirigir a acção psico-social e para melhor concretizar o discurso do desenvolvimento. O Governo do Distrito teve consciência da importancia do reordenamento populacional na sua estratégia de contra-guerrilha. O aldeamento e tudo o que ele pressupunha assentava, acima de tudo, numa filosofia de prevenção: impedir que as populações contactassem com as forças nacionalistas, para que não fossem "contaminadas". Assim, afirmava o Governador de Tete, em 1966, depois de referira experiên cia de outros distritos da Província no tocante aos aldeamentos: "As populações que fogem ao nosso controlo passamaandar sob o controlo do inimigo que dispõe hoje ja na organização dos seus bandos de elementos especialmente destinados a guardá-las e doutrina-las. Quando a guerra chega a esta fasq,, temcs que ser nos a tomar iniciativa de as conservar e a unica maneira de as segurar será o recurso aos aldeamentos onde as populações estao reunidas, onde estão protegidas pelas forças de segurança. (...) Ora o aldeamento que aparece aqui como uma necessidade, quando a guerra atinge esta fase, começa 12 go por ser uma solução desejável para quem queira actuar com antecipaçao. Queremos dizer, se o aldeamento se há-de fazer mais tarde em recurso improvisado quando porventura a situação se altera a ponto de tornar imperiosa a sua existência, porque não fazermos antecipadamente o aldeamento das nossas populações?"28 Sendo essencialmente uma estratégia de defesa, o aldeamento e apresentado a populaçao com um discurso de desenvolvimento, destinado a "convencê-la". Um discurso assente nas vantagens materiais advenien tes das populações se posicionarem do lado das auto ridades. Só concentradas as populações poderiam beneficiar de escolas, furos de agua, postos de saúde, cantinas, apoio a agricultura, estradas para escoamento dos produtos agrícolas e outros. Por outro la do, era evidente que integrar a produção camponesa cada vez mais no mercado colonial, para além das van tagens decorrentes, significava simultaneamente um esforço para atenuar as ligações económicas das populações com os paises vizinhos, cuja implicação na segurança era evidente. Porem, convém deixar clara a subordinação dos aspectos do desenvolvimento em relação ao sentido estratégico do aldeamento como solução de defesa mi litar por excelência29. Tal como os demais elementos desta concepção global de defesa, também os aldeamentos, teoricamente com um sentido de prevenção, acabaram por vir a reboque dos acontecimentos da guerra. Assim, começaram a ser edificados não para isolar as populações dos contactos com as forças na cionalistas, mas nas zonas onde a luta armada ja se fazia sentir. A titulo de exemplo, vemos que nas zo nas onde a guerra se iniciou, Maravia, Macanga e Be ne, os aldeamentos só começaram a ser feitos em finais de 1968 e em 1969. Os motivos do atraso deste processo, eventualmente decorrentes da escassez de meios materiais e da perspectiva da "edificação dos aldeamentos com base no aliciamento e não na força", defendida pelo Governador do Distrito 30, ficaram tam bém seguramente a dever-se, em grande parte, à escassez das forças administrativas e da sua implanLa ção no terreno. É claro que a administração não podia, por si só, por em pratica este imenso processo, cujo falhan ço poria globalmente em causa toda a estratégia de defesa. Assim, a irrisória presença da administração, obrigada a controlar uma população essencialmente dispersa num vasto território, simbolizada pe la presença de um administrador de posto muitas vezes isolado em quilóuietros de extensão, foi criando uma vocação (ou um destino) adminístrativa no exército. Ele vai ter que estar em toda a parte, apoian do a administração na tentativa de concretizar a es tratégia que lhe cabia e que ela, por si só, não con seguia levar a cabo. Assim, também junto das forças militares trans parece, a cada passo, esta concepção de conquista da adesão das populações. Como se pode verificar nos "Planos de Actividade Operacional" das unidades militares, a sua missão principal era: "- Controle e aliciamento das populações (argumentaçãoejus tificação constantes sobre a razao das populaçoes deverem es tar do lado do exército português e não do lado dos guerrilheiros); - Acção psicossocial;- Procura de informaçao; - Reacção pronta e enérgica à noticia, informação ou ocorrên cia concreta"31. Neste sentido o exercito, longe de se remeter a defesa no sentido estrito, vai envolver-se também em tarefas mais latas, integradas nesta concepção de de fesa, desde o ordenamento populacional a construçao de estradas, passando pela comercialização dos produtos camponeses e pelo apoio sanitário. Portanto, a razão fundamental da dispersão do exército no terreno estaria eventualmente ligada a incapacidade da administração em desempenharo papel que lhe cabia na estratégia global de defesa, obrigando a que aquele viesse em seu auxilio para desem penhar tarefas nao estritamente militares. Houve po rem outros factores por detrás dessa dispersão mili tar no território, nomeadamente a configuração geográfica do próprio Distrito de Tete, como vimos, as sim como a dificuldade em prever o inicio e os locais das acçoes armadas. Vimos anteriormente como a existência de fronteíras comuns com dois países africanos era factor de preocupação para as autoridades portuguesas. Em relação ao Malawi, a situação era aparentemente facilitada pela politica de boa-vizínhança reiterada pelo seu presidente, o Dr.Hastings Kamuzu Banda, e pela existência de redes de colheita de informaçoes em funcionamento desde os inícios da década de sessenta, quer ao nível das autoridades malawianas, quer junto do aparelho da FRELIMO ali instalado. Além disso, o facto do Governo malawfano fazer uma grande identificação entre os seus "ministros rebeldes" - Chiume e Chipembere primeiro, em 1965, e Chisiza depois, em 196732- e a FRELIMO, constituiu mais um factor de tranquilizaçao das autoridades portuguesas que conseguiram, ínclusivamente, um grande apro fundamento da cooperaçao entre os dois lEstados no am bito da segurança. Todavia, perturbavam tal estado de coisas o facto das autoridades malawianas não con trolarem inteiramente o seu território no aspecto da segurança (podendo, portanto, ocorrer movimentaçoes com o total desconhecimento daquelas), assim como a intensa e continuada acçao de propaganda e conscien cializaçao popular levada a cabo pela FRELIMO a par tir do territorio daquele país e incidindo sobretudo nas regioes dos postos administrativos do Zóbuè e Caldas Xavier, no Concelho de Moatize, e em toda a Circunscrição da Mutarara, nomeadamente no vale do rio Goma e no Sinjal, em 1966 e 196733. Em relação a Zâmbia, a situaçao era ainda mais delicada. Por um lado, tinha muito em comum com a situação do Malawí. De facto, em 1967, numa altura em que os organismos internacionais apelavam para o boicote a Portugal (não só pela questão colonial co mo também pelo seu apoio a Declaração Unilateral de Independência da Rodésia), a Zâmbia, pelo contrário, era obrigada a aprofundar a sua dependencia, nomeadamente em relação ao porto angolano de Lobito3 4To davia, a situação era agravada pela dificuldade de actuação dos serviços de informaçoes coloniais. Tal facto, manifesto, por exemplo, pela escassez de ínformaçoes a este respeito nos arquivos coloniais, em contraste com a abundante documentação da mesma natureza respeítante ao Malawi, devia-se eventualmente a ausencia de relaçoes economicas significativas entre o Distrito de Tete e a República da Zâmbia, assim como à falta de controlo das autoridades colo niais sobre as populaçoes das áreas fronteiriças. Depois, claramente que era a partir da Zâmbia que começavam, em 1967 e 1968, a vir as incursoes armadas do COREMO e da FRELIMO. Em suma, para as autoridades militares tratava-se, portanto, de defender todo o território de Tete a norte do rio Zambeze. Tarefa imensa que exigia a definição de critérios que a simplificassem, critérios que permitissem privilegiar a defesa de certas zonas em detrimento de outras, que permitissem contrariar a dispersão homogénea do exército pe lo território. Para tal era necessrio, sobretudo, aprofundar a ligação com as populações e o conhecimento das suas atitudes a respeito da FRELIMO, por um lado, e por outro, desenvolver e aperfeiçoar o sistema de informações respeitantes aos países vizi nhos e às intenções concretas e detalhadas da FRELIMO. Em relaçao ao aprofundamento das relações com a população, vimos já que é um factor que emana directamente da concepção global de defesa. Para trabalhar neste sentido era necessária a concentração de uma populaçao que ocupava o território de uma for ma predominantemente dispersa, de modo a ser possível a efectivação do chamado "sentido de presença, só concretizável através de visitas constantes as pequenas aldeias dispersas, e da prestaçao contínua da de pequenos benefícios, assim como da punição de outras aldeias, suspeitas de colaboração com as for ças nacionalistas. Também - e sobretudo - para o exército, portanto, se tornava vital o processo de reordenamento populacional dos aldeamentos. Vimos atras que o exército não tinha critérios seguros para alterar a malha homogénea com que ocupava o território do Distrito, forma de se preparar mais concretamente, no terreno, para enfrentar a lu ta armada. Prova evidente disso e, por exemplo, o "Plano de Operações Terra Quente", datado de finais do ano de 1967, e que fazia o balanço e traçava orien taçoes para o dispositivo militar português no território35. Ali consideravam os comandos militares portugueses como vias possíveis de penetração da FRELIMO, ou ínfiltrantes mais prováveis, todos os percursos ao longo dos rios, com tantas alternativas quanto os rios Aruângua, Meze, Luatize-Capoche, Mucumbuzi-Capoche, Muangadzi-Luia, Vubué-Luía, Missale-Luia e, ainda, Ncombezi e Goma. Tratava-se, portanto, tres meses antes das pri meiras acçoes armadas, de todo o território a Norte do rio Zambeze. 5. Rotas possiveis de infiltração da FRELIMO segundo previsões do exercito colonial em finais do ano de 1967. Capitulo II A FRELIMO E A PREPARAÇAO DA LUTA ARMADA EM TETE O desencadeamento da luta armada em Tete constituiu o corolário de uma série de acções levadas a cabo pela FRELIMO com o objectivo de alargar as zonas de guerra, tendo em vista o fim último da liber tação do pais. O segundo capitulo do presente trabalho preten de discutir as iniciativas tomadas pela FRELIMO no âmbito da preparação da luta armada em Tete, assim como o quadro conjuntural em que elas tiveram lugar, com base na documentação colonial disponível. Trata -se de uma tarefa mais delicada que a abordagem das forças coloniais a partir de documentação da mesma natureza. Na verdade, não é difícil verificar que tal documentaçao, carregada de ideologia, veicula a imagem que as forças coloniais tinham do seu inimigo. Além disso, trata-se de uma imagem nem sempre "nítida", nem sequer para as forças portuguesas, porque dependia essencialmente dos elementos que os seus diversos serviços de informaçoes lhes podiam fornecer. E tais elementos, como se poderá verificar, eram escassos, desconexos e, muitas vezes, con tradítórios, nos anos que precederam o desencadeamento da luta armada, compostos de interrogatórios, na maioria das vezes com base na violência, de notí cas de rádio e jornais exteriores, de relatos de informadores. Era fácil, neste contexto, projectar determinadas suspeitas, "confirmar" certas teorias arreígadas que depois a realidade mostrava serem ín fundadas. Os problemas advenientes da complexidade desta situação eram agravados, como se viu, pela es trutura burocratizada do sistema que produzia ou vei culava as informaçoes. Por outro lado, e constítuin do o.factor mais importante, as forças coloniais, co mo forças de ocupação, sabiam e sentiam-se "como o peixe fora da água": "No caso particular da Provincia, o inimigo pode contar com uma facilidade generalizada que lhe advem da sua própria iden tificação cultural e racica com o meio; a enorme desvantagem em que tal facto imediatamente nos coloca (...)1, A forma concreta que tomou a luta armada de li bertação em Tete, a partir de Março de 1968, dependeu em muito da situação política interna da FRELIMO, da situação político-militar concreta nas outras frentes, da forma como ela reagiu aos reveses de 1964 e 1965 em Tete, no quadro complexo que caracterizava aquela região, e da estratégia que esses elementos permitiram traçar. A situação politico-militar interna da FRELIMO Em primeiro lugar, os anos de 1966 e 1967, a ni vel político-militar da FRELIMO, foram marcados pela reunião do seu Comite Central em Outubro de 1966. Se bem que a maioria das questoes nela levantadas estivesse estreitamente relacionada com as frentes de Cabo Delgado e Niassa, a análise efectuada e as decisoes tomadas vieram a influenciar profundamente o prosseguimento geral da luta, incluindo, obvíamen te, a preparação da frente de Tete, e com incidência no trabalho do interior e na organização militar. No ano de 1966 assistia-se à agudização da cri se interna da FRELIMO, originada pelos problemas do exercício do poder nas zonas libertadas, ao embrião de novas formas da luta de classes que ali começava a ter lugar, sob a capa daquilo que ficou conhecido como o conflito entre os políticos e os militares. Associadas a estes problemas estavam as díficuldades inerentes as estruturas militares, inadequadas já para enfrentar o crescimento da luta. Em Outubro de 1966, o Comité Central da FRELIMO concluiu que por detrás da situação prevalecente es tava uma concepçao regionalista e tribalísta da luta, fruto da fraca preparação política dos quadros do interior, pelo que decidiu intensificar a sua pre paração política e, também, a sua formação militar. O Comité PolíticoMilitar então criado visava controlar todo o processo destinado a atenuar as diferenças entre os quadros "civis" do DOI [Departamento de Organização do Interior] e os quadros "milita res" do DD rDepartamento de Defesa], e a dar um caracter unitário a lul2. A reestruturação militar da FRELIMO No ambito militar, a actuação do Comité Políti co-Militar, dirigido directamente pelo Presidente Mondlane, procurava tirar ao DD o caracter de "mais um mero Departamento", considerando que, na fase que se atravessava, era natural que a vocação da Defesa fosse a da condução geral de toda a luta, uma vez que todas as actividades da sociedade em processo de libertação eram condicionadas pelo aspecto militar da luta. Em harmonia com esta evolução teve lugar a nível do exercito uma grande reestruturação. Até 1966 as frentes de combate estavam organizadas em regioes militares, com um comando regional directamente subordinado ao DSD [Departamento de Se gurança e Defesa]. Era o Secretário do DSD quem organizava toda a actividade militar. A partir da reu nio do Comité Central de Outubro de 1966 teve lugar um processo de reestruturação que conduziu a criação, em Abril de 1967, do Conselho Nacional de Comando, dirigido pelo Secretário do DD que era coadjuvado pelo Comissário Político do Exército. O aparelho superior do exército foi dividido em doze sec çoes: Operaçoes, Recrutamento, Treino e Formação de Quadros, Logística (abastecimentos), Reconhecimento, Transmissão e Comunicaçoes, Informação e Publicaçoes Militares, Administração, Finanças, Saúde, Comissariado Político, Pessoal, Segurança Militar. Esta reestruturação abrangeu também as regiões de combate - Províncias - onde foi estabelecido um sistema de organização do exército paralelo à administração civil e profundamente interligado com ela. O chefe militar provincial era subsecretário (ou se cretário) da província. Passou também a existir um chefe provincial adjunto, um comissario político e um chefe operacional3. Com o surgímento desta nova estrutura, que modificou profundamente a situação or ganizativa do exército, quer a nível das zonas de combate quer dos quartéis-generais, as comunicações melhoraram, tal como o abastecimento e o recrutamen to. Da mesma forma, tornou-se possível fazer planos militares mais ambiciosos4 . A reunião do Comité Central de Outubro de 1966 iniciou a análise de uma crise interna da FRELIMO que se iria agudizar e só terminaria com a realização do 119 Congresso, em 1968 5. Todavia, as medidas que ela adoptou, nomeadamente no tocante a reestruturação militar, permitiram um aumento sem preceden tes da capacidade combativa e, portanto, repercutiram-se profundamente nos acontecimentos da abertura da Frente de Tete. Os grandes objectivos da Frente de Tete O antigo Distrito de Tete desde o inÍcio da lu ta que foi, potencialmente, uma frente. De facto, tal como em relação a Cabo Delgado e Niassa, também Tete tinha uma rectaguarda de moçambicanos no Malawi que cedo se ligaram à FRELIMO para preparar, a partir de 1964, formas de luta armada na região. Todavia, a incípiente organização militar, o fraco trabalho com as populaçoes no interior, a posição do Governo do Malawi, intransigente na proibição da cir culação de armamento através do seu territorio, cons tituiram factores de fracasso da Frente em 1965, lo go após a sua abertura6. Seguiram-se então três anos em que a situação parecia aparentemente paralizada, caracterizada pelas dificuldades de actuação do DOI e em que o COREMO [Comité Revolucionário de Moçambique] figura mais na documentação portuguesa devido à realização de acçoes espectaculares. Três anos durante os quais a FRELIMO, o seu DOI e o seu exército, procuravam cres cer. Nesse mesmo período o seu aparelho manteve-se no Malawi e, em certa medida, ate cresceu, dentro dos limites que o Governo malawiano lhe permitiu. De facto, essa presença era importante e nao poderia ser substituída por uma presença massiva na Zambia, por exemplo, pois garantia uma rectaguarda da Frente do Niassa, sobretudo do Niassa Austral, uma possibilidade de actuação na Zambézia e uma ameaça cons tante à região da Mutarara, fundamental porque abria as portas para o centro de Manica e Sofala e porque por ela passava a linha férrea BeiraMoatize, que iria ganhar uma significação particular. Em paralelo, a FRELIMO procurava intensamente estabelecer-se na Zâmbia. É natural que no inicio de 1966 tivesse prevalecido a idéia de descer pelo Nias sa Austral através da região de Mecanhelas, para fa zer uma grande base central na Zambézia, de onde a guerrilha irradiaria para Sul, para Manica eSofala, e para Tete, no Oeste, evitando-se assim os obstácu los postos pelo Malawi e atribuindose, portanto, a Mutarara, via de penetração para Tete, mais uma razão de importancia. Porém, as dificuldades de penetração por Mecanhelas e os desaires ai ocorridos no princípio do ano, inviabilízando esta estratégia 7, terão reforçado a importância atribuída a Zambia co mo via de penetração e rectaguarda da luta na Frente de Tete. Criadas as condiçoes de penetração, com um apa relho de actuaçao reactivado no interior, com um exército reestruturado, a FRELIMO poderia rapidamen te iniciar a luta em Tete. Esse passo afígurava-se fundamental no quadro da estratégia global da luta de libertação. De facto, a abertura de mais uma fren te iria aligeirar a pressão feita pelas forças colo niais sobre as restantes, iria permitir que a FRELIMO chegasse fisicamente junto de mais um grande numero de moçambicanos e, na frente diplomática, daria uma idéia bem concreta do avanCo da luta de libertação. Depois, uma sólida implantação em Tete permitiria a FRELIMO o prosseguimento dos seus dois grandes objectivos estratégicos na região: ameaçar a construção da barragem de Cabora Bassa e abrir uma via de passagem que permitisse a travessia do rio Zambeze para atingir o Distrito de Manica e Sofala, no centro do país. Eduardo Mondlane, nos inícios de 1968, explica va ao jornal norte-americano "The Sun" o significado estratégico do projecto de Cabora Bassa8, que ím plicava a construção da barragem e a criação de uma extensa zona irrígada. Esta permitiria a instalação de um milhão de colonos portugueses, segundo o projecto, que além do desenvolvimento acelerado que ope rariam na região, que estava dentro das perspectivas coloniais, constituiriam uma importante barreira à penetração da guerrilha. Mais importante ainda era a internacionalização do conflito que a própria construção da barragem .implícaria. Esta, com efeito, para ser rentável, produziria energia também, e sobretudo, para a República da África do Sul, que teria igualmente um papel importante no financiamento do projecto. Uma vez construida a barragem era, por tanto, praticamente certa a presença posterior do exército sul-africano na sua defesa. A FRELIMO procuraria, por isso, impedir ou atrasar o mais possivel a construção do empreendimento, quer sabotando a via férrea Beira-Moatize, por onde passariao gros so do equipamento para o projecto, quer aproximando -se o mais possível do local de construção, visando ameaça-lo militarmente. Por outro lado, se o vale do rio Chire, atravessando a Mutarara, constituía a via mais curta e mais favorável, do ponto de vista geográfico, para se atingir o rio Zambeze, o que e certo e que o estrangulamento da zona, que poderia ser bem defendida, e, sobretudo, os obstáculos criados pelo Malawi, tornavam impossível o estabelecimento de um corrèdor seguro que conduzisse a Manica e Sofala. Era necessaria, portanto, através da generalização da luta armada no território de Tete, a criaçao de vias de penetração alternativas que permitissem chegar e atra vessar o rio Zambeze. Se tais objectivos se foram tornando claros nos anos de 1966 e 1967, eles teriam também que ter em conta as forças que serviriam de base ao seu prosse guimento. Seguramente que uma parte impdrtante dessas forças se encontrava estabelecida e organizada no Malawi e na Znbia. O aparelho da FRELIMO no Malawi O Distrito de Tete foi sempre caracferizado por um extenso movimento migratóio que originou o esta belecimento de comunidades moçambicanas relativamen te importantes nas regioes círcunvizinhas. Se consi derarmos igualmente a afinidade das populações fron teiriças, falando, em ambos os lados da fronteira, as mesmas línguas, não é difícil concluir a relativa segurança com que os imigrantes moçambicanos se integravam nos países vizinhos. Afectados, tal como a população desses territórios, pela propaganda dos movimentos que ai lutavam pela independencia, muitos moçambícanos que residiam ou visitavam a Rodésia do Norte e a Niassalândía desde o início da década de sessenta que começaram a integrar-se numa perspectiva anti-coloníal e independentísta. No caso da Niassalândia, muitos moçambicanos chegaram mes mo a fazer campanha pelo Malawi Congress Party do Dr.Hastings Banda, que reivindicava extensas zonas do território de Tete, baseando-se precisamente no facto de se tratar da mesma populaçao do futuro Malawi, de expressão chewa, nguni, lomue e yao, dividida arbitrariamente pelas fronteiras coloniais9. Neste quadro, Baltazar Chagonga, enfermeiro da Companhia Carbonífera de Moatize, refugia-sena Nias salandia em 1961, e, com Evaristo Gadaga, forma a UNAMI [União Nacional Africana de Moçambique Independente], organização muito proxima do Malawi Congress Party do Dr.Banda, e que baseou o seu recruta mento precisamente entre os moçambicanos imigrados no Malawi. A UNAMI iniciou as suas actividades em Agosto de 1962. Limitada pela própria origem dos seus dirigentes, o Presidente Chagonga e o Secretário-Ge ral Gadaga, ambos originarios de Moatize, era nesse concelho do Distrito de Tete que concentrava a sua actividade, definindo-se de uma forma míméticaem re lação ao Malawi Congress Party. Tal como este, procurava a independencia através de uma solução negociada com a potência colonizadora 10. Todavia, entre finais de 1963 e inícios de 1964, a instalação do Comité Regional da FRELIMO em Chile ka, arredores de Blantyre e, curiosamente, próximo da residência dos dirigentes da UNAMI, veio alterar profundamente aquele estado de coisas . De facto, a FRELIMO apresentava ja um projecto político radicalmente diferente, na medida em que o seu 12 Congresso se havia referido à inevitabilidade da luta armada face a intransigencia do poder colonial, estando, ja nessa altura, grupos de moçambicanos a re ceber treino político-militar na Argélia12. Assim, e embora o primeiro Comité Regional fosse composto por menos de uma vintena de elementos, maioritariamente imigrantes moçambicanos de Blantyre, foi inevitável a passagem de muitos simpatizantes da UNAMI para as fileiras da FRELIMO13. O Comité Regional começou com funções de enqua dramento de imigrantes e refugiados e, apos a independência do Malawi, em 4 de Julho de 1964, desempe nhou também o complexo papel de representar a FRELIMO junto do governo daquele país. A independência levou o Malawi ao estabelecimento progressivo de um "modus vivendi" com Portugal. De facto, a grande dependêncda do Malawi, país interior, em relação aos portos portugueses de Moçambique, impedia um apoio directo do Governo malawiãno à luta nacionalista e foi ditando uma aproximação progressiva daqueleem relação ao regime colonial e à República sul-africana. De qualquer forma, entre 1963 e 1965 a FRELIMO conseguiu algum espaço de manobra para crescer dentro do Malawi, com a formação de "branches" - espécie de subdelegaçoes do Comité Regional de Blantyre noutras localidades - baseados também em núcleos de imigran tes e refugiados. Os primeiros surgiram em Chiromo, N'sange e M'lange, regiões onde se concentrava gran de numero de