UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica LIMIAR AUDITIVO COM O POTENIAL EVOCADO EM REGIME PERMANENTE UTILIZANDO TÉCNICAS DE DETECÇÃO OBJETIVA Damares Plácido Moreira de Souza BELO HORIZONTE, BRASIL. MARÇO DE 2011 Página |i Damares Plácido Moreira de Souza LIMIAR AUDITIVO COM O POTENCIAL EVOCADO EM REGIME PERMANENTE UTILIZANDO TÉCNICAS DE DETECÇÃO OBJETIVA Dissertação submetida ao Programa de PósGraduação em Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica. Orientador: Prof. Dr. Carlos Julio Tierra Criollo Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernando Tormin Borges Crosara P á g i n a | ii Damares Plácido Moreira de Souza LIMIAR AUDITIVO COM O POTENCIAL EVOCADO EM REGIME PERMANENTE UTILIZANDO TÉCNICAS DE DETECÇÃO OBJETIVA Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. _____________________________________ Carlos Julio Tierra Criollo (Orientador) - UFMG _____________________________________ Paulo Fernando Tormin Borges Crosara (Co-Orientador) - UFMG _____________________________________ Flávio Barbosa Nunes – UFMG _____________________________________ Hani Camile Yehia – UFMG _____________________________________ Sady Antônio dos Santos Filho – PUC Minas P á g i n a | iii AGRADECIMENTOS Aos meus pais. Pai, amo você. Mamãe querida, obrigada por estar sempre presente nas grandes decisões da minha vida, me apoiando e me amando, independente do quanto eu estava certa. Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Julio, agradeço-lhe muito pelos ensinamentos, pela prontidão, paciência e sempre boa vontade nos momentos em que muito precisei da sua ajuda. Meu co-orientador Prof. Dr. Paulo Fernando, obrigada pela confiança no meu trabalho e pelas várias observações apontadas durante o desenvolvimento deste trabalho científico. Pelos conselhos que tanto me fizeram repensar nas muitas decisões que tomei no caminho da vida. Aos meus irmãos, obrigada pelo amor e paciência. Maria Lúcia, obrigada por ser, tantas vezes, minha mãe, amo muito você. Cida e Carlinhos obrigada pelo cuidado com o meu pai, quando muitas vezes estive tão ausente. Synara, obrigada por estar sempre do meu lado. Aos meus amigos, Aniel Dutra Jr., Antônio Gontijo, Sasha John, Ana Cláudia, Ana Cristina Gontijo, João Pedro Hallack, Terry Picton, Izabela Lyon, Matheus Romão, Lena, Eduardo Dolabela, Anete, Arlete, Hani, Henrique, Clarissa, Marcos, Adriano Vilela, Pollyana Campos e Marcela, muito obrigada pelo carinho. Meus amigos do Núcleo de Otorrino, obrigada por me ajudarem nesta conquista. Em especial agradeço muito ao Dr. Antônio Lobo, por ter me incentivado desde o princípio. Kátia Milagres e Alexandre Henrique, vocês sempre estiveram presentes me apoiando nos momentos mais complicados, muito obrigada! CEFALA, obrigada por me acolherem. NEPEB, obrigada por me ajudarem a tornar este momento real. A Deus, obrigada pela oportunidade de ter todas essas pessoas na minha vida. Alguns trilhando sempre ao meu lado, outros tantos por apenas cruzarem o meu caminho, mas deixando suas marcas. Agradeço, também, à CAPES, FAPEMIG e CNPq pelo apoio financeiro. P á g i n a | iv RESUMO A audiometria tonal, bem como o potencial evocado auditivo (PEA), são exames audiométricos que possibilitam inferir os níveis de limiares auditivos permitindo, consequentemente, identificar a presença de algum tipo de deficiência auditiva. O PEA é a resposta eletrofisiológica do córtex cerebral e estruturas subcorticais, eliciado por estímulo sensorial auditivo, que pode ser captado no couro cabeludo e está sobreposto à atividade elétrica cerebral espontânea. A estimulação auditiva pode ser realizada em cada orelha, separada ou simultaneamente. O fato de o PEA poder ser captado de maneira não invasiva, sem desconforto para o paciente e, geralmente, sem sedação ou anestesia, aumentou ainda mais a aplicabilidade clínica desse procedimento. O PEA em Regime Permanente (ASSR- Auditory Steady State Response) é uma avaliação quantitativa e objetiva, geralmente eliciado por tons modulados em amplitude. O que vem despertando a atenção de muitos pesquisadores no ASSR é a possibilidade de obtenção de um perfil audiométrico abrangente, o que torna possível a configuração de um "audiograma eletrofisiológico". O presente trabalho tem por objetivo investigar a Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla (MSC) e Teste Espectral F (SFT) na identificação dos limiares auditivos por meio de um sistema de ASSR desenvolvido pelo NEPEB (Núcleo de Estudos e Pesquisa em Engenharia Biomédica) – UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Sinais de EEG foram coletados em nove indivíduos saudáveis (com média de 23,6 ± 2,78 anos). Os eletrodos foram posicionados no vértex da cabeça (Cz), na nuca (região logo abaixo da linha do cabelo) e na base do pescoço. Esse posicionamento foi utilizado por ser, em pesquisas anteriores, descrita como a melhor derivação para o estudo e captação dos sinais da ASSR. Um estímulo constituído por quatro tons AM foi aplicado simultaneamente na orelha esquerda e na direita. A intensidade de estímulo iniciou-se em 60 dB SPL e foi reduzido gradativamente para 50; 40; 30; 25; 20 e 15 dB SPL. O limiar com as técnicas de detecção MSC e SFT não mostraram diferença significativa em suas respostas. O sistema mostrou-se adequado na obtenção da ASSR no grupo estudado. Página |v ABSTRACT Tonal audiometry and auditory evoked potential (AEP)are audiometric exams that allow the inference of auditory thresholds, making it possible to identify auditory deficiencies. The AEP is the physiological response of the cerebral cortex and subcortical structures that is elicited by auditory sensory stimuli; it can be captured on the scalp and is superposed to spontaneous brain activity. Auditory stimuli can be delivered to each ear, simulaneously ou separetely. Because It is a noninvasive procedure that be be applied with no discomfort for the patient and almost always with no sedation nor anesthesia, it has a wide clinical applicability. The Auditory Steady State Response (ASSR) is a quantitative and objective evaluation, generally elicited by amplitude-modulated tones. There is a growing interest in the ASSR because it allows drawing a comprehensive auditory profile, making it an "electrophysiological audiogram". This work aims at studying the Magnitude Squared Coherence (MSC) and Spectral F-test (SFT) in the identification of auditory thresholds via an ASSR developed at NEPEB (Nucleus for Studies and Research in Biomedical Engineering) - UFMG (University of Minas Gerais). EEG signals were collect from nine healthy individuals (with age mean 23.6 ± 2.78 y/o). Electrodes were placed at the head vertex (Cz) and at the neck base. This placement was chosen because of having being described, in earlier research, as the best choice for recording ASSR. Stimulus was made up by four AM tones and applied binaurally at left and right ears. Stimulus intensity started at 60 dB SPL and was gradually reduced for 50; 40; 30; 25; 20 and 15 dB SPL. The difference in the thresholds obtained by MSC and SFT were not statistically significant. The system was adequate to obtain ASSR in the group of experimental subjects. P á g i n a | vi LISTA DE FIGURAS Figura 1. Imagem do AudiStim destacando a interfase gráfica (IC), a unidade de controle (UC), o bioamplificador e os eletrodos usados no registro do EEG 23 Figura 2. Diagrama geral do AudioStim indicando os módulo 24 Figura 3. Diagrama esquemático do procedimento utilizado para a calibração do protótipo 25 Figura 4. MSC (gráfico à esquerda) e SFT (gráfico à direita) do sujeito #1 para (a) 60 dB SPL; (b) 50 dB SPL; (c) 40 dB SPL; (c) 30 dB SPL; (d) 25 dB SPL; (e) 20 dB SPL; (g) 15 dB SPL 31 Figura 5. MSC (gráfico à esquerda) e SFT (gráfico à direita) do sujeito #2 para (a) 60 dB SPL; (b) 50 dB SPL; (c) 40 dB SPL; (c) 30 dB SPL; (d) 25 dB SPL; (e) 20 dB SPL .. 38 Figura 6. Histogramas comparativos entre o número de indivíduos e o número de trechos M 48 Tabela 1. Limiar auditivo do exame de audiometria tonal dos nove indivíduo participantes do estudo em dB SPL 30 Tabela 2. Resultados dos testes estatísticos MSC e SFT na detecção do ASSR da orelha esquerda. Dados em dB SPL 45 Tabela 3. Resultado dos testes estatísticos MSC e SFT na detecção do ASSR da orelha direita. Dados em dB SPL 46 P á g i n a | vii LISTA DE ABREVIATURAS ABR ABR TB AM ANSI Auditory Brain Response Auditory Brain Response Tone Burst Amplitude Modulada American National Standards Institute ASSR Auditory Steady State Response BERA Brainstem Evoked Response Audiometry CEFALA Centro de Estudos da Fala, Acústica, Linguagem e Música CCE Célula Ciliada Externa CCI Célula Ciliada Interna EEG Eletroencefalografia EOA Emissão Otoacústica ECodhG Eletrococleografia FFT Fast Fourier Transform FM Freqüência Modulada IG Interface Gráfica IPRF Índice Percentual de Reconhecimento da Fala MAE Meato Acústico Externo MM Modulação Mista MT Membrana Timpânanica MSC NA NEPEB Magnitude Squared Coherence Nivel de Audição Núcleo de Estudos e Pesquisas em Engenharia Biomédica PEA Potencial Evocado Auditivo SDT Speech Detection Threshold SPL Sound Pressure Level SFT Spectral F Test SRT Speech Reception Threshold UC TANU Unidade de Controle Triagem Auditiva Neonatal Universal P á g i n a | viii SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – Introdução 1 1.1 Objetivos 3 1.2 Estrutura do Trabalho 3 CAPITULO 2 – Sistema Auditivo 5 2.1 Audiograma 7 2.2 Mascaramento 8 2.3 Exames Subjetivos 8 2.3.1 Audiometria 8 2.3.1.1 Audiometria Tonal 9 2.3.1.2 Audiometria Vocal 9 2.3.1.3 Weber 2.3.2 Rinne 2.4 Exames Objetivos 10 11 11 2.4.1 Potencial Evocado Auditivo 12 2.4.2 Eletrococleografia 12 2.4.3 Audiometria de Tronco Encefálico por Cliques (BERA) 12 2.4.3.1 Audiometria de Tronco Encefálico Frequência Específica 13 2.4.4 Resposta Auditiva em Regime Permanente (ASSR) 14 2.4.5 Técnicas de Detecção da ASSR 17 2.4.5.1. Teste Espectral F (SFT) 18 2.4.5.2. Magnitude Quadrática da Coerência (MSC) 19 CAPÍTULO 3 - Materiais e Métodos 21 3.1. Processo de Seleção da Amostra 21 3.2. Local da Coleta dos Dados 22 3.3. Equipamentos utilizados para a Realização da ASSR 22 3.4. Posicionamento dos Eletrodos para Captação da ASSR 24 3.5. Estímulos da ASSR 24 3.6. Calibração do Sistema para a Realização da ASSR 25 3.6.1. Ajuste dos Parâmetros do Sistema e Aquisição dos Sinais 26 3.6.2. Parâmetros de Referência 26 P á g i n a | ix 3.7. Rejeição de Artefatos 27 3.8. Processamento dos Sinais 27 3.9. Análise Estatística 28 3.9.1. Testes Estatísticos 3.10. Realização da Audiometria 28 28 CAPÍTULO 4 - Resultados 29 CAPÍTULO 5 - Discussão 50 CAPÍTULO 6 – Conclusão 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54 