FERRAMENTAS E MÉTODOS DE ANÁLISE E PREVISÃO DA
DEMANDA DE ELETRICIDADE: Algumas Experiências Vividas
Recentemente na França
Máximo Luiz Pompermayer
Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos/Unicamp
CEP 13083-970 Tel.: (019) 788-3262 Fax.: (019) 289-3722
Christophe de Gouvello
CIRED/EHESS – França
RESUMO
Historicamente, as ações clássicas de
gerenciamento da demanda de eletricidade (GLD)
na França foram freadas pelo excedente temporário
de capacidade instalada e pela tradicional
neutralidade da EDF face às decisões do
consumidor. Apesar da eficiência global do sistema
elétrico e dos mecanismos tarifários da EDF, os
quais têm sido considerados uma poderosa
ferramenta de GLD, tem-se verificado situações que
requerem instrumentos específicos de GLD. Tratase do consumo global na França Metropolitana, da
distribuição em áreas rurais e do suprimento dos
territórios ultramarinos. Neste trabalho, apresentase
três
ferramentas
computacionais
de
reconstituição, análise e previsão de demanda, as
quais foram desenvolvidas para auxiliar o
planejamento e a gestão desses sistemas. A
finalidade maior é colher subsídios para o debate e
a reflexão das ações de GLD no contexto do setor
elétrico brasileiro.
ABSTRACT
Historically, Demand Side Management
(DSM) in France has been restrained by the temporary excess of capacity and the traditional neutrality
of EDF’s facing the customer decisions. In spite of
the global efficiency of sector and tariff system
which have been considered a powerful tool of
DSM, one verifies situations (market niches) which
require specific instruments of DSM. It refers to
France Metropolitan, rural sector, and departments
over-sea. This paper presents three computational
models for decomposition, analysis, and forecasting
of energy demand which have been developed for
helping the planing and management of these systems. The major goal is to get subsidy for debating
and reflecting about DSM in the context of the
Brazilian electric sector.
INTRODUÇÃO
Apesar da eficiência global do sistema
elétrico francês e dos mecanismos tarifários da EDF,
existem potenciais consideráveis de gerenciamento
pelo lado da demanda (GLD). Uma avaliação desses
potenciais requer ferramentas e métodos adequados
ao contexto sócio-econômico e institucional no qual
se inserem. Pelo menos três casos são bem
identificados: a) consumo global na França
Metropolitana; b) distribuição em áreas rurais; c)
suprimento dos departamentos ultramarinos. Observase diversos aspectos comuns, mas cada caso apresenta
uma forte singularidade e requer, portanto,
mecanismos específicos.
Historicamente, as ações de GLD foram
freadas pelo excedente temporário de capacidade
instalada, graças à política nacional de apoio à
energia nuclear e a tradicional neutralidade da EDF
face às decisões do consumidor, cujo sistema tarifário
têm sido considerado uma poderosa ferramenta de
GLD. Contudo, ações conjuntas têm sido revistas e
avaliadas, no âmbito de um acordo firmado entre a
agência nacional de meio ambiente e eficiência
energética (ADEME – Agence de l’Environnement et
de la Maîtrise de l’Energie) e a companhia estatal de
eletricidade, EDF – Electricité de France (ADEME
& EDF, 1993).
Este convênio foi firmado em fevereiro de
1993 e tem como objetivos principais os seguintes: a)
busca de uma reflexão comum, visando a definição e
o acompanhamento de projetos piloto de GLD; b)
implantação
de
programas
experimentais
decentralizados em coletividades territoriais; c)
avaliação dessas experiências,
implantação em escala nacional.
visando
a
Neste trabalho, apresenta-se três modelos
de reconstituição, análise e previsão de demanda, os
quais foram desenvolvidos de acordo com os
referidos contextos sócio-econômicos.
O GLD NO CONTEXTO DO SETOR
ELÉTRICO FRANCÊS
FRANÇA METROPOLITANA
Apesar dos mecanismos tarifários adotados
pela EDF, os quais induzem o consumidor a
gerenciar sua curva de carga e optar por tecnologias
mais eficientes, existe ainda um potencial
considerável de melhoria da eficiência energética
do uso final de eletricidade na França
Metropolitana, particularmente no setor residencial/
terciário, onde predominam usos cativos, como a
refrigeração e a iluminação.
