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O INICIO DA LUTA ARMADA EM TETE,
1968-1969:
A Primeira fase da guerra
e a reacção colonial
João Paulo Borges Coelho
Estudos 7
Arquívo Histórico de Moçambique
Série: Estudos 07
Tijulo: O Iniíio da Luta Armada em Tete, 1968-1969: A Primeira Fase da Guerra
e a Reacção Colonial Autor: João Paulo Borges Coelho Edição: Arquivo
Histórico de Moçambique/ Nucleo Editorial da Universidade Eduardo Mondiane
Registo: 073311NLD189 Maputo. Setembro de 1989
'NDICE
Introdução, 9
Capítulo 1
O dispositivo das forças portuguesas no território de Tete e a sua concepçao
global de defesa, 21 O dispositivo das forças portuguesas, 23 A concepção global
de defesa, 29
Capítulo II
A FRELIMO e a preparação da luta armada em Tete, 45
A situação polítíco-mílitar interna da FRELIMO, 46 A reestruturação militar da
FRELIMO, 47 Os grandes objectivos da Frente de Tete, 48 O aparelho da
F.RELIMO no Malawi, 51 A Zâmbía, rectaguarda da Frente de Tete, 58 O
COREMO e os outros grupos "dissidentes no Norte de Tete, 61
CondiçÕes do desencadeamento da luta no interior, 64
Capitulo III
A abertura da Frente de Tete (1968-1969), 69 A lígaçao com as populações, 70 O
estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros, 75 A
ofensiva da FRELIMO, 84 A contra-ofensiva militar portuguesa, 92 A FRELIMO
retoma a iniciativa, 102
Notas, 113
Bibliografia, 137
Siglas usadas na documentação, 141 Anexo 1
Principais acçoes militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonial
entre Março de 1968 e Junho de 1969, 143
Anexo II
Operações militares efectuadas pelo exercito portugues em Tete no âmbito da sua
contra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de 1968), 153
rNDICE DOS MAPAS
1. A Província de Tete, 7
1
2. O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra em 1968-1969, 8
3. Os regulados na zona de guerra, 25
4. Dispositivo militar português na zona de guerra.
Março de 1968, 26
5. Rotas possíveis de infiltração da FRELIMO segun do prevísões do exército
colonial em fínaís, do
ano de 1967, 44
6. O estabelecimento da FRELIMO no Sul do Malawi em 1967, 57
7. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada.
Março de 1968, 80
8. Bases principais da FRELIMO durante a ofensiva
do primeiro semestre de 1968 (Maio-Agosto), 81
9. Dispositivo militar português na zona de guerra:
criação do Subsector FBN no ambito da contra-ofen
siva militar portuguesa. Setembro de 1968, 94
10. Operaçoes especiais do exército português no âm
bito da sua contra-ofensiva de Setembro de
1968, 95
11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guer
ra. Abril de 1968, 98
12. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guer
ra em Setembro de 1968: aumento generalizado dos
contingentes, 99
13. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exército português
no final de 1968, 104 14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado a
iniciativa, no primeiro semestre de 1969, 105
15. Dispositivo militar português na zona de guerra
em Abril de 1969: reforço dos contingentes, 108 16, Dispositivo paramilitar
colonial na zona de guer
ra, no primeiro semestre de 1969: aumento das
forças de milícias, 109
17. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guer
ra entre finais de 1968 e início de 1969, 111
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1. A Província de Tete.
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2. O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra. Março de 1968.
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho debruça-se sobre a abertura da Frente de Tete no decorrer da
Luta Armada de Libertação Nacional, privilegiando os aspectos mili tares desse
processo e fazendo recurso quase exclusívo à documentação colonial disponivel,
particular mente a documentação militar portuguesa. Duas opçoes que colocam
certos riscos: Por um lado, o da milita rização de um processo que foi muito mais
global e no decorrer do qual a FRELIMO visava muito mais que a vitória militar;
por outro, o de fazer recurso a fontes por assim dizer coloniais, partindo-se do
princípio que se pretende escrever uma história em que o Movimento de
Libertação está no centro do pro cesso. São necessárias, por isso, algumas
explicaçoes.
Em primeiro lugar, parte-se da convicção que o aspecto militar da luta nao e, de
forma alguma, um aspecto isolado, desligado do universo de factores políticos e
sociais. A guerra não é - nem mesmo a sua forma táctica particular que e a guerra
de guer rilha - revolucionária em si mesmaI, mas antes cons titui um meio para
realizar os desígnios políticos dos seus promotores. No que respeita a luta de
libertação moçambícana, o recurso à luta armada constituiu uma decisão política,
tomada após a constata ção de que todas as outras formas de luta estavam
condenadas ao fracasso devido a intransigencia do
colonialismo português2. Assim, quer na sua origem como no seu
desenvolvimento, sao inumeros os factores que motivam a guerra, lhe definem a
natureza e condicionam o sucesso. Para tomarmos um exemplo da experiência
moçambicana poderíamos dizer que a participaçao popular na luta nao so
constituiu a prati ca de uma opção política profunda como tambem se afi gurou,
do ponto de vista estritamente militar, um factor de sucesso absolutamente
fundamental. Sem a participação popular em todas as suas múltiplas for mas o
exército colonial muito mais dificilmente teria sido derrotado. Tal não exclui, no
entanto, que o inverso também seja verdadeiro, ou seja, quea pra tica da luta
também tenha influenciado profundamente a construção das relações entre a
população e os guerrilheiros, como o demonstra a experiencia das zo nas
libertadas, prefiguração e prática de construção de uma sociedade alternativa a
sociedade colonial.
Contudo, não podemos afirmar que a literatura existente tenha dado suficiente
importância às rela çoes entre esses dois aspectos na medida em que o aspecto
militar da luta e, ainda hoje, praticamente desconhecido no seu detalhe, ignorado
pela literatu ra dos mais diversos quadrantes ideológicos3. Não ca bendo aqui
determo-nos na análise dessa literatura4, podemos no entanto afirmar que tal
situação para além de, no geral, constituir uma lacuna no estudo da nossa historia,
arrasta consigo outros mialefícios dos quais, seguramente, o menor não é
depararmos com afirmaçoes e interpretações categóricas que o acesso a novas
fontes vem depois dismistificar completa mente. Para apontarmos apenas um
exemplo, Walter Opello afirma que "em 1968 as actividades militares da
FRELIMO em Tete limitaram-se à mínagem de estradas e a realização de
emboscadas na bacia do rio Ca poche, entre Gago Coutinho e Cassacatiza, perto
da fronteira com a Zâmbia, e no planalto da Angónía, perto da fronteira com o
Malawi''5. É evidente o intuito de mínimizar a gravidade da situação para a or
dem colonial. De facto, as fontes portuguesas, mili tares e administrativas,
demonstram que durante o ano de 1968 a guerra penetrou profundamente no
território até a Sul das localidades de Fingoé e Bene e que, por outro lado, nunca
chegou à Angónia, como procuraremos mostrar adiante.
Nesta perspectiva, coloca-se com acuidade o pro blema do acesso e avaliação das
fontes, que nos con duz a outra das opções tomadas para a realização do presente
trabalho: o recurso à documentação colonial.
Muito esquematicamente, a lutaarmada de liber tação pode ser estudada atraves de
dois tipos de fon tes "primárias", quanto à sua proveniência, obviamente as
produzidas pelo Movimento de Libertação e as coloniais. Em relação a uma parte
das primeiras, o seu registo escrito encontra-se fundamentalmente nos arquivos do
Partido, em processo de organização e fechados a consulta, e sobre os quais nao
nos podemos, portanto, pronunciar. Quanto à recolha de de poimentos de antigos
combatentes ou camponeses envolvidos no processo da luta, ela tem sido feita de
forma dispersa ao longo destes anos, no âmbito de es tudos parcelares e
localizados6. Constituindo inega velmente um tipo de fonte privilegiado, pela sua
lo calizaçao no cenarío global da luta, pelo seu envol vimento directo nos
acontecimentos e porque a luta foi mais acçao do que registo escrito, a recolha de
depoimentos apresenta contudo algumas limitações que importa considerar.
Alguns autores, referíndo-se aos "problemas" levantados pelas fontes orais,
consideram-as de estatuto incerto no que respeita a consti tuirem sinais históricos:
se bem que baseadas no princípio da repetição como forma de preservar o pas
sado, e difícil verificar teoricamente a fidelidade dessa mesma repetição e a
medida em que nao surgem alterações impostas por conjunturas do presente.
Além disso as fontes orais nao tem uma vocaçao globalizante: são normalmente
selectivas no seu conteúdo e
- o que constituí uma limitação muito importante não estabelecem uma cronologia
objectiva, na maioria
dos casos 7. É certo que em relaçao aos acontecímentos da luta de libertação não
deparamos com tradiçoes antigas transmitidas por sectores específicos da
sociedade. De facto, trata-se de uma historia re cente, gravada - por vezes de
forma bem dramatica na maioria dos moçambícanos do Norte do país. Todavia,
muitos problemas permanecem, relacionados even tualmente com o facto de
terem decorrido alguns anos, tornando-se portanto difícil exigir precisão e deta lhe
nos depoimentos dos protagonistas, assim como com o facto dos testemunhos
terem uma perspectiva parcelar dos acontecimentos; muitas vezes confinada a
uma aldeia, e que a massífícaçao dos inquéritos por si so não consegue
solucionar. Alem dísso, gran de parte dos problemas tem a ver com a orientação
do proprio trabalho de recolha de depoimentos. Em muitos casos esta tem sido
efectuada "teleologicamente", quer para ilustrar enredos-previamente bem
definidos quer colocando as questões de forma a que as respostas sigam ao
encontro daquilo que o inquiridor "quer ouvir", num processo muitas vezes
subconsciente, até. Neste sentido há muítas vezes tendência para considerar
simples afirmações e juizos individuais como profundas verdades científicas.
Mais do que retirar informação ao protagonista e necessário apoia-lo, no sentido
positivo, na elaboração do seu testemunho. Tal pode ser feito, pesem.embora os
riscos, com o recurso a doçumentação colonial, as conclusões que dela
poderemos retirar devido ao seu carácter sistemático e as contradiçoes internas
que apresenta. A documentação colonial pode ajudar-nos no estudo das
modificações do próprio Estado colonial, dos seus aparelhos, na sua tentati va
para se adaptarem ao decorrer da guerra assim co mo, indirectamente, no estudo
do impacto das acções levadas a cabo pela FRELIMO no território. Neste sen tido
afigura-se possível reproblematizar - nos aspectos específicos como no geral todo o contexto em que se insere esta documentação. Produzida no qua dro
particular de servir a administração colonial do
território e a vitória das forças coloniais sobre o Movimento de Libertação, ela
pode ser subvertida no sentido de apoiar o estudo deste período numa perspectiva
totalmente outra. Trata-se portanto de lhe retirar o carácter de meio exclusivo de
interpretaçao e de verdade para a remeter'ao papèl mais modes to de mais um dos
instrumentos que nos permite estu dar o período especifico que ela cobre num
quadro teórico que a transcende. Com esta documentação e possível definir
cenários e hipóteses de trabalho que podem ser levados ao confronto com os
testemunhos orais, ajudando os protagonistas, no concreto e no detalhe, a precisar
e clarificar as suas memorias e, igualmente, ajudando os inquiridores a cons trúir
um sentido para as suas questões que, de outra maneira, são frequentemente
postas de forma dis persa e desconexa8
O presente trabalho parte portanto do principio que, constituindo as fontes
coloniais uma parte importante da totalidade da documentação sobre a lu ta
armada, e importante portanto em si, e possível, através de uma
reproblematízação das mesmas, umgran de passo em frente no sentido de se poder
recorrer com mais eficácia às outras fontes visando a construção da história
nacional. Tratando-se de uma pri meira experiência pretende, com o seu
desenvolvimen to, demonstrar concretamente essa importancia no am bito atrás
apontado, assim como colocar alguns dos problemas e possibilidades que o
trabalho comas fon tes levantou. Tentaremos ainda, neste espaço introdutório,
fazer referência a alguns aspectos ~esse processo9.
O Estado colonial foi sempre um grande produtor de documentos, uma
característica comum a todos os seus aparelhos civis e militares, que
burocratizava o seu funcionamento mas que - e por isso não devemos substimã-la
- lhe deu recursos no campo das informações e da contra-guerrilha. Esse volume
de doçumentação, é bem certo, possuí a carga ideológica que ele veiculava, a sua
visao do mundo e o seu
posicionamento concreto no cenario da luta. Essa vi são tem subjacente, por
exemplo, a FRELIMO como ins trumento do "comunismo internacional" e a autoconsideração paternalísta do Estado colonial como defensor dos valores da
civilização ocidental e protector das populações vítimas do "complot" comunista
localizado para lá das fronteiras. Todavia, e em bora sempre com as devidas
precauções, e possível afirmar uma distinção entre os documentos de pura
propaganda e aqueles que, apesar de invariavelmente imbuidos dessa ideologia, se
destinavam ao funciona mento dos aparelhos, nomeadamente no ambito das
informaçoes, a planificação das acções militares e ou tros. A complexa
classificação que sempre se preten deu apôr aos documentos directamente
relacionados com a guerra, desde o simples "reservado", passando pelo
"confidencial", ate ao "secreto" e ao "muito secreto", revela uma hierarquização
precisa do poder e do saber e conduz-nos ate às zonas mais íntimas desse Estado,
onde ele se permite progressivamente afirmar a verdade sobre os acontecimentos,
a sua verdade.
Uma outra distinção que pode ser esboçada, sem pre cautelosamente, diz respeito
aos documentos "ob jectivos" e "subjectivos". Entre os primeiros, e ape sar de
existir sempre senão a possibilidade de falsificação pelo menos a de erro,
poderíamos incluir, por exemplo, as listas dos contingentes militares e o
díspositivo, ou as directívas das operaç'ões mílitares. Os segundos dirão mais
respeito à documentaçao que "interpreta" os acontecimentos, documentação essa
que, embora subjectiva, se torna objectiva quan do pretendemos conhecer a visão
que o próprio Estado colonial tinha do processo da luta.
A observação da estrutura organizativa do Esta do colonial, do ponto de vista da
defesa e segurança, revela que ele era composto por diversos aparelhos de
hierarquia vertical, coexistindo lado a lado. Podemos apontar entre eles a PIDE,
os Serviços de Centralízação e Coordenação de Informações de Mo
çambique (SCCIM), a Policia de Segurança Pública, a Guarda Fronteira. Todos
eles eram dirigidos de Lourenço Marques, possuindo delegaçoes ou escalões dis
tritais e mesmo a nível de concelho ou círcunscriçao, e posto. Tal estrutura
originava como regra a dupla subordinaçao a nível distrital. O chefe da de legação
dístrital de Tete dos SCCIM, por exemplo, prestava contas ao Governador do
Distrito e ao direc tor dos SCCIM em Lourenço Marques. Tal situação, se bem
que comum a todos os diferentes serviços, torna va-se delicada em campos
sensíveis como os da segurança e das informações. E afigurava-se ainda mais
complexa se considerarmos também o aparelho militar, totalmente autónomo dos
restantes, com os seus soldados, a sua administração própria, os seus serviços de
informaçoes e a sua dependência do Comando-Chefe em Nampula. Assim, foi
sempre grande a preocupação colonial de aperfeiçoar os aparelhos com vocação
de articulação entre as estruturas verticais, de modo a dar coesao e
operacionalidade ao funcionamento do seu Estado10. A nível das ínformaçoes
podemos apontar o exemplo dos SCCIM, que processayam informação de
diversas origens e a distribuíam para um grande numero de aparelhos. Contudo,
no nível distrital não passavam de um entre muitos serviços produtores de
informações. Interessa-nos aqui o facto que as informaçoes, embora originarias do
mesmo universo político e ideológico, eram frequentemente produzidas e
veiculadas por canais completamente independentes uns dos outros. Trata-se de
uma circunstancia que produziu alguns conflitos e contradiçôes no seio do Estado
colonial o que, de alguma maneira, reforça o valor deste acervo documental como
fonte para o estudo desta area. Em muitos casos e possível observar as diferentes
formas como um acontecimento é relata do e interpretado, por exemplo, pela
estrutura da ad ministração civil, pela PIDE e pelo exército para os respectivos
escalões superiores, independentemente uns dos outros, antes que todas essas
informaçoes sejam confrontadas, normalmente a nível do Governo
do Distrito ou da delegação provincial dos SCCIM.
Se, como se pretendeu mostrar brevemente, este tipo de documentação permite
conhecer o Estado colo nial, o seu posicionamento e perspectivas face a guerra, a
situação torna-se mais complexa, todavia, no que concerne ao estudo do
Movimento de Libertação. De facto, salvo casos esporádicos de documentação
apreendida aos guerrilheiros e transcrita ou mesmo reproduzida em "fac-símile"
(incluindo diários pessoaís), trata-se de uma fonte duplamente indirecta. Os
documentos não se referem ao corpo instítucional que os produz mas a outro que
eles apreendem por sua vez indirectamente. Todavia, ainda aqui eles permitem
certas possibilidades que não permitiam aos seus prôprios produtores, não só
pelas diferenças de posicionamento perspectivo como pelo facto de não estarmos
limitados por factores de ordem temporal. To memos o exemplo das bases de
guerrilha da FRELIMO: estas, pela sua extrema mobilidade no terreno, cons
tituiram 'm dos grandes quebra-cabeças da planifica ção táctica do exército
colonial. Frequentemente, este s6 tinha conhecimento da sua localização ou de
factos relacionados com elas meses apos a sua existencia num determinado local.
Para nós, todavia, torna-se possível, em certos casos, "voltando atrás", tornar
produtivo e com sentido num dado momento, o conhecimento de um facto que o
exército colonial s6 conheceu muito mais tarde. Ou seja, usarmos uma indicação
que nos e dada por ele mas que não foi possivel a ele próprio utilizar. Tal deve-se,
em grande medida, ao carácter sistemático dos documentos produzidos em séries
periódicas. Assim se torna pos sível, por exemplo, acompanhar durante semanas
consecutivas a passagem de Yatuta Chisiza e do seu con tingente de dissidentes
malawianos pelo território setentrional de Tete, através de informações "forne
cidas" pelo Estado colonial que, por sua vez, so na fase final dessa incursao teve
conhecimento da iden tidade do pequeno exército.
Levantadas que foram algumas das potencialidades da documentação colonial,
entre as quaiso apoio que poderiam prestar no trabalho de recolha de depoimentos
de protagonistas não e seguramentea menos importante, é pertinente referir ainda
o seu estado organizativo. Esta docVmentação encontra-se no Arquivo Histrico de
Moçambique, no Fundo de Tete, cons tituldo pela documentação produzida e
recebida por esse Distrito colonial, e organizado de forma ainda bastante
preliminar tal como, de resto, outros Fundos como os de Cabo Delgado e Niassa.
Tal situação, devida à escassez de recursos - nomeadamente humanos - do
Arquivo Histórico de Moçambique, que no en tanto tem assegurado a conservação
dos documentos, constitui um indício preocupante da situação incipiente em que
se encontra a investigação sobre a história da luta armada. Onze anos decorridos
desde a data da Independência Nacional, não há ainda um programa global de
investigação desta importante área e desta importante fonte, programa esse que
incluiria forçosamente o tratamento e organizaÇao do acer vo documental. Um tal
programa, que poderia passar pela reconstituição de cenários regionais
(nomeadamente Cabo Delgado, Niassa e Tete) e pelo esboço de uma
periodização, a partir dos diferentes Fundos, assim como pela sua articulação e
coordenação em fun ção de objectivos de investigação específicos, é ur gente nao
só devido à importancia geral que tem para o Moçambique de hoje, mas tambem
com o objectivo específico de permitir um trabalho estruturado e sis temático com
as fontes orais cuja perspectiva se em pobrece a cada dia que passa.
Este trabalho abrange o período entre 1966 e o inicio de 1969, portanto o espaço
de tempo que decor re entre a frustração da chamada primeira Frente de Tete, nos
finais de 1965, e a abertura da mesma Fren te. Os anos de 1966 e 1967 constituem
fase de prepa
ração de condições para a luta, não so no interior do território como nos países
vizinhos. O ano de 1968 assinala o início das acçoes armadas e o perío do de um
ano, sensivelmente, foi definido porque cor responde a um ciclo completo de
actividade guerrilheira, que tem os seus picos altos na epoca das chuvas. Trata-se,
portanto, do tempo decorrido entre o final de uma epoca das chuvas e o final da
época das chuvas seguinte. O período definido, -apesar da sua extensao (o ano
entre 1968 e 1969), é abrangido pela designação de Início da Frente de Tete
porque se considera a abertura não como um acontecimento pontual, que ocorreu
em 8 de Março de 1968, mas sim co mo um processo que levou um ano a
desenvolver-se ca balmente. De facto, podemos dizer que durante esse ano, do
ponto de vista militar, era objectivo dos guerrilheiros não só penetrar como
também manterem-se no terreno de operaçoes. O exercito colonial, por seu
turno, alimentou a esperança de até ao final do ano de 1968 conseguir "limpar" o
território, para usarmos a sua terminologia, de toda a presença guerrilheira o que,
de resto, quase foi conseguido. Assim, considerou-se que o processo de abertura
da Frente de Tete só se consumou quando, no inicio de 1969, se tornaram claros a
sólida presença gueýrilheira no terreno e o falhanço da estratégia colonial
tendente a resolver o conflito militarmente e de forma definitiva. O ano de 1969
assinala já uma reformulação da estratégia colonial, com o acelaramento da
edificação dos aldeamentos e o reconhecimento subjacente que o Movimento de
Libertação esta va no terreno "para ficar". Pensa-se, em suma, que os elementos
apresentados definem as balizas de um período, aqui designado por primeira fase
da guerra.
O trabalho foi organizado em três capítulos. Os dois primeiros abordam, nos seus
diversos aspectos, a preparação do cenário da luta. Do lado coloníal, o primeiro
detém-se na organização e disposição das forças no terreno, assim como no
processo de edificação da sua concepção global de defesa. o se-
gundo procura desenvolver as questoes gerais ligadas a preparação da abertura da
Frente pela FRELIMO. Finalmente, o terceiro capítulo analisa a questão militar
da Frente considerando que houve três momen tos distintos - uma ofensiva dos
guerrilheiros, uma reacção militar colonial e um retomar definitivo da iniciativa
por parte das forças da FRELIMO - antes de terminado este ciclo.
O texto agora apresentado foi defendido como dissertação de licenciatura em
1986. As alteraçoes introduzidas são mínimas, consistindo apenas na inclusão, no
espaço reservado às notas, de extractos dos documentos originais citados,
julgados pertinen tes e sugestivos. Por razoes de comodidade foi mantida a antiga
designação das localidades e dos acidentes geográficos.
Capitulo 1
O DISPOSITIVO DAS FORÇAS PORTUGUESAS NO TERRITÓRIO DE
TETE E A SUA CONCEPÇAO GLOBAL DE DEFESA
O dealbar da luta armada na Frente de Tete, em Março de 1968, encontrou as
forças portuguesas simultaneamente preparadas e desprevenidas. Preparadas se
considerarmos que havia quatro anos vinham esperando este momento, anunciado
nas múltiplas informaçoes que colhiam e na reacção popular, tomando as medidas
que julgavam eficazes para o abortar e, aos poucos, edificando uma concepçao
global de defe sa do território. Desprevenidas no sentido em que não puderam
prever com a nitidez que julgavam neces sária a altura e os locais do
desencadeamento da lu ta, nem souberam encontrar respostas imediatamente
eficazes.
Este capítulo procurará avaliar o dispositivo portugues, a sua organização e o
universo de factores constituintes daquilo a que poderíamos chamar a sua
preparaçao para enfrentar a luta armada em Tete. Procurar-se-a igualmente
analisar a concepção global de defesa construída pelas forças coloniais no
terrítório de Tete, a sua estrategía, na qual um pa pel central era reservado a
população, que pretendiam não só conquistar para a sua causa como também
"accionar", ou seja, dar-lhe um papel activo na defesa da ordem colonial.
Pode dizer-se que as autoridades coloniais em Tete sabiam que, mais tarde ou
mais cedo, teriam a luta armada no território. A grande agitação dos fi
naís do ano de 1964 e do ano de 1965 com, inclusiva mente, ataquoq armados a
postos administrativos, constituira já um primeiro sinal e sentia-se, a cada passo,
um trabalho subterrâneo que ccnduzia ao crescimento da consciencia antícolonial. Pao. as au toridades portuguesas e segundo as conclusões quo elas
próprias tiravam do evoluir da situação, trata va-se de 'um aviso que, tal como em
relação a Cabo Delgado e a Niassa, as punha cruamente face à sua in capacidade
de controlar o território e as suas popu laçoes, pela extensão daquele, pela
dispersão destas e pela fraca implantação dos aparelhos administrati vos,
instrumento essencial da colonização.
O então Distrito de Tete tinha características que levavam as autoridades coloniais
a ver ali reunídas todas as condições para o desenvolvimento daquilo que
consideravam ser "actividades subversivas". De facto, do ponto de vista geo-
estratégico, o seu território tem uma configuraçao particular que fazia dele uma
espécie de "península" cercada quase total mente por territórios estrangeiros. A
partir do ano de 1964, se excluirmos a então Rodésia do Sul, rela tivamente
pacÍfica em termos de infiltração das for ças anti-coloniais, existiam fronteiras
como Malawi e com a Zâmbía, cerca de 1150 quilómetros de linha de fronteira
com dois países africanos independentes e, portanto, encarados pelas autoridades
coloniais como sendo potencialmente hostis. Além disso, uma das suas
circunscriçoes, a Mutarara, era atravessada pela rota natural de passagem para o
centro do país, que através do rio Chire ligava o Malawi directamente ao rio
Zambeze e à serra da Gorongosa, no coração de Moçambique.
Por outro lado, o território era ocupado por uma população dispersa e
diversificada, numa teia complexa que, historicamente, ficou a dever-se a rea
lídade do rio Zambeze como ponto de passagem e zona de cruzamento de várias
migrações. Uma população com ligações económicas, culturais e familiares
intensas com todos os territórios circundantes, e que tinha
portanto dificuldades em assumir as fronteiras determinadas no papel pelas
potências coloniais - fron teiras, além do mais, mal definidas no terreno e pra
ticamente não policiadas1. Tal situação havia sido historicamente intensificada
pelo desenvolvimento económico das colónias inglesas que cercavam o território
de Tete, particularmente a Rodesia do Sul mas, também, a Rodésia do Norte e a
Niassalândia, qie se constituiram como polos de atracção da força de trabalho do
Distrito. Uma força de trabalho que aquele não tinha capacidade de absorver, se
conside rarmos que ainda em 1966 não havia indústria para alem da extracção do
carvao de Moatize, e onde os empreendimentos agrícolas, fora do âmbito familiar,
eram insignificantes e concentravam-se nas mãos de meia dúzia de colonos 2
Em suma e na perspectiva das forças coloniais, o fortalecimento do Movimento
de Libertação (adivinhado no trabalho clandestino que fazia junto das po
pulações), associado à configuração particular do territorio, ao abandono a que
estava votado, a liga ção entre as suas populações e as populações dos ter ritórios
vizinhos que ascendiam a independência, eram factores que levavam as
autoridades coloniais a pre ver para breve o início da guerra em Tete e a tomar
medidas para a enfrentar.
O dispositivo das forças portuguesas
Tal como nos restantes distritos da ProvÍncía, o Distrito de Tete era administrado
directa e indirectamente. Divídia-se em concelhos e circunscrições e estes em
postos administrativos dirigidos por admínístradores. Dependendo directamente
dos administradores de posto estavam os regulados, dirigidos pelos régulos que
faziam a ligação entre a administração colonial e o chamado "poder político indÍ
gena". No interior do regulado estavam os grupos de povoações e as povoaçoes
propriamente ditas, com
os seus chefes respectivos3. Os régulos eram indi cados quer pela população,
segundo as normas de sucessão particulares, quer pelas autoridades adminis
trativas, segundo a conveníencia destas ultimas. Em qualquer dos casos eram
sempre as autoridades que os confirmavam. Uma vez investidos, os régulos
tinham o direito de formar nucleos de milícias de protecção nos quais apoiavam o
seu poder, organizados localmente com armamento rudimentar e recebendo da ad
mínistração algum armamento suplementar.
Ligadas ao Governo do Distrito existiam ainda outras organizações milítarízadas:
a Guarda Frontei ra, vocacionada para o controlo dos movimentos fron teiriços; a
Polícia de Segurança Pública que, para além das funções de policiamento das
zonas urbanas, desenvolveu, a partir dos inícios da década de sessenta a criação
dos postos de PSP/Milícias. onde um elemento da policia enquadrava milícianos
na "protecção" de localidades e aldeias. Esta estrutura veio mais tarde a ter grande
importância no controlo dos aldeamentos. Para além das forças de milícias ligadas
à PSP. existiam outras forças militarizadas dependentes directamente de
organismos autónomos e destinadas a proteger as areas de actividade daqueles.
São os casos das Milícias dos Caminhos de Ferro, dependentes da Polícia dos
Portos e Caminhos de Ferro, das Milícias da Missão de Fomento e Povoamen to
do Zambeze e das MilÍcías da Trans-Zambezía Rail ways4.
Em 1966, paralelamente às forças milítarizadas, os contingentes militares do
Distrito eram compostos por um total de dois batalhões mais duas companhias,
cerca de mil e quinhentos homens, com uma ac tividade essencialmente de
patrulhamento. Apesar de ser uma zona ainda sem guerra e devido às acções de
patrulhamento por forças tão diferentes, com subordinaçoes tão diversas, o
Governo do Distrito tinha em funcionamento um Gabinete de Operações que,
ínformado dos patrulhamentos militares, coordenava a realização das acções
militarizadas. Assim, em ter.
3. Os regulados na zona de guerra.
4. Dispositivo militar português na zona de guerra. Março de 1968.
26
mos práticos, toda a movimentação destas forças, os seus itinerários e operações,
era coordenada centralmente a partir da cidade de Tete, de quem depen dia em
última instância, e só em casos de emergência e que elas passavam a ser
accionadas directamente pelas autoridades administrativas locais. Alem disso e no
âmbito dessa coordenaçao, os postos de PSP/ /Milícias começaram a ser
estabelecidos prioritaria mente nos locais onde não havia forças militares5.
Todavia, as perspectivas da abertura da Frente de Tete impuseram grandes
mudanças entre 1966 e 1968, sobretudo no tocante ao dispositivo militar, com a
reorganização do sistema de ocupação do território e o aumento de efectivos.
Assim, o mes de Março de 1968 vai encontrar o exército portugues em Tete
constituido por um contingente de tres batalhões mais algumas companhias,
obedecendo a uma lôgica de ocupaçao territorial determinada. De facto, o vasto
território do entao Distrito, denominado Sector F na organizaçao militar, estava
dividido em tres grandes regiões, os Subsectores, cada um deles sob a reés
ponsabilidade de um batalhão:
- O Subsector FFG, com sede no Fingoe e repre sentando uma área que ia desde a
fronteira ocidental até ao rio Capoche, e desde a fronteira com a Zâmbía até ao
rio Zambeze, defendido pelo Batalhão de Caçadores 1906 (que tinha vindo
render, em Fevereiro do mesmo ano, o Batalhão de Artilharia 1882);
- O Subsector FFR, com sede em Furancungo, cor respondendo às areas do
Concelho da Macanga e da Cir cunscriçao do Bene, defendido pelo Batalhão de
Caça dores 1890;
- O Subsector FTT, com sede na cidade de Tete e o mais extenso em área,
abrangendo todo o territó rio de Tete a Sul do rio Zambeze mais a Circunscrição
da Mutarara e os Concelhos de Moatize e Angónia, defendido pelo Batalhão de
Artilharia 1881.
No interior de cada subsector, as diversas com panhias em quadricula dos
respectivos batalhoes sedíavam-se nas localidades secundárias destacando,
por sua vez, pelotões para os restantes lugares e assegurando, atraves de
patrulhamentos determinados e planificados, o controlo da area que lhes estava
atribuida. Por vezes, o contingente de cada subsector era reforçado por
companhias exteriores ao bata lhão. Assim, para além das chamadas companhias
em quadrícula, a quem estavam atribuídas operaçoes de rotina dentro das
respectivas áreas, existiam compa nhias de reforço e companhias de intervenção,
chama das a uma área específica para participar numa operação particular, quer de
protecçao a acçoes de reor denamento populacional, quer assaltos a bases de
guerrilheiros e outras.
O tipo de ocupação do território efectuado pelo exército português era, assim,
essencialmente "admínistratívo", ou seja, ele estendia-se desde a cidade de Tete
até às mais pequenas localidades de uma forma vertical e regular, como se fosse
ele pro prio uma estrutura da administração. Ressalvando as particularidades
inerentes a cada uma das estruturas temos que, por exemplo, o pelotão
estacionado no Zo buè dependia da Companhia de Artilharia 1512 de Moa tize e
esta da sede do Batalhão de Artilharia 1881, em Tete, tal como, quanto a estrutura
da administra ção, o Posto do Zóbuè dependia da sede do Concelho, em Moatize,
e esta da capital em Tete. O paralelísmo não ressalta só no tocante à
"verticalidade" da estrutura mas também na homogeneidade da distribuição dos
contingentes pelo território: De uma forma geral, todas as sedes, postos e simples
localidades tinham um corpo militar la colocado, por mais peque no que fosse.