APÊNDICE 68 Página |1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO É bem conhecido que a perda auditiva pode ter um impacto devastador sobre as habilidades de comunicação, função cognitiva e emocional, comportamentais e no bem-estar social humano (BESS et al, 1998; CHIA et al, 2007; DALTON et al, 2003; HEINE & BROWNIG, 2002; MANSON & MANSON, 2007; MOELLER, 2000). O sistema auditivo humano pode ser avaliado por meio de exames subjetivos e objetivos. Dentro do grupo dos exames subjetivos encontra-se a audiometria tonal. Este é um exame convencional e largamente utilizado que permite mensurar a audição periférica através da obtenção dos limiares auditivos por meio de respostas conscientes dadas pelo indivíduo em resposta a um estímulo sonoro (BESS; HUMES, 1998; FROTA, 1998; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMAN, 2001). A audiometria fisiológica baseada no Potencial Evocado Auditivo (PEA) é uma das técnicas consideradas objetivas. O PEA é a resposta do sistema nervoso, eliciado por estímulos sonoros, que está sobreposto no eletroencefalograma (EEG) espontâneo (LINS, 2002). O PEA pode ser divido em Transiente e em Regime Permanente. Um exemplo de PEA Transiente é o Brainstem Evoked Response Audiometry (BERA). Esta é a medida eletrofisiológica mais utilizada para estimar a sensibilidade auditiva. Os resultados são obtidos por meio de estímulos de curta duração que são apresentados em intervalos de tempo suficientes para que a resposta ocorra sem que haja sobreposição com a resposta ao estímulo anterior (AOYAGI et al, 1993a; FIGUEIREDO; CASTRO JÚNIOR, 2003; LINS, 2002). Porém, uma nova técnica de medida eletrofisiológica vem sendo introduzida na rotina da avaliação auditiva. Essa técnica, conhecida como Auditory Steady-State Página |2 Response (ASSR), é um exemplo de PEA em regime permanente. A ASSR ocorre quando o estímulo é apresentado a uma taxa rápida o suficiente para que a resposta a um dado estímulo sobreponha à resposta ao estímulo seguinte (FELIX, 2006; LINS, 2002; PICTON et al, 2002; VENEMA, 2004). A ASSR vem sendo muito discutida nos grandes centros de pesquisa de limiares auditivos humanos como uma ferramenta efetiva pela possibilidade, que esta disponibiliza, de se avaliar as duas orelhas, simultaneamente, e em várias frequências específicas. Isso torna possível a obtenção de um audiograma eletrofisiológico auditivo abrangente (DIMITRIJEVIC et al, 2002; PEREZ-ABALO et al, 2001; PICTON et al, 2005; PICTON, 2007; STAPELSS, 1984). O tempo gasto na aquisição das respostas auditivas é outra vantagem que vem sendo estudada na utilização da técnica ASSR (CANALE et al, 2006; SCHMULIAN et al, 2005). Os estímulos utilizados para evocar a ASSR podem alcançar níveis auditivos muito elevados, o que possibilita avaliar audição residual em indivíduos com perda auditiva profunda (RANCE et al, 1998). Também a forma como as ASSR’s são avaliadas traz grande vantagem quando comparada aos demais exames realizados por meio do PEA e a audiometria (CONE-WESSON et al, 2002; LIN et al, 2009). Sua análise é realizada no domínio da frequência, utilizando algoritmos que são aplicados ao sinal do EEG. Assim, a resposta é dada por meio de verificação estatística o que diminui a participação do avaliador na análise dos resultados (JOHN; PICTON, 2000; JOHN et al, 2001a). A ASSR dentro da rotina médica facilita muito a avaliação auditiva, por frequência específica, principalmente em indivíduos que não podem responder a audiometria, como é o caso de lactantes e crianças muito pequenas, pessoas com deficiências cognitivas, e sujeitos que tentam simular ou agravar uma perda auditiva (AOYAGI et al, 1993b; HERDMAN et al, 2003; LINS et al, 1996; LUTS et al, 2004). Contudo, apesar dos bons resultados já descritos na literatura, a ASSR ainda é pouco utilizada no Brasil. Parte disso é atribuída ao fato de os equipamentos Página |3 utilizados na realização deste tipo de exame serem importados a um custo muito alto. Destacam-se dentre esses equipamentos o MASTER® (Toronto, Canadá) e o AUDIX® (Havana, Cuba). O Núcleo de Estudos e Pesquisa em Engenharia Biomédica (NEPEB) do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG desenvolveu um sistema capaz de realizar o estudo da ASSR - “AudioStim” (ROMÃO, 2009). 1.1.Objetivos O presente trabalho propõe determinar os limiares auditivos eletrofisiológicos de indivíduos normouvintes por meio da ASSR utilizando o AudioStim, procurando principalmente: - Detecção dos limiares auditivos, por via aérea, através do exame de audiometria tonal. - Identificar os limiares auditivos por meio da ASSR. - Identificar oito frequências, quatro para a orelha esquerda e quatro para a orelha direita, e seus respectivos limiares, utilizando também diferentes números de estímulos. - Comparar a detecção da ASSR com as técnicas de detecção: Magnitude Quadrática da Coerência (MSC-Magnitude Squared Coherence) e o Teste Espectral F (SFT - Spectral F Test). 1.2.Estrutura do trabalho Este trabalho está dividido em seis capítulos. Os primeiros incluem uma parte teórica e posteriormente descreve-se a parte experimental, vinculada à execução da ASSR e a obtenção de seus resultados. O Capítulo 2 traz uma revisão bibliográfica dos principais exames para avaliação auditiva humana que são utilizados na rotina médica e fonoaudiológica. Por ser Página |4 exame da ASSR o tema principal deste estudo, sua descrição é mais detalhada. No final, de forma sucinta, tem-se uma abordagem dos testes estatísticos MSC e SFT. No Capítulo 3 são apresentados os materiais e métodos utilizados para a realização dos exames. Os resultados obtidos para a audiometria tonal e a ASSR utilizando o AudioStim, serão apresentados no Capítulo 4. A comparação destes resultados com aqueles descritos pela revisão de literatura é apresentada no Capítulo 5. O Capítulo 6 traz as conclusões do trabalho, apresentando também algumas propostas de trabalhos futuros. Em seguida, as referências bibliográficas e um apêndice de Anatomia e Fisiologia da Audição Humana foi anexado. Página |5 CAPÍTULO 2 – SISTEMA AUDITIVO A audição é um processo complexo que envolve a captação, percepção e interpretação dos sons presentes no ambiente. O sistema auditivo humano é constituído basicamente de três partes a se entender: orelha externa, orelha média e orelha interna, sendo a última continuada pela estrutura nervosa responsável por levar as informações captadas até os pontos, já dentro do sistema nervoso central, responsável pelas decodificações que fazem ser possível o que se chama de compreensão auditiva. Torna-se necessário observar as diferentes características funcionais de cada estrutura para compreender o funcionamento do sistema auditivo como um todo (KANDEL et al, 2000; BEAR et al, 2002). A orelha externa é formada pelo pavilhão auditivo e pelo canal auditivo externo ou meato auditivo. O canal auditivo externo estabelece a comunicação entre a orelha média e o meio externo. Esse canal termina numa delicada membrana (chamada de tímpano ou membrana timpânica) firmemente fixada ao conduto auditivo externo por um anel de tecido fibroso, chamado anel timpânico. A orelha média começa na membrana timpânica e consiste, em sua totalidade, de um espaço aéreo (cavidade timpânica) no osso temporal. Dentro dela estão três ossículos articulados entre si, cujos nomes descrevem sua forma: martelo, bigorna e estribo. Esses ossículos encontram-se suspensos na orelha média, através de ligamentos. O cabo do martelo está encostado no tímpano; o estribo apoia-se na janela oval, um dos orifícios dotados de membrana da orelha interna que estabelecem comunicação com a orelha média. O outro orifício é a janela redonda. A orelha média comunica-se também com a faringe, através de um canal denominado tuba auditiva. Esse canal permite que o ar penetre no ouvido médio. Dessa forma, de um lado e de outro do tímpano, a pressão do ar atmosférico é igual. Página |6 Dentro da orelha interna é encontrada a cóclea, órgão relacionado com a audição. A cóclea é composta por três escalas individuais. Esses tubos recebem o nome de rampas, ou escalas timpânicas, média, coclear e vestibular. A membrana que separa a escala média da timpânica é chamada de membrana basilar. Essa membrana é sustentada por cerca de 25.000 estruturas finas chamadas de fibras basilares. Na superfície da membrana basilar localiza-se o órgão de Corti, onde há células nervosas ciliares. Sobre o órgão de Corti há uma estrutura membranosa, chamada membrana tectória, que se apoia, como se fosse um teto, sobre os cílios das células sensoriais. Essas estruturas se comunicam com o nervo auditivo, responsável por enviar os sons até o córtex cerebral (maior informação sobre a Anatomia e Fisiologia da Audição Humana pode ser encontrada no Apêndice). A funcionalidade da audição humana pode ser aferida por meio de exames específicos. Tais exames podem ser realizados com o objetivo de verificar a funcionalidade de partes anatômicas ou sua integridade neurofisiológica. A primeira noção de acumetria qualitativa foi estabelecida por Friedrich Bezold em 1898 em que, utilizando diapasões de sons puros, interrogava certas frequências audíveis. Em relação à intensidade, Bezold verificou que a mesma diminuía com o passar do tempo após a percussão do diapasão, estabelecendo então a primeira noção de estímulo, pois o mesmo calculava a intensidade por segundos de audibilidade. Baseando-se neste fato, Bezold conseguiu estabelecer a primeira noção de acumetria quantitativa (BESS, 2002; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). Após Bezold, várias modificações foram introduzidas em seu método acumétrico, mas todas elas respeitando os dois princípios básicos estabelecidos por ele, ou seja, a acumetria qualitativa e a acumetria quantitativa (BESS, 2002; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). Apesar de todas as inovações que foram introduzidas no método primitivo de Bezold, ele não perdeu o seu valor de ter sido a base para a construção dos audiômetros. Os objetivos são idênticos, ambos determinam o limiar de intensidade do estímulo auditivo em função das frequências audíveis. Em um, o limiar é medido em segundos de audibilidade, e Página |7 no outro, em uma medida eletroacústica chamada decibel (BESS, 2002; KATZ, 1999). Os primeiros audiômetros eletro-mecânicos foram os precursores dos aparelhos atuais, sendo que o audiômetro de Dean e Bunch em 1921 foi o protótipo dos audiômetros eletro-mecânicos (KATZ, 1999). A audiometria é o procedimento comportamental, subjetivo, mais utilizado para a obtenção dos limiares auditivos aéreos (através de fones) e ósseos (através de vibradores). O exame completo é composto pela audiometria