UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO ANÁLISE DA GESTÃO DAS ATIVIDADES AGRÁRIAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE – ESTUDO DE CASO Dissertação de Mestrado em Gestão Susana Macedo Mofreita Orientadora: Professora Doutora Ana Alexandra Marta-Costa Vila Real, 2014 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO ANÁLISE DA GESTÃO DAS ATIVIDADES AGRÁRIAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE – ESTUDO DE CASO Dissertação de Mestrado em Gestão Susana Macedo Mofreita Orientadora: Professora Doutora Ana Alexandra Marta-Costa Composição de Júri: Presidente: Professora Doutora Carmen Teresa Pereira Leal Vogais: Professor Doutor Carlos Jorge Fonseca da Costa; Professora Doutora Ana Alexandra Marta Costa. Vila Real, 2014 Dissertação de Tese apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão. Agradecimentos Quero agradecer aos empresários agrícolas pela disponibilidade e interesse em facultar os dados das suas explorações para a comunidade científica, pois só desta forma será possível obtermos dados para comparações e análises inexistentes. Agradeço aos Sócios da empresa AGRIREAL que incentivaram, patrocinaram e tornaram possível a realização deste estudo, uma vez que, pela sua vasta experiência no setor agrário, demonstram grande interesse em apoiar este tipo de iniciativas, no sentido de promover o desenvolvimento do setor. O meu obrigada também a todas as colaboradoras da AGRIREAL, pois também elas contribuíram para a elaboração deste trabalho. Tenciono prestar o meu profundo reconhecimento à minha orientadora a Professora Doutora Ana Alexandra Marta-Costa, que apesar de não me conhecer anteriormente, confiou no meu trabalho e dedicação e com a sua notável experiência na temática abordada, me ajudou a concluir este grande projeto no meu percurso académico. Não posso deixar de agradecer ao meu marido e à minha filha Mafalda, que são o que tenho de mais precioso na vida e tiveram de ter muita paciência comigo no decorrer desta caminhada. Pretendo ainda agradecer à empresa ISAGRILUSO, por ter cedido gentilmente um programa informático agrário específico, que se designa por Isamargem, que apesar de ser extremamente interessante e adequado às explorações agrícolas, por falta de tempo relativo à introdução e parametrização de todos os dados não foi possível utilizar. iv Resumo As atuais empresas agrícolas resultam de um conjunto de ajustamentos realizados com o objetivo de tornar os negócios mais organizados e adaptados às necessidades do Homem. A componente económica tem-se revelado essencial para a sustentabilidade destas empresas, no sentido da gestão mais eficiente dos seus recursos, sendo a contabilidade uma ferramenta primordial na tomada de decisões. Pretendemos com este trabalho analisar criticamente a evolução do procedimento contabilístico para o setor agrícola, bem como analisar a evolução dos resultados económicos e de indicadores técnico-económicos das explorações agrícolas. A principal metodologia seguida incide na consulta e análise crítica da legislação contabilística para o setor e da literatura da especialidade. Procedemos, ainda, ao cálculo e análise da evolução de importantes indicadores técnico-económicos de um conjunto de explorações localizadas na região Norte interior do país, tendo por base os seus documentos da contabilidade geral. Os resultados encontrados confirmam a necessidade de reflexão sobre os motivos que levam ainda grande parte das explorações agrícolas nacionais a não apresentarem dados patrimoniais. Verificamos também que a opção dos empresários agrícolas por um determinado sistema de contabilidade – organizada simplificada e/ou de gestão – prende-se muitas vezes com o custo e benefício obtidos, principalmente em termos fiscais. Relativamente aos casos de estudo realizados, que assentam numa diversidade de situações, destaca-se que o empresário agrícola nem sempre disponibiliza ou arquiva todos os comprovativos obtidos com os gastos efetivos da exploração, impedindo o apuramento rigoroso dos seus resultados, com consequências ao nível da tomada de decisões inerentes à sua atividade. Constatamos ainda, na maioria das explorações sob estudo, o contributo económico indispensável das ajudas monetárias que recebem, sem as quais seria inviabilizado o exercício das atividades agropecuárias. Palavras-chave: Contabilidade; indicadores técnico-económicos; evolução de parâmetros. v vi Abstract The current agricultural companies result from a set of adjustments performed with the purpose of making businesses more organized and adapted to mankind’s needs. The economic component has revealed itself essential for the sustainability of these companies, towards a more efficient management of its resources, and accounting being a primary tool in the decision making process. With this study we intend to critically analyze the evolution of the accounting procedures for the agricultural sector, as well as analyze the evolution of the economical results in addition to the technical and economic indicators from agricultural holdings. The main methodology focuses on the consultation and analysis of the sectors accounting legislation and its literature. Furthermore, we ensue to calculate and analyze the evolution of important technical and economic indicators of a set of holdings located within the northern region of the country, based on their common accounting documents. The results obtained confirm the need to reflect on the reasons why a large portion of national agricultural holdings do not submit data sheets. We also noted that an agricultural entrepreneur’s choice for a particular accounting system – organized, simplified and/or managerial accounting – often concerns with the cost and benefit obtained, especially fiscally. Regarding the case studies performed, which are based on a variety of situations, it is accentuated that the agricultural entrepreneur does not always display or file all evidence obtained with the actual spending of the agricultural estate, inhibiting the formation of rigorous results, with consequences in terms of decisions relating to their activity. Verified, in most agricultural holdings under study, is the essential economic contribution from the monetary aid received, without which, it would be impossible to implement agricultural activities. Keywords: accounting, technical and economic indicators of development parameters. vii viii Índice CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO GERAL ................................................................................. 1 1. Introdução....................................................................................................................... 1 2. Objetivos ........................................................................................................................ 2 3. Metodologia ................................................................................................................... 4 3.1. Apresentação dos casos de estudo ............................................................................... 7 4. Organização do trabalho............................................................................................... 13 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA .................................. 