Tal forma de ocupação do território, que a pri meira vista pode parecer óbvia,
começa a deixar de o ser se atentarmos no facto que nem todas as regiões do
Distrito estavam "ameaçadas" no mesmo grau pelo desencadear da luta. Havia,
de facto, zonas onde a probabilidade de ocorrência de acçoes armadas era mais
elevada do que noutras, exigindo portanto a pre sença de maiores contingentes, ou
mais preparados,
ou pelo menos uma distribuição da ocupação militar que tivesse mais claramente
em conta tal factor. Além disso, uma malha homogénea, se fosse afectada num
ponto por acçoes armadas teria mais dificuldade em se reajustar, do ponto de vista
operacional, considerando as dificuldades existentes em termos logísticos e de
comunicações. Torna-se portanto interessante discutir as razões de tal situação,
estreitamente relacionada com a concepção global de defesa das forças
portuguesas.
A concepção global de defesa
As particularidades do Distrito de Tete assim como dos paises vizinhos, aliadas a
um conhecimento crescente das experíencias coloniais e dos textos clássicos da
guerra de guerrilhas 6 , assente na par tícipaçao popular, fizeram com que, durante
a década de sessenta, as autoridades portuguesas desenvol vessem uma concepção
e uma prática de defesa do ter ritório na qual a população tinha um papel central.
De facto, a consciencia do papel vital desempenhado pela população no quadro de
uma guerra de guerrilhas fez com que se generalizasse a idéia de que a vitória
seria de quem conseguisse conquistar as populaçoes para o seu lado. Dai a
conclusao dos Servi ços de Centralização e Coordenação de Informaçoes de
Moçambique (SCCIM):
"Essencial - e sempre - e a população. Lenine formulouees truturou toda uma
teoria da chamada 'manobra de aproximaçao indirecta', que Mao-tse-tung
actualizou e que outro alvo não visa senão a conquista das populações, porque é
este o terre
no em que se desenvolve a guerra subversiva"7.
Por um lado, portanto, pretendia-se, com a colaboraçâo activa da população,
"desmultiplícar" o esforço das autorídades, pondo aquela a actuar na defesa dos
interesses portugueses. Por outro, controlar a população sígnifícava,
simultaneamente, re tirá-la do contacto com os guerrilheiros e impedir
o crescimento da sua consciência anti-colonial. Nes ta linha, desenvolveu-se todo
um trabalho teorico, sobretudo a nível dos SCCIM. Em 1965, Ferraz de Frei tas,
numa obra editada por aqueles serviços8, expunha os conceitos centrais da teoria
do controlo da população, assente nos chamados "comandamento" e
"accionamento". Considerava que a acção de mandar assentava apenas na força
física e na intimidação por parte de quem manda. A esse conceito, limitado
porque condenado quando diminuísse a força fÍsica da autoridade, ele opunha o
conceito de "comandar", baseado na participação da população. Comandar, ou
dirigir, implicava portanto um conhecimento das for ças sociais para criar
condiçoes para a sua manipulação. Conhecer a população, "os seus interesses e
aspirações", era pois a unica maneira de se chegar a saber como aliciá-la, ou seja,
como "conquistarlhe as mentalidades". Paralelamente, um aliciamento bem
conseguido possibilitava o "accionamento", que era definido9 como o conjunto de
medidas destinadas a pôr a populaçao a trabalhar activamente na defesa da ordem
colonial, nomeadamente na detecção de guer rilheiros e no controlo das suas áreas
sob o ponto de vista da segurança.
Na sequencia e em concordância com esta perspectiva o Governo do Distrito vai
ter um papel de relevo, pois era a ele que cabia pô-la em prática. Em Abril de
1966, reunido com todos os seus adminis tradores de concelho e circunscrição, o
Governador do Distrito de Tete, tenente-coronel João Cecílio Gonçalves,
reafirmava a importância fundamental da população para ambos os contendores,
no cenário da guerra que se avizinhava. Segundo ele, tal importan cia para as
forças nacionalistas era comprovada pelo facto de todos os grupos de
guerrilheiros, por mais pequenos que fossem, incluírem nas suas fileiras um
responsável político com o papel central de "convencer" as populaçoes a aderir à
sua causa. Por isso ele exortava os administradores a abandonarem uma posição
meramente defensiva, caracterizada por
um- silencio político, e a lutarem pela supremacia no próprio terreno onde surgia
o desafio 10.
É curioso notar que apesar do apelo à luta polÍtica, o que se tentava edificar era
sobretudo uma tecnica - apurada mas, mesmo assim, apenas uma tec níca - de
combate a luta nacionalista. Incapaz de compreender a natureza popular da luta de
libertação, de compreender o facto do desenvolvimento da guerrilha poder
desembocar na acção não só de guerrilheiros vindos de fora mas sim da própria
população em armas contra a opressão colonial, esta análi se tinha apenas em
conta uma população inerte, esta tica, à espera de ser conquistada ou pelas
autorida des coloniais ou pelos guerrilheiros.
Assim, na mesma ocasiao, o Governador definiu a responsabilidade de cada
administrador na sua área de actuação: Conhecer as populações, as "forças ocul
tas" que as fazem mover, para com esse conhecimento se poder jogar,
manipulando-as11. Sobretudo os anos de 1966 e 1967 vão ser, neste contexto,
caracteriza dos por uma "obsessão antropológica": conhecer profundamente as
populaçoes, as suas etnias, as relaçoes do chamado poder tradicional. Dos níveis
provincial e dístrital chegam aos administradores pedi dos para que investiguem
os diversos grupos populacíonais da sua área de jurisdição para conhecer e
controlar a sua extensão, a sua eventual subordinação em relação a chefes
exilados ou fugidos, a sua receptividade face à acção das forças nacionalistas, a
sua extensão territorial e numérica, a sua influên cia nos povos vizinhos, o seu
grau de desenvolvimento sociál e muitos outros aspectos 12. Símultanea mente,
com as informaçoes recebidas, elaboram-se e distribuem-se cartas étnicas
detalhadas13.
Sempre na mira da sensibilização das autoridades locais, os SCCIM apontam
como exemplo da importancia da relação com a população um episódio ocorrido
trinta anos antes, em 1935, quando a administração local se incompatibilizou com
o Undí, chefe dos Acheuas, negligenciando a sua importância no seio
das populações e o facto de ele ser o herdeiro do fundador do Império Karonga.
O resultado foi a reti rada do Undi para a Rodésia do Norte, arrastando atrás de si
uma grande população e pondo em risco toda a relação entre a administração
portuguesa e as chamadas "autoridades tradicionais". Trinta e um anos depois, em
1966, os efeitos ainda se faziam sen tir na forma de regedorias desertas, nunca
mais reo cupadas desde então, e de regedores menores que, quan do investidos
pela autoridade portuguesa, argumenta vam sempre a necessidade de ir junto do
Undi, na Zâm bia, para que ele confirmasse a eleição. Tal fenóme no, que
abrangia areas tao vastas quanto a Marávia, Macanga, Máguè e certas zonas do
Zumbo, indicava cla ramente, segundo os SCCIM, o preço a pagar pelo des
conhecimento das relações do poder tradicional14. Lon ge de ser apenas teórica,
esta perspectiva vai ter seguimento com o desenvolver de complicadas técnicas e
praticas de recolha de informações e de manipulação da população, através da
Acçao Psico-Social.
A recolha de informaçoes constituía logicamente o meio privilegiado para a
obtenção de dados relativos ao conhecimento das populações e ao inicio das
acções armadas, essenciais portanto para a prevençao. Como a documentação
claramente mostra, a ím portância da actividade de recolha de informaçõesestá no
facto de todos os serviços lhe terem dedica do uma atenção especial. A situação
era, no entanto, muito complexa: os diversos serviços tinham os seus agentes e
metodos próprios. A Administraçao Civil, sobretudo a nível dos administradores
de posto, rea lízava actividades por iniciativa propria ou a pedi do de escalões
superiores, possuindo os seus mecanismos de contacto com as populações e os
seus agen tes fixos ou itinerantes15. A PIDE tinha tambem as suas delegações
regionais com os seus agentes locais, e coordenava ela própria as suas
informações. Estes a nível de terreno, portanto. Depois, os SCCIM,ani vel da
então ProvÍncia, com delegações a nÍvel distrital, processava as informaçoes civis
e militares,
produzindo boletins de diverso tipo e com cobertura variável. Havia ainda, claro,
os serviços de informações militares.
Todavia, a dificuldade residia, sobretudo, pre cisamente na articulação de
informaçoes com origens tão diversas, e também no tipo de informações produ
zidas, que tinha directamente a ver com o grau de inforniação e sensibilidade dos
serviços particulares. Para um administrador de posto que nao estives se
completamente informado sobre a problemática geral da defesa do territorio, por
exemplo, umanotícia referente a uma outra circunscrição que não a sua poderia
ser ignorada, por irrelevante para o seu trabalho. Um detalhe vital, no entender da
PIDE, por jogar com toda uma série de informaçoes, poderia pa recer uma
ninharia ridicula aos olhos de um guarda fiscal16. Uma falta de sensibilidade que
tinha, por sua vez, que ver com a propria falta de informação das estruturas. Por
outro lado, as informações veiculadas por escalões centrais como os SCCIM, se
ganhavam em articulação e em nitidez (ou "recorte", como se dizia), porque
recebiam "tudo de todos os lados", perdiam em oportunidade, pois a morosidade
burocrática da viagem dos papéis fazia com que, regra geral, chegassem atrasadas
e dissessem respeito a factos já conhecidos localmente ou acontecimentos que já
não se podiam evitar ou, ainda, cuja veracidade jâ não se podia investigar.
Todavia, era clara, para as autoridades coloniais, a necessidade de conhecer as
populações mas não de uma forma passiva. De facto, era necessario, segundo essa
perspectiva, o accionamento imediato, "fazer mover" as populações sob o seu
comandamento. Assim, em Março de 1966 divulgavam-se junto dos
administradores as experiencias do Governo do Distrito da Zambézia e do
Concelho de Mecanhelas, no Nias sa, no combate à infiltração dos guerrilheiros,
fazendo recurso ao accionamento das poptslações. Em Me canhelas é detectada e
neutralizada uma coluna de guerrilheiros em passagem para a Zambezia, por meio
de batidas organizadas por regedores e chefes de gru pos de povoaçoes, tendo-se a
administração limitado a um trabalho previo de mentalização e a cedencía de
cipaís armados, que deveriam actuar
sob as ordens
das "autoridades tradicionais"17.
Em relação a Zambezia, foram divulgadas operações destinadas a localizar
guerrilheiros mas que, curiosamente, tinham como
objectivos prioritários
não os guerrilheiros em si mas sim as próprias popu laçoes, o teste do seu
comandamento.
Por exemplo,
eram os seguintes os objectivos a testar numa delas:
"a) O papel primacial das populações na gjerra subversiva;
b) A imprescindibilidade da sua colaboraçao na detecçâo de
elementos subversivos;
c) A importância fundamental da exploração dos efeitos psico
logicos;
d) A vantagem do comandamento directo das populações;
e) A necessidade de as levarmos a vincularem-se a nos no com
bate a subversão, comprometendo-as aos olhos daquela"18.
NJo seguimento destes "testes" de comandamento também em Tete se fizeram
algumas experiências, nomeadamente na Circunscriçao da Mutarara, zona estra
tégica importante por ser atravessada no sentido Nor te-Sul pelo rio Chíre,
corredor natural de penetração para o centro, e no sentido Este-Oeste pela linha de
caminho de ferro que viria a abastecer o empreendimento de Cabora Bassa. O seu
administrador, juntamente com o Governador do Distrito, foi um dos defensores
de uma estratégia activa, afirmando que
"A melhor forma de conhecer as terras e as gentes é percorrê -las a~pé, atingindo
os recantos mais afastados em pequenas opera2oes de reconhecimento. Já
algumas realizámos, numa con jugaçao de meios da administração, Polícia de
Segurança Publica, OPV [OPVDC, Organização Provincial de Voluntários de
Defesa Civil], exercito e populações nativas (...). Falei aos regedores, combinando
com eles o ajuntamento das populações.
Uma vez reunidas, fiz-lhes ver a utilidade das batidas com o fim da sua própria
segurança. Uma semana ou menos é suficien te para a preparaçao de uma batida.
Os resultados dependem da surpresa da batida. Um destes resultados é o
comprometimento das populações; outro é o da intensificação do seu convívio
connosco, o que nos permite observá-las de perto. Na primeira batida, a titulo de
experiência, reunimos 30 homens; nase gunda 300. A finalidade desta grande
concentração era impres
sionarmos os indivíduos afectos à subversão"19.
Só na Mutarara, entre Junho de 1966 e Março de 1967, foram realizadas pelo
menos seis grandes operaçoes deste tipo 20, envolvendo a movimentação de mais
de mil pessoas. Baseadas na iniciativa local dos administradores e no seu quadro
de informaçoes, elas procuravam pôr em pratica o conceito de "coman damento",
assentando a "conquista da adesão das po" pulações" no "accionamento" destas,
ou seja, procurando ganhar as populações para a ordem colonial no decorrer do
processo de as por a lutar pela defesa dessa mesma ordem - simultaneamente.
Todavia, progressivamente este tipo de actividades, baseadas localmente,
começou a ser posto de parte a medida que a possibilidade de "confiar" nas
populações ia diminuindo, e que se ia impondo a necessidade de coordenar
melhor o aspecto da conquista das populaçoes com a estratégia global de defesa.
De facto, aos olhos das autoridades e a medida que o tempo corria, parecia
eventualmente cada vez mais arriscada a movimentação da população armada e
comandada (ainda que em parte) pelas suas próprias es truturas de poder. A
autonomia da população, consciente ou inconscientemente, era um risco.
Além disso, era necessário coordenar os proces sos que visavam a conquista das
populações, para el minar as incongruencias advenientes de eles ficarem
entregues exclusivamente à iniciativa local. Assim, foram reactívados, nos finais
de 1966, os Serviços de Acção Psico-Socíal.
Na verdade, os Serviços de Acção Psico-Social existiam já desde há muito.
Todavia, como coordenar implicava centralizar, a sua actividade manifestava
-se no pedido dei inquéritos e relatórios aos administradores e no envio de
brigadas pontuais para ac tuar sobre problemas específicos. Nunca se tinha
questionado globalmente o problema nem a forma de articular mais eficazmente
esses serviços, sobretudo com o aparelho da admínistraçao. O resultado era que os
administradores preenchiam de forma mecânica os relatórios trimestrais, que eles
encaravam como
mais uma obrigação burocrática. Os temas que consta vam nos formulários,
nomeadamente festivais de natu reza popular, sessoes culturais, sessoes de
cinema, festas escolares, assistência a necessitados, visitas as terras, regimes de
trabalho injustos e ilegais, processos viciosos de aquisição da lavra indi gena,
contra-propaganda e outros, eram frequentemen te deixados em branco, alegando
os administradores falta de meios para os desenvolver ou resolver. Af ir mava, em
1963, o Administrador de Moatize, a respei to da campanha de acção psico-social,
que a falta crónica de meios, para alem de impedir o desenvolvi mento daquele
tipo de acçoes, acabava por por em cau sa o próprio prestígio da adminístração,
dando dela uma imagem de incapacidade e de ínutilidade21.
Quanto à actuação das brigadas dos Serviços de Acção Psico-Social, é óbvio que
o seu número era li mitado, destínando-se a actuar nas zonas onde se de tectavam
"problemas". Tratava-se, portanto, de uma actuação mais "curativa" que
preventiva22, contraríamente aos seus princípios orientadores e, necessariamente,
com problemas de articulação com a estrutura administrativa que nem sempre via
com bons olhos estas intromissões nos seus domínios.
Pelo seu nível de centralizaçao e grandes meios requeridos, a reactívaçao da
Acção Psico-Social, fun damental no quadro do desenvolvimento de uma conce£
çao global de defesa que, como vimos, dava tanta im portancia à população, foi
um processo moroso. EmJa neíro de 1967 ela era tentada, ainda a nível central, na
então Lourenço Marques, pelo Governador-Ge ral José Augusto da Costa
Almeida que, em despacho de 25 desse mes, revia as chamadas "Normas para a
Actividade da Informação e Formação da Opinião Pública", estabelecídas em
1966, e criava o GIFOP [Ga binete de Informação e Formação da Opinião
Publica], dependente do Governo Geral. Destinava-se este Gabi nete a fazer o
"estudo e determinação dos métodos e sistemas de propaganda e contrapropaganda com vista a se accionar ou promover o accionamento da informação e formaçâo da opinião pública no sector da contra-subversão' 23.
Constituiam este Gabinete o Se cretário-Geral, que a ele presidia, o Director dos
SCCIM, o Sub-director da PIDE e um delegado do Gabi nete Militar do
Comando-Chefe das Forças Armadas.
Na sequência da criação do GIFOP, apelou-se aos distritos para que criassem
Centros Informativos, lo cais "onde se reunem diferentes meios visuais de ín
formaçâo em painéis, que devem ser acessíveis, atraen tes e virados para captar a
população". Estes Centros Informativos deveriam, priorítariamente, colaborar em
operações psicológicas lançadas e difundir notícias de interesse.
Subsidiariamente, poderiam ser usados para fins educativos como, por exemplo,
conselhos sobre higiene, assistência materno-infantil, técnicas de agricultura e
outros 24.
Paralelamente, na mesma altura e incentivada a emissão radiofónica, através da
Voz de Moçambique, de programas em changane, ronga, macua, chuabo, nian ja,
ajaua e swahíli, visando cobrir toda a então Pro vlncia, mas dirigidos sobretudo às
zonas de guerra. Ao mesmo tempo começa a ser distribuído, localmente,
equipamento para a realização de entrevistas e depoimentos, a serem incluidos
depois em filmes de propaganda25.
A estruturaçao da Acção Psíco-Social em novos moldes parece ter conduzido a
resultados pouco eficazes. Exigindo grandes investimentos de recursos humanos e
financeiros que o Estado colonial nem sem pre estava capaz de suportar, pretendia
apoiar-se num aparelho administrativo que nao tinha, de forma alguma, as
capacidades que, a partida, contavam que tivesse. Donde resultavam morosidades
burocráticas e avanços muito mais aparentes e formais do que aque les serviços
queriam dar a entender.
Além disso, pode-se dizer que a perspectiva que presidiu à reestruturaçao dos
Serviços de Acção Psi cológica se afasta dos postulados do "comandamento" que
preconizavam a conquista da adesão das populaçoes no decorrer da propria acção
de as movimentar
na defesa da ordem colonial. A perspectiva dos Centros Informativos e das
emissões de rádio, por exem plo, subentende uma população estática, cuja
consciência seria eventualmente "lavada" pelas mensagens produzidas.
Enfim, ela constituía mais um aparelhoa montar no Distrito, ou então mais um
encargo para as forças administrativas. Se tivermos em conta a fragíli dade do
aparelho administrativo na altura, compreen deremos porque a acçao psico-socíal
nunca chegou a extensas zonas de Tete nos anos que precederam o
desencadeamento da luta armada. Alem disso, o GIFOP veio aumentar o número
de estruturas destinadas a operar nesta area 26 sem a contrapartída de lhe dar uma
atenção especial no Distrito: Como e óbvio, sen do uma estrutura central, dava
mais atençao as zonas de guerra declarada como Cabo Delgado e Niassa. Assim
se compreende só em Julho de 1968 ter sido criada a COCAP [Comissão de
Coordenação da Acção Psi cológica], ôrgão centrado no Distrito, presídido pe lo
Governador dístrital e destinado a organizar esta area27. Tinha por objectivo
"trabalhar" as populaçoes sob controlo colonial ("impermeabílizá-las contra as
tentativas do exterior que visem submete-las, mas também ídentificá-las cada vez
mais com a nossa política...") e as populaçoes que estavam com os guerrilheiros.
Subjacente a toda esta estratégia dirigída para as populações estavam dois
aspectos que não foram ainda aqui referidos, mas que se afiguram
excepcionalmente importantes: um reordenamento populacional e um discurso de
desen-olvimento.
Um reordenamento populacional porque tal era o pressuposto de toda esta
concepção global. Agrupar uma população que ocupava o território de forma emi
nentemente dispersa, para poder por em pratica a es tratégia de defesa
preconizada, no sentido lato: pa ra mais eficazmente a poder isolar das forças
nacio nalístas, do ponto de vista militar, mas também para melhor dirigir a acção
psico-social e para melhor
concretizar o discurso do desenvolvimento.
O Governo do Distrito teve consciência da importancia do reordenamento
populacional na sua estratégia de contra-guerrilha. O aldeamento e tudo o que ele
pressupunha assentava, acima de tudo, numa filosofia de prevenção: impedir que
as populações contactassem com as forças nacionalistas, para que não fossem
"contaminadas". Assim, afirmava o Governador de Tete, em 1966, depois de
referira experiên cia de outros distritos da Província no tocante aos aldeamentos:
"As populações que fogem ao nosso controlo passamaandar sob o controlo do
inimigo que dispõe hoje ja na organização dos seus bandos de elementos
especialmente destinados a guardá-las e doutrina-las. Quando a guerra chega a
esta fasq,, temcs que ser nos a tomar iniciativa de as conservar e a unica maneira
de as segurar será o recurso aos aldeamentos onde as populações estao reunidas,
onde estão protegidas pelas forças de segurança. (...) Ora o aldeamento que
aparece aqui como uma necessidade, quando a guerra atinge esta fase, começa 12
go por ser uma solução desejável para quem queira actuar com antecipaçao.
Queremos dizer, se o aldeamento se há-de fazer mais tarde em recurso
improvisado quando porventura a situação se altera a ponto de tornar imperiosa a
sua existência, porque não fazermos antecipadamente o aldeamento das nossas
populações?"28
Sendo essencialmente uma estratégia de defesa, o aldeamento e apresentado a
populaçao com um discurso de desenvolvimento, destinado a "convencê-la". Um
discurso assente nas vantagens materiais advenien tes das populações se
posicionarem do lado das auto ridades. Só concentradas as populações poderiam
beneficiar de escolas, furos de agua, postos de saúde, cantinas, apoio a
agricultura, estradas para escoamento dos produtos agrícolas e outros. Por outro la
do, era evidente que integrar a produção camponesa cada vez mais no mercado
colonial, para além das van tagens decorrentes, significava simultaneamente um
esforço para atenuar as ligações económicas das populações com os paises
vizinhos, cuja implicação na segurança era evidente.
Porem, convém deixar clara a subordinação dos aspectos do desenvolvimento em
relação ao sentido
estratégico do aldeamento como solução de defesa mi litar por excelência29. Tal
como os demais elementos desta concepção global de defesa, também os
aldeamentos, teoricamente com um sentido de prevenção, acabaram por vir a
reboque dos acontecimentos da guerra. Assim, começaram a ser edificados não
para isolar as populações dos contactos com as forças na cionalistas, mas nas
zonas onde a luta armada ja se fazia sentir. A titulo de exemplo, vemos que nas zo
nas onde a guerra se iniciou, Maravia, Macanga e Be ne, os aldeamentos só
começaram a ser feitos em finais de 1968 e em 1969. Os motivos do atraso deste
processo, eventualmente decorrentes da escassez de meios materiais e da
perspectiva da "edificação dos aldeamentos com base no aliciamento e não na
força", defendida pelo Governador do Distrito 30, ficaram tam bém seguramente a
dever-se, em grande parte, à escassez das forças administrativas e da sua
implanLa ção no terreno.
É claro que a administração não podia, por si só, por em pratica este imenso
processo, cujo falhan ço poria globalmente em causa toda a estratégia de defesa.
Assim, a irrisória presença da administração, obrigada a controlar uma população
essencialmente dispersa num vasto território, simbolizada pe la presença de um
administrador de posto muitas vezes isolado em quilóuietros de extensão, foi
criando uma vocação (ou um destino) adminístrativa no exército. Ele vai ter que
estar em toda a parte, apoian do a administração na tentativa de concretizar a es
tratégia que lhe cabia e que ela, por si só, não con seguia levar a cabo.
Assim, também junto das forças militares trans parece, a cada passo, esta
concepção de conquista da adesão das populações. Como se pode verificar nos
"Planos de Actividade Operacional" das unidades militares, a sua missão principal
era:
"- Controle e aliciamento das populações (argumentaçãoejus tificação constantes
sobre a razao das populaçoes deverem es tar do lado do exército português e não
do lado dos guerrilheiros);
- Acção psicossocial;- Procura de informaçao;
- Reacção pronta e enérgica à noticia, informação ou ocorrên
cia concreta"31.
Neste sentido o exercito, longe de se remeter a defesa no sentido estrito, vai
envolver-se também em tarefas mais latas, integradas nesta concepção de de fesa,
desde o ordenamento populacional a construçao de estradas, passando pela
comercialização dos produtos camponeses e pelo apoio sanitário.
Portanto, a razão fundamental da dispersão do exército no terreno estaria
eventualmente ligada a incapacidade da administração em desempenharo papel
que lhe cabia na estratégia global de defesa, obrigando a que aquele viesse em seu
auxilio para desem penhar tarefas nao estritamente militares. Houve po rem outros
factores por detrás dessa dispersão mili tar no território, nomeadamente a
configuração geográfica do próprio Distrito de Tete, como vimos, as sim como a
dificuldade em prever o inicio e os locais das acçoes armadas.
Vimos anteriormente como a existência de fronteíras comuns com dois países
africanos era factor de preocupação para as autoridades portuguesas. Em relação
ao Malawi, a situação era aparentemente facilitada pela politica de boa-vizínhança
reiterada pelo seu presidente, o Dr.Hastings Kamuzu Banda, e pela existência de
redes de colheita de informaçoes em funcionamento desde os inícios da década de
sessenta, quer ao nível das autoridades malawianas, quer junto do aparelho da
FRELIMO ali instalado. Além disso, o facto do Governo malawfano fazer uma
grande identificação entre os seus "ministros rebeldes"
- Chiume e Chipembere primeiro, em 1965, e Chisiza depois, em 196732- e a
FRELIMO, constituiu mais um factor de tranquilizaçao das autoridades
portuguesas que conseguiram, ínclusivamente, um grande apro fundamento da
cooperaçao entre os dois lEstados no am bito da segurança. Todavia, perturbavam
tal estado de coisas o facto das autoridades malawianas não con
trolarem inteiramente o seu território no aspecto da segurança (podendo, portanto,
ocorrer movimentaçoes com o total desconhecimento daquelas), assim como a
intensa e continuada acçao de propaganda e conscien cializaçao popular levada a
cabo pela FRELIMO a par tir do territorio daquele país e incidindo sobretudo nas
regioes dos postos administrativos do Zóbuè e Caldas Xavier, no Concelho de
Moatize, e em toda a Circunscrição da Mutarara, nomeadamente no vale do rio
Goma e no Sinjal, em 1966 e 196733.
Em relação a Zâmbia, a situaçao era ainda mais delicada. Por um lado, tinha
muito em comum com a situação do Malawí. De facto, em 1967, numa altura em
que os organismos internacionais apelavam para o boicote a Portugal (não só pela
questão colonial co mo também pelo seu apoio a Declaração Unilateral de
Independência da Rodésia), a Zâmbia, pelo contrário, era obrigada a aprofundar a
sua dependencia, nomeadamente em relação ao porto angolano de Lobito3 4To
davia, a situação era agravada pela dificuldade de actuação dos serviços de
informaçoes coloniais. Tal facto, manifesto, por exemplo, pela escassez de
ínformaçoes a este respeito nos arquivos coloniais, em contraste com a abundante
documentação da mesma natureza respeítante ao Malawi, devia-se eventualmente
a ausencia de relaçoes economicas significativas entre o Distrito de Tete e a
República da Zâmbia, assim como à falta de controlo das autoridades colo niais
sobre as populaçoes das áreas fronteiriças. Depois, claramente que era a partir da
Zâmbia que começavam, em 1967 e 1968, a vir as incursoes armadas do
COREMO e da FRELIMO.
Em suma, para as autoridades militares tratava-se, portanto, de defender todo o
território de Tete a norte do rio Zambeze. Tarefa imensa que exigia a definição de
critérios que a simplificassem, critérios que permitissem privilegiar a defesa de
certas zonas em detrimento de outras, que permitissem contrariar a dispersão
homogénea do exército pe lo território. Para tal era necessrio, sobretudo,
aprofundar a ligação com as populações e o conhecimento das suas atitudes a
respeito da FRELIMO, por um lado, e por outro, desenvolver e aperfeiçoar o
sistema de informações respeitantes aos países vizi nhos e às intenções concretas
e detalhadas da FRELIMO.
Em relaçao ao aprofundamento das relações com a população, vimos já que é um
factor que emana directamente da concepção global de defesa. Para trabalhar
neste sentido era necessária a concentração de uma populaçao que ocupava o
território de uma for ma predominantemente dispersa, de modo a ser possível a
efectivação do chamado "sentido de presença, só concretizável através de visitas
constantes as pequenas aldeias dispersas, e da prestaçao contínua da de pequenos
benefícios, assim como da punição de outras aldeias, suspeitas de colaboração
com as for ças nacionalistas. Também - e sobretudo - para o exército, portanto, se
tornava vital o processo de reordenamento populacional dos aldeamentos.
Vimos atras que o exército não tinha critérios seguros para alterar a malha
homogénea com que ocupava o território do Distrito, forma de se preparar mais
concretamente, no terreno, para enfrentar a lu ta armada. Prova evidente disso e,
por exemplo, o "Plano de Operações Terra Quente", datado de finais do ano de
1967, e que fazia o balanço e traçava orien taçoes para o dispositivo militar
português no território35. Ali consideravam os comandos militares portugueses
como vias possíveis de penetração da FRELIMO, ou ínfiltrantes mais prováveis,
todos os percursos ao longo dos rios, com tantas alternativas quanto os rios
Aruângua, Meze, Luatize-Capoche, Mucumbuzi-Capoche, Muangadzi-Luia,
Vubué-Luía, Missale-Luia e, ainda, Ncombezi e Goma.
Tratava-se, portanto, tres meses antes das pri meiras acçoes armadas, de todo o
território a Norte do rio Zambeze.
5. Rotas possiveis de infiltração da FRELIMO segundo previsões do exercito
colonial em finais do ano de 1967.
Capitulo II
A FRELIMO E A PREPARAÇAO DA LUTA ARMADA EM TETE
O desencadeamento da luta armada em Tete constituiu o corolário de uma série de
acções levadas a cabo pela FRELIMO com o objectivo de alargar as zonas de
guerra, tendo em vista o fim último da liber tação do pais.
O segundo capitulo do presente trabalho preten de discutir as iniciativas tomadas
pela FRELIMO no âmbito da preparação da luta armada em Tete, assim como o
quadro conjuntural em que elas tiveram lugar, com base na documentação
colonial disponível. Trata
-se de uma tarefa mais delicada que a abordagem das forças coloniais a partir de
documentação da mesma natureza. Na verdade, não é difícil verificar que tal
documentaçao, carregada de ideologia, veicula a imagem que as forças coloniais
tinham do seu inimigo. Além disso, trata-se de uma imagem nem sempre
"nítida", nem sequer para as forças portuguesas, porque dependia essencialmente
dos elementos que os seus diversos serviços de informaçoes lhes podiam
fornecer. E tais elementos, como se poderá verificar, eram escassos, desconexos e,
muitas vezes, con tradítórios, nos anos que precederam o desencadeamento da
luta armada, compostos de interrogatórios, na maioria das vezes com base na
violência, de notí cas de rádio e jornais exteriores, de relatos de informadores.
Era fácil, neste contexto, projectar determinadas suspeitas, "confirmar" certas
teorias
arreígadas que depois a realidade mostrava serem ín fundadas. Os problemas
advenientes da complexidade desta situação eram agravados, como se viu, pela es
trutura burocratizada do sistema que produzia ou vei culava as informaçoes. Por
outro lado, e constítuin do o.factor mais importante, as forças coloniais, co mo
forças de ocupação, sabiam e sentiam-se "como o peixe fora da água":
"No caso particular da Provincia, o inimigo pode contar com uma facilidade
generalizada que lhe advem da sua própria iden tificação cultural e racica com o
meio; a enorme desvantagem
em que tal facto imediatamente nos coloca (...)1,
A forma concreta que tomou a luta armada de li bertação em Tete, a partir de
Março de 1968, dependeu em muito da situação política interna da FRELIMO, da
situação político-militar concreta nas outras frentes, da forma como ela reagiu
aos reveses de 1964 e 1965 em Tete, no quadro complexo que caracterizava
aquela região, e da estratégia que esses elementos permitiram traçar.
A situação politico-militar interna da FRELIMO
Em primeiro lugar, os anos de 1966 e 1967, a ni vel político-militar da
FRELIMO, foram marcados pela reunião do seu Comite Central em Outubro de
1966. Se bem que a maioria das questoes nela levantadas estivesse estreitamente
relacionada com as frentes de Cabo Delgado e Niassa, a análise efectuada e as
decisoes tomadas vieram a influenciar profundamente o prosseguimento geral da
luta, incluindo, obvíamen te, a preparação da frente de Tete, e com incidência no
trabalho do interior e na organização militar.