tonal, via aérea e óssea, pela audiometria vocal e pelo teste de Weber (BESS, 2002; KATZ, 1999; FROTA, 1998). Na rotina dos especialistas em audição humana esses exames são de grande utilidade, uma vez que fornecem aos mesmos uma análise bastante abrangente na identificação e diagnóstico de deficiências auditivas mais precisas. Dessa forma, a possibilidade de uma rápida intervenção pode ser promovida e as consequências, trazidas por esse tipo de deficiência, minimizadas. Dentre os principais exames utilizados na rotina audiológica destacam-se os exames de audiometria e PEA. 2.1 O Audiograma Os limiares encontrados na audiometria tonal são anotados em um gráfico, o audiograma. Ele expressa na abscissa as frequências em Hz, variando de 125 a 8.000 Hz, dispostas de forma logarítmica, ou seja, as frequências são apresentadas em intervalos regulares (FROTA, 1998). Na ordenada a intensidade é apresentada em dB NA e em forma linear, variando de - 10 a + 120 dB NA, graduada de 10 em 10. Página |8 2.2 Mascaramento Em 1989, a American National Standards Institute - ANSI definiu mascaramento como “... o processo pelo qual o limiar de audibilidade para um som é elevado pela presença de outro som chamado de ruído mascarador”. Em outras palavras, mascaramento é o procedimento de introduzir um ruído à orelha não testada com o objetivo de impedir a sua participação nas respostas da orelha a ser avaliada. Quando um som é apresentado à pior orelha em um nível de intensidade forte, ele pode cruzar o crânio e ser percebido pela orelha melhor, isso é chamado de atenuação interaural. Assim, sem o mascaramento na melhor orelha, os indivíduos poderão responder ao estímulo por esta orelha. As respostas que cruzam para a pior orelha representarão os limiares da melhor orelha, elevados pelo valor da atenuação interaural. 2.3 Exames Subjetivos 2.3.1 Audiometria O exame completo é composto pela audiometria tonal, via aérea e óssea, pela audiometria vocal e pelo teste de Weber (FROTA, 1998). 2.3.1.1 Audiometria Tonal A audiometria tonal tem por finalidade determinar o limiar auditivo humano. Para um estudo adequado do estado do sistema auditivo é preciso conhecer os limiares por via aérea e via óssea, que são os meios possíveis de transmissão de energia sonora para a cóclea. Através da via aérea, a energia sonora entra pelo meato acústico externo e é transportada mecanicamente pelo sistema de Página |9 transmissão da orelha média para a cóclea, enquanto a energia sonora transmitida por via óssea estimula diretamente a cóclea através da vibração do crânio (LOPES FILHO, 1997; MUSIEK; RINTELMAN, 2001; YANTIS, 1994). Audiometria Tonal por Via Aérea Nesta técnica de aquisição de limiares, inicia-se a estimulação auditiva com a frequência de 1.000 Hz, seguida de 2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz e após são testadas as frequências de 500 e 250 Hz. Os estímulos são apresentados em intensidades variáveis, dependendo do caso específico do indivíduo, com duração rápida, entre um a dois segundos (BESS, 2002; FROTA 1998; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). Audiometria Tonal por Via Óssea Para determinar os limiares por via óssea, um vibrador ósseo é posicionado sobre a mastoide, que localiza-se na parte posterior do osso temporal, do indivíduo. O vibrador permite a obtenção dos limiares por via óssea apenas nas frequências de 500, 1.000, 2.000, 3.000 e 4.000 Hz. Estímulos abaixo de 500 Hz e acima de 4.000 Hz são difíceis de serem testados por proporcionarem uma sensação tátil acentuada. Ao contrário de se escutar um apito, o indivíduo testado sente apenas uma vibração (BESS, 2002; FROTA, 1998; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMAN, 2001). 2.3.1.2 Audiometria Vocal A audiometria vocal (ou logoaudiometria) tem como objetivo avaliar a habilidade do paciente em perceber e reconhecer os sons da fala. A avaliação básica inclui os testes de limiar de reconhecimento da fala ou Speech Reception Threshold (SRT), o índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF) e o limiar de P á g i n a | 10 detecção de fala (SDT) (BESS, 2002; FROTA, 1998; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). O SRT é definido como a menor intensidade na qual o indivíduo é capaz de repetir corretamente 50% das palavras trissílabas que lhes são apresentadas. A cada palavra falada ocorre diminuição da intensidade até chegar ao limar da média tritonal das frequências de 500, 1.000 e 2.000 Hz encontradas na audiometria tonal. O SDT mede a menor intensidade com a qual o indivíduo consegue detectar a presença da fala. O SDT é realizado apenas quando o indivíduo não consegue realizar o SRT de forma correta. Neste teste, o indivíduo é condicionado a responder para a presença do som da fala “pá, pá, pá”. O limiar obtido no SDT é correspondente ao melhor limiar obtido nas frequências testadas. O IPRF mensura a habilidade do indivíduo em repetir palavras monossílabas ou dissílabas com 40 dB acima da média tritonal das frequências de 500, 1.000 e 2.000 Hz. Para sua realização, são empregadas listas contendo 25 vocábulos que serão ditos pelo examinador e repetidas pelo indivíduo. O resultado irá variar de 0 a 100%. Em crianças pequenas o IPRF é realizado através de pranchas com figuras, pois facilitam a cooperação. Para indivíduos normais a discrição pode variar de 88 a 100% (LOPES FILHO, 1997; BESS 2002; FROTA, 1998; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). 2.3.1.3 Weber O vibrador ósseo é colocado na linha média do crânio, ou seja, na fronte alta do indivíduo. Após dado o estímulo, o indivíduo deve referir onde melhor escutou o som, se foi na linha média, na orelha esquerda ou na orelha direita. Como o estímulo chega às duas cócleas simultaneamente, espera-se que o paciente escute o som na melhor orelha ou cóclea (FROTA, 1998). P á g i n a | 11 2.3.2 Rinne Exame clínico realizado para avaliar a audição comparando a percepção dos sons transmitidos pelo ar e através da condução óssea por meio do osso temporal. O teste de Rinne é realizado colocando-se um diapasão vibrante (512 ou 256 Hz) na mastóide e em seguida ao lado da orelha testada. Em um exame normal, o som continua sendo audível quando o diapasão é colocado ao lado da orelha (FROTA, 1998). Quando ocorre este cruzamento os limiares da pior orelha são melhores do que os verdadeiros limiares. Por esse motivo o mascaramento é tão importante no exame de audiometria, por exemplo, impedindo assim que perdas auditivas unilaterais tenham seus limiares distorcidos pelas respostas presentes na melhor orelha (BESS, 2002; FROTA, 1998; KATZ, 1999; MUSIEK; RINTELMAN, 2001). 2.4 Exames Objetivos Dentre os exames auditivos objetivos, podem ser citadas a Imitanciometria, Emissões Otoacústicas (EOA) e os Potenciais Evocados Auditivos (PEAs). A Imitanciometria é composta pelos exames de timpanometria e pesquisa do reflexo acústico, é um exame que mensura a impedância e a admitância da orelha média. O exame de EOA tem como base funcional captar os sons gerados dentro da cóclea pelas células ciliadas externas (CCE), que podem estar presentes espontaneamente ou serem eliciadas através de estimulação acústica (RUSSO, 1993). Os PEAs são abordados mais detalhadamente a seguir. P á g i n a | 12 2.4.1 Potencial Evocado Auditivo O potencial evocado auditivo (PEA) refere-se à atividade elétrica do sistema auditivo em resposta a um estímulo acústico adequado. Os PEAs são frequentemente descritos de acordo com seu tempo de resposta (latência) após o início do estímulo auditivo e são classificadas em latência precoce (0 - 10 ms), média latência (10 - 60 ms) ou latência tardia (60 - 300 ms). As repostas de latências precoces consistem na eletrococleografia (ECochG) e no Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (BERA), também conhecido por Brainstem Evoked Response Audiometry (BERA). As de longa latência implicam nas respostas corticais dos PEAs relacionados a eventos com a resposta auditiva P300 (HOOD, 1998; FIGUEIREDO, 2003; MASON, 2004; HALL, 2007). 2.4.2 Eletrococleografia (ECochG) Esse exame mensura a atividade da cóclea e do nervo auditivo. A análise da atividade elétrica da cóclea é realizada a partir do registro do microfonismo coclear e do potencial de somação que estão relacionados com a atividade das células ciliadas externas e ainda do potencial de ação, que representa os disparos sincrônicos de várias fibras do nervo auditivo. Esse exame é principalmente utilizado na detecção da síndrome de Ménièr (FIGUEIREDO, 2003; BESS, 2002; KATZ, 1999). 2.4.3 Audiometria de Tronco Encefálico por Cliques (BERA). O BERA por cliques é uma série de 5 a 7 ondas indo do positivo para o negativo, intituladas de I a VII na classificação de Jewett & Williston (1971), decorrentes de estruturas do nervo auditivo e tronco cerebral que ocorrem dentro de aproximadamente 10 ms após o início do estímulo, em adultos. O BERA por cliques é primariamente sugerido como uma resposta que é evocada por um estímulo auditivo. Em particular, o início do estímulo deve ser muito breve P á g i n a | 13 (transiente) para gerar disparo sincrônico de todos os neurônios auditivos (FIGUEIREDO, 2003; HALL, 2007; MUSIEK; RINTELMANN, 2001). O estímulo mais eficaz é o clique, que é um pulso retangular e de curta duração (FIGUEIREDO, 2003). O BERA por cliques é a medida mais amplamente utilizada para predizer os limiares objetivos avaliando a integridade do nervo auditivo e vias auditivas. Infelizmente, uma grande desvantagem do BERA por cliques na estimativa do limiar auditivo é sua falta de especificidade de frequência. O sinal acústico possui um espectro de frequência amplo em energia e uma ampla gama de frequências (aproximadamente de 1.000 a 4.000 Hz) (FIGUEIREDO, 2003; STAPELLS, 2000). Portanto, na utilização do BERA por cliques não é possível prever sensibilidade auditiva em qualquer frequência em particular, mas apenas fornecer uma estimativa geral, principalmente correlacionando com o melhor da média tonal do limiar comportamental no intervalo de 1.000 a 4.000 Hz (HALL, 2007; PICTON et al., 1994; STAPELLS, 2000). No entanto, informações sobre a sensibilidade auditiva em frequências específicas são necessárias para fornecer estimativas precisas sobre o grau e configuração da perda auditiva. Várias abordagens têm sido propostas para atender a essa necessidade de “frequências específicas” e “local específico da informação”. A especificidade de frequência está relacionada com as propriedades acústicas do estímulo, referindo-se a quão precisamente o estímulo ativa um local específico na membrana basilar (HYDE, 1985; STAPELLS, 1993; STAPELLS & OATES, 1997). Uma diferente forma de se realizar o exame de BERA envolve a