15 1. Introdução..................................................................................................................... 15 2. Evolução da normalização contabilística em Portugal ................................................. 16 3. Análise dos sistemas de contabilidade aplicados ao setor agrário ............................... 22 3.1. Sistema de contabilidade Geral ................................................................................. 24 3.1.1. Sistema de Contabilidade Simplificada.............................................................. 25 3.1.2. Sistema de Contabilidade Organizada................................................................ 26 3.2. Sistema de contabilidade Analítica ........................................................................... 27 3.3. Sistema de contabilidade Misto................................................................................. 29 4. Tributação dos Rendimentos Agrícolas ....................................................................... 31 4.1. Tributação pelo regime simplificado......................................................................... 34 4.2. Tributação pela contabilidade organizada ................................................................. 37 5. Conclusões ................................................................................................................... 40 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA.. 43 1. Introdução..................................................................................................................... 43 2. Tipos de resultados das empresas agrícolas ................................................................. 44 2.1. Panorâmica dos resultados económicos a nível nacional .......................................... 47 2.2. Estrutura das explorações agrícolas .......................................................................... 48 2.2.1.Tipos de empresas agrícolas ................................................................................ 48 2.2.2. Forma Jurídica da empresa agrícola e SAU explorada ...................................... 49 2.2.3. Agricultura por região, dimensão económica e OTE produtiva em 2009 .......... 50 2.2.4.Volume de mão-de-obra agrícola (Base 2000) (preços correntes) ...................... 51 2.2.5. Produção agrícola animal e vegetal .................................................................... 53 2.2.6. VAB em Portugal e na UE27 ............................................................................. 54 3. Resultados e indicadores técnico-económicos nos casos de estudo ............................. 55 3.1. Metodologia a adotar ................................................................................................. 56 3.2. Resultados das explorações agrícolas em estudo ...................................................... 60 3.3. Proveitos e seus indicadores ...................................................................................... 65 3.4. Custos e seus indicadores .......................................................................................... 71 ix 3.5. Resultados e seus indicadores técnico-económicos .................................................. 75 3.6. Análise e discussão dos resultados e indicadores técnico-económicos ..................... 81 4. Conclusões ................................................................................................................... 90 CAPÍTULO IV - Conclusões e considerações finais ............................................................... 93 1. Conclusões........................................................................................................................ 93 2. Considerações finais ......................................................................................................... 95 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 97 ANEXOS ................................................................................................................................ 103 Anexo A ............................................................................................................................. 104 Anexo B.............................................................................................................................. 106 Anexo C.............................................................................................................................. 107 x Índice de Figuras Figura 1. Localização geográfica das explorações agrícolas dos casos de estudo ..................... 8 Figura 2. Ano de início de atividade das empresas alvo do estudo de caso ............................. 10 Figura 3. Tipo de Empresas Agrícolas em estudo .................................................................... 10 Figura 4. Tipo de sistema de Contabilidade Geral adotado pelas empresas em estudo ........... 11 Figura 5. Aplicação do Justo Valor na valorização dos ativos biológicos ............................... 20 Figura 6. Estrutura do capital da empresa agrícola .................................................................. 45 Figura 7. Agricultura por região, dimensão económica e orientação produtiva em 2009 ....... 51 Figura 8. VAB pm, Produtividade e UTA em Portugal entre 2000 e 2010 ............................. 52 Figura 9. VAB da agricultura, silvicultura e pescas de Portugal e da U27, entre 1995 e 2012, em milhões de euros ................................................................................................................. 55 Figura 10. CN / Ha de SAU das explorações em estudo entre 2009 e 2011 ............................ 64 Figura 11. UTA / SAU das explorações em estudo entre 2009 e 2011.................................... 64 Figura 12. UTA / CN das explorações em estudo entre 2009 e 2011 ...................................... 65 Figura 13. Proveitos médios das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros ......... 67 Figura 14. PB Vegetal / SAU (€/Ha)........................................................................................ 83 Figura 15. PB Animal / Cabeça Normal (€/CN) ...................................................................... 83 Figura 16. REF / SAU (€/Ha)................................................................................................... 85 Figura 17. REF / Cabeça Normal (€/CN) ................................................................................. 85 Figura 18. RE / SAU (€/Ha) ..................................................................................................... 86 Figura 19. RE / CN (€/CN) ...................................................................................................... 87 Figura 20. RT / UTA ................................................................................................................ 88 Figura 21. RTF / UTA .............................................................................................................. 88 xi xii Índice de Tabelas Tabela 1. Caracterização das explorações agrícolas em estudo ................................................. 9 Tabela 2. Sistemas de Contabilidade para o setor agrícola ...................................................... 24 Tabela 3. Regime simplificado versus regime de contabilidade organizada ........................... 33 Tabela 4. Rendimentos agrícolas excluídos e sujeitos a tributação ......................................... 