No ano de 1966 assistia-se à agudização da cri se interna da FRELIMO, originada
pelos problemas do exercício do poder nas zonas libertadas, ao embrião de novas
formas da luta de classes que ali começava a ter lugar, sob a capa daquilo que
ficou conhecido como o conflito entre os políticos e os militares.
Associadas a estes problemas estavam as díficuldades inerentes as estruturas
militares, inadequadas já para enfrentar o crescimento da luta.
Em Outubro de 1966, o Comité Central da FRELIMO concluiu que por detrás da
situação prevalecente es tava uma concepçao regionalista e tribalísta da luta, fruto
da fraca preparação política dos quadros do interior, pelo que decidiu intensificar
a sua pre paração política e, também, a sua formação militar. O Comité PolíticoMilitar então criado visava controlar todo o processo destinado a atenuar as
diferenças entre os quadros "civis" do DOI [Departamento de Organização do
Interior] e os quadros "milita res" do DD rDepartamento de Defesa], e a dar um
caracter unitário a lul2.
A reestruturação militar da FRELIMO
No ambito militar, a actuação do Comité Políti co-Militar, dirigido directamente
pelo Presidente Mondlane, procurava tirar ao DD o caracter de "mais um mero
Departamento", considerando que, na fase que se atravessava, era natural que a
vocação da Defesa fosse a da condução geral de toda a luta, uma vez que todas as
actividades da sociedade em processo de libertação eram condicionadas pelo
aspecto militar da luta. Em harmonia com esta evolução teve lugar a nível do
exercito uma grande reestruturação.
Até 1966 as frentes de combate estavam organizadas em regioes militares, com
um comando regional directamente subordinado ao DSD [Departamento de Se
gurança e Defesa]. Era o Secretário do DSD quem organizava toda a actividade
militar. A partir da reu nio do Comité Central de Outubro de 1966 teve lugar um
processo de reestruturação que conduziu a criação, em Abril de 1967, do
Conselho Nacional de Comando, dirigido pelo Secretário do DD que era
coadjuvado pelo Comissário Político do Exército. O aparelho superior do exército
foi dividido em doze sec
çoes: Operaçoes, Recrutamento, Treino e Formação de Quadros, Logística
(abastecimentos), Reconhecimento, Transmissão e Comunicaçoes, Informação e
Publicaçoes Militares, Administração, Finanças, Saúde, Comissariado Político,
Pessoal, Segurança Militar. Esta reestruturação abrangeu também as regiões de
combate - Províncias - onde foi estabelecido um sistema de organização do
exército paralelo à administração civil e profundamente interligado com ela. O
chefe militar provincial era subsecretário (ou se cretário) da província. Passou
também a existir um chefe provincial adjunto, um comissario político e um chefe
operacional3. Com o surgímento desta nova estrutura, que modificou
profundamente a situação or ganizativa do exército, quer a nível das zonas de
combate quer dos quartéis-generais, as comunicações melhoraram, tal como o
abastecimento e o recrutamen to. Da mesma forma, tornou-se possível fazer
planos militares mais ambiciosos4 .
A reunião do Comité Central de Outubro de 1966 iniciou a análise de uma crise
interna da FRELIMO que se iria agudizar e só terminaria com a realização do 119
Congresso, em 1968 5. Todavia, as medidas que ela adoptou, nomeadamente no
tocante a reestruturação militar, permitiram um aumento sem preceden tes da
capacidade combativa e, portanto, repercutiram-se profundamente nos
acontecimentos da abertura da Frente de Tete.
Os grandes objectivos da Frente de Tete
O antigo Distrito de Tete desde o inÍcio da lu ta que foi, potencialmente, uma
frente. De facto, tal como em relação a Cabo Delgado e Niassa, também Tete
tinha uma rectaguarda de moçambicanos no Malawi que cedo se ligaram à
FRELIMO para preparar, a partir de 1964, formas de luta armada na região.
Todavia, a incípiente organização militar, o fraco trabalho com as populaçoes no
interior, a posição do
Governo do Malawi, intransigente na proibição da cir culação de armamento
através do seu territorio, cons tituiram factores de fracasso da Frente em 1965, lo
go após a sua abertura6.
Seguiram-se então três anos em que a situação parecia aparentemente paralizada,
caracterizada pelas dificuldades de actuação do DOI e em que o COREMO
[Comité Revolucionário de Moçambique] figura mais na documentação
portuguesa devido à realização de acçoes espectaculares. Três anos durante os
quais a FRELIMO, o seu DOI e o seu exército, procuravam cres cer. Nesse
mesmo período o seu aparelho manteve-se no Malawi e, em certa medida, ate
cresceu, dentro dos limites que o Governo malawiano lhe permitiu. De facto, essa
presença era importante e nao poderia ser substituída por uma presença massiva
na Zambia, por exemplo, pois garantia uma rectaguarda da Frente do Niassa,
sobretudo do Niassa Austral, uma possibilidade de actuação na Zambézia e uma
ameaça cons tante à região da Mutarara, fundamental porque abria as portas para
o centro de Manica e Sofala e porque por ela passava a linha férrea BeiraMoatize, que iria ganhar uma significação particular.
Em paralelo, a FRELIMO procurava intensamente estabelecer-se na Zâmbia. É
natural que no inicio de 1966 tivesse prevalecido a idéia de descer pelo Nias sa
Austral através da região de Mecanhelas, para fa zer uma grande base central na
Zambézia, de onde a guerrilha irradiaria para Sul, para Manica eSofala, e para
Tete, no Oeste, evitando-se assim os obstácu los postos pelo Malawi e atribuindose, portanto, a Mutarara, via de penetração para Tete, mais uma razão de
importancia. Porém, as dificuldades de penetração por Mecanhelas e os desaires
ai ocorridos no princípio do ano, inviabilízando esta estratégia 7, terão reforçado a
importância atribuída a Zambia co mo via de penetração e rectaguarda da luta na
Frente de Tete.
Criadas as condiçoes de penetração, com um apa relho de actuaçao reactivado no
interior, com um
exército reestruturado, a FRELIMO poderia rapidamen te iniciar a luta em Tete.
Esse passo afígurava-se fundamental no quadro da estratégia global da luta de
libertação. De facto, a abertura de mais uma fren te iria aligeirar a pressão feita
pelas forças colo niais sobre as restantes, iria permitir que a FRELIMO chegasse
fisicamente junto de mais um grande numero de moçambicanos e, na frente
diplomática, daria uma idéia bem concreta do avanCo da luta de libertação.
Depois, uma sólida implantação em Tete permitiria a FRELIMO o
prosseguimento dos seus dois grandes objectivos estratégicos na região: ameaçar
a construção da barragem de Cabora Bassa e abrir uma via de passagem que
permitisse a travessia do rio Zambeze para atingir o Distrito de Manica e Sofala,
no centro do país.
Eduardo Mondlane, nos inícios de 1968, explica va ao jornal norte-americano
"The Sun" o significado estratégico do projecto de Cabora Bassa8, que ím plicava
a construção da barragem e a criação de uma extensa zona irrígada. Esta
permitiria a instalação de um milhão de colonos portugueses, segundo o projecto,
que além do desenvolvimento acelerado que ope rariam na região, que estava
dentro das perspectivas coloniais, constituiriam uma importante barreira à
penetração da guerrilha. Mais importante ainda era a internacionalização do
conflito que a própria construção da barragem .implícaria. Esta, com efeito, para
ser rentável, produziria energia também, e sobretudo, para a República da África
do Sul, que teria igualmente um papel importante no financiamento do projecto.
Uma vez construida a barragem era, por tanto, praticamente certa a presença
posterior do exército sul-africano na sua defesa. A FRELIMO procuraria, por isso,
impedir ou atrasar o mais possivel a construção do empreendimento, quer
sabotando a via férrea Beira-Moatize, por onde passariao gros so do equipamento
para o projecto, quer aproximando
-se o mais possível do local de construção, visando ameaça-lo militarmente.
Por outro lado, se o vale do rio Chire, atravessando a Mutarara, constituía a via
mais curta e mais favorável, do ponto de vista geográfico, para se atingir o rio
Zambeze, o que e certo e que o estrangulamento da zona, que poderia ser bem
defendida, e, sobretudo, os obstáculos criados pelo Malawi, tornavam impossível
o estabelecimento de um corrèdor seguro que conduzisse a Manica e Sofala. Era
necessaria, portanto, através da generalização da luta armada no território de
Tete, a criaçao de vias de penetração alternativas que permitissem chegar e atra
vessar o rio Zambeze.
Se tais objectivos se foram tornando claros nos anos de 1966 e 1967, eles teriam
também que ter em conta as forças que serviriam de base ao seu prosse guimento.
Seguramente que uma parte impdrtante dessas forças se encontrava estabelecida e
organizada no Malawi e na Znbia.
O aparelho da FRELIMO no Malawi
O Distrito de Tete foi sempre caracferizado por um extenso movimento migratóio
que originou o esta belecimento de comunidades moçambicanas relativamen te
importantes nas regioes círcunvizinhas. Se consi derarmos igualmente a afinidade
das populações fron teiriças, falando, em ambos os lados da fronteira, as mesmas
línguas, não é difícil concluir a relativa segurança com que os imigrantes
moçambicanos se integravam nos países vizinhos. Afectados, tal como a
população desses territórios, pela propaganda dos movimentos que ai lutavam
pela independencia, muitos moçambícanos que residiam ou visitavam a Rodésia
do Norte e a Niassalândía desde o início da década de sessenta que começaram a
integrar-se numa perspectiva anti-coloníal e independentísta. No caso da
Niassalândia, muitos moçambicanos chegaram mes mo a fazer campanha pelo
Malawi Congress Party do Dr.Hastings Banda, que reivindicava extensas zonas
do território de Tete, baseando-se precisamente no facto de se tratar da mesma
populaçao do futuro Malawi, de expressão chewa, nguni, lomue e yao, dividida
arbitrariamente pelas fronteiras coloniais9.
Neste quadro, Baltazar Chagonga, enfermeiro da Companhia Carbonífera de
Moatize, refugia-sena Nias salandia em 1961, e, com Evaristo Gadaga, forma a
UNAMI [União Nacional Africana de Moçambique Independente], organização
muito proxima do Malawi Congress Party do Dr.Banda, e que baseou o seu
recruta mento precisamente entre os moçambicanos imigrados no Malawi. A
UNAMI iniciou as suas actividades em Agosto de 1962. Limitada pela própria
origem dos seus dirigentes, o Presidente Chagonga e o Secretário-Ge ral Gadaga,
ambos originarios de Moatize, era nesse concelho do Distrito de Tete que
concentrava a sua actividade, definindo-se de uma forma míméticaem re lação ao
Malawi Congress Party. Tal como este, procurava a independencia através de uma
solução negociada com a potência colonizadora 10.
Todavia, entre finais de 1963 e inícios de 1964, a instalação do Comité Regional
da FRELIMO em Chile ka, arredores de Blantyre e, curiosamente, próximo da
residência dos dirigentes da UNAMI, veio alterar profundamente aquele estado de
coisas . De facto, a FRELIMO apresentava ja um projecto político radicalmente
diferente, na medida em que o seu 12 Congresso se havia referido à
inevitabilidade da luta armada face a intransigencia do poder colonial, estando, ja
nessa altura, grupos de moçambicanos a re ceber treino político-militar na
Argélia12. Assim, e embora o primeiro Comité Regional fosse composto por
menos de uma vintena de elementos, maioritariamente imigrantes moçambicanos
de Blantyre, foi inevitável a passagem de muitos simpatizantes da UNAMI para
as fileiras da FRELIMO13.
O Comité Regional começou com funções de enqua dramento de imigrantes e
refugiados e, apos a independência do Malawi, em 4 de Julho de 1964, desempe
nhou também o complexo papel de representar a FRELIMO
junto do governo daquele país. A independência levou o Malawi ao
estabelecimento progressivo de um "modus vivendi" com Portugal. De facto, a
grande dependêncda do Malawi, país interior, em relação aos portos portugueses
de Moçambique, impedia um apoio directo do Governo malawiãno à luta
nacionalista e foi ditando uma aproximação progressiva daqueleem relação ao
regime colonial e à República sul-africana. De qualquer forma, entre 1963 e 1965
a FRELIMO conseguiu algum espaço de manobra para crescer dentro do Malawi,
com a formação de "branches" - espécie de subdelegaçoes do Comité Regional de
Blantyre noutras localidades - baseados também em núcleos de imigran tes e
refugiados. Os primeiros surgiram em Chiromo, N'sange e M'lange, regiões onde
se concentrava gran de numero de imigrantes, mas também que demonstravam o
interesse da FRELIMO em criar estruturas nas zonas fronteiriças, para
acolhimento de refugiados e para apoio ao trabalho do DOI, visando, neste caso,
as re giões de Milange, Lugela e Morrumbala, e também a Circunscrição da
Mutarara. Igualmente a Ocidente, em Lílongwe, Chikwawa, Dedza e Mwanza,
surgem "branches" da FRELIMO14.
O crescimento do aparelho da FRELIMO no Malawi, apesar das restrições que o
Governo malawiano começava a impor logo após a independência daquele pais,
estava, em grande medida, relacionado com o clima de optimismo generalizado
que reinava entre os refugiados moçambicanos e que tinha a ver com a euforia in
dependentista do Malawi e com o proprio desencadeamento da luta armada,
levado a cabo pela FRELIMO em Cabo Delgado e Niassa. Era convicçao
generalizada, entre os refugiados moçambicanos, que apos a independência do
Malawi teria lugar a invasão da Zambézia e de Tete pelos guerrilheiros da
FRELIMO15. Nes te contexto, multiplicava-se o numero de aderentes no Malawi.
Rapidamente, a FRELIMO começa a criar condições para o inicio de acções
armadas no interior do territorío de Tete. Na segunda metade de 1964, a acção
do DOI, a partir dos "branches" de Chikwawa, Mwanza, Chiromo e N'sange,
incide sobretudo nas regiões de Moatize e Mutarara, atravês de contactos e
reunies 16, procurando recrutar elementos, edificar uma estrutura clandestina de
apoio e estabelecer depósi tos de mantimentos, armamento e munições - ou seja,
condições para a chegada dos guerrilheiros17.
Tal empreendimento foi facilitado pela agudização da crise interna do Governo do
Malawi que con duziu, no final do ano de 1964, à ruptura levada a cabo por um
grande número de ministros do gabinete do Dr.Banda. Por detrás desta situação
estava, entre outros motivos, o desacordo em relação a atitude do Malawi face aos
governos coloniais do Sul. Para os ministros Chipembere, Chirwa, Chíume e
outros, o Go verno do Malawi tinha a obrigação de dar um apoio muito mais
concreto e efectivo aos movimentos de li bertação, em contradição flagrante com
a dinâmica de aproximaçao que estava a ser imprimida pelo Dr.Banda,
nomeadamente através do estabelecimento de acor dos comerciais e de transportes
com Portugal18. Na sequencia da agudização deste conflito rebenta, em Janeiro
de 1965, uma insurreição armada liderada pe lo ex-ministro 4a educação Henry
Chipembere. É evidente que, politicamente, a FRELIMO estava mais pro xima
das suas posições que do regime do Dr.Banda. Além disso, no terreno, os
objectivos da acção mili tar eram os mesmos, nomeadamente o corte da ligação
ferroviária entre o Malawi e a Beira, para prejudicar o fundamento económico da
aproximação entre o Malawi e Portugal. A FRELIMO procurou, no entanto,
manter uma posição prudente. Todavia, colocavam-se uma série de elementos que
ligavam a FRELIMO aos cha mados "ministros rebeldes", alguns deles veiculados
pelos serviços de informaçoes portugueses que, pron tamente e por razoes óbvias,
os punham a disposição do Governo malawiano. Assim, ora se referia que os
contingentes de Chipembere estavam a ser treinados na Tanzania juntamente com
os guerrilheiros naciona listas moçambicanos, ora que se sucediam reuniões en 54
tre o Presidente Mondlane e os rebeldes malawianos, visando colaboração mútua
19.
O Governo malawiano tinha ainda razoes adicionais para apertar o controlo sobre
os movimentos da FRELIMO no seu territõrio. Coincidindo as areas onde se
movimentava a FRELIMO com as zonas de ínfluen cia da rebelião de
Chipembere, era-lhe extremamente difícil determinar, uma vez localizados grupos
de guerrilheiros numa região, se se tratava de homens de Chípembere ou da
FRELIMO. Assim, a capacidade de manobra da FRELIMO foi drasticamente
reduzida e a sua primeira (e única) acção militar, que ocorreu na Mutarara, no
Posto de Charre, em 23 de Dezembro de 1964, foi perfeitamente extemporanea e
não teve qual quer continuidade 20.
A tendência imediata do'Dr.Banda, nos primeiros meses de 1965 e ate ao
esmagamento da revolta que enfrentava, foi de reforçar a: cooperação com os ser
viços de segurança portugueses sobretudo nas areas fronteiriças, oferecend como
contrapartida à perse guiçao que aqueles moviam aoshomens de Chipembere, a
perseguiçao aos guerrilheiros da FRELIMO e a prol bição da propaganda antiportuguesa nas suas regiões fronteiriças21.
No fim do primeiro semestre de 1965 a revolta de Chipembere estava
praticamente controlada, com muitos dos seus principais elementos detidos ou exi
lados no exterior. Para a FRELIMO iniciou-se um perÍodo difícil e delicado,
durante o qual ela procurou manter-se no Malawi a todo o custo. Muitas das das
antigas razoes que a levavam a manter-se no Malawi continuavam válidas. Em
primeiro lugar, o Malawi continuava a constituir uma importante rectaguarda
estratégica para a luta armada, sobretudo na zona do Niassa Austral. Pela sua rota
continuavam a circular guerrilheiros e abastecimentos da Tanzania para as frentes
de combate22. Por outro lado, e ape sar dos reveses da Zambézia e de Tete, a
permanência do aparelho da FRELIMO no Sul do Malawi continuava a ser uma
garantia de enquadramento dos refugiados 55
e de recrutamento de novos candidatos a integrar nas fileiras da guerrilha, assim
como uma base fundamen tal para a penetração dos quadros do DOI na Zambézia,
na Mutarara, Moatize e Angónia.
Em Março de 1967, numa reuniao que terá havido entre o Dr.Banda e o
Presidente da FRELIMO, Dr. Eduar do Mondlane, ficaram estabelecidos os
princípios re guladores da actividade da FRELIMO no Malawí, sendo concedida
àquela liberdade para exercer a sua actívidade política junto dos refugiados, mas
sendo-lhe interdito imiscuir-se na politica interna do Malawi, assim como ter em
sua posse armamento de qualquer espécie. Todo o armamento existente no
Malawi deveria ser movimentado pelas autoridades daquele país 23. Obviamente
que a FRELIMO tinha que por reservas a es ta decisão, conhecedora da
cooperação entre as auto ridades malawianas e as forças portuguesas, no âmbi to
da segurança. Assim, as forças nacionalistas con tinuaram a movimentar
clandestinamente o seu material de guerra pelo pais, com a consequencia de
aumen tar a tensao já existente com o Governo do Dr.Banda.
Apesar de tu4o foi ainda possível alargar a im plantação dos "branches" do
Comité Regional do Malawí. No início de 1967, para além da sede em Blantyre,
existiam quinze delegaçoes da FRELIMO localizadas em Lilongwe, Dedza,
Nchínge, Ngabo, Chikwawa, Chiromo, N'sange, Cholo, M'lange, Malosa,
Ndirande, Zomba, Fort Johnston e Maguire24.
A malha das delegaçoes nacionalistas moçambica nas no Malawi indicava uma
tendência para reforçar a implantação na região Centro-Sul daquele paÍs, de
monstrando um reforço da intenção de actuar na Muta rara, no que respeita a Tete,
intenção essa frisada por declaraçoes a imprensa, nas quais se reiterava que a
Mutarara era a via mais curta para o centro do país25. Porém, eram já claros para
a FRELIMO os limites de tuna estratégia baseada principalmente no Malawi e,
assim, paralelamente aos esforços para permanecer naquele pais, assiste-se, desde
o ano de 1966, aos esfor ços para fazer da Zambia uma base sólida para a luta. 56
Nchinji
Lilongwe
a
*04
Dediza < EL Ncheu
f l*Mwa f Chikwaw
C
Zomba riza Blantyre
a
aMianje j Cholo
'
iiromot
*Nsange
6. 0 estabelecimento da FRELIMO no sul do Malawi em 1967.
330 oI
Não terão sido só as dificuldades postas pelo Governo do Malawi que levaram a
FRELIMO a reorientar as actividades preparatórias da luta armada, fa zendo-as
passar a incidir na zona Norte do Distrito de Tete. De facto, é natural que,
associada a elas, estivesse a conclusão, ditada pela experiência dos anos de 1964 e
1965, que nas regiões de Moatizee Mu tarara as dificuldades eram bem maiores
devido, sobretudo, a muito mais forte implantação das forças coloniais naquelas
zonas, à incipiencia, ainda, do trabalho de mobilização no interior e as
dificuldades com a rectaguarda do Malawi, já referidas.A fai xa setentrional de
Tete, da Macanga ao Zumbo, muito mais "abandonada" pelo Estado colonial, sem
vias de comunicação significativas, dava, associada a um tra balho em
profundidade por parte do DOI, muito mais garantias para o estabelecimento de
contingentes de guerrilheiros, mesmo tendo em conta as dificuldades que o
Governo zambiano pudesse eventualmente colocar.
Prolongando-se pelos anos de 1966 e 1967 correm, assim, insistentes, as
informaçoes dos serviços de inteligência portugueses, relativas ao transito de
guerrilheiros e armamento oriundos da Tanza nia que, penetrando no Malawi por
Sitima, atravessa vam aquele paÍs até à região definida por Nchinge, Namizana,
Lilongwe e, em certa medida, por Dedza26. Através da serra de Dzaranhama,
excelente região pa ra a edificação de bases guerrilheiras, ficava directamente ao
alcance a faixa do Concelholda Macanga entre os rios Luia e Luangua, confinante
com o Malawi.
A Zâmbia, rectaguarda da Frente de Tete
Também em 1964 a Rodésia do Norte se tornou na Zâmbia independente. Em
certo sentido, a Zâmbia punha à FRELIMO, problemas idênticos aos apresentados
pelo Malawí, na medida em que era, também, um pais interior que usava as
infraestruturas ferroviárias
58
e portuárias portuguesas, sobretudo da Beira e do porto angolano do Lobito. Esta
situação, reforçada pela Declaração Unilateral de Independência da Rode sia, na
medida em que lhe foi restringida mais uma rota de salda, determinou, tal como
para o Malawi, embora em medidas diferentes, uma certa ambiguidade no
relacionamento com as autoridades coloniais portuguesas. Todavia, as suas
posiçoes em relação aos movimentos de libertação eram mais positivas, como o
poderia provar o simples facto do papel desempenhado por ela junto do Comité de
Libertação da OUA, para o qual a Zâmbia era o terceiro maior contribuinte27.
Tal atitude positiva, muito clara no ambito in ternacional, tomava, internamente, a
forma de apoio aos refugiados e aos movimentos anti-coloníais de An gola e
Moçambique. Para eles foi criadx), em 1965, o African Liberatíon Centre, em
Lusaka, onde se concentravam não so os dois movimentos reconhecidos ofi
cialmente, a FRELIMO e o MPLA, como também o COREMO e a UNITA.
Concentrando as representaçoes dos movimentos em Lusaka, a Zambia pretendia
exercer um con trolo eficaz sobre a sua acçao, reforçado por uma série de medidas
como a proibição de se envolverem na política local ou de operarem entre os
imigrantes e refugiados da sua propria origem, além de serem impedidos de
organizar recolhas de fundos ou de via jarem para além de dez milhas fora da
capital sem as respectivas permissoes. O movimento de guerrilhei ros e
armamento era regulado por uma serie de medidas destinadas, no dizer das
autoridades zambianas, não a impedir a acção dos guerrilheiros mas sim a
minímizar os riscos para a segurança interna da República da Zâmbia. Assim, aos
guerrilheiros era con cedido o direito de passagem pelo pais em dírecção as suas
frentes de combate e a estabelecerem, nessas rotas, campos de transito. Além
disso, os guerrilheiros, uma vez penetrados nos seus próprios pai ses, eram
proibidos de regressar a território zambíano, visando tal medida impedir a
proliferação de
guerrilheiros armados no interior do seu território. Finalmente, aos zambianos
estava vedada a colaboração com as forças nacionalistas, para impedir tráfi co de
armas e influencias varias que poderiam origi nar instabilidade interna 28.
É claro que estas medidas não eram totalmente eficazes, na medida em que as
forças nacionalistas contavam com muitos apoios internos na Zâmbía, incluindo
por parte das suas autoridades regionais, da do que o Governo zambiano tinha
dificuldade em controlar zonas "remotas" do seu território, nomeadamente as suas
orlas fronteiriças. Assim, e apesar de toda a regulamentação restritiva, a posição
poli tica perfilhada pelo Governo da Zâmbia, de grandes reservas em relação a
Portugal, Rodésia e África do Sul, bastante diferente da do Governo do Malawi,
as sim como a sua solidariedade política com os movimentos de libertação, foram
factores que permitiram o estabelecimento confiante de uma rectaguarda sóli da
naquele pais.
Devido aos factos apontados, desde finais de 1965 que o estabelecimento da
FRELIMO na Zâmbia ganhou preponderância em relação ao do Malawi, com o
estatuto de representação e tendo como representante Alberto Sithole. A partir de
1966 e em 1967, no decorrer, portanto, da grande reestruturação do sec tor da
defesa e do DOI, essa preponderância acentuou-se: Em grande medida, era a
partir da Zâmbia que Mariano Matsinhe, nomeado responsável do DOI em Agosto
de 1966, dirigia todo o trabalho de preparaçao da luta levado a cabo pela
representação da FRELIMO na Zâmbia e pela sua delegação no Malawi29.
Transferindo a incidência da preparação da luta armada para o Norte do então
Distrito de Tete, a FRELIMO passava, no entanto, a ter que contar com uma
dificuldade suplementar que consistia na actuação dos diversos grupos
"dissidentes", nomeadamente o COREMO, bem implantado na Zâmbia e
efectuando incursoes no Norte do território de Tete.
O COREMO e os outros grupos "dissidentes" no Norte de Tete
O COREMO surgiu em Maio de 1965, em Lusaka, in tegrando elementos de
pequenos agrupamentos, tendo em comum o serem dissidentes da FRELIMO,
nomeadamen te as duas UDENAMO [União Democrática Nacional de
Moçambique ou do Monomotapa], facções Adelino Chito fo Gwambe e Paulo
Gumane, o MANC [Mozambique African National Congress] e a nova
MANU[Mozambique African National UnionI, além de outras.
A única pequena organização que teve um percur so independente do COREMO
foi a já referida UNAMI, de Baltazar Chagonga, sediada no Malawi, mas que, de
qualquer forma, acabou, em 1966, completamente instrumentalizada pela PIDE,
que aproveitou a perspectiva da obtenção da independência por meios paci ficos e
negociados, defendida por aquela organizaçao, para a usar contra os outros
movimentos, partindo do principio que era dificil as outras organi zaçoes
subsistirem nas zonas onde a UNAMI já estava implantada e procurando, assim,
manter o controlo sobre áreas do território sem ter que recorrer a meios
militares30.
As pequenas organizações existentes tinham, an tes de 1965, alguns contactos
internacionais e procuravam a formação de guerrilheiros e alguma implan tação
em zonas de Moçambique. Ao mesmo tempo, e curiosamente, reforçavam os seus
laços com outras organizaçoes da mesma natureza, oriundas da então Pro vlncia
de Angola. Assim, a UDENAMO-Gwambe teria pla neado uma acção militar, não
concretizada, contra a linha ferrea Beíra-Malawi, apoiada por Chipembere, em
coordenação com uma acção idêntica contra a linha férrea Lobíto-Teixeira de
Sousa, em Angola, que seria levada a cabo por outra organização recém-forma da,
a UNITA de Jonas Savimbí31. Por outro lado, a UDENAMO-Gumane tinha, na
mesma altura, o seu pequeno contingente militar em treinos em campos da UPA
[União dos Povos de Angola] de Holden Roberto, loca
lizados em Brazzaville32. Estas organizaçoes desenvolviam intensos esforços
para se estabelecerem, quer no Malawi quer na Zâmbia, na orla de Moçambíque,
de onde poderiam tentar acçoes, senão com continuidade pelo menos
espectaculares, forma, segundo elas proprias, de se fazerem notadas e
conseguirem apoio in ternacional. O ELINAMO [Exército de Libertaçao do Mo
nomotapa], auto-proclamado braço armado da UDENAMO-Gwambe, chegou
mesmo a desencadear um assalto a se cretaria do Posto Administrativo do Chire,
na Circunscrição da Morrumbala, Distrito da Zambézia, em Dezembro de 1964, e
que foi largamente noticiado na Tanzania, embora as consequências pareçam ter
sido mínimas33.
A tentativa de unificação destes pequenos grupos não era nova. Já em 1963 tinha
sido criada a FUNIPAMO [Frente Unida Popular Anti-Imperialista Afri cana de
Moçambíque], composta pelas duas UDENAMO, pela nova MANU e pelo
MANC, portanto uma especie de antepassada do COREMO e que teve curta
duraçao. De facto, este tipo de iniciativas dava lugar a lutas acesas pelo controlo
da nova organizaçao que se for mava, por parte 4os dirigentes dos pequenos
grupos.
Com a formaçao do COREMO muitas dessas questoes se repetiram, embora o
apoio prestado pela Zâm bia lhe desse outra garantia de sobrevivência. Para este
pais era claro que uma frente tinha mais hipóteses de levar a cabo uma luta
consequente do que di versos pequenos grupos envolvidos em questiúnculas
intermináveis entre si. Assim, embora as autoridades zambianas tivessem
recusado a UDENAMO o direito de operar na Zâmbia, não puseram, depois,
entraves a instalação do COREMO.
Embora constítuído em Maio, o processo de colí gação que deu lugar ao
COREMO arrastou-se por todo o ano de 1965 e so em Novembro o EREPOMO
[Exército Revolucionário Popular de Moçambique], seu braço ar mado, levou a
cabo a sua primeira acção numa aldeia da regedoria João, no Zumbo34. Como
resultado da re pressao que se seguiu, levada a cabo pelas autorida
des coloniais, milhares de camponeses da zona refugiaram-se na Zâmbia,
inviabilizando a continuidade daquele tipo de acçoes na zona.
Durante o ano de 1966, o COREMO tentou ainda, a partir de Mimosa, no Sudeste
do Malawi, realizar acçoes em Milange e Morrumbala, na Zambézia35, sem
consequências. Simultaneamente, constituiu depósitos de armanento na fronteira
entre a Zâmbia e Moçambique, em Petauke, Nyimba e Nsadzu36. Em 1967,
desencadeou então uma série de acçoes cobrindo, sobretudo, a faixa NQrte do
Zumbo e Marávia e, particularmente, a Macanga. Todavia, eram acções que,
embora espectaculares, não podíam-ter continuidade, quer devido aos problemas
internos resultantes da indef1 nição do inimigo, quer devido ao sistema de
guerrilha de foco adoptado. Assim, durante os anos de 1966 e 1967, vão-se
agravando os conflitos internos, que culminaram com a saída de Adelíno
Gwambe, que tentou, em seguida, formar o PAPOMO [Partido Popular de
Moçambique], e com a luta do Vice-Presidente do COREMO, Amos Sumane,
no início de 1968,.pela defesa de um "partido dos nacionalistas do Norte", oposto
aos militantes originários do Sul de Moçambique37. Sumane participou, pouco
tempo depois, na formação de uma nova organização, a UNAR [União Nacional
Afri cana da Rumbézia], que tinha o propósito de lutar pela independência do
territ6rio situado entre os rios Rovuma e Zambeze 38. Por outro lado e apesar de
tudo, o COREMO continuou, durante o ano de 1967, a intensificar a sua acção de
guerrilha, sobretudo na Macanga. Porém, as acções eram realizadas a partir da
fronteira, sem a preocupação de apoios no interior, resultando daí que os grupos,
embora fazendo acçoes espectaculares como a assalto a cantinas e o assassinato
de cantineiros, eram facilmente detecta dos e perseguidos pelas forças militares
coloniais. Assim escapou, por pouco, de ser capturadoo seu Pre sidente, Paulo
Gumane, e assim foi abatido, na mesma altura, em Fevereiro de 1968, o seu
Secretário dos Negócios Estrangeiros, Millíon Bobo39. O ataque
ao quartel de Furancungo, em Janeiro de 1968, constituiu a última acção
importante do COREMO. Em seguida agravou-se o processo de deserção dos seus
mi litantes, nomeadamente para as fileiras da FRELIMO.
Condições do desencadeamento da luta no interior
Os grandes objectivos a atingir pela FRELIMO com a abertura da Frente de Tete,
estavam definidos. Embora ela pretendesse alastrar o conflito, rapidamente, a todo
o território do Distrito, era preciso determinar, no entanto, por onde começar os
conflitos armados. Durante todo o ano de 1967 o esforço empreendido no interior
levava as forças coloniais a concluir que a FRELIMO visava, com igual
intensidade, quer a região de Mutarara-Moatize, quer a Marávia-Macanga, mais a
Norte, quer, ainda, o Zumbo, no extremo ocidental. Torna-se, portanto,
interessante prdcurar os factores que levaram ao desencadeamento da luta no eixo
do rio Capoche, entre a Ma rávía e a Macanga.