imigrantes, mas também que demonstravam o interesse da FRELIMO em criar estruturas nas zonas fronteiriças, para acolhimento de refugiados e para apoio ao trabalho do DOI, visando, neste caso, as re giões de Milange, Lugela e Morrumbala, e também a Circunscrição da Mutarara. Igualmente a Ocidente, em Lílongwe, Chikwawa, Dedza e Mwanza, surgem "branches" da FRELIMO14. O crescimento do aparelho da FRELIMO no Malawi, apesar das restrições que o Governo malawiano começava a impor logo após a independência daquele pais, estava, em grande medida, relacionado com o clima de optimismo generalizado que reinava entre os refugiados moçambicanos e que tinha a ver com a euforia in dependentista do Malawi e com o proprio desencadeamento da luta armada, levado a cabo pela FRELIMO em Cabo Delgado e Niassa. Era convicçao generalizada, entre os refugiados moçambicanos, que apos a independência do Malawi teria lugar a invasão da Zambézia e de Tete pelos guerrilheiros da FRELIMO15. Nes te contexto, multiplicava-se o numero de aderentes no Malawi. Rapidamente, a FRELIMO começa a criar condições para o inicio de acções armadas no interior do territorío de Tete. Na segunda metade de 1964, a acção do DOI, a partir dos "branches" de Chikwawa, Mwanza, Chiromo e N'sange, incide sobretudo nas regiões de Moatize e Mutarara, atravês de contactos e reunies 16, procurando recrutar elementos, edificar uma estrutura clandestina de apoio e estabelecer depósi tos de mantimentos, armamento e munições - ou seja, condições para a chegada dos guerrilheiros17. Tal empreendimento foi facilitado pela agudização da crise interna do Governo do Malawi que con duziu, no final do ano de 1964, à ruptura levada a cabo por um grande número de ministros do gabinete do Dr.Banda. Por detrás desta situação estava, entre outros motivos, o desacordo em relação a atitude do Malawi face aos governos coloniais do Sul. Para os ministros Chipembere, Chirwa, Chíume e outros, o Go verno do Malawi tinha a obrigação de dar um apoio muito mais concreto e efectivo aos movimentos de li bertação, em contradição flagrante com a dinâmica de aproximaçao que estava a ser imprimida pelo Dr.Banda, nomeadamente através do estabelecimento de acor dos comerciais e de transportes com Portugal18. Na sequencia da agudização deste conflito rebenta, em Janeiro de 1965, uma insurreição armada liderada pe lo ex-ministro 4a educação Henry Chipembere. É evidente que, politicamente, a FRELIMO estava mais pro xima das suas posições que do regime do Dr.Banda. Além disso, no terreno, os objectivos da acção mili tar eram os mesmos, nomeadamente o corte da ligação ferroviária entre o Malawi e a Beira, para prejudicar o fundamento económico da aproximação entre o Malawi e Portugal. A FRELIMO procurou, no entanto, manter uma posição prudente. Todavia, colocavam-se uma série de elementos que ligavam a FRELIMO aos cha mados "ministros rebeldes", alguns deles veiculados pelos serviços de informaçoes portugueses que, pron tamente e por razoes óbvias, os punham a disposição do Governo malawiano. Assim, ora se referia que os contingentes de Chipembere estavam a ser treinados na Tanzania juntamente com os guerrilheiros naciona listas moçambicanos, ora que se sucediam reuniões en 54 tre o Presidente Mondlane e os rebeldes malawianos, visando colaboração mútua 19. O Governo malawiano tinha ainda razoes adicionais para apertar o controlo sobre os movimentos da FRELIMO no seu territõrio. Coincidindo as areas onde se movimentava a FRELIMO com as zonas de ínfluen cia da rebelião de Chipembere, era-lhe extremamente difícil determinar, uma vez localizados grupos de guerrilheiros numa região, se se tratava de homens de Chípembere ou da FRELIMO. Assim, a capacidade de manobra da FRELIMO foi drasticamente reduzida e a sua primeira (e única) acção militar, que ocorreu na Mutarara, no Posto de Charre, em 23 de Dezembro de 1964, foi perfeitamente extemporanea e não teve qual quer continuidade 20. A tendência imediata do'Dr.Banda, nos primeiros meses de 1965 e ate ao esmagamento da revolta que enfrentava, foi de reforçar a: cooperação com os ser viços de segurança portugueses sobretudo nas areas fronteiriças, oferecend como contrapartida à perse guiçao que aqueles moviam aoshomens de Chipembere, a perseguiçao aos guerrilheiros da FRELIMO e a prol bição da propaganda antiportuguesa nas suas regiões fronteiriças21. No fim do primeiro semestre de 1965 a revolta de Chipembere estava praticamente controlada, com muitos dos seus principais elementos detidos ou exi lados no exterior. Para a FRELIMO iniciou-se um perÍodo difícil e delicado, durante o qual ela procurou manter-se no Malawi a todo o custo. Muitas das das antigas razoes que a levavam a manter-se no Malawi continuavam válidas. Em primeiro lugar, o Malawi continuava a constituir uma importante rectaguarda estratégica para a luta armada, sobretudo na zona do Niassa Austral. Pela sua rota continuavam a circular guerrilheiros e abastecimentos da Tanzania para as frentes de combate22. Por outro lado, e ape sar dos reveses da Zambézia e de Tete, a permanência do aparelho da FRELIMO no Sul do Malawi continuava a ser uma garantia de enquadramento dos refugiados 55 e de recrutamento de novos candidatos a integrar nas fileiras da guerrilha, assim como uma base fundamen tal para a penetração dos quadros do DOI na Zambézia, na Mutarara, Moatize e Angónia. Em Março de 1967, numa reuniao que terá havido entre o Dr.Banda e o Presidente da FRELIMO, Dr. Eduar do Mondlane, ficaram estabelecidos os princípios re guladores da actividade da FRELIMO no Malawí, sendo concedida àquela liberdade para exercer a sua actívidade política junto dos refugiados, mas sendo-lhe interdito imiscuir-se na politica interna do Malawi, assim como ter em sua posse armamento de qualquer espécie. Todo o armamento existente no Malawi deveria ser movimentado pelas autoridades daquele país 23. Obviamente que a FRELIMO tinha que por reservas a es ta decisão, conhecedora da cooperação entre as auto ridades malawianas e as forças portuguesas, no âmbi to da segurança. Assim, as forças nacionalistas con tinuaram a movimentar clandestinamente o seu material de guerra pelo pais, com a consequencia de aumen tar a tensao já existente com o Governo do Dr.Banda. Apesar de tu4o foi ainda possível alargar a im plantação dos "branches" do Comité Regional do Malawí. No início de 1967, para além da sede em Blantyre, existiam quinze delegaçoes da FRELIMO localizadas em Lilongwe, Dedza, Nchínge, Ngabo, Chikwawa, Chiromo, N'sange, Cholo, M'lange, Malosa, Ndirande, Zomba, Fort Johnston e Maguire24. A malha das delegaçoes nacionalistas moçambica nas no Malawi indicava uma tendência para reforçar a implantação na região Centro-Sul daquele paÍs, de monstrando um reforço da intenção de actuar na Muta rara, no que respeita a Tete, intenção essa frisada por declaraçoes a imprensa, nas quais se reiterava que a Mutarara era a via mais curta para o centro do país25. Porém, eram já claros para a FRELIMO os limites de tuna estratégia baseada principalmente no Malawi e, assim, paralelamente aos esforços para permanecer naquele pais, assiste-se, desde o ano de 1966, aos esfor ços para fazer da Zambia uma base sólida para a luta. 56 Nchinji Lilongwe a *04 Dediza < EL Ncheu f l*Mwa f Chikwaw C Zomba riza Blantyre a aMianje j Cholo ' iiromot *Nsange 6. 0 estabelecimento da FRELIMO no sul do Malawi em 1967. 330 oI Não terão sido só as dificuldades postas pelo Governo do Malawi que levaram a FRELIMO a reorientar as actividades preparatórias da luta armada, fa zendo-as passar a incidir na zona Norte do Distrito de Tete. De facto, é natural que, associada a elas, estivesse a conclusão, ditada pela experiência dos anos de 1964 e 1965, que nas regiões de Moatizee Mu tarara as dificuldades eram bem maiores devido, sobretudo, a muito mais forte implantação das forças coloniais naquelas zonas, à incipiencia, ainda, do trabalho de mobilização no interior e as dificuldades com a rectaguarda do Malawi, já referidas.A fai xa setentrional de Tete, da Macanga ao Zumbo, muito mais "abandonada" pelo Estado colonial, sem vias de comunicação significativas, dava, associada a um tra balho em profundidade por parte do DOI, muito mais garantias para o estabelecimento de contingentes de guerrilheiros, mesmo tendo em conta as dificuldades que o Governo zambiano pudesse eventualmente colocar. Prolongando-se pelos anos de 1966 e 1967 correm, assim, insistentes, as informaçoes dos serviços de inteligência portugueses, relativas ao transito de guerrilheiros e armamento oriundos da Tanza nia que, penetrando no Malawi por Sitima, atravessa vam aquele paÍs até à região definida por Nchinge, Namizana, Lilongwe e, em certa medida, por Dedza26. Através da serra de Dzaranhama, excelente região pa ra a edificação de bases guerrilheiras, ficava directamente ao alcance a faixa do Concelholda Macanga entre os rios Luia e Luangua, confinante com o Malawi. A Zâmbia, rectaguarda da Frente de Tete Também em 1964 a Rodésia do Norte se tornou na Zâmbia independente. Em certo sentido, a Zâmbia punha à FRELIMO, problemas idênticos aos apresentados pelo Malawí, na medida em que era, também, um pais interior que usava as infraestruturas ferroviárias 58 e portuárias portuguesas, sobretudo da Beira e do porto angolano do Lobito. Esta situação, reforçada pela Declaração Unilateral de Independência da Rode sia, na medida em que lhe foi restringida mais uma rota de salda, determinou, tal como para o Malawi, embora em medidas diferentes, uma certa ambiguidade no relacionamento com as autoridades coloniais portuguesas. Todavia, as suas posiçoes em relação aos movimentos de libertação eram mais positivas, como o poderia provar o simples facto do papel desempenhado por ela junto do Comité de Libertação da OUA, para o qual a Zâmbia era o terceiro maior contribuinte27. Tal atitude positiva, muito clara no ambito in ternacional, tomava, internamente, a forma de apoio aos refugiados e aos movimentos anti-coloníais de An gola e Moçambique. Para eles foi criadx), em 1965, o African Liberatíon Centre, em Lusaka, onde se concentravam não so os dois movimentos reconhecidos ofi cialmente, a FRELIMO e o MPLA, como também o COREMO e a UNITA. Concentrando as representaçoes dos movimentos em Lusaka, a Zambia pretendia exercer um con trolo eficaz sobre a sua acçao, reforçado por uma série de medidas como a proibição de se envolverem na política local ou de operarem entre os imigrantes e refugiados da sua propria origem, além de serem impedidos de organizar recolhas de fundos ou de via jarem para além de dez milhas fora da capital sem as respectivas permissoes. O movimento de guerrilhei ros e armamento era regulado por uma serie de medidas destinadas, no dizer das autoridades zambianas, não a impedir a acção dos guerrilheiros mas sim a minímizar os riscos para a segurança interna da República da Zâmbia. Assim, aos guerrilheiros era con cedido o direito de passagem pelo pais em dírecção as suas frentes de combate e a estabelecerem, nessas rotas, campos de transito. Além disso, os guerrilheiros, uma vez penetrados nos seus próprios pai ses, eram proibidos de regressar a território zambíano, visando tal medida impedir a proliferação de guerrilheiros armados no interior do seu território. Finalmente, aos zambianos estava vedada a colaboração com as forças nacionalistas, para impedir tráfi co de armas e influencias varias que poderiam origi nar instabilidade interna 28. É claro que estas medidas não eram totalmente eficazes, na medida em que as forças nacionalistas contavam com muitos apoios internos na Zâmbía, incluindo por parte das suas autoridades regionais, da do que o Governo zambiano tinha dificuldade em controlar zonas "remotas" do seu território, nomeadamente as suas orlas fronteiriças. Assim, e apesar de toda a regulamentação restritiva, a posição poli tica perfilhada pelo Governo da Zâmbia, de grandes reservas em relação a Portugal, Rodésia e África do Sul, bastante diferente da do Governo do Malawi, as sim como a sua solidariedade política com os movimentos de libertação, foram factores que permitiram o estabelecimento confiante de uma rectaguarda sóli da naquele pais. Devido aos factos apontados, desde finais de 1965 que o estabelecimento da FRELIMO na Zâmbia ganhou preponderância em relação ao do Malawi, com o estatuto de representação e tendo como representante Alberto Sithole. A partir de 1966 e em 1967, no decorrer, portanto, da grande reestruturação do sec tor da defesa e do DOI, essa preponderância acentuou-se: Em grande medida, era a partir da Zâmbia que Mariano Matsinhe, nomeado responsável do DOI em Agosto de 1966, dirigia todo o trabalho de preparaçao da luta levado a cabo pela representação da FRELIMO na Zâmbia e pela sua delegação no Malawi29. Transferindo a incidência da preparação da luta armada para o Norte do então Distrito de Tete, a FRELIMO passava, no entanto, a ter que contar com uma dificuldade suplementar que consistia na actuação dos diversos grupos "dissidentes", nomeadamente o COREMO, bem implantado na Zâmbia e efectuando incursoes no Norte do território de Tete. O COREMO e os outros grupos "dissidentes" no Norte de Tete O COREMO surgiu em Maio de 1965, em Lusaka, in tegrando elementos de pequenos agrupamentos, tendo em comum o serem dissidentes da FRELIMO, nomeadamen te as duas UDENAMO [União Democrática Nacional de Moçambique ou do Monomotapa], facções Adelino Chito fo Gwambe e Paulo Gumane, o MANC [Mozambique African National Congress] e a nova MANU[Mozambique African National UnionI, além de outras. A única pequena organização que teve um percur so independente do COREMO foi a já referida UNAMI, de Baltazar Chagonga, sediada no Malawi, mas que, de qualquer forma, acabou, em 1966, completamente instrumentalizada pela PIDE, que aproveitou a perspectiva da obtenção da independência por meios paci ficos e negociados, defendida por aquela organizaçao, para a usar contra os outros movimentos, partindo do principio que era dificil as outras organi zaçoes subsistirem nas zonas onde a UNAMI já estava implantada e procurando, assim, manter o controlo sobre áreas do território sem ter que recorrer a meios militares30. As pequenas organizações existentes tinham, an tes de 1965, alguns contactos internacionais e procuravam a formação de guerrilheiros e alguma implan tação em zonas de Moçambique. Ao mesmo tempo, e curiosamente, reforçavam os seus laços com outras organizaçoes da mesma natureza, oriundas da então Pro vlncia de Angola. Assim, a UDENAMO-Gwambe teria pla neado uma acção militar, não concretizada, contra a linha ferrea Beíra-Malawi, apoiada por Chipembere, em coordenação com uma acção idêntica contra a linha férrea Lobíto-Teixeira de Sousa, em Angola, que seria levada a cabo por outra organização recém-forma da, a UNITA de Jonas Savimbí31. Por outro lado, a UDENAMO-Gumane tinha, na mesma altura, o seu pequeno contingente militar em treinos em campos da UPA [União dos Povos de Angola] de Holden Roberto, loca lizados em Brazzaville32. Estas organizaçoes desenvolviam intensos esforços para se estabelecerem, quer no Malawi quer na Zâmbia, na orla de Moçambíque, de onde poderiam tentar acçoes, senão com continuidade pelo menos espectaculares, forma, segundo elas proprias, de se fazerem notadas e conseguirem apoio in ternacional. O ELINAMO [Exército de Libertaçao do Mo nomotapa], auto-proclamado braço armado da UDENAMO-Gwambe, chegou mesmo a desencadear um assalto a se cretaria do Posto Administrativo do Chire, na Circunscrição da Morrumbala, Distrito da Zambézia, em Dezembro de 1964, e que foi largamente noticiado na Tanzania, embora as consequências pareçam ter sido mínimas33. A tentativa de unificação destes pequenos grupos não era nova. Já em 1963 tinha sido criada a FUNIPAMO [Frente Unida Popular Anti-Imperialista Afri cana de Moçambíque], composta pelas duas UDENAMO, pela nova MANU e pelo MANC, portanto uma especie de antepassada do COREMO e que teve curta duraçao. De facto, este tipo de iniciativas dava lugar a lutas acesas pelo controlo da nova organizaçao que se for mava, por parte 4os dirigentes dos pequenos grupos. Com a formaçao do COREMO muitas dessas questoes se repetiram, embora o apoio prestado pela Zâm bia lhe desse outra garantia de sobrevivência. Para este pais era claro que uma frente tinha mais hipóteses de levar a cabo uma luta consequente do que di versos pequenos grupos envolvidos em questiúnculas intermináveis entre si. Assim, embora as autoridades zambianas tivessem recusado a UDENAMO o direito de operar na Zâmbia, não puseram, depois, entraves a instalação do COREMO. Embora constítuído em Maio, o processo de colí gação que deu lugar ao COREMO arrastou-se por todo o ano de 1965 e so em Novembro o EREPOMO [Exército Revolucionário Popular de Moçambique], seu braço ar mado, levou a cabo a sua primeira acção numa aldeia da regedoria João, no Zumbo34. Como resultado da re pressao que se seguiu, levada a cabo pelas autorida des coloniais, milhares de camponeses da zona refugiaram-se na Zâmbia, inviabilizando a continuidade daquele tipo de acçoes na zona. Durante o ano de 1966, o COREMO tentou ainda, a partir de Mimosa, no Sudeste do Malawi, realizar acçoes em Milange e Morrumbala, na Zambézia35, sem consequências. Simultaneamente, constituiu depósitos de armanento na fronteira entre a Zâmbia e Moçambique, em Petauke, Nyimba e Nsadzu36. Em 1967, desencadeou então uma série de acçoes cobrindo, sobretudo, a faixa NQrte do Zumbo e Marávia e, particularmente, a Macanga. Todavia, eram acções que, embora espectaculares, não podíam-ter continuidade, quer devido aos problemas internos resultantes da indef1 nição do inimigo, quer devido ao sistema de guerrilha de foco adoptado. Assim, durante os anos de 1966 e 1967, vão-se agravando os conflitos internos, que culminaram com a saída de Adelíno Gwambe, que tentou, em seguida, formar o PAPOMO [Partido Popular de Moçambique], e com a luta do Vice-Presidente do COREMO, Amos Sumane, no início de 1968,.pela defesa de um "partido dos nacionalistas do Norte", oposto aos militantes originários do Sul de Moçambique37. Sumane participou, pouco tempo depois, na formação de uma nova organização, a UNAR [União Nacional Afri cana da Rumbézia], que tinha o propósito de lutar pela independência do territ6rio situado entre os rios Rovuma e Zambeze 38. Por outro lado e apesar de tudo, o COREMO continuou, durante o ano de 1967, a intensificar a sua acção de guerrilha, sobretudo na Macanga. Porém, as acções eram realizadas a partir da fronteira, sem a preocupação de apoios no interior, resultando daí que os grupos, embora fazendo acçoes espectaculares como a assalto a cantinas e o assassinato de cantineiros, eram facilmente detecta dos e perseguidos pelas forças militares coloniais. Assim escapou, por pouco, de ser capturadoo seu Pre sidente, Paulo Gumane, e assim foi abatido, na mesma altura, em Fevereiro de 1968, o seu Secretário dos Negócios Estrangeiros, Millíon Bobo39. O ataque ao quartel de Furancungo, em Janeiro de 1968, constituiu a última acção importante do COREMO. Em seguida agravou-se o processo de deserção dos seus mi litantes, nomeadamente para as fileiras da FRELIMO. Condições do desencadeamento da luta no interior Os grandes objectivos a atingir pela FRELIMO com a abertura da Frente de Tete, estavam definidos. Embora ela pretendesse alastrar o conflito, rapidamente, a todo o território do Distrito, era preciso determinar, no entanto, por onde começar os conflitos armados. Durante todo o ano de 1967 o esforço empreendido no interior levava as forças coloniais a concluir que a FRELIMO visava, com igual intensidade, quer a região de Mutarara-Moatize, quer a Marávia-Macanga, mais a Norte, quer, ainda, o Zumbo, no extremo ocidental. Torna-se, portanto, interessante prdcurar os factores que levaram ao desencadeamento da luta no eixo do rio Capoche, entre a Ma rávía e a Macanga. Vimos ja as razões que inviabilizaram, quase por completo, a acção na região Mutarara-Moatize, apesar da importância desta, e que se prendem a política malawiana, ao controlo exercido pelas forças portuguesas e a incipiência do trabalho polÍtico no seio das populações. Quanto ao Zumbo, no extremo oposto, tudo leva a crer que, até ao último trimestre do ano de 1967, tenha sido considerado como uma das alternativas mais sólidas. De facto, apesar de ser uma zona tradicionalmente visada pelo COREMO, a maioria da população que se havia refugiado na Zambia, na altura dos acontecimentos de 1965, já estava de regresso, e a presença portuguesa naquela região, a nível militar e administrativo, como a nível do co mercío e agricultura, era praticamente nula40.Emto da a região do Zumbo o exército português tinha ape nas instalada a Companhia de Artilharia 1514 (cerca de cem soldados), do Batalhão de Artilharia 1882, com um pelotão no Zumbo e outro no Puato41. Por isso, durante todo o ano de 1967 o Governador do Distrito referiu a necessidade de reforço militar nesta região 42. Finalmente, e provável que na escolha da região ocidental do Zumbo, junto ao rio Aruangua, também interviessem elementos mais gerais de apoio a luta de libertação da África Austral, como a ajuda à abertura de um corredor para os combatentes na cionalistas zimbabweanos se infiltrarem na Rodésia. Todavia, essas perspectivas foram drasticamente goradas com a descoberta, pelas autoridades coloniais, em Setembro de 1967, da rede de militantes e apoian tes da FRELIMO na região do Puato, e subsequente cap tura de um depósito de armamento que deveria servir de base ao desencadeamento das acçoes militares, acontecimento de que a FRELIMO, no Zumbo, so se viria a recompor no decorrer do ano de 1968 43. A região de Marávia-Macanga, que depois passou a conter, também, a Circunscrição do Bene44, foi, assim, nao propriamente a zona escolhida mas, das zo nas visadas, aquela onde foi possivel continuar a desenvolver e aprofundar as condições para o desencadeamento das acçoes armadas, ou seja, o trabalho com as populaçoes e a edificação das bases guerrilheiras. É, assim, relevante o conhecimento sumário da situação económica e das relaçoes políticas, fac tores essenciais no desenvolvimento dos acontecimen tos nesta região. De uma forma geral, a região Marávia-Bene4Macanga, localizada no grande planalto d Marávia, en contrava-se a grande distância dos centros polÍticos e económicos portugueses do Distrito de Tete. A quase total ausencia de investimento colonizador limitado à presença da autoridade administrativa e de escassos estabelecimentos comerciais, era acentuada pela inexistência quase absoluta de vias de comunicação transitáveis todo o ano. Os relatórios de campo das brigadas dos Serviços de Acção PsicoSocial coloniais45davam conta desta situação em detalhe, e dos perigos que ela encerrava para a ordem colonial. De facto, a generalidade das aldeias da re gião tinha grande dificuldade na colocação da sua produção agrícola excedentária devido à ausencia de postos de comercializaçao ou, onde eles existiam, devido, no dizer das autoridades locais e dos produ tores, à "injustiça" dos preços praticados. Tal situação era ainda mais aguda nas zonas de produção tradicional de culturas de mercado, como a região de Vila Gamíto, produtora de tabaco. DaÍ resultava a tendêhcia crescente para, ignorando as fronteiras, os camponeses procurarem colocar os seus produtos nos mercados fronteiriços do Malawi e da Zâmbia. Con sequentemente, grande parte dos escassos bens de con sumo tinha também origem no exterior e, ao longo dos anos, foi-se acentuando um movimento migratório para esses paÍses, assim como para as cidades da pró pria colónia, nomeadamente Tete e Beira. Ou seja, um despovoamento e uma pauperização progressivos. Dependência dos países vizinhos, maior na razão directa da proximidade das fronteiras setentrionais, e pauperizaçao progressiva, eram factores que dificultavam o controlo político por parte das autorida des coloniais. Aquele, até pela capacidade relativa destas, era concretizado, a nÍvel local, de uma for ma indirecta, através da figura do regedor. Era este que "desmultiplicava" a autoridade do administra dor de posto, recebendo orientações daquele e exercendo o poder a nível da sua regedoria. Assim, a au toridade colonial tinha que conhecer os meandros po líticos da regedoria e norteava a sua acção tendo como referência as caracterÍsticas do regedor ideal, na perspectiva da administração: fortemente dependente da administração, ávido de adquirir a cultura e os valores da nacionalidade portuguesa, pouco dependente dos chamados centros de comandamento exter no, gozando de grande prestígio e autoridade junto das "suas" populações, forte e saudável (na medida em que isso assegurava estabilidade) e, na medida do possível, dentro dos requisitos de sucessão que lhe conferiam legitimidade. Ora um tal regedor era difícil de encontrar. Se era "amigo dos portugueses", legitimo e com prestigio, como o Fifetine Chofombo, da regedoria Chofombo, era, no entanto, velho e doente; ou tinha oposi tores de respeito, mais reservados em relação a pre sença portuguesa, como acontecia na regedoria Chimuara; ou, ainda, era considerado tÍmido e sem qual quer influencia junto das populaçoes, como na regedoria Caduco, o que originava ser posto em causa pe los chefes de grupo de povoaçoes, com opiniões nao coincidentes com as suas46. Na Marávia, a situaçao era ainda agavada pela submissão generalizada a um forte "comandamento externo", o