apresentação de estímulos de frequências específicas com um início bastante rápido para evocar uma resposta do tronco cerebral, o chamado BERA por tone burst. Outra abordagem do mesmo tipo de exame utiliza ruído de mascaramento gerado para isolar regiões específicas da cóclea (PICTON et al, 1979). P á g i n a | 14 2.4.3.1 Audiometria de Tronco Encefálico por Frequência Específica O BERA em resposta a estímulos tonais breves (ou estímulos de tone burst) é a abordagem mais direta de se obter estimativas do limiar auditivo por frequências específicas, também denominado BERA Tone Burts (BERA TB). O estímulo tone burst é de rápido início e de curta duração resultantes da energia concentrada na frequência do estímulo, mas também com bandas laterais de energia acima e abaixo do seu pico de energia principal. Este espalhamento espectral acústico pode resultar na propagação do estímulo às frequências adjacentes, especialmente em níveis de alta intensidade. Por conseguinte, acontece um declive acentuado nas perdas de alta frequência, os limiares em alta frequência podem ser subestimados, pois o BERA surge a partir de regiões de baixa frequência com melhor limiar auditivo (PICTON et al, 1979; PURDY & ABBAS, 1989; STAPELLS et al, 1994). Uma abordagem alternativa para garantir a frequência e especificidade do local do BERA é apresentar um ruído de mascaramento ipsilateral em simultâneo com o estímulo transiente, ou seja, o clique ou o tone burst (PICTON et al, 1979; STAPELLS & OATES, 1997). Embora estimativas precisas dos limiares de tom puro já tenham sido publicadas, esta técnica não é clinicamente utilizada pois se trata de uma abordagem muito demorada. 2.4.4 Resposta Auditiva em Regime Permanente (ASSR) Uma alternativa a pesquisa de frequências específicas é a técnica que utiliza o PEA (Potencial Evocado Auditivo) de regime permanente (ASSR), que foi primeiramente relatado em seres humanos por Galambos e colaboradores (1981) e oferece grandes vantagens sobre o BERA. Utiliza-se estímulos diferenciados para evocar a ASSR, sendo eles tons puros (senoides) contínuos modulados em amplitude (AM) e/ou frequência (KUWADA et al,1986). P á g i n a | 15 O uso da ASSR permite uma estimativa de limiar auditivo em frequências específicas e pode ser utilizado para indicar os limiares auditivos residuais em indivíduos com perda auditiva de severa a profunda (CONE et al, 2009; RANGE et al, 1998). A mais importante vantagem da técnica que utiliza a ASSR é que a presença ou ausência de uma resposta pode ser determinada estatisticamente através da aplicação de algoritmos de detecção objetiva e não apenas por interpretação visual subjetiva de onde é registrada - como acontece no BERA (VALDES et al, 1997; JOHN et al, 2000). Além disso, a ASSR pode ser eliciada por estímulos apresentados a taxas de modulação entre 30 e 50 Hz (ou ASSR 40 Hz) e taxas de 70 a 110 Hz (ou ASSR em 80 Hz). A ASSR em 80 Hz tem recebido muita atenção na audiologia pediátrica devido à sua aptidão para avaliar crianças muito novas, que estejam dormindo ou sedadas (JOHN et al, 2004; LEVI et al, 1993; COHEN et al, 1991). Uma característica importante da ASSR de 80 Hz é que as respostas podem ser registradas para múltiplas frequências. Quatro frequências para uma orelha, ou, quando pesquisadas ambas, pode-se utilizar até oito frequências, simultaneamente, resultando em um teste muito eficiente, com reduzido tempo de execução (LINS et al, 1995a; et al, 1995b; JOHN et al, 1998). Os primeiros relatos da ASSR foram relativos à modulação de 40 Hz (GALAMBOS et al, 1981). Diversos estudos descrevem que a resposta auditiva a 40 Hz é uma resposta de média latência (GALAMBOS, 1981; PICTON et al, 2003; STAPELLS et al, 1984; ROSS et al, 2005; VENEMA, 2004). Vários estudos que analisaram as regiões ativas no cérebro por estímulos modulados a 40 Hz mostraram que há evidências de que as respostas são geradas pelo córtex auditivo e região superior do lobo temporal, envolvendo as regiões talâmicas e tálamo-corticais, giro de Hescchi, fissura Sylviana e regiões do lobo temporal e frontal (DRAGANOVA et al, 2002; GUTSCHALK et al, 1999; HERDMAN et al, P á g i n a | 16 2002a; HERDMAN et al, 2002b; PANTEV et al, 1996; REYES et al, 2004; REYES et al, 2005; ROSS et al, 2003). Autores relatam que a ASSR a 40 Hz é gerada principalmente pelo córtex primário, sendo assim influenciada pela maturação neurológica e estado de vigília do indivíduo (AOYAGI et al, 1993a; PETITOT; COLLET; DURRANT, 2005; STAPELLS et al, 1988). Vários estudos mostraram que a amplitude da resposta é menor quando o indivíduo está em estado de sono ou sedado (LEVI; FOLSOM; DOBIE, 1993; LINDEN et al, 1985; PETHE; VON SPECHT; HOCKE, 2001). Por este motivo alguns autores recomendam utilizar a modulação da frequência de 70 a 100 Hz, principalmente no registro da ASSR em lactantes e pré-escolares (HERDMAN; STAPELLS, 2001; JOHN et al, 2004; PEREZ-ABALO et al, 2001). A modulação em torno de 70 a 110 Hz gera ASSR´s provenientes do tronco encefálico, fato que foi constatado por meio de pesquisas do BERA com diferentes taxas de apresentação. Com o aumento da taxa de apresentação do estímulo, as ondas I e III do BERA tendem a desaparecer, e nas taxas de apresentação entre 80 a 110 Hz resta a onda V e o contingente tende a se sobrepor, gerando assim uma resposta em regime permanente (LINS, 2002). A ASSR pode ser definida como um potencial evocado cujos componentes discretos da frequência permanecem constates em amplitude e fase por um período de tempo longo (REGAN, 1989). A ASSR pode ser distinguida dos potenciais evocados transientes, tais como o BERA por clique ou o BERA TB (Tone Burst), pois suas respostas são eliciadas por sons apresentados em uma velocidade suficientemente alta para causar a sobreposição das respostas às seguintes. Por outro lado, respostas transientes são evocadas por estímulos ocorrendo em taxas relativamente lentas que permitem que a resposta a um estímulo possa ser concluída antes do estímulo subsequente ser aplicado (CONE-WESSON et al, 2002; LIN et al, 2009; PICTON et al, 1983; REGAN 1989). P á g i n a | 17 A ASSR também pode ser descrita como uma resposta elétrica periódica do cérebro, evocada por um estímulo acústico contínuo variando periodicamente, tipicamente um sinal modulado senoidalmente (RICKARDS, 2008). Outros estímulos, além dos tons AM, vêm sendo muito utilizados em estudos da detecção da ASSR na intenção de obter respostas de maior amplitude diminuindo o tempo necessário para a realização do exame e sua detecção (JOHN et al, 2002b; STÜRZEBECHER et al, 2001). Dentre esses tipos de estímulos destacam-se: - Tom Frequência Modulada (FM) - Modulação em frequência de um tom puro. (JOHN et al, 2001). - Tom AM com envoltória exponencial (AM2) - Modulação de uma portadora por um envelope exponencial (JOHN et al, 2002a). - Tom de Modulação Mista (Tom MM) - Estímulo composto pela combinação dos tons AM e FM (COHEN et al, 1991; DIMITRIJEVIC et al, 2001; DIMITRIJEVIC et al, 2004; JOHN et al , 2001b). - Modulação de Ruído - Modulação AM que utiliza como portadora um ruído ao invés de uma senóide (JOHN et al, 2003). - Tom Chirp - Estímulo composto pela adição de tons puros defasados (ELBERLING et al, 2007; STÜRZEBECHER et al, 2001;HEKIMOGLU et al ,2001). 2.4.5 Técnicas de Detecção da ASSR A ASSR é identificada no domínio da frequência. É por meio da Transformada Discreta de Fourier (DFT) que o sinal, primeiramente registrado no domínio do tempo, pode ser analisado no domínio da frequência. A DFT fornece um espectro com informações sobre a amplitude da resposta com as medidas do ruído em outras frequências (JOHN et al, 2008). P á g i n a | 18 O sinal de EEG captado pelos eletrodos não registram somente a ASSR, mas também os sinais gerados pela atividade espontânea cerebral e pelos músculos da cabeça e do pescoço. Esta sobreposição de sinais resulta em um registro ruidoso, sendo difícil a identificação e a separação da ASSR das demais atividades, avaliando apenas visualmente os resultados. Para resolver essa questão usam-se, para a identificação da ASSR, técnicas que utilizam métodos avançados de processamento de sinais no domínio da frequência, para determinar a presença ou a ausência de uma resposta. Isto permite que a interpretação do exame de ASSR seja feita automaticamente sem interferências subjetivas (VAN DER REIJDEN et al, 2001). O registro das respostas da ASSR, tal como acontece no BERA, são obtidas por meio de eletrodos posicionados no escalpo do indivíduo. As maiores respostas foram registradas, conforme o descrito na literatura, a partir da região Cz e entre a nuca na altura da linha do cabelo (PICTON et al, 2001). 2.4.5.1 O Teste Espectral F (SFT) Esta técnica verifica a presença do ruído avaliando se a potência da resposta é significativamente superior à potência do ruído (ZUREK, 1992; DOBIE et al, 1996). Essa avaliação é feita através da razão entre a potência do componente espectral onde se espera encontrar uma resposta e a potência do ruído, que é estimada através da média de M componentes espectrais adjacentes: Eq. 1 Onde é a DFT correspondente à frequência ( encontrar resposta; ) onde se espera é a DFT de M componentes vizinhas que são utilizadas para estimar a potência do ruído. Zurek (1992) demonstrou que tanto a estimativa P á g i n a | 19 da potência do sinal ( ) quanto da potência do ruído ( ), para a hipótese H0 de ausência de resposta (ASSR), são variáveis aleatórias que seguem uma distribuição Chi-quadrada. O numerador da Eq. 1 segue uma distribuição Chi-quadrada com dois graus de liberdade ( ). Já o denominador, por se tratar de um somatório de M variáveis aleatórias com distribuição uma distribuição Chi-quadrada com 2 M graus de liberdade ( , terá ). Assim, o Teste Espectral F (SFT), que é a razão entre duas distribuições Chiquadrada terá distribuição F de (2, 2 M) graus de liberdade (KAY, 1998). Eq. 2 O limiar que irá dividir as duas regiões de decisão dependerá, além de M, do nível de significância adotado (α). Assim, o limiar será definido por: Eq. 3 Para o caso do valor de SFT ser maior que o valor crítico, a hipótese H0 será rejeitada, e será considerada presença da ASSR. 2.4.5.2 Magnitude Quadrática da Coerência (MSC) Outro método utilizado na detecção do sinal da ASSR é o teste de magnitude quadrática da coerência. Essa função é definida a partir do cálculo da coerência entre os sinais de estímulo e o EEG. Para a aplicação desse método, admite-se a ergocidade dos sinais. A expressão geral da coerência (Romão, 2009) entre os sinais X (estímulo) e Y (EEG) pode ser simplificada, já que o sinal X é determinístico, periódico e o sinal EEG é segmentado em M trechos sincronizados com o estímulo. P á