Vimos ja as razões que inviabilizaram, quase por completo, a acção na região
Mutarara-Moatize, apesar da importância desta, e que se prendem a política
malawiana, ao controlo exercido pelas forças portuguesas e a incipiência do
trabalho polÍtico no seio das populações. Quanto ao Zumbo, no extremo oposto,
tudo leva a crer que, até ao último trimestre do ano de 1967, tenha sido
considerado como uma das alternativas mais sólidas. De facto, apesar de ser uma
zona tradicionalmente visada pelo COREMO, a maioria da população que se
havia refugiado na Zambia, na altura dos acontecimentos de 1965, já estava de
regresso, e a presença portuguesa naquela região, a nível militar e administrativo,
como a nível do co mercío e agricultura, era praticamente nula40.Emto da a
região do Zumbo o exército português tinha ape nas instalada a Companhia de
Artilharia 1514 (cerca de cem soldados), do Batalhão de Artilharia 1882,
com um pelotão no Zumbo e outro no Puato41. Por isso, durante todo o ano de
1967 o Governador do Distrito referiu a necessidade de reforço militar nesta
região 42. Finalmente, e provável que na escolha da região ocidental do Zumbo,
junto ao rio Aruangua, também interviessem elementos mais gerais de apoio a
luta de libertação da África Austral, como a ajuda à abertura de um corredor para
os combatentes na cionalistas zimbabweanos se infiltrarem na Rodésia. Todavia,
essas perspectivas foram drasticamente goradas com a descoberta, pelas
autoridades coloniais, em Setembro de 1967, da rede de militantes e apoian tes da
FRELIMO na região do Puato, e subsequente cap tura de um depósito de
armamento que deveria servir de base ao desencadeamento das acçoes militares,
acontecimento de que a FRELIMO, no Zumbo, so se viria a recompor no decorrer
do ano de 1968 43.
A região de Marávia-Macanga, que depois passou a conter, também, a
Circunscrição do Bene44, foi, assim, nao propriamente a zona escolhida mas, das
zo nas visadas, aquela onde foi possivel continuar a desenvolver e aprofundar as
condições para o desencadeamento das acçoes armadas, ou seja, o trabalho com as
populaçoes e a edificação das bases guerrilheiras. É, assim, relevante o
conhecimento sumário da situação económica e das relaçoes políticas, fac tores
essenciais no desenvolvimento dos acontecimen tos nesta região.
De uma forma geral, a região Marávia-Bene4Macanga, localizada no grande
planalto d Marávia, en contrava-se a grande distância dos centros polÍticos e
económicos portugueses do Distrito de Tete. A quase total ausencia de
investimento colonizador limitado à presença da autoridade administrativa e de
escassos estabelecimentos comerciais, era acentuada pela inexistência quase
absoluta de vias de comunicação transitáveis todo o ano. Os relatórios de campo
das brigadas dos Serviços de Acção PsicoSocial coloniais45davam conta desta
situação em detalhe, e dos perigos que ela encerrava para a ordem
colonial. De facto, a generalidade das aldeias da re gião tinha grande dificuldade
na colocação da sua produção agrícola excedentária devido à ausencia de postos
de comercializaçao ou, onde eles existiam, devido, no dizer das autoridades locais
e dos produ tores, à "injustiça" dos preços praticados. Tal situação era ainda mais
aguda nas zonas de produção tradicional de culturas de mercado, como a região
de Vila Gamíto, produtora de tabaco. DaÍ resultava a tendêhcia crescente para,
ignorando as fronteiras, os camponeses procurarem colocar os seus produtos nos
mercados fronteiriços do Malawi e da Zâmbia. Con sequentemente, grande parte
dos escassos bens de con sumo tinha também origem no exterior e, ao longo dos
anos, foi-se acentuando um movimento migratório para esses paÍses, assim como
para as cidades da pró pria colónia, nomeadamente Tete e Beira. Ou seja, um
despovoamento e uma pauperização progressivos.
Dependência dos países vizinhos, maior na razão directa da proximidade das
fronteiras setentrionais, e pauperizaçao progressiva, eram factores que
dificultavam o controlo político por parte das autorida des coloniais. Aquele, até
pela capacidade relativa destas, era concretizado, a nÍvel local, de uma for ma
indirecta, através da figura do regedor. Era este que "desmultiplicava" a
autoridade do administra dor de posto, recebendo orientações daquele e exercendo
o poder a nível da sua regedoria. Assim, a au toridade colonial tinha que conhecer
os meandros po líticos da regedoria e norteava a sua acção tendo como referência
as caracterÍsticas do regedor ideal, na perspectiva da administração: fortemente
dependente da administração, ávido de adquirir a cultura e os valores da
nacionalidade portuguesa, pouco dependente dos chamados centros de
comandamento exter no, gozando de grande prestígio e autoridade junto das
"suas" populações, forte e saudável (na medida em que isso assegurava
estabilidade) e, na medida do possível, dentro dos requisitos de sucessão que lhe
conferiam legitimidade.
Ora um tal regedor era difícil de encontrar. Se era "amigo dos portugueses",
legitimo e com prestigio, como o Fifetine Chofombo, da regedoria Chofombo,
era, no entanto, velho e doente; ou tinha oposi tores de respeito, mais reservados
em relação a pre sença portuguesa, como acontecia na regedoria Chimuara; ou,
ainda, era considerado tÍmido e sem qual quer influencia junto das populaçoes,
como na regedoria Caduco, o que originava ser posto em causa pe los chefes de
grupo de povoaçoes, com opiniões nao coincidentes com as suas46. Na Marávia,
a situaçao era ainda agavada pela submissão generalizada a um forte
"comandamento externo", o Undi, localizado na Zâmbia, a que anteriormente já
foi feita referência.
O poder assim exercido, através de uma pessoa, tornava-se frágil na medida em
que, de um momento para o outro, toda a ordem colonial poderia ser posta em
causa, sobretudo numa região tão isolada como esta. Assim, por exemplo, o
Fifetine Chofombo, regedor de Chofombo, no Norte da Marávia, era consi derado
pelas autoridades peça-chave na contenção das chamadas "actividades
subversivas" que írradiavam do Zumbo. A sua morte, em Janeiro de 1967,
desencadeou uma grande luta pelo poder entre facções rivais e a situação
degradou-se rapidamente, na perspectiva da administração, passando a regedoria a
ser considera da como uma das mais receptivas ao trabalho polÍtico das forças
nacionalistas, que se moviam naquele território sem que nada fosse reportado às
autorida des portuguesas47.
Tudo isto significava que, numa situação de des contentamento generalizado, em
que a reserva ao colonialísmo vinha da situaçao concreta das populaçoes,
acentuada pelas idéias independentistas que uma relação estreita com os países
vizinhos favorecia, o trabalho político nacionalista que precedeu a luta, quando
chegava junto das populações e auto ridades tradicionais, podia, por si s6, p8r
profundamente em causa toda a ordem colonial e fazer com que a situação se
alterasse radicalmente num curto 67
espaço de tempo. Entre a segunda metade do
ano de
1967 e os inícios de 1968, a ordem colonial começou a desfazer-se como um
castelo de cartas, na regiao, num dramatico movimento de que a seguinte
passagem dá bem idéia:
,,( ... ) O regedor Cangombe cQlabora com a FRELIMO. (De notar que em Julho
de 67 nao contunicou às autoridades o avanço do terrorismo ao longo do rio
Capoche; (...) De salientar que este regedor é o sobrinho dilecto do Hundi e seu
presumivel herdeiro. Do grupo de terroristas da FRELIMO ora actuando no
distrito faz parte um irmão do regedor).
- O regedor Chimuara aderiu à FRELIMO e compeliu as suas p2
pulações a aderirem também (...)1,48.
Capitulo III
A ABERTURA DA FRENTE DE TETE (1968-1969)
Detivemo-nos anteriormente nos grandes objectí vos perseguidos pela FRELIMO
com a preparaçao da abertura da Frente de Tete, nas condições que rodea ram essa
preparação e na forma como as autoridades portuguesas encaravam o desenrolar
dos acontecimentos. Procuraremos agora as còndições decisivas que permitiram o
desencadeamento da luta e o seu prosse guimento durante o ano de 1968, assim
como os seus elementos estratégicos essenciais: a população e as bases de
guerrilha. Veremos, enfim, a reacção do exercito colonial e como tentou pela
últímavez, por volta de Setembro, resolver definitivamente o conflito. Aqui, mais
uma vez, se coloca o problema da prudência com que devemos encarar as fontes
coloniais escritas, na medida em que, por definição, o trabalho polÍtíco com as
populaçoes era clandestino e as bases de guerrilha inacessíveis. A informação que
chegava em primeiro lugar às autoridades era, assim, veiculada por colaboradores
e por infiltrados. A caracterÍstica predominante que resulta deste tipo de situação,
em relação à documentação, é, pois, o seu atraso. Atraso no conhecimento que um
grupo de guerrilheiros pernoitou numa aldeia ou que uma base se situava em
determinado local. Consequen temente, todo o encadeamento logico operado
pelos serviços de ínteligência coloniais realizava-se "a posteriori": quando uma
base de guerrilha era detec
tada, atraves do relato de um ínformador, do interrogatório de um prisioneiro e
sua sequente "explora ção" ou, ainda, por via de um raide aéreo ou de um
patrulhamento, ela já existia há algum tempo ou, até
- o que era frequente - já tinha sido abandonada, já tinha deixado de existir. Para
as forças coloniais, portanto, a nitidez era muito difícil de obter ou, se era
conseguida, era-o com atraso. Esta si tuação, como se pode depreender, causou
grandes díficuldades às forças coloniais, no seu esforço para compreender as
íntenções operacionais da FRELIMO.
Assim e curiosamente, as forças militares, na primeira metade do ano de 1968,
terão caído no mesmo tipo de erro em que haviam caldo as forças
administrativasI, procurando localizar as bases de guer rilha partindo do principio
que estavam fixas no ter reno e que destrui-las era destruir as forças da guerrilha.
A experiência mostrou-lhes, mais tarde, que uma base destruida ressurgia, pouco
depois, na mesma região e que, p3rtanto, era necessario visar antes os grupos
operacíonaís e as suas inter-relações organizativas, mais do que, propriamente, as
ba ses no seu sentido físico. Assim, e enquanto as for ças portuguesas procuravam
com afinco os parâmetros de uma guerra de posição, procurar-se-á mostrar que,
do lado da guerrilha, nada estava fixo e que, em Te te, entre os anos de 1967 e
1968, não chegoua haver uma zona de bases no sentido que Mao Zedong lhe atri
bui: se é certo que a tropa portuguesa, nesta altura, podia chegar a todo o ladò
com o recurso aos seus meios aereos, nao e menos certo que os seus objectivos
militares lhe escapavam por entre os dedos, quando encontrava palhotas vazias de
guerrilheiros que, avisados, tinham recuado, escapando às investidas coloniais.
A ligação com as populações
Na luta de libertação de Moçambiquea população
- o povo - sempre ocupou um lugar de destaque. Vi
mos já que no seio das forças portuguesas cedo foi abandonada a perspectiva de
encarar a população como mero espectador passivo da luta, considerando-se, pelo
contrario, que conquistar a população era essencial para ganhar a guerra, e esse
principio norteou grande parte da sua acção ate que, mais tarde, perdida essa luta,
se enveredou pela vingança e pelo massacre. Foi, portanto, a perspectiva da
popula ção como instrumento.
Obviamente que a ligação dos guerrilheiros nacionalistas com a populaçãb f9i
diferente, na sua na tureza. A FRELIMO, por definição política, afirmava
-se como movimento popular. Não iremos argumentar aqui sobre esse percurso de
identificação popular, que ganhou ímpeto com o 12 Congresso e as suas teses
sobre a inevitabílidade da guerra e da sua defi nição não só como luta contra o
colonizador mas, tam bem, contra a exploração. Pretende-se, antes, discu tir a
questão de como essa identificação com o povo foi essencial, do ponto de vista
operacidnal da guerrilha.
O ponto de vista original dos clássicos do mar xismo - Marx e Engels - sobre a
organização militar das massas oprimidas consistiu na necessidade de armamento
do povo, de armamento das massas revolucionárias. A FRELIMO concluiu este
princípio - co mo muitos outros - não só pela via da leitura ma atraves da sua
propria experiencia. Os guerrilheiros entrados pelas fronteiras nao vinham eles
pr6prios libertar o povo mas, antes, constituíam uma pequena vanguarda que, com
o povo, ia libertar o pais. Ques tão óbvia, se atentarmos que o início da luta foi
precedido por intenso trabalho político clandestino e que, desde o início tambem,
houve bases de treino de'elementos recrutados localmente para as fileiras dos
combatentes. Questão, também, que releva directamente da definição política do
inimigo e dos fins a atingir com a luta de libertação2. Um dos chefes guerrilheiros
que actuou na preparação e no desenca deamento da luta na regedoria Mucipo,
por exemplo, 71
era irmão do proprio regedor e acompanhavam-no outros familiares3.
Portanto, é clara a importância de uma unidade profunda com as populações
locais, do ponto de vista operacional: era a população que fornecia os seus jovens
que, apos uma curta preparaçao militar, iam engrossar os contingentes da
gúerrílha, à partida tão escassos. Era ela quem transportava o material, fornecia a
alimentação e punha as bases ao corrente da movimentação das forças coloniais.
O trabalho político que precedeu a luta era, pois, clandestino, e, portanto, muito
difícil de re constituir na documentação colonial. Contudo, a captura de
documentação, nomeadamente de diários de cam panha ou de correspondência
trocada entre combatentes, assim como os registos de interrogatórios, per mitem
uma idéia de como terão decorrido este tipo de acçoes. A formação do
destacamento de Chizame constitui um bom exemplo, na medida em que foi
possível reconstituir o seu percurso desde o inÍcio4. Nos pri meiros dias de
Fevereiro de 1968 este destacamento recebeu ordens para se estabelecer na
confluência dos rios Luatize e Capoche, região estrategicamente muito importante
porque iria constituir a frente mais meridional da luta em preparação, porque
assegurava a ligação entre Marávia e Bene, e porque ficava ao seu alcance o
aquartelamento militar e a vila de Be ne. Outras unidades estavam ja estabelecidas
no ter reno, nomeadamente no Noroeste da Marávia e na região de entrada do rio
Capoche em Moçambique. Provavelmente, os comandos militares dos
combatentes preten diam o estabelecimento de forças militares nas zonas
estrategicamente mais importantes para desencadearem, simultaneamente, as
acçoes armadas em diversos pontos. Quando o destacamento, chefiado por
Rudolfo Mendes5, chegou a região visada, a única facilidade que tinha era uma
pequena reserva alimentar e o con tacto com alguns elementos da população. O
mês de Fe vereiro passou-se em reuníões de mobilização com che fes de grupos
de povoações, notâveís e camponeses
das aldeias da zona, tentando os guerrilheiros explicar as razões do combate e
apelando à participação de todos na luta. Na mesma altura foi, tambem, possÍvel
enviar um grupo de voluntários a outra base atrasada (provavelmente a base
Mutarara), para trazerem armamento. No final do mes, o destacamento,
continuando as reunioes com a populaçao, iniciou uma acção de reconhecimento
mais vasta das zonas em redor e foi, inclusivamente, contactar o regedor
Cangombe, que conseguiu mobilizar. Pelo caminho, contactou o maior numero
possível de aldeias. EmMarço, o seu estabelecimento na região era já
relativamente sólido e pode receber a ordem de ataque ao aquar telamento militar
de Bene, que executou no dia 26 do mesmo mes.
Vimos já a relativa facilidade na mobilização das populações para a luta, a rapidez
que caracteri zou a adesão popular, que tinha, seguramente, a ver com as
condiçoes concretas vividas nas aldeias. Nes te ponto, e curioso notar as
diferenças de sensibilidade em relação ao que as forças portuguesas desi& navam
de "estado de espirito das populaçoes": as es truturas centrais como o QuartelGeneral em Nampula, face a crescente adesão popular a luta de libertação no
Norte de Tete, ou renunciavama qualquer análise ou concluiam que ela se devia a
um maior apoio do Malawi à guerrilha e a uma "viragem" da Zâmbia que, a
partir de Setembro de 1967, teria passado a manifestar uma atitude mais favorável
em relação a FRELIMO6. Todavia, tais conclusões nao se deviam à falta de
elementos prestados pelas =".z2idades mili tares locais, que, estas sim, viam
claramente no des contentamento popular a razao central da rapidez com que se
desenvolvia a implantação guerrilheira. São eloquentes os relatórios do comando
sub-sectorial de Fingoé a este respeito:
"(...) As AA [Autoridades Administrativas] nunca contactaram pessoalmente com
as populações nas zonas onde se desenrolam os acontecimentos por falta de vias
de comunicação, pelo aci dentado do terreno, arborização densa e distância aos
PA [Pos
tos Administrativos]. Mas é sobretudo a inexistência de elos materiais que faz
com que as pop [populações] debandem ao me nor sintoma de alarme. Ja foi
exposto por este comando o pro.
blema da inexistência de cantinas ou de outros meios para se conseguir o
escoamento dos produtos locais. Por outro lado é muito deficiente a cobertura
sanitária e escolar, dois assun tos que as populações põem como pretensões suas
as ADPA [Administraçoes de Posto] e as NT [Nossas Tropas] (...),,7
E o mesmo comando concluía, noutro passo:
"(...) Aproveita-se a oportunidade para mais uma vez referir que o problema das
populações (...) se agrava de dia para dia em virtude da falta de escoamento das
colheitas e inexistência de cantinas onde possa efectuar as suas compras, o que le
va as pop a olhar com total descrença quer as AA quer as NT"8
Neste contexto, um esforço de sensibilização para a luta bem estruturado,
poderia trazer - como trouxe -= resultados imediatos. No espaço de um ano, entre
1967 e 1968, a ordem colonial deixou pratica mente de existir na maior parte das
regiões da Marã via, Macanga e Bene. As primeiras zonas onde ocorreu uma
solida implantação da FRELIMO, nos inicios de
1967, foram as regedorias de Chimuara e Caduco, na Marávia, e Mucipo e
Cussarara, assim como Sabondo
(rgião de Vuende), na Circunscrição de Bene9.Emto das estas zonas a FRELIMO
contou com a colaboração de regedores ou, onde tal não foi possível (como no
caso de Cussarara), pelo menos com a colaboração de chefes de grupos de
povoações importantes. Logo em seguida vieram as regedorias de Chofombo,
Cachombo, Cantengo, Cangombe e Chamanga, na Marávia, esta última ja nas
margens do rio Zambeze, e Cassacatiza e Bene, na Circunscrição de Bene10.
Alguns regedores permaneceram, durante este ano, colaborantes com as
autoridades coloniais, como os de Mulirima, Manjanja e Caduco, mas tal não
impedia a grande agitação que ocorria nos seus territórios. Entretanto, nas re
gedorias vizinhas daquelas que as autoridades consi deravam já "afectadas",
começavam a aparecer panfle tos de propaganda e sinais de presença de
elementos da FRELIMO, efectuando reuniões e procurando sensibilizar os
camponeses.
Nas regedorias particularmente apoiantes dos combatentes, as forças do exército
português tinham grandes dificuldades em desenvolver a sua acção. Em primeiro
lugar, pela já referida dificuldade de cir culação devido a ausencia de vias de
comunicação. De pois - como frequentemente acontecia - porque os camponeses,
avisados da chegada dos soldados, abandonavam as aldeias e refugiavam-se no
mato, ou, simplesmente, quando contactados, remetiam-se a um mutismo
absoluto, recusando7se a fornecer informações. Finalmente, começou, em
Setembro de 1967, um proces so de abandono de aldeias inteiras por parte dos
seus habitantes, pela primeira vez assinalado na região de Bene1I.
O estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros
A luta de guerrilhas s6 pode ser levada a cabo duradouramente se houver uma
relação profunda entre os guerrilheiros e a populaçao, por um lado, e se es tiver
estabelecido um sistema sólido de bases de apoio, por outro. O princípio da
guerrilha, do ponto de vista militar, consiste em alargar o conflito armado a toda a
grande área ocupada pelo inimigo, convertendo em frente a rectaguarda do inimigo e obrigando-o a combater nas suas proprias zonas de ocupação. Segundo
Mao Zedong, tal principio nâo pode ser praticado e desenvolvido sem "bases
estratégicas nas quais se apoia a guerrilha para levara ca bo as suas tarefas
estratégicas assim como para atin gir os seus objectivos de auto-preservação e
expansão, e de aniquilamento e expulsao do inimigo"12.
A importancia das bases de guerrilha e, assim, um principio geral, comum a todas
as experincias históricas deste tipo de luta. Todavia, e exactamen te por ser geral,
a designação de "base" abrange rea lidades extremamente diversas, adaptadas a
situações concretas e variadas. De facto, é abissal a diferen
ça entre uma grande base central, fixa no território e composta por centenas de
guerrilheiros, por exemplo, e um pequeno refúgio onde dois guerrílheiros, cuja
missao e minar uma estrada, pernoitam.
Mao Zedong, relativamente a experiência da Chi na na guerra anti-japonesa,
tipíficava as bases em bases de montanha, de planície e dos rios ou estuários,
segundo a sua localização, e em permanentes ou temporárias, segundo o nível de
desenvolvimento militar e os imperativos estratégicos da guerrilha. Se tal
classificação parece óbvia, mais interessante se torna a análise, que ele faz, das
zonas de guerrilha e das condições para o estabelecimento de bases. Distingue as
zonas de bases, que o inimigo ja não contesta, as zonas de guerrilha, contestadas
por ambos os lados, e as zonas dominadas pelo inimi go. Neste sentido, o
objectivo da guerrilha seria de operar clandestinamente nas zonas do inimigo,
para provocar o levantamento e as converter em zonas de guerrilha, e, em relação
a estas, procurar aniquilar o inimigo para as converter em zonas de bases,
abandonadas já por aqueles 13.
Entretanto, e como atrás se referiu, procurare mos mostrar que no Norte de Tete,
entre 1967 e 1969, não houve uma zona especÍfica de bases, no sentido que Mao
lhe atribui, mas antes uma extensa zona de guerrilha onde foi possível estabelecer
bases eficazmente, devido sobretudo à ausência quase total de vias de
comunicação. É claro que uma tal' realidade obrigou a que as bases fossem
extremamente móveis no terreno e, em certo sentido, muito dependentes umas das
outras, constituindo aquilo que se poderia desi& nar por sistemas de bases. Assim,
cada umdesses sis temas era composto por um certo número de bases, com
funções diferenciadas mas formando um todo com um objectivo estratégico
determinado. Com todas as pre cauções e reservas, inevitáveis no estabelecimento
de uma tipologia baseada em documentação indirecta, pode-se dizer que,
normalmente, um sistema era composto por. uma base central, como que o núcleo
do sis
tema, que distribuía as orientações e ordens de batalha, e que canalizava as
informações do terreno de operações. Era nela, geralmente, que se processava a
instrução militar dos elementos recrutados local mente, embora houvesse também
bases com a função es pecifica de instrução. Normalmente, existia também uma
base de trânsito, para recepção de homens e material, localizada junto a fronteira,
e bases de se gurança e de guerrilha. Se existiam outros tipos, co mo por exemplo
bases de população, assim denominadas por se destinarem a proteger núcleos
populacionais, eram determinados pelas linhas de penetraçao, pela relação com a
população e pelas acções operacionais concretas.
Pelas limitações já referidas, torna-se difÍcil estabelecer a forma como esses
sistemas se implanta vam no terreno. Todavia, e natural que o primeiro propósito
fosse o de estabelecer, no terreno, uma estratégia geral previamente determinada.
No caso do primeiro sistema, este t'inha como eixo central de penetração todo o
vale do rio Capoche - portanto aquilo que as autoridades militares portuguesas
desig navam de "ínfiltrante central". Depois, a localização das bases do sistema
definia, igualmente, "subínfíltrantes": o Destacamento de Chizame, por exemplo,
levava, como vimos, a missão de estabelecer a ligação entre a Marávia e Bene, e
de ameacar directamente a vila de Bene. Por outro lado, e também evi dente que a
ligação com a população constituiaump2 deroso factor do estabelecimento de uma
base numa zona especÍfica: as bases tendiam a ser mais só1idas onde o trabalho
de mobilização popular tinha sido mais profundo e dado mais resultados.
De qualquer forma, o primeiro sistema de bases da FRELIMO em Tete surgiu, as
autoridades coloniais, já totalmente constituído e, mesmo então, elas tive ram
dificuldades em compreender que ele funcionava como um corpo único, como se
vera. Antes disso, so se refere vagamente a eventualidade da existência de'
depósitos de armamento, a movimentação de grupos de
guerrilheiros e o seu contacto com diversas aldeias espalhadas pelo território, sem
ser possível dai re tirar conclus6es sobre uma estratégia determinada. A confusão
da situação era acentuada pela deambulação de alguns grupos de guerrilheiros do
COREMO nas mesmas zonas (sobretudo Macanga e Zumbo), e pela con vicção,
por parte das autoridades portuguesas, que estes actuariam em coordenação com
os combatentes da FRELIMO. Em suma, as bases devem ter começado a ser
estabelecidas em meados de 1967, e a primeira infor mação sistematizada sobre a
sua existencía e articu lação só foi produzida pelos serviços de informações
portugueses nos fínais do mês de Março de 196814, quase um ano depois, e após
os primeiros ataques, que ocorreram a 8 de Março.
As razoes desse atraso são diversas. Em primei ro lugar, ele denota um trabalho
cauteloso por parte dos guerrilheiros e um significativo apoio popular: as
denúncias eram minimas, muitas vezes contra ditórias e não confirmadas. A
suspeita era a base de trabalho das autoridades coloniais neste dominio. Depois, é
importante notar que a intensificação das actividades de instalação das bases do
primeiro sis tema ocorreu nos finais de 1967, com o inicio da es tação das
chuvas15, que afectou as poucas estradas relativamente importantes, e cortou
praticamente to das as pequenas picadas, como ocorria todos os anos. Além disso,
como se referiu, era muito difícil destrinçar, de entre todos os movimentos
considerados subversivos, quais os levados a cabo pela FRELIMO. De facto, na
segunda metade do ano de 1967, sobretu do na Macanga, operaram grupos de
matrizes tão diversas como a propria FRELIMO, vários grupos do COREMO,
que só puderam ser neutralizados (e, mesmo assim, relativamente) no decorrer do
ano de 196816, um contingente de dissidentes malawianos comandados pelo exministro Yatuta Chisiza, que atravessoua Ma canga, a Angónia e Moatize em
Setembro-Outubro de 196717, e, ainda, grupos do PAPOMO de Adelino
Gwambe18, embora mais inclinados a actuar a oriente da
Macanga, além de outros que se reivindicavam da UNAMI.
Neste contexto, assaz confuso para as forças portuguesas, foi, portanto, possível
estabelecer, de uma forma praticamente clandestina, o primeiro sistema de bases.
Dentro dele, é natural que a primeira base estabelecida tenha sido Kauandama,
localiza da no triângulo formado pelos rios Duânguae Capoche com a fronteira
zambiana, na região onde aquele último rio entra no território de Tete. Dela pouco
se diz, para além de que era de pequena envergadura, que pouco variou de local e
que se destinava ao tran sito de guerrilheiros e equipamento da povoação de
Cassanto, na fronteira da Zâmbia, para o valedo rio Capoche19. Era, portanto, a
base de transito ou recepçao, e deve ter existido desde finais de 1967. Em Março
de 1968, o Governo de Tete referia"um gran de depósito de material no triângulo
definido pelos rios Capoche-Duângua-fronteira da Zâmbia, materiali zando-se
assim a anunciada intenção [da FRELIMO] de passar à luta armada no Distrito e
causando extraor dinário agravamento da situação''20.
Mais para o interior, dentro do triângulo maior formado pelos rios Luatize e
Capoche com a fronteira zambiana, localizada de inicio, provavelmente, nos montes Chuamba, estava a base central Mutarara. Apesar de não ter tido grandes
proporçoes - o seu efectivo, embora variável, era calculado, nos primeiros meses
de 1968, em cerca de 17 guerrilheiros armados e 15 em instrução21 - era ela quem
centralizava e distribuia os guerrilheiros e armamento vin dos de Kauandama para
o interior, quem distribuía as ordens de combate, quem assistia os feridos mais
graves no único hospital de campanha do sistema e quem comunicava com o
exterior via rádio, uma vez que era ela, igualmente, quem detinha o único apare
lho de rádio do sistema. O seu comandante era Ernes to Tembe (aliás Elias
Sambo), e nela se encontrava, normalmente, Antonio Manhanga, chefe provincial,
e Wassira, comissãrio político provincia122.
A base Mueda, com uma estrutura e envergadura
7. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada.
Março de 1968.
Cr
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8.~ ~~ Bae rniasd RL urneaoesv opier
semestre de16iMioAot)
idênticas às da base central mas dependente desta, começou por ser localizada
relativamente proximo de Kauandama, mas logo em seguida desceu, vindo a
situar-se, em Março de 1968, na região entre os montes Tarai e Camessongue,
relativamente perto da base Mutarara. Cabia-lhe, ao que parece, a função de base
de instrução principal23.
Na confluência entre os rios Luatize e Capoche ficava o chamado Destacamento
Chizame, a que anteriornente já foi feita referência, chefiado por Rudolfo
Mendes24, comandante da zona ocidental da Fren te de Tete, e, um pouco mais a
Sul, entre os rios Ca poche e Mevira, a base Quembo, formada por elementos
daquele destacamento, e que assegurava a acção de guerrilha na região da vila de
Bene, assim como o recrutamento de camponeses para a guerrilha, que enviava
para a base Mutarara, para instrução25A base Dzembe completava o dispositivo
do vale do Capoche, na sua margem direita. Situada relativa mente perto da base
central, junto aos montes Chuam ba, parece ter sido uma base de população, onde
se ministrava alguma instrução a novos recrutas. PossuÍa também uma escola com
bastantes alunos26
Na margem esquerda do rio Capoche, pertencendo ao mesmo dispositivo mas
actuando nas regiões de Be ne e Macanga, encontravam-se as bases de
Furancungo e Vuende. A primeira, base principal da Macanga, era chefiada por
António Canhemba, comandante da zona oriental da Frente de Tete, e situava-se
naconfluên cia dos rios M'pule e Chimbudzi, perto da vila de Fu rancungo27.
Finalmente, a base Vuende, formada por um grupo destacado da base Mutarara,
segundo as autorídades portuguesas, mas talvez proveniente da ba se Furancungo,
actuava na região de Vuende28.
Mais ainda que sobre outros aspectos se torna patente aqui a imprecisão das
informaçoes portuguesas. Tudo era vago: locais das bases, sua articulaçao e
organização. No aspecto da organização militar dos guerrilheiros, a confusão era
maior ainda. Segundo a PIDE29, a maior unidade era o batalhão,
composto por varias companhias, estas por pelotões formados por secçoes e,
abaixo destas, finalmente, os grupos, constituídos por cerca de três elementos. A
nÍvel do batalhão, ou da companhia quando destaca da do seu batalhão, existia um
comando com o respec tivo comnissário político. A base central ou provincial era
composta por um batalhão, as bases gerais ou operacionais por uma ou varias
companhias, as ba ses provinciais de instrução por uma companhia, as bases de
segurança por um pelotão. Finalmentê, as ba ses de populsção eram enquadradas
por um pelotão ou mesmo algumas secções. Todos, bem entendido, sem re ferir os
serviços de administração ou de logÍstica a eles inerentes. Contudo, trata-se de
uW conhecimento geral, independente das condições concretas do terreno, e
sabia-se da extrema capacidade de adapta ção da guerrilha aos cenários concretos
de operações. Como se concretizavam então estes princípios organizativos gerais
no dispositivo do vale do rio Capoche, que apareceu montado "de um dia para o
outro" em 8 de Março de 1968? Pouco se avançou neste sentido: Mutarara era a
baseocentral, Furancungo se ria, talvez, a base central da zona oriental e Mueda a
base provincial de instrução. Todavia, pouco mais se sabia, a começar pelos
efectivos de cada uma delas, sobre os quais as informações eram assaz con
traditôrías. A morosidade dos serviços de informações portugueses neste campo
denota grandes dificul dades em conseguirem obter informaçoes junto da
populaçãào. Por outro lado, e talvez decorrendo deste aspecto, a documentaçao
militar revela uma certa sub estimação dtste factor em favor da preocupaçaode lo
calízar fisicamente as bases. De facto, eram escassas as referências a aspectos
organizacionais das forças guerrilheiras, e quando eram feitas eram-no,
geralmente, de uma forma desprovida de rigor. Pelo contrário, qualquer
informação referente à localiza ção de umã base era imediatamente "explorada",
ou eram imediatamente pedidos detalhamentos. Tal distorçao táctica das forças
portuguesas, que predominau durante a fase de ofensiva da FRELIMO, no primeiro semestre de 1968,
revelava, talvez, falta de de sensibilidade sobre a natureza extremamente movel e
flexivel das bases. Na maioria dos casos reportados de destruição de bases, eram
destruídas apenas algumas palhotas porque os seus guerrilheiros ja ti nham
retirado para, dias depois, edíficarem nova ba se com o mesmo nome, proximo da
primeira.