35 Tabela 5. Tributação dos rendimentos agrícolas ...................................................................... 36 Tabela 6. Correspondência entre incidência pessoal/incidência real em IRC.......................... 37 Tabela 7. Esquema do apuramento do IRC a pagar pelas empresas ........................................ 38 Tabela 8. Natureza Jurídica das Explorações Agrícolas e SAU explorada em Portugal nos anos de 1999 a 2009. ................................................................................................................ 50 Tabela 9. Volume de mão-de-obra agrícola entre 2003 a 2010, em UTA em Portugal entre nos anos de 2003 a 2010 ................................................................................................................. 52 Tabela 10. Produção do ramo agrícola, a preços correntes (Base 2000) em Portugal nos anos de 2008 a 2010. ........................................................................................................................ 53 Tabela 11. Valor acrescentado bruto, rendimento e formação bruta de capital fixo na agricultura em Portugal, a preços correntes entre 2008 e 2010 ............................................... 54 Tabela 12. Classes de Dimensão Económica apresentadas nos estudos de caso. .................... 59 Tabela 13. Classes de Orientação Técnico-económica apresentadas nos estudos de caso ...... 59 Tabela 14. Grupo de análise obtidos com os estudos de caso .................................................. 60 Tabela 15. SAU Total; N.º de parcelas, SAU média por parcela, SAU Total Média e respetivas médias das explorações agrícolas em estudo, entre 2009 e 2011............................ 61 Tabela 16. CN e UTA das explorações agrícolas em estudo, entre 2009 e 2011 .................... 63 Tabela 17. Proveitos anuais das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros .......... 66 Tabela 18. Proveitos por SAU e por CN das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros......................................................................................................................................... 68 Tabela 19 Proveitos vegetais anuais das explorações em estudo por atividade e por SAU, entre 2009 e 2011, em Euros .................................................................................................... 69 Tabela 20. Proveitos anuais de cada uma das atividades pecuárias das explorações em estudo por CN explorada, entre 2009 e 2011, em Euros ..................................................................... 71 Tabela 21. Custos anuais das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros .............. 72 Tabela 22. Custos por SAU e por CN das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros......................................................................................................................................... 74 xiii Tabela 23. PB vegetal /SAU e PB animal/CN nas explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros ................................................................................................................................... 76 Tabela 24. VAB e RLE das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros ................. 77 Tabela 25. REF; REF/SAU e REF/CN das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros......................................................................................................................................... 78 Tabela 26. RE; RE/SAU e RE/CN das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros 79 Tabela 27. RT e RTF das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros ..................... 80 Tabela 28. RT/UTA; RTF/UTA das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros .... 81 Tabela 29. PB vegetal/SAU e PB animal/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011 ....................................................................... 82 Tabela 30. REF/SAU e REF/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011.......................................................................................................... 84 Tabela 31. RE/SAU e RE/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011.......................................................................................................... 86 Tabela 32. RT/UTA e RTF/UTA obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011.......................................................................................................... 87 xiv Lista de Siglas AT - Autoridade Tributária BADF - Bases para a apresentação das demonstrações Financeiras BDF - Balanço e Demonstração dos Resultados CAE - Código da atividade empresarial CC - Código de Contas CEE - Comunidade Económica Europeia CIRC - Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas CIRS - Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares CIVA - Código do imposto sobre o valor acrescentado CN – Cabeça Normal CNC - Comissão de Normalização Contabilística DE – Dimensão Económica DF’s - Demonstrações Financeiras DRAPN – Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte EM - Estados Membros FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations GPP - Gabinete de Planeamento e Políticas Ha - Hectare I.A.S. - Indexante de apoios sociais IAS - Norma Internacional de Contabilidade IASB - International Accounting Standards Board IASC - International Accounting Standards Committe IES - Informação Empresarial Simplificada IFAP – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, I.P. IFRS - International Financial Reporting Standards INE - Instituto Nacional de Estatística IPSS - Instituições Particulares de Solidariedade Social IRC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas IRS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado MAMAOT - Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território xv MAPA - Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação MDF - Modelos de Demonstrações Financeiras N.p. - não publicados NCRF - Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro NCRF-PE - Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades NI - Normas Interpretativas NIC - Normas Internacionais de Contabilidade OE - Orçamento de Estado OTE - Orientação Técnico-Económica PAC - Política Agrícola Comum PB - Produto Bruto PE – Pequenas Entidades POC - Plano Oficial de Contabilidade RBE - Rendimento Bruto da Exploração RCE - Rendimento do Capital e da Empresa RCP - Rendimento do Capital Próprio RE - Rendimento Empresarial REF - Rendimento do Empresário e da Família RF - Rendimento Fundiário RICA - Rede de Informação de Contabilidades Agrícolas RLE - Rendimento Líquido da Exploração RLP - Resultado Líquido do Período (RLP) RT - Rendimento do Trabalho RTD - Rendimento do Trabalho Diretivo RTF - Rendimento do Trabalho Familiar S.d. – Sem data SAU - Superfície Agrícola Útil SIMA – Sistema de Informação de Mercados Agrícolas SMN - Salário Mínimo Nacional SNC - Sistema de Normalização Contabilista SNIRB - Sistema Nacional de Identificação e Registo de Bovinos SUCA - Sistema Único de Contabilidade Agrícola TOC - Técnico Oficial de Contas xvi UE - União Europeia UTA – Unidade de Trabalho Anual VAB - Valor Acrescentado Bruto VAB pm -Valor Acrescentado Bruto a preços de mercado VPP - Valores da Produção Padrão