Undi, localizado na Zâmbia, a que anteriormente já foi feita referência. O poder assim exercido, através de uma pessoa, tornava-se frágil na medida em que, de um momento para o outro, toda a ordem colonial poderia ser posta em causa, sobretudo numa região tão isolada como esta. Assim, por exemplo, o Fifetine Chofombo, regedor de Chofombo, no Norte da Marávia, era consi derado pelas autoridades peça-chave na contenção das chamadas "actividades subversivas" que írradiavam do Zumbo. A sua morte, em Janeiro de 1967, desencadeou uma grande luta pelo poder entre facções rivais e a situação degradou-se rapidamente, na perspectiva da administração, passando a regedoria a ser considera da como uma das mais receptivas ao trabalho polÍtico das forças nacionalistas, que se moviam naquele território sem que nada fosse reportado às autorida des portuguesas47. Tudo isto significava que, numa situação de des contentamento generalizado, em que a reserva ao colonialísmo vinha da situaçao concreta das populaçoes, acentuada pelas idéias independentistas que uma relação estreita com os países vizinhos favorecia, o trabalho político nacionalista que precedeu a luta, quando chegava junto das populações e auto ridades tradicionais, podia, por si s6, p8r profundamente em causa toda a ordem colonial e fazer com que a situação se alterasse radicalmente num curto 67 espaço de tempo. Entre a segunda metade do ano de 1967 e os inícios de 1968, a ordem colonial começou a desfazer-se como um castelo de cartas, na regiao, num dramatico movimento de que a seguinte passagem dá bem idéia: ,,( ... ) O regedor Cangombe cQlabora com a FRELIMO. (De notar que em Julho de 67 nao contunicou às autoridades o avanço do terrorismo ao longo do rio Capoche; (...) De salientar que este regedor é o sobrinho dilecto do Hundi e seu presumivel herdeiro. Do grupo de terroristas da FRELIMO ora actuando no distrito faz parte um irmão do regedor). - O regedor Chimuara aderiu à FRELIMO e compeliu as suas p2 pulações a aderirem também (...)1,48. Capitulo III A ABERTURA DA FRENTE DE TETE (1968-1969) Detivemo-nos anteriormente nos grandes objectí vos perseguidos pela FRELIMO com a preparaçao da abertura da Frente de Tete, nas condições que rodea ram essa preparação e na forma como as autoridades portuguesas encaravam o desenrolar dos acontecimentos. Procuraremos agora as còndições decisivas que permitiram o desencadeamento da luta e o seu prosse guimento durante o ano de 1968, assim como os seus elementos estratégicos essenciais: a população e as bases de guerrilha. Veremos, enfim, a reacção do exercito colonial e como tentou pela últímavez, por volta de Setembro, resolver definitivamente o conflito. Aqui, mais uma vez, se coloca o problema da prudência com que devemos encarar as fontes coloniais escritas, na medida em que, por definição, o trabalho polÍtíco com as populaçoes era clandestino e as bases de guerrilha inacessíveis. A informação que chegava em primeiro lugar às autoridades era, assim, veiculada por colaboradores e por infiltrados. A caracterÍstica predominante que resulta deste tipo de situação, em relação à documentação, é, pois, o seu atraso. Atraso no conhecimento que um grupo de guerrilheiros pernoitou numa aldeia ou que uma base se situava em determinado local. Consequen temente, todo o encadeamento logico operado pelos serviços de ínteligência coloniais realizava-se "a posteriori": quando uma base de guerrilha era detec tada, atraves do relato de um ínformador, do interrogatório de um prisioneiro e sua sequente "explora ção" ou, ainda, por via de um raide aéreo ou de um patrulhamento, ela já existia há algum tempo ou, até - o que era frequente - já tinha sido abandonada, já tinha deixado de existir. Para as forças coloniais, portanto, a nitidez era muito difícil de obter ou, se era conseguida, era-o com atraso. Esta si tuação, como se pode depreender, causou grandes díficuldades às forças coloniais, no seu esforço para compreender as íntenções operacionais da FRELIMO. Assim e curiosamente, as forças militares, na primeira metade do ano de 1968, terão caído no mesmo tipo de erro em que haviam caldo as forças administrativasI, procurando localizar as bases de guer rilha partindo do principio que estavam fixas no ter reno e que destrui-las era destruir as forças da guerrilha. A experiência mostrou-lhes, mais tarde, que uma base destruida ressurgia, pouco depois, na mesma região e que, p3rtanto, era necessario visar antes os grupos operacíonaís e as suas inter-relações organizativas, mais do que, propriamente, as ba ses no seu sentido físico. Assim, e enquanto as for ças portuguesas procuravam com afinco os parâmetros de uma guerra de posição, procurar-se-á mostrar que, do lado da guerrilha, nada estava fixo e que, em Te te, entre os anos de 1967 e 1968, não chegoua haver uma zona de bases no sentido que Mao Zedong lhe atri bui: se é certo que a tropa portuguesa, nesta altura, podia chegar a todo o ladò com o recurso aos seus meios aereos, nao e menos certo que os seus objectivos militares lhe escapavam por entre os dedos, quando encontrava palhotas vazias de guerrilheiros que, avisados, tinham recuado, escapando às investidas coloniais. A ligação com as populações Na luta de libertação de Moçambiquea população - o povo - sempre ocupou um lugar de destaque. Vi mos já que no seio das forças portuguesas cedo foi abandonada a perspectiva de encarar a população como mero espectador passivo da luta, considerando-se, pelo contrario, que conquistar a população era essencial para ganhar a guerra, e esse principio norteou grande parte da sua acção ate que, mais tarde, perdida essa luta, se enveredou pela vingança e pelo massacre. Foi, portanto, a perspectiva da popula ção como instrumento. Obviamente que a ligação dos guerrilheiros nacionalistas com a populaçãb f9i diferente, na sua na tureza. A FRELIMO, por definição política, afirmava -se como movimento popular. Não iremos argumentar aqui sobre esse percurso de identificação popular, que ganhou ímpeto com o 12 Congresso e as suas teses sobre a inevitabílidade da guerra e da sua defi nição não só como luta contra o colonizador mas, tam bem, contra a exploração. Pretende-se, antes, discu tir a questão de como essa identificação com o povo foi essencial, do ponto de vista operacidnal da guerrilha. O ponto de vista original dos clássicos do mar xismo - Marx e Engels - sobre a organização militar das massas oprimidas consistiu na necessidade de armamento do povo, de armamento das massas revolucionárias. A FRELIMO concluiu este princípio - co mo muitos outros - não só pela via da leitura ma atraves da sua propria experiencia. Os guerrilheiros entrados pelas fronteiras nao vinham eles pr6prios libertar o povo mas, antes, constituíam uma pequena vanguarda que, com o povo, ia libertar o pais. Ques tão óbvia, se atentarmos que o início da luta foi precedido por intenso trabalho político clandestino e que, desde o início tambem, houve bases de treino de'elementos recrutados localmente para as fileiras dos combatentes. Questão, também, que releva directamente da definição política do inimigo e dos fins a atingir com a luta de libertação2. Um dos chefes guerrilheiros que actuou na preparação e no desenca deamento da luta na regedoria Mucipo, por exemplo, 71 era irmão do proprio regedor e acompanhavam-no outros familiares3. Portanto, é clara a importância de uma unidade profunda com as populações locais, do ponto de vista operacional: era a população que fornecia os seus jovens que, apos uma curta preparaçao militar, iam engrossar os contingentes da gúerrílha, à partida tão escassos. Era ela quem transportava o material, fornecia a alimentação e punha as bases ao corrente da movimentação das forças coloniais. O trabalho político que precedeu a luta era, pois, clandestino, e, portanto, muito difícil de re constituir na documentação colonial. Contudo, a captura de documentação, nomeadamente de diários de cam panha ou de correspondência trocada entre combatentes, assim como os registos de interrogatórios, per mitem uma idéia de como terão decorrido este tipo de acçoes. A formação do destacamento de Chizame constitui um bom exemplo, na medida em que foi possível reconstituir o seu percurso desde o inÍcio4. Nos pri meiros dias de Fevereiro de 1968 este destacamento recebeu ordens para se estabelecer na confluência dos rios Luatize e Capoche, região estrategicamente muito importante porque iria constituir a frente mais meridional da luta em preparação, porque assegurava a ligação entre Marávia e Bene, e porque ficava ao seu alcance o aquartelamento militar e a vila de Be ne. Outras unidades estavam ja estabelecidas no ter reno, nomeadamente no Noroeste da Marávia e na região de entrada do rio Capoche em Moçambique. Provavelmente, os comandos militares dos combatentes preten diam o estabelecimento de forças militares nas zonas estrategicamente mais importantes para desencadearem, simultaneamente, as acçoes armadas em diversos pontos. Quando o destacamento, chefiado por Rudolfo Mendes5, chegou a região visada, a única facilidade que tinha era uma pequena reserva alimentar e o con tacto com alguns elementos da população. O mês de Fe vereiro passou-se em reuníões de mobilização com che fes de grupos de povoações, notâveís e camponeses das aldeias da zona, tentando os guerrilheiros explicar as razões do combate e apelando à participação de todos na luta. Na mesma altura foi, tambem, possÍvel enviar um grupo de voluntários a outra base atrasada (provavelmente a base Mutarara), para trazerem armamento. No final do mes, o destacamento, continuando as reunioes com a populaçao, iniciou uma acção de reconhecimento mais vasta das zonas em redor e foi, inclusivamente, contactar o regedor Cangombe, que conseguiu mobilizar. Pelo caminho, contactou o maior numero possível de aldeias. EmMarço, o seu estabelecimento na região era já relativamente sólido e pode receber a ordem de ataque ao aquar telamento militar de Bene, que executou no dia 26 do mesmo mes. Vimos já a relativa facilidade na mobilização das populações para a luta, a rapidez que caracteri zou a adesão popular, que tinha, seguramente, a ver com as condiçoes concretas vividas nas aldeias. Nes te ponto, e curioso notar as diferenças de sensibilidade em relação ao que as forças portuguesas desi& navam de "estado de espirito das populaçoes": as es truturas centrais como o QuartelGeneral em Nampula, face a crescente adesão popular a luta de libertação no Norte de Tete, ou renunciavama qualquer análise ou concluiam que ela se devia a um maior apoio do Malawi à guerrilha e a uma "viragem" da Zâmbia que, a partir de Setembro de 1967, teria passado a manifestar uma atitude mais favorável em relação a FRELIMO6. Todavia, tais conclusões nao se deviam à falta de elementos prestados pelas =".z2idades mili tares locais, que, estas sim, viam claramente no des contentamento popular a razao central da rapidez com que se desenvolvia a implantação guerrilheira. São eloquentes os relatórios do comando sub-sectorial de Fingoé a este respeito: "(...) As AA [Autoridades Administrativas] nunca contactaram pessoalmente com as populações nas zonas onde se desenrolam os acontecimentos por falta de vias de comunicação, pelo aci dentado do terreno, arborização densa e distância aos PA [Pos tos Administrativos]. Mas é sobretudo a inexistência de elos materiais que faz com que as pop [populações] debandem ao me nor sintoma de alarme. Ja foi exposto por este comando o pro. blema da inexistência de cantinas ou de outros meios para se conseguir o escoamento dos produtos locais. Por outro lado é muito deficiente a cobertura sanitária e escolar, dois assun tos que as populações põem como pretensões suas as ADPA [Administraçoes de Posto] e as NT [Nossas Tropas] (...),,7 E o mesmo comando concluía, noutro passo: "(...) Aproveita-se a oportunidade para mais uma vez referir que o problema das populações (...) se agrava de dia para dia em virtude da falta de escoamento das colheitas e inexistência de cantinas onde possa efectuar as suas compras, o que le va as pop a olhar com total descrença quer as AA quer as NT"8 Neste contexto, um esforço de sensibilização para a luta bem estruturado, poderia trazer - como trouxe -= resultados imediatos. No espaço de um ano, entre 1967 e 1968, a ordem colonial deixou pratica mente de existir na maior parte das regiões da Marã via, Macanga e Bene. As primeiras zonas onde ocorreu uma solida implantação da FRELIMO, nos inicios de 1967, foram as regedorias de Chimuara e Caduco, na Marávia, e Mucipo e Cussarara, assim como Sabondo (rgião de Vuende), na Circunscrição de Bene9.Emto das estas zonas a FRELIMO contou com a colaboração de regedores ou, onde tal não foi possível (como no caso de Cussarara), pelo menos com a colaboração de chefes de grupos de povoações importantes. Logo em seguida vieram as regedorias de Chofombo, Cachombo, Cantengo, Cangombe e Chamanga, na Marávia, esta última ja nas margens do rio Zambeze, e Cassacatiza e Bene, na Circunscrição de Bene10. Alguns regedores permaneceram, durante este ano, colaborantes com as autoridades coloniais, como os de Mulirima, Manjanja e Caduco, mas tal não impedia a grande agitação que ocorria nos seus territórios. Entretanto, nas re gedorias vizinhas daquelas que as autoridades consi deravam já "afectadas", começavam a aparecer panfle tos de propaganda e sinais de presença de elementos da FRELIMO, efectuando reuniões e procurando sensibilizar os camponeses. Nas regedorias particularmente apoiantes dos combatentes, as forças do exército português tinham grandes dificuldades em desenvolver a sua acção. Em primeiro lugar, pela já referida dificuldade de cir culação devido a ausencia de vias de comunicação. De pois - como frequentemente acontecia - porque os camponeses, avisados da chegada dos soldados, abandonavam as aldeias e refugiavam-se no mato, ou, simplesmente, quando contactados, remetiam-se a um mutismo absoluto, recusando7se a fornecer informações. Finalmente, começou, em Setembro de 1967, um proces so de abandono de aldeias inteiras por parte dos seus habitantes, pela primeira vez assinalado na região de Bene1I. O estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros A luta de guerrilhas s6 pode ser levada a cabo duradouramente se houver uma relação profunda entre os guerrilheiros e a populaçao, por um lado, e se es tiver estabelecido um sistema sólido de bases de apoio, por outro. O princípio da guerrilha, do ponto de vista militar, consiste em alargar o conflito armado a toda a grande área ocupada pelo inimigo, convertendo em frente a rectaguarda do inimigo e obrigando-o a combater nas suas proprias zonas de ocupação. Segundo Mao Zedong, tal principio nâo pode ser praticado e desenvolvido sem "bases estratégicas nas quais se apoia a guerrilha para levara ca bo as suas tarefas estratégicas assim como para atin gir os seus objectivos de auto-preservação e expansão, e de aniquilamento e expulsao do inimigo"12. A importancia das bases de guerrilha e, assim, um principio geral, comum a todas as experincias históricas deste tipo de luta. Todavia, e exactamen te por ser geral, a designação de "base" abrange rea lidades extremamente diversas, adaptadas a situações concretas e variadas. De facto, é abissal a diferen ça entre uma grande base central, fixa no território e composta por centenas de guerrilheiros, por exemplo, e um pequeno refúgio onde dois guerrílheiros, cuja missao e minar uma estrada, pernoitam. Mao Zedong, relativamente a experiência da Chi na na guerra anti-japonesa, tipíficava as bases em bases de montanha, de planície e dos rios ou estuários, segundo a sua localização, e em permanentes ou temporárias, segundo o nível de desenvolvimento militar e os imperativos estratégicos da guerrilha. Se tal classificação parece óbvia, mais interessante se torna a análise, que ele faz, das zonas de guerrilha e das condições para o estabelecimento de bases. Distingue as zonas de bases, que o inimigo ja não contesta, as zonas de guerrilha, contestadas por ambos os lados, e as zonas dominadas pelo inimi go. Neste sentido, o objectivo da guerrilha seria de operar clandestinamente nas zonas do inimigo, para provocar o levantamento e as converter em zonas de guerrilha, e, em relação a estas, procurar aniquilar o inimigo para as converter em zonas de bases, abandonadas já por aqueles 13. Entretanto, e como atrás se referiu, procurare mos mostrar que no Norte de Tete, entre 1967 e 1969, não houve uma zona especÍfica de bases, no sentido que Mao lhe atribui, mas antes uma extensa zona de guerrilha onde foi possível estabelecer bases eficazmente, devido sobretudo à ausência quase total de vias de comunicação. É claro que uma tal' realidade obrigou a que as bases fossem extremamente móveis no terreno e, em certo sentido, muito dependentes umas das outras, constituindo aquilo que se poderia desi& nar por sistemas de bases. Assim, cada umdesses sis temas era composto por um certo número de bases, com funções diferenciadas mas formando um todo com um objectivo estratégico determinado. Com todas as pre cauções e reservas, inevitáveis no estabelecimento de uma tipologia baseada em documentação indirecta, pode-se dizer que, normalmente, um sistema era composto por. uma base central, como que o núcleo do sis tema, que distribuía as orientações e ordens de batalha, e que canalizava as informações do terreno de operações. Era nela, geralmente, que se processava a instrução militar dos elementos recrutados local mente, embora houvesse também bases com a função es pecifica de instrução. Normalmente, existia também uma base de trânsito, para recepção de homens e material, localizada junto a fronteira, e bases de se gurança e de guerrilha. Se existiam outros tipos, co mo por exemplo bases de população, assim denominadas por se destinarem a proteger núcleos populacionais, eram determinados pelas linhas de penetraçao, pela relação com a população e pelas acções operacionais concretas. Pelas limitações já referidas, torna-se difÍcil estabelecer a forma como esses sistemas se implanta vam no terreno. Todavia, e natural que o primeiro propósito fosse o de estabelecer, no terreno, uma estratégia geral previamente determinada. No caso do primeiro sistema, este t'inha como eixo central de penetração todo o vale do rio Capoche - portanto aquilo que as autoridades militares portuguesas desig navam de "ínfiltrante central". Depois, a localização das bases do sistema definia, igualmente, "subínfíltrantes": o Destacamento de Chizame, por exemplo, levava, como vimos, a missão de estabelecer a ligação entre a Marávia e Bene, e de ameacar directamente a vila de Bene. Por outro lado, e também evi dente que a ligação com a população constituiaump2 deroso factor do estabelecimento de uma base numa zona especÍfica: as bases tendiam a ser mais só1idas onde o trabalho de mobilização popular tinha sido mais profundo e dado mais resultados. De qualquer forma, o primeiro sistema de bases da FRELIMO em Tete surgiu, as autoridades coloniais, já totalmente constituído e, mesmo então, elas tive ram dificuldades em compreender que ele funcionava como um corpo único, como se vera. Antes disso, so se refere vagamente a eventualidade da existência de' depósitos de armamento, a movimentação de grupos de guerrilheiros e o seu contacto com diversas aldeias espalhadas pelo território, sem ser possível dai re tirar conclus6es sobre uma estratégia determinada. A confusão da situação era acentuada pela deambulação de alguns grupos de guerrilheiros do COREMO nas mesmas zonas (sobretudo Macanga e Zumbo), e pela con vicção, por parte das autoridades portuguesas, que estes actuariam em coordenação com os combatentes da FRELIMO. Em suma, as bases devem ter começado a ser estabelecidas em meados de 1967, e a primeira infor mação sistematizada sobre a sua existencía e articu lação só foi produzida pelos serviços de informações portugueses nos fínais do mês de Março de 196814, quase um ano depois, e após os primeiros ataques, que ocorreram a 8 de Março. As razoes desse atraso são diversas. Em primei ro lugar, ele denota um trabalho cauteloso por parte dos guerrilheiros e um significativo apoio popular: as denúncias eram minimas, muitas vezes contra ditórias e não confirmadas. A suspeita era a base de trabalho das autoridades coloniais neste dominio. Depois, é importante notar que a intensificação das actividades de instalação das bases do primeiro sis tema ocorreu nos finais de 1967, com o inicio da es tação das chuvas15, que afectou as poucas estradas relativamente importantes, e cortou praticamente to das as pequenas picadas, como ocorria todos os anos. Além disso, como se referiu, era muito difícil destrinçar, de entre todos os movimentos considerados subversivos, quais os levados a cabo pela FRELIMO. De facto, na segunda metade do ano de 1967, sobretu do na Macanga, operaram grupos de matrizes tão diversas como a propria FRELIMO, vários grupos do COREMO, que só puderam ser neutralizados (e, mesmo assim, relativamente) no decorrer do ano de 196816, um contingente de dissidentes malawianos comandados pelo exministro Yatuta Chisiza, que atravessoua Ma canga, a Angónia e Moatize em Setembro-Outubro de 196717, e, ainda, grupos do PAPOMO de Adelino Gwambe18, embora mais inclinados a actuar a oriente da Macanga, além de outros que se reivindicavam da UNAMI. Neste contexto, assaz confuso para as forças portuguesas, foi, portanto, possível estabelecer, de uma forma praticamente clandestina, o primeiro sistema de bases. Dentro dele, é natural que a primeira base estabelecida tenha sido Kauandama, localiza da no triângulo formado pelos rios Duânguae Capoche com a fronteira zambiana, na região onde aquele último rio entra no território de Tete. Dela pouco se diz, para além de que era de pequena envergadura, que pouco variou de local e que se destinava ao tran sito de guerrilheiros e equipamento da povoação de Cassanto, na fronteira da Zâmbia, para o valedo rio Capoche19. Era, portanto, a base de transito ou recepçao, e deve ter existido desde finais de 1967. Em Março de 1968, o Governo de Tete referia"um gran de depósito de material no triângulo definido pelos rios Capoche-Duângua-fronteira da Zâmbia, materiali zando-se assim a anunciada intenção [da FRELIMO] de passar à luta armada no Distrito e causando extraor dinário agravamento da situação''20. Mais para o interior, dentro do triângulo maior formado pelos rios Luatize e Capoche com a fronteira zambiana, localizada de inicio, provavelmente, nos montes Chuamba, estava a base central Mutarara. Apesar de não ter tido grandes proporçoes - o seu efectivo, embora variável, era calculado, nos primeiros meses de 1968, em cerca de 17 guerrilheiros armados e 15 em instrução21 - era ela quem centralizava e distribuia os guerrilheiros e armamento vin dos de Kauandama para o interior, quem distribuía as ordens de combate, quem assistia os feridos mais graves no único hospital de campanha do sistema e quem comunicava com o exterior via rádio, uma vez que era ela, igualmente, quem detinha o único apare lho de rádio do sistema. O seu comandante era Ernes to Tembe (aliás Elias Sambo), e nela se encontrava, normalmente, Antonio Manhanga, chefe provincial, e Wassira, comissãrio político provincia122. A base Mueda, com uma estrutura e envergadura 7. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada. Março de 1968. Cr > 'MIM 8.