A ofensiva da FRELIMO
Apesar das forças militares portuguesas estarem conscientes havia pelo menos
seis meses da iminência de acçoes armadas da FRELIMO, não conseguiram reagir
de imediato a ofensiva dos guerrilheiros, por diversas razoes. Este período cobre,
assim, o tempo desde que a FRELIMO tomou a iniciativa militar no terreno, em
Março de 1968, até à altura em que as forças militares portuguesas conseguiram,
com alguma eficácia, travar aquela iniciativa, seis meses de pois, a partir de finais
de Agosto do mesmo ano.
O desencadeamento da luta armada teve lugar por meio de duas operações
militares, a 8 e 11 de Março de 1968: um ataque ao aquartelamento militar de vila
Gago Coutinho e uma emboscada na serra Chimanto, ambos no Norte da Marávía.
No ataque ao aquartelamento e segundo as fontes portuguesas, entre 20 e 30
guerrilheiros armados com duas metralhadoras, uma bazuca, granadas de mao,
armas automáticas, morteiros e LGF (lança granadas e foguetes), fizeram fogo
durante 45 minutos30 sobre um pelotão da Companhia de Caçadores 1655, do
Batalhão de Caçadores 1906 (Subsector FFG)31. Na emboscada, realizada no
sopé da serra Chimanto, na margem direita do rio Chingom be e próximo da
povoação Piringo, um grupo não determinado de guerrilheiros emboscou uma
força adminístrativa constituída pelos administradores da Cir cunscriçao da
Maravia e do Posto de Chofombo, um guarda da PSP e alguns milícias do Posto
de Cassuende,
que se dirigia para a referida serra explorando informações sobre um
acampamento guerrilheiro32.
Foi grande o impacto destas duas acções, agravado pelo facto do Batalhão de
Caçadores 1906 ser recém-chegado ao Subsector FFG para render o Batalhão de
Artilharia 188233, e em escassos dias não podia ter controlo sobre o território
nem sequer uma idéia da situação de terreno. O próprio Quartel-General em
Nampula mostra bem quanto as forças milita res foram surpreendidas:
"(...) No dirito de Tete foi recentemente referenciada, em bora não identificada
por enquanto, uma estrutura militar ao que parece forte, da FRELIMO, que se
desconhecia e de que não havia indícios, o que vem determinar uma modificação
mais ou menos profunda nas possibilidades que se conferiam à FRELIMO
naquele distrito. Sabe-se da existencia de um Comando Operacional Provincial
responsável pela actividade no distrito e de pelo menos 4 BA [bases] (Mutarara,
Chizame, Mueda e Furan
cungo) (...),,34
Parece legítimo concluir que o facto do eixo de penetração coincidir com o vale
do rio Capoche colo cava díficuldades adicionais as forças militarespor tuguesas.
De facto, constituindo aquele rio a linha de demarcação entre dois Subsectores FFGe FFR e, portanto, entre territórios sob a responsabilida de de dois batalhões
distintos, era posta a prova a capacidade de articulação entre eles. Por outro lado,
o facto de se estar em plena época das chuvas, tornando impraticáveis quase todas
as vias de comunicação da zona, fazia com que fosse difícil e moro sa a alocaçao
de forças militares suplementares para as regiões onde a acção dos guerrilheiros
se começava a fazer sentir.
Colhido de surpresa, o exercito portugues tentou de alguma forma responder
àqueles dois ataques com as operaçoes especiais "Concorde" e "Strong", a 9 e
15 de Março respectivamente, com as quais con seguiu destruir dois
acampamentos sem, todavia, lograr encontrar guerrilheiros35. Mas a atitude das
forças militares era de espera, tentando descortinar a "intençao operacional" da
FRELIMO. Os guerrilheiros, por seu turno, ,rocurar-aam, durante o mês de Mar ço, tirar partido desta
situação de surpresa, desen volvendo a sua iniciativa e penetrando profundamente
no território. Na região dos primeiros ataques minaram as estradas, sobretudo o
itinerário que ligava vila Gago Coutínho a Cassuende36, procurando di ficultar
ainda mais a circulação e, portanto, tornar mais inacessivel o triângulo onde se
localizava a base Kauandama, e criar condições para descer para Sul, em direcçao
a Vila Vasco da Gama. Emrelação à região oriental, na área do Subsector FFR, os
ser viços de informaçoes militares portugueses debatiam
-se ainda com maiores dificuldades. Presumia-se que a entrada de guerrilheiros
para a zona de Bene e da Macanga.(região de Furancungo) se processava pela rota
Montes Mbizi-rio Mecumbuzi-río Chisiboe-rio Muan gadzi-Serra Sacari-Serra
Unanze-Furancungo37. Se bem que essa rota tenha sido provavelmente utilizada,
as forças portuguesas desconheciam ainda a capacidade do dispositivo de
Chizame, já referido, a partir de onde foi possível efectuar importantes acçoes que
as colheram, mais uma vez, de surpresa, nomeadamente o ataque à vila de Bene, a
26 de Março, com a destrui ção das pontes dos rios Luângua e Luia, nas suas
proximidades, e a flagelação do prõprio aquartelamento das forças da Companhia
de Caçadores 155638. Logo em seguida, a 29 do mesmo mes, foram emboscadas
forças militares na estrada Furancungo-Vuende9, começaram a aparecer engenhos
explosivos na mesma estrada40 e surgiram as primeiras atções na estrada que
ligava Furancungo a Tete41. Novamente a ocidente, na Marávia, teve lugar, a 2
de Abril, um ataque de grande envergadura contra a Vila Vasco da Gama e o seu
aquartelamento militar42.
Enquanto as forças militares procuravam locali zar as bases donde tinham origem
estas acções, come çava a tornar-se clara a intenção dos guerrilheiros. Tudo leva a
crer que o objectivo fosse paralizar as forças militares, nomeadamente através de
ataques às sedes das companhiasmilitares e pelotões, como
Vasco da Gama, Gago Coutinho e Bene, dificultando a sua saida para operaçoes,
e através do corte das principais vias de comunicaçao: Cassuende-vila Gago
Coutinho e Fingoé-Vila Vasco da Gama, na Maravia, e Cassacatiza-Bene, BeneChiúta, Bene-Vuende-Furancun go e Furancungo-Tete, na Macanga e Bene,
procurando isolar as sedes dos contingentes militares entre si e entre a região e o
exterior, enfim, procurando com pletar o trabalho iniciado pela natureza com a
esta !po das chuvas.
Por outro lado e num sèntido mais geral, torna va-se claro constituir o rio
Capoche a linha princi pal de penetração, apoiada por dois flancos largos a
ocidente e a oriente. A preocupação das autoridades portuguesas era agravada
quer pela tendência de progressão dos guerrilheiros para Sul, que parecia
imparável, quer pela possibilidade de alargamento dos dois flancos referidos. De
facto, a ocidente co meçavam a ser assinalados movimentos de guerrilheiros na
região de Zambué, no Zumbo, e a oriente era permanente a apreensão em relação
a possibilidade dos guerrilheiros poderem abrir uma frente sobretudo a partir da
Serra Salambídua (no Concelho de Moa tize), e de Mutarara, que conseguissem
ligar a Furancungo43. Um mês depois do primeiro tiro, o Coman do do Sector F
reconhecia que a situação militar em Tete era tão intensa quanto a de Niassa e
Cabo DelgadoÃ4.
Para além da ofensiva militar no sentido estri to, a verdadeira solidez do avanço
guerrilheiro estava na sua capacidade de mobilização popular. Na margem direita
do rio Capoche, as regedorias Chímua ra e Caduco eram consideradas pelas
autoridades coloniais como "completamente subvertidas", enquanto que Cantengo
e Cangombe estavam "seriamente afectadas". Na margem esquerda a situação era,
talvez, ain da mais aguda a este respeito, abrangendo as regedo rias Cassacatiza,
Mucipo, Cussarara, Bene, Manjanja e Mulirima. Foi feita atrás referência a esta
situa ção, que tendia a evoluir da simples agítaçã%opopular para a subtracção de aldeias inteiras à ordem colonial, cujos habitantes se
refugiavam em bases de população controladas pelos guerrilheiros, fora do
alcance das autoridades. Esta situação, que começou a intensificar-se a partir de
Maio, incidindo sobre tudo nas regioes de Gago Coutínho, por um lado, e de
Bene-Vuende, por outro45, era previsivel atendendo a que, isoladas e paralizadas,
as forças militares e administrativas coloniais tinham dificuldades cres centes em
assinalar a sua presença nas aldeias.
Maio de 1968 assinala assim, possivelmente, a entrada da estratégia ofensiva da
FRELIMO numa nova fase. A reacçao militar colonial, procurando locali zar e
neutralizar as bases, tinha uma contundencia muito relativa. De facto, das 14
operaçoes especiais realizadas visando bases de guerrilheiros, entre o inicio da
luta e o mês de Maio, s6 4 proporcionaram um contacto directo com aqueles. Nas
restantes, ou não se localizaram os acampamentos ou estes foram encontrados
abandonados46. Os sistemas de alerta, com postos de vigia ligados
engenhosamente às bases, muitas vezes através de fios presos a latas ou de
estafetas, a morosidade do avanço dos grupos de com bate do exército colonial,
faziam com que as bases já estivessem evacuadas a chegada daqueles, na maior
parte dos casos. A base Quembo, por exemplo, descoberta e destruÍda na
sequência do ataque de 26 de Março contra a vila de Bene, foi imediatamente
reconstruida a Sul, na confluência dos rios Menene e Capoche, continuando a
ameaçar a região de Bene elo calizando-se, desta feita, muito mais proximodo rio
Zambeze e de Cabora Bassa 47.
Mas a ofensiva, nos moldes que a caracterizavam, estava a atingir, de certa forma,
um limite. A estação das chuvas chegara ao fim. Apesar de terem decorrido
apenas três meses, em Maio a penetração era tão profunda que punha naturais
problemas de li gação com a rectaguarda e, portanto, de reabastecimento. Além
disso, se era relativamente viável a pe netração rápida ao longo do vale do rio
Capoche, on 88
de não havia presença colonial relevante, era mais difÍcil manter a largura das alas
oriental e ociden tal, à medida em que era feita a progressao. A manter-se o ritmo
de avanço no vale do rio Capoche, a frente corria o risco de "afunilar", tornandose mais vulnerável,ou - o que ainda era pior - de se isolar da rectaguarda. Além do
mais, era provavel que os problemas de reabastecimento tivessem ja começado a
fazer-se sentir48. Havia, portanto, razoes para suster o impeto do avanço da
frente, procurando-se antes consolidá-la atràvés do reforço da ligação com a
população, das acções de treino militar de cam poneses e da continuação das
operaçoes destinadas a dificultar o movimento militar colonial.
De inicio, o Comando Sectorial F interpretou esta mudança táctica como um
sinal de fraqueza dos combatentes. Para ele, a diminuição de actividade dos
guerrilheiros dever-se-ia provavelmente à inten sa perseguição movida pelo
exercito português,à pri são de regedores prestigiados e influentes, colaboradores
da FRELIMO, à quebra na cadeia de reabastecimentos, ao insuficiente apoio da
população e ao possivel desentendimento entre os diferentes chefes da
guerrilha49, ou, ainda, devido ao facto de estarem a aguardar ordens e instruções
superiores 50. Na verdade, tratava-se de uma perspectiva que subestimava os
recursos de que a FRELIMO dispunha no terre no. É natural que, apos tres meses
de incapacidade de resposta a ofensiva guerrilheira com um mÍnimo de^eficácia,
os comandos do exercito colonial estivessem desejosos de assistir à inversão do
sentido dos acontecimentos. Todavia, a evolução da situação nos meses de Junho,
Julho e Agosto seguintes levaram as autoridades a alterar progressivamente a sua
perspectiva. Nos finais de Junho, o mesmo Comando admitia que a FRELIMO
estaria agora a colher os fru tos das demonstrações de força de Março e Abril'
criando condições para a adesão das populações e pa ra o treinamento do pessoal
recrutado 51. Um mês depois, era a vez do Governo de Tete afirmar que
89
"continuando sistemática e presistentemente a sua acção, a FREL0IM vem
alternando períodos de intensa actuação com outros de quase nula actividade
operacional. Porém, habilidosa mente, aproveita estes últimos para efectuar os
seus aliciamentos e provocar movimentos de populações (...),,52
De facto, as operaçoes militares levadas a cabo pelos guerrilheiros e destinadas a
cortar as vias de comunicação, prosseguiam. Na Marávia, foi sobretudo a Norte
que se mantiveram as emboscadas e a mi nagem de picadas, visando
principalmente a que liga va Gago Coutinho a Cassuende, com grandes
emboscadas a colunas militares em 21 de Maio e 9 de Junho e, mais a Sul, na
regedoria Caduco, com um ataque à própria povoação Caduco e às forças da
OPVDC ali es tacionadas, visando cortar a estrada que, através de Chofombo,
ligava ao Fingoé53_ Para sacudir a pressão que estava a ser exercida pelo exercito
portugues, nomeadamente com as operações "Reacção"e "Aju da", os
combatentes começaram a mover as suas bases principais da margem direita para
a margem esquerda do rio Capoche54, criando simultaneamente condições para
apoiar a frentý de Furancungo-Bene-Vuende. Aqui, sempre com o objectivo de
cortar as vias de comunicação, foram intensificadas as emboscadas e a colocação
de minas nas estradas Bene-Tembué-Cassacatiza, Bene-Fingoé, Bene-Chiúta,
Bene-Vuende-Furancungo e Furancungo-Casula. A estrada que ligava Bene a
Cassacatiza, ameaçando a linha de reabastecimento da frente oriental, foi
duramente flagelada nos meses de Junho e Julho, e o próprio Posto de Tembue
ataca do, a 21 de JunhoSS. No dia 2 do mesmo mês fora ocu pado o acampamento
das obras públicas de Chiticula, desalojada a força de PSP/Milícias que o protegia
e destruIdas máquinas que trabalhavam na reabertura de picadas56, e no final do
mes os guerrilheiros rea lizaram dois grandes ataques ao aquartelamento da
Companhia de Caçadores 2358, no Bene. A 28 levaram ali a cabo um ataque que
durou sete horas e meia, em boscando simultaneamente a coluna militar que
regres sava de Caliramo, já junto da vila. Dois dias depois, um largo efectivo
guerrilheiro tornou a atacá
90
-la quase ocupando o quartel, salvo pela intervenção da aviação57. No mes
seguinte, por sua vez, foram flagelados a vila e o aquartelamento de Furancungo,
sede do Subsector FFR58.
Esta nova fase da ofensiva da FRELIMO constituiu, também, uma resposta à
tentativa de desalojar os guerrilheiros do vale do rio Capoche, criando ao mesmo
tempo uma alternativa eventual de rota de rea bastecimento para a frente oriental,
que descia o rio Muangadzi e era apoiada pelas novas bases Juromol e Beira.
Nesta frente, o recrudescimento das ac ções operacionais foi suportado por um
novo sistema de bases no qual Furancungo continuava a ser a base principal. A
rota que conduzia a Kauandama e à fron teira era, como se disse, apoiada pelas
bases Beira e Juromol (ou Chitequele). Na frente Bene-Vuende pro priamente
dita, estavam em ligação com a base principal as bases Antonio Enes, Rovuma,
Quelimane (base de treino), e Chingale, todas bases de guerrilha59, embora
também devessem ter tido grandes concentrações de população nas suas
cercanias. Tal hi pótese coloca-se devido à insistente referência ao
despovoamento sistemático e quase total das regies de Cassacatiza e de BeneVuende, sem que tivesse si do possível às autoridades coloniais detectar o ras to
das populaçoes, na maioria dos casos60.
Por outro lado, também o Norte da Marávia contou com uma proliferação de
bases para apoiarema ma nobra táctica. Ao lado do sistema do Capoche, centrado
nas bases Mutarara, Mueda e Kauandama, surgiram as bases Chíngombe, Rome
(ou Catcha), Aquissone, Maera (ou Boane), M'solola, Alfeu e Duângua61.
Também aqui foi feito um grande esforço para retirar populaçoes ao controlo da
administração colonial, nomeadamente na área de Vila Vasco da Gama e na
regedoria Cangombe, onde, em Agosto, se verificou o abandono generalizado de
aldeias por um largo número de populações62. Todavia, é muito difícil descor
tinar o sistema de apoio que permitiu a progressao para Sul, na zona ocidental e
no mês de Agosto, exac
tamente porque as forças coloniais nunca chegaram a ter um conhecimento
minimamente concreto desta situaçao. Era feita apenas uma referencia vaga a base
Menene, extremamente móvel, e a um dispositivo sõl do com "bom potencial de
fogo" ao longo dos eixos Capoche-Luatize63.
Em finais de Agosto, portanto, tanto a ocidente como a oriente do rio Capoche, a
frente tendia a ultrapassar a linha Fingoé-Bene-Vuende, aproximando se do rio
Zambeze. Contudo, e apesar do inequívoco apoio popular, começava a apresentar
algumas debili dades, nomeadamente a sua profundidade, ja referida, com as
dificuldades de reabastecimento inerentes, a tendência a enfraquecer-se o eixo do
rio Capoche, o que originaria, a prazo, o corte dalígação entre os sectores oriental
e ocidental, e o estrangulamento da rectaguarda na regiao do rio Duangua, apesar
dos esforços para a alargar, quer a ocidente na região de Cassuende, quer a oriente
na faixa entre Cassacatiza e Missale 64 . Por outro lado, o atra so na penetração
pelo Zumbo e por Moatíze-Mutarara Ia conduzindo a frente a um impasse.
A contra-ofensiva militar portuguesa
O mes de Setembro de 1968 assinala uma viragem no desenrolar dos
acontecimentos, e como que a ulti ma tentativa do exercito colonial para recuperar
to talmente o controlo sobre o território do então Dis trito de Tete. Dá início a um
período aqui designado por periodo da contra-ofensiva em que ele, efectivamente,
conseguiu inverter a tendência de progressão da Frente, que se vinha
manifestando desde Março, empurrando os guerrilheiros ate à fronteira
setentrional e colocando a FRELIMO numa situação de desiquiiíbrio, da qual ela
só se viria a recompor com o inÍcio da estação das chuvas, sensivelmente no final
do ano de 1968.
Digamos que em Agosto a direcção do exercito co
loníal, em Tete, constatava que tendia para uma situação de paralização completa
das suas forças e que, a permanecerem estas acantonadas na estrategia defensiva
que era a sua, não conseguiriam evitar que os guerrilheiros, a curto prazo,
atingissem o rio Zambeze e tomassem o controlo total de todo o Norte do
Distrito. Aumentar o efectivo estacionado na região era uma primeira solução
obvia, e tal foi feito com a alocação de um novo batalhão e a reestrutu ração dos
subsectores. Aos três existentes veio jun tar-se o Subsector FBN, ocupando a área
da Circunscrição de Bene e faixas a Sul e Norte da Marávia, pro vavelmente65
Por outro lado, o exército português procurou viabilizar as suas operações. De
facto, não eram so os patrulhamentos vulgares das tropas em quadrícula que se
tinham tornado virtualmente impossíveis devi do ao controlo que os guerrilheiros
detinham sobre as vias de comunicação. Também as operaçoes especiais bem
sucedidas se iam tornando cada vez mais raras. Quando um grupo de combate saia
para atacar uma base, por exemplo, e partindo do principio que conhecia
exactamente a sua localizaçao, tinha que percorrer grandes distãncías através de
picadas minadas e sofrendo emboscadas a cada passo. Depois, havia que
abandonar as viaturas e penetrar num mato que lhe era hostil. As populações com
que conseguiam deparar fugiam ou resistiam a dar-lhes qualquer tipo de
ínformaçoes, e quando chegavam perto do objec tivo, extenuados e tendo já
sofrido baixas, os soldados estavam tudo menos preparados para assaltar a base.
Esta situação era sintetizada da seguinte forma:
"(...) [A FRELIMOI conhece os nossos processos habituais de luta; sabe por onde
as NT se deslocam, o material quepossuem e e-lhe fácil furtar-se ao contacto e
provocar-lhes todaasé rie de contratempos, desgastando, enfraquecendo,
desmoralizando.
O problema, conforme se nos afigura, não está na maior ou me nor quantidade de
forças e num maior ou menor número de viaturas - [a FRELIMO] sabe como
actuar perante esta nossa apa rente força - mas sim na selecção de pessoal e
escolha apro
priada de meios.
~~~i Iqe Rgo
.) <kG
r ~I f%'IrIu
" aZ
.__.~ri : r.:o;:
ZI
n
Seemr
fio 1968
v.
s
*2
10. Operações especiais do exército português no âmbito da sua contra-ofensiva
de Setembro de 1968.
A táctica que [a FRELIMO] tem demonstrado nesta luta, diluin do-se no terreno,
segurando-se nos seus acampamentos com um sistema de vigilancia e alerta
eficazes, não é propícia ao em prego da massa de pessoal, que so se fatiga e sofre,
a todo o momento, emboscadas, armadilhas, flagelações, rebentamento de minas,
que ela, ardilosa e habilmente sabe implantar no
terreno"66.
Neste contexto, o novo tipo de operaçoes posto em prática pelo exército
coloni.ql», a partir de Setembro, caracterizava-se por contar com efectivos
menores e mais organizados, e, sobretudo, helítrans portados para os locais de
operaçoes, onde intervinham, igualmente, caças bombardeiros. Deste modo es
peravam os comandos militares tirar um rendimento
maximo do efeito de surpresa, evitando todos aqueles obstáculos anteriores e
imprimindo uma nova eficácia as operações.
"As operações deste tipo, dadas as possibilidades dos meios aéreos, conduzem
sem sombra de dúvida a resultados muito mais rentáveis, quer sob o aspecto
operacional quer pelo aspecto psicologico que exercem [sobre a FRELIMO],
sobre a população que com'ela vive, quer sobre aquela cujo estado de espírito e
dubio. (...) Ao contrário do que acontece normalmente, em que ao fim de 2 ou 3
dias já se encontram em condições físicas desvantajosas para atacar uma base ou
um Gr In [Grupo lni migo] ou reagir a uma emboscada, estas operaçoes permitem
que tropas frescas sejam empenhadas nestas acções sem aquelegran
de factor desmoralizante"67.
À preparação deste novo tipo de operações veio juntar-se um elemento vital para
que elas pudessem realizar-se: o conhecimento de importantes dados so bre a
estrutura da FRELIMO e suas bases e efectivos, sobretudo a oriente do rio
Capoche, nas regiões de Bene e Cassacatiza68.
No início de Setembro, a Companhia de Caçadores 2350 desencadeou, a partir
de Tembué, a operação "Mãos Dadas" sobre a base Beira, que foi encontrada
abandonada mas que destruíram e onde puderam capturar importante
documentação sobre o dispositivo guer rilheíro na região 69. Dias depois teve
lugar uma ope ração idêntica, denominada "Salado", desta feita so bre a base
Quelimane, com idênticos resultados, mas
no decorrer da qual a tropa colonial experimentou maiores dificuldades, tendo
inclusivamente sido aba tido um dos seus aviões nos arredores da referida base70.
Estas primeiras operações constituíram como que um preâmbulo, visando já
objectivos importantes mas servindo ainda como uma espécie de teste de efi
cácia. Elas mostraram de imediato que, apesarde pro porcionarem ao exercito
português a recolha de importante informaçao e a destruição de instalações
físicas, não permitiam o efeito de surpresa completo e, portanto, o confronto
físico e o aníquilamen to de guerrilheiros. O sistema de alerta destes estava bem
montado e funcionava instantaneamente. Aban donando as bases imediatamente
antes da chegada dos grupos de combate portugueses, os guerrilheiros
estacionavam em seguida perto delas, refazendo-se rapidamente e, portanto,
minimizando os estragos que as incursões pudessem causar71. A experiência
assim obtida pelo exército colonial conduziu a preparação da série de operaçoes
"Equator", cujo principio era aproveitar mais intensamente o efeito deý surpresa,
procurando explorar todas as informaçoes obtidas com incursoes simultaneas
sobre o maior numero possível de bases e considerando que, mesmo que não fosse
pos sível surpreender os guerrilheiros em todas elas, pelo menos conseguiriam
afectar as lígações entre as bases, remetendo os guerrilheiros para uma posíçâo
defensiva. Em 17 de Setembro executou-se a operação "Equator Alfa", constituída
por unia série de golpes de mão às bases Rovuma, Antônio Enes e Queli mane
(esta última reconstruída prõximo do local onde tinha sido destruída
anteriormente). As duas pri meiras encontravam-se já abandonadas mas na última
capturaram três guerrilheiros, muita população e ar mamento72.
Simultaneamente, a operação "Equator Bra vo" visou novamente a base Beira
com o objectivo de pressionar o corte da ligação entre o eixo Bene-Vuen de e a
rectaguarda, no triângulo do rio Duângua73. Dois dias depois teve lugar a
operação "Equator Char lie", com golpes de mão às bases M'solola, Duangua,
11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guerra. Abril
de 1968.
98
12. Dispositivo paramilitar c. :..al na zona de guerra em Setembro de 1968:
aumento generalizado dos contingentes.
99
Mutarara e Juromol (ou Chitequele), no vale do rio Capoche e dentro do tringulo
formado por este e pe lo rio Luatize com a fronteira, para dificultar o apoio que
esta rectaguarda pudesse eventualmente dis pensar à região Bene-Vuende.
Integradas na mesma ope raçao, foram também desencadeadas acçoes de destrui
çâo de "meios de vida", ou seja, todas as machambas e celeiros encontrados, com
o intuito de impedir a sobrevivência de guerrilheiros e populaçôes na região74.
Em Outubro e Novembro seguiu-se uma série inten sa de operações do mesmo
tipo, visando as regiões referidas, nomeadamente com o regresso a bases ante
riormente destruídas, e cobrindo todo o vale do rio Capoche com incidência na
região dos rios Menene, Me cumbúzi (Sul) e Nhimbe, onde suspeitavam existir
um dispositivo da FRELIMO ainda desconhecido 75. A ofen siva culminou com a
operação "Garden" sobre a então recém-formada base Capoche, constituÍda
eventualmen te por contingentes retirados de bases anteriormente atacaáas76.
A contra-ofensiva colonial provocou poucos recontros com os guerrilheiros, se se
tiver em conta o aparato dç que se revestiu e a envergadura dos meios accionados.
De facto, das 37 operaçõés especiais empreendidas entre Setembro e Novembro
de 1968, apenas 5 reportaram baixas de guerrilheiros77. Toda via, cumpriram
com o seu objectivo estratégico na me dida em que cortaram a ligação entre a
rectaguarda e a frente Bene-Vuende-Furancungo, que era assegura da pelas bases
Juromol e Beira, e controlaram a linha de fronteira, Cassacatiza-Vila Gamito, para
pre venirem a eventualidade do surgimento de rotas alternativas de
reabastecimento. Além disso, atingiram duramente todo o vale do rio Capoche,
aniquilaram o dispositivo de bases em Bene e atingiram seriamente o dispositivo
recuado do Norte da Marávia, procurando dificultar o apoio de rectaguarda à
região de Vila Vasco da Gama. Cortada a ligaçâo entre as frentes oriental e
ocidental da FRELIMO, inter100
rompida a ligaçao entre os dispositivos avançados e a rectaguarda, apenas
restaram duas bolsas, nas regiões de Vila Vasco da Gama e do Vuende, que
tendiam a ser totalmente aniquiladas.
É natural que o problema central dos guerrilheiros fosse a dificuldade de
reabastecimento, a ausência de reforços em soldados e equipamento 78. De
qualquer forma, dada a violência e a rapidez da con tra-ofensiva colonial, ficaram
com pouco espaço de manobra para reagir. A ocidente, tentaram passar pa ra Sul
de Vila Vasco da Gama, dando continuidade a uma pressão que se vinha sentindo
desde Julho e que já tinha originado o abandono pela população de gran de
número de aldeias da região79. O comando militar colonial considerava que a
continuação desta pressão visava proteger o avanço no eixo do rio Capoche,
dificultar as comunicações entre Fingoé e Bene e dispersar a tropa colonial numa
altura em que se pro curava concentra-la, no quadro das operaçoes especiais 80.
De qualquer forma, o apoio de rectaguarda tinha-se tornado virtualmente
impossível apos a ope raçao "Equator Charlie" e outras que se seguiram. A
oriente, os guerrilheiros foram obrigados a retirar para Norte, na sua maioria,
"deixando a descoberto" um grande numero de populaçoes, segundo a terminolo
gia colonial. Populaçoes que, na esteira das operaçoes especiais, o exercito visava
capturar ou pressíonar por diversos meios a sua apresentação junto das
autoridades administrativas e militares. Datam desta altura as primeiras
experiências concretas de formação de aldeamentos em Tete, visando a população
da região Bene-Vuende. Para trás ficava o cortejo de horrores trazido por estas
operaçoes especiais, sob a capa de designações como "destruição dos meios de
vida" (destruição de machambas e celeiros que impli cava o prolongamento da
fome), ou"aniquilamento dos apoios da guerrilha". Situação sintetizada por uma
jovem que em Fevereiro do ano seguinte escrevia ao Administrador da Macanga,
procurando por familiares: "A minha família foi toda atingida pelos helícópte101
ros que queimaram essa Macanga (...), a minha família foi encontrada no mato,
sem roupa e sem vida ( . .),, 81
A FRELIMO retoma a iniciativa
A alteração do curso dos acontecimentos a partír de Setembro de 1968, mais do
que uma crise de crescimento da frente, sígníficava que o exército co lonial tinha
encontrado uma forma mais eficaz de reagir a progressão da guerrilha. De facto,
ate essa altura a FRELIMO vinha manifestando capacidade de conquistar cada
vez maior número de populações para a luta de libertação e não tinha cessado de
progredir para Sul. Porém o exército colonial tinha conse guido, repentinamente,
resolver o problema da colocação de forças nas zonas críticas em prazos muito
curtos, através do uso de meios aéreos, e isso tinha desíquilíbrado a tendência de
evolução da guerra. No essencial, o exército colonial havia concretizado o
principio do "número napoleónico", conseguindo obter a superioridade numérica
em cada recon tro de forças específico82. Toda a sucessão destes recontros visava
a manutenção da ofensiva para a con cretização da estratégia militar colonial que
consistia em fazer recuar os guerrilheiros para lá da fronteira setentrional com a
Zâmbía.
Apesar da propaganda colonial, segundo a qual o território do Norte de Tete
estava, no final de 1968 - e, portanto, após a série de operações espe ciais
apontada - completamente "limpo" da presença guerrilheira, o que e certo e que,
no início de Janeiro de 1969, o Comando Sectorial F reconhecia a eventualidade
das coisas não se terem passado exactamente assim. De facto, ele admitia que no
extremo norte do vale do rio Capoche havia grande concentra ção de
guerrilheiros83 oriundos das bases de onde haviam sido expulsos, mais a interíor
do território, e mantendo grande capacidade de fogo e de resposta
102
as operações destinadas a desalojá-los. A ausencia de controlo sobre esta zona por
parte do exército co lonial estava, assim, directamente relacionada com a falta de
informaçoes a ela respeítantes. E todavia, a FRELIMO pode retomar, no decorreri
da época do "capim alto", a sua dinâmica de penetração no ter ritõrio mantendo no
geral a mesma estratégia com aí gumas alterações, nomeadamente a introdução de
reforços aparentemente consideráveis nos seus contingentes e o alargamento da
capacidade de operaçoes tácticas no terreno. Na pratica, visando concretizar os
dois deslgnios que já Engels considerava fun damentais para o sucesso de
qualquer insurreição: forte superiorjdade numérica e postura ofensiva84.
Em suma, os guerrilheiros tinham que alargar o seu campo de actuação mais do
que nunca para obrigar o exercito colonial a dispersar, tinham que sair quanto
antes da posição concentrada e defensiva que detinham na confluência dos rios
Capoche e Duângua. Tal era possível partindo do principio que a tropa portuguesa
não conseguiria eternizar a pressão que vinha exercendo mas, por outro lado,
subentendia o reforço já referido dos contingentes guerrilheiros.
Dissemos que a falta de controlo da fronteira norte colocou grandes dificuldades
aos serviços de informaçoes coloniais na determinação do tipo de re forço que os
guerrilheiros estavam a receber, assim como na localização das rotas de entrada
dos reabas tecímentos. De início, recolhiam simples rumores de que estariam a
penetrar através da Zâmbia contingen tes de guerrilheiros oriundos da Tanzanía
85. Depois, durante Fevereiro de 1969, as informações referiam de diversas fontes
que cerca de 350 a 400 guerrilhei ros tinham passado por Lusaka por volta de 8 de
Janeiro 86, e penetrado no territorio de Tete. Aparentemente, os guerrilheiros
dividiram-se em diversos grupos dirigindo-se para Gago Coutinho, Cassacatiza,
Bene-Vuende e Furancungo, e quando o exército teve confirmaçoes mais precisas,
em Março de 1969, já eles tinham penetrado havia quase dois meses87.
103
13. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exér cito portugues
no final de 1968.
104
Yxx
14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado a iniciativa no primeiro
semestre de 1969.