xvii xviii CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO GERAL 1. Introdução As empresas nem sempre tiveram a estrutura que têm hoje. Na verdade, resultam de um conjunto de ajustamentos que o Homem foi fazendo, com o objetivo de tornar os negócios mais organizados e adaptados às suas necessidades. As empresas agrícolas não são exceção às restantes empresas e, portanto, também se têm vindo a adaptar às necessidades da sociedade, algumas delas provenientes da globalização. Neste sentido, questionamo-nos, sobre qual a melhor forma de tornar este setor económica e financeiramente sustentável, cujas atividades são essenciais à sobrevivência humana. O que será necessário para efetuar uma gestão mais eficiente dos recursos agrícolas? Não poderá ser a contabilidade uma ferramenta primordial na tomada de decisões? A análise da gestão de atividades agrárias através da contabilidade é um tema pouco abordado na comunidade científica, mas pertinente para os profissionais da contabilidade, os empresários agrícolas e restantes técnicos que lidam diretamente com as explorações agrárias. A razão pela qual decidimos escolher o tema: “Análise da Gestão das Atividades Agrárias através da Contabilidade – Estudo de Caso”, prende-se pelo facto de, por um lado, existir pouca informação disponível sobre as contabilidades agrícolas bem como sobre os resultados económicos das explorações individualmente. Por outro, considerarmos essencial, para o desenvolvimento do setor, proceder à análise de importantes indicadores técnico-económicos, que poderão ajudar na identificação de fatores críticos de (in)sucesso. Neste trabalho pretendemos estudar algumas empresas agrícolas, através da análise dos seus resultados, recorrendo para o efeito, aos dados presentes na contabilidade geral. Pretendemos ainda verificar se a contabilidade serve efetivamente de apoio à gestão das explorações, e identificar os ajustamentos que poderiam ser efetuados nesse sentido. Aspiramos desta forma, contribuir para identificar possíveis lacunas na gestão das explorações agrícolas que possam ser diagnosticadas através da análise dos elementos contabilísticos. É nosso propósito, também, identificar as principais dificuldades relacionadas com a execução da própria contabilidade agrícola, o que poderá ser conveniente para um maior ajustamento das normas existentes e, consequentemente, obter uma maior adesão dos agricultores às mesmas. 1 Capítulo I - Enquadramento Geral 2. Objetivos O objetivo central deste trabalho consiste na identificação e análise de dados técnicoeconómicos de algumas explorações agrícolas, obtidos pela consulta dos seus elementos contabilísticos. Pretendemos ainda agregar informação sobre a contabilidade agrícola, nomeadamente ao nível dos seus objetivos e procedimentos, e sua evolução, de forma a apoiar um melhor entendimento desta prática e facilitar o seu uso pelos agricultores e profissionais do setor. Associados aos objetivos centrais, identificamos os seguintes objetivos específicos: Identificar a evolução da normalização contabilística em Portugal, direcionando-a para o setor agrícola; Identificar e analisar criticamente os sistemas de contabilidades atuais existentes para o setor agrícola e as suas especificidades; Identificar e analisar a tributação dos rendimentos agrícolas; Caracterizar o setor agrícola e os seus resultados a nível nacional e em comparação com a União Europeia (UE); Identificar e analisar a evolução dos resultados económicos e de indicadores técnicoeconómicos, ao nível das explorações agrícolas que constituirão objeto de estudo deste trabalho nos exercícios económicos mais recentes no momento da constituição da amostra (2009, 2010 e 2011), e compará-los com os dados das contabilidades da Rede de Informação das Contabilidades Agrícolas (RICA); Identificar os principais problemas na gestão das explorações transmitidos pela contabilidade. Uma vez que não foram encontrados estudos significativos que abordem os resultados das atividades agrárias e sua análise através da contabilidade, pelo menos a nível nacional, bem como as obras publicadas sobre a temática da contabilidade e gestão agrária serem pouco recentes, pretendemos com este trabalho verificar se os resultados das explorações em estudo, obtidos através da contabilidade geral, são comparáveis entre si e se tendem para realidades semelhantes. Por outro lado, ao analisarmos os dados contabilísticos em conjunto com os indicadores técnico-económicos, poderemos obter cenários que permitem uma gestão mais eficiente dos recursos das explorações. 2 Capítulo I - Enquadramento Geral Convém, no entanto, salientar que os resultados obtidos com este estudo estarão sempre dependentes da informação que é transmitida pelo agricultor e posteriormente refletida na contabilidade. Além dos objetivos apresentados, pretendemos com este trabalho aumentar os dados disponíveis na comunidade científica sobre os resultados de empresas agrícolas e promover o desencadeamento e a continuidade de estudos científicos sobre a temática, na tentativa de colmatar a escassez de trabalhos no setor. 3 Capítulo I - Enquadramento Geral 3. Metodologia O desenvolvimento deste trabalho baseou-se na realização de seis fases principais: FASE I – Iniciamos o estudo com um enquadramento teórico das práticas contabilísticas para o setor agrícola e a sua evolução. Esta fase foi apoiada numa revisão bibliográfica de documentos e manuais publicados sobre o tema, consulta de legislação aplicável e de bases de dados estatísticos que consideramos relevantes para o estudo apresentado. O objetivo desta fase foi, assim, apresentar um conteúdo, apoiado numa análise crítica, que auxilie o entendimento do que é e quais são os objetivos da contabilidade, essencialmente como instrumento de apoio à gestão, quais as suas principais normas e procedimentos, e qual a sua evolução para o setor agrícola. Nesta fase, além de identificarmos os principais sistemas de contabilidade que existem e percebermos como se encontram definidas as normas da contabilidade geral nacional relativas à agricultura, pretendemos detetar possíveis lacunas que possam servir de entrave à plena gestão das explorações agrícolas. FASE II – A segunda fase consistiu na análise dos principais resultados e indicadores técnico-económicos encontrados para o setor agrícola, a nível nacional e entre os países da UE, através da revisão bibliográfica de documentos publicados de manuais e consulta de bases de dados estatísticos, que se consideraram relevantes para o estudo apresentado. O objetivo desta fase consistiu na recolha de informação que permitiu, numa fase posterior, identificar e comparar os resultados e indicadores técnico-económicos entre o objeto de estudo e a realidade observada. Estes últimos dados assentaram na amostra de contabilidades agrícolas da RICA, facultada pelo Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP), do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT). FASE III – De seguida, orientamos o trabalho para uma pesquisa exploratória. Esta pesquisa teve início com a seleção de estudos de caso (objetos de estudo), que resultou num grupo de vinte explorações, as quais foram caracterizadas quanto à: Localização geográfica; Tipo de empresa agrícola; 4 Capítulo I - Enquadramento Geral Ano de início de atividade; Sistema de contabilidade; Área da exploração, Superfície