Destaque a parte merece a calefação
elétrica, cujo mercado se encontra em fase de
expansão e se observa ainda uma parcela
significativa de sistemas pouco eficientes. Em 1975,
a eletricidade aquecia cerca de 6% dos domicílios
franceses; em 1995, sua parcela de mercado subiu
para 30%, o equivalente a sete milhões de
residências, das quais 50% foram construídas antes
da primeira regulamentação sobre calefação
elétrica, 1975 (ANGIOLETTI & SIMON, 1997).
Uma política de eficiência energética
destinada a esses usos finais requer uma
desagregação fina da demanda, o que exige o
conhecimento detalhado de parâmetros técnicos e
operacionais que a condicionam, onde se destacam
a tipologia dos equipamentos e os hábitos de uso e
manutenção dos aparelhos. É necessário, contudo,
uma abordagem "panorâmica" da demanda, de
modo a capturar os efeitos interativos e globais de
ações conjuntas e isoladas de GLD.
Procurando atender a essa dupla exigência,
desenvolveu-se o modelo MURELEC, cuja
apresentação e detalhamento são feitos abaixo.
SETOR RURAL
Em 1965, a eletrificação rural na França
cobria a quase totalidade de consumidores e o
consumo representava cerca de 4% do total
nacional. Em 1983, embora o numero de
consumidores não tenha se elevado muito, a
participação relativa do consumo subiu para 14,3%.
Isso foi devido à forte penetração de equipamentos
elétricos, onde se destacam os de uso térmico
(aquecimento de água, calefação elétrica e cocção),
cujo consumo de eletricidade, em 1975, significava
10,6% da parcela residencial, subindo para 43,7%,
em 1984 (GOUVELLO, 1996).
O que mais preocupa, no entanto, não é a
elevada participação do consumo de eletricidade, mas
a demanda requerida por esses (e outros)
equipamentos, dado o estado de saturação de muitas
linhas de baixa tensão, o que tem provocado queda de
tensão e desligamento da rede. Devido à baixa
densidade
de
consumidores, dentre
outras
singularidades do setor, as soluções convencionais,
ou seja, o reforço de linhas e transformadores, têm
apresentado custos elevados e crescentes e, assim, as
opções de GLD são avaliadas de forma concorrencial.
Em janeiro de 1994, havia 7 milhões de
consumidores rurais ligados à rede de baixa tensão
(BT), alimentados por 550 mil antenas BT,
denominadas départ. Dentre esses, cerca de 225 mil
(31 mil départs) estavam mal alimentados (linha ou
transformador saturado), apresentando problemas de
queda de tensão ou desligamento temporário no
fornecimento de energia (GOUVELLO et al., 1996).
Ainda, segundo os autores, em 1994 foram investidos
4,4 bilhões de francos no setor elétrico rural francês,
dos quais 85% foram destinados ao reforço de linhas.
Cada antena ou transformador apresenta sua
própria evolução e particularidades, o que requer um
tratamento específico e individualizado, de modo a
identificar
os
principais
responsáveis
(consumidores/equipamentos)
por
esses
inconvenientes, propor e avaliar soluções alternativas
(reforço da rede ou medidas de GLD), tomar decisões
e viabilizar as opções mais favoráveis. No intuito de
atender a esses requisitos, desenvolveu-se o modelo
EVE de reconstituição e análise de demanda, cuja
metodologia e estrutura operacional são descritas
abaixo.
TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS
Nos territórios ultramarinos1, grande parte do
potencial de GLD decorre da diferença entre o custo
marginal e a tarifa praticada, devido ao sistema de
equalização tarifaria adotado. Segundo CAURET &
ADNOT (1996), em 1995, o custo médio do sistema
era da ordem de 1,30 francos franceses (FF) por kWh
e a tarifa, de 0,66 FF/kWh.