105
Reforçada e reabastecida, a FRELIMO manteve o mesmo processo de penetração,
aproveitando as regiões onde anteriormente obtivera apoio popular. Este aspecto é
muito importante na medida em que pos a cla ro a fragilidade da estratégia da
contra-ofensiva co lonial. Apesar de todo o seu sucesso pontual, os co mandos do
exercito colonial perseguiam uma ilusao quando esperavam esmagar a luta com
a destruição das bases e a contenção dos guerrilheiros. De facto, a população
permaneceu e, tendo ela sido sempre a base da estrategia guerrilheira, permitiu a
reposição rápida da situação anterior a contra-ofensiva colonial. Assim, de uma
forma geral, a FRELIMO procurou reactivar os sistemas de bases anteriores,
nomeadamente o da região de vila Gago Coutinho e o do eixo Bene-VuendeFurancungo. No entanto, efectivou algumas alteraçoes fundamentais respeitantes
às linhas de reabastecimento e aos eixos de penetração. Em re lação ao
abastecimento, havíamos verificado que um dos graves problemas da frente no
decorrer do ano de 1968 dizia respeito a ele estar demasiado concentra do (ou
estrangulado) no triângulo dos rios Duangua e Capoche com a fronteira, na zona
de acção da base Kauandama. No primeiro semestre de 1969, pelo contra rio,
surgiu uma serie de bases importantes que, atra vés da sua acçao, permitiu aos
guerrilheiros manter aberta uma extensa linha de fronteira entre o rio Ucanha e a
região Missale-Freitas, nomeadamente as bases Messensa, de treino do rio
Duãngua88, e a base central de Calichero89.
Outra alteração fundamental, respeitante aos eixos de penetraçao, consistiu no
distanciamento des tes em relação ao vale do rio Capoche, facto tornado possível
exactamente pelo controlo da linha de fronteira proporcionado pelas novas bases.
Assim, a oriente foi estabelecido um corredor que, através das bases central de
Calichero, Moatize (que substi tuíra a base Beira) e Furancungo90, ligava a uma
se rie de novas bases, sempre no eixo Bene-Vuende-Furancungo, restabelecendo
as operaçoes nesta zona e
106
permitindo inclusivamente um novo impeto na progres são para Sul através das
bases Bereko e Sabondo91. Mais a Norte, foi instalado um sistema novo na região
de Vila Gamito e, pela primeira vez, o disposi tivo colonial na região e a estrada
que ligava a Fu rancungo passaram a estar ameaçados. O estabelecimento desta
frente oriental permitiu de novo as acções militares sobre as vias de comunicação
e o ata que a localidades importantes. Em 31 de Janeiro foi atacado o
aquartelamento de Tembué92 e a 3 de Fevereiro o Posto Fiscal de Míssale93. A
série de opera çoes militares que se seguiu94 provocou novamente uni estado de
quase paralização da tropa colonial e permitiu aos guerrilheiros retomarem a sua
acção jun t3 das populaçoes, nomeadamente na região de Vuende, regedoria
Manjanja, onde recomeçou o abandono massi vo de aldeias 95. Conjuntamente
com o facto de possuir uma rectaguarda mais larga, a nova frente oríen tal tinha
outra característica marcante: penetrando profundamente na Macanga, acercauase muito mais da Angónia e Moatize do que no ano anterior. Em Fevereiro, assim,
a FRELIMO tinha conseguido aquilo que tentara insistentemente, mas sem
resultados, no ano anterior, ou seja, a ligação as regiões de Tsangano e Vila
Coutinho, na Angónia96. Estava assim a umpas so de poder ligar a frente oriental
ao dispositivo de rectaguarda que tinha no Malawi
A ocidente e numa sequência idêntica, os guerrilheiros reínstalaram o dispositivo
da região de Gago Coutínho, já referido, com as bases Messensa, Capoche,
Chingombe e Palande97, e em seguida estabe leceram-se solidamente na região
de Vila Vasco da Gama, em torno da base central de Mevira98, descendo os rios
Menene e Mecumbúzi-Sul em direcção ao rio Capoche. O forte apoio popular aos
guerrilheiros, com paralelo só talvez na zona de Vuende, fez com que o exercito
colonial perdesse quase por completo o controlo sobre esta região, nomeadamente
em relação as estradas vila Gago Coutinho-Fingoé e Vila Vas co da GamaFingoé. Curiosamente, num movimento pra107
R
15. Dispositivo militar portuguès na zona de guerra em Abril de 1969. 108
a.
16. DiSpositivo paramilitar colonial na zona de guerra, no pri meiro semestre de
1969: aumento das forças de milícias.
109
ticamente simetrico em relação, a frente oriental, também a área da ala ocidental
de 1968 foi, em 1969, substancialmente alargada, neste caso para ocidente, com a
penetração pela regedoria Chofombo ate às margens do rio Ucanha, procurando
fazer a ligação com o Zumbo99.
O exercito portugues poucas soluçoes pos em pra tica face a este súbito retomar
da ofensiva por par te da FRELIMO. Estrategicamente surpreendido, esperava
uma reentrada dos guerrilheiros pelo vale do rio Capoche ou, muito a ocidente, ao
longo do rio Ucanha100, tendo no entanto que se defrontar com duas alas de
penetração que tendiam a alargar para os lados e que, evitando o vale do rio
Capoche,. se vinham a unir a Sul, exactamente na confluência des te rio com os
rios Luía e Cherize, já muito proximo do rio Zambeze e de Cabora Bassa101.
Tardiamente em relação ao sentido estratégico que lhes queria conferir, o exército
participou ainda com a admínistra ção na edificação de aldeamentos, não com a
finalidade preventiva que o Governo do Distrito preconiza va mas antes
procurando, nas regiões mais afectadas pela guerra, impedir o contacto entre
guerrilheiros e populaçoes102. Processo que, por si so, provocou a fuga de
populações em todo o território, nomeadamente a Norte, onde extensas zonas
ficaram despovoa das103.
Em suma, nenhuma solução pode evitar que em mea dos de 1.969 as autoridades
coloniais se defrontassem com uma situação de guerra em praticamente todo o
território de Tete a Norte do rio Zambeze, situação que já não viriam a conseguir
alterar durante a estação seca como haviam feito um ano antes.
110
17. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guerra entre fi nais de 1968 e
inicio de 1969.
111
NOTAS
1 ntrodução
iVer argumentação sobre esta questão na secção introdutõria de William
J.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres: Lawrence & Wishart,
1969).
2Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Sá da Costa, 1977),
pp.133-135.
3São excepções, por exemplo, os trabalhos de Basil Davidson, The People's
Cause - A History of Guerrillas inAfrica (Harlow:Long man, 1981), e Thomas
H.Henriksen, Revolution and Counterrevolution - Mozambique's War of
Independence, 1964-1974 (Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1983). O
primeiro aponta algumas vias e dá uma perspectiva geral da guerrilha como
tactica privi legiada das lutas de libertação africanas; o segundo, colocado numa
posição hostil ao Movimento de Libertação sob uma capa de equidistancia, e
apesar de mostrar um grande esforço em relação as fontes, não sai do
reducionaismo que o seu proprio metodo, baseado em categorias dicotomicas, lhe
impos.
4Aliás os trabalhos que tentam essa análise são igualmente escas sos. Entre as
excepçoes, ver Aquino de Bragança e Jacues Depel chin, Da Idealizaçao da
FRELIMO a Compreensão da Historia Recen te de Moçambique (Maputo: Centro
de Estudos Africanos, 1986, mi meo).
5Wa]ter C.Opello Jr., Guerrilla War in Portuguese Africa: An Assessment of the
Balance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974: 29-37.
6A recolha de maior envergadura que conhecemos foi efectuada pelo Centro de
Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane no âmbito do seu Projecto
de Cabo Delgado.
7De entre uma literatura vasta, uma argumentação breve e estimulante sobre esta
problemática em W.G.Clarence-Smith, For Braudel: A Note on the "Ecole des
Annales" and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4(1977),
pp.275-281.
8Exemplo de uma tentativa de trabalho neste sentido e das possibilidades abertas,
pode ser colhido num episódio ocorrido em Te te, em 1983, durante um processo
de recolha de depoimentos, no
113
âmbito do Projecto de Tete do Arquivo Historico de Moçambique. O trabalho
teve inicio com uma reunião preliminar organizada pe lo secretário do
Governador da Provincia, na qual participaram destacados antigos combatentes da
Província. Estes, por inicia tiva própria e para alem das biografias individuais,
apresenta ram uma pequena narrativa da luta armada em Tete. Foi relator do
grupo o senhor Celestino de Sousa, que pertencera a primeira rede clandestina da
FRELIMO no Zobue. Mais tarde, foi possi vel entrevistar o mesmo protagonista
sobre o período preciso por ele vivido, com um forte apoio na documentaçao da
administração colonial, que permitiu aprofundamento e detalhe nas ques toes
tendo-se ele, no final, declarado surpreendido com as coí sas de que ainda se
lembrava. Vér Arquivo Historico de Moçambi que, Projecto de Tete, 1983, João
Paulo Borges Coelho e Jose Ne grao, Entrevista com Celestino de Sousa (Tete:
1983). 9A descriçao da documentaçao e apresentada no final, no âmbito
das Fontes e Bibliografia.
lOEm Tete esse esforço culminou com a unificação das estruturas .civis e
militares sob um único comando quando, debaixo da intensa pressão da guerra,
foi criada a ZOT [Zona Operacional de Tete], em 1971, dirigida pelo brigadeiro
Rocha Simoes.
Capitulo 1
iUm exemplo sugestivo da intensidade destas ligações "que desprezavam as
fronteiras" e que serviam potencialmente de excelente veículo das idéias anticoloniais e-nos dado pelo pequeno estudo do Administrador do Posto do Zobue.
Ver Arquivo Histórico de Moçambique [daqui em diante AHM], Fundo de Tete
[daqui em diante FT], Moatize, cx 107, "Grupos Étnicos Existentes na Area do
Posto do Zobue. Sua Localizaçao em Relaçao a Fronteira, Afinidades com as
Populações Malawianas Fronteiriças e Atitudes que Vêm Exteriorizando Perante
a Administração ea Sub versão", s/r, 20 de Junho de 1967. Ele refere, a dado
passo: "Da cobertura populacional nas terras do Zóbue, ressaltam
zonas~privilegiadas de convívio e intercâmbio, de contactos e re laçoes com areas
e povos de além fronteiras mais os provocados pelo trânsito rodoviário através das
zonas habitacionais. Tem-se, neste caso, a regedoria M'Boola e uma parte da de
Cambuêm bua, ambas localizadas ao longo da fronteira e através das quais sulca a
estrada nacional que liga as cidades de Tete e Blantyre. Inevitavelmente, os
contactos surgem a cada passo e por ra zoes de toda a ordem desde as que
respeitam a problemas de eco nomia através do comércio, as que culminam com
as relações de parentesco entre as populaçoes localizadas no Malawi, nas regiões
de Tambani, Mwanza e Blantyre e áreas de Chicuaua. O intercâmbio registado
abrange os habitantes radicados nas zonas limítrofes em maior percentagem,
diminuindo satisfatoriamente
114
para o interior salvo nas zonas onde a emigração para Blantyre atinge algum
realce, como no caso da regedoria Zacarias". É também interessante um
documento emanado do mesmo Posto, Pos to Administrativo do Zóbuè,
"Relatório Mandado Elaboiar Pelo Inspector dos Serviços de Acção Psicossocial
Excelentissimo Se nhor Antonio Henriques de Oliveira Sobre o Movimento
Migratorio de Africanos na Área Deste Posto e Existência de Seitas Re ligiosas,
s/r, 20 de Maio de 1964, AHM, FT-Moatize, cx 100: "(...) Quase que a totalidade
dos africanos residentes ao longo da f-onteira têm família do lado da Niassalandia
e vice-ver sa. Individuos há que tem uma mulher na área do Zobue e outra do lado
da Niassalandia. Durante os três anos de estadia do si& natário neste Posto, tenho
verificado que para o africano resi dente ao longo da fronteira e numa
profundidade que varia entre os 20 e os 50 quilómetros, esta nao existe,
circulando ele livremente num e noutro território. Segundo estou informado, ao
longo de toda a fronteira, especialmente na região compreendida entre o Zóbuè e
Tambani, todos os africanos residentes na Niassalandia são portugueses e para ali
emigram em procura de melhoria de vida. Sera de aceitar esta versao se
atendermos a que a grande maioria daqueles individuos fala o português ".
2Sobre o aspecto da migração, assim como para uma caracterização geral da
economia do Distrito, que nao cabe analisar no âm bito deste trabalho mas tão só
referir as implicações que teve na edificação da estratégia de defesa colonial face
a ofensiva
nacionalista, ver AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo de Te te, cx 42,
Governo do Distrito de Tete, "Panorama Geral do Dis trito de Tete Apontamentos para Sua Excelencia o Senhor Ins pector Hortênsio de Sousa",
Tete, Dezembro de 1966.
3Ver Decreto n2 43896, de 6 de Setembro de 1961, in Ministério do Ultramar,
Legislação de 6 de Setembro de 1961 (Lourenço Mar ques: Imprensa Nacional,
1961) pp.99-100;
e Decreto-Lei
n2 39666, de 20 de Maio de 1954. Os termos regedor e regedoria, tinham, em
Moçanbique, a designaçao local de reg.,lo e regulade tal como em Angola se
referiam como Soba e Sobado. 4AHM, FT-Arquivo Confidencial, cx 42, Governo
do Distrito de Te
te, "Panorama Geral. .", já cit., pp.4-5.
51dem.
6Houve, durante a primeira metade da década de sessenta, umacer ta preocupação
em conhecer outras experiencias coloniais no abito da contra-guerrilha,
nomeadamente atraves da divulgação de publicações e da realizaçao de
conferencias e de palestras. Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 97, a
conferência do tenente-coronel frances Pierre Closterman em Tete, a 23 de Maio
de 1961. Por outro lado, efectuaram-se ediçoes restritas de obras referentes a
guérrilha, como por exemplo, Corpo de Polícia da Província de Moçambique,
Arte da Guerra de Guerrilhas de Mao Tse Tung (Lourenço Marques, Março de
1963), ou Corpo de Polícia
115
da Provincia de Moçambique, Cento e Cinquenta Perguntas a um Guerrilheiro
(Lourenço Marques, Outubro de 1963). O Comando Mi
litar efectuou igualmente publicações do gênero.
7Aá*, FT-Macanga, cx 103, Serviços de Centralização e Coordenaçao de
Informaçoes [daqui em diante SCCI], Relatório Imediato
n2 14, de 26 de Abril de 1966.
8AHM, Secção Especial, n0 22, aIII, prt.6, Ferraz de Freitas, Conquista da
Adesão das Populações (Lourenço Marques, Fevereiro de 1965), p.6.
9Estas definições são apresentadas, textualmente, assim "Enquanto comandar
significa dirigir e implica o conhecimento e o manejo das 'forças sociais', mandar
significa impor e e suficiente a detenção da for2a física. O comandamento exige
participação e promove a adesao; o mando pode provocar a repulsa,
nomeadamente quando exercido sobre populações culturalmente di ferentes e que
se não compreendem e a sua eficiência diminuira à medida que for diminuindo a
força física de quem o exerce. E na Província a força física da Administração
diminuirã de 'po.der' até se tornar incapaz de controlar as populações> se estas ao
invés de lhe concederam a sua adesão a concederem a subversão". Ferraz de
Freitas, "Conquista da Adesão...", já cit. E o conceito de accionamento: "Aquele
conjunto de medidas que émis ter tomar para por as populações a trabalhar
connosco e torna-las repulsivas a propaganda do inimigo costuma chamar-se o ac
cionamento das populaçoes (...). No accionamento das populações, nos
tentaremos conseguir trazer até ã nossa órbita, inte grar no nosso meio e na nossa
civilização, na nossa cultura e nacionalidade, as populações que nos estao
entregues. Esta será, digamos, uma das finalidades. A outra seráconseguirmosque
as populaçoes trabalhem activamente connosco na detecçao e no combate as
acções subversivas que o inimigo venha porventura a desencadear". AHM,
Secção Especial, n2 237-1, aIII, prt.lO, Go verno do Distrito de Tete/Serviços
Distritais de Administração Civil, Acta das Sessões da Reunião dos
Administradores e do In tendente com o Governador do Distrito nos Termos do
art.377 da
R.A.U., 19 de Abril de 1966, p.45.
lOIdem, pp.42-43. Dizia, nomeadamente, o Governador:"(...) o fac,
tor essencial da guerra subversiva e a populaçao e eu ja tive ocasião de aqui vos
dizer que enquanto na guerra convencional os militares pensavam em termos de
terreno, hoje em dia, na guerra subversiva, o terreno perde a sua validade e passa
a va ler somente a sua população. A população é pois o objectivo da guerra
subversiva, essa visa a conquista da população e nós p2 demos dizer, sem errar,
que aguele de dois partidos que estiver em luta e tiver a populaçao do seu lado,
será esse a ganhar a guerra".
llEram as seguintes, as suas palavras: "(...) cada umdenós, den
tro da area que tem à sua responsabilidade, tem que conhecer as
116
populações que lhe estão entregues, e sabendo nós que a maioria das populações
vive ainda em estado atrasado, agarrada as suas tradiçoes tribais, o conhecimento
dessas regras de vida é indispensável para que nos possamos antecipadamente
encontrar a explicação para determinadas atitudes que as populações tomam.
Impoe-se, portanto, que cada um de nos conheça profundamente as populaçoes
das respectivas áreas, as suas etnias, as forças que agem no seu seio e as leis que
regema sua vida (...).
Existem, portanto, no seio das populaçoes, forças que puxam em sentidos diversos
que nos importa acima de tudo conhecer porque só c.om o conhecimento perfeito
de quais são estas forças e para onde se dirigem nos será permitido amanhã
manobrar ou dar mais força a um sector e criar, por assim dizer, um conflito, se
isso nos viesse a interessar (...)". Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritais
de Administração Civil, "Acta das Se!
soes.. .", ia cit., pp.45-46.
Este tipo de orientação era levado bastante a peito velo Administrador do
Concelho de Moatize, que afirmava: "Deviamosir pa ra soluções por assim dizer
maquiavelicas, que levassem as populações a pensar na sua auto-defesa como
necessidade imperiosa. (...) Se colocássemos um fornilho que fizesse alguma
vitima, poderíamos também tirar partido do facto criando no espíri to das
populações uma atitude reprovadora contra os supostos terroristas. Desta forma os
agentes subversivos que chegassem depois as terras com o intuito de montar
fornilhos não teriam ia um bom acolhimento". Governo do Distrito de Tete 1
Serviços Distritais de Administração Civil, Segunda Conferência de Admi
nistradores de Concelho e Circunscriçao, 1967, AHM, Secção Especial, n9 245,
aV, prt.6, pp.129-130.
Ja anteriormente o mesmo administrador propunha idêntico tipo de medidas
tendentes a desacreditar os combatentes e militantes do interior junto das
populações: "Assim, no campo político e objectivo, que e afinal o terreno no qual
temos que nos ba ter, cre o signatario que daria um óptimo resultado se
conseguíssemos arranjar 2 ou 3 conjuntos de indivíduos de áreas diferentes,
devidamente mentalizados para, a semelhança de verda deiros agentes
subversivos... ", etc. AHM, FT-Moatize, cx 102, Administração do Concelho de
Moatize, s/r, 27 de Junho de 1966.
12Ver por exemplo o estudo sobre o poder nas regedorias da Circunscrição da
Marávia, de António Fernando Torres dos Santos, primeiro adjunto do Gabinete
de Zona do Serviço de Acçao Psico
-bocial d- Distrito de Tete, intitulado "Contribuição para o Es tudo do Estaao ýEspírito das Populaçoes da Circunscrição da Marávia", AM, FT-Arquivo
Confidencial, cx 42, SCCI, Relatório de Informaçao n2 129/66, de 9 de Setembro
de 1966.
13Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Tete,
Circular s/r, de 25 de Janeiro de 1967.
14Comentavam os SCCI: "Embora se desconheça o actual grau de subordinação
dos diferentes regedores do distrito de Tete ao Undi (da Zâmbia) e do prestígio
que este goza perante as popula117
ções do mesmo distrito, sabe-se que a área por si outrora ocupada e hoje
incorporada na regedoria Bene se encontra devoluta por ninguem se atrever a
ocupa-la: sabe-se mais, que o regedor Sabondo, da Macanga, aquando da sua
nomeaçao, declarou nao poder assumir as funçoes sem previamente obter a
necessaria auto rização do Undi, suspeitando-se que a grande maioria dos
regedores, senao a totalidade, das areas da Marávia, Macanga, Maguè e alguns do
Zumbo, adoptaram igual procedimento". AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI,
Boletim de Difusão de Informaçoes
n2 177/66, de 8 de Março de 1966.
15Como exemplo, em 1965 tinha sido um informador do Administrador
do Posto do Zobue que, com o seu trabalho, havia levado a completa identificação
da rede local da FRELIMO desde o inicio.
Ver AHM, FT-Moatize, cx 102, Posto Administrativo do Zobue, Bo letim de
Informaçoes n9 5/65, de 3 de Março de 1965, e toda a
documentação deste processo.
16Em Janeiro de 1967, por exemplo, o major Costa Freire, chefe
dos SCCIM, lamentava-se junto do Governador da Província sobre a ausencia de
sensibilidade para este problema, apontando o ca so de um posto administrativo
que, tendo recebido uma noticia importante de interesse imediato para a PIDE,
apenas a transmi tiu a administração da circunscrição, seu escalao superior, e aos
orgaos distrítal e provincial dos SCCI. De escalao em esca iao, a nQticia.passou
despercebida e só mais tarde, fora de oportunidade, e que a PIDE teve dela
conhecimento. AHM, FT-Moa
tize, cx 105, SCCI, nota n2 132, de 27 de Janeiro de 1967.
l7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação ng 1, de
14 de Março de 1966. Aqui se procura explicar detalhadamente, com base nas
operaçoes e no interrogatório pormenorizado de um prisioneiro (assim como na
transcrição do seu diário de campanha), a estratégia da FRELIMO na zona e os
acontecimentos de to do este processo.
18AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim de
Informação n9 57/66, de 11 de Março de 1966.
191ntervençao do Administrador da Circunscrição da Mutarara, João da Luz
Bourgard, in AHM, Secção Especial, ng 237-1, alIl, prt.10, "Acta das Sessoes.. .",
já cit., pp:127-128. O mesmo administrador da também uma sugestiva imagem da
vulnerabilidade da Mutarara: "Na realidade, h quilómetros e quilómetros
quadrados, seguidos sem interrupção, de terreno totalmente coberto com uma
altura média de agua de dois metros. Toda esta infindável superficie liquida e ao
mesmo tempo uma enor me e cerrada floresta de plantas aquáticas que saiem
acima do nível das águas cerca de dois metros. De modo que a dois, a três
metros, já não se vê, de uma, outra almadia que.passe ou esteja estacionada. Por
toda esta vastidão, que nao e pântano mas também não é rio, é uma espectacular
exuberância vegetal e um espantoso fervilhar de vida, abundantemente criada
num insu
118
portável calor húmido - insectos, peixes, aves ribeirinhas, hipopótamos,
crocodilos, tudo em quantidades que nao e frequen te ver-se. Por vezes no meio
desta estagnaçao letal, surgem inex plicavelmente torrentes impetuosas que nos
levam e arrastam, sendo necessário vencê-las a viva força por entre um equilíbrio
que escassamente as almadias garantem. Enfim, toda esta região que daqui por
dois meses ficará completamente seca, e agora um tremendo obstáculo onde,
privado de poder nadar ou andar, pere cera sem remissão todo aquele que, por
qualquer motivo, deixar de poder utilizar a embarcação de que disponha e, por
outro la do, impossível de eficientemente fiscalizar a não ser, talvez, de
helicóptero. Mas, não há dúvida, com água ou sem agua, toda esta vasta regiao,
que ainda por cima entra pelo Malawi, tem que ser patrulhada e fiscalizada. É
que é uma via de acesso ao nosso territorio protegida por uma camuflagem
perfeita e, justamente no tempo em que esta inundada, muito mais utilizavel que
depois". AHM,.FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Te te/SCCI de ]ete,
Relatório da Operaçao Ponta do Bico, n2 126/D/31, de 21 de Março de 1967.
20Ver João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tete e o Ma
lawi, Projecto de Tete, Relatório de Investigação (Maputo:AHM, 1984, mimeo),
p.51, onde se resumem as operaçoes no seguinte quadro:
EFECTIVOS ADMINIS.
OPERAÇÕES DATA MIL. E PARA-MILIT. POPULAÇÃO TOTAL
Operação Con 13-16
126
600 726
junta Goma/ Junho
Doa
Op.Surpresa 8-9
27
46
73
Nhapale
Agosto
Op.Chire
Setembro
Op. D/CX
13-19
Novembro
Op.Cavernas 19-20
54
40
94
Janeiro
Op.Ponta do 6-11
85
222 307
Bico
Março
Fontes das operações: Goma-Doa: AHM, FT-Macanga, cx 103, Gover no do
Distrito de Tete, Boletim de Informaçao n2 116/66, de 5 de Julho de 1966;
Nhapale: Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 139/66, de 23
de Agosto de 1966; Chire: FT-Caldas Xavier, cx 1, Governo do Distrito de Tete,
nota ng 157/66, de 28 de Setembro de 1966; D/CX: FT-Moatize, cx 103, Governo
do Distrito de Tete, nota ng 180/66, de 28 de Novembro
119
de 1966, e SCCI, Boletim de Difusão de Informações, n0 609/66, de 3 de
Novembro de 1966; Cavernas: SCCI de Tete, n2 50/D/31, de 28 de Janeiro de
1967; e Ponta do Bico: FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, n2 126/d/31, de 21 de
Março de 1967.
21AHM, FT-Moatize, Administração do Concelho de Moatize, ng 25/A/2, de 22
de Janeiro de 1963.
22Ver por exemplo o trabalho das brigadas do Serviço de Acção Psico-Social,
em AHM, FT-Moatize, cx 102, Comando da Policia dos Portos e Caminhos de
Ferro, Relatório Sobre a Segurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembro
de 1964, tanscrito, em parte, na nota 33 deste capitulo.
23AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo Geral, Despacho de 25 de Janeiro de
1967.
24AHM, FT-Moatize, cx 105, Gabinete de Informação e Formação da Opinião
Pública, Sobre a Implementação dos Centros Informativos, s/r, 2 de Maio de
1967.
25AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, s/r, 20 de Junho de 1967, e cir culares n2s.
271 e 273/D/35.
26Delegação Distrital dos SCCI, Gabinete de Zona do Serviço deAc çao PsicoSocial, Subdelegaçao Distrital da PIDE, Forças Armadas, OPVDC, Secretarias
Distritais diversas...
27AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, circular ng 154/D/35,
de 25 de Julho de 1968. 28Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritais de
Administração Civil, "Acta das Sessoes.. 1", já cit., p.27
29Em Moatize, por exemplo, depois de, por imperativos estratégicos de defesa, se
terem -projectado aldeamentos com determinada envergadura para determinados
locais, e de estudos do Instituto de Investigação Agronómica terem demonstrado a
inviabilidade dos terrenos para a agricultura para tão grande número de pessoas,
tais estudos foram simplesmente ignorados e os aldeamentos foram feitos.
30Ê esclarecedor o facto de, mais tarde, o antigo Governador do Distrito justificar
o atraso do processo dos aldeamentos exclu sivamente devido à dificuldade em
"convencer" as populações, estando absolutamente posta de lado, segundo ele, a
solução do aldeamento pela força. Ver João Paulo Borges Coelho, Entrevista com
o coronel João Cecilio Gonçalves, Antigo Governador do Distrito de Tete, Lisboa,
Janeiro de 1986, AHM, Projecto de Te te. A violência constituir-se-á como
método nas zonas onde a guerra já se implantou e à medida em que as autoridades
vão per
dendo o controlo dos acontecimentos.
120
3iVer, por exemplo, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 37, Planos
de Actividade Operacional do Batalhão de Caçadores 1890-Furancungo, entre
outros os n2s 9/67, de 18 de Setembro de 1967, e 2/68, de 24 de Janeiro de 1968.
32AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, circular n2 1026/SDI,
de 7 de Setembro de 1964; cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado no 40/67, de 6 de Outubro de 1967. Existe extensa documentação
relativa às revoltas de Chipembere e Chisiza e à sua alegada relação com a
mLIMO.
33Vale a pena transcrever esta passagem, que dá uma imagem da gra vidade da
situação para a ordem colonial: "(...) Grande parte da região acusa uma forte
impregnação doutrinária como resulta do principalmente de dois factores: a
infiltração constante e segura de agentes subversivos actuando pela intimidação,
regra geral, e a carencia de protecção e apoio as populações intimi-dadas. &
deserção de dois povoados com os seus chefes, o insolito comportamento de
outros e a atmosfera de tensão e expecta tiva que por todo o lado se respira, levam
a concluir que a in tensa~propaganda revolucionaria, a par de toda a especie de
pressoes, se exprime pela adesão activa ou passiva da maior par te da população
nativa aos propósitos dos activistas estrangei ros (...). De prever ainda, e suportarlhe os efeitos, o silên cio e a frieza das populaçoes sempre que abordadas sobre a
actuação dos propagandistas ou com a resposta invariável de que nada sabem.
Uma neutralidade, portanto, sempre que nao se trate de opção pela força contraria.
(...) Goma, no vale do mesmo nome, a duas centenas de metros do rio, situa-se a
uns escassos seis quilómetros do local onde, apos uma rusga militar, se descobriu
um depósito de armamento clandestino. (...) Linha de comunicação natural, abre
caminho fácil e encoberto para as zo nas baixas do Bárue, favorecendo a.
penetraçao nas regioes ao sul do Zambeze. É com efeito a senda seguida pelos
grupos que procedem do Malawi, com destino a estas regioes (...). A população
activa das proximidades tem fornecido as prisões grandes contingentes (...). Estes
factos, a par do recrudescimento do numero de pescadores no Zambeze, a pouca
distancia do Sinjal, levaram o administrador da circunscrição a adquirir um barco
a motor para patrulhamento do rio, na suspeita de que grande par te do armamento
que se presume tenha dado entrada no nosso ter ritório pela fronteira, seja
destinado as areas limítrofes a sul do Zambeze e transportado durante a noite
através do rio. Constitui mesmo opinião do administrador de que outra base de
agitadores se situara na Serra da Gorongosa, a partir da qual uma complexa rede
de células revolucionarias se estendera ate a Beira. Soube-se recentemente que o
volumoso número de autóctones desta região, além de participar~nas quotizações
que os agente-s da FRELIMO cobravam sem oposiçao, se deslocavam
regularmente ao território vizinho do Malawi onde recebiam instrução militar. A
alteração dos hábitos e atitudes da população desta area tem sido tao rápida e
profunda que as brigadas da Acção Psicossocial notam diferenças acentuadas de
cada vez que
121
as visitam (...). Um laconismo frio e pesado substitui a loquacidade tão
característica dos indígenas quando se lhes fala na lingua nativa. E até para a
prestaçao de pequenos serviços se verifica relutância". AHM, FT-Moatize, cx
102, Comando da Polícia dos Portos e Caminhos de Ferro, Relatório Sobre a
Segurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembro de 1964.
34Para uma perspectiva mais detalhada do contexto das relações da Zambia com
Portugal ver Douglas G.Anglin, Confrontation in Southern Africa: Zambia and
Portugal, in n9 99: International Journal (Canadian Institute of International
Affairs), Vol.XXV, ng 3, 1970.
35AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembro de 1967.
Capilulo II
IAHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Relatório Imediato n9 14, de 26 de Abril de
1966.
2Luis de Brito, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, História de
Moçambique IV, A Luta Armada de Libertação Nacional (Maputo: inédito,
1983).
3Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Ed.Sá da Costa, 1977),
pp.167-170.
41dem, p.169.
5L.de Brito et al., já cit.
6joão Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tetp..., jácit.
7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação, n2 1, de 14 de
Março de 1966.
8AHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Resenha de Informações, n9 2/68, de
Fevereiro de 1968. Nao e possível, a partir deste documento, determinar a origem
do jornal citado, mas e provável que se trate do "Sun" de Baltimore.
A seguinte passagem de um outro documento, embora não refira a vertente de
segurança, dá uma idéia global dos objectivos do projecto: "Potencialmente o
esquema de povoamento e utilização da terra mais importante, que vem sendo
estudado desde o principio da década de 50 é o projecto integrado para o
desenvolvi mento do vale do rio Zambeze, baseado no controlo e utilização do
rio. O projecto encara a construção de uma grande barragem em Cahora Bassa, a
norte de Tete, e uma série de barragens me122
nores pelo rio abaixo, que permitiriam o desenvolvimento do p2 voamento e
outros objectivos numa área de 140.000 quilómetros quadrados, ou seja, um
décimo do território. Simultaneamente, a energia hidroeléctrica produzida em
Cahora Bassa seria usada para desenvolver as reservas de ferro e carvão do
Distrito de Tete, e a construção das barragens tornaria possível a navegaçao pelo
rio entre Tete e Chinde, na foz do Zambeze, onde se pretenderia construir um
novo porto". Organização das Nações Unidas, XXII Sessão da Assembleia Geral,
Relatório do Comité Especial Sobre a Situaçao Respeitante à Implementação da
Decla ração Sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Co
lonizados, 11 de Outubro de 1967, Nova Iorque, p.107.