Agrícola Útil (SAU) e seu uso; Aproveitamento cultural das parcelas com uso agrícola; Efetivo animal (espécie, raça, número de Cabeças Normais (CN); Unidades de Trabalho Anual (UTA) utilizadas. Nesta fase foi também apresentada a metodologia a desenvolver, baseada nos dados recolhidos junto dos empresários agrícolas, após a garantia do seu anonimato, tendo em vista a identificação, cálculo e análise de resultados e indicadores técnico-económicos para cada uma das explorações agrícolas em estudo. A identificação daqueles valores e fórmulas de cálculo foram obtidas em Avillez et al. (1987). Foram utilizados os elementos presentes nos documentos contabilísticos e fiscais dos empresários, referentes aos exercícios económicos sob análise; informações dos Pedidos Únicos de Ajudas e listagens do Sistema Nacional de Identificação e Registo de Bovinos (SNIRB) com a movimentação do efetivo pecuário, entre outras informações facultadas pelos empresários. Os anos de análise selecionados foram 2009, 2010, e 2011, por serem os mais recentes no momento da constituição da amostra. Para o tratamento dos dados e cálculo de alguns dos indicadores técnico-financeiros, utilizamos uma folha de Excel previamente formatada e adaptada aos dados a introduzir. As informações inseridas foram as seguintes: Proveitos da exploração: Vendas de Produtos; Prestações de Serviços; Outros Rendimentos e Subsídios à Exploração; Custos da exploração: Trabalhos para a própria empresa; Compras de fatores de produção utilizados (adubos; sementes e plantas; produtos fitossanitários; outros produtos); Custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas; Fornecimentos e serviços externos (energia, água, luz, combustível, conservação e reparação); Gastos com o pessoal; Gastos com depreciações e amortizações; Gastos e perdas de financiamento; Outros Gastos; Área da exploração; SAU; ocupação cultural; efetivo pecuário; entre outras características. 5 Capítulo I - Enquadramento Geral FASE IV – Nesta fase procedeu-se ao cálculo dos resultados e respetivos indicadores técnicoeconómicos, de acordo com o tipo de exploração (familiar ou patronal) e informação disponibilizada. Os primeiros basearam-se em Avillez et al. (1987), tendo sido selecionados os seguintes: Produto bruto (PB); Valor acrescentado bruto (VAB); Rendimento líquido da exploração (RLE); Rendimento do empresário e da família (REF); Rendimento empresarial (RE); Rendimento do trabalho familiar (RTF); Rendimento do trabalho (RT). Como indicadores técnico-económicos, foram calculados os que se indicam de seguida, tendo por base os encontrados na recolha bibliográfica realizada (Costa, 1989) e considerados úteis para a gestão da empresa, mas fortemente limitados pela informação disponível pelas empresárias agrárias que constituíram a amostra deste trabalho: CN/SAU Hectare (Ha); UTA/SAU (Ha) e UTA/CN; Proveitos de cada atividade vegetal/SAU (Ha) e Proveitos de cada atividade animal/CN; PB vegetal/SAU (€/Ha) e PB animal/ CN (€/CN); REF/ SAU (€/Ha) e REF/ CN (€/CN); RE/SAU (€/Ha) e RE/ CN (€/CN); RT/ UTA e RTF/ UTA. FASE V – Nesta fase foram analisados e discutidos os resultados e indicadores técnicoeconómicos das diversas explorações em estudo, identificados e calculados na fase IV. Optamos por uma análise comparativa daqueles valores, tal como sugere Costa (1989), através da sua comparação com os de outras empresas de referência, comparáveis entre si. Ainda de acordo com o autor, as referências utilizadas poderão ter três origens diferentes: valores médios de empresas situadas na mesma zona, com o mesmo tipo de produção e orientação produtiva; valores inicialmente definidos pela empresa no plano previsional anteriormente elaborado e valores médios divulgados pelos serviços técnicos. 6 Capítulo I - Enquadramento Geral Neste trabalho, comparamos os parâmetros obtidos entre as várias empresas que constituem a amostra deste estudo e também com os dados, não publicados, facultados pelo GPP, recolhidos das contabilidades de explorações agrícolas situadas na região integrada na Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), de Portugal, no âmbito da RICA, para os anos sob análise, atendendo quer à Dimensão Económica (DE) quer à Orientação Técnico-Produtiva (OTE). FASE VI – Na última fase foram realizadas as conclusões do estudo, bem como as considerações finais consideradas pertinentes e recolhidas ao longo do trabalho desenvolvido. 3.1. Apresentação dos casos de estudo Como metodologia principal deste trabalho utilizamos a pesquisa exploratória (estudo de caso) que, segundo Barañano (2008: 102), “… é um método de investigação utilizado no âmbito das Ciências Sociais que pressupõe uma apresentação rigorosa de dados empíricos, baseada numa combinação de evidências quantitativas e qualitativas”. Como objeto de estudo selecionamos vinte explorações agrícolas, cujas localizações se apresentam na Figura 1. A amostra foi recolhida através do recurso à base de dados de clientes da empresa AGRIREAL – Consultoria, Produção e Comercialização, Lda. Trata-se de uma empresa que atua no setor agrário há mais de uma década e, através das parcerias desenvolvidas com o Centro de Gestão Agrária do Cima Corgo, associação sem fins lucrativos que apoia o agricultor, dispõe de um leque abrangente e representativo de explorações agrícolas ao nível da região da DRAPN. As vinte explorações estudadas encontram-se distribuídas por nove concelhos do norte de Portugal Continental, nomeadamente: Alijó; Lousada; Moimenta da Beira; Sabrosa; Santa Marta de Penaguião; Sernancelhe; São João da Pesqueira; Vila Pouca de Aguiar; e Vila Real (Figura 1). Todas as explorações apresentam a forma jurídica de empresário em nome individual. As atividades agrárias produzidas coincidem com as predominantes na zona de atuação da DRAPN, nomeadamente: exploração de bovinos para carne e de caprinos para carne e leite; produção de uva, castanha, azeitona, amêndoa, maçã, pêra, hortícolas e pastagens e forragens. 7 Capítulo I - Enquadramento Geral Fonte: Adaptado de DRAPN (2013) Figura 1. Localização geográfica das explorações agrícolas dos casos de estudo A tabela 1 detalha as principais características destas explorações. O ano de início da atividade agrícola situa-se a partir de 2004, o que nos permite constatar que se tratam de empresas relativamente jovens. Este facto irá traduzir-se, como se visualizará posteriormente, em elevados custos com amortizações, o que reduzirá significativamente o lucro obtido. 8 Capítulo I - Enquadramento Geral Tabela 1. Caracterização das explorações agrícolas em estudo Localização Ano de Tipo de Geográfica início de Empresa (Concelho) atividade Agrícola 1 Sabrosa 2006 2 Sabrosa 3 N.