g i n a | 20 A expressão da coerência é dada neste caso por: Eq. 4 Onde é a estimativa da Magnitude Quadrática da Coerência. A equação 4 indica o quanto há de dependência linear entre os componentes harmônicos dos estímulos e da resposta obtida no EEG (SÁ et al, 1994). Assim, na ausência de resposta ao estímulo, o valor de tende a zero. Por outro lado, se todos os segmentos possuírem a mesma resposta o valor de tenderá a 1. Sá e outros (2002) demonstraram que a MSC, para a hipótese nula H0 de ausência de resposta, está relacionada à estatística beta da seguinte forma: Eq. 5 Para um nível de significância α o valor crítico para a hipótese nula é obtido por: Eq. 6 Para o caso de ser maior que o valor crítico, a hipótese H0 será rejeitada, e será considerada presença da ASSR P á g i n a | 21 CAPÍTULO 3 - MATERIAS E MÉTODOS Neste capítulo são apresentados os materiais e métodos envolvidos no desenvolvimento nesta pesquisa, de caráter experimental, que visou o estudo dos limiares auditivos por meio da pesquisa da ASSR. Para a detecção destas respostas foram utilizados os testes estatísticos MSC e Teste Espectral F. 3.1 Processos de seleção da amostra Foram convidados a participar deste experimento 09 indivíduos (21,6 ± 2,78 anos) sendo 04 do sexo feminino e 08 do sexo masculino. Após contato inicial, se dispuseram, voluntariamente, a participar da pesquisa já que se enquadravam dentro dos seguintes critérios de inclusão: indivíduos de ambos os sexos, independente de sexo, cor, etnia, religião ou classe social, pertencentes à faixa etária de 18 a 30 anos; sem doenças ou antecedentes otológicos conhecidos; ausência de exposição crônica a ruído; ausência de exposição aguda a ruído nas últimas 24 horas que antecederam aos exames audiométricos e ASSR. Os sujeitos foram orientados quanto ao caráter da pesquisa e receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi assinado antes da realização das demais etapas. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG sob o número 0369.0.203.000-10. Após a primeira parte, os indivíduos foram submetidos a uma rápida entrevista que tinha por intenção relembrar todos os fatos que se relacionavam com algum tipo de doença que pudesse interferir na realização dos exames auditivos. Em P á g i n a | 22 seguida, os indivíduos foram submetidos a uma avaliação audiológica composta pelos seguintes procedimentos: otoscopia, audiometria tonal e ASSR. 3.2 Local da Coleta dos Dados O exame físico otorrinolaringológico (constituído de rinoscopia anterior, oroscopia, rinoscopia posterior, laringoscopia indireta, otoscopia e palpação cervical) e o exame de audiometria tonal foram realizados no Núcleo de Otorrino – BH O audiômetro utilizado para o teste de audiometria tonal foi o GSI 61 Stadler com dois canais. Durante a realização deste exame não foi necessário à utilização do mascaramento, uma vez que todos os participantes deste estudo apresentaram limiares auditivos dentro dos valores de normalidade. Durante a realização dos testes de ASSR, os indivíduos foram orientados a permanecerem em decúbito dorsal, relaxados e, se possível, em sono leve, por aproximadamente duas horas. Esse exame foi realizado em uma sala com isolamento acústico adequado, localizada no Centro de Estudos da Fala, Acústica, Linguagem e Música (CEFALA¹). 3.3 Equipamento Utilizados para a Realização da ASSR Os experimentos foram realizados utilizando o AudioStim (Figura 1). Esse equipamento é dividido em módulos com funções específicas devido à diversidade de conceitos de hardware, software, firmware e processamento de sinais que são empregados. Os módulos que compõem o protótipo são (Figura 2): A unidade de controle (UC), o módulo de Interface Gráfica (IG) e o módulo de 1 Grupo de pesquisa vinculado ao departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG. P á g i n a | 23 processamento de dados (ROMÃO, 2009). Figura 1: Imagem do AudioStim destacando a interface gráfica (IC), a unidade de controle (UC), o bioamplificador e os eletrodos usados no registro do EEG. Fonte: Romão 2009 A UC e a IG compõem a etapa responsável pela geração de estímulos sonoros. O Bioamplificador e a UC compõem o sistema de coleta do EEG on line. E o computador representa os softwares responsáveis pelo processamento off line dos sinais de EEG coletados, visando detectar a ASSR (ROMÃO, 2009). P á g i n a | 24 Figura 2: Diagrama geral do AudioStim indicando os módulos que compõem o sistema. Fonte: Romão 2009 3.4 Posicionamento dos Eletrodos para a Captação da ASSR Para o registro do EEG foram utilizados três eletrodos de prata/cloreto de prata posicionados no vértex da cabeça (Cz), na nuca (região logo abaixo da linha do cabelo) e na base do pescoço (eletrodo terra) (LINS et al, 1995; PICTON et al, 2009). A impedância entre os eletrodos foi mantida abaixo de 10kΩ. 3.5 Estímulos da ASSR Dois estímulos, um em cada orelha, foram apresentados ao indivíduo, por meio do fone de inserção E-A-RTone 5 A simultaneamente. Cada estímulo era formado pela soma de quatro tons AM composto por portadoras de 500, 1.000, 2.000 e 4.000 Hz. Tais frequências foram moduladas a taxa de 80,08 Hz; 84,96 Hz; 89,84 Hz e 94,73 Hz para a orelha esquerda e 78,12 Hz; 83,00 Hz; 86,91 Hz e 91,79 Hz para a orelha direita, respectivamente. A profundidade de modulação foi mantida em 100% (FELIX, 2006). A intensidade do estímulo iniciou-se em 60 dB SPL e P á g i n a | 25 reduzindo gradativamente para 50; 40; 30; 25; 20 e 15 dB SPL. Ressalta-se que a execução do teste era interrompida assim que não mais se encontravam respostas na última intensidade testada. Pressupunha-se que essa intensidade representava o limiar auditivo encontrado na detecção da ASSR. 3.6 Calibração do Sistema para a Realização da ASSR O equipamento foi encaminhado à Audiovisão, um laboratório especializado em calibração de audiômetros, onde pôde ser avaliado sob condições adequadas e em conformidade com as normas pertinentes. Todo o procedimento (Figura 3) foi feito para que o AudioStim pudesse ser utilizado com os fones de inserção E-ARTone (Aearo Technologies) (ROMÃO, 2009). A calibração da intensidade dos estímulos utilizados foi feita por meio de um ouvido artificial (modelo 4152 da Brüel & Kjäer) acoplado a um medidor de níveis sonoros (modelo 2260 da Brüel & Kjäer) ambos dinamarqueses. Figura 3: Diagrama esquemático do procedimento utilizado para a calibração do protótipo. Fonte: Romão 2009 P á g i n a | 26 3.6.1 Ajustes dos parâmetros do sistema e aquisição dos sinais Para o registro dos sinais de EEG foi utilizado o bioamplificador QP511 da marca Grass Technologies (USA). Seu ganho foi ajustado para 50.000 vezes e seus filtros foram sintonizados para rejeitar componentes espectrais inferiores a 30 Hz e superiores a 300 Hz (filtro passa faixa). Além disso, o filtro notch de 60 Hz existente nesse equipamento foi habilitado. A UC do AudioStim foi configurada para digitalizar os sinais de EEG (já amplificados) a uma taxa de 1.000 amostras por segundo (FS = 1.000 Hz) com uma resolução de 16bits. Por fim a transformada de Fourier dos sinais para o domínio da frequência, na parte de processamento dos sinais, foi feita utilizando 1.024 pontos (N = 1.024). 3.6.2 Parâmetros de referência. O processamento foi feito com trechos de 1.024 pontos, assim cada trecho de estimulação (M) tem duração de 1,024 segundos. Porém, apenas um trecho registrado (M =1) não é suficiente para a detecção da resposta, uma vez que a relação sinal-ruído da ASSR é muito baixa. Assim, a maioria das técnicas de detecção necessitou de repetidas realizações de um mesmo evento para fundamentar seus resultados. Dessa forma os indivíduos necessitaram ser submetidos a uma quantidade maior de trechos de estimulação para que os algoritmos pudessem detectar, ou não, uma resposta. Para satisfazer a condição acima citada, foi feito o registro de 1.024 trechos de estimulação (M = 1.024) totalizando um tempo de coleta de, aproximadamente, 17 minutos para cada intensidade testada. P á g i n a | 27 Ao início de cada experimento era realizado um registro de 10 trechos (M = 10) para testar a funcionalidade do AudioStim. 3.7 Rejeição de artefatos Foi utilizado um algoritmo, conforme descrito por Jonh e Picton (2000), para efetuar a detecção e rejeição automática de artefatos presentes nos registros de EEG. Esse método consiste na rejeição automática dos registros contendo artefatos resultantes de atividade muscular ou movimentação dos eletrodos que podem interferir no desempenho dos métodos estatísticos de detecção de resposta. 3.8 Processamento dos sinais No processamento dos sinais para a obtenção da ASSR, foram utilizadas as técnicas da magnitude quadrática da coerência (MSC) e o Teste Espectral F (SFT). A detecção do sinal utilizando a MSC foi considerada um número de M trechos de 1.024 pontos. Para o SFT, utilizou-se uma abordagem diferente. Conforme já descrito, a estatística deste teste é levantada no próprio espectro tomando-se componentes adjacentes (sem resposta) àquelas que se espera encontrar uma resposta. Assim sendo, apenas uma janela temporal de dados foi utilizada para a obtenção da FFT que servirá de base para todos os cálculos envolvidos neste teste. Porém, é sabido que quanto maior for a duração dessa janela maior será a resolução espectral e consequentemente melhor será a relação sinal ruído. Nesse caso então, para o cálculo da FFT, foi montada uma varredura constituída pela junção de todos os M trechos para formar uma janela temporal de duração mais extensa. Aqui é importante ressaltar que o procedimento adotado para execução do SFT só pode ser realizado se cada trecho contivesse um número inteiro de ciclos de P á g i n a | 28 resposta. Para que isso ocorresse, foi necessário que as frequências de modulação dos tons AM utilizados fossem escolhidos conforme o exposto por Felix (2006). De outra maneira, haveria perda da continuidade das respostas no momento em que a janela temporal fosse constituída. Isso acarretaria no surgimento de componentes espectrais, no momento do processamento do sinal, que poderiam interferir nos resultados obtidos pelo teste estatístico. 3.9 Análise Estatística 3.9.1 Testes Estatísticos Os testes estatísticos utilizados na detecção do sinal de ASSR foram o Teste Espectral F (SFT) e o teste da magnitude quadrática da coerência (MSC). Após essa etapa, foi realizada uma análise descritiva das características da amostra. Para análise comparativa entre a MSC e o SFT, foi utilizado o teste ANOVA twoway (multicomparação), considerando um nível de significância α=0,05. 