~ ~~ Bae rniasd RL urneaoesv opier semestre de16iMioAot) idênticas às da base central mas dependente desta, começou por ser localizada relativamente proximo de Kauandama, mas logo em seguida desceu, vindo a situar-se, em Março de 1968, na região entre os montes Tarai e Camessongue, relativamente perto da base Mutarara. Cabia-lhe, ao que parece, a função de base de instrução principal23. Na confluência entre os rios Luatize e Capoche ficava o chamado Destacamento Chizame, a que anteriornente já foi feita referência, chefiado por Rudolfo Mendes24, comandante da zona ocidental da Fren te de Tete, e, um pouco mais a Sul, entre os rios Ca poche e Mevira, a base Quembo, formada por elementos daquele destacamento, e que assegurava a acção de guerrilha na região da vila de Bene, assim como o recrutamento de camponeses para a guerrilha, que enviava para a base Mutarara, para instrução25A base Dzembe completava o dispositivo do vale do Capoche, na sua margem direita. Situada relativa mente perto da base central, junto aos montes Chuam ba, parece ter sido uma base de população, onde se ministrava alguma instrução a novos recrutas. PossuÍa também uma escola com bastantes alunos26 Na margem esquerda do rio Capoche, pertencendo ao mesmo dispositivo mas actuando nas regiões de Be ne e Macanga, encontravam-se as bases de Furancungo e Vuende. A primeira, base principal da Macanga, era chefiada por António Canhemba, comandante da zona oriental da Frente de Tete, e situava-se naconfluên cia dos rios M'pule e Chimbudzi, perto da vila de Fu rancungo27. Finalmente, a base Vuende, formada por um grupo destacado da base Mutarara, segundo as autorídades portuguesas, mas talvez proveniente da ba se Furancungo, actuava na região de Vuende28. Mais ainda que sobre outros aspectos se torna patente aqui a imprecisão das informaçoes portuguesas. Tudo era vago: locais das bases, sua articulaçao e organização. No aspecto da organização militar dos guerrilheiros, a confusão era maior ainda. Segundo a PIDE29, a maior unidade era o batalhão, composto por varias companhias, estas por pelotões formados por secçoes e, abaixo destas, finalmente, os grupos, constituídos por cerca de três elementos. A nÍvel do batalhão, ou da companhia quando destaca da do seu batalhão, existia um comando com o respec tivo comnissário político. A base central ou provincial era composta por um batalhão, as bases gerais ou operacionais por uma ou varias companhias, as ba ses provinciais de instrução por uma companhia, as bases de segurança por um pelotão. Finalmentê, as ba ses de populsção eram enquadradas por um pelotão ou mesmo algumas secções. Todos, bem entendido, sem re ferir os serviços de administração ou de logÍstica a eles inerentes. Contudo, trata-se de uW conhecimento geral, independente das condições concretas do terreno, e sabia-se da extrema capacidade de adapta ção da guerrilha aos cenários concretos de operações. Como se concretizavam então estes princípios organizativos gerais no dispositivo do vale do rio Capoche, que apareceu montado "de um dia para o outro" em 8 de Março de 1968? Pouco se avançou neste sentido: Mutarara era a baseocentral, Furancungo se ria, talvez, a base central da zona oriental e Mueda a base provincial de instrução. Todavia, pouco mais se sabia, a começar pelos efectivos de cada uma delas, sobre os quais as informações eram assaz con traditôrías. A morosidade dos serviços de informações portugueses neste campo denota grandes dificul dades em conseguirem obter informaçoes junto da populaçãào. Por outro lado, e talvez decorrendo deste aspecto, a documentaçao militar revela uma certa sub estimação dtste factor em favor da preocupaçaode lo calízar fisicamente as bases. De facto, eram escassas as referências a aspectos organizacionais das forças guerrilheiras, e quando eram feitas eram-no, geralmente, de uma forma desprovida de rigor. Pelo contrário, qualquer informação referente à localiza ção de umã base era imediatamente "explorada", ou eram imediatamente pedidos detalhamentos. Tal distorçao táctica das forças portuguesas, que predominau durante a fase de ofensiva da FRELIMO, no primeiro semestre de 1968, revelava, talvez, falta de de sensibilidade sobre a natureza extremamente movel e flexivel das bases. Na maioria dos casos reportados de destruição de bases, eram destruídas apenas algumas palhotas porque os seus guerrilheiros ja ti nham retirado para, dias depois, edíficarem nova ba se com o mesmo nome, proximo da primeira. A ofensiva da FRELIMO Apesar das forças militares portuguesas estarem conscientes havia pelo menos seis meses da iminência de acçoes armadas da FRELIMO, não conseguiram reagir de imediato a ofensiva dos guerrilheiros, por diversas razoes. Este período cobre, assim, o tempo desde que a FRELIMO tomou a iniciativa militar no terreno, em Março de 1968, até à altura em que as forças militares portuguesas conseguiram, com alguma eficácia, travar aquela iniciativa, seis meses de pois, a partir de finais de Agosto do mesmo ano. O desencadeamento da luta armada teve lugar por meio de duas operações militares, a 8 e 11 de Março de 1968: um ataque ao aquartelamento militar de vila Gago Coutinho e uma emboscada na serra Chimanto, ambos no Norte da Marávía. No ataque ao aquartelamento e segundo as fontes portuguesas, entre 20 e 30 guerrilheiros armados com duas metralhadoras, uma bazuca, granadas de mao, armas automáticas, morteiros e LGF (lança granadas e foguetes), fizeram fogo durante 45 minutos30 sobre um pelotão da Companhia de Caçadores 1655, do Batalhão de Caçadores 1906 (Subsector FFG)31. Na emboscada, realizada no sopé da serra Chimanto, na margem direita do rio Chingom be e próximo da povoação Piringo, um grupo não determinado de guerrilheiros emboscou uma força adminístrativa constituída pelos administradores da Cir cunscriçao da Maravia e do Posto de Chofombo, um guarda da PSP e alguns milícias do Posto de Cassuende, que se dirigia para a referida serra explorando informações sobre um acampamento guerrilheiro32. Foi grande o impacto destas duas acções, agravado pelo facto do Batalhão de Caçadores 1906 ser recém-chegado ao Subsector FFG para render o Batalhão de Artilharia 188233, e em escassos dias não podia ter controlo sobre o território nem sequer uma idéia da situação de terreno. O próprio Quartel-General em Nampula mostra bem quanto as forças milita res foram surpreendidas: "(...) No dirito de Tete foi recentemente referenciada, em bora não identificada por enquanto, uma estrutura militar ao que parece forte, da FRELIMO, que se desconhecia e de que não havia indícios, o que vem determinar uma modificação mais ou menos profunda nas possibilidades que se conferiam à FRELIMO naquele distrito. Sabe-se da existencia de um Comando Operacional Provincial responsável pela actividade no distrito e de pelo menos 4 BA [bases] (Mutarara, Chizame, Mueda e Furan cungo) (...),,34 Parece legítimo concluir que o facto do eixo de penetração coincidir com o vale do rio Capoche colo cava díficuldades adicionais as forças militarespor tuguesas. De facto, constituindo aquele rio a linha de demarcação entre dois Subsectores FFGe FFR e, portanto, entre territórios sob a responsabilida de de dois batalhões distintos, era posta a prova a capacidade de articulação entre eles. Por outro lado, o facto de se estar em plena época das chuvas, tornando impraticáveis quase todas as vias de comunicação da zona, fazia com que fosse difícil e moro sa a alocaçao de forças militares suplementares para as regiões onde a acção dos guerrilheiros se começava a fazer sentir. Colhido de surpresa, o exercito portugues tentou de alguma forma responder àqueles dois ataques com as operaçoes especiais "Concorde" e "Strong", a 9 e 15 de Março respectivamente, com as quais con seguiu destruir dois acampamentos sem, todavia, lograr encontrar guerrilheiros35. Mas a atitude das forças militares era de espera, tentando descortinar a "intençao operacional" da FRELIMO. Os guerrilheiros, por seu turno, ,rocurar-aam, durante o mês de Mar ço, tirar partido desta situação de surpresa, desen volvendo a sua iniciativa e penetrando profundamente no território. Na região dos primeiros ataques minaram as estradas, sobretudo o itinerário que ligava vila Gago Coutínho a Cassuende36, procurando di ficultar ainda mais a circulação e, portanto, tornar mais inacessivel o triângulo onde se localizava a base Kauandama, e criar condições para descer para Sul, em direcçao a Vila Vasco da Gama. Emrelação à região oriental, na área do Subsector FFR, os ser viços de informaçoes militares portugueses debatiam -se ainda com maiores dificuldades. Presumia-se que a entrada de guerrilheiros para a zona de Bene e da Macanga.(região de Furancungo) se processava pela rota Montes Mbizi-rio Mecumbuzi-río Chisiboe-rio Muan gadzi-Serra Sacari-Serra Unanze-Furancungo37. Se bem que essa rota tenha sido provavelmente utilizada, as forças portuguesas desconheciam ainda a capacidade do dispositivo de Chizame, já referido, a partir de onde foi possível efectuar importantes acçoes que as colheram, mais uma vez, de surpresa, nomeadamente o ataque à vila de Bene, a 26 de Março, com a destrui ção das pontes dos rios Luângua e Luia, nas suas proximidades, e a flagelação do prõprio aquartelamento das forças da Companhia de Caçadores 155638. Logo em seguida, a 29 do mesmo mes, foram emboscadas forças militares na estrada Furancungo-Vuende9, começaram a aparecer engenhos explosivos na mesma estrada40 e surgiram as primeiras atções na estrada que ligava Furancungo a Tete41. Novamente a ocidente, na Marávia, teve lugar, a 2 de Abril, um ataque de grande envergadura contra a Vila Vasco da Gama e o seu aquartelamento militar42. Enquanto as forças militares procuravam locali zar as bases donde tinham origem estas acções, come çava a tornar-se clara a intenção dos guerrilheiros. Tudo leva a crer que o objectivo fosse paralizar as forças militares, nomeadamente através de ataques às sedes das companhiasmilitares e pelotões, como Vasco da Gama, Gago Coutinho e Bene, dificultando a sua saida para operaçoes, e através do corte das principais vias de comunicaçao: Cassuende-vila Gago Coutinho e Fingoé-Vila Vasco da Gama, na Maravia, e Cassacatiza-Bene, BeneChiúta, Bene-Vuende-Furancun go e Furancungo-Tete, na Macanga e Bene, procurando isolar as sedes dos contingentes militares entre si e entre a região e o exterior, enfim, procurando com pletar o trabalho iniciado pela natureza com a esta !po das chuvas. Por outro lado e num sèntido mais geral, torna va-se claro constituir o rio Capoche a linha princi pal de penetração, apoiada por dois flancos largos a ocidente e a oriente. A preocupação das autoridades portuguesas era agravada quer pela tendência de progressão dos guerrilheiros para Sul, que parecia imparável, quer pela possibilidade de alargamento dos dois flancos referidos. De facto, a ocidente co meçavam a ser assinalados movimentos de guerrilheiros na região de Zambué, no Zumbo, e a oriente era permanente a apreensão em relação a possibilidade dos guerrilheiros poderem abrir uma frente sobretudo a partir da Serra Salambídua (no Concelho de Moa tize), e de Mutarara, que conseguissem ligar a Furancungo43. Um mês depois do primeiro tiro, o Coman do do Sector F reconhecia que a situação militar em Tete era tão intensa quanto a de Niassa e Cabo DelgadoÃ4. Para além da ofensiva militar no sentido estri to, a verdadeira solidez do avanço guerrilheiro estava na sua capacidade de mobilização popular. Na margem direita do rio Capoche, as regedorias Chímua ra e Caduco eram consideradas pelas autoridades coloniais como "completamente subvertidas", enquanto que Cantengo e Cangombe estavam "seriamente afectadas". Na margem esquerda a situação era, talvez, ain da mais aguda a este respeito, abrangendo as regedo rias Cassacatiza, Mucipo, Cussarara, Bene, Manjanja e Mulirima. Foi feita atrás referência a esta situa ção, que tendia a evoluir da simples agítaçã%opopular para a subtracção de aldeias inteiras à ordem colonial, cujos habitantes se refugiavam em bases de população controladas pelos guerrilheiros, fora do alcance das autoridades. Esta situação, que começou a intensificar-se a partir de Maio, incidindo sobre tudo nas regioes de Gago Coutínho, por um lado, e de Bene-Vuende, por outro45, era previsivel atendendo a que, isoladas e paralizadas, as forças militares e administrativas coloniais tinham dificuldades cres centes em assinalar a sua presença nas aldeias. Maio de 1968 assinala assim, possivelmente, a entrada da estratégia ofensiva da FRELIMO numa nova fase. A reacçao militar colonial, procurando locali zar e neutralizar as bases, tinha uma contundencia muito relativa. De facto, das 14 operaçoes especiais realizadas visando bases de guerrilheiros, entre o inicio da luta e o mês de Maio, s6 4 proporcionaram um contacto directo com aqueles. Nas restantes, ou não se localizaram os acampamentos ou estes foram encontrados abandonados46. Os sistemas de alerta, com postos de vigia ligados engenhosamente às bases, muitas vezes através de fios presos a latas ou de estafetas, a morosidade do avanço dos grupos de com bate do exército colonial, faziam com que as bases já estivessem evacuadas a chegada daqueles, na maior parte dos casos. A base Quembo, por exemplo, descoberta e destruÍda na sequência do ataque de 26 de Março contra a vila de Bene, foi imediatamente reconstruida a Sul, na confluência dos rios Menene e Capoche, continuando a ameaçar a região de Bene elo calizando-se, desta feita, muito mais proximodo rio Zambeze e de Cabora Bassa 47. Mas a ofensiva, nos moldes que a caracterizavam, estava a atingir, de certa forma, um limite. A estação das chuvas chegara ao fim. Apesar de terem decorrido apenas três meses, em Maio a penetração era tão profunda que punha naturais problemas de li gação com a rectaguarda e, portanto, de reabastecimento. Além disso, se era relativamente viável a pe netração rápida ao longo do vale do rio Capoche, on 88 de não havia presença colonial relevante, era mais difÍcil manter a largura das alas oriental e ociden tal, à medida em que era feita a progressao. A manter-se o ritmo de avanço no vale do rio Capoche, a frente corria o risco de "afunilar", tornandose mais vulnerável,ou - o que ainda era pior - de se isolar da rectaguarda. Além do mais, era provavel que os problemas de reabastecimento tivessem ja começado a fazer-se sentir48. Havia, portanto, razoes para suster o impeto do avanço da frente, procurando-se antes consolidá-la atràvés do reforço da ligação com a população, das acções de treino militar de cam poneses e da continuação das operaçoes destinadas a dificultar o movimento militar colonial. De inicio, o Comando Sectorial F interpretou esta mudança táctica como um sinal de fraqueza dos combatentes. Para ele, a diminuição de actividade dos guerrilheiros dever-se-ia provavelmente à inten sa perseguição movida pelo exercito português,à pri são de regedores prestigiados e influentes, colaboradores da FRELIMO, à quebra na cadeia de reabastecimentos, ao insuficiente apoio da população e ao possivel desentendimento entre os diferentes chefes da guerrilha49, ou, ainda, devido ao facto de estarem a aguardar ordens e instruções superiores 50. Na verdade, tratava-se de uma perspectiva que subestimava os recursos de que a FRELIMO dispunha no terre no. É natural que, apos tres meses de incapacidade de resposta a ofensiva guerrilheira com um mÍnimo de^eficácia, os comandos do exercito colonial estivessem desejosos de assistir à inversão do sentido dos acontecimentos. Todavia, a evolução da situação nos meses de Junho, Julho e Agosto seguintes levaram as autoridades a alterar progressivamente a sua perspectiva. Nos finais de Junho, o mesmo Comando admitia que a FRELIMO estaria agora a colher os fru tos das demonstrações de força de Março e Abril' criando condições para a adesão das populações e pa ra o treinamento do pessoal recrutado 51. Um mês depois, era a vez do Governo de Tete afirmar que 89 "continuando sistemática e presistentemente a sua acção, a FREL0IM vem alternando períodos de intensa actuação com outros de quase nula actividade operacional. Porém, habilidosa mente, aproveita estes últimos para efectuar os seus aliciamentos e provocar movimentos de populações (...),,52 De facto, as operaçoes militares levadas a cabo pelos guerrilheiros e destinadas a cortar as vias de comunicação, prosseguiam. Na Marávia, foi sobretudo a Norte que se mantiveram as emboscadas e a mi nagem de picadas, visando principalmente a que liga va Gago Coutinho a Cassuende, com grandes emboscadas a colunas militares em 21 de Maio e 9 de Junho e, mais a Sul, na regedoria Caduco, com um ataque à própria povoação Caduco e às forças da OPVDC ali es tacionadas, visando cortar a estrada que, através de Chofombo, ligava ao Fingoé53_ Para sacudir a pressão que estava a ser exercida pelo exercito portugues, nomeadamente com as operações "Reacção"e "Aju da", os combatentes começaram a mover as suas bases principais da margem direita para a margem esquerda do rio Capoche54, criando simultaneamente condições para apoiar a frentý de Furancungo-Bene-Vuende. Aqui, sempre com o objectivo de cortar as vias de comunicação, foram intensificadas as emboscadas e a colocação de minas nas estradas Bene-Tembué-Cassacatiza, Bene-Fingoé, Bene-Chiúta, Bene-Vuende-Furancungo e Furancungo-Casula. A estrada que ligava Bene a Cassacatiza, ameaçando a linha de reabastecimento da frente oriental, foi duramente flagelada nos meses de Junho e Julho, e o próprio Posto de Tembue ataca do, a 21 de JunhoSS. No dia 2 do mesmo mês fora ocu pado o acampamento das obras públicas de Chiticula, desalojada a força de PSP/Milícias que o protegia e destruIdas máquinas que trabalhavam na reabertura de picadas56, e no final do mes os guerrilheiros rea lizaram dois grandes ataques ao aquartelamento da Companhia de Caçadores 2358, no Bene. A 28 levaram ali a cabo um ataque que durou sete horas e meia, em boscando simultaneamente a coluna militar que regres sava de Caliramo, já junto da vila. Dois dias depois, um largo efectivo guerrilheiro tornou a atacá 90 -la quase ocupando o quartel, salvo pela intervenção da aviação57. No mes seguinte, por sua vez, foram flagelados a vila e o aquartelamento de Furancungo, sede do Subsector FFR58. Esta nova fase da ofensiva da FRELIMO constituiu, também, uma resposta à tentativa de desalojar os guerrilheiros do vale do rio Capoche, criando ao mesmo tempo uma alternativa eventual de rota de rea bastecimento para a frente oriental, que descia o rio Muangadzi e era apoiada pelas novas bases Juromol e Beira. Nesta frente, o recrudescimento das ac ções operacionais foi suportado por um novo sistema de bases no qual Furancungo continuava a ser a base principal. A rota que conduzia a Kauandama e à fron teira era, como se disse, apoiada pelas bases Beira e Juromol (ou Chitequele). Na frente Bene-Vuende pro priamente dita, estavam em ligação com a base principal as bases Antonio Enes, Rovuma, Quelimane (base de treino), e Chingale, todas bases de guerrilha59, embora também devessem ter tido grandes concentrações de população nas suas cercanias. Tal hi pótese coloca-se devido à insistente referência ao despovoamento sistemático e quase total das regies de Cassacatiza e de BeneVuende, sem que tivesse si do possível às autoridades coloniais detectar o ras to das populaçoes, na maioria dos casos60. Por outro lado, também o Norte da Marávia contou com uma proliferação de bases para apoiarema ma nobra táctica. Ao lado do sistema do Capoche, centrado nas bases Mutarara, Mueda e Kauandama, surgiram as bases Chíngombe, Rome (ou Catcha), Aquissone, Maera (ou Boane), M'solola, Alfeu e Duângua61. Também aqui foi feito um grande esforço para retirar populaçoes ao controlo da administração colonial, nomeadamente na área de Vila Vasco da Gama e na regedoria Cangombe, onde, em Agosto, se verificou o abandono generalizado de aldeias por um largo número de populações62. Todavia, é muito difícil descor tinar o sistema de apoio que permitiu a progressao para Sul, na zona ocidental e no mês de Agosto, exac tamente porque as forças coloniais nunca chegaram a ter um conhecimento minimamente concreto desta situaçao. Era feita apenas uma referencia vaga a base Menene, extremamente móvel, e a um dispositivo sõl do com "bom potencial de fogo" ao longo dos eixos Capoche-Luatize63. Em finais de Agosto, portanto, tanto a ocidente como a oriente do rio Capoche, a frente tendia a ultrapassar a linha Fingoé-Bene-Vuende, aproximando se do rio Zambeze. Contudo, e apesar do inequívoco apoio popular, começava a apresentar algumas debili dades, nomeadamente a sua profundidade, ja referida, com as dificuldades de reabastecimento inerentes, a tendência a enfraquecer-se o eixo do rio Capoche, o que originaria, a prazo, o corte dalígação entre os sectores oriental e ocidental, e o estrangulamento da rectaguarda na regiao do rio Duangua, apesar dos esforços para a alargar, quer a ocidente na região de Cassuende, quer a oriente na faixa entre Cassacatiza e Missale 64 . Por outro lado, o atra so na penetração pelo Zumbo e por Moatíze-Mutarara Ia conduzindo a frente a um impasse. A contra-ofensiva militar portuguesa O mes de Setembro de 1968 assinala uma viragem no desenrolar dos acontecimentos, e como que a ulti ma tentativa do exercito colonial para recuperar to talmente o controlo sobre o território do então Dis trito de Tete. Dá início a um período aqui designado por periodo da contra-ofensiva em que ele, efectivamente, conseguiu inverter a tendência de progressão da Frente, que se vinha manifestando desde Março, empurrando os guerrilheiros ate à fronteira setentrional e colocando a FRELIMO numa situação de desiquiiíbrio, da qual ela só se viria a recompor com o inÍcio da estação das chuvas, sensivelmente no final do ano de 1968. Digamos que em Agosto a direcção do exercito co loníal, em Tete, constatava que tendia para uma situação de paralização completa das suas forças e que, a permanecerem estas acantonadas na estrategia defensiva que era a sua, não conseguiriam evitar que os guerrilheiros, a curto prazo, atingissem o rio Zambeze e tomassem o controlo total de todo o Norte do Distrito. Aumentar o efectivo estacionado na região era uma primeira solução obvia, e tal foi feito com a alocação de um novo batalhão e a reestrutu ração dos subsectores. Aos três existentes veio jun tar-se o Subsector FBN, ocupando a área da Circunscrição de Bene e faixas a Sul e Norte da Marávia, pro vavelmente65 Por outro lado, o exército português procurou viabilizar as suas operações. De facto, não eram so os patrulhamentos vulgares das tropas em quadrícula que se tinham tornado virtualmente impossíveis devi do ao controlo que os guerrilheiros detinham sobre as vias de comunicação. Também as operaçoes especiais bem sucedidas se iam tornando cada vez mais raras. Quando um grupo de combate saia para atacar uma base, por exemplo, e partindo do principio que conhecia exactamente a sua localizaçao, tinha que percorrer grandes distãncías através de picadas minadas e sofrendo emboscadas a cada passo. Depois, havia que abandonar as viaturas e penetrar num mato que lhe era hostil. As populações com que conseguiam deparar fugiam ou resistiam a dar-lhes qualquer tipo de ínformaçoes, e quando chegavam perto do objec tivo, extenuados e tendo já sofrido baixas, os soldados estavam tudo menos preparados para assaltar a base. Esta situação era sintetizada da seguinte forma: "(...) [A FRELIMOI conhece os nossos processos habituais de luta; sabe por onde as NT se deslocam, o material quepossuem e e-lhe fácil furtar-se ao contacto e provocar-lhes todaasé rie de contratempos, desgastando, enfraquecendo, desmoralizando. O problema, conforme se nos afigura, não está na maior ou me nor quantidade de forças e num maior ou menor número de viaturas - [a FRELIMO] sabe como actuar perante esta nossa apa rente força - mas sim na selecção de pessoal e escolha apro priada de meios. ~~~i Iqe Rgo .) <kG r ~I f%'IrIu " aZ .__.~ri : r.:o;: ZI n Seemr fio 1968 v. s *2 10. Operações especiais do exército português no âmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968. A táctica que [a FRELIMO] tem demonstrado nesta luta, diluin do-se no terreno, segurando-se nos seus acampamentos com um sistema de vigilancia e alerta eficazes, não é propícia ao em prego da massa de pessoal, que so se fatiga e sofre, a todo o momento, emboscadas, armadilhas, flagelações, rebentamento de minas, que ela, ardilosa e habilmente sabe implantar no terreno"66. Neste contexto, o novo tipo de operaçoes posto em prática pelo exército coloni.ql», a partir de Setembro, caracterizava-se por contar com efectivos menores e mais organizados, e, sobretudo, helítrans portados para os locais de operaçoes, onde intervinham, igualmente, caças bombardeiros. Deste modo es peravam os comandos militares tirar um rendimento maximo do efeito de surpresa, evitando todos aqueles obstáculos anteriores e imprimindo uma nova eficácia as operações. "As operações deste tipo, dadas as possibilidades dos meios aéreos, conduzem sem sombra de dúvida a resultados muito mais rentáveis, quer sob o aspecto operacional quer pelo aspecto psicologico que exercem [sobre a FRELIMO], sobre a população que com'ela vive, quer sobre aquela cujo estado de espírito e dubio. (...) Ao contrário do que acontece normalmente, em que ao fim de 2 ou 3 dias já se encontram em condições físicas desvantajosas para atacar uma base ou um Gr In [Grupo lni migo] ou reagir a uma emboscada, estas operaçoes permitem que tropas frescas sejam empenhadas nestas acções sem aquelegran de factor desmoralizante"67. À preparação deste novo tipo de operações veio juntar-se um elemento vital para que elas pudessem realizar-se: o conhecimento de importantes dados so bre a estrutura da FRELIMO e suas bases e efectivos, sobretudo a oriente do rio Capoche, nas regiões de Bene e Cassacatiza68. No início de Setembro, a Companhia de Caçadores 2350 desencadeou, a partir de Tembué, a operação "Mãos Dadas" sobre a base Beira, que foi encontrada abandonada mas que destruíram e onde puderam capturar importante documentação sobre o dispositivo guer rilheíro na região 69. Dias depois teve lugar uma ope ração idêntica, denominada "Salado", desta feita so bre a base Quelimane, com idênticos resultados, mas no decorrer da qual a tropa colonial experimentou maiores dificuldades, tendo inclusivamente sido aba tido um dos seus aviões nos arredores da referida base70. Estas primeiras operações constituíram como que um preâmbulo, visando já objectivos importantes mas servindo ainda como uma espécie de teste de efi cácia. Elas mostraram de imediato que, apesarde pro porcionarem ao exercito português a recolha de importante informaçao e a destruição de instalações físicas, não permitiam o efeito de surpresa completo e, portanto, o confronto físico e o aníquilamen to de guerrilheiros. O sistema de alerta destes estava bem montado e funcionava instantaneamente. Aban donando as bases imediatamente antes da chegada dos grupos de combate portugueses, os guerrilheiros estacionavam em seguida perto delas, refazendo-se rapidamente e, portanto, minimizando os estragos que as incursões pudessem causar71. A experiência assim obtida pelo exército colonial conduziu a preparação da série de operaçoes "Equator", cujo principio era aproveitar mais intensamente o efeito deý surpresa, procurando explorar todas as informaçoes obtidas com incursoes simultaneas sobre o maior numero possível de bases e considerando que, mesmo que não fosse pos sível surpreender os guerrilheiros em todas elas, pelo menos conseguiriam afectar as lígações entre as bases, remetendo os guerrilheiros para uma posíçâo defensiva. Em 17 de Setembro executou-se a operação "Equator Alfa", constituída por unia série de golpes de mão às bases Rovuma, Antônio Enes e Queli mane (esta última reconstruída prõximo do local onde tinha sido destruída anteriormente). As duas pri meiras encontravam-se já abandonadas mas na última capturaram três guerrilheiros, muita população e ar mamento72. Simultaneamente, a operação "Equator Bra vo" visou novamente a base Beira com o objectivo de pressionar o corte da ligação entre o eixo Bene-Vuen de e a rectaguarda, no triângulo do rio Duângua73. Dois dias depois teve lugar a operação "Equator Char lie", com golpes de mão às bases M'solola, Duangua, 11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guerra. Abril de 1968. 