º Exploração Atividade Sistema de contabilidade Principal Patronal Simplificada Viticultura 2006 Patronal Organizada Viticultura Sabrosa 2006 Patronal Simplificada Viticultura 4 Moimenta da Beira 2006 Familiar Simplificada Fruticultura 5 S. João da Pesqueira 2009 Patronal Simplificada Viticultura 6 S. João da Pesqueira 2010 Familiar Simplificada Viticultura 7 Sabrosa 2009 Familiar Simplificada Viticultura 2009 Patronal Organizada Viticultura 8 S. Marta de Penaguião Secundária 9 S. João da Pesqueira 2008 Familiar Simplificada Viticultura 10 Moimenta da Beira 2010 Familiar Simplificada Viticultura 11 Alijó 2008 Patronal Simplificada Viticultura Olivicultura e Fruticultura Horticultura e Fruticultura Horticultura e Fruticultura Fruticultura, 12 Sabrosa 2009 Familiar Simplificada Bovinicultura Horticultura e Olivicultura 13 Lousada 2006 Familiar Simplificada Bovinicultura 14 Alijó 2004 Patronal Organizada Bovinicultura 15 Alijó 2006 Familiar Simplificada Bovinicultura 16 Sernancelhe 2009 Familiar Organizada Caprinicultura 17 V. Pouca de Aguiar 2006 Familiar Simplificada Bovinicultura 18 V. Pouca de Aguiar 2006 Familiar Organizada Bovinicultura 19 Vila Real 2006 Familiar Organizada Bovinicultura 20 Sabrosa 2007 Patronal Simplificada Bovinicultura Culturas Forrageiras e viticultura Leite e derivados Fonte: Elaboração própria Optamos por introduzir nos estudos de caso previamente selecionados, as explorações com os números 6 e 10, que iniciaram atividade apenas em 2010, e que correspondem a 10% dos objetos sob análise (Figura 2) porque, apesar do ano de início de atividade ter ocorrido dentro do período definido para a constituição da amostra (2010), consideramos que estas explorações seriam importantes por se tratarem de explorações agrícolas que se constituíram 9 Capítulo I - Enquadramento Geral para dar seguimentos à atividade já desenvolvida anteriormente pelos pais dos novos empresários. 5,00% 10,00% 2004 25,00% 2006 45,00% 2007 2008 10,00% 2009 5,00% 2010 Fonte: Elaboração própria Figura 2. Ano de início de atividade das empresas alvo do estudo de caso Das vinte explorações, oito apresentam tipologia patronal e doze são de âmbito familiar (Figura 3). Patronal 40% Familiar 60% Fonte: Elaboração própria Figura 3. Tipo de Empresas Agrícolas em estudo 10 Capítulo I - Enquadramento Geral No que se refere ao sistema de contabilidade adotado, seis das explorações em estudo possuem sistema de contabilidade organizada e catorze utilizam o sistema simplificado (Figura 4). 30% Organizada Simplificada 70% Fonte: Elaboração própria Figura 4. Tipo de sistema de Contabilidade Geral adotado pelas empresas em estudo Segundo Pereira (2011), de acordo com os censos agrários realizados em 2009, das 305.266 explorações agrárias inquiridas, apenas 16% (49.652) dispunham de um registo dos factos patrimoniais ocorridos na exploração e só 8% (25.184) apresentavam contabilidade organizada. Estes resultados levantam a necessidade de se refletir sobre os motivos que levam 84% das explorações agrícolas existentes a não apresentarem dados patrimoniais. Na amostra dos casos de estudo, verifica-se que as explorações agrícolas com contabilidade organizada apresentam por regra uma descrição mais detalhada das receitas e principalmente das despesas. Este aspeto justifica-se pelo facto do sistema de contabilidade organizada ser mais complexo e minucioso no tratamento contabilístico do que o sistema de contabilidade simplificada e por os custos entrarem em consideração no cálculo do imposto a pagar ao Estado. Constata-se ainda pela observação da tabela 1, que das vinte explorações apresentadas, 14 desenvolvem apenas um tipo de atividade, nomeadamente a viticultura, bovinicultura ou fruticultura. Nos restantes 6 casos, são praticadas múltiplas atividades, muito embora seja possível distinguir a cultura principal, da qual se obtêm os rendimentos mais significativos da exploração. O facto de existirem, por vezes, sistemas produtivos mistos deve-se não só à maximização do aproveitamento de área da exploração para diversas culturas, como também dos incentivos promovidos pela aplicação da Política Agrícola Comum (PAC), através dos 11 Capítulo I - Enquadramento Geral subsídios agrícolas à atividade corrente e das ajudas ao investimento, bem como da promoção da instalação na atividade. As raças de bovinos apresentadas nas explorações são: Maronesa (explorações n.º 12, 13, 14, 15, 17, 18 e 20), Barrosã (exploração n.º 19) e Cruzado de Carne (exploração n.º 13). A exploração n.º 16 dedica-se à raça de caprinos Sannan. 12 Capítulo I - Enquadramento Geral 4. Organização do trabalho O trabalho está estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo é feito o enquadramento geral, onde são apresentados os objetivos, a metodologia do trabalho desenvolvido e os casos de estudo. No segundo capítulo é retratada a evolução contabilística para o setor agrícola, realçando-se as suas características específicas, efetua-se uma análise aos diferentes sistemas de contabilidade atuais com aplicação no setor agrário, identificando possíveis lacunas e limitações. No terceiro capítulo são apresentados os resultados e indicadores técnico-económicos utilizados no setor agrícola. É efetuada uma panorâmica sobre os resultados económicos observados a nível nacional, recorrendo para isso aos últimos Censos Agrícolas elaborados em 2009, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e os indicadores facultados pelo GPP no âmbito das contabilidades da RICA. Posteriormente é feita a apresentação, análise e discussão dos resultados e indicadores técnico-económicos obtidos dos casos de estudo. No quarto capítulo são feitas as conclusões e considerações finais do trabalho, apresentandose as suas limitações e as propostas para investigações futuras. 13 14 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 1. Introdução Atualmente, num mercado cada vez mais global e competitivo, as empresas deparam-se com a problemática da redução do custo com os fatores de produção. No caso da agricultura, esta é uma questão pertinente que influenciará a viabilidade económica ou a sustentabilidade ambiental da produção de determinada cultura. Mas de que outra forma poderemos quantificar o peso do custo dos fatores se não através da contabilidade?! Neste capítulo pretendemos abordar a evolução da normalização contabilística a nível nacional, direcionada para o setor de atividade agrícola, realçando as suas características específicas. Será efetuada uma análise aos diferentes sistemas de contabilidade atuais com aplicação no setor agrário, sobre os quais pretendemos perceber como podem ser importantes para o desenvolvimento económico deste ramo de atividade. Aspiramos ainda identificar possíveis lacunas e limitações dos sistemas de contabilidade existentes e as suas especificidades. Finalmente faremos uma abordagem à tributação dos rendimentos agrícolas em sede de Imposto sobre o Rendimento Singular (IRS), Imposto sobre o Rendimento Coletivo (IRC); e Imposto sobre o valor acrescentado (IVA). 15 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 2. Evolução da normalização contabilística em Portugal Antes de abordarmos os aspetos referentes à evolução contabilística para o setor agrícola em particular, é de todo importante retratarmos um pouco do que tem sido a normalização contabilística em Portugal. A contabilidade portuguesa tem raízes no século XVIII com a criação da Junta do Comércio, pelo Marquês de Pombal, através do Real Decreto de 30 de Setembro de 1755. No entanto, podemos dizer que o surgimento desta ciência remonta a tempos mais longínquos, aquando do surgimento da necessidade no Homem em ultrapassar falhas de memória na contabilização dos bens. Com o evoluir dos tempos, foi necessário adaptar a contabilidade ao mundo empresarial. Para Ferreira (1983), a normalização contabilística visa atender a objetivos internos da empresa, e simultaneamente proteger os interesses dos diversos intervenientes, nomeadamente os clientes, fornecedores, trabalhadores, financiadores, Estado, entre outros. A normalização contabilística em Portugal pode ser retratada de forma sintética em quatro etapas principais: 1976 até 1985: É constituída a Comissão de Normalização Contabilística (CNC)1 em Portugal, em 1976, e, em 1977, é aprovado o Plano Oficial de Contabilidade (POC); 1986 até 1991: A entrada de Portugal para a UE em 1986 obrigou à adoção da IV e VII Diretivas Comunitárias, tornando-se necessário efetuar essa transposição para a legislação nacional. É publicado o Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de Novembro, que revoga o POC/77, aprovando doze capítulos novos no POC/89. Em 1991, é aprovado o Decreto-Lei n.