9Por exemplo, intervenção do Presidente do Malawi na Assembleia Geral da
ONU em 3 de Dezembro de 1964, in AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do
Distrito de Tete, s/r, nomeadamente: "( ...) Por exemplo a minha propria tribo, a
tribo Chewa, está dividida em duas, de facto em tres se nos contarmos com os
nossos pri mos da fronteira zambiana. Mas eu estou agora falando de Moçam
bique e do Malawi e por isso devo dizer dividida em duas. Exis tem Chewas do
lado do Malawi da linha imaginaria e existem Chewas do lado de Moçambique
daquela linha imaginária. O mesmo se da com outras tribos do Malawi, como
sejam as tribos Nguni, L6muè e Yao. Estas tribos, como a tribo Chewa, também
estao di vididas em duas. Há Ngunis, Lómués e Yaos do lado de Moçambique da
linha imaginaria (...)". Ou ainda a intervenção do Dr.
Banda numa sessão do Parlamento, em Julho de 1966, nas vésperas da
proclamação da República do Malawi: "(...) Temos cá pes soas que são africanas,
ou melhor, que são Nguni, Chewa, mas unicamente porque calhou nascerem do
lado de lá da linha imagj naria que separa o Malawi de Moçambique, embora
sejam Yaos, Ngu nis, Lomues, Chewas ou Senas, sao considerados estrangeiros e
nao se podem registar como cidadãos. Têm que se submeter ao pra
cesso~dispendioso e moroso da naturalizaçao. Isso, na minha opinião, e injusto,
muito injusto. Foi por isso que achei necessario promulgar uma nova lei, que
entrará em vigor quando o pais se tornar uma República, a 6 de Julho. (...) Por
isso, de agora em diante, todos os africanos de Moçambique a norte do Zambeze
tem direito, se tiverem vivido no nosso pais ou fizerem parte da mesma família do
outro lado da fronteira, a torna rem-se cidadãos do Malawi, registando-se e sem
necessidade de se naturalizarem". AHM, FT-Moatize, cx 104, Administração do
Concelho de Moatize, s/r.
10Sobre este aspecto ver AHM, FT-Moatize, cx 98, PIDE, Relatório n2 1280/62SR, de 4 de Agosto de 1962; cx 101, Administração do Concelho de Moatize, n2
1/A/9, de 4 de Janeiro de 1964; FT-Macanga, cx 101, Governo do Distrito de
Tete, Boletim de Informaçao ng 9, de 14 de Julho de 1963, citando SCCI, Boletim
de Informação n2 53/631 e AHM, Projecto de Tete, João Paulo Bor ges Coelho e
José Negrao, Entrevista com Celestino de Sousa, ja cit.
123
11AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,
Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.2, 8, 9, 30, 31.
12Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique, já cit., p.138.
I3AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,
Entrevista com Celestino de Sousa..., já cit. Celestino de Sou sa dizia: "(...) o
movimento da IJAMI estava mesmo a perder o seu ritmo porque estava fraco ( ..).
Eles, UNAMI, queriam inde pendência, mas era uma independencia pacífica,
conversada, dada. Convencer os portugueses a dar a independencia. E nao era real
isso. Os portugueses nao iam dar a independência (...). Co mo e que vocês
[UNAMI] querem que nós venhamos aqui para a UNAMI? Voces não tem para
onde ir. O melhor é que a gente va para a FRELIMO. Sai-se daqui vai-se para a
Tanzania. Quando che ga a Tanzania vai para o exterior. Treinar, fazer isto e
aquilo, outros vão seguir cursos e aquela coisa toda".
141dem; e referências, por exemplo, em AHM, FT-Moatize, cx 100,
Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 49/66, de 16 de Dezembro
de 1966, citanclo SCCI. Boletim de Difusão de
Informaçoes ng 630/66, de 3 d-' Jeztntou ue 1966.
15AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim
de Informação n2 183/64, de 18 de Junho de 1964, citando SCCI, Boletim de
Difusão de Informaçoes n2 37 /64, de 16 de Maio de 1964.
16AHM, FT-Moatize, cx 101, Posto Administrativo do Zobuè, Boletim de
Informaçao n2 25/64, de 27 de Novembro de 1964.
I7AHM, FT-Moatize, cx 99, Governo do Distrito de Tete, circular
s/r, de 28 de Novembro de 1964, e telegrama s/r, de 26 de Novembro de 1964;
AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação
n2 87/652 de 24 de Março de 1965, citando Posto Administrativo do Zobue,
Boletim de Infornmação n2 2/65, de 12 de Fevereiro de 1965.
18Carolyn McMaster, Malawi Foreign Policy and Development (Lon5dres:
J.Friedmann Publishers Ltd., 1974), pp.55 e segs. 19Ver por exemplo AHM, FTMoatize, cx 100, Governo do Distrito
de Tete, circular n2 1026/SDI, de 7 de Novembro de 1964.
20AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, n9 100/64, de 23 de
Dezembro de 1964.
21Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete,
Sitrep Circunstanciado n_44/67, de 3 de Novembro de 1967, citando
Administração do Concelho de Moatize, Boletim de Informação n2 39, de 31 de
Outubro de 1967; e cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado
nO 49/66, de 16 de Dezembro de 1966, citando Administração do Concelho
deMoatize, Boletim de Informação n2 51/66, de 2 de Dezembro de 1966.
124
22A colecção de Sitrep's Circunstanciados do Governo do Distrito
de Tete relativa aos anos 1967-1968, sobretudo os anexos relativos ao Malawi,
dão ufia idéia da importância do Malawi relati
vamente ao Niassa. AHM, FT-Moatize, cx 104 e cx 106.
23AHM, FT-Moatize, cx 104, PIDE, relatório n2 581/67/GAB, de 19
de Abril de 1967.
24AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 4/67, de 27 de Janeiro de 1967, citando SCCI, Boletim de
Difusão de Informaçoes ng 3/67, de 16 de Janeiro de 1967.
25Por exemplo, entrevista de Marcelino dos Santos ao jornal soviético Pravda, em
finais de 1966, referido em AHM, FT-Moatize, cx 104, Serviços de Informações
do Exército, relatório n2 22/B,
de 2 de Fevereiro de 1967.
26AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 19/66, de 26 de Maio de 1966, citando Posto da PIDE do
Zóbuè, Informação s/r, de 12 de Maio de 1966; e Governo do Distrito de Tete,
Sitrep Circunstanciado n2 12/66, ci tando a Circunscrição Fiscal de Tete, nota n2
58/20.05/K, de 28
de Março de 1966.'
27Douglas G.Anglin, Confrontation..., ja cit.
28Idem.
29AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,
Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.26-27.
30AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, n2 251, proc2 13/18,
de 20 de Maio de 1966; e cx 103, Governo do Distrito de Tete, relatório n2 6/66,
de 15 de Outubro de 1966. É esclarecedor o texto da primeira nota aqui citada,
que se trans creve parcialmente: "0 Baltazar da Costa foi e continua a ser o
presidente do partido 'União Nacional Africana de Moçambique Independente',
organização que dirige sob o controlo desta polícia (...) preocupando-se em
desbaratar ou pelo menos dificul tar a acçao da FRELIMO e do COREMO ou
outros partidos na sua luta de subversão dirigida contra a Provincia. Para evitar
que membros desses partidos subversivos, ou outros, pretendam a in dependência
desta Província pela força ou métodos terroristas, o Baltazar da Costa tem dado
instruçoes no sentido de identifi car a propaganda da 'UNAMI' quer na áres de
Tsangano quer noutras limítrofes com paises vizinhos, propaganda que se resume
na 'independência desta Província por meios pacificos e de acor do com o
Governo Português' - Esta propaganda tem o fim de criar membros ou adeptos
para esse partido para se 'povoar' a area fronteiriça. Segundo as instruçoes do
Baltazar da Costa nos lo cais 'tomados pela UNAMI' não podem permanecer
elementos de ou tros partidos, armados ou desarmados, pois serão imediatamente
denunciados as autoridades. (...) Ha necessidade, de facto, de
125
tolerância dada aos elementos da 'UNAMI' nas áreas do Distrito de Tete, uma vez
que estão procedendo de acordo com as determi nações do Baltazar da Costa. sob
nosso controle, pois se conse guirmos que eles, nas suas areas, expulsem ou
entreguem as autoridades os indivíduos dos outros partidos, quer venham com
fins terroristas quer venham com fins de propaganda, teremos
guardada uma regiao por meios pacificos".
3IAHMl, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim
de Informação n2 142/65, de 20 de Março de 1965.
32AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim
de Informação n2 148/65, de 26 de Abril de 1965.
33AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, circular
n2 188/SDI, de 23 de Junho de 1964.
34AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes n2 8, de
29 de Agosto de 1968.
35AHM , FT-Moatizep cx 103, Governo do Distrito de Tete, Boletim de
Informação n2 145/66, de 31 de Agosto de 1966, citando SCCI, Boletim de
Difusão de Informações n2 233/66, e PIDE, relatório n2 446/66-GAB, de 5 de
Agosto de 1966; e cx 102, SCCI, Relatório Imediato n2 116, de 28 de Agosto de
1966, citando PIDE, re latõrio n2 473/66-GAB, de 13 de Agosto de 1966.
36AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, Boletim de Informação n2 57/B/2,
de'10 de Abril de 1967. 37AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de
Tete, Sitrep
Circunstanciado ng 11/68, de 15 de Março de 1968.
38A primeira referência à UNAR é feita em Janeiro de 1968. Ver AHM, FTMoatize, SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 17/68, de 13 de Março de
1968. A UNAR constitui o tipicq exemplo de organizaçao pseudo-nacionalista
instrumentalizada pelo colonia lismo, na esteira daquilo que este já lograra
conseguir em relação a UNAMI. Não sao, alias, dificeis de documentar as
ligaçoes directas deste movimento quer ao Malawi quer ao regime co lonial. Para
este último, a UNAR, reivindicando oterritorio en tre os rios Rovuma e Zambeze,
serviria de tampão ao avanço da luta da FRELIMO a partir das zonas
setentrionais, num papel se melhante ao reservado à UNAMI em Tete (ver nota
30). Em relação à ligação da UNAR com o Malawi, referia o Comando da Policia
de Segurança Pública de Quelimane: "A actividade ate agora desenvolvida pelo
partido [UNAR] no Malawi não só e do conheci mento deste pais, como ainda lhe
dispensa apoio ideológico emo netário, sendo quem até agora tem pago a
hospedagem, no Rest House-Limbe, de Sumane e Massamba, estando mesmo
estes dirigen tes a contar que é o próprio Governo do Malawi quem, a seu pedido,
ira interceder junto do Governo português para ceder às suas intenções (...). Como
Sumane referiu, a maioria dos ac126
tuais militantes do COREM0 abandonarão este partido para ingres sar no seu
(...)". Sobre a ligação da UNAR ao regime colonial, ver por exemplo o percursó
pessoal de Calisto Trindade, um dos seus dirigentes: Calisto Trindade foi
responsável do 'branch' da FRELIMO Pm Dedza, Malawi. Abandona-o por volta
de Fevereiro de 1966. Uns meses depois parece encontrar-se a trabalhar nas obras
públicas do Malawi, alegadamente como recompensa de 'ser viços prestados' ao
Governo, que teriam consistido em informaçoes sobre Chiume e Chipembere,
colhidas na Tanzania onde se havia dýslocado aparentemente como quadro da
FRELIMO. Mais tar de, em Março de 1968, encontra-se a trabalhar na firma
'General Construction Company' de Pombeiro de Sousa, cônsul de Portugal no
Malawi e o ?rincipal 'instrumento de presença% de Jor ge Jardim naquele pais.
Simultaneamente, Trindade e já o vice-presidente da UNAR. Desta forma o
regime colonial, atraves de Jorge Jardim, empresário portugues com bastante
influência no Malawi, tentou recuperar e instrumentalizar dirigentes e militantes
que "sobravam" do processo de auto-destruiçao que se desenrolava no seio do
COREMO. Ver argumentação em João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente
de Tete..., ja.cit.,pp.73-76, baseada na seguinte documentação: AMM, FTMoatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 45/67,
de 10 de Novembro de 196/, citando PIDE de Tete, Relatório Imedia to n2 495GAB, de 9 de Outubro de 1967; cx 100, Governo do Dis trito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 30/66, de 5 de Agosto de 1966, citando Administração do
Concelho da Angónia, Boletim de Informação n2 22/66, de 28 de Julho de 1966;
cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 14/68, de 5 de
Abril de 1968, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 22, de 27 de
Março de 1968; Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 12/68, de
22 de Março de 1968, ci tando Comando Distrital da Policia de Segurança Publica
de Q;Ê
limane, Relatório Imediato n2 67/SI', de 6 de Março de 1968.
39AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's
Circunstanciados ngs 8, 9 e 10, de 23 de Fevereiro, 1 e 8 de
Março de 1968, respectivamente.
4
400 Relatório deNInformaçoes ng 187/66, de 9 de Novembro de 1966,
dos SCCI, confirmando informações de 1962, afirmava existirem em todo o
Zumbo 29 europeus, entre homens, mulheres e crianças.
AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 8.
41AHMr, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando do Sec
tor F, Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembro
de 1967.
42AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 41/67, de 13 de Outubro de 1967. Toda a serie de Sitrep's
Circunstanciados do Governo do Distrito de Tete relativos ao ano de 1967 se
refere ao aumento de sinais de presença do CORFMO e da FRELIMO na zona.
127
43AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 37/67, de 15 de Setembro de 1967, e segs.
44A Circunscrição do Bene foi criada pela Portaria n2 20818, in Boletim Oficial
n2 4, I Série, de 27 de Janeiro de 1968.
45AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 43. Relatórios das Brigadas
Moveis n2s 6 e 13, cobrindo as zonas da Marávía e Macanga entre Julho de 1963
e Junho de 1965, dos Serviços de Acção Psicossocial da zona de Tete.
46Ver a este respeito AHM, FT-Arguivo Confidencial do Governo,
cx 13, os Relatórios da Situaçao dos SCCI relativos a 1967 e 1968,
nomeadamente o exemplo de Chofombo, em SCCI, Relatórios da Situação ngs
8/67 e 16/67, de 14 de Março e 6 de Maio de 1967.
47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 13, SCCI, Relatório da
Situação n2 3, de 15 de Maio de 1968.
48Idem.
Capilulo III
iDe facto òs administradores recebiam a incumbência de fazer o levantamento
minucioso das aldeias para se aperfeiçoar o controlo sobre as populações. Alguns
argumentavam sobre a vulnera bilidade de tal levantamento - contra outros que o
tinham por definitivo - defendendo que uma vez que as aldeias estavam sem pre,
por diversos motivos, a mudar de lugar, mais do que deter minar os seus locais
exactos era necessario conhecer as razoes dessas mudanças. AHM, FT-Moatize,
cx 102, Administração do Con celho de Moatiz,e, Memorando de 14 de Setembro
de 1965.
2A indefinição do COREMO está estreitamente ligada a sua defini çao estratégica
e táctica da guerrilha, baseada em guerrilheiros claramente destacados da
população e nas acçoes espectaculares e pontuais, o que conduziu, a par da
indefinição da sua política, ao isolamento dos seus guerrilheiros e ao malogro da
sua acçao.
3AHM, FI-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatório da
Situação ng 25, de Novembro de 1967.
4A partir de um diário de campanha do Comissário Político do
Destacamento, Santos Monteiro. AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx
31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29 de Abril de
1968.
5Sobre a constituição do Destacamento ver AHM, FT-Arquivo Confi dencial do
Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circuns tanciado n2 12/68, de 25 de
Março de 1968. 128
6AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel General/Nampula,
2a Rep., Relatório Mensal de Informaçoes n2 4/68, de 15 de Abril de 1968.
Todavia, não é explicada, na sua perspectiva, a forma como a Zâmbia teria
alterado a sua posiçao em
relação à FRELIMO, nem as razões de tal atitude.
7AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia
1882/Fingoé, Relatório de Contra-Informação n2 15/67,
de 15 de Agosto de 1967.
8AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia
1882/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 35/67, de 28de
Agosto de 1967.
9AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatórios da
Situação nos 8/67, 14/67 e 20/67, respectivamente de 14
de Março, 26 de Abril e 20 de Junho de 1967.
lOEntre outros, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42,
Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica (2_ Trimes tre de 1968), de
27 de Julho de 1968. Cx 12, SCCIM, Relatório
da Situação n2 3/68, de 15 de Maio de 1968.
11AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCIM, Relatório da
Situação n2 25/67, de Novembro de 1967.
12Mao Zedong, Base Areas in the Anti-Japanese Guerrilla War, in
J. Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism, já cit., pp.184 e segs.
131dem, pp.185-189. Na história da luta de libertação nacional,
o correspondente às zonas de bases de Mao seriam as zonas libertadas.
I4AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 12/68, deà25 deMarço de 1968.
Aqui se referem as três bases principais e a constituição das
suas direcções.
15Ver, por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito
de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 9/68, de 1 de Março de 1968, que refere as
dificuldades passads na muãança do ano, e presentes, a este respeito. Alem
disso, o período seco no ano de 1967 foi extremamente curto devido à
anormalidade, em inten sidade e duração, da estação das chuvas de 1966-1967.
AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado
n2 12/67, de 24 de Março de 1967.
16Sobre a actuação do COREMO ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104,
Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados nos 38/67, 41/67, 43/67 e
45/67, respectivamente de 22 de Setembro, 13 de Outubro, 27 de Outubro e 10 de
Novembro de 1967; e cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's
Circunstanciados n-s 3/68, 4/68, 5/68 e 6/68, respectivamente de 19 de Ja129
neiro, 26 de Janeiro, 2 de Fevereiro e 9 de Fevereiro de 1968.
Sobre a destruição de grupo do COREMO ver por exemplo Sitrep's
Circunstanciados ngs 8/68 e 9/68, respectivamente de 23 de Fevereiro e 1 de
Março de 1968.
17Ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete,
Sitrep Circunstanciado n9 40/67, de 6 de Outubro
de 1967, e segs.
18AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado ng 11/67, de 24 de Março de 1967; cx 106, Governo do Distrito
de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 4/68, de
26 de Janeiro de 1968.
19AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 20AHM, FT-Moatize, cx
106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968.
2IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ca
çadores 1906/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 18/68, de 29 de
Abril de 1968.
22AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados n2s 14/68, 18/68, 19/68 e 37/68, respectivamente de 8
de Abril, 6 de Maio, 13 de Maio e
16 de Setembro de 1968.
23AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados n2os 14/68, 16/68 e 19/68, respectivamente de 8 de
Abril, 22 de Abril e 13 de Maio de 1968; cx 34, Batalhão de Caçadores
1906/Fingoe, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 25/68, respectivamente de 29
de Abril e 17
de Junho de 1967.
24AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 25AHiM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sítrep's Circunstanciados
n2s 16/68 e 19/68, respectivamente de 22 de Abril e 13 de Maio de 1968.
26AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 16/68, de 22 de Abril de 1968. 27AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados
n2s 14/68 e 20/68, respectivamente de 8 de Abril e 20 de Maio de 1964. 28AHM:
FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n2 19/68, de 13 de Maio de 1968.
130
29AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, PIDE, Relatório
Suplamentar de Informaçoes n2 2/67, de 29 de Novembro de 1967. 30AHM, FTMoatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Administrador do
Posto de Chofombo, mensagem-rãdio s/r, de 8 de Mar ço de 1968; e FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Coman do Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2
10/68, de 11 de Março de 1968.
3iVer dispositivo do exército colonial em Tete em AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n2 9/68, de 4 de Março de 1968.
32AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Posto de Milícias de
Cassuende, mensagem-radio n2 14, de 8 de Março de 1968. Os ataques tambem
sao detalhados em FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando
Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e
18 de
Março de 1968.
33Ver em AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, asequên
cia de Sitrep's Circunstanciados de ambos os batalhões, entre Fevereiro e Março
de 1968, e cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n2 9/68, de 8 de Março de 1968.
34AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel General
em Nampula, 2! Rep., Relatório Mensal de Informações ng 4/68,
de 15 de Abril de 1968, p.6.
35AHM, Fr-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e 18 de Março
de 1968.
36AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de 1968. 37AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2
11/68, de 18 de Março de 1968. 38ARIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo,
cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de
1968, e Batalhão de Caçadores 1890/Furancungo, Sitrep Circunstanciado n2
14/68, de 1 de Abril de 1968. 39Idem, idem.
40AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F,
Relatório de Acção Psicológica (22 trimestre de 1968),
27 de Julho de 1968.
4lIdem.
131
42AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 43AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados
nos 13/68, 15/68e17/68, res
pectivamente de 1, 15 e 29 de Abril de 1968.
44AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado ng 15168, de 15 de Abril de 1968. 45Idem.
46AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, ver asequência
de Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F, entre o n2 10/68, de 11 de
Março de 1968, e o n2 18/68, de 6 de Maio de
1968.
47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29deAbril de 1968. 480 Comando Sectorial F
vinha-os referindo com uma certa insistência. AHM, FT-Arquivo Confidencial do
Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 18/68, de 6 de
Maio
de 1968.
49Idem.
50AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 22/68, de 3 de Junho de 1968. 5IAHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2
24/68, de 17 de Junho de 1968. 52AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do
Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 29/68, de 19 de Julho de 1968.
53AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F,
Relatório de Acção. Psicológica (22 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968; e
cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 24/68, de 17 de Junho de
1968. 54AHM , FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial
F, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 19/68, respectivamente de 6 e 13 de Maio
de 1968. 55AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando
Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 25/68, de 24 de Junho de 1968. 56AHM,
FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n2 23/68, de 10 de Junho de 1968. 57AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n26/68, de 1 de Julho de 1968, 132
e cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica
(29 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968.
58AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F.
Sitrep Circunstanciado n2 29/68, de 22 de Julho de 1968.
59AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados n9s 36/68 e 38/68, respectivamente ]e 9 e 23 de
Setembro de 1968.
60AHM, FT--Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados n2s 21/68, 26/68, 27/68 e 28/68, respectivamente de 27
de Maio, 1, 8 e 15 de Julho de 1968.
6IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep's Circunstanciados ngs 25/68, 29/68, 30/68 e 33/68, respectivamente de 17
de Junho, 22 e 29 de Julho, e 12
de Agosto de 1968.
62AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n9 31/68, de 5 de Agosto de 1968.
631dem.
64Referência ao esforço nesta faixa em AHM, FT-Arquivo Confidencial do
Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 29/68, 31/68
e 33/68, respectivamente de 22 de Julho, 5 e 19 de Agosto de 1968; e FT-Moatize,
cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 35/68, de 30
de Agosto de 1968.
650 Comando Sectorial F não faz qualquer referência especifica à
criação do Subsector FBN (iniciais de Bene-BN, tal como FFG de signava
Fingoé-FG, FFR Furancuno-FR e FTT Tete-TT). Todavia, na rubrica de análise
da situaçao por subsectores passa a cons tar o Subsector FBN a partir de finais de
Agosto (AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial
F, Sitrep Circunstanciado n2 34/68, de 26 de Agosto de 1968), e na referência que
era feita periodicamente ao dispositivo militar no terreno, passa a ser referenciado
em Setembro o Batalhão de Cavalaria 2850, com o seu comando na vila de Bene
(AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968). Por outro lado, e
relativamente aos seus limites, e referenciada a regedoria de Cangombe como
fazendo parte do Subsector FBN (MIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx
31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 35/68, de 2 de Setembro de
1968), as sim como incluia no seu dispositivo a região de Cassuende (AHM, FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968).
66AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 42/68, de 21 de Outubro de 1968.
133
671dem.
68AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n936/68, de 6 de Setembro de 1968. 69AHM, Fr-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n37/68, de 16 de Setembro de 1968. 70Idem.
7lidem.
72AHM, FT-Arquivo Confidencial do. Governo, ex 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 38/68, de 23 de Setembro de 1968. 731dem.
741dem.
75Ver Anexo II relativo as operaçoes espaciais do exército portu
gues.
76AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31. Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n2 44/68, de 4 de Novembro de 1968. 77Ver Anexo. II.
78Entre outras, uma orientação de combate referida pelos guerrilheiros nesta
altura dizia que deviam fazer os possiveis por economizar as suas munições
tentando fazer, pelo contrario., com que os soldados portugueses gastassem o
mais possível as muniçoes deles. Ver AHN, FT-Moatize, cx 106, Governo do
Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado no_ 37/68, de 13 de Setembro de 1968.
79AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n0 37/68, de 16 de Setembro de 1968. 80AHM. FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n20 41/68, de 14 de Outubro de 1968. 81AHM FT-Bene, cx 2,
Administração da Circunscrição de Bene, no
ta n2 125/A/16, de 5 de Abril de 1969.
82Dizia Napoleão: "9uando com forças inferiores me encontrava la
ce a um grande exercito, concentrava com rapidez todas as minhas tropas
precipitando-me como um raio sobre uma das alas ini migas e esmagava-a.
Aproveitava depois a desordem que esta manobra não deixava de produzir no
exercito inimigo para o atacar noutro lado, sempre com todas as minhas forças.
Batia-o as sim em detalhe e a vitoria, que era o resultado, constitua sepre - vêde o triunfo do grande número sobre o mais pequeno". Ver Emílio Lussu, Teoria da
Insurreição (Lisboa: Ulmeiro,
s/d), pp.45 e segs.
134
83AH, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep
Circunstanciado n2 3/69, de 21 de Janeiro de 1969. 84F.Engels, Revolución y
Contrarrevolución en Almania, in Obras
Escogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial Progreso, 1973), p.385. 85AHM, FTArquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's
Circunstanciados nos 49/68, 50/68, 3/69 e 6/69, respectivamente de 9 e 16 de
Dezembro de 1968, 21 de Janeiro e
10 de Fevereiro de 1969.
86AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969.
87AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado n9 6/69, de 10 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108,
Governo do Distrito deTete, Sitrep's Circunstanciados ngs 6/69, 10/69 e 13/69,
respectivamente de
7 de Fevereiro, 7 e 28 de Março de 1969.
88AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 2/69, de 10 de Janeiro de 1969.
89AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 18/69, de 6 de Junho de 1969.
90AHM, FT-MoatiLe, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep's
Circunstanciados n2s 2/69 e 18/69, respectivamente de 10 de.Ja
neiro e 6 de Junho de 1969.
9IAHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 20/69, de 20 de Junho de 1969.
92AkH[, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado 5/b9, de 31 de Janeiro de 1969, citando Administração da
Circunscrição de Bene, mensagem-rádio n9 26, de 31
de Janeiro de 1969.
93AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969, citando Ad ministração do
Posto de Vila Gamito, mensagem n2 7, de 4 de Fe vereiro de 1969, e
Circunscrição Fiscal de Tete,n213/20.05/K,
de 4 de Fevereiro de 1969.
94Ver Anexo I sobre as operações militares da FRELIMO reportadas
pelas autoridades portuguesas.
95Ver por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete,
Sitrep Circunstanciado ng 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969. 96AHM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectoríal W, Sitrep Circunstanciado
n9 7/69, de 17 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de
Tete, Sitrep
135
Circunstanciado n2 10/69, de 7 de Março de 1969, citando Subde legação da
PIDE de Tete, Relatório Imediato n2 162/69-GAB, de 5 de Março de 1969; e
Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado nO 13/69, de 23 de Março de
1969, citando Subdele gação da PIDE de Tete, Relatório Imediato n5 198/69GAB, de 22
de Março de 1969.
97AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n9 3/69, de 17 de Janeiro de 1969.
98AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep
Circunstanciado n2 19/69, de 13 de Junho de 1969.
99Ver por exemplo AHFM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31,
Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 4/69, de 27 de
Janeiro de 1969.
100AIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,
Sitrep Circunstanciado ng 50/68, de 16 de Dezembro de 1968. 1OiEm Junho era
detectada já a passagem de muitos contingentes de
guerrilheiros pela região da Chiuta, no mesmo paralelo do rio Zambeze. AHM,
FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete,
Sitrep Circunstanciado ng 19/69, de 13 de Junho de 1969.
1020 primeiro processo de edificação de aldeamentos em Tete, que
teve lugar entre finais de 1968 e o correr do ano de 1969, sai fora do ãmbito deste
trabalho. Todavia, o Mapa 17 destina-se a dar uma idéia da sua localização no
território e de como ela
coincide com as linhas de penetração da FRELIMO.
103Sobre a fuga de populações, por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108,
Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 18/69,
de 6 de Junho de 1969.
136
BIBLIOGRAFIA
Este trabalho baseia-se fundamentalmente no acer vo documental do Fundo de
Tete do Arquivo Histórico de Moçambique, nomeadamente nas secções Moatize
(Ar quivo Confidencial e Secreto dos Processos), Arquivo Confidencial do
Governo, e em algumas caixas das secçoes Macanga e Bene. No interior dessas
secções ressalta, pela sua importância, a documentação produzida pelo Governo
do Distrito de Tete (Sitrep's Circunstanciados, ou seja, relatórios da situação,
circulares, Boletins de Informação e outros), pelos Serviços de Centralização e
Coordenação de Informações (Boletins de Difusão de Informaçoes, relatórios
diversos), pelas admínistrações de concelho, circuns criçao e posto, e pelas
diversas estruturas militares coloniais, nomeadamente os Sítrep's
Circunstáncíados de algumas companhias e batalhões (subsectores), assim como a
serie praticamente completa dos Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial
F re ferente ao período abordado e um importante conjunto de documentos do
Comando-Chefe do exercito colonial, em Nampula.
Pela sua importância para o estudo da estratégia global de defesa das forças
coloniais, merecem tambem referência alguns relatórios da Secção Especial do
Arquivo Historico de Moçambique, nomeadamen te Ferraz de Freítas, Conquista
da Adesão das Populações (Lourenço Marques: SCCI, 1965), AHM, SE n5 22,
137
cota: SE alIl p.6; Governo do Distrito de Tete/Serviços Distrítais de
Administração Civil, as actas das sessoes anuais do Governador do Distrito com
os administradores de concelho e circunscrição relativas aos anos de 1966, 1967,
1968 e 1969, respectiva mente com as seguintes referências: AHM, SEn9 237-1,
cota: SE alIl p.10; SE n2 245, cota: SE aV p.6; SE n9 237-3, cota: SE alIl p.10; e
SE n9 237-4, cota: SE alIl p.lO.
No âmbito do trabalho foram efectuadas entrevistas a Celestíno de Sousa,
membro da primeira rede clandestina da FRELIMO no Zóbue, Tete (Tete: 1983),
e ao tenente-coronel João Cecílio Gonçalves, que foi Governador do Distrito de
Tete durante este período (Lisboa: 1986).
Foram ainda consultados alguns livros e artigos. No âmbito do Movimento de
Libertação muçambíca no, o insubstituível trabalho de Eduardo Mondlane, Lutar
Por Moçambique (Lisboa: Sa da Costa, 1977), e alguns textos da série da
FRELIMO, Voz da Revolução, nomeadamente o ng 8, "Da Necessidade de uma
Guerra Prolongada", in Aquino de Bragança eImmanuel Wallerstein, Quem e o
Inimigo (III)? (Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1978); e FRELIMO, O Processo Re
volucionário da Guerra Popular de Libertação (artigos coligidos do orgão de
informação da FRELIMO, A Voz da Revolução, desde 1963 até 1974)
(Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 1, 1977). Constituem também
referência obrigatória os trabalhos de Samora Machel, nomeadamente, O
Processo da Revolução De mocrática Popular em Moçambique (Maputo: DTI,
Estudos e Orientações, 8, 1980); e AVítriaConstrói-se A Vitória Organiza-se
(Mensagens do Secretáriado De partamento de Defesa e Presidente da FRELIMO,
Camarada Samora Machel, aos Combatentes e ao Povo Moçam bicano, 19671974) (Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 2, 1977). Uma
panoramica geral da luta de libertação moçambícana neste período, que permitiu
uma visão global de contexto, é dada em Luís de Brito, João Paulo Borges Coelho
e José Negrão, His138
tória de Moçambique IV: A Luta de Libertação Nacional; e em Thomas
H.Henriksen, Revolutionafid Counter revolution - Mozambique's War of
Independence, 1964-1974 (Westport: Greenwood Press, 1983). Sobre aspectos
particulares da guerra existem diversos arti gos e cronicas, como por exemplo
Walter C.Opello Jr, Guerrilla War ín Portuguese Africa: An Assessment of the
Balance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974, pp.29-37. Sobre
diversos aspectos liga dos à luta em Tete, particularmente a problemática do
empreendimento de Cahora Bassa, são importantes os trabalhos de Õscar
Monteiro, Moçambique no Contexto Especifico da África Austral, in Aquinode
Bra gança e Immanuel Wallerstein, op.cit., pp.70-76; e Keíth Middlemass, Cabora
Bassa: Engeneeríng and Politics ín Southern Africa (Londres: Weidenfeld and
Nicholson, 1975). Sobre as relações do Malawí com Portugal e a FRELIMO, no
contexto da luta de libertação, existe já uma extensa literatura, nomeadamen te
Carolyn McMaster, Malawí Foreign Polícy and Deve lopment (Londres:
J.Friedman, 1974); Robert d'A.Hen derson, Relatíons of Neíghbourliness Malawi and Portugal, 1964-1974, in Journal of Modern African Studies, 15(3),
Cambridge e Nova York, 1977; João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de
Tete e o Malawi (Maputo: AHM, 1984, mímeo); e Phílip Short, Banda (Londres e
Boston: Routledge & Kegan Paul, 1974). Sobre o papel da Zâmbía neste processo
a literatura e mais escassa, sobressaindo Dougles G.Anglín, Confrontation in
Southern Africa: Zambia and Portugal, Internatíonal Journal (Canadían Instítute
of International Affairs, vol.XXV, 3, 1970). Existem diversas obras coloniais com
a sua perspectiva, como Kaulza de Arriaga, Coragem Tenacidade e Fé (Lourenço
Marques: Empresa Moderna, 1973); Guilherme de Melo, Moçambique Norte Guerra e Paz (Lisboa: Ulis seja, 1969); e, sobre as relações com os países vizinhos
de Moçambique neste contexto, Jorge Jardim, Moçambique: Terra Queimada
(Lisboa: Intervenção, 1976). A obra de Maria Carrilho, Forças Armadas e
139
Mudança Política em Portugal no Séc.XX (Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da
Moeda, 1985), constituí um importante estudo sociológico sobre o exército
portugues e o impacto que a guerra colonial produziu nele. Foram ainda
consultadas algumas obras gerais sobre a luta de guerrilha na sua genese histórica
e desenvolvimento como, Emílío Lussu, Teoria da Insur reição (Lisboa: Ulmeiro,
s/d); e Friedrich Engels, Revolución e Contrarrevolución en Alemanía, in Obras
Escogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial- Progreso, 1973). Um-excelente
enquadramento teórico e panoramica sobre a prática da guerrilha é constituído
pela antologia de William J.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres:
Lawrence & Wishart, 1969), que in clui o importante texto de Mao Zedong, Base
Areas in the Anti-Japanese Guerrílla War. O livro de Basil Davidson, The
People's Cause: A History of Guer rillas in Africa (Harlow: Longmann, 1981)
abre algu mas perspectivas para o estudo do fenômeno da luta de guerrilhas em
África. O livro de Carl von Clause witz, Da Guerra (Lisboa: Perspectivas e
Realidades, 1976), constitui ainda um clássico importante sobre a arte militar; e
Yves Lacoste, A Geografia Serve An tes de Mais Para Fazer a Guerra (Lisboa:
Iniciativas Editoriais, 1977), abre perspectivas inovadoras e criativas sobre o
papel da geografia no estudo des te campo. Finalmente, o texto de Aquíno de
Bragança e Jacques Depelchin, Da Idealizaçâo da FRELIMO aCom preensao da
História Recente de Moçambique (Maputo: CEA, 1986, mimeo), constitui um dos
escassos trabalhos de reflexão crítica da historiografia sobre a FRELIMO; e o
artigo de W.G.Clarence-Smith, For Brau del: A Note on the 'Ecole des Annales'
and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4, 1977, pp.275-281,
contém interessante reflexão teorica sobre a problemática das fontes.