Apesar de um contexto econômico favorável,
as ações concretas de GLD têm se limitado
basicamente aos bem sucedidos programas de
iluminação eficiente. Uma avaliação global e
conjunta do potencial efetivo de GLD tem sido
inviabilizada pela falta de informações e ferramentas
1
Guadalupe, Martinica, Reunião e Guiana.
adequadas ao contexto sócio-econômico e
institucional dessas regiões insulares. Conforme
analisado por CAURET (1997), “falta um ambiente
propício de debate, de aprendizagem coletiva e
difusão das experiências obtidas...”.
Contudo, esforços recentes têm sido feitos,
no sentido de melhorar à integração entre os
diversos atores envolvidos e melhor avaliar as
possibilidades economicamente competitivas de
melhorias da eficiência energética do uso final de
eletricidade. Neste contexto, foi desenvolvido
recentemente uma ferramenta de auxílio às decisões
de gerenciamento da demanda de eletricidade
(modelo SIADOM de análise e previsão de
demanda).
O MODELO MURELEC
APRESENTAÇÃO
O modelo MURELEC - Modelo de Uso
Racional de Eletricidade – foi desenvolvido pela
INESTENE (Instituto de Avaliação de Estratégias
sobre Energia e Meio Ambiente), a pedido da
ADEME (Agência Francesa para o Meio Ambiente
e Eficiência Energética), no âmbito do referido
acordo nacional entre a ADEME e a EDF
(Electricité de France), visando melhor explorar as
possibilidades de GLD, no contexto da França
Continental.
características físicas do domicílio e o poder de
compra; em relação às demográficas, número de
moradores, composição familiar e evolução
demográfica; quanto às energéticas, preço e evolução
das tarifas de energia; em relação às ambientais, a
estrutura de produção de energia e os investimentos
destinados à proteção do meio ambiente.
Tipologia do Parque de Equipamentos: São
identificados três níveis hierárquicos a saber: uso
final, equipamento e aparelho. Uso final é definido
como um conjunto de equipamentos destinados a uma
mesma
função
(iluminação,
refrigeração,
climatização, etc.). Um equipamento pode ser
constituído de um ou vários aparelhos, segundo o
modelo, a capacidade ou outro aspecto relevante na
sua identificação. Dentre as informações mais
importantes, destacam-se o parque de equipamentos,
o histórico de vendas, o preço, a vida útil e o
consumo de eletricidade de um ciclo padrão de
funcionamento (isto é, em condições normais de
operação), cujos dados são obtido através de testes
em laboratórios e/ou monitoramento de aparelhos.
Hábitos de Uso: Dois parâmetros são
fundamentais: duração do uso e porcentagem de
equipamentos em funcionamento num dado instante
ou intervalo de tempo. Considera-se, neste caso, as
variações entre dias úteis e fins de semana/feriados e
as sazonalidades da demanda.
RECONSTITUIÇÃO DA DEMANDA
MURELEC é um vasto banco de dados
sobre uso racional de eletricidade, incluindo todos
setores de atividade e os principais usos finais, e
uma ferramenta de simulação de demanda,
permitindo avaliar os potenciais e os custos de
programas e medidas de GLD. Conforme já
mencionado, o modelo foi desenvolvido com a
dupla finalidade de permitir uma desagregação fina
da demanda (por uso final/equipamento) e, ao
mesmo tempo, dar uma visão da estrutura geral e
sua evolução temporal, de modo a capturar os
efeitos interativos e globais de ações conjuntas e
isoladas de GLD.
ESTRUTURA DO BANCO DE DADOS
A estrutura do banco de dados utilizado
por MURELEC pode ser dividida em três principais
categorias de informação, conforme apresentadas e
descritas a seguir (INESTENE, 1998a):
Indicadores Macroeconômicos: Trata-se
de informações sócio-econômicas, demográficas,
energéticas e ambientais destinadas à identificação
e análise do nível de desenvolvimento da sociedade,
num dado ano de referência. Dentre as primeiras,
destacam-se o crescimento econômico, as
A demanda total é decomposta em quatro
setores de atividade: residencial, comercial, industrial
e outros (transportes, motores agrícolas, saneamento,
etc.). Cada setor é dividido em usos finais
(iluminação, refrigeração, usos térmicos, etc.) e cada
uso final é composto de um ou mais equipamentos, os
quais podem ser também constituídos de um ou mais
aparelhos.