3.10 Realização da Audiometria Inicialmente foram fornecidas algumas instruções ao indivíduo que foi submetido ao exame. Após esse primeiro contato, um fone foi posicionado nas orelhas para que o mesmo pudesse ouvir os estímulos acústicos oferecidos. Cada orelha foi testada separadamente, sendo que a primeira foi aquela que o paciente referiu como melhor. Os limiares encontrados na audiometria tonal foram então anotados em um gráfico, o audiograma. P á g i n a | 29 CAPÍTULO 4 - RESULTADOS Neste capítulo são apresentados resultados relativos ao exame da ASSR, utilizando como método de identificação das respostas os testes estatísticos MSC e o SFT. A Tabela 1 apresenta os limiares auditivos obtidos na realização do exame de audiometria tonal. O maior limiar obtido, como esperado, foi para a frequência de 500 Hz, em média de 19,3 dB SPL para a orelha esquerda e 19,2 dB SPL para a direita. A frequência de 1 kHz apresentou o limiar auditivo em média de 12,6 e 12 dB SPL para a orelha esquerda e direita, respectivamente. Tabela 1: Limiares auditivos (dB SPL) do exame de audiometria tonal dos 9 sujeitos. Audiometria Tonal Orelha Esquerda Orelha Direita Sujeito 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz Sujeito 1 21.5 12 9 9,5 21,5 17 14 9,5 Sujeito 2 21,5 12 14 14,5 16,5 12 14 9,5 Sujeito 3 21,5 12 9 14,5 21,5 7 14 14,5 Sujeito 4 16,5 12 9 19,5 16 17 9 14,5 Sujeito 5 16,5 17 14 19,5 21,5 12 14 9,5 Sujeito 6 16,5 17 9 14,5 16,5 12 9 14,5 Sujeito 7 16,5 7 14 14,5 16,5 7 9 14,5 Sujeito 8 21,5 12 14 14,5 21,5 12 14 9,5 Sujeito 9 21,5 12 9 14,5 21,5 12 14 9,5 Média 19.3 12.6 11.2 15.1 19.2 12.0 12.3 11.7 DP 2.6 3.0 2.6 3.0 2.7 3.5 2.5 2.6 DP: Desvio Padrão P á g i n a | 30 O tom de 2 kHz apresentou em média os menores limiares, sendo 11,2 dB SPL para a orelha esquerda e 12,3 dB SPL para a direita. Finalmente, os limiares auditivos para 4 kHz foram 15,1 dB SPL (orelha esquerda) e 11,7 dB SPL (orelha direita). Os resultados encontrados no exame de audiometria tonal atestam que os sujeitos participantes deste estudo não apresentam nenhuma deficiência auditiva que interferisse nas conclusões deste experimento para que se prosseguisse com o andamento da pesquisa. As figuras 4 e 5 mostram exemplos das ASSR’s identificadas com MSC e STF, em dois indivíduos, para os tons de 0,5, 1, 2 e 4 kHz modulados em amplitude (80,08 Hz; 84,96 Hz; 89,84 Hz e 94,73 Hz para a orelha esquerda e 78,12 Hz; 83,00 Hz; 86,91 e 97,79 Hz para a orelha direita). No sujeito #1 (figura 4) todas as 8 frequências das modulantes foram identificadas (valores maiores ao valor crítico) até os 30 dB SPL com ambas as técnicas, MSC e SFT, sendo que com 15 dB SPL foram identificadas claramente pelo MSC as componentes 84,96 (correspondente à portadora de 1kHz para a orelha esquerda) e 94,73Hz (correspondente à portadora de 4kHz para a orelha esquerda). Por outro lado, no sujeito #2 (figura 9) não foi possível identificar as 8 frequências para nenhuma das intensidades do estímulo, sendo que a MSC mostra mais claramente a detecção das várias componentes. Neste indivíduo nenhuma resposta foi identificada para 15 dB SPL. Existe a identificação de outras frequências, mas estão dentro da taxa de falsos positivos esperados de 5%. P á g i n a | 31 Sujeito # 1 (a) 60 dB SPL P á g i n a | 32 (b) 50 dB NA P á g i n a | 33 (c) 40 dB SPL P á g i n a | 34 (d) 30 dB SPL P á g i n a | 35 (e) 25 dB SPL P á g i n a | 36 (f) 20 dB NA P á g i n a | 37 (g) 15 dB SPL Figura 4 - MSC (gráfico à esquerda) e SFT (gráfico à direita) do sujeito #1 para (a) 60 dB SPL; (b) 50 dB SPL; (c) 40 dB SPL; (d) 30 dB SPL; (e) 25 dB SPL; (f) 20 dB SPL; (g) 15 dB SPL. Linha Horizontal representa o valor crítico para um nível de significância de 0,05. Número de trechos M= 900 P á g i n a | 38 Sujeito #2 (a) 60 dB SPL P á g i n a | 39 (b) 50 dB SPL P á g i n a | 40 (c) 40 dB SPL P á g i n a | 41 (d) 30 dB SPL P á g i n a | 42 (e) 25 dB SPL P á g i n a | 43 (f) 20 dB SPL Figura 5 - MSC (gráfico à esquerda) e SFT (gráfico à direita) do sujeito #2 para (a) 60 dB SPL; (b) 50 dB SPL; (c) 40 dB SPL; (d) 30 dB SPL; (e) 25 dB SPL; (f) 20 dB SPL. Linha Horizontal representa o valor crítico para um nível de significância de 0,05. Número de trechos M = 900. P á g i n a | 44 O limiar auditivo da ASSR (com M = 900) identificado com a MSC para a orelha esquerda (Tabela 2), dos 9 voluntários, em média foi de 31,1 (±11,7), 27,7 (±7,5), 25,6 (±9,2) e 22,2 (±6,2) dB SPL para as frequências portadoras de 0,5, 1, 2 e 4 kHz, respectivamente. Assim, os maiores limiares encontrados foram também para as frequências de 500 Hz, sendo a média das diferenças com o limiar do exame audiométrico de 11,8 (±12,7). A média destas diferenças para todas as frequências foi de 12,1 (±9,9) dB SPL. Resultados similares foram encontrados para o limiar auditivo detectado com a técnica Teste F (Tabela 2), no entanto, o maior limiar foi encontrado para 1 kHz. A comparação estatística não mostrou diferenças significativas (p<0,05) entre os valores dos limiares da MSC e SFT. Os limiares auditivos identificados para a orelha direita com a MSC e Teste Espectral F (Tabela 3) apresentaram um comportamento similar aos da orelha esquerda, sendo em média para o tom de 500 Hz de 33,3 (±11,7) e 33,9 (±11,4) dB SPL, para a MSC e SFT, respectivamente. A diferença com o limiar auditivo do exame de audiometria foi de 14,1 (±12,4) e 14,7 (±12,7) dB SPL, respectivamente, para a MSC e SFT. A média da diferença entre ambos os limiares para todas as frequências para o MSC foi de 13,8 (±10,1) e 14,2 (±10,7) para o SFT. Nesta orelha também não foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) entre os limiares com a MSC e SFT. Na média, a portadora de 2.000 Hz apresentou mais frequentemente os menores limiares auditivos para as duas orelhas, esquerda e direita (Tabelas 2 e 3). Foi possível, através deste experimento, mostrar que o AudioStim é capaz de, além de detectar as respostas da ASSR, também consegue detectar limiares auditivos utilizando intensidades de até 15 dB SPL ou bem próximos a isso. P á g i n a | 45 Tabela 2: Limiares auditivos (dB SPL) obtidos com os testes estatísticos MSC e SFT no exame de ASSR da orelha esquerda (OE) ASSR (OE) MSC F Sujeito 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz Sujeito 1 50 40 15 15 30 40 15 15 Sujeito 2 25 25 20 25 50 25 20 25 Sujeito 3 15 20 25 25 15 20 20 25 Sujeito 4 40 30 40 30 40 30 20 40 Sujeito 5 40 25 25 15 15 40 25 15 Sujeito 6 20 20 25 20 20 20 25 20 Sujeito 7 40 40 40 25 40 40 40 25 Sujeito 8 25 25 15 15 25 25 20 20 Sujeito 9 25 25 25 30 25 25 25 30 Média 31.1 27.7 25.5 22.2 28.8 29.4 23.3 23.8 DP 11.7 7.5 9.2 6.2 12.2 8.5 7.1 7.8 DEP: DESVIO PADRÃO P á g i n a | 46 Tabela 3: Limiares auditivos (dB SPL) obtidos com os testes estatísticos MSC e SFT no exame de ASSR da orelha direita (OD). ASSR (OD) MSC F Sujeito 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz 0,5 kHz 1 kHz 2 kHz 4 kHz Sujeito 1 25 20 15 20 25 20 15 20 Sujeito 2 40 25 25 15 40 25 25 15 Sujeito 3 20 25 25 30 20 20 20 20 Sujeito 4 40 25 25 40 40 25 40 40 Sujeito 5 25 30 15 25 30 20 15 25 Sujeito 6 25 25 25 25 25 40 25 25 Sujeito 7 50 50 30 25 50 50 30 25 Sujeito 8 25 15 25 30 25 25 25 30 Sujeito 9 50 50 20 40 50 25 20 40 Média 33.3 29.4 22.7 27.7 33.8 27.7 23.8 26.6 DP 11.7 12.4 5.1 8.3 11.4 10.3 7.8 8.7 DP: DESVIO PADRÃO P á g i n a | 47 Para inferir sobre o desempenho das técnicas MSC e SFT, na detecção do potencial evocado em regime permanente (ASSR), foi realizada a análise das respostas de todos os indivíduos com diferentes números de trechos. Os histogramas (Figura 6) mostram os números de indivíduos que apresentaram respostas aos estímulos de 500, 1.000, 2.000 e 4.000 Hz, moduladas, respectivamente a 80,08 Hz; 84,96 Hz; 89,84 Hz e 94,73 Hz para a orelha esquerda e M= 100, 200, 400, 600, 800 e 900 trechos escolhidos aleatoriamente. As duas técnicas tiveram um aumento no desempenho à medida que mais trechos foram utilizados no processamento, como esperado. Às vezes, o desempenho é melhor para o Teste Espectral F e em várias ocasiões o desempenho é similar. Para a orelha direita com modulantes de 78,12 Hz; 83,00 Hz; 86,91 Hz e 91,79 Hz resultados semelhantes foram obtidos. Nos resultados exibidos pela figura 6 pode-se identificar com clareza a presença de resposta de oito estímulos, justamente nas frequências com as quais os tons AM foram modulados. P á g i n a | 48 (a) (b) P á g i n a | 49 (c) d) Figura 6. Histogramas comparativos entre o número de indivíduos e o número de trechos M P á g i n a | 50 CAPÍTULO 5 - DISCUSSÃO A forma como o AudioStim foi desenvolvido permite ao protótipo executar uma grande quantidade de protocolos de estimulação. A possibilidade de ajuste de todos os parâmetros que constituem cada uma das formas de onda possibilita que estas sejam estudadas de várias maneiras distintas. Além disso, a autonomia que o usuário tem para definir a duração e a quantidade de estímulos que serão utilizados permite que seja investigada também a influência que parâmetros relativos ao tempo de execução das coletas têm no resultado final do exame. Tudo isso reunido faz do AudioStim um modelo diferenciado dos demais equipamentos já existentes no mercado que não oferecem tantos recursos ao examinador (ROMÃO, 2009). A interface gráfica se mostrou de fácil manuseio, proporcionando um ambiente agradável que permite que sejam utilizados, de forma intuitiva, todos os recursos disponibilizados pelo equipamento (ROMÃO, 2009). É possível identificar com clareza a presença das respostas de todos os estímulos, justamente nas quais os tons AM foram modulados. Foi possível identificar as respostas até limiares baixos, chegando a até 15 dB SPL, para algumas frequências como o mostrado na figura 4. Os resultados fornecidos pelos algoritmos de detecção (MSC e Teste Espectral F), após o processamento dos registros, mostram que o número de indivíduos que tiveram respostas detectadas aumentou na medida em que foram utilizados mais trechos de estimulação nas análises como esperado. Porém, conforme o verificado por Lins (2002), a amplitude das respostas está diretamente relacionada à intensidade dos estímulos. Dessa forma é possível justificarmos a ausência de algumas frequências após a diminuição da intensidade do estímulo. Em altas intensidades de estimulação todas as frequências foram identificadas. P á g i n a | 51 O desempenho dos testes estatísticos utilizados para a detecção dos limiares auditivos foram similares. No entanto, os resultados obtidos por meio do Teste Espectral F, em algumas situações, apresentaram-se levemente melhores. Esses resultados contradizem a literatura consultada (DOBIE et al, 1996) onde os autores apontam o MSC como melhor método estatístico para a detecção deste tipo de resposta. A detecção dos limiares auditivos, por tons puros, nas frequências graves, são