98 12. Dispositivo paramilitar c. :..al na zona de guerra em Setembro de 1968: aumento generalizado dos contingentes. 99 Mutarara e Juromol (ou Chitequele), no vale do rio Capoche e dentro do tringulo formado por este e pe lo rio Luatize com a fronteira, para dificultar o apoio que esta rectaguarda pudesse eventualmente dis pensar à região Bene-Vuende. Integradas na mesma ope raçao, foram também desencadeadas acçoes de destrui çâo de "meios de vida", ou seja, todas as machambas e celeiros encontrados, com o intuito de impedir a sobrevivência de guerrilheiros e populaçôes na região74. Em Outubro e Novembro seguiu-se uma série inten sa de operações do mesmo tipo, visando as regiões referidas, nomeadamente com o regresso a bases ante riormente destruídas, e cobrindo todo o vale do rio Capoche com incidência na região dos rios Menene, Me cumbúzi (Sul) e Nhimbe, onde suspeitavam existir um dispositivo da FRELIMO ainda desconhecido 75. A ofen siva culminou com a operação "Garden" sobre a então recém-formada base Capoche, constituÍda eventualmen te por contingentes retirados de bases anteriormente atacaáas76. A contra-ofensiva colonial provocou poucos recontros com os guerrilheiros, se se tiver em conta o aparato dç que se revestiu e a envergadura dos meios accionados. De facto, das 37 operaçõés especiais empreendidas entre Setembro e Novembro de 1968, apenas 5 reportaram baixas de guerrilheiros77. Toda via, cumpriram com o seu objectivo estratégico na me dida em que cortaram a ligação entre a rectaguarda e a frente Bene-Vuende-Furancungo, que era assegura da pelas bases Juromol e Beira, e controlaram a linha de fronteira, Cassacatiza-Vila Gamito, para pre venirem a eventualidade do surgimento de rotas alternativas de reabastecimento. Além disso, atingiram duramente todo o vale do rio Capoche, aniquilaram o dispositivo de bases em Bene e atingiram seriamente o dispositivo recuado do Norte da Marávia, procurando dificultar o apoio de rectaguarda à região de Vila Vasco da Gama. Cortada a ligaçâo entre as frentes oriental e ocidental da FRELIMO, inter100 rompida a ligaçao entre os dispositivos avançados e a rectaguarda, apenas restaram duas bolsas, nas regiões de Vila Vasco da Gama e do Vuende, que tendiam a ser totalmente aniquiladas. É natural que o problema central dos guerrilheiros fosse a dificuldade de reabastecimento, a ausência de reforços em soldados e equipamento 78. De qualquer forma, dada a violência e a rapidez da con tra-ofensiva colonial, ficaram com pouco espaço de manobra para reagir. A ocidente, tentaram passar pa ra Sul de Vila Vasco da Gama, dando continuidade a uma pressão que se vinha sentindo desde Julho e que já tinha originado o abandono pela população de gran de número de aldeias da região79. O comando militar colonial considerava que a continuação desta pressão visava proteger o avanço no eixo do rio Capoche, dificultar as comunicações entre Fingoé e Bene e dispersar a tropa colonial numa altura em que se pro curava concentra-la, no quadro das operaçoes especiais 80. De qualquer forma, o apoio de rectaguarda tinha-se tornado virtualmente impossível apos a ope raçao "Equator Charlie" e outras que se seguiram. A oriente, os guerrilheiros foram obrigados a retirar para Norte, na sua maioria, "deixando a descoberto" um grande numero de populaçoes, segundo a terminolo gia colonial. Populaçoes que, na esteira das operaçoes especiais, o exercito visava capturar ou pressíonar por diversos meios a sua apresentação junto das autoridades administrativas e militares. Datam desta altura as primeiras experiências concretas de formação de aldeamentos em Tete, visando a população da região Bene-Vuende. Para trás ficava o cortejo de horrores trazido por estas operaçoes especiais, sob a capa de designações como "destruição dos meios de vida" (destruição de machambas e celeiros que impli cava o prolongamento da fome), ou"aniquilamento dos apoios da guerrilha". Situação sintetizada por uma jovem que em Fevereiro do ano seguinte escrevia ao Administrador da Macanga, procurando por familiares: "A minha família foi toda atingida pelos helícópte101 ros que queimaram essa Macanga (...), a minha família foi encontrada no mato, sem roupa e sem vida ( . .),, 81 A FRELIMO retoma a iniciativa A alteração do curso dos acontecimentos a partír de Setembro de 1968, mais do que uma crise de crescimento da frente, sígníficava que o exército co lonial tinha encontrado uma forma mais eficaz de reagir a progressão da guerrilha. De facto, ate essa altura a FRELIMO vinha manifestando capacidade de conquistar cada vez maior número de populações para a luta de libertação e não tinha cessado de progredir para Sul. Porém o exército colonial tinha conse guido, repentinamente, resolver o problema da colocação de forças nas zonas críticas em prazos muito curtos, através do uso de meios aéreos, e isso tinha desíquilíbrado a tendência de evolução da guerra. No essencial, o exército colonial havia concretizado o principio do "número napoleónico", conseguindo obter a superioridade numérica em cada recon tro de forças específico82. Toda a sucessão destes recontros visava a manutenção da ofensiva para a con cretização da estratégia militar colonial que consistia em fazer recuar os guerrilheiros para lá da fronteira setentrional com a Zâmbía. Apesar da propaganda colonial, segundo a qual o território do Norte de Tete estava, no final de 1968 - e, portanto, após a série de operações espe ciais apontada - completamente "limpo" da presença guerrilheira, o que e certo e que, no início de Janeiro de 1969, o Comando Sectorial F reconhecia a eventualidade das coisas não se terem passado exactamente assim. De facto, ele admitia que no extremo norte do vale do rio Capoche havia grande concentra ção de guerrilheiros83 oriundos das bases de onde haviam sido expulsos, mais a interíor do território, e mantendo grande capacidade de fogo e de resposta 102 as operações destinadas a desalojá-los. A ausencia de controlo sobre esta zona por parte do exército co lonial estava, assim, directamente relacionada com a falta de informaçoes a ela respeítantes. E todavia, a FRELIMO pode retomar, no decorreri da época do "capim alto", a sua dinâmica de penetração no ter ritõrio mantendo no geral a mesma estratégia com aí gumas alterações, nomeadamente a introdução de reforços aparentemente consideráveis nos seus contingentes e o alargamento da capacidade de operaçoes tácticas no terreno. Na pratica, visando concretizar os dois deslgnios que já Engels considerava fun damentais para o sucesso de qualquer insurreição: forte superiorjdade numérica e postura ofensiva84. Em suma, os guerrilheiros tinham que alargar o seu campo de actuação mais do que nunca para obrigar o exercito colonial a dispersar, tinham que sair quanto antes da posição concentrada e defensiva que detinham na confluência dos rios Capoche e Duângua. Tal era possível partindo do principio que a tropa portuguesa não conseguiria eternizar a pressão que vinha exercendo mas, por outro lado, subentendia o reforço já referido dos contingentes guerrilheiros. Dissemos que a falta de controlo da fronteira norte colocou grandes dificuldades aos serviços de informaçoes coloniais na determinação do tipo de re forço que os guerrilheiros estavam a receber, assim como na localização das rotas de entrada dos reabas tecímentos. De início, recolhiam simples rumores de que estariam a penetrar através da Zâmbia contingen tes de guerrilheiros oriundos da Tanzanía 85. Depois, durante Fevereiro de 1969, as informações referiam de diversas fontes que cerca de 350 a 400 guerrilhei ros tinham passado por Lusaka por volta de 8 de Janeiro 86, e penetrado no territorio de Tete. Aparentemente, os guerrilheiros dividiram-se em diversos grupos dirigindo-se para Gago Coutinho, Cassacatiza, Bene-Vuende e Furancungo, e quando o exército teve confirmaçoes mais precisas, em Março de 1969, já eles tinham penetrado havia quase dois meses87. 103 13. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exér cito portugues no final de 1968. 104 Yxx 14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado a iniciativa no primeiro semestre de 1969. 105 Reforçada e reabastecida, a FRELIMO manteve o mesmo processo de penetração, aproveitando as regiões onde anteriormente obtivera apoio popular. Este aspecto é muito importante na medida em que pos a cla ro a fragilidade da estratégia da contra-ofensiva co lonial. Apesar de todo o seu sucesso pontual, os co mandos do exercito colonial perseguiam uma ilusao quando esperavam esmagar a luta com a destruição das bases e a contenção dos guerrilheiros. De facto, a população permaneceu e, tendo ela sido sempre a base da estrategia guerrilheira, permitiu a reposição rápida da situação anterior a contra-ofensiva colonial. Assim, de uma forma geral, a FRELIMO procurou reactivar os sistemas de bases anteriores, nomeadamente o da região de vila Gago Coutinho e o do eixo Bene-VuendeFurancungo. No entanto, efectivou algumas alteraçoes fundamentais respeitantes às linhas de reabastecimento e aos eixos de penetração. Em re lação ao abastecimento, havíamos verificado que um dos graves problemas da frente no decorrer do ano de 1968 dizia respeito a ele estar demasiado concentra do (ou estrangulado) no triângulo dos rios Duangua e Capoche com a fronteira, na zona de acção da base Kauandama. No primeiro semestre de 1969, pelo contra rio, surgiu uma serie de bases importantes que, atra vés da sua acçao, permitiu aos guerrilheiros manter aberta uma extensa linha de fronteira entre o rio Ucanha e a região Missale-Freitas, nomeadamente as bases Messensa, de treino do rio Duãngua88, e a base central de Calichero89. Outra alteração fundamental, respeitante aos eixos de penetraçao, consistiu no distanciamento des tes em relação ao vale do rio Capoche, facto tornado possível exactamente pelo controlo da linha de fronteira proporcionado pelas novas bases. Assim, a oriente foi estabelecido um corredor que, através das bases central de Calichero, Moatize (que substi tuíra a base Beira) e Furancungo90, ligava a uma se rie de novas bases, sempre no eixo Bene-Vuende-Furancungo, restabelecendo as operaçoes nesta zona e 106 permitindo inclusivamente um novo impeto na progres são para Sul através das bases Bereko e Sabondo91. Mais a Norte, foi instalado um sistema novo na região de Vila Gamito e, pela primeira vez, o disposi tivo colonial na região e a estrada que ligava a Fu rancungo passaram a estar ameaçados. O estabelecimento desta frente oriental permitiu de novo as acções militares sobre as vias de comunicação e o ata que a localidades importantes. Em 31 de Janeiro foi atacado o aquartelamento de Tembué92 e a 3 de Fevereiro o Posto Fiscal de Míssale93. A série de opera çoes militares que se seguiu94 provocou novamente uni estado de quase paralização da tropa colonial e permitiu aos guerrilheiros retomarem a sua acção jun t3 das populaçoes, nomeadamente na região de Vuende, regedoria Manjanja, onde recomeçou o abandono massi vo de aldeias 95. Conjuntamente com o facto de possuir uma rectaguarda mais larga, a nova frente oríen tal tinha outra característica marcante: penetrando profundamente na Macanga, acercauase muito mais da Angónia e Moatize do que no ano anterior. Em Fevereiro, assim, a FRELIMO tinha conseguido aquilo que tentara insistentemente, mas sem resultados, no ano anterior, ou seja, a ligação as regiões de Tsangano e Vila Coutinho, na Angónia96. Estava assim a umpas so de poder ligar a frente oriental ao dispositivo de rectaguarda que tinha no Malawi A ocidente e numa sequência idêntica, os guerrilheiros reínstalaram o dispositivo da região de Gago Coutínho, já referido, com as bases Messensa, Capoche, Chingombe e Palande97, e em seguida estabe leceram-se solidamente na região de Vila Vasco da Gama, em torno da base central de Mevira98, descendo os rios Menene e Mecumbúzi-Sul em direcção ao rio Capoche. O forte apoio popular aos guerrilheiros, com paralelo só talvez na zona de Vuende, fez com que o exercito colonial perdesse quase por completo o controlo sobre esta região, nomeadamente em relação as estradas vila Gago Coutinho-Fingoé e Vila Vas co da GamaFingoé. Curiosamente, num movimento pra107 R 15. Dispositivo militar portuguès na zona de guerra em Abril de 1969. 108 a. 16. DiSpositivo paramilitar colonial na zona de guerra, no pri meiro semestre de 1969: aumento das forças de milícias. 109 ticamente simetrico em relação, a frente oriental, também a área da ala ocidental de 1968 foi, em 1969, substancialmente alargada, neste caso para ocidente, com a penetração pela regedoria Chofombo ate às margens do rio Ucanha, procurando fazer a ligação com o Zumbo99. O exercito portugues poucas soluçoes pos em pra tica face a este súbito retomar da ofensiva por par te da FRELIMO. Estrategicamente surpreendido, esperava uma reentrada dos guerrilheiros pelo vale do rio Capoche ou, muito a ocidente, ao longo do rio Ucanha100, tendo no entanto que se defrontar com duas alas de penetração que tendiam a alargar para os lados e que, evitando o vale do rio Capoche,. se vinham a unir a Sul, exactamente na confluência des te rio com os rios Luía e Cherize, já muito proximo do rio Zambeze e de Cabora Bassa101. Tardiamente em relação ao sentido estratégico que lhes queria conferir, o exército participou ainda com a admínistra ção na edificação de aldeamentos, não com a finalidade preventiva que o Governo do Distrito preconiza va mas antes procurando, nas regiões mais afectadas pela guerra, impedir o contacto entre guerrilheiros e populaçoes102. Processo que, por si so, provocou a fuga de populações em todo o território, nomeadamente a Norte, onde extensas zonas ficaram despovoa das103. Em suma, nenhuma solução pode evitar que em mea dos de 1.969 as autoridades coloniais se defrontassem com uma situação de guerra em praticamente todo o território de Tete a Norte do rio Zambeze, situação que já não viriam a conseguir alterar durante a estação seca como haviam feito um ano antes. 110 17. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guerra entre fi nais de 1968 e inicio de 1969. 111 NOTAS 1 ntrodução iVer argumentação sobre esta questão na secção introdutõria de William J.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres: Lawrence & Wishart, 1969). 2Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Sá da Costa, 1977), pp.133-135. 3São excepções, por exemplo, os trabalhos de Basil Davidson, The People's Cause - A History of Guerrillas inAfrica (Harlow:Long man, 1981), e Thomas H.Henriksen, Revolution and Counterrevolution - Mozambique's War of Independence, 1964-1974 (Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1983). O primeiro aponta algumas vias e dá uma perspectiva geral da guerrilha como tactica privi legiada das lutas de libertação africanas; o segundo, colocado numa posição hostil ao Movimento de Libertação sob uma capa de equidistancia, e apesar de mostrar um grande esforço em relação as fontes, não sai do reducionaismo que o seu proprio metodo, baseado em categorias dicotomicas, lhe impos. 4Aliás os trabalhos que tentam essa análise são igualmente escas sos. Entre as excepçoes, ver Aquino de Bragança e Jacues Depel chin, Da Idealizaçao da FRELIMO a Compreensão da Historia Recen te de Moçambique (Maputo: Centro de Estudos Africanos, 1986, mi meo). 5Wa]ter C.Opello Jr., Guerrilla War in Portuguese Africa: An Assessment of the Balance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974: 29-37. 6A recolha de maior envergadura que conhecemos foi efectuada pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane no âmbito do seu Projecto de Cabo Delgado. 7De entre uma literatura vasta, uma argumentação breve e estimulante sobre esta problemática em W.G.Clarence-Smith, For Braudel: A Note on the "Ecole des Annales" and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4(1977), pp.275-281. 8Exemplo de uma tentativa de trabalho neste sentido e das possibilidades abertas, pode ser colhido num episódio ocorrido em Te te, em 1983, durante um processo de recolha de depoimentos, no 113 âmbito do Projecto de Tete do Arquivo Historico de Moçambique. O trabalho teve inicio com uma reunião preliminar organizada pe lo secretário do Governador da Provincia, na qual participaram destacados antigos combatentes da Província. Estes, por inicia tiva própria e para alem das biografias individuais, apresenta ram uma pequena narrativa da luta armada em Tete. Foi relator do grupo o senhor Celestino de Sousa, que pertencera a primeira rede clandestina da FRELIMO no Zobue. Mais tarde, foi possi vel entrevistar o mesmo protagonista sobre o período preciso por ele vivido, com um forte apoio na documentaçao da administração colonial, que permitiu aprofundamento e detalhe nas ques toes tendo-se ele, no final, declarado surpreendido com as coí sas de que ainda se lembrava. Vér Arquivo Historico de Moçambi que, Projecto de Tete, 1983, João Paulo Borges Coelho e Jose Ne grao, Entrevista com Celestino de Sousa (Tete: 1983). 9A descriçao da documentaçao e apresentada no final, no âmbito das Fontes e Bibliografia. lOEm Tete esse esforço culminou com a unificação das estruturas .civis e militares sob um único comando quando, debaixo da intensa pressão da guerra, foi criada a ZOT [Zona Operacional de Tete], em 1971, dirigida pelo brigadeiro Rocha Simoes. Capitulo 1 iUm exemplo sugestivo da intensidade destas ligações "que desprezavam as fronteiras" e que serviam potencialmente de excelente veículo das idéias anticoloniais e-nos dado pelo pequeno estudo do Administrador do Posto do Zobue. Ver Arquivo Histórico de Moçambique [daqui em diante AHM], Fundo de Tete [daqui em diante FT], Moatize, cx 107, "Grupos Étnicos Existentes na Area do Posto do Zobue. Sua Localizaçao em Relaçao a Fronteira, Afinidades com as Populações Malawianas Fronteiriças e Atitudes que Vêm Exteriorizando Perante a Administração ea Sub versão", s/r, 20 de Junho de 1967. Ele refere, a dado passo: "Da cobertura populacional nas terras do Zóbue, ressaltam zonas~privilegiadas de convívio e intercâmbio, de contactos e re laçoes com areas e povos de além fronteiras mais os provocados pelo trânsito rodoviário através das zonas habitacionais. Tem-se, neste caso, a regedoria M'Boola e uma parte da de Cambuêm bua, ambas localizadas ao longo da fronteira e através das quais sulca a estrada nacional que liga as cidades de Tete e Blantyre. Inevitavelmente, os contactos surgem a cada passo e por ra zoes de toda a ordem desde as que respeitam a problemas de eco nomia através do comércio, as que culminam com as relações de parentesco entre as populaçoes localizadas no Malawi, nas regiões de Tambani, Mwanza e Blantyre e áreas de Chicuaua. O intercâmbio registado abrange os habitantes radicados nas zonas limítrofes em maior percentagem, diminuindo satisfatoriamente 114 para o interior salvo nas zonas onde a emigração para Blantyre atinge algum realce, como no caso da regedoria Zacarias". É também interessante um documento emanado do mesmo Posto, Pos to Administrativo do Zóbuè, "Relatório Mandado Elaboiar Pelo Inspector dos Serviços de Acção Psicossocial Excelentissimo Se nhor Antonio Henriques de Oliveira Sobre o Movimento Migratorio de Africanos na Área Deste Posto e Existência de Seitas Re ligiosas, s/r, 20 de Maio de 1964, AHM, FT-Moatize, cx 100: "(...) Quase que a totalidade dos africanos residentes ao longo da f-onteira têm família do lado da Niassalandia e vice-ver sa. Individuos há que tem uma mulher na área do Zobue e outra do lado da Niassalandia. Durante os três anos de estadia do si& natário neste Posto, tenho verificado que para o africano resi dente ao longo da fronteira e numa profundidade que varia entre os 20 e os 50 quilómetros, esta nao existe, circulando ele livremente num e noutro território. Segundo estou informado, ao longo de toda a fronteira, especialmente na região compreendida entre o Zóbuè e Tambani, todos os africanos residentes na Niassalandia são portugueses e para ali emigram em procura de melhoria de vida. Sera de aceitar esta versao se atendermos a que a grande maioria daqueles individuos fala o português ". 2Sobre o aspecto da migração, assim como para uma caracterização geral da economia do Distrito, que nao cabe analisar no âm bito deste trabalho mas tão só referir as implicações que teve na edificação da estratégia de defesa colonial face a ofensiva nacionalista, ver AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo de Te te, cx 42, Governo do Distrito de Tete, "Panorama Geral do Dis trito de Tete Apontamentos para Sua Excelencia o Senhor Ins pector Hortênsio de Sousa", Tete, Dezembro de 1966. 3Ver Decreto n2 43896, de 6 de Setembro de 1961, in Ministério do Ultramar, Legislação de 6 de Setembro de 1961 (Lourenço Mar ques: Imprensa Nacional, 1961) pp.99-100; e Decreto-Lei n2 39666, de 20 de Maio de 1954. Os termos regedor e regedoria, tinham, em Moçanbique, a designaçao local de reg.,lo e regulade tal como em Angola se referiam como Soba e Sobado. 4AHM, FT-Arquivo Confidencial, cx 42, Governo do Distrito de Te te, "Panorama Geral. .", já cit., pp.4-5. 51dem. 6Houve, durante a primeira metade da década de sessenta, umacer ta preocupação em conhecer outras experiencias coloniais no abito da contra-guerrilha, nomeadamente atraves da divulgação de publicações e da realizaçao de conferencias e de palestras. Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 97, a conferência do tenente-coronel frances Pierre Closterman em Tete, a 23 de Maio de 1961. Por outro lado, efectuaram-se ediçoes restritas de obras referentes a guérrilha, como por exemplo, Corpo de Polícia da Província de Moçambique, Arte da Guerra de Guerrilhas de Mao Tse Tung (Lourenço Marques, Março de 1963), ou Corpo de Polícia 115 da Provincia de Moçambique, Cento e Cinquenta Perguntas a um Guerrilheiro (Lourenço Marques, Outubro de 1963). O Comando Mi litar efectuou igualmente publicações do gênero. 7Aá*, FT-Macanga, cx 103, Serviços de Centralização e Coordenaçao de Informaçoes [daqui em diante SCCI], Relatório Imediato n2 14, de 26 de Abril de 1966. 8AHM, Secção Especial, n0 22, aIII, prt.6, Ferraz de Freitas, Conquista da Adesão das Populações (Lourenço Marques, Fevereiro de 1965), p.6. 9Estas definições são apresentadas, textualmente, assim "Enquanto comandar significa dirigir e implica o conhecimento e o manejo das 'forças sociais', mandar significa impor e e suficiente a detenção da for2a física. O comandamento exige participação e promove a adesao; o mando pode provocar a repulsa, nomeadamente quando exercido sobre populações culturalmente di ferentes e que se não compreendem e a sua eficiência diminuira à medida que for diminuindo a força física de quem o exerce. E na Província a força física da Administração diminuirã de 'po.der' até se tornar incapaz de controlar as populações> se estas ao invés de lhe concederam a sua adesão a concederem a subversão". Ferraz de Freitas, "Conquista da Adesão...", já cit. E o conceito de accionamento: "Aquele conjunto de medidas que émis ter tomar para por as populações a trabalhar connosco e torna-las repulsivas a propaganda do inimigo costuma chamar-se o ac cionamento das populaçoes (...). No accionamento das populações, nos tentaremos conseguir trazer até ã nossa órbita, inte grar no nosso meio e na nossa civilização, na nossa cultura e nacionalidade, as populações que nos estao entregues. Esta será, digamos, uma das finalidades. A outra seráconseguirmosque as populaçoes trabalhem activamente connosco na detecçao e no combate as acções subversivas que o inimigo venha porventura a desencadear". AHM, Secção Especial, n2 237-1, aIII, prt.lO, Go verno do Distrito de Tete/Serviços Distritais de Administração Civil, Acta das Sessões da Reunião dos Administradores e do In tendente com o Governador do Distrito nos Termos do art.377 da R.A.U., 19 de Abril de 1966, p.45. lOIdem, pp.42-43. Dizia, nomeadamente, o Governador:"(...) o fac, tor essencial da guerra subversiva e a populaçao e eu ja tive ocasião de aqui vos dizer que enquanto na guerra convencional os militares pensavam em termos de terreno, hoje em dia, na guerra subversiva, o terreno perde a sua validade e passa a va ler somente a sua população. A população é pois o objectivo da guerra subversiva, essa visa a conquista da população e nós p2 demos dizer, sem errar, que aguele de dois partidos que estiver em luta e tiver a populaçao do seu lado, será esse a ganhar a guerra". llEram as seguintes, as suas palavras: "(...) cada umdenós, den tro da area que tem à sua responsabilidade, tem que conhecer as 116 populações que lhe estão entregues, e sabendo nós que a maioria das populações vive ainda em estado atrasado, agarrada as suas tradiçoes tribais, o conhecimento dessas regras de vida é indispensável para que nos possamos antecipadamente encontrar a explicação para determinadas atitudes que as populações tomam. Impoe-se, portanto, que cada um de nos conheça profundamente as populaçoes das respectivas áreas, as suas etnias, as forças que agem no seu seio e as leis que regema sua vida (...). Existem, portanto, no seio das populaçoes, forças que puxam em sentidos diversos que nos importa acima de tudo conhecer porque só c.om o conhecimento perfeito de quais são estas forças e para onde se dirigem nos será permitido amanhã manobrar ou dar mais força a um sector e criar, por assim dizer, um conflito, se isso nos viesse a interessar (...)". Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritais de Administração Civil, "Acta das Se! soes.. .", ia cit., pp.45-46. Este tipo de orientação era levado bastante a peito velo Administrador do Concelho de Moatize, que afirmava: "Deviamosir pa ra soluções por assim dizer maquiavelicas, que levassem as populações a pensar na sua auto-defesa como necessidade imperiosa. (...) Se colocássemos um fornilho que fizesse alguma vitima, poderíamos também tirar partido do facto criando no espíri to das populações uma atitude reprovadora contra os supostos terroristas. Desta forma os agentes subversivos que chegassem depois as terras com o intuito de montar fornilhos não teriam ia um bom acolhimento". Governo do Distrito de Tete 1 Serviços Distritais de Administração Civil, Segunda Conferência de Admi nistradores de Concelho e Circunscriçao, 1967, AHM, Secção Especial, n9 245, aV, prt.6, pp.129-130. Ja anteriormente o mesmo administrador propunha idêntico tipo de medidas tendentes a desacreditar os combatentes e militantes do interior junto das populações: "Assim, no campo político e objectivo, que e afinal o terreno no qual temos que nos ba ter, cre o signatario que daria um óptimo resultado se conseguíssemos arranjar 2 ou 3 conjuntos de indivíduos de áreas diferentes, devidamente mentalizados para, a semelhança de verda deiros agentes subversivos... ", etc. AHM, FT-Moatize, cx 102, Administração do Concelho de Moatize, s/r, 27 de Junho de 1966. 12Ver por exemplo o estudo sobre o poder nas regedorias da Circunscrição da Marávia, de António Fernando Torres dos Santos, primeiro adjunto do Gabinete de Zona do Serviço de Acçao Psico -bocial d- Distrito de Tete, intitulado "Contribuição para o Es tudo do Estaao ýEspírito das Populaçoes da Circunscrição da Marávia", AM, FT-Arquivo Confidencial, cx 42, SCCI, Relatório de Informaçao n2 129/66, de 9 de Setembro de 1966. 13Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Tete, Circular s/r, de 25 de Janeiro de 1967. 14Comentavam os SCCI: "Embora se desconheça o actual grau de subordinação dos diferentes regedores do distrito de Tete ao Undi (da Zâmbia) e do prestígio que este goza perante as popula117 ções do mesmo distrito, sabe-se que a área por si outrora ocupada e hoje incorporada na regedoria Bene se encontra devoluta por ninguem se atrever a ocupa-la: sabe-se mais, que o regedor Sabondo, da Macanga, aquando da sua nomeaçao, declarou nao poder assumir as funçoes sem previamente obter a necessaria auto rização do Undi, suspeitando-se que a grande maioria dos regedores, senao a totalidade, das areas da Marávia, Macanga, Maguè e alguns do Zumbo, adoptaram igual procedimento". AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes n2 177/66, de 8 de Março de 1966. 15Como exemplo, em 1965 tinha sido um informador do Administrador do Posto do Zobue que, com o seu trabalho, havia levado a completa identificação da rede local da FRELIMO desde o inicio. Ver AHM, FT-Moatize, cx 102, Posto Administrativo do Zobue, Bo letim de Informaçoes n9 5/65, de 3 de Março de 1965, e toda a documentação deste processo. 16Em Janeiro de 1967, por exemplo, o major Costa Freire, chefe dos SCCIM, lamentava-se junto do Governador da Província sobre a ausencia de sensibilidade para este problema, apontando o ca so de um posto administrativo que, tendo recebido uma noticia importante de interesse imediato para a PIDE, apenas a transmi tiu a administração da circunscrição, seu escalao superior, e aos orgaos distrítal e provincial dos SCCI. De escalao em esca iao, a nQticia.passou despercebida e só mais tarde, fora de oportunidade, e que a PIDE teve dela conhecimento. AHM, FT-Moa tize, cx 105, SCCI, nota n2 132, de 27 de Janeiro de 1967. l7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação ng 1, de 14 de Março de 1966. Aqui se procura explicar detalhadamente, com base nas operaçoes e no interrogatório pormenorizado de um prisioneiro (assim como na transcrição do seu diário de campanha), a estratégia da FRELIMO na zona e os acontecimentos de to do este processo. 18AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n9 57/66, de 11 de Março de 1966. 191ntervençao do Administrador da Circunscrição da Mutarara, João da Luz Bourgard, in AHM, Secção Especial, ng 237-1, alIl, prt.10, "Acta das Sessoes.. .", já cit., pp:127-128. O mesmo administrador da também uma sugestiva imagem da vulnerabilidade da Mutarara: "Na realidade, h quilómetros e quilómetros quadrados, seguidos sem interrupção, de terreno totalmente coberto com uma altura média de agua de dois metros. Toda esta infindável superficie liquida e ao mesmo tempo uma enor me e cerrada floresta de plantas aquáticas que saiem acima do nível das águas cerca de dois metros. De modo que a dois, a três metros, já não se vê, de uma, outra almadia que.passe ou esteja estacionada. Por toda esta vastidão, que nao e pântano mas também não é rio, é uma espectacular exuberância vegetal e um espantoso fervilhar de vida, abundantemente criada num insu 118 portável calor húmido - insectos, peixes, aves ribeirinhas, hipopótamos, crocodilos, tudo em quantidades que nao e frequen te ver-se. Por vezes no meio desta estagnaçao letal, surgem inex plicavelmente torrentes impetuosas que nos levam e arrastam, sendo necessário vencê-las a viva força por entre um equilíbrio que escassamente as almadias garantem. Enfim, toda esta região que daqui por dois meses ficará completamente seca, e agora um tremendo obstáculo onde, privado de poder nadar ou andar, pere cera sem remissão todo aquele que, por qualquer motivo, deixar de poder utilizar a embarcação de que disponha e, por outro la do, impossível de eficientemente fiscalizar a não ser, talvez, de helicóptero. Mas, não há dúvida, com água ou sem agua, toda esta vasta regiao, que ainda por cima entra pelo Malawi, tem que ser patrulhada e fiscalizada. É que é uma via de acesso ao nosso territorio protegida por uma camuflagem perfeita e, justamente no tempo em que esta inundada, muito mais utilizavel que depois". AHM,.FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Te te/SCCI de ]ete, Relatório da Operaçao Ponta do Bico, n2 126/D/31, de 21 de Março de 1967. 20Ver João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tete e o Ma lawi, Projecto de Tete, Relatório de Investigação (Maputo:AHM, 1984, mimeo), p.51, onde se resumem as operaçoes no seguinte quadro: EFECTIVOS ADMINIS. OPERAÇÕES DATA MIL. E PARA-MILIT. POPULAÇÃO TOTAL Operação Con 13-16 126 600 726 junta Goma/ Junho Doa Op.Surpresa 8-9 27 46 73 Nhapale Agosto Op.Chire Setembro Op. D/CX 13-19 Novembro Op.Cavernas 19-20 54 40 94 Janeiro Op.Ponta do 6-11 85 222 307 Bico Março Fontes das operações: Goma-Doa: AHM, FT-Macanga, cx 103, Gover no do Distrito de Tete, Boletim de Informaçao n2 116/66, de 5 de Julho de 1966; Nhapale: Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 139/66, de 23 de Agosto de 1966; Chire: FT-Caldas Xavier, cx 1, Governo do Distrito de Tete, nota ng 157/66, de 28 de Setembro de 1966; D/CX: FT-Moatize, cx 103, Governo do Distrito de Tete, nota ng 180/66, de 28 de Novembro 119 de 1966, e SCCI, Boletim de Difusão de Informações, n0 609/66, de 3 de Novembro de 1966; Cavernas: SCCI de Tete, n2 50/D/31, de 28 de Janeiro de 1967; e Ponta do Bico: FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, n2 126/d/31, de 21 de Março de 1967. 21AHM, FT-Moatize, Administração do Concelho de Moatize, ng 25/A/2, de 22 de Janeiro de 1963. 22Ver por exemplo o trabalho das brigadas do Serviço de Acção Psico-Social, em AHM, FT-Moatize, cx 102, Comando da Policia dos Portos e Caminhos de Ferro, Relatório Sobre a Segurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembro de 1964, tanscrito, em parte, na nota 33 deste capitulo. 23AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo Geral, Despacho de 25 de Janeiro de 1967. 24AHM, FT-Moatize, cx 105, Gabinete de Informação e Formação da Opinião Pública, Sobre a Implementação dos Centros Informativos, s/r, 2 de Maio de 1967. 25AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, s/r, 20 de Junho de 1967, e cir culares n2s. 271 e 273/D/35. 26Delegação Distrital dos SCCI, Gabinete de Zona do Serviço deAc çao PsicoSocial, Subdelegaçao Distrital da PIDE, Forças Armadas, OPVDC, Secretarias Distritais diversas... 27AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, circular ng 154/D/35, de 25 de Julho de 1968. 28Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritais de Administração Civil, "Acta das Sessoes.. 1", já cit., p.27 29Em Moatize, por exemplo, depois de, por imperativos estratégicos de defesa, se terem -projectado aldeamentos com determinada envergadura para determinados locais, e de estudos do Instituto de Investigação Agronómica terem demonstrado a inviabilidade dos terrenos para a agricultura para tão grande número de pessoas, tais estudos foram simplesmente ignorados e os aldeamentos foram feitos. 30Ê esclarecedor o facto de, mais tarde, o antigo Governador do Distrito justificar o atraso do processo dos aldeamentos exclu sivamente devido à dificuldade em "convencer" as populações, estando absolutamente posta de lado, segundo ele, a solução do aldeamento pela força. Ver João Paulo Borges Coelho, Entrevista com o coronel João Cecilio Gonçalves, Antigo Governador do Distrito de Tete, Lisboa, Janeiro de 1986, AHM, Projecto de Te te. A violência constituir-se-á como método nas zonas onde a guerra já se implantou e à medida em que as autoridades vão per dendo o controlo dos acontecimentos. 120 3iVer, por exemplo, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 37, Planos de Actividade Operacional do Batalhão de Caçadores 1890-Furancungo, entre outros os n2s 9/67, de 18 de Setembro de 1967, e 2/68, de 24 de Janeiro de 1968. 32AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, circular n2 1026/SDI, de 7 de Setembro de 1964; cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado no 40/67, de 6 de Outubro de 1967. Existe extensa documentação relativa às revoltas de Chipembere e Chisiza e à sua alegada relação com a mLIMO. 33Vale a pena transcrever esta passagem, que dá uma imagem da gra vidade da situação para a ordem colonial: "(...) Grande parte da região acusa uma forte impregnação doutrinária como resulta do principalmente de dois factores: a infiltração constante e segura de agentes subversivos actuando pela intimidação, regra geral, e a carencia de protecção e apoio as populações intimi-dadas. & deserção de dois povoados com os seus chefes, o insolito comportamento de outros e a atmosfera de tensão e expecta tiva que por todo o lado se respira, levam a concluir que a in tensa~propaganda revolucionaria, a par de toda a especie de pressoes, se exprime pela adesão activa ou passiva da maior par te da população nativa aos propósitos dos activistas estrangei ros (...). De prever ainda, e suportarlhe os efeitos, o silên cio e a frieza das populaçoes sempre que abordadas sobre a actuação dos propagandistas ou com a resposta invariável de que nada sabem. Uma neutralidade, portanto, sempre que nao se trate de opção pela força contraria. (...) Goma, no vale do mesmo nome, a duas centenas de metros do rio, situa-se a uns escassos seis quilómetros do local onde, apos uma rusga militar, se descobriu um depósito de armamento clandestino. (...) Linha de comunicação natural, abre caminho fácil e encoberto para as zo nas baixas do Bárue, favorecendo a. penetraçao nas regioes ao sul do Zambeze. É com efeito a senda seguida pelos grupos que procedem do Malawi, com destino a estas regioes (...). A população activa das proximidades tem fornecido as prisões grandes contingentes (...). Estes factos, a par do recrudescimento do numero de pescadores no Zambeze, a pouca distancia do Sinjal, levaram o administrador da circunscrição a adquirir um barco a motor para patrulhamento do rio, na suspeita de que grande par te do armamento que se presume tenha dado entrada no nosso ter ritório pela fronteira, seja destinado as areas limítrofes a sul do Zambeze e transportado durante a noite através do rio. Constitui mesmo opinião do administrador de que outra base de agitadores se situara na Serra da Gorongosa, a partir da qual uma complexa rede de células revolucionarias se estendera ate a Beira. Soube-se recentemente que o volumoso número de autóctones desta região, além de participar~nas quotizações que os agente-s da FRELIMO cobravam sem oposiçao, se deslocavam regularmente ao território vizinho do Malawi onde recebiam instrução militar. A alteração dos hábitos e atitudes da população desta area tem sido tao rápida e profunda que as brigadas da Acção Psicossocial notam diferenças acentuadas de cada vez que 121 as visitam (...). Um laconismo frio e pesado substitui a loquacidade tão característica dos indígenas quando se lhes fala na lingua nativa. E até para a prestaçao de pequenos serviços se verifica relutância". AHM, FT-Moatize, cx 102, Comando da Polícia dos Portos e Caminhos de Ferro, Relatório Sobre a Segurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembro de 1964. 34Para uma perspectiva mais detalhada do contexto das relações da Zambia com Portugal ver Douglas G.Anglin, Confrontation in Southern Africa: Zambia and Portugal, in n9 99: International Journal (Canadian Institute of International Affairs), Vol.XXV, ng 3, 1970. 35AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembro de 1967. Capilulo II IAHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Relatório Imediato n9 14, de 26 de Abril de 1966. 2Luis de Brito, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, História de Moçambique IV, A Luta Armada de Libertação Nacional (Maputo: inédito, 1983). 3Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Ed.Sá da Costa, 1977), pp.167-170. 41dem, p.169. 5L.de Brito et al., já cit. 6joão Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tetp..., jácit. 7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação, n2 1, de 14 de Março de 1966. 8AHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Resenha de Informações, n9 2/68, de Fevereiro de 1968. Nao e possível, a partir deste documento, determinar a origem do jornal citado, mas e provável que se trate do "Sun" de Baltimore. A seguinte passagem de um outro documento, embora não refira a vertente de segurança, dá uma idéia global dos objectivos do projecto: "Potencialmente o esquema de povoamento e utilização da terra mais importante, que vem sendo estudado desde o principio da década de 50 é o projecto integrado para o desenvolvi mento do vale do rio Zambeze, baseado no controlo e utilização do rio. O projecto encara a construção de uma grande barragem em Cahora Bassa, a norte de Tete, e uma série de barragens me122 nores pelo rio abaixo, que permitiriam o desenvolvimento do p2 voamento e outros objectivos numa área de 140.000 quilómetros quadrados, ou seja, um décimo do território. Simultaneamente, a energia hidroeléctrica produzida em Cahora Bassa seria usada para desenvolver as reservas de ferro e carvão do Distrito de Tete, e a construção das barragens tornaria possível a navegaçao pelo rio entre Tete e Chinde, na foz do Zambeze, onde se pretenderia construir um novo porto". Organização das Nações Unidas, XXII Sessão da Assembleia Geral, Relatório do Comité Especial Sobre a Situaçao Respeitante à Implementação da Decla ração Sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Co lonizados, 11 de Outubro de 1967, Nova Iorque, p.107. 9Por exemplo, intervenção do Presidente do Malawi na Assembleia Geral da ONU em 3 de Dezembro de 1964, in AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, s/r, nomeadamente: "( ...) Por exemplo a minha propria tribo, a tribo Chewa, está dividida em duas, de facto em tres se nos contarmos com os nossos pri mos da fronteira zambiana. Mas eu estou agora falando de Moçam bique e do Malawi e por isso devo dizer dividida em duas. Exis tem Chewas do lado do Malawi da linha imaginaria e existem Chewas do lado de Moçambique daquela linha imaginária. O mesmo se da com outras tribos do Malawi, como sejam as tribos Nguni, L6muè e Yao. Estas tribos, como a tribo Chewa, também estao di vididas em duas. Há Ngunis, Lómués e Yaos do lado de Moçambique da linha imaginaria (...)". Ou ainda a intervenção do Dr. Banda numa sessão do Parlamento, em Julho de 1966, nas vésperas da proclamação da República do Malawi: "(...) Temos cá pes soas que são africanas, ou melhor, que são Nguni, Chewa, mas unicamente porque calhou nascerem do lado de lá da linha imagj naria que separa o Malawi de Moçambique, embora sejam Yaos, Ngu nis, Lomues, Chewas ou Senas, sao considerados estrangeiros e nao se podem registar como cidadãos. Têm que se submeter ao pra cesso~dispendioso e moroso da naturalizaçao. Isso, na minha opinião, e injusto, muito injusto. Foi por isso que achei necessario promulgar uma nova lei, que entrará em vigor quando o pais se tornar uma República, a 6 de Julho. (...) Por isso, de agora em diante, todos os africanos de Moçambique a norte do Zambeze tem direito, se tiverem vivido no nosso pais ou fizerem parte da mesma família do outro lado da fronteira, a torna rem-se cidadãos do Malawi, registando-se e sem necessidade de se naturalizarem". AHM, FT-Moatize, cx 104, Administração do Concelho de Moatize, s/r. 10Sobre este aspecto ver AHM, FT-Moatize, cx 98, PIDE, Relatório n2 1280/62SR, de 4 de Agosto de 1962; cx 101, Administração do Concelho de Moatize, n2 1/A/9, de 4 de Janeiro de 1964; FT-Macanga, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informaçao ng 9, de 14 de Julho de 1963, citando SCCI, Boletim de Informação n2 53/631 e AHM, Projecto de Tete, João Paulo Bor ges Coelho e José Negrao, Entrevista com Celestino de Sousa, ja cit. 123 11AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.2, 8, 9, 30, 31. 12Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique, já cit., p.138. I3AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, Entrevista com Celestino de Sousa..., já cit. Celestino de Sou sa dizia: "(...) o movimento da IJAMI estava mesmo a perder o seu ritmo porque estava fraco ( ..). Eles, UNAMI, queriam inde pendência, mas era uma independencia pacífica, conversada, dada. Convencer os portugueses a dar a independencia. E nao era real isso. Os portugueses nao iam dar a independência (...). Co mo e que vocês [UNAMI] querem que nós venhamos aqui para a UNAMI? Voces não tem para onde ir. O melhor é que a gente va para a FRELIMO. Sai-se daqui vai-se para a Tanzania. Quando che ga a Tanzania vai para o exterior. Treinar, fazer isto e aquilo, outros vão seguir cursos e aquela coisa toda". 141dem; e referências, por exemplo, em AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 49/66, de 16 de Dezembro de 1966, citanclo SCCI. Boletim de Difusão de Informaçoes ng 630/66, de 3 d-' Jeztntou ue 1966. 15AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 183/64, de 18 de Junho de 1964, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes n2 37 /64, de 16 de Maio de 1964. 16AHM, FT-Moatize, cx 101, Posto Administrativo do Zobuè, Boletim de Informaçao n2 25/64, de 27 de Novembro de 1964. I7AHM, FT-Moatize, cx 99, Governo do Distrito de Tete, circular s/r, de 28 de Novembro de 1964, e telegrama s/r, de 26 de Novembro de 1964; AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 87/652 de 24 de Março de 1965, citando Posto Administrativo do Zobue, Boletim de Infornmação n2 2/65, de 12 de Fevereiro de 1965. 18Carolyn McMaster, Malawi Foreign Policy and Development (Lon5dres: J.Friedmann Publishers Ltd., 1974), pp.55 e segs. 19Ver por exemplo AHM, FTMoatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, circular n2 1026/SDI, de 7 de Novembro de 1964. 20AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, n9 100/64, de 23 de Dezembro de 1964. 21Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n_44/67, de 3 de Novembro de 1967, citando Administração do Concelho de Moatize, Boletim de Informação n2 39, de 31 de Outubro de 1967; e cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado nO 49/66, de 16 de Dezembro de 1966, citando Administração do Concelho deMoatize, Boletim de Informação n2 51/66, de 2 de Dezembro de 1966. 124 22A colecção de Sitrep's Circunstanciados do Governo do Distrito de Tete relativa aos anos 1967-1968, sobretudo os anexos relativos ao Malawi, dão ufia idéia da importância do Malawi relati vamente ao Niassa. AHM, FT-Moatize, cx 104 e cx 106. 23AHM, FT-Moatize, cx 104, PIDE, relatório n2 581/67/GAB, de 19 de Abril de 1967. 24AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 4/67, de 27 de Janeiro de 1967, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes ng 3/67, de 16 de Janeiro de 1967. 25Por exemplo, entrevista de Marcelino dos Santos ao jornal soviético Pravda, em finais de 1966, referido em AHM, FT-Moatize, cx 104, Serviços de Informações do Exército, relatório n2 22/B, de 2 de Fevereiro de 1967. 26AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 19/66, de 26 de Maio de 1966, citando Posto da PIDE do Zóbuè, Informação s/r, de 12 de Maio de 1966; e Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 12/66, ci tando a Circunscrição Fiscal de Tete, nota n2 58/20.05/K, de 28 de Março de 1966.' 27Douglas G.Anglin, Confrontation..., ja cit. 28Idem. 29AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.26-27. 30AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, n2 251, proc2 13/18, de 20 de Maio de 1966; e cx 103, Governo do Distrito de Tete, relatório n2 6/66, de 15 de Outubro de 1966. É esclarecedor o texto da primeira nota aqui citada, que se trans creve parcialmente: "0 Baltazar da Costa foi e continua a ser o presidente do partido 'União Nacional Africana de Moçambique Independente', organização que dirige sob o controlo desta polícia (...) preocupando-se em desbaratar ou pelo menos dificul tar a acçao da FRELIMO e do COREMO ou outros partidos na sua luta de subversão dirigida contra a Provincia. Para evitar que membros desses partidos subversivos, ou outros, pretendam a in dependência desta Província pela força ou métodos terroristas, o Baltazar da Costa tem dado instruçoes no sentido de identifi car a propaganda da 'UNAMI' quer na áres de Tsangano quer noutras limítrofes com paises vizinhos, propaganda que se resume na 'independência desta Província por meios pacificos e de acor do com o Governo Português' - Esta propaganda tem o fim de criar membros ou adeptos para esse partido para se 'povoar' a area fronteiriça. Segundo as instruçoes do Baltazar da Costa nos lo cais 'tomados pela UNAMI' não podem permanecer elementos de ou tros partidos, armados ou desarmados, pois serão imediatamente denunciados as autoridades. (...) Ha necessidade, de facto, de 125 tolerância dada aos elementos da 'UNAMI' nas áreas do Distrito de Tete, uma vez que estão procedendo de acordo com as determi nações do Baltazar da Costa. sob nosso controle, pois se conse guirmos que eles, nas suas areas, expulsem ou entreguem as autoridades os indivíduos dos outros partidos, quer venham com fins terroristas quer venham com fins de propaganda, teremos guardada uma regiao por meios pacificos". 3IAHMl, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 142/65, de 20 de Março de 1965. 32AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 148/65, de 26 de Abril de 1965. 33AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, circular n2 188/SDI, de 23 de Junho de 1964. 34AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes n2 8, de 29 de Agosto de 1968. 35AHM , FT-Moatizep cx 103, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 145/66, de 31 de Agosto de 1966, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 233/66, e PIDE, relatório n2 446/66-GAB, de 5 de Agosto de 1966; e cx 102, SCCI, Relatório Imediato n2 116, de 28 de Agosto de 1966, citando PIDE, re latõrio n2 473/66-GAB, de 13 de Agosto de 1966. 36AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, Boletim de Informação n2 57/B/2, de'10 de Abril de 1967. 37AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 11/68, de 15 de Março de 1968. 