Estoque de Equipamentos: O estoque de
equipamentos é deduzido através do histórico de
vendas e da vida útil dos aparelhos. Assim, o numero
de aparelhos que constituem um dado equipamento,
no ano n, é dado pela soma das vendas anuais desse
equipamento, no período anterior a n, menos o
numero de aparelhos sucateados nesse período, o que
é uma função da vida útil do equipamento e do
volume de vendas efetuadas em cada ano. Para
equipamentos em que não se dispõe desses dados, as
estimativas são feitas através de pesquisas de campo.
A avaliação do desempenho energético de
cada equipamento é feita através das características
técnicas de um aparelho típico (isto é, representativo
da média nacional), segundo as normas européias de
eficiência energética e o processo de etiquetagem de
equipamentos.
Estimativa do Consumo de Eletricidade:
Na estimativa do consumo de eletricidade de um
equipamento, dois parâmetros chave são
considerados: a) potência média requerida por um
ciclo padrão de funcionamento (chamada potência
útil), a qual é obtida através de testes em
laboratórios, catálogos de fabricantes e/ou
monitoramento
de
aparelhos
junto
aos
consumidores; b) tempo de uso dos aparelhos,
considerando as variações diárias e as
sazonalidades da demanda.
O consumo de eletricidade do equipamento
i, no mês j (CEij), é dado pelo produto de sua
potência útil (PUi) e o tempo médio de uso no mês j
(Tij). Desse modo, tem-se CEij = PUi x Tij. Para obter
o consumo total do parque de equipamentos, basta
multiplicar o consumo individual (CEij) pelo o
estoque de aparelhos.
Estimativa da Curva de Carga Cotidiana:
De forma similar ao consumo de eletricidade, as
estimativas da curva de carga dos equipamentos são
feitas a partir da potência útil e da probabilidade de
ocorrência do uso, o que requer também a obtenção
de informações técnicas (junto aos fabricantes e
laboratórios especializados) e o levantamento de
dados através de pesquisas de campo e campanhas
de medições. A demanda média do equipamento i
(isto é, do conjunto de aparelhos que o constituem),
no intervalo horário k, é dada pelo produto entre
sua potência útil (PUi) e a porcentagem de aparelhos
em uso no respectivo intervalo de tempo (Fik). Ou
seja, Dik = PUi x Fik.
EXTENSÕES DO MODELO
Devido ao sucesso do modelo, foram feitas
extensões a outros países da União Européia (UE).
Em 1996, no âmbito do programa de eficiência
energética da UE (programa SAVE), foi criado o
modelo MURE - Modelo de Uso Racional de
Energia. De forma similar ao MURELEC, porém,
estendido a toda a Comunidade Econômica
Européia, MURE é um vasto banco de dados sobre
uso racional de energia em 15 países membros da
UE, cobrindo todos os setores de atividade
(residencial, industrial, terciário e transporte) e os
principais energéticos (eletricidade, derivados de
petróleo, gás natural e biomassa) e uma ferramenta de
simulação de demanda, permitindo identificar e
avaliar os potenciais e custos de programas e medidas
de GLD, no contexto da UE ou, de forma individual,
de cada país membro (INESTENE, 1998b).
O MODELO EVE
APRESENTAÇÃO
O Modelo EVE, também desenvolvido pela
INESTENE, a pedido da ADEME, é uma ferramenta
de simulação e reconstituição de demanda, cujas
finalidades são as seguintes: a) identificar
consumidores, usos finais e equipamentos
responsáveis pela queda de tensão causada pelo o
excesso de demanda temporária; b) propor e analisar
medidas de gerenciamento, visando evitar ou
postergar investimentos necessários ao reforço de
redes e/ou transformadores rurais de baixa tensão
(BT), os quais se encontram em fase de saturação
(INESTENE, 1997).