claramente afetadas pelo ruído ambiente. O mesmo efeito poderia explicar os elevados valores nos limiares encontrados na frequência de 500 Hz (RICKARDS et al., 1994). No sujeito #2 não houve presença de resposta para todas as intensidades no mesmo momento de realização do teste o que, talvez, possa ser justificado pela má colocação dos fones. Isso já foi citado em trabalhos anteriores (LINS, 2002) que apontaram a necessidade de uma boa colocação dos fones para que assim haja boas respostas. Com relação à colocação do fone, um ajuste inadequado do mesmo pode levar a uma atenuação da energia sonora do estímulo apresentado. Por outro lado, a atividade elétrica não relacionada ao sistema auditivo (ruído), pode interferir no registro da resposta, mesmo estando dentro da variação do nível de rejeição (JOHN et al., 2004; PICTON, 2005). A partir da análise dos resultados, pode-se observar que a ASSR, utilizando métodos MSC e Teste Espectral F, permite a identificação do limiar auditivo eletrofisiológico. Os achados mostram que ambas as técnicas tem um desempenho similar para a identificação deste limiar. Alguns estudos têm sugerido o uso da ASSR quando os testes convencionais (por exemplo, audiometria) não mostram resultados satisfatórios (LINS, 2002). O que vem despertando a atenção de muitos pesquisadores para o estudo da ASSR é a possibilidade de obtenção de um perfil audiométrico abrangente, através da exploração de cada frequência, sem um aumento significativo no tempo de avaliação (AOYAG, 1993a; DIMITRIJEVIC et al., 2004; LINS, 2002). P á g i n a | 52 Esse exame apresenta propriedades que permitem uma avaliação mais detalhada e objetiva da audição e torna possível a configuração de um "audiograma eletrofisiológico" (DIMITRIJEVIC et al., 2002). Assim, a ASSR é importante na prática clínica, uma vez que o grau da perda auditiva é uma informação importante para se iniciar o processo de indicação e adaptação do aparelho de amplificação sonora individual (LINS, 2002; RUSSO, 1993). Neste momento da pesquisa ainda não é possível garantir que esses limiares são similares, quando comparados, aos resultados encontrados em outros equipamentos. Ainda são necessários outros estudos utilizando o AudioStim na detecção das respostas por ASSR para verificar as possíveis explicações fisiológicas que possam justificar a diferença entre as técnicas de medidas utilizadas. P á g i n a | 53 CAPÍTULO 6 - CONCLUSÃO Na amostra estudada, o exame da ASSR, realizado através do AudioStim, permitiu a detecção dos limiares auditivos por meio eletrofisiológico. Foi possível, por meio do AudioStim, avaliar oito frequências (quatro em cada orelha) e chegar a limiares próximos aos encontrados no exame de audiometria tonal dos indivíduos participantes. O MSC e o Teste Espectral F (SFT) apresentaram eficácia similar na identificação dos limiares auditivos eletrofisiológicos. No entanto o SFT, em algumas situações, apresentou resultados levemente melhores. P á g i n a | 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEARO COMPANY AUDITORY SYSTEMS. Instructions for the use of eartone 5A: Insert Earphones. Disponível em: <http://www.aearo.com/pdf/audsys/eartoneinstruction.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2009. AMERICA SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION. Guidelines for the Audiologic Assessment of Children: From Birth to 5 Years of Age. Encontrado em: http://www.asha.org. Ano 2004. AOYAGI, Masaru et al. Frequency specificity of amplitude-modulation following response detected by phase spectral analysis. Audiology, Switzerland, v.32, n.5, p.293-301, Sept. /Oct. 1993a. AOYAGI, Masaru et al. Optimal modulation frequency for amplitude-modulation following response in young children during sleep. Hearing research, v. 65, n. 1-2, p. 253-261, 1993b. BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. et al. Os Sistemas Auditivo e Vestibular. In: (Org). Neurociência: Desvendando o Sistema Nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 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É de grande importância observarmos as diferentes características funcionais de cada estrutura para assim compreendermos o seu papel dentro do complexo, porém fascinante, caminho percorrido pelos estímulos desde o momento que os impulsos mecânicos captados no meio ambiente são transformados em impulsos elétricos, sendo essa a “linguagem” entendida por nosso sistema nervoso central (BEAR et al, 2002). Orelha Externa Duas estruturas compõem essa porção, sendo elas denominadas: pavilhão auricular e meato acústico externo (MAE). As principais funções atribuídas à orelha externa são: coletar e encaminhar as ondas sonoras à orelha média; iniciar o processo de amplificação do som; auxiliar na localização da fonte sonora; proteger a orelha média contra agentes nocivos (BEAR et al, 2002; ZEMILIN, 2000). O pavilhão auricular é a parte responsável pela coleta das ondas sonoras no meio ambiente transportando tais sinais até o final do MAE. Essa parte, por sua vez, além de encaminhar os impulsos sonoros também é responsável por uma P á g i n a | 69 importante função: ele amplifica os sons na faixa de frequência situada entre 2.000 e 3.000 Hz (BEAR et al, 2002; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Anatomicamente o MAE possui cerca de 2,5 cm em adultos. Sabemos pela física que a velocidade do som é de, aproximadamente, 340/ms em condições favoráveis. Com posse desses dados, e usando algumas propriedades da física e alguns cálculos matemáticos, podemos facilmente explicar essa faixa favorável à ressonância da faixa de frequência acima citada. O que é interessante, pois sabemos que é justamente nessa faixa que está situado a maior parte dos sons necessários para boa compreensão da fala humana (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). No auxilio da localização da fonte sonora, a orelha externa lança mão de um efeito conhecido como “shadow effect” que acontece através da atenuação das ondas sonoras por meio da presença da cabeça. As ondas são atenuadas e a pressão sonora é reduzida no lado oposto à fonte (RUSSO, 1993). A cera produzida pelas glândulas ceruminosas da pele do MAE o impermeabiliza e o protege da ação de microorganismos. A estrutura do meato atua como uma barreira, mantendo o equilíbrio de temperatura e umidade evitando alterações na elasticidade da membrana timpânica (MT) (ZEMILIN, 2000). Orelha Média A principal função atribuída à orelha média é equalizar os sons que estão no meio aéreo (de baixa impedância) ao fluído de alta impedância presente na orelha interna. É importante lembrar que, neste contexto, impedância refere-se à resistência do meio ao movimento. Anatomicamente a orelha média é composta pelos seguintes seguimentos: membrana timpânica; cavidade da orelha média (que é preenchida por ar e comunica-se com a nasofaringe através da tuba auditiva); músculos da orelha média; cadeia ossicular, que é constituída pelos menores ossos encontrados no corpo humano, sendo eles denominados: martelo, P á g i n a | 70 bigorna e estribo, sendo o último intimamente ligado à cóclea através da janela oval (ZEMILIN, 2000). Os sons que chegam à orelha externa são transportados à orelha média e esta, por sua vez, transmite esse estímulo à orelha interna. Contudo, o ambiente dentro das orelhas externa e média são completamente diferentes do ambiente encontrado dentro da orelha interna. Os dois primeiros são preenchidos por ar e o terceiro preenchido por líquido. O raciocínio é simples: sendo os sons transportados à orelha externa e média por meio aéreo e na orelha interna, onde as vibrações induzidas pelo som são convertidas em impulsos nervosos, transportados por meio aquoso, é claramente necessário que ocorra um aumento na intensidade sonora para que a energia não seja perdida (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Sabemos, também da física, que quando um som passa de um meio de baixa impedância, como o ar, para um meio de impedância maior, como a água, quase toda energia acústica é refletida. A orelha média, então, supera esse problema e assegura a transmissão da energia sonora da fronteira ar-fluído pelo aumento da pressão medida na MT no momento em que o som alcança a orelha interna através do auxílio de dois mecanismos. São estes os mecanismos: - Mecanismo hidráulico: a relação encontrada entre a área de vibração útil da MT e a platina do estribo é de 17/1, o que significa um aumento de cerca de 17 a 25 vezes de pressão quando chega à janela oval. Isso significa aproximadamente 26 dB. - Mecanismo de alavanca martelo-bigorna: esse mecanismo vibra em conjunto em torno do seu eixo de rotação. O ramo longo da bigorna, que é menor que o cabo do martelo, faz com que as ondas sonoras transmitidas à janela oval aumentem a pressão acústica em uma relação de 2/1, o que significa aproximadamente 2,5 dB. A amplificação total da pressão transmitida da MT até a platina do estribo é de 22 vezes, o que corresponde de 27 a 35 dB. A adaptação da impedância entre o meio aéreo e a cóclea é indispensável à boa transmissão sonora. Sem estes mecanismos de adaptação haveria uma perda auditiva de aproximadamente 30 dB. É também na orelha média que o reflexo do estapédio é desencadeado. Essa reação a estímulos sonoros intensos é uma função de proteção à orelha interna. P á g i n a | 71 O reflexo consiste em uma contração bilateral do músculo do estribo (estapédio) que sob a presença de estímulos de grande intensidade, se desloca de cima para baixo aumentando a rigidez e a resistência à transmissão sonora. O constante arejamento da cavidade da orelha média e o equilíbrio entre a pressão atmosférica e a do ar contido em seu interior, são funções essenciais da tuba auditiva, outra estrutura presente na anatomia da orelha média. Essas funções são indispensáveis para que a unidade tímpano-ossicular vibre sem obstáculos (BEAR et al, 2002; FROTA, 1998; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Orelha Interna Esta região está anatomicamente localizada na porção petrosa do osso temporal. É importante observar que a orelha interna não é toda relacionada à audição. Na verdade, a orelha interna divide-se em duas porções, sendo elas denominadas: porção vestibular e coclear. A porção vestibular (ou labirinto) está intimamente relacionada ao auxílio e manutenção do equilíbrio corpo, já a porção coclear está diretamente relacionada com o sistema auditivo (BEAR et al, 2002; ZEMILIN, 2000). A cóclea é uma estrutura que ocupa um lugar decisivo na via auditiva, é nela que a energia das ondas de pressão, geradas pelo som, são transformadas em sinais neurais. Esta estrutura atua como um analisador mecânico de frequências decompondo