º 238/91, de 2 de Julho, que acrescenta dois novos capítulos ao POC, sobre a consolidação de contas; 1992 até 2009: Publicação de Diretivas Contabilísticas pela CNC por forma a obter uma aproximação às Normas Internacionais de Contabilidade (NIC); 1 O CNC é um organismo tecnicamente independente, no qual estão representadas, a nível nacional, as entidades públicas e privadas interessadas no domínio da contabilidade, dotado de autonomia administrativa e que funciona no âmbito do Ministério das Finanças. 16 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 2010: Entrada em vigor em 1 de Janeiro, do Sistema de Normalização Contabilística (SNC) com a aprovação do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, que vem revogar o POC e todas as suas derrogações. Os normativos contabilísticos aplicam-se às empresas ou empresários em nome individual que possuem um sistema de contabilidade organizada e informam sobre o procedimento a adotar relativamente ao tratamento contabilístico dos factos patrimoniais. Em termos de normativos contabilísticos aplicados ao setor agrícola, em particular, e à generalidade das outras atividades, antes da aprovação do POC, em 1977, publicado pelo Decreto-Lei 47/77, de 7 de Fevereiro, não existia qualquer legislação que definisse a forma de apresentar os factos patrimoniais das entidades. Apenas o setor dos seguros e da banca tinham normativos próprios. Sendo o POC um normativo transversal à generalidade dos setores empresariais, não previa o tratamento de alguns aspetos específicos relacionados com o setor agrícola, o que gerava por vezes diversas dúvidas e incertezas. Neste sentido, surgiu, apenas em Dezembro do ano 2000, a primeira norma contabilística destinada especificamente à atividade agrícola, a Norma Internacional de Contabilidade (IAS) 41, aprovada pelo Conselho do International Accounting Standards Board (IASB)2, sendo que a sua aplicabilidade surtiu efeitos nas Demonstrações Financeiras a partir de um de janeiro de 2003. De acordo com esta norma, as empresas agrícolas poderiam contabilizar os ativos biológicos e produtos agrícolas de acordo com as regras aplicadas às existências definidas pelo POC ou de acordo com o definido na IAS 41. Verifica-se, portanto, interesse por parte dos diversos organismos em estabelecer uma norma destinada a um setor específico como é o da agricultura. Essa norma surgiu com o objetivo de estabelecer o tratamento contabilístico, a apresentação das Demonstrações Financeiras e divulgações referentes ao setor agrícola, uma vez que até ao seu surgimento, nenhuma outra havia definido o tratamento de aspetos relacionados com a agricultura, o que gerava por vezes diversas dúvidas e incertezas quanto ao tratamento de alguns aspetos inerentes a esta atividade empresarial. Em termos práticos, a IAS 41 define o seguinte: Qual o tratamento a efetuar para os ativos biológicos durante o crescimento, degeneração, produção e procriação e da mensuração inicial efetuada no momento da colheita; 2 O IASB é uma organização internacional sem fins lucrativos criada em 2001 pelo International Accounting Standards Committe (IASC), que publica e atualiza as International Financial Reporting Standards (IFRS) em língua inglesa. 17 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Utiliza como critério de mensuração o justo valor menos os custos estimados no ponto de venda, desde o reconhecimento inicial até ao momento da colheita, exceto nos casos em que o justo valor não pode ser mensurado fiavelmente no reconhecimento inicial. De acordo com o estudo efetuado por Pires e Rodrigues (2008), sobre a necessidade de ajustar a IAS 41 ao setor agrícola português, verificou-se que: É fundamental conceber um modelo normativo que permita ajustar os objetivos e a disponibilização da informação financeira tal como ocorre com os restantes setores da atividade económica nacional; É essencial a construção de uma diretriz que aborde objetivamente os procedimentos a adotar em termos do relato da informação financeira das empresas agrícolas; É importante definir e diferenciar os conceitos de ativo biológico e produtos agrícolas; É necessário perceber se a utilização do justo valor em função do custo histórico será a mais correta para mensurar a produção. Por outro lado, tem-se verificado também a preocupação da comunidade científica a nível internacional, nomeadamente nos Estados Unidos, em encontrar preceitos que regulem a apresentação das demonstrações financeiras na atividade agrícola como é referenciado por Bright (2007). Este autor refere-se especificamente ao caso da Índia, por ser um país no qual cerca de 90% da população desenvolve atividade agrícola, onde se verifica a necessidade de existir uma correta avaliação do valor realizável líquido dos inventários dos ativos biológicos transacionáveis, tal como impor a obrigatoriedade das empresas seguirem políticas contabilísticas semelhantes para não existirem distorções no mercado. Com a evolução da economia e a era dos mercados globais, tornou-se necessário aplicar normativos contabilísticos que permitissem que as demonstrações financeiras dos vários países da UE e do resto do mundo se tornassem comparáveis entre si. Como resultado surgiu o SNC, em vigor em Portugal, com a publicação do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho3, que veio introduzir alterações profundas na forma de executar a contabilidade, o que 3 Diário da República n.º 133, Série I de 2009-07-13. 18 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA originou, posteriormente, a publicação de uma série de normas ajustadas à dimensão das entidades. De acordo com o aquele diploma legislativo, o SNC «É um modelo de normalização assente mais em princípios do que em regras explícitas e deverá aproximar-se ao mais possível das normas internacionais de contabilidade emitidas pelo IASB e adoptadas na União Europeia (UE), de forma a proporcionar ao nosso país o alinhamento permanente com as directivas e regulamentos em matéria contabilística da UE, sem ignorar porém, as características específicas do tecido empresarial português.» O SNC é composto pelos seguintes elementos: Bases para a apresentação das demonstrações Financeiras (BADF) – Determinam as regras e os princípios utilizados na preparação das Demonstrações Financeiras (DF’s); Modelos de Demonstrações Financeiras (MDF) – estão definidos em portaria e são constituídos por um Balanço, uma Demonstração dos Resultados por Naturezas ou por Funções, uma demonstração dos Resultados do Capital Próprio, uma demonstração dos fluxos de caixa e um anexo no qual são divulgadas as bases de apresentação das políticas contabilísticas adotadas e outras divulgações exigidas pelas Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF); Código de Contas (CC) – Trata-se de uma estrutura codificada que é utilizada pelos vários utentes para desenvolver as bases de dados de informação que irão constituir as DF’s; NCRF – São adaptadas das normas da UE onde se apresentam os tratamentos a adotar no que respeita ao reconhecimento, mensuração de apresentação e de divulgação das realidades económicas e financeiras das entidades; Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRFPE) – Definem as regras a adotar na apresentação das DF’s das Pequenas Entidades (PE)4; Normas Interpretativas (NI) – visam esclarecer e orientar sobre os restantes instrumentos do SNC. 4 São consideradas PE as entidades que não ultrapassem dois dos três limites: a) total do balanço €500 000; b) total de vendas líquidas e outros rendimentos € 1 000 000; c) número médio de trabalhadores empregados durante o exercício de 20. 