Ao contrário do modelo anterior, o qual
permite a simulação da demanda de um estado, região
ou pais (modelo macro), EVE é destinado à
simulação da demanda de um número reduzido de
consumidores (modelo micro), onde a aleatoriedade
da demanda é fator preponderante. Desse modo,
embora possua também um vasto banco de dados,
onde grande parte das informações provém da base de
dados do modelo MURELEC, sua aplicação requer a
coleta de informações específicas sobre parâmetros
que condicionam a demanda, o que é feito através da
aplicação de questionários, bem como de dados
complementares fornecidos pela concessionária de
eletricidade (consumo de eletricidade, potência
inscrita – kVA, tipo de tarifa praticada, dados e
cálculos relacionados a rede, etc.).
RECONSTITUIÇÃO DA DEMANDA
Da mesma forma que o modelo anterior,
EVE calcula o consumo de eletricidade de um dado
equipamento, num dado intervalo de tempo, a partir
da potência requerida e do tempo de uso. A
composição do consumo é feita, porém, de modo
individual e iterativo, isto é, equipamento por
equipamento, consumidor por consumidor, cujo
consumo final é comparado com aquele indicado pela
fatura da EDF (consumo de referência). Caso a
diferença entre o consumo calculado pelo modelo
Figura 1: Exemplo de Curva de Carga Cotidiana Extraída do Modelo EVE (Dias Úteis).
e aquele de referencia seja superior a um dado
índice2, os parâmetros (potência requerida e/ou
tempo de uso) devem ser revistos e/ou ajustados.
Evidentemente, as modificações devem ser
iniciadas a partir dos usos finais de maior grau de
incerteza e/ou importância.
Quanto à curva de carga, EVE tem por
finalidade a simulação do perfil de demanda de um
número bastante reduzido de consumidores
(algumas unidades ou dezenas), os quais
representam a demanda total de um dado
transformador ou antena BT, o que é denominado
départ. Desse modo, como não se dispõe de um
número significativo de consumidores, em que seria
possível prever a probabilidade de ocorrência do
uso de cada equipamento (fator de coincidência), o
modelo simula a curva de carga de um dado
consumidor ou départ através da geração aleatória
de cenários alternativos de demanda cotidiana,
tendo como referência os seguintes parâmetros:
•
•
•
Intervalos horários de ocorrência do uso;
Numero de horas diárias de uso (índices
máximo, médio e mínimo);
Consumo de eletricidade (conforme descrito no
item anterior).
A Figura 1, acima, apresenta um exemplo
de curva de carga, segundo o banco de dados
2
Fica a critério do usuário a escolha desse índice, porém o
modelo sugere ±10%.
utilizado pelo modelo e um dado número de
equipamentos.
Embora coerentes com os intervalos
horários de ocorrência do uso e com o consumo de
referência, os índices obtidos (demanda) são um
tanto aleatórios (i. é, fixando-se os parâmetros
utilizados, inúmeros resultados podem ser obtidos),
devido à presença de equipamentos cujo tempo de
uso e potência requerida variam muito. Dessa
forma, a aplicação integral do modelo limita-se ao
contexto acima descrito, sendo inadequada à
simulação da curva de carga de um número elevado
de consumidores (estado, município, etc.), onde a
aleatoriedade da demanda é reduzida pela presença
de muitos aparelhos e usuários.
Apesar da imprecisão do momento de
ocorrência da ponta e da amplitude da demanda de
um dado equipamento ou uso final, a finalidade do
modelo é prever a possibilidade de ocorrência do
uso simultâneo de certos aparelhos, cujo efeito
cumulativo gera uma ponta e pode provocar queda
de tensão, dentre outros inconvenientes (e. g:
suspensão temporária do fornecimento de energia),
o que pode ser evitado pelo reforço da rede (linha e/
ou transformador), normalmente de custo elevado,
ou através de medidas de gerenciamento da
demanda (programação do uso dos aparelhos,
substituição de tecnologias e/ou energéticos, dentre
outras).
O MODELO SIADOM
APRESENTAÇÃO
O modelo SIADOM foi desenvolvido pelo
Centro de Energéticos da Escola de Minas de Paris,
no âmbito de um convênio firmado entre essa
instituição e a ADEME - Projeto No 95 10 021
CAURET & ADNOT, 1996). Após três anos de
estudos e pesquisas sobre o planejamento
energético dos departamentos ultramarinos, os
autores chegaram a conclusão que não havia
ferramentas adequadas ao contexto sócioeconômico e geográfico dessas regiões insulares.