38A primeira referência à UNAR é feita em Janeiro de 1968. Ver AHM, FTMoatize, SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 17/68, de 13 de Março de 1968. A UNAR constitui o tipicq exemplo de organizaçao pseudo-nacionalista instrumentalizada pelo colonia lismo, na esteira daquilo que este já lograra conseguir em relação a UNAMI. Não sao, alias, dificeis de documentar as ligaçoes directas deste movimento quer ao Malawi quer ao regime co lonial. Para este último, a UNAR, reivindicando oterritorio en tre os rios Rovuma e Zambeze, serviria de tampão ao avanço da luta da FRELIMO a partir das zonas setentrionais, num papel se melhante ao reservado à UNAMI em Tete (ver nota 30). Em relação à ligação da UNAR com o Malawi, referia o Comando da Policia de Segurança Pública de Quelimane: "A actividade ate agora desenvolvida pelo partido [UNAR] no Malawi não só e do conheci mento deste pais, como ainda lhe dispensa apoio ideológico emo netário, sendo quem até agora tem pago a hospedagem, no Rest House-Limbe, de Sumane e Massamba, estando mesmo estes dirigen tes a contar que é o próprio Governo do Malawi quem, a seu pedido, ira interceder junto do Governo português para ceder às suas intenções (...). Como Sumane referiu, a maioria dos ac126 tuais militantes do COREM0 abandonarão este partido para ingres sar no seu (...)". Sobre a ligação da UNAR ao regime colonial, ver por exemplo o percursó pessoal de Calisto Trindade, um dos seus dirigentes: Calisto Trindade foi responsável do 'branch' da FRELIMO Pm Dedza, Malawi. Abandona-o por volta de Fevereiro de 1966. Uns meses depois parece encontrar-se a trabalhar nas obras públicas do Malawi, alegadamente como recompensa de 'ser viços prestados' ao Governo, que teriam consistido em informaçoes sobre Chiume e Chipembere, colhidas na Tanzania onde se havia dýslocado aparentemente como quadro da FRELIMO. Mais tar de, em Março de 1968, encontra-se a trabalhar na firma 'General Construction Company' de Pombeiro de Sousa, cônsul de Portugal no Malawi e o ?rincipal 'instrumento de presença% de Jor ge Jardim naquele pais. Simultaneamente, Trindade e já o vice-presidente da UNAR. Desta forma o regime colonial, atraves de Jorge Jardim, empresário portugues com bastante influência no Malawi, tentou recuperar e instrumentalizar dirigentes e militantes que "sobravam" do processo de auto-destruiçao que se desenrolava no seio do COREMO. Ver argumentação em João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tete..., ja.cit.,pp.73-76, baseada na seguinte documentação: AMM, FTMoatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 45/67, de 10 de Novembro de 196/, citando PIDE de Tete, Relatório Imedia to n2 495GAB, de 9 de Outubro de 1967; cx 100, Governo do Dis trito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 30/66, de 5 de Agosto de 1966, citando Administração do Concelho da Angónia, Boletim de Informação n2 22/66, de 28 de Julho de 1966; cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 14/68, de 5 de Abril de 1968, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 22, de 27 de Março de 1968; Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 12/68, de 22 de Março de 1968, ci tando Comando Distrital da Policia de Segurança Publica de Q;Ê limane, Relatório Imediato n2 67/SI', de 6 de Março de 1968. 39AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados ngs 8, 9 e 10, de 23 de Fevereiro, 1 e 8 de Março de 1968, respectivamente. 4 400 Relatório deNInformaçoes ng 187/66, de 9 de Novembro de 1966, dos SCCI, confirmando informações de 1962, afirmava existirem em todo o Zumbo 29 europeus, entre homens, mulheres e crianças. AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 8. 41AHMr, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando do Sec tor F, Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembro de 1967. 42AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 41/67, de 13 de Outubro de 1967. Toda a serie de Sitrep's Circunstanciados do Governo do Distrito de Tete relativos ao ano de 1967 se refere ao aumento de sinais de presença do CORFMO e da FRELIMO na zona. 127 43AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 37/67, de 15 de Setembro de 1967, e segs. 44A Circunscrição do Bene foi criada pela Portaria n2 20818, in Boletim Oficial n2 4, I Série, de 27 de Janeiro de 1968. 45AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 43. Relatórios das Brigadas Moveis n2s 6 e 13, cobrindo as zonas da Marávía e Macanga entre Julho de 1963 e Junho de 1965, dos Serviços de Acção Psicossocial da zona de Tete. 46Ver a este respeito AHM, FT-Arguivo Confidencial do Governo, cx 13, os Relatórios da Situaçao dos SCCI relativos a 1967 e 1968, nomeadamente o exemplo de Chofombo, em SCCI, Relatórios da Situação ngs 8/67 e 16/67, de 14 de Março e 6 de Maio de 1967. 47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 13, SCCI, Relatório da Situação n2 3, de 15 de Maio de 1968. 48Idem. Capilulo III iDe facto òs administradores recebiam a incumbência de fazer o levantamento minucioso das aldeias para se aperfeiçoar o controlo sobre as populações. Alguns argumentavam sobre a vulnera bilidade de tal levantamento - contra outros que o tinham por definitivo - defendendo que uma vez que as aldeias estavam sem pre, por diversos motivos, a mudar de lugar, mais do que deter minar os seus locais exactos era necessario conhecer as razoes dessas mudanças. AHM, FT-Moatize, cx 102, Administração do Con celho de Moatiz,e, Memorando de 14 de Setembro de 1965. 2A indefinição do COREMO está estreitamente ligada a sua defini çao estratégica e táctica da guerrilha, baseada em guerrilheiros claramente destacados da população e nas acçoes espectaculares e pontuais, o que conduziu, a par da indefinição da sua política, ao isolamento dos seus guerrilheiros e ao malogro da sua acçao. 3AHM, FI-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatório da Situação ng 25, de Novembro de 1967. 4A partir de um diário de campanha do Comissário Político do Destacamento, Santos Monteiro. AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29 de Abril de 1968. 5Sobre a constituição do Destacamento ver AHM, FT-Arquivo Confi dencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circuns tanciado n2 12/68, de 25 de Março de 1968. 128 6AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel General/Nampula, 2a Rep., Relatório Mensal de Informaçoes n2 4/68, de 15 de Abril de 1968. Todavia, não é explicada, na sua perspectiva, a forma como a Zâmbia teria alterado a sua posiçao em relação à FRELIMO, nem as razões de tal atitude. 7AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia 1882/Fingoé, Relatório de Contra-Informação n2 15/67, de 15 de Agosto de 1967. 8AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia 1882/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 35/67, de 28de Agosto de 1967. 9AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatórios da Situação nos 8/67, 14/67 e 20/67, respectivamente de 14 de Março, 26 de Abril e 20 de Junho de 1967. lOEntre outros, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica (2_ Trimes tre de 1968), de 27 de Julho de 1968. Cx 12, SCCIM, Relatório da Situação n2 3/68, de 15 de Maio de 1968. 11AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCIM, Relatório da Situação n2 25/67, de Novembro de 1967. 12Mao Zedong, Base Areas in the Anti-Japanese Guerrilla War, in J. Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism, já cit., pp.184 e segs. 131dem, pp.185-189. Na história da luta de libertação nacional, o correspondente às zonas de bases de Mao seriam as zonas libertadas. I4AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 12/68, deà25 deMarço de 1968. Aqui se referem as três bases principais e a constituição das suas direcções. 15Ver, por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 9/68, de 1 de Março de 1968, que refere as dificuldades passads na muãança do ano, e presentes, a este respeito. Alem disso, o período seco no ano de 1967 foi extremamente curto devido à anormalidade, em inten sidade e duração, da estação das chuvas de 1966-1967. AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 12/67, de 24 de Março de 1967. 16Sobre a actuação do COREMO ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados nos 38/67, 41/67, 43/67 e 45/67, respectivamente de 22 de Setembro, 13 de Outubro, 27 de Outubro e 10 de Novembro de 1967; e cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados n-s 3/68, 4/68, 5/68 e 6/68, respectivamente de 19 de Ja129 neiro, 26 de Janeiro, 2 de Fevereiro e 9 de Fevereiro de 1968. Sobre a destruição de grupo do COREMO ver por exemplo Sitrep's Circunstanciados ngs 8/68 e 9/68, respectivamente de 23 de Fevereiro e 1 de Março de 1968. 17Ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 40/67, de 6 de Outubro de 1967, e segs. 18AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 11/67, de 24 de Março de 1967; cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 4/68, de 26 de Janeiro de 1968. 19AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 20AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968. 2IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ca çadores 1906/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 18/68, de 29 de Abril de 1968. 22AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 14/68, 18/68, 19/68 e 37/68, respectivamente de 8 de Abril, 6 de Maio, 13 de Maio e 16 de Setembro de 1968. 23AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2os 14/68, 16/68 e 19/68, respectivamente de 8 de Abril, 22 de Abril e 13 de Maio de 1968; cx 34, Batalhão de Caçadores 1906/Fingoe, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 25/68, respectivamente de 29 de Abril e 17 de Junho de 1967. 24AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 25AHiM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sítrep's Circunstanciados n2s 16/68 e 19/68, respectivamente de 22 de Abril e 13 de Maio de 1968. 26AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 16/68, de 22 de Abril de 1968. 27AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 14/68 e 20/68, respectivamente de 8 de Abril e 20 de Maio de 1964. 28AHM: FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 19/68, de 13 de Maio de 1968. 130 29AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, PIDE, Relatório Suplamentar de Informaçoes n2 2/67, de 29 de Novembro de 1967. 30AHM, FTMoatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Administrador do Posto de Chofombo, mensagem-rãdio s/r, de 8 de Mar ço de 1968; e FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Coman do Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 10/68, de 11 de Março de 1968. 3iVer dispositivo do exército colonial em Tete em AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 9/68, de 4 de Março de 1968. 32AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Posto de Milícias de Cassuende, mensagem-radio n2 14, de 8 de Março de 1968. Os ataques tambem sao detalhados em FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e 18 de Março de 1968. 33Ver em AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, asequên cia de Sitrep's Circunstanciados de ambos os batalhões, entre Fevereiro e Março de 1968, e cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 9/68, de 8 de Março de 1968. 34AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel General em Nampula, 2! Rep., Relatório Mensal de Informações ng 4/68, de 15 de Abril de 1968, p.6. 35AHM, Fr-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e 18 de Março de 1968. 36AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de 1968. 37AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 11/68, de 18 de Março de 1968. 38ARIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de 1968, e Batalhão de Caçadores 1890/Furancungo, Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 1 de Abril de 1968. 39Idem, idem. 40AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica (22 trimestre de 1968), 27 de Julho de 1968. 4lIdem. 131 42AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 43AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados nos 13/68, 15/68e17/68, res pectivamente de 1, 15 e 29 de Abril de 1968. 44AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 15168, de 15 de Abril de 1968. 45Idem. 46AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, ver asequência de Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F, entre o n2 10/68, de 11 de Março de 1968, e o n2 18/68, de 6 de Maio de 1968. 47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29deAbril de 1968. 480 Comando Sectorial F vinha-os referindo com uma certa insistência. AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 18/68, de 6 de Maio de 1968. 49Idem. 50AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 22/68, de 3 de Junho de 1968. 5IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 24/68, de 17 de Junho de 1968. 52AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 29/68, de 19 de Julho de 1968. 53AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção. Psicológica (22 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968; e cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 24/68, de 17 de Junho de 1968. 54AHM , FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 19/68, respectivamente de 6 e 13 de Maio de 1968. 55AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 25/68, de 24 de Junho de 1968. 56AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 23/68, de 10 de Junho de 1968. 57AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n26/68, de 1 de Julho de 1968, 132 e cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica (29 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968. 58AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F. Sitrep Circunstanciado n2 29/68, de 22 de Julho de 1968. 59AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n9s 36/68 e 38/68, respectivamente ]e 9 e 23 de Setembro de 1968. 60AHM, FT--Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 21/68, 26/68, 27/68 e 28/68, respectivamente de 27 de Maio, 1, 8 e 15 de Julho de 1968. 6IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados ngs 25/68, 29/68, 30/68 e 33/68, respectivamente de 17 de Junho, 22 e 29 de Julho, e 12 de Agosto de 1968. 62AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 31/68, de 5 de Agosto de 1968. 631dem. 64Referência ao esforço nesta faixa em AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 29/68, 31/68 e 33/68, respectivamente de 22 de Julho, 5 e 19 de Agosto de 1968; e FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 35/68, de 30 de Agosto de 1968. 650 Comando Sectorial F não faz qualquer referência especifica à criação do Subsector FBN (iniciais de Bene-BN, tal como FFG de signava Fingoé-FG, FFR Furancuno-FR e FTT Tete-TT). Todavia, na rubrica de análise da situaçao por subsectores passa a cons tar o Subsector FBN a partir de finais de Agosto (AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 34/68, de 26 de Agosto de 1968), e na referência que era feita periodicamente ao dispositivo militar no terreno, passa a ser referenciado em Setembro o Batalhão de Cavalaria 2850, com o seu comando na vila de Bene (AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968). Por outro lado, e relativamente aos seus limites, e referenciada a regedoria de Cangombe como fazendo parte do Subsector FBN (MIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 35/68, de 2 de Setembro de 1968), as sim como incluia no seu dispositivo a região de Cassuende (AHM, FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968). 66AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 42/68, de 21 de Outubro de 1968. 133 671dem. 68AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n936/68, de 6 de Setembro de 1968. 69AHM, Fr-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n37/68, de 16 de Setembro de 1968. 70Idem. 7lidem. 72AHM, FT-Arquivo Confidencial do. Governo, ex 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 38/68, de 23 de Setembro de 1968. 731dem. 741dem. 75Ver Anexo II relativo as operaçoes espaciais do exército portu gues. 76AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31. Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 44/68, de 4 de Novembro de 1968. 77Ver Anexo. II. 78Entre outras, uma orientação de combate referida pelos guerrilheiros nesta altura dizia que deviam fazer os possiveis por economizar as suas munições tentando fazer, pelo contrario., com que os soldados portugueses gastassem o mais possível as muniçoes deles. Ver AHN, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado no_ 37/68, de 13 de Setembro de 1968. 79AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n0 37/68, de 16 de Setembro de 1968. 80AHM. FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n20 41/68, de 14 de Outubro de 1968. 81AHM FT-Bene, cx 2, Administração da Circunscrição de Bene, no ta n2 125/A/16, de 5 de Abril de 1969. 82Dizia Napoleão: "9uando com forças inferiores me encontrava la ce a um grande exercito, concentrava com rapidez todas as minhas tropas precipitando-me como um raio sobre uma das alas ini migas e esmagava-a. Aproveitava depois a desordem que esta manobra não deixava de produzir no exercito inimigo para o atacar noutro lado, sempre com todas as minhas forças. Batia-o as sim em detalhe e a vitoria, que era o resultado, constitua sepre - vêde o triunfo do grande número sobre o mais pequeno". Ver Emílio Lussu, Teoria da Insurreição (Lisboa: Ulmeiro, s/d), pp.45 e segs. 134 83AH, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 3/69, de 21 de Janeiro de 1969. 84F.Engels, Revolución y Contrarrevolución en Almania, in Obras Escogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial Progreso, 1973), p.385. 85AHM, FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados nos 49/68, 50/68, 3/69 e 6/69, respectivamente de 9 e 16 de Dezembro de 1968, 21 de Janeiro e 10 de Fevereiro de 1969. 86AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969. 87AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 6/69, de 10 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito deTete, Sitrep's Circunstanciados ngs 6/69, 10/69 e 13/69, respectivamente de 7 de Fevereiro, 7 e 28 de Março de 1969. 88AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 2/69, de 10 de Janeiro de 1969. 89AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 18/69, de 6 de Junho de 1969. 90AHM, FT-MoatiLe, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados n2s 2/69 e 18/69, respectivamente de 10 de.Ja neiro e 6 de Junho de 1969. 9IAHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 20/69, de 20 de Junho de 1969. 92AkH[, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado 5/b9, de 31 de Janeiro de 1969, citando Administração da Circunscrição de Bene, mensagem-rádio n9 26, de 31 de Janeiro de 1969. 93AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969, citando Ad ministração do Posto de Vila Gamito, mensagem n2 7, de 4 de Fe vereiro de 1969, e Circunscrição Fiscal de Tete,n213/20.05/K, de 4 de Fevereiro de 1969. 94Ver Anexo I sobre as operações militares da FRELIMO reportadas pelas autoridades portuguesas. 95Ver por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969. 96AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectoríal W, Sitrep Circunstanciado n9 7/69, de 17 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep 135 Circunstanciado n2 10/69, de 7 de Março de 1969, citando Subde legação da PIDE de Tete, Relatório Imediato n2 162/69-GAB, de 5 de Março de 1969; e Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado nO 13/69, de 23 de Março de 1969, citando Subdele gação da PIDE de Tete, Relatório Imediato n5 198/69GAB, de 22 de Março de 1969. 97AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n9 3/69, de 17 de Janeiro de 1969. 98AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 19/69, de 13 de Junho de 1969. 99Ver por exemplo AHFM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 4/69, de 27 de Janeiro de 1969. 100AIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 50/68, de 16 de Dezembro de 1968. 1OiEm Junho era detectada já a passagem de muitos contingentes de guerrilheiros pela região da Chiuta, no mesmo paralelo do rio Zambeze. AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 19/69, de 13 de Junho de 1969. 1020 primeiro processo de edificação de aldeamentos em Tete, que teve lugar entre finais de 1968 e o correr do ano de 1969, sai fora do ãmbito deste trabalho. Todavia, o Mapa 17 destina-se a dar uma idéia da sua localização no território e de como ela coincide com as linhas de penetração da FRELIMO. 103Sobre a fuga de populações, por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 18/69, de 6 de Junho de 1969. 136 BIBLIOGRAFIA Este trabalho baseia-se fundamentalmente no acer vo documental do Fundo de Tete do Arquivo Histórico de Moçambique, nomeadamente nas secções Moatize (Ar quivo Confidencial e Secreto dos Processos), Arquivo Confidencial do Governo, e em algumas caixas das secçoes Macanga e Bene. No interior dessas secções ressalta, pela sua importância, a documentação produzida pelo Governo do Distrito de Tete (Sitrep's Circunstanciados, ou seja, relatórios da situação, circulares, Boletins de Informação e outros), pelos Serviços de Centralização e Coordenação de Informações (Boletins de Difusão de Informaçoes, relatórios diversos), pelas admínistrações de concelho, circuns criçao e posto, e pelas diversas estruturas militares coloniais, nomeadamente os Sítrep's Circunstáncíados de algumas companhias e batalhões (subsectores), assim como a serie praticamente completa dos Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F re ferente ao período abordado e um importante conjunto de documentos do Comando-Chefe do exercito colonial, em Nampula. Pela sua importância para o estudo da estratégia global de defesa das forças coloniais, merecem tambem referência alguns relatórios da Secção Especial do Arquivo Historico de Moçambique, nomeadamen te Ferraz de Freítas, Conquista da Adesão das Populações (Lourenço Marques: SCCI, 1965), AHM, SE n5 22, 137 cota: SE alIl p.6; Governo do Distrito de Tete/Serviços Distrítais de Administração Civil, as actas das sessoes anuais do Governador do Distrito com os administradores de concelho e circunscrição relativas aos anos de 1966, 1967, 1968 e 1969, respectiva mente com as seguintes referências: AHM, SEn9 237-1, cota: SE alIl p.10; SE n2 245, cota: SE aV p.6; SE n9 237-3, cota: SE alIl p.10; e SE n9 237-4, cota: SE alIl p.lO. No âmbito do trabalho foram efectuadas entrevistas a Celestíno de Sousa, membro da primeira rede clandestina da FRELIMO no Zóbue, Tete (Tete: 1983), e ao tenente-coronel João Cecílio Gonçalves, que foi Governador do Distrito de Tete durante este período (Lisboa: 1986). Foram ainda consultados alguns livros e artigos. No âmbito do Movimento de Libertação muçambíca no, o insubstituível trabalho de Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Sa da Costa, 1977), e alguns textos da série da FRELIMO, Voz da Revolução, nomeadamente o ng 8, "Da Necessidade de uma Guerra Prolongada", in Aquino de Bragança eImmanuel Wallerstein, Quem e o Inimigo (III)? (Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1978); e FRELIMO, O Processo Re volucionário da Guerra Popular de Libertação (artigos coligidos do orgão de informação da FRELIMO, A Voz da Revolução, desde 1963 até 1974) (Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 1, 1977). Constituem também referência obrigatória os trabalhos de Samora Machel, nomeadamente, O Processo da Revolução De mocrática Popular em Moçambique (Maputo: DTI, Estudos e Orientações, 8, 1980); e AVítriaConstrói-se A Vitória Organiza-se (Mensagens do Secretáriado De partamento de Defesa e Presidente da FRELIMO, Camarada Samora Machel, aos Combatentes e ao Povo Moçam bicano, 19671974) (Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 2, 1977). Uma panoramica geral da luta de libertação moçambícana neste período, que permitiu uma visão global de contexto, é dada em Luís de Brito, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, His138 tória de Moçambique IV: A Luta de Libertação Nacional; e em Thomas H.Henriksen, Revolutionafid Counter revolution - Mozambique's War of Independence, 1964-1974 (Westport: Greenwood Press, 1983). Sobre aspectos particulares da guerra existem diversos arti gos e cronicas, como por exemplo Walter C.Opello Jr, Guerrilla War ín Portuguese Africa: An Assessment of the Balance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974, pp.29-37. Sobre diversos aspectos liga dos à luta em Tete, particularmente a problemática do empreendimento de Cahora Bassa, são importantes os trabalhos de Õscar Monteiro, Moçambique no Contexto Especifico da África Austral, in Aquinode Bra gança e Immanuel Wallerstein, op.cit., pp.70-76; e Keíth Middlemass, Cabora Bassa: Engeneeríng and Politics ín Southern Africa (Londres: Weidenfeld and Nicholson, 1975). Sobre as relações do Malawí com Portugal e a FRELIMO, no contexto da luta de libertação, existe já uma extensa literatura, nomeadamen te Carolyn McMaster, Malawí Foreign Polícy and Deve lopment (Londres: J.Friedman, 1974); Robert d'A.Hen derson, Relatíons of Neíghbourliness Malawi and Portugal, 1964-1974, in Journal of Modern African Studies, 15(3), Cambridge e Nova York, 1977; João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tete e o Malawi (Maputo: AHM, 1984, mímeo); e Phílip Short, Banda (Londres e Boston: Routledge & Kegan Paul, 1974). Sobre o papel da Zâmbía neste processo a literatura e mais escassa, sobressaindo Dougles G.Anglín, Confrontation in Southern Africa: Zambia and Portugal, Internatíonal Journal (Canadían Instítute of International Affairs, vol.XXV, 3, 1970). Existem diversas obras coloniais com a sua perspectiva, como Kaulza de Arriaga, Coragem Tenacidade e Fé (Lourenço Marques: Empresa Moderna, 1973); Guilherme de Melo, Moçambique Norte Guerra e Paz (Lisboa: Ulis seja, 1969); e, sobre as relações com os países vizinhos de Moçambique neste contexto, Jorge Jardim, Moçambique: Terra Queimada (Lisboa: Intervenção, 1976). A obra de Maria Carrilho, Forças Armadas e 139 Mudança Política em Portugal no Séc.XX (Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985), constituí um importante estudo sociológico sobre o exército portugues e o impacto que a guerra colonial produziu nele. Foram ainda consultadas algumas obras gerais sobre a luta de guerrilha na sua genese histórica e desenvolvimento como, Emílío Lussu, Teoria da Insur reição (Lisboa: Ulmeiro, s/d); e Friedrich Engels, Revolución e Contrarrevolución en Alemanía, in Obras Escogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial- Progreso, 1973). Um-excelente enquadramento teórico e panoramica sobre a prática da guerrilha é constituído pela antologia de William J.