as formas de ondas acústicas complexas em elementos mais simples. Anatomicamente a cóclea trata-se de um órgão de cerca de 9 mm de diâmetro com estrutura cônica composta por três “tubos” paralelos que se afilam da base para o ápice. Apresenta parede delgada e se dispõem em espiral, ao redor do qual, esses tubos dão duas voltas e meia e suas paredes externas são compostas por tecido ósseo. A base da cóclea é mais alargada e possuí duas janelas denominadas oval e redonda. Os três tubos, antes mencionados, são denominados: rampa vestibular, rampa média ou ducto coclear e rampa timpânica (BEAR et al, 2002; ZEMILIN, 2000). P á g i n a | 72 - Rampa vestibular: é mais superior e limita-se com a orelha média pela janela oval - Rampa média: ocupa a posição intermediária abrigando o órgão de Corti, sendo delimitada em sua base pela membrana basilar - Rampa timpânica: localizada inferiormente, limitando-se com a orelha média através da janela redonda (BEAR et al, 2002; PURVES et al, 2005). As rampas vestibular e timpânica comunicam-se entre si por meio do helicotrema, situado no ápice da cóclea. O seu interior contém perilinfa que tem sua composição rica em sódio. O interior do ducto coclear contém endolinfa rica em potássio. Este arranjo estrutural permite que o movimento realizado na janela oval, empurrando-a para dentro, desloque o fluído contido na cóclea, o que resulta em uma protuberância da janela redonda para fora, além de proporcionar um tipo de deformação à membrana basilar. A maneira que a membrana basilar vibra em resposta ao som é o elemento chave para a compreensão da função coclear. Medidas de vibração em diferentes partes de cada fibra ao nervo auditivo mostram que estas respostas aos estímulos sonoros estão em sintonia, ou seja, respondem mais intensamente ao som de uma determinada frequência (BEAR et al, 2002; FROTA, 1998; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Esta sintonia de frequência na orelha interna é atribuída, em parte, à geometria da membrana basilar, sendo essa mais larga e flexível na extremidade apical e mais estreita e rígida na extremidade basal. Uma característica deste sistema é o fato de parecer não importar onde a energia é aplicada à membrana, os movimentos sempre se iniciam na extremidade rígida, ou seja, na base, e se propagam à extremidade mais flexível, isto é, no ápice. Georg Von Békésy (1960) mostrou que uma membrana que varia sistematicamente em largura e flexibilidade vibra de forma máxima em diferentes posições em função da frequência do estímulo. Békésy (1960) descobriu que um estímulo acústico inicia uma onda que se propaga na cóclea com a mesma frequência, indo da base em direção ao ápice da membrana basilar, crescendo em amplitude e decrescendo em velocidade até P á g i n a | 73 um ponto em que o deslocamento máximo seja atingido. Este ponto é determinado pela frequência do som (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Estudos mostraram que os pontos que respondem às frequências baixas estão localizados no ápice da membrana basilar e aquelas que respondem às frequências altas estão na base, originando assim um mapeamento topográfico da frequência. Uma característica importante apresentada pela organização tonotópica da membrana basilar está na capacidade de sons complexos causarem padrões de vibração equivalente à superposição das vibrações geradas pelos tons individuais que constituem o som complexo, o que é responsável pela natureza decomponível da função coclear citada anteriormente (BEAR et al, 2002; FROTA, 1998; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). O Órgão de Corti As células receptoras auditivas, as quais convertem a energia mecânica em uma alteração na polarização da membrana basilar estão localizadas no órgão de Corti. Sua composição anatômica é constituída pelas células ciliadas, dos pilares de Corti e de várias células de sustentação (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). As células ciliadas são os receptores auditivos que se encontram fixados entre a membrana basilar e uma fina lâmina de tecido chamada de lâmina reticular. Entre essas duas lâminas estendem-se os pilares de Corti, fornecendo sustentação estrutural e as células ciliadas internas (CCI) que estão presentes em número de aproximadamente 3.500 e ficam dispostas em uma única fileira. As células ciliadas dispostas mais externamente aos pilares de Corti são chamadas de células ciliadas externas (CCE) que são aproximadamente 20.000 células dispostas em três fileiras (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). P á g i n a | 74 As CCI são os verdadeiros receptores sensoriais, e 95% das fibras do nervo auditivo que se projetam ao sistema nervoso central surgem desta subpopulação. Elas, as CCI, são responsáveis pela interpretação do estímulo sonoro, enquanto as CCE são amplificadores cocleares ativos e também moduladores deste estímulo. As células ciliadas possuem o que chamamos de estereocílios, que são estruturas posicionadas no lado apical das células ciliadas e estendem-se para cima da lâmina reticular, mergulhadas na endolinfa (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). As células ciliadas estabelecem sinapses em neurônios cujos corpos celulares estão no gânglio espiral, dentro do modíolo. Esses neurônios possuem neuritos que se estendem para as bases e laterais das células ciliadas e axônios que entram no nervo vestíbulo-coclear, o qual se projeta aos núcleos cocleares do bulbo. Quando a membrana basilar se move em resposta a um movimento do estribo, toda a estrutura que sustenta as células ciliadas movimenta-se, pois a membrana basilar, os pilares de Corti, a lâmina reticular e as células ciliadas estão rigidamente conectados. Estas estruturas movem-se como uma unidade em direção à membrana tectorial (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). Pelo fato da membrana tectorial firmar as extremidades dos estereocílios das células ciliadas, a movimentação lateral da lâmina reticular em relação à membrana tectorial, desloca os estereocílios das células externas para um lado ou para o outro. As extremidades dos estereocílios das células ciliadas externas também são deslocadas de maneira similar, provavelmente por serem empurradas pela endolinfa em movimento. Os estereocílios contêm filamentos de actina alinhados que os enrijecem, de modo que se inclinam como bastões rígidos. Filamentos transversais conectam os estereocílios de cada célula ciliada permitindo que todos os cílios se movam juntos, como um bloco (BEAR et al, 2002; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). P á g i n a | 75 Os registros das células ciliadas mostram que quando os estereocílios se deslocam em uma direção, a célula ciliada despolariza e quando se deslocam na outra, a célula hiperpolariza. Quando uma onda sonora causa o deslocamento dos cílios de um lado para o outro, as células ciliadas geram um potencial de receptor que despolariza e hiperpolariza alternadamente a partir de um valor de repouso (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). O sistema auditivo central é constituído de vias ascendentes, vias descendentes com seus núcleos e inter-relações. No tronco encefálico estão inseridas muitas estruturas da via auditiva e importantes funções são executadas neste nível. As vias auditivas centrais começam nos núcleos cocleares do tronco encefálico. Todos os neurônios do nervo auditivo terminam dentro dos núcleos cocleares ipsilaterais, depois de penetrarem no tronco encefálico. À medida que se aproximam do córtex cerebral assumem complexidade crescente. As aferências do gânglio espiral entram no tronco encefálico pelo nervo vestíbulo-coclear. Ao nível do bulbo, os axônios enervam o núcleo coclear dorsal e o núcleo coclear ventral ipsilaterais à cóclea de onde os axônios originam-se. Cada axônio ramifica-se de modo a estabelecer sinapses em neurônios de ambos os núcleos cocleares. Os núcleos cocleares auxiliam na seleção e modulação de frequência e iniciam o processo de audição binaural por meio de mecanismos de excitaçãoinibição da transmissão dos sons captados. As células no núcleo coclear ventral projetam seus axônios à oliva superior de ambos os lados do tronco encefálico. A oliva superior exerce um papel funcional na localização da fonte sonora e na audição binaural. Axônios dos neurônios olivares ascendem pelo lemnisco lateral e inervam o colículo inferior, no mesencéfalo. O colículo inferior exerce uma função primordial, a audição direcional. Muitos axônios eferentes do núcleo coclear dorsal seguem por uma rota similar à via do núcleo coclear ventral, mas a via dorsal segue diretamente, sem parar na oliva superior. Apesar de existirem outras rotas dos núcleos cocleares ao colículo inferior com outros núcleos de retransmissão intermediárias, todas as vias auditivas ascendentes convergem para o colículo inferior. Os neurônios do P á g i n a | 76 colículo inferior enviam seus axônios ao núcleo geniculado medial do tálamo, que por sua vez, projeta-se ao córtex auditivo e envia também ao colículo superior, onde ocorre a integração das informações auditiva e visual, assim como no cerebelo. Existem amplas retroalimentações nas vias auditivas, os neurônios do tronco enviam axônios que fazem contato com as células ciliadas externas e o colículo inferior. Os núcleos auditivos no tronco encefálico, exceto os núcleos cocleares, recebem aferências de ambas as orelhas (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000). O Córtex Auditivo É o estágio final das vias auditivas ascendentes no lobo temporal, com organização tonotópica e representação bilateral, isto é, em cada lobo chegam fibras das duas orelhas. O córtex auditivo possui uma série de subdivisões e uma distinção geral pode ser feita entre uma área primária e áreas periféricas. O córtex auditivo primário está localizado no giro temporal superior do lobo temporal e recebe aferência ponto a ponto da divisão ventral do complexo geniculado medial, portanto este contém um mapa tonotópico preciso. Ortogonal ao eixo de frequência do mapa tonotópico existe um arranjo em faixas das propriedades binaurais. Os neurônios de uma faixa são excitados pelas duas orelhas, enquanto os neurônios na faixa seguinte são excitados por uma orelha e inibidos por outra. O córtex auditivo primário é essencial para as funções auditivas básicas como a discriminação de frequências e localização do som. As áreas periféricas ou circunjacentes do córtex auditivo possuem uma organização tonotópica menos precisa e provavelmente processa sons mais complexos, como por exemplo, os sons que constituem a comunicação oral (BEAR et al, 2002; KANDEL et al, 2000; PURVES et al, 2005; ZEMILIN, 2000).