A elaboração dos mapas apresentados baseou-se nos Sítrep's Circunstanciados do
Governo do Distrito de Tete e do Comando Sectorial F, referidos no início.
,140
SIGLAS USADAS NA DOCUMENTAÇÃO
AA
'AAut
AB Acamp
Ad
Adm ALD
APsic Aquart
Aux BA,
BART BCAÇ
BCAV CART CCAÇ CCAV
CCS
Ci rc
CM
COCAP
com C2OM SEC
Conc Coord COREMO
ELINAMO
Emb
F
F
FBN
FFGFFRFRFRELIMO
FUNIPAMO
GAAAutoridades Administrativas Arma Automática Aeródromo Base Acanpamento
Administração (exemplo: AdConc Concelho) Administrativo Aldeamento Acção
Psicológica Aquartelamento Auxiliares
Administração
Base (normalmente de guerrilha) Batalhão de Artilharia Batalhão de Caçadores
Batalhão de Cavalaria Companhia de Artilharia Companhia de Caçadores
Companhia de Cavalaria Companhia de Comando e Serviços (ref. a um Batalhão)
Circunscrição
Comando (ref. a um Batalhão) Comissão de Coordenação da Acção Psicológica
Comando
Comando Sectorial (de Tete: COM SEC F) Concelho
Coordenadas
Comité Revolucionário de Moçambique (ou MORECO - Mo zambique
Revolutionary Committe) Exército de Libertação de Moçambique (braço armado
do COREMO), também designado de EREPOMO. Emboscada
Força (normalmente Grupo Armado) Sector militar portugues em Tete Subsector
militar português de Bene Subsector militar portugues de Fingoé Subsector militar
português de Furancungo FRELIMO
Frente de Libertação de Moçambique Subsector militar portugues de Tete Frente
Unida para a Autonomia de Moçambique Guardas Auxiliares da Administração
141
GComb - Grupo de Combate (normalmente ref. ao exército português)
GD - Granada Defensiva
GDT - Governador do Distrito de Tete ou Governo do Distrito
de Tete
GF - Guarda Fronteira
GIFOP - Gabinete de Informação e Formação da Opinião Pública GM - Granada
de Mao
GO - Granada Ofensiva
GR - Grupo
IN - Inimigo (ref. normalmente aos guerrilheiros)
INT - Intervençao (normalmente F INT - Força de Intervenção)
LGF - Lança Granadas e Foguetes (tipo de Arma)
MAC - Mina Anti-Carro
MAP - Mina Anti-Pessoal
MCP - Malawi Congress Party (Partido do Governo do Malawi)
Metr - Metralhadora
MIL - Milicia
Mort - Morteiro
Mte - Monte
NF - Nossas Forças (ref. as forças portuguesas) NT - Nossas Tropas (ref. ao
exército português)
Op - Operação ýmilitar)
OPVDC - Organizaçao Provincial de Voluntários de Defesa Civil PA - Posto
Administrativo
Pel - Pelotão (ref. ao exército português)
PIDE - Policia Internacional de Defesa do Estado
Pop - Popula2ão
Pov - Povoaçao
PSP - Policia de Segurança Pública
QG - Quartel General
R - Rio
Rec - Reconhecimento
Ref - Referência
Reg - Região
Reged - Regedoria RI - Relatório de Informações ou Relatório Imediato
RN - Relatório de Noticia
S - Serra
SAP - Serviços de Acção Psicológica
SCCIM - Serviços de Centralizaçao e Coordenação de Informações
(por vezes apenas SCCI)
SEC - Secçao
SIM - Serviços de Informa£ões Militares
SITREP - Relatório da Situaçao (do inglês Situation Report) T6 - Avião militar de
dois lugares, a hélice UDENAMO - União Democrática Nacional de Moçambique
UNAMI - União Nacional de Moçambique Independente UNAR - União
Nacional Africana da Rumbézia
UNIP - United National Independence Party (Partido do Governo da Zâmbia)
142
ANEXO 1
Principais acções militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonial
entre Março de 1968 e Junho de 1969
(Fonte: Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F e do Governo do
Distrito de Tete, in AHM, respectivamente, FT-Arquivo Confidencial do
Governo, cx 31, e FT-Moatize, cxs 106 e 108).
143
8MAR68
lIMAR68
17MAR68
18MAR68
26MAR68
26MAR68
26MAR68
26MAR68
29MAR68
31MAR68
31MAR68
IABR68
2ABR68
5ABR68
1ABR68
15ABR68
16ABR68
17ABR68
20ABR68
25ABR68
25ABR68
4MA168
5MAI68
11MA168
14MA168
14MA168
15MAI68
15MAI68
21MAI68
Camedima
2JUN68
5JUN68
7JUN68
9JUN68
9JUN68
12JUN68
13JUN68
21JUN68
144
Data
Local
Vila Gago Coutinho
Serra Chimanto, na margem do rio Cangombe
A 4 km de Cassuende
A 10 km de Cassuende
Vila de Bene
Rio Luângua, a ý km de Bene
Rio Luia, na estrada Bene-Cassacatiza
Estrada GagoCoutinho-Cas suende
Estrada Furancungo-Vuende, a 6 km de Vuende
Estrada Gago Coutinho-Cassuende
Na mesma estrada, adiante
Estrada Gago-Cout inho-Cassuende
Vila Vasco da Gama
Cantina Alves (Mlunga), estrada Furancungo-Tete
Estrada Bene-Cassacatiza, a 9 km do rio Chiticula
A 7 km de Cassuende
Junto à povoação Donato (Cassuende)
Estrada Furancungo-Vuende
Estrada Cassuende-Gago Coutinho
Estrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Luia
Região de Chizame
Estrada Bene-Cassacatiza, a 4 km de Cassacatiza
Povoação de Chizame
Regiao de Cassuende
Região de Cassuende
Mesmo local, adiante
Estrada Bene-Vuende, junto ao rio M'pule
A 3 km do rio Capoche, perto da povoação Penhame
Estra4a Cago Coutinho-Cassuende, junto ao monte
Chiticula
A 1 km de Chiticula
Chiticula
Região de Cassacatiza
Estrada Gago Coutinho-Cassuende
Povoação Caduco
Junto ao rio Mavai
Vila de Tembué
Tipo de Acção
Observaçces
Ataque a vila e seu aquartelamento Emboscada a coluna
Mina anti-carro Mina anti-carro
Ataque a vila e seu aquartelamento Destruição de ponte com explosivos
Destruição de ponte Mina
Emboscada a coluna militar
Mina
Mina anti-carro
Mina
Ataque a vila e seu aquartelamento Assalto a povoação Mina
Mina anti-carro Mina
Emboscada a coluna militar Mina anti-carro Emboscada a grupo de PSP/Milícias
Recontro com grupo de Milícias Emboscada a coluna militar Ataque a Pov eposto
PSP/Milircias Emboscada a coluna militar
Emboscada a coluna militar Emboscada a coluna militar Mina anti-carro Recontro
com grupo de Milícias
Emboscada a coluna militar
Destruição de acampamento das Obras Públicas Emboscada a coluna de Milicias
Ataque a acampamento das Obras Públicas
Mina
Emboscada a coluna militar
Ataque a povoação e aquartelamento da OPVDC Emboscada a coluna da OPVDC
Ataque a Posto Administrativo
Duração: 45 minutos Na coluna iam o AdCirc Maravia, o AdPa Chofombo, 1 PSP
eMilicias de Cassuende
4 feridos da CCAÇ 1655 Atingida coluna da CCAÇ 1655 Duraçao: 20 minutos
Apoio de camponeses na acção Atingida coluna da CCAÇ 1569 O grupo de
guerrilheiros foi esti mado em 15. 1 oficial portugues gravemente ferido Coluna
da CCAÇ 1569 Atingida a mesma coluna Atingido 1 miliciano Duraçao: 1 hora
Accionada por patrulha militar
Accionada por patrulha militar Guerrilheiros estimados em 12 Accionada por
coluna militar
A coluna militar tomava parte na Operação Reacção . CCAÇ 1654, integrada na
Op Ajuda Mesma coluna da emboscada anterior Accionada por viatura de
comerciante O grupo de Milícias de 22 elementos pos-se em fuga
Fuga do grupo de Milícias que o protegia
Os mesmos Milicias da acção anterior
O mesmo. Duração: 20 minutos Accionada por CCAÇ/Vila Gouveia Pelotão da
CART 2385
145
Tipo de Acção
Observações
Data
Local
25JUN68 25JUN68 26JUN68 28JUN68 28JUN68 30JUN68
3JUL68
6JUL68 7JUL68 15JUL68 203UL68
21JUL68 23JUL68 26JUL68 26JUL68 27JUL68
28JUL68
28J"UL68 21AGO68 23AGO68 23AG068 24AGO68 27AG068 4SET68 6SE168
9SET68 1lSET68 12SET68 12SET68 14SET68
14SET68 15SET68 24SET68 26SET68
14OUT68 150UT68 150UT68
OUT68 1NOV68
Rio Mecumbuzi Perto do monte Cagula
Estrada Cassuende-Gago Coutinho Entre Chiticula e o rio Capoche A 7 km da
Vila de Bene Vila de Bene Estrada Caliramo-Bene, a 500 m de Bene Vila de Bene
Estrada Bene-Cassacatiza
Região de Tembué Tembue
Estrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Mecumbuzi Estrada Cassuende-Gago
Coutinho Furancungo Região de Tembué, perto do rio Puepua Perto de Chiticula
Região de Tembué Estrada Bene-Tembué Estrada Vuende-Cauere
Regedoria Cangombe (Uiliamo) Região de Cassuende Vila de Tembué Estrada
Bene-Fingoé Vila de Bene Vila de Tembué Região de Cassacatiza A Sul de Vila
Vasco da Gama Estrada Bene-Vuende Caduco
Estrada Bene-Cassacatiza, a 15 km de Cassacatiza Estrada Bene-Cassacatiza, a 2
km de Bene Perto da povoação Caduco Estrada Tembue-Cassacatiza Monte
Chidima Povoação de Cassacatiza Região do rio Sadzo Cauasa
No mesmo local Estrada Vila Vasco da Gama-Fingoé
146
Data
Local
Tipo de Acção
Mina
Ataque a patrulha de Milícias Emboscada a coluna Ataque a vila e seu
aquartelamento Emboscada a coluna Ataque a vila e seu aquartelamento
Mina
Recontro com patrulha PSP/Mil Ataque a vila Mina
Emboscada a grupo de combate Ataque a vila e seu aquartelamento Mina
Mina
Mina
Mina
Mina
Emboscada a grupo de milhcias Recontro Ataque a aquartelamento Minas
Ataque a aquartelamento Ataque a aquartelamento
Mina
Ataque a patrulha Mina
Ataque a povoação e posto PSP/Mil Mina
Mina
Emboscada Mina
Emboscada Ataque a aquartelamento
Mina
Ataque a posto PSP/Milícias Ataque a posto PSP/Milicias Emboscada a grupo
PSP/Milicias
Incêndio e destruição de ponte Recontro
Observações
Accionada por CART 2385
Coluna da CART 2385 Duração: 7 horas e 20 minutos Em simultãneo com o
ataque anterior O grupo guerrilheiro foi estimado em cerca de 200. So a
intervenção da aviação impediu que a vila fos se ocupada.
Accionada por escolta do brigadei ro comandante do Sector F
Accionada por coluna da CCAÇ 2358 GComb da CART 2385 Sede do batalhão
do Subsector FFR Accionada por coluna da CCAÇ 2358 Accionada por coluna
militar Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar Accionada por
coluna militar da CCS/BCAÇ 2842
Milicias de Vila Vasco da Gama Secção da CART 2385
Accionadas pot coluna militar
Accionada por coluna militar Patrulha do Posto Administrativo Accionada por
coluna militar
Accionada Accionada Ao Gr Mil Accionada Ao Gr Mil
Coluna da Um guarda
por coluna militar por coluna militar de Vila Vasco da Gama por coluna militar de
Vila Vasco da Gama
CCAV 2400
PSP ferido
1 tenente morto e 4 feridos, entre os quais o administrador
Forças da CCAV 2400 integradas na Op Sentinela Alerta. 1 morto e 4 feridos.
147
Data
Local
4NOV68
5NOV68
11NOV68
5DEZ68
1ODEZh8
lODEZ68
4JAN69
14JAN69
16JAN69
17JAN69
18JAN69
31JAN69
2FEV69
3FEV69
12FEV69
Estrada Tembue-Bene
(3225.1504)
Estrada Bene-Tembué, a 10 km de Bene
Estrada Vuende-Furancungo, a 4 km de Vuende
Estrada Cassuende-Msolola
Estrada Sadzo-rio Mecumbuzi
Estrada Cassuende-Gago Coutinho
Estrada Chiticula-Sadzo
Estrada Bene-Chiticula
A 17 km de Furancungo
Povoações Tsingano e Jeque (Vuende)
Vila de Tembue
Povoação Chuanga (Vuende)
Missale
Povoação Cuncere
14FEV69
15FEV69
e Chingombe
17FEV69
19FEV69
25FEV69
25FEV69
26FEV69
27FEV69
24MAR69
29MAR69
30MAR69
3ABR69
4ABR69
7ABR69
1OABR69
12ABR69
16ABR69
19ABR69
20ABR69
tinho
20ABR69
24ABR69
148
Estrada de Missale, a 5 km de Vila Gamito
Estrada Cassuende-Gago Coutinho, rios Metambazi
Povoaçao Cangombe
Povoação Cangombe
Povoação Cussarara
Serra Chirundi
Estrada Furancungo-Vila Gamito
Bonina2 perto de Cussarara
Povoaçao Ponde, a 30 km de Vuende
Povoação Ponde
Povoações Cussarara e Chissinde
Estrada de Furancungo, a 6 km de Vila Gamito
Serra Chirungué
A 4 km da povoação Camões
Cassuende
Sadzo (Cassacatiza)
Aldeamento Cherize
Povoação Capeza (Chofombo)
Zona da fronteira entre o rio Ucanha e Gago Cou
Estrada Bene-Tembué
Sobre o rio Luatize, perto de Gago Coutinho
Tipo de Acção
Observaçaes
Mina
Emboscada
Mina
Mina anti-carro
Mina anti-carro
Mina anti-carro Engenho explosivo Engenho explosivo Engenho explosivo
Engenho explosivo
Fuga de pop com guerrilheiros
Ataque a vila e seu aquartelamento Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a vila e
posto fiscal Fuga de pop com guerrilheiros Mina
Destruição de duas pontes
Flagelação de povoação eaquartelamento
Flagelação de aquartelamento Ataque a casa de regedor colaborante com as
autoridades Emboscada a grupo de combate
Mina
Assalto a cantina Ataque a grupo de combate Rapto de Cabo de Terras
colaborante com a autoridade Rapto de dois Cabos de Terras co laborantes com a
autoridade
Mina
Recontro com grupo de combate Mina
Ataque a aquartelamento Ataque a aquartelamento Ataque a força de
PSP/Milícias
Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros
Mina
Destruição de ponte
Forças integradas na Op Mosquito Coluna da CCAV 2398
Accionada por coluna da CCAÇ 2359. A mina era de 10 kg de TNT e foi
accionada electricamente Accionada por coluna da CCAV 2400. Muitas baixas
Accionada por coluna da.CCAV 2398 Accionado por coluna militar Accionado
por coluna militar Accionado por coluna militar Accionado por viatura da
AdConc-Macanga
As aldeias ficaram desertas Duração: 25 minutos A aldeia ficou deserta
Accionada por coluna militar A estrada ficou interrompida
Déstruição da casa e saque do imposto domiciliário Muitos soldados feridos
Accionada por coluna militar
O GComb estava dentro duma cantina
Accionada por coluna militar
A força protegia a construção do
aldeamento
Fuga massiva
Accionada por coluna militar
149
Observações
Tipo de Acção
Data
Local
26ABR69
26ABR69
28ABR69
2MA169
3MA169
5MAI69
6MAI69
9MAI69
9MAI69
11MA169
15MA169
15MAI69
16MA169
18MAI69
19MAI69
21MAI69
29MA169
29MA169
3JUN69
Povoações M'zonza e Taulo
Povoações Lucas e Nhacona Tembo
Povoaçao Camboto
Estrada Bene-Chiuta
Vila Gamito
Estrada Vila Gamito-Frcitas
Grupo de povoações Causo
Sadzo
Regiões de Malipna, Catona e Chissinga (Chofombo)
Estrada Chiticula-rio Mucumbuzi
Freitas (Vila Gamito)
Monte N'gosa
Gibe (Freitas)
Gibe (Freitas)
Estrada Fingoé-Chicoa
Estrada Sabondo-Cheridze
Estrada Fingoé-Vila Vasco da Gama
Estrada Vila Vasco da Gama-Cantina Oliveira
Bene
3JUN69
3JUN69
3JUN69
7JUN69
8JUN69
150
Tembue
Povoação Besseremo (Tambuê)
Caliramo
Povoação Piri-Piri/Cope
Povoação Chimponda
Tipo de Acção
Observaç~es
Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com
guerrilheiros Emboscada Ataque a aquartelamento Mina
Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a aquartelamento Fuga massiva de
populações
Mina
Ataque a aquartelamento Emboscada Assalto a cantina Mina
Emboscada Recontro
Mina
Mina
Ataque a vila Ataque a aldeamento Fuga de pop com guerrilheiros Mina
Fuga de populaçSes Fuga de populaçoes
Junto ã fronteira
A coluna militar
Accionada por coluna militar Todo o grupo de povoaçoes
Fugiram 19 povoações (perto de 1000 pessoas) provavelmente devido à
perspectiva dos aldeamentos. A re giaó ficou deserta Accionada por coluna militar
A forças militares
Accionada por patrulha militar A coluna militar Com grupo de combate
Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar
As pop iam ser aldeadas Accionada por coluna militar
151
Tipo de Acção
Observações
ANEXO II
Operações militares especiais efectuadas pelo exercito português em Tete no
ãmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de
1968)
(Fonte: Sitrep' s Circunstanciados do Comando Sectorial F, AHMM, FT-Arquivo
Confidencial do Governo, cx 31).
153
Operação
Protagonista Data Duração Natureza
Tampão
1- Bucha 2- Bucha Bota-Fora
Dever
Fronteira Mãos Dadas
Salado
Pimenta Equator Alfa
Equator Bravo Colorau Equator Charlie
CCAÇ 1654
2GComb/CCAÇ 1655 2GComb/CCAV 1730 CCAÇ 1655
CCAÇ 2357 e 2GComb/Subsector
1AG068 Variável
6AGO68 6AG068 10AG068
5 dias 5 dias 3 dias
11AG068 A indicar
lGComb/CCAÇ 2357 3SET68 GComb/INT
CCAÇ 2358
CCAÇ 2358 e 1GComb/CCAV
4 dias
Não in- Não indidicada cada
Não in- Não indi2398 dicada cada
CCAV 2399
16SET68
IGComb/CCAÇ 2358 17SET68 IGComb/CCAÇ 2357 IGComb/CCAÇ 2359
CCS/BCAÇ 2842 CCAÇ 2358
17SET68
CART 2385
18SET68
lGComb/CCAV 1730 19SET68 CCS/BCAÇ 2842 CCAV 2398 CCAV 2400
4 dias
1 dia
1 dia 3 dias
1 dia
Batida e Golpe de Mão Nomadização Nomadização Golpe de Mão Nomadização
Nomadização Golpe de Mão Golpe de Mão Batida Golpe de Mão
Golpe de Mão Golpe de Mão Golpe de Mão
Mais Outra Vez Ano Grande Grande Premio Pequeno Prémio Cigano Bate Certo
Colaboração
Vagabundo
IGComb/CCAÇ 3GComb/CCAV CCAV 2398
CCAV 2400 CCAÇ 2422 CCAÇ 2358 CCAÇ 2357 mais lGComb
2358 24SET68 2398 27SET68
29SET68
dias dias dias
30SET68
IOUT68 15 dias
30UT68 15OUT68
2GComb/CCAÇ 2421 18OUT68
2 dias
15 dias
Golpe
Golpe Golpe
Mão Mão M4o
Batida e embos cadas
Batida e embos cadas
Emboscadas Linhas e embos cadas
Batida com em boscada~e go! pe de mao
154
Local
Resultados
Observações
Margens dos rios Aruân gua e Zambeze (3254.1539) (3254.1539) (3155,7.1535,1)
(3245.1412) (3247.1417,5) (3252,5.1425,5) (3246.1412) (3239.1415)
(3245.1412). BA Beira
BA Quelimane (3305.1458)
Rios Menene e Capoche BA Rovuma (3254.1458), BA Quelimane (3306. 1454),
e BA Antonio Enes (3306.1506) BA Beira (3Z48.1443) BA Maera (3157.1435)
BAMsolola (3206.1423), BADuângua (3209.1424), BA Mutarara (3213,5. .1427),
e BA Chitequele ou Juromol (3229.1424) BA António Enes R Capoche
(3213,5.1427) BA Mutarara
Sem contacto Sem contacto Sem contacto
Destruida a BA abando nada e capturados documentos
Destruida a BA abando nada e capturados documentos
Destruída BA Maera que estava abandonada
Terminou em 2SET Terminou em 7SET. gido um avião T6
Atin
Apoio aéreo
BAs Rovuma e Antonio Enes abandonadas. Na BA Quelimane, já destruida,
queimadas 200 palhotas, abatidos 3G, capturada pop e armamento. Apoio Aéreo
Capturado IG
Apoio aéreo
Destruidas 2 pov aban Apoio aereo donadas (3200.1437,5)
2 soldados mortos. IG morto. Destruido 1 hospital FRELI0O. Destruida BA
Juromol. Destruidos meios de vida entre os rios Duangua, Capo che e a fronteira.
Apoio aéreo
Destruida a nova BA
Apoio aéreo A CCAV sofreu 2 emboscadas
BA Mutarara
R Mucumbuzi'(3222.1502)
(3305.1454)
Entre o rio Muangadzi (3239.1415,5) e a foz do rio Mesotosi (3243. 1432)
Rios Menene, Mucumbuzi e margem esquerda do rio Nhimbe
Sem contacto Sem contacto
Sem contacto. Destrui das 2 pov (3227.1459) e 1 pov (3226.1501)
Destruida mais 1 pov (3226.1504,5). Queimados 8 celeiros
155
Operação Protagonista Data Duração Natureza
Garden
Teimosia
Alerta Está
Atalaia
Sentinela Alerta Soma e Segue Nova Ordem
Tentativa
Saltimbanco Mosquito Decepção Pente Fino
Birthday Albatroz Arara Cotovia Papagaio Confirmação
CCAV 1730
200UT68
lGComb/CCAÇ 2359 210UT68 ref SEC/CCAÇ 1710 2GComb/CCAV 2398
220UT68
2GComb/CCAV 1730 230UT68 2GComb/CCAV 2400 240UT68
2GComb/CCAV 1728 250UT68 2GComb/CCAV 2399 270UT68
2 dias
Não determinada
3 dias
Não determinada 1 dia
Não determinada
1GComb INT/CCAÇ 280UT68 2357, iGComb INT /CCAÇ 2359 e iPel Rec/CCS
BCAÇ 2842 IGComb/CCAÇ 2423 4NOV68 15 dias
24CCAÇ/BCAÇ 17
IGComb INT/CCAÇ 2357, elementos CCS/BCAÇ 2842 1GComb/CCAÇ 2357
1GComb/CCAÇ 2359 IGComb/CCS BCAÇ 2842
BCAV 2850
4NOV68 3 dias
5NOV68 1 dia 9NOV68 1 dia Não in- Não indidicada cada
CMD/CCAÇ 2359 e 18NOV68 2GComb/CCAÇ 2359
4 dias
Golpe de Mão
Golpe de Mão Patrulhamento e emboscada Nomadização e emboscada Pat
rulhamento e emboscada Golpe de Mão Nomadizaçâo
Cerco e batida com emboscada Batida com em boscada~e gol pe de mao Batida
com em boscadas
Cerco e ataque Cerco e batida
Não indicada
Batida
Local
Resultados
Observações
BA Capoche (3214.1429)
Rio Mepule (3307.1504), suposto local da BA An tonio Enes
Vronteira-R Capoche- R
Mecumbuzi nas linhas de infiltração prováveis Fronteira c/Malawi des de limite N
do Subsector até S Salambidua Fronteira, do R Capoche até Cassuende Suposta
BA Rovuma (3258.1457)
Margem do R Capoche en tre Dalauene (3237. .1455,5) e Chizame (3229.1445) E
de Furancingo (3339. .1454)
Vale do rio Mepizizi, rios Mecumbuzi e Menene
Vale do rio Nhimbe rios Nhacolave, Mucumbuzi e Zunga
(3334.1449)
Entre Furancungo, estrada para Tete e vale do rio Chuala (3333.1452)
Vale do rio Capoche
Rios Luangua Grande e
Pequeno, Massange, Chi rembue e Chiundi
Detruída a BA Capoche Sem contacto
Apreendido muito material de guerra e documentos. Destruida alimentaçao
A BA foi localizada á completamente destruda
Interrompida
Sem contacto
Interrompida
Não localizada a BA Sem contacto
Recuperados 31 pop Terminou em 4NOV
Sem contacto
Encontrado esconderijo em (3218.1506)
Sem contacto
Sem contacto
Sem contacto
Originou o abandono pela FRELIMO das BAs dos rios Capoche e Luatize.
Terminou em 21NOV Terminou em 23NOV Terminou em 23NOV Terminou em
22NOV
Terminou em 22NOV
157
Operação Protagonista Data Duração Natureza
Andorinha Tarata (1c Parte) Tarata (2Lk Parte)
Bóta-Fora Vespa :Sado
Natal
Tomé
Tiago Pedro Paulo João
Boas Festas Pai Natal
Vontade Forte Ponte a Pé Consoada
2GComb/CCAV 2399 25NOV68
CCAV 2399
CCAV 2398
CCAÇ 2423
CART 2385 CCAÇ 2359 CCAÇ 2423 1GComb/2a CCAÇ BCAÇ 17 2L CCAÇ
BCAÇ 17 CCAÇ 2357 CCAÇ 2357
CCAV 2400
CCAÇ CCAÇ
1710 2359
4 dias
28NOV68 2 dias
28NOV68 1DEZ68 2DEZ68
8DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 11DEZ68
15DEZ68
dias dias
dias dias dias dias dias dias dias
15DEZ68 Não deter
minada
15DEZ68 6 dias 16DEZ68 4 dias
Batida e embos cada
Batida
Emboscada e gol pe de mao Batida e golpe de mao
Batida e golpe de mão
Batida e embos cada
Batida e pesqui sa de noticias Batida e embos cada
Batida e embos cada
Batida e embos cada
Batida e cerco a monte Cerco e batida
com golpe de mao
Busca, batida e emboscada
Busca, batida e emboscada Cerco e batida
com golpe de mão
Ássim Sim
3GComb/CCAÇ 2398 20DEZ68 2 dias
Batida com gol pe de mão imediato
158
Local
Resultados
Observações
Entre os rios Capoche, Nhimbe, Messuze e pica da Cangombe-Fingoe Mesmo
local
Cruzamento rio Sadzo-fronteira
S Mepãdue(3228.1511)
Montes Mecusse e Antunda
Montes Tchidima e Mucuose, rio Casula Rios Zambeze, Capoche, Luia, Nhimbe
Rio Nhimbe e Chipera
Monte Chuamba e rio Menene
Rios Menene e Mucumbuzi e monte Ancanga Rio Messansama
Rio Luângua Grande, es trada Cauasa-Chizampeta-rio Luangua Pequeno
-Mte Pembe (3220.1435) Rios Duângua e Chingom be e Monte Megosa(3158.
.1358) até à fronteira Ponte do rio Mucumbuzi na estrada Sadzo Messediza
(3321.1448), R Metangola (3329.1448), S Mecuancuangala(3329. .1443), R
Luangua Pequeno e Chirembue(3316.
.1443)
Confluência dos R Messala e Mucumbuzi (suposta BA Juromol)
Terminou em 23NOV
Destruida BA, abatido IG e capturado armamento
Sem vestigios
Sem contacto
Descoberta pov Quelifo te. BA em (3236.1515)
Encontradas abandonadas 4 pov
Destruídas duas pov abandonadas no monte Ahtunda 3219.1506,5), e BA
(3221,7.1507,6) Destruidas 10 BA (3232.1459),(3229,5.1459,5), (3230.1502,5),
(3238.1511,8),(3241,5.1512,2), (3238.1514,5), (3242,5.1513,5),(3235.1507),
(3229.1512), (3234,5.1514). 2G mortos, 50 pop recuperadas, destruido
armamento Sem contacto
Sem contacto
Sem contacto
Seit contacto
Sem contacto Sem contacto Sem contacto
Monte localizado nas co ord.(3334,5.1448,5)
Interrompida em 22DEZ
Destruidas palhotas vários meios de vida
159
Operação Protagonista Data Duração Natureza
Fogo
2GComb/BCAÇ 1906 20DEZ68
Sheltox Reveillon Labareda
5 dias
2GComb/2-_ SEC 20DEZ68 4 dias CCAV 1730 e lGComb/CCAÇ VManica
3GComb/CCAÇ 2358 23DEZ68 3 dias
2GComb/2L CCAÇ BCAÇ 17
26DEZ68 4 dias
Batida com gol pe de mão imediato
Detectar actividade FRELIMO junto pop
Nomadização e golpe de mão à BA Beira
Batida para gol pe de mão
CCAÇ 2423
26DEZ68 4 dias
2GComb/CCAÇ 2399 28DEZ68
2 dias
Batida e recolha de cereais das Pop Batida e embos cada
Apoio
Galucho
160
Local
Resultados
Observações
R Mucumbuzi desde (3208. .1456) até (3222.1503) e Mte Mulima e vale do R
Mepizizi desde(3204. 1503) até (3254.1505) Reged.Mboola, Chimarizene e area
Caldas Xavier-Ncungas-fronteira com o Malawi Rios Chisibué e Muangadzi
Rio Mevira até rio Mulemba (3234.1455) desde vale do rio Menene até rio
Muerixe
Sul da Cantina Oliveira e rio Mepizizi
Rios Menene e Mucumbuzi e área (3239.1512)
Sem contacto
Terminou em 23DEZ
Sem contacto Sem contacto Sem contacto
Destruidos muitos meios de vida abandonados
Alterado local para o Mte Uncanha, vale dos rios Cadize, Mucumbuzi
e Mepizizi por Gr terem ai raptado Pop. Aumentada duração para 5 dias
Recolhidos haveres de
9 Pov da area Jones
161
Impresso na Divisao Grafica da Universidade Eduardo Mondiane
*!1092-636- 1-6-94
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3 5556 021 767 090
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