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres: Lawrence & Wishart, 1969), que in clui o importante texto de Mao Zedong, Base Areas in the Anti-Japanese Guerrílla War. O livro de Basil Davidson, The People's Cause: A History of Guer rillas in Africa (Harlow: Longmann, 1981) abre algu mas perspectivas para o estudo do fenômeno da luta de guerrilhas em África. O livro de Carl von Clause witz, Da Guerra (Lisboa: Perspectivas e Realidades, 1976), constitui ainda um clássico importante sobre a arte militar; e Yves Lacoste, A Geografia Serve An tes de Mais Para Fazer a Guerra (Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1977), abre perspectivas inovadoras e criativas sobre o papel da geografia no estudo des te campo. Finalmente, o texto de Aquíno de Bragança e Jacques Depelchin, Da Idealizaçâo da FRELIMO aCom preensao da História Recente de Moçambique (Maputo: CEA, 1986, mimeo), constitui um dos escassos trabalhos de reflexão crítica da historiografia sobre a FRELIMO; e o artigo de W.G.Clarence-Smith, For Brau del: A Note on the 'Ecole des Annales' and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4, 1977, pp.275-281, contém interessante reflexão teorica sobre a problemática das fontes. A elaboração dos mapas apresentados baseou-se nos Sítrep's Circunstanciados do Governo do Distrito de Tete e do Comando Sectorial F, referidos no início. ,140 SIGLAS USADAS NA DOCUMENTAÇÃO AA 'AAut AB Acamp Ad Adm ALD APsic Aquart Aux BA, BART BCAÇ BCAV CART CCAÇ CCAV CCS Ci rc CM COCAP com C2OM SEC Conc Coord COREMO ELINAMO Emb F F FBN FFGFFRFRFRELIMO FUNIPAMO GAAAutoridades Administrativas Arma Automática Aeródromo Base Acanpamento Administração (exemplo: AdConc Concelho) Administrativo Aldeamento Acção Psicológica Aquartelamento Auxiliares Administração Base (normalmente de guerrilha) Batalhão de Artilharia Batalhão de Caçadores Batalhão de Cavalaria Companhia de Artilharia Companhia de Caçadores Companhia de Cavalaria Companhia de Comando e Serviços (ref. a um Batalhão) Circunscrição Comando (ref. a um Batalhão) Comissão de Coordenação da Acção Psicológica Comando Comando Sectorial (de Tete: COM SEC F) Concelho Coordenadas Comité Revolucionário de Moçambique (ou MORECO - Mo zambique Revolutionary Committe) Exército de Libertação de Moçambique (braço armado do COREMO), também designado de EREPOMO. Emboscada Força (normalmente Grupo Armado) Sector militar portugues em Tete Subsector militar português de Bene Subsector militar portugues de Fingoé Subsector militar português de Furancungo FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique Subsector militar portugues de Tete Frente Unida para a Autonomia de Moçambique Guardas Auxiliares da Administração 141 GComb - Grupo de Combate (normalmente ref. ao exército português) GD - Granada Defensiva GDT - Governador do Distrito de Tete ou Governo do Distrito de Tete GF - Guarda Fronteira GIFOP - Gabinete de Informação e Formação da Opinião Pública GM - Granada de Mao GO - Granada Ofensiva GR - Grupo IN - Inimigo (ref. normalmente aos guerrilheiros) INT - Intervençao (normalmente F INT - Força de Intervenção) LGF - Lança Granadas e Foguetes (tipo de Arma) MAC - Mina Anti-Carro MAP - Mina Anti-Pessoal MCP - Malawi Congress Party (Partido do Governo do Malawi) Metr - Metralhadora MIL - Milicia Mort - Morteiro Mte - Monte NF - Nossas Forças (ref. as forças portuguesas) NT - Nossas Tropas (ref. ao exército português) Op - Operação ýmilitar) OPVDC - Organizaçao Provincial de Voluntários de Defesa Civil PA - Posto Administrativo Pel - Pelotão (ref. ao exército português) PIDE - Policia Internacional de Defesa do Estado Pop - Popula2ão Pov - Povoaçao PSP - Policia de Segurança Pública QG - Quartel General R - Rio Rec - Reconhecimento Ref - Referência Reg - Região Reged - Regedoria RI - Relatório de Informações ou Relatório Imediato RN - Relatório de Noticia S - Serra SAP - Serviços de Acção Psicológica SCCIM - Serviços de Centralizaçao e Coordenação de Informações (por vezes apenas SCCI) SEC - Secçao SIM - Serviços de Informa£ões Militares SITREP - Relatório da Situaçao (do inglês Situation Report) T6 - Avião militar de dois lugares, a hélice UDENAMO - União Democrática Nacional de Moçambique UNAMI - União Nacional de Moçambique Independente UNAR - União Nacional Africana da Rumbézia UNIP - United National Independence Party (Partido do Governo da Zâmbia) 142 ANEXO 1 Principais acções militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonial entre Março de 1968 e Junho de 1969 (Fonte: Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F e do Governo do Distrito de Tete, in AHM, respectivamente, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, e FT-Moatize, cxs 106 e 108). 143 8MAR68 lIMAR68 17MAR68 18MAR68 26MAR68 26MAR68 26MAR68 26MAR68 29MAR68 31MAR68 31MAR68 IABR68 2ABR68 5ABR68 1ABR68 15ABR68 16ABR68 17ABR68 20ABR68 25ABR68 25ABR68 4MA168 5MAI68 11MA168 14MA168 14MA168 15MAI68 15MAI68 21MAI68 Camedima 2JUN68 5JUN68 7JUN68 9JUN68 9JUN68 12JUN68 13JUN68 21JUN68 144 Data Local Vila Gago Coutinho Serra Chimanto, na margem do rio Cangombe A 4 km de Cassuende A 10 km de Cassuende Vila de Bene Rio Luângua, a ý km de Bene Rio Luia, na estrada Bene-Cassacatiza Estrada GagoCoutinho-Cas suende Estrada Furancungo-Vuende, a 6 km de Vuende Estrada Gago Coutinho-Cassuende Na mesma estrada, adiante Estrada Gago-Cout inho-Cassuende Vila Vasco da Gama Cantina Alves (Mlunga), estrada Furancungo-Tete Estrada Bene-Cassacatiza, a 9 km do rio Chiticula A 7 km de Cassuende Junto à povoação Donato (Cassuende) Estrada Furancungo-Vuende Estrada Cassuende-Gago Coutinho Estrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Luia Região de Chizame Estrada Bene-Cassacatiza, a 4 km de Cassacatiza Povoação de Chizame Regiao de Cassuende Região de Cassuende Mesmo local, adiante Estrada Bene-Vuende, junto ao rio M'pule A 3 km do rio Capoche, perto da povoação Penhame Estra4a Cago Coutinho-Cassuende, junto ao monte Chiticula A 1 km de Chiticula Chiticula Região de Cassacatiza Estrada Gago Coutinho-Cassuende Povoação Caduco Junto ao rio Mavai Vila de Tembué Tipo de Acção Observaçces Ataque a vila e seu aquartelamento Emboscada a coluna Mina anti-carro Mina anti-carro Ataque a vila e seu aquartelamento Destruição de ponte com explosivos Destruição de ponte Mina Emboscada a coluna militar Mina Mina anti-carro Mina Ataque a vila e seu aquartelamento Assalto a povoação Mina Mina anti-carro Mina Emboscada a coluna militar Mina anti-carro Emboscada a grupo de PSP/Milícias Recontro com grupo de Milícias Emboscada a coluna militar Ataque a Pov eposto PSP/Milircias Emboscada a coluna militar Emboscada a coluna militar Emboscada a coluna militar Mina anti-carro Recontro com grupo de Milícias Emboscada a coluna militar Destruição de acampamento das Obras Públicas Emboscada a coluna de Milicias Ataque a acampamento das Obras Públicas Mina Emboscada a coluna militar Ataque a povoação e aquartelamento da OPVDC Emboscada a coluna da OPVDC Ataque a Posto Administrativo Duração: 45 minutos Na coluna iam o AdCirc Maravia, o AdPa Chofombo, 1 PSP eMilicias de Cassuende 4 feridos da CCAÇ 1655 Atingida coluna da CCAÇ 1655 Duraçao: 20 minutos Apoio de camponeses na acção Atingida coluna da CCAÇ 1569 O grupo de guerrilheiros foi esti mado em 15. 1 oficial portugues gravemente ferido Coluna da CCAÇ 1569 Atingida a mesma coluna Atingido 1 miliciano Duraçao: 1 hora Accionada por patrulha militar Accionada por patrulha militar Guerrilheiros estimados em 12 Accionada por coluna militar A coluna militar tomava parte na Operação Reacção . CCAÇ 1654, integrada na Op Ajuda Mesma coluna da emboscada anterior Accionada por viatura de comerciante O grupo de Milícias de 22 elementos pos-se em fuga Fuga do grupo de Milícias que o protegia Os mesmos Milicias da acção anterior O mesmo. Duração: 20 minutos Accionada por CCAÇ/Vila Gouveia Pelotão da CART 2385 145 Tipo de Acção Observações Data Local 25JUN68 25JUN68 26JUN68 28JUN68 28JUN68 30JUN68 3JUL68 6JUL68 7JUL68 15JUL68 203UL68 21JUL68 23JUL68 26JUL68 26JUL68 27JUL68 28JUL68 28J"UL68 21AGO68 23AGO68 23AG068 24AGO68 27AG068 4SET68 6SE168 9SET68 1lSET68 12SET68 12SET68 14SET68 14SET68 15SET68 24SET68 26SET68 14OUT68 150UT68 150UT68 OUT68 1NOV68 Rio Mecumbuzi Perto do monte Cagula Estrada Cassuende-Gago Coutinho Entre Chiticula e o rio Capoche A 7 km da Vila de Bene Vila de Bene Estrada Caliramo-Bene, a 500 m de Bene Vila de Bene Estrada Bene-Cassacatiza Região de Tembué Tembue Estrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Mecumbuzi Estrada Cassuende-Gago Coutinho Furancungo Região de Tembué, perto do rio Puepua Perto de Chiticula Região de Tembué Estrada Bene-Tembué Estrada Vuende-Cauere Regedoria Cangombe (Uiliamo) Região de Cassuende Vila de Tembué Estrada Bene-Fingoé Vila de Bene Vila de Tembué Região de Cassacatiza A Sul de Vila Vasco da Gama Estrada Bene-Vuende Caduco Estrada Bene-Cassacatiza, a 15 km de Cassacatiza Estrada Bene-Cassacatiza, a 2 km de Bene Perto da povoação Caduco Estrada Tembue-Cassacatiza Monte Chidima Povoação de Cassacatiza Região do rio Sadzo Cauasa No mesmo local Estrada Vila Vasco da Gama-Fingoé 146 Data Local Tipo de Acção Mina Ataque a patrulha de Milícias Emboscada a coluna Ataque a vila e seu aquartelamento Emboscada a coluna Ataque a vila e seu aquartelamento Mina Recontro com patrulha PSP/Mil Ataque a vila Mina Emboscada a grupo de combate Ataque a vila e seu aquartelamento Mina Mina Mina Mina Mina Emboscada a grupo de milhcias Recontro Ataque a aquartelamento Minas Ataque a aquartelamento Ataque a aquartelamento Mina Ataque a patrulha Mina Ataque a povoação e posto PSP/Mil Mina Mina Emboscada Mina Emboscada Ataque a aquartelamento Mina Ataque a posto PSP/Milícias Ataque a posto PSP/Milicias Emboscada a grupo PSP/Milicias Incêndio e destruição de ponte Recontro Observações Accionada por CART 2385 Coluna da CART 2385 Duração: 7 horas e 20 minutos Em simultãneo com o ataque anterior O grupo guerrilheiro foi estimado em cerca de 200. So a intervenção da aviação impediu que a vila fos se ocupada. Accionada por escolta do brigadei ro comandante do Sector F Accionada por coluna da CCAÇ 2358 GComb da CART 2385 Sede do batalhão do Subsector FFR Accionada por coluna da CCAÇ 2358 Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar da CCS/BCAÇ 2842 Milicias de Vila Vasco da Gama Secção da CART 2385 Accionadas pot coluna militar Accionada por coluna militar Patrulha do Posto Administrativo Accionada por coluna militar Accionada Accionada Ao Gr Mil Accionada Ao Gr Mil Coluna da Um guarda por coluna militar por coluna militar de Vila Vasco da Gama por coluna militar de Vila Vasco da Gama CCAV 2400 PSP ferido 1 tenente morto e 4 feridos, entre os quais o administrador Forças da CCAV 2400 integradas na Op Sentinela Alerta. 1 morto e 4 feridos. 147 Data Local 4NOV68 5NOV68 11NOV68 5DEZ68 1ODEZh8 lODEZ68 4JAN69 14JAN69 16JAN69 17JAN69 18JAN69 31JAN69 2FEV69 3FEV69 12FEV69 Estrada Tembue-Bene (3225.1504) Estrada Bene-Tembué, a 10 km de Bene Estrada Vuende-Furancungo, a 4 km de Vuende Estrada Cassuende-Msolola Estrada Sadzo-rio Mecumbuzi Estrada Cassuende-Gago Coutinho Estrada Chiticula-Sadzo Estrada Bene-Chiticula A 17 km de Furancungo Povoações Tsingano e Jeque (Vuende) Vila de Tembue Povoação Chuanga (Vuende) Missale Povoação Cuncere 14FEV69 15FEV69 e Chingombe 17FEV69 19FEV69 25FEV69 25FEV69 26FEV69 27FEV69 24MAR69 29MAR69 30MAR69 3ABR69 4ABR69 7ABR69 1OABR69 12ABR69 16ABR69 19ABR69 20ABR69 tinho 20ABR69 24ABR69 148 Estrada de Missale, a 5 km de Vila Gamito Estrada Cassuende-Gago Coutinho, rios Metambazi Povoaçao Cangombe Povoação Cangombe Povoação Cussarara Serra Chirundi Estrada Furancungo-Vila Gamito Bonina2 perto de Cussarara Povoaçao Ponde, a 30 km de Vuende Povoação Ponde Povoações Cussarara e Chissinde Estrada de Furancungo, a 6 km de Vila Gamito Serra Chirungué A 4 km da povoação Camões Cassuende Sadzo (Cassacatiza) Aldeamento Cherize Povoação Capeza (Chofombo) Zona da fronteira entre o rio Ucanha e Gago Cou Estrada Bene-Tembué Sobre o rio Luatize, perto de Gago Coutinho Tipo de Acção Observaçaes Mina Emboscada Mina Mina anti-carro Mina anti-carro Mina anti-carro Engenho explosivo Engenho explosivo Engenho explosivo Engenho explosivo Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a vila e seu aquartelamento Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a vila e posto fiscal Fuga de pop com guerrilheiros Mina Destruição de duas pontes Flagelação de povoação eaquartelamento Flagelação de aquartelamento Ataque a casa de regedor colaborante com as autoridades Emboscada a grupo de combate Mina Assalto a cantina Ataque a grupo de combate Rapto de Cabo de Terras colaborante com a autoridade Rapto de dois Cabos de Terras co laborantes com a autoridade Mina Recontro com grupo de combate Mina Ataque a aquartelamento Ataque a aquartelamento Ataque a força de PSP/Milícias Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros Mina Destruição de ponte Forças integradas na Op Mosquito Coluna da CCAV 2398 Accionada por coluna da CCAÇ 2359. A mina era de 10 kg de TNT e foi accionada electricamente Accionada por coluna da CCAV 2400. Muitas baixas Accionada por coluna da.CCAV 2398 Accionado por coluna militar Accionado por coluna militar Accionado por coluna militar Accionado por viatura da AdConc-Macanga As aldeias ficaram desertas Duração: 25 minutos A aldeia ficou deserta Accionada por coluna militar A estrada ficou interrompida Déstruição da casa e saque do imposto domiciliário Muitos soldados feridos Accionada por coluna militar O GComb estava dentro duma cantina Accionada por coluna militar A força protegia a construção do aldeamento Fuga massiva Accionada por coluna militar 149 Observações Tipo de Acção Data Local 26ABR69 26ABR69 28ABR69 2MA169 3MA169 5MAI69 6MAI69 9MAI69 9MAI69 11MA169 15MA169 15MAI69 16MA169 18MAI69 19MAI69 21MAI69 29MA169 29MA169 3JUN69 Povoações M'zonza e Taulo Povoações Lucas e Nhacona Tembo Povoaçao Camboto Estrada Bene-Chiuta Vila Gamito Estrada Vila Gamito-Frcitas Grupo de povoações Causo Sadzo Regiões de Malipna, Catona e Chissinga (Chofombo) Estrada Chiticula-rio Mucumbuzi Freitas (Vila Gamito) Monte N'gosa Gibe (Freitas) Gibe (Freitas) Estrada Fingoé-Chicoa Estrada Sabondo-Cheridze Estrada Fingoé-Vila Vasco da Gama Estrada Vila Vasco da Gama-Cantina Oliveira Bene 3JUN69 3JUN69 3JUN69 7JUN69 8JUN69 150 Tembue Povoação Besseremo (Tambuê) Caliramo Povoação Piri-Piri/Cope Povoação Chimponda Tipo de Acção Observaç~es Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros Emboscada Ataque a aquartelamento Mina Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a aquartelamento Fuga massiva de populações Mina Ataque a aquartelamento Emboscada Assalto a cantina Mina Emboscada Recontro Mina Mina Ataque a vila Ataque a aldeamento Fuga de pop com guerrilheiros Mina Fuga de populaçSes Fuga de populaçoes Junto ã fronteira A coluna militar Accionada por coluna militar Todo o grupo de povoaçoes Fugiram 19 povoações (perto de 1000 pessoas) provavelmente devido à perspectiva dos aldeamentos. A re giaó ficou deserta Accionada por coluna militar A forças militares Accionada por patrulha militar A coluna militar Com grupo de combate Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar As pop iam ser aldeadas Accionada por coluna militar 151 Tipo de Acção Observações ANEXO II Operações militares especiais efectuadas pelo exercito português em Tete no ãmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de 1968) (Fonte: Sitrep' s Circunstanciados do Comando Sectorial F, AHMM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31). 153 Operação Protagonista Data Duração Natureza Tampão 1- Bucha 2- Bucha Bota-Fora Dever Fronteira Mãos Dadas Salado Pimenta Equator Alfa Equator Bravo Colorau Equator Charlie CCAÇ 1654 2GComb/CCAÇ 1655 2GComb/CCAV 1730 CCAÇ 1655 CCAÇ 2357 e 2GComb/Subsector 1AG068 Variável 6AGO68 6AG068 10AG068 5 dias 5 dias 3 dias 11AG068 A indicar lGComb/CCAÇ 2357 3SET68 GComb/INT CCAÇ 2358 CCAÇ 2358 e 1GComb/CCAV 4 dias Não in- Não indidicada cada Não in- Não indi2398 dicada cada CCAV 2399 16SET68 IGComb/CCAÇ 2358 17SET68 IGComb/CCAÇ 2357 IGComb/CCAÇ 2359 CCS/BCAÇ 2842 CCAÇ 2358 17SET68 CART 2385 18SET68 lGComb/CCAV 1730 19SET68 CCS/BCAÇ 2842 CCAV 2398 CCAV 2400 4 dias 1 dia 1 dia 3 dias 1 dia Batida e Golpe de Mão Nomadização Nomadização Golpe de Mão Nomadização Nomadização Golpe de Mão Golpe de Mão Batida Golpe de Mão Golpe de Mão Golpe de Mão Golpe de Mão Mais Outra Vez Ano Grande Grande Premio Pequeno Prémio Cigano Bate Certo Colaboração Vagabundo IGComb/CCAÇ 3GComb/CCAV CCAV 2398 CCAV 2400 CCAÇ 2422 CCAÇ 2358 CCAÇ 2357 mais lGComb 2358 24SET68 2398 27SET68 29SET68 dias dias dias 30SET68 IOUT68 15 dias 30UT68 15OUT68 2GComb/CCAÇ 2421 18OUT68 2 dias 15 dias Golpe Golpe Golpe Mão Mão M4o Batida e embos cadas Batida e embos cadas Emboscadas Linhas e embos cadas Batida com em boscada~e go! pe de mao 154 Local Resultados Observações Margens dos rios Aruân gua e Zambeze (3254.1539) (3254.1539) (3155,7.1535,1) (3245.1412) (3247.1417,5) (3252,5.1425,5) (3246.1412) (3239.1415) (3245.1412). BA Beira BA Quelimane (3305.1458) Rios Menene e Capoche BA Rovuma (3254.1458), BA Quelimane (3306. 1454), e BA Antonio Enes (3306.1506) BA Beira (3Z48.1443) BA Maera (3157.1435) BAMsolola (3206.1423), BADuângua (3209.1424), BA Mutarara (3213,5. .1427), e BA Chitequele ou Juromol (3229.1424) BA António Enes R Capoche (3213,5.1427) BA Mutarara Sem contacto Sem contacto Sem contacto Destruida a BA abando nada e capturados documentos Destruida a BA abando nada e capturados documentos Destruída BA Maera que estava abandonada Terminou em 2SET Terminou em 7SET. gido um avião T6 Atin Apoio aéreo BAs Rovuma e Antonio Enes abandonadas. Na BA Quelimane, já destruida, queimadas 200 palhotas, abatidos 3G, capturada pop e armamento. Apoio Aéreo Capturado IG Apoio aéreo Destruidas 2 pov aban Apoio aereo donadas (3200.1437,5) 2 soldados mortos. IG morto. Destruido 1 hospital FRELI0O. Destruida BA Juromol. Destruidos meios de vida entre os rios Duangua, Capo che e a fronteira. Apoio aéreo Destruida a nova BA Apoio aéreo A CCAV sofreu 2 emboscadas BA Mutarara R Mucumbuzi'(3222.1502) (3305.1454) Entre o rio Muangadzi (3239.1415,5) e a foz do rio Mesotosi (3243. 1432) Rios Menene, Mucumbuzi e margem esquerda do rio Nhimbe Sem contacto Sem contacto Sem contacto. Destrui das 2 pov (3227.1459) e 1 pov (3226.1501) Destruida mais 1 pov (3226.1504,5). Queimados 8 celeiros 155 Operação Protagonista Data Duração Natureza Garden Teimosia Alerta Está Atalaia Sentinela Alerta Soma e Segue Nova Ordem Tentativa Saltimbanco Mosquito Decepção Pente Fino Birthday Albatroz Arara Cotovia Papagaio Confirmação CCAV 1730 200UT68 lGComb/CCAÇ 2359 210UT68 ref SEC/CCAÇ 1710 2GComb/CCAV 2398 220UT68 2GComb/CCAV 1730 230UT68 2GComb/CCAV 2400 240UT68 2GComb/CCAV 1728 250UT68 2GComb/CCAV 2399 270UT68 2 dias Não determinada 3 dias Não determinada 1 dia Não determinada 1GComb INT/CCAÇ 280UT68 2357, iGComb INT /CCAÇ 2359 e iPel Rec/CCS BCAÇ 2842 IGComb/CCAÇ 2423 4NOV68 15 dias 24CCAÇ/BCAÇ 17 IGComb INT/CCAÇ 2357, elementos CCS/BCAÇ 2842 1GComb/CCAÇ 2357 1GComb/CCAÇ 2359 IGComb/CCS BCAÇ 2842 BCAV 2850 4NOV68 3 dias 5NOV68 1 dia 9NOV68 1 dia Não in- Não indidicada cada CMD/CCAÇ 2359 e 18NOV68 2GComb/CCAÇ 2359 4 dias Golpe de Mão Golpe de Mão Patrulhamento e emboscada Nomadização e emboscada Pat rulhamento e emboscada Golpe de Mão Nomadizaçâo Cerco e batida com emboscada Batida com em boscada~e gol pe de mao Batida com em boscadas Cerco e ataque Cerco e batida Não indicada Batida Local Resultados Observações BA Capoche (3214.1429) Rio Mepule (3307.1504), suposto local da BA An tonio Enes Vronteira-R Capoche- R Mecumbuzi nas linhas de infiltração prováveis Fronteira c/Malawi des de limite N do Subsector até S Salambidua Fronteira, do R Capoche até Cassuende Suposta BA Rovuma (3258.1457) Margem do R Capoche en tre Dalauene (3237. .1455,5) e Chizame (3229.1445) E de Furancingo (3339. .1454) Vale do rio Mepizizi, rios Mecumbuzi e Menene Vale do rio Nhimbe rios Nhacolave, Mucumbuzi e Zunga (3334.1449) Entre Furancungo, estrada para Tete e vale do rio Chuala (3333.1452) Vale do rio Capoche Rios Luangua Grande e Pequeno, Massange, Chi rembue e Chiundi Detruída a BA Capoche Sem contacto Apreendido muito material de guerra e documentos. Destruida alimentaçao A BA foi localizada á completamente destruda Interrompida Sem contacto Interrompida Não localizada a BA Sem contacto Recuperados 31 pop Terminou em 4NOV Sem contacto Encontrado esconderijo em (3218.1506) Sem contacto Sem contacto Sem contacto Originou o abandono pela FRELIMO das BAs dos rios Capoche e Luatize. Terminou em 21NOV Terminou em 23NOV Terminou em 23NOV Terminou em 22NOV Terminou em 22NOV 157 Operação Protagonista Data Duração Natureza Andorinha Tarata (1c Parte) Tarata (2Lk Parte) Bóta-Fora Vespa :Sado Natal Tomé Tiago Pedro Paulo João Boas Festas Pai Natal Vontade Forte Ponte a Pé Consoada 2GComb/CCAV 2399 25NOV68 CCAV 2399 CCAV 2398 CCAÇ 2423 CART 2385 CCAÇ 2359 CCAÇ 2423 1GComb/2a CCAÇ BCAÇ 17 2L CCAÇ BCAÇ 17 CCAÇ 2357 CCAÇ 2357 CCAV 2400 CCAÇ CCAÇ 1710 2359 4 dias 28NOV68 2 dias 28NOV68 1DEZ68 2DEZ68 8DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 11DEZ68 15DEZ68 dias dias dias dias dias dias dias dias dias 15DEZ68 Não deter minada 15DEZ68 6 dias 16DEZ68 4 dias Batida e embos cada Batida Emboscada e gol pe de mao Batida e golpe de mao Batida e golpe de mão Batida e embos cada Batida e pesqui sa de noticias Batida e embos cada Batida e embos cada Batida e embos cada Batida e cerco a monte Cerco e batida com golpe de mao Busca, batida e emboscada Busca, batida e emboscada Cerco e batida com golpe de mão Ássim Sim 3GComb/CCAÇ 2398 20DEZ68 2 dias Batida com gol pe de mão imediato 158 Local Resultados Observações Entre os rios Capoche, Nhimbe, Messuze e pica da Cangombe-Fingoe Mesmo local Cruzamento rio Sadzo-fronteira S Mepãdue(3228.1511) Montes Mecusse e Antunda Montes Tchidima e Mucuose, rio Casula Rios Zambeze, Capoche, Luia, Nhimbe Rio Nhimbe e Chipera Monte Chuamba e rio Menene Rios Menene e Mucumbuzi e monte Ancanga Rio Messansama Rio Luângua Grande, es trada Cauasa-Chizampeta-rio Luangua Pequeno -Mte Pembe (3220.1435) Rios Duângua e Chingom be e Monte Megosa(3158. .1358) até à fronteira Ponte do rio Mucumbuzi na estrada Sadzo Messediza (3321.1448), R Metangola (3329.1448), S Mecuancuangala(3329. .1443), R Luangua Pequeno e Chirembue(3316. .1443) Confluência dos R Messala e Mucumbuzi (suposta BA Juromol) Terminou em 23NOV Destruida BA, abatido IG e capturado armamento Sem vestigios Sem contacto Descoberta pov Quelifo te. BA em (3236.1515) Encontradas abandonadas 4 pov Destruídas duas pov abandonadas no monte Ahtunda 3219.1506,5), e BA (3221,7.1507,6) Destruidas 10 BA (3232.1459),(3229,5.1459,5), (3230.1502,5), (3238.1511,8),(3241,5.1512,2), (3238.1514,5), (3242,5.1513,5),(3235.1507), (3229.1512), (3234,5.1514). 2G mortos, 50 pop recuperadas, destruido armamento Sem contacto Sem contacto Sem contacto Seit contacto Sem contacto Sem contacto Sem contacto Monte localizado nas co ord.(3334,5.1448,5) Interrompida em 22DEZ Destruidas palhotas vários meios de vida 159 Operação Protagonista Data Duração Natureza Fogo 2GComb/BCAÇ 1906 20DEZ68 Sheltox Reveillon Labareda 5 dias 2GComb/2-_ SEC 20DEZ68 4 dias CCAV 1730 e lGComb/CCAÇ VManica 3GComb/CCAÇ 2358 23DEZ68 3 dias 2GComb/2L CCAÇ BCAÇ 17 26DEZ68 4 dias Batida com gol pe de mão imediato Detectar actividade FRELIMO junto pop Nomadização e golpe de mão à BA Beira Batida para gol pe de mão CCAÇ 2423 26DEZ68 4 dias 2GComb/CCAÇ 2399 28DEZ68 2 dias Batida e recolha de cereais das Pop Batida e embos cada Apoio Galucho 160 Local Resultados Observações R Mucumbuzi desde (3208. .1456) até (3222.1503) e Mte Mulima e vale do R Mepizizi desde(3204. 1503) até (3254.1505) Reged.Mboola, Chimarizene e area Caldas Xavier-Ncungas-fronteira com o Malawi Rios Chisibué e Muangadzi Rio Mevira até rio Mulemba (3234.1455) desde vale do rio Menene até rio Muerixe Sul da Cantina Oliveira e rio Mepizizi Rios Menene e Mucumbuzi e área (3239.1512) Sem contacto Terminou em 23DEZ Sem contacto Sem contacto Sem contacto Destruidos muitos meios de vida abandonados Alterado local para o Mte Uncanha, vale dos rios Cadize, Mucumbuzi e Mepizizi por Gr terem ai raptado Pop. Aumentada duração para 5 dias Recolhidos haveres de 9 Pov da area Jones 161 Impresso na Divisao Grafica da Universidade Eduardo Mondiane *!1092-636- 1-6-94 "4m7 c 3 5556 021 767 090 1 - _____________ eEstdo e