SIADOM permite a reconstituição da
demanda (consumo e carga) de cada setor de
atividade, de forma ascendente e desagregada
(segundo os principais usos finais), a partir de
dados estatísticos disponíveis localmente, os quais
são complementados por informações levantadas na
França Continental, devido à escassez de dados
nessas regiões insulares. Através da elaboração de
cenários alternativos, o modelo permite fazer
projeções da demanda, de modo que os impactos de
um dado programa ou medida de GLD possam ser
avaliados.
Como recursos computacionais, SIADOM
utiliza o Software Excel. No caso do setor
residencial, a base de dados é composta de duas
planilhas: uma para a entrada de dados e escolha
das opções, e outra para os cálculos e apresentação
dos resultados. Uma vez que se trata de uma
planilha de cálculo, o modelo permite visualizar e,
caso necessário, modificar os dados, hipóteses e
equações empregadas. Os resultados obtidos são
comparados com aqueles fornecidos pela
concessionária de energia (demanda global). Desse
modo, se o consumo ou o perfil de carga total
obtido não corresponde àquele indicado pela
concessionária, pode-se facilmente ajustar os
parâmetros, refazer os cálculos e conferir
novamente os resultados.
Trata-se, portanto, de um modelo macro
(região, estado, comunidade, etc.) de reconstituição,
análise e previsão de demanda (de forma
ascendente e desagregada – metodologia bottomup), flexível e de fácil configuração, adequado a
sistemas isolados e/ou regiões com pouca
disponibilidade de informações e recursos
necessários ao planejamento da demanda de
eletricidade.
RECONSTITUIÇÃO DA DEMANDA
No caso do setor residencial, SIADOM
desagrega inicialmente a demanda em quatro
categorias de clientes, segundo a potência inscrita:
a) Clientes 3 kVA, b) Clientes 3 kVA forcés3, c)
Clientes 6 kVA DT (dupla tarifação), d) Gros
Clients (grandes consumidores). Esse tipo de
classificação é semelhante à uma estratificação dos
consumidores segundo a faixa de consumo, devido
aos mecanismos tarifários adotados pela EDF.
Os três principais grupos de
utilizados pelo modelo são os seguintes:
variáveis
1. Clientes: número de consumidores em cada
2.
3.
uma das subclasses acima relacionadas e o
respectivo consumo de eletricidade, fornecido
pela EDF;
Equipamento: grau de difusão (índice de posse
por domicílio) e tipologia dos aparelhos
(capacidade, potência, etc.);
Utilização: duração e horários em que ocorre o
uso dos aparelhos, considerando-se os
coeficientes
mensais
de
utilização
(sazonalidades) e os coeficientes horários
(porcentagem de aparelhos em uso), bem como
as variações entre dias úteis e fins de
semana/feriados.
Para as previsões da demanda, são
considerados cenários alternativos de crescimento
econômico e/ou demográfico, segundo as
estatísticas disponíveis e estudos previamente
feitos.
O Quadro 1, abaixo, apresenta um exemplo de
resultados obtidos pelo modelo. Conforme se
observa, o consumo total indicado pelo modelo
(Conso.calculée = 418 GWh), isto é, aquele
estimado a partir da base de dados (posse de
equipamentos, potência instalada, tempo de uso,
etc.) é bastante próximo daquele de referência
(indicado pela EDF = 414 GWh). Esse tipo de
comparação (consumo calculado/consumo de
referencia) serve de parâmetro para a análise e
validação dos resultados obtidos pelo modelo.
O mesmo tipo de raciocino é utilizado na
composição da curva de carga. A Figura 2, abaixo,
apresenta um exemplo de curva de carga obtida
pelo modelo.
CONCLUSÃO
Embora muitas ações clássicas de GLD
tenham sido preteridas ou freadas por uma política
energética altamente centralizada e monopolística, o
que dificulta o processo de coordenação entre os
diversos atores envolvidos (JANNUZZI et al.,
1999), observa-se um esforço recente de integração
3
3 kVA forcés são consumidores com 3 kVA, mas com
equipamentos que mereceriam uma potência superior.
entre as principais instituições (ADEME, EDF e
Ministério da Indústria), os quais têm consolidado a
parceria entre si e buscado o apoio e interesse de
outras instituições.
adaptação dessas ferramentas ao contexto
brasileiro, acredita-se que tais experiências sejam
importantes na avaliação do caso brasileiro, onde se
observa uma carência muito grande de dados,
ferramentas e métodos padronizados de avaliação
dos potenciais e impactos de programas de GLD.
Embora existam vários estudos brasileiros sobre o
assunto, de um modo geral, as estimativas são feitas
com base em hipóteses sobre o comporta-mento do
consumidor, estatísticas sobre vendas de
equipamentos e dados técnico-operacionais obtidos
apenas em ensaios de laboratórios.
Grandes esforços têm sido direcionados ao
conhecimento da estrutura de uso final, de modo a
avaliar os potenciais e impactos de programas e
medidas de GLD. Para isso, além das ferramentas
de reconstituição e análise de demanda, é
necessário um processo eficaz de aquisição de
dados, o que tem sido conseguido graças à parceria
entre as referidas instituições.
Sem a pretensão de avaliar as possibilidades de
Quadro 1: Exemplo de Resultados Obtidos pelo Modelo SIADOM (Reunião – 1993).
Réunion
1993
Choix deannée
l'année
Données d'entrée générales
nb abonnés résidentiel
Type abonné
Gros clients
6kVA
3kVA forcé
3kVA
0,05
0,25
0,35
0,35
Tx de perte
1,14
conso/ab
kWh
8500
5500
2000
1400
Nombre Conso*nbabo consocalc
abonnés GWh/ans
GWh/ans Delta GWh
Delta %
8400
71,4
55
16
-30
42000
231
156
75
-48
58800
117,6
-9
7
126
58800
82,32
81
1
-1
418
414
Conso. calculée
Conso. référence
"6 kVA"
1
2
3
4
dom
4
Réunion
168000
%
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Choix du
Département
1
1993
5
6
7
8
101,07%
kWh/hab calculé
6547
3704
2151
1384
calculé/référence
Réfrigér.
Congél
ECS instant
ECS asservie
Climat
Téléviseur
Lave linge
Divers
Eclairage
9
10
11
12
13
14
cons.moy./abonné
2990 kwh
15 16
17
18
19
20
21 22
23
24
Figura 2: Exemplo de Curva de Carga Obtida pelo Modelo SIADOM (Guadalupe, 1993).
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Europe. Potenciels de Maîtrise de la Demande
d’Electricité en France à l’Horizon 2010.
Relatório Técnico, 1996.
[10] __________________ Evaluation
des possibilités de maîtrise de la demande
d’électricité dans les réseaux électriques ruraux Méthodologie du Modèle de Mise en Œuvre de
Programmes de Maîtrise de la Demande
d’Electricité sur les Réseaux Bas Tension Modèle EVE. Abril de 1997.
[11] ________________ Présentation du
Modèle MURELEC. Relatório de Informação
Técnica, 1998a.
[12] ________________ Mure News –
The Newsletter of the Mure II Database. Abril de
1998b.
[13] JANNUZZI, G. M.; GOUVELLO, C.;
CAURET, L. A Evolução do Gerenciamento do
Lado da Demanda do Setor Elétrico Público: um
estudo comparativo entre o Brasil e a França.
REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA, Vol. VI,
No 1, p 33-51, 1999.
[14] SILDER, O. e BAL, J.L.
Connaissance de la Consommation des Ménages:
Les Campagnes des Mesures CIEL e
ECODROME. MAITRISE DE LA DEMANDE
D’ELECTRI-CITE - Colloque - Paris 25 e 26 de
novembro de 1997.
PALAVRAS CHAVE
Gerenciamento pelo Lado da Demanda; Modelos
de Análise e Previsão de Demanda; Setor Elétrico
Francês
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi desenvolvido no CIRED,
no âmbito do Programa de Cooperação Institucional CAPES/COFECUB – Projeto No 201/96. Os
autores agradecem o apoio financeiro e estrutural
das instituições.
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FERRAMENTAS E MÉTODOS DE ANÁLISE E PREVISÃO DA