19 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA O SNC contempla a Norma Contabilística de Relato Financeiro n.º 17 que é especificamente aplicada ao setor agrícola. De acordo com o seu primeiro parágrafo, o principal objetivo da Norma Contabilística e de Relato Financeiro n.º 17 “é o de prescrever o tratamento contabilístico, a apresentação de demonstrações financeiras e as divulgações relativas à actividade agrícola” (Figura 5). Esta norma muda todo o conceito de valorização dos ativos biológicos, no sentido em que deixamos de valorizá-los mediante o custo histórico, para passarmos a poder utilizar apenas o justo valor na sua valorização. Fonte: Cardoso (s.d) Figura 5. Aplicação do Justo Valor na valorização dos ativos biológicos Silva (2009: 24) verificou que uma das dificuldades sentidas na aplicação da NCRF 17 – Agricultura, “prende-se fundamentalmente com a - formatação de pensar a Contabilidade, isto é, sempre fomos ensinados e sempre trabalhamos com o custo histórico como forma de valorizar os produtos agrícolas e os activos biológicos. A adopção do justo valor, entendido como o justo valor menos os custos no ponto de venda, torna-se uma novidade e simultaneamente um ―tormento, pois existe falta de informação quanto ao valor de mercado dos produtos agrícolas e dos activos biológicos, faltando também informação relacionada com os custos para colocar os produtos agrícolas e os activos biológicos no ponto de venda”. 20 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Segundo Cardoso (s.d.: 5), “a adopção do princípio do justo valor nos activos biológicos e produtos agrícolas no momento da sua colheita justifica-se pela sua natureza e características específicas. Mas para que produza os efeitos desejados é necessário que o mesmo seja mensurado com fiabilidade (o que nem sempre acontece). Caso contrário, conduz à subjectividade e por conseguinte à manipulação dos registos, impossibilitando um retrato da realidade económica da empresa”. Na sua aplicação prática ao setor agrário, subsistem ainda dúvidas quanto ao tratamento de alguns aspetos contabilísticos, que só poderão ser esclarecidos se aumentarmos os dados disponíveis relativos à execução da contabilidade. Uma das problemáticas com que os empresários e profissionais de contabilidade se deparam, por vezes, é com a valorização dos ativos biológicos de produção, consumíveis e os produtos resultantes de processamento após colheita. Neste sentido, convém referir o Sistema de Informação de Mercados Agrícolas (SIMA) criado pelo Decreto-Lei n.º 91/85 de 1 de Abril, com o objetivo de acompanhar o mercado dos produtos agrícolas e informar os decisores políticos (nacionais e comunitários), o mercado e os seus agentes. Este sistema de informação contribui para a autorregulação do mercado, no sentido em que, através da valorização dos bens negociáveis, estabelece preços mínimos de venda e de compra. Todavia, este sistema de informação tem apresentado uma forte limitação derivada do facto de não ser disponibilizada informação sobre todos os produtos agrícolas, nem sobre os ativos biológicos que não sejam transacionados como é o caso das plantações, por exemplo. O SNC tem-se verificado um sistema complexo e burocrático para a maioria das pequenas empresas, tendo sido recentemente instituído, através da publicação do Decreto-Lei 36A/2011, de 9 de Março, o regime de normalização contabilística para as microentidades5 também ele aplicado ao setor agrícola, e que prevê estabelecer um regime especial simplificado das normas para empresas de reduzidas dimensões. 5 São consideradas Microentidades as empresas que, à data do balanço, não ultrapassem dois dos seguintes limites: i) um total do balanço de € 500 000, ii) um volume de negócios líquido de € 500 000 e iii) um número médio de empregados durante o exercício de cinco. 21 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 3. Análise dos sistemas de contabilidade aplicados ao setor agrário Se analisarmos o código das atividades empresariais (CAE) (anexo A), podemos verificar que a atividade agrícola abrange áreas tão diversas que podem variar entre a produção de simples alimentos até ao fabrico de fibras têxteis sofisticadas. Atendendo à natureza dos produtos obtidos, é portanto um setor de atividade essencial à sociedade e à economia. Além de ser uma atividade essencial à sociedade e à economia, a Agricultura apresenta características particulares e distintas dos outros setores de atividade, o que leva à necessidade de se conhecer ao pormenor as matérias que devam ser tratadas com recurso a regras próprias, que possam influenciar os resultados da exploração, e que devem ser identificadas e delineadas pelo gestor da empresa. Para Galvão (1976), a contabilidade é um instrumento de controlo da economia de uma empresa. Informa-nos sobre o resultado de um determinado exercício, permitindo apurar o peso dos encargos nos resultados atingidos. Esta informação é importantíssima para as decisões futuras do gestor da empresa, no sentido de maximizar os resultados obtidos e minimizar os custos incorridos. De acordo com Franco (2011), o que distingue a contabilidade agrícola das restantes contabilidades prende-se com os seguintes fatores: A agricultura ser uma atividade com especificidades próprias, uma vez que se encontra dependente de fatores produtivos externos que não podem ser controlados, o que origina, também, a necessidade de uma norma contabilística adequada à sua realidade; Exigir uma execução da contabilidade muito dependente da informação facultada pelo empresário; Impor um relato dos factos contabilísticos sujeitos ao justo valor na valorização dos bens por ser considerada a forma mais fiável de transmitir uma imagem verdadeira e apropriada das Demonstrações Financeiras da entidade. Por outro lado, a contabilidade permite ao empresário agrícola: Conhecer a situação da empresa num dado momento (como as máquinas existentes e o seu valor, produtos em armazém e seu valor, dinheiro disponível); 22 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Avaliar a evolução da empresa entre dois momentos, por comparação entre a situação inicial e final (início e fim do ano); Relatar a história da empresa no que diz respeito às vendas, compras, investimentos, atividades, consumos e produções, entre outros. Prever as necessidades da empresa no momento seguinte. Segundo Costa (1989), até 1987 não existia nenhuma imposição legal que obrigasse as empresas agrícolas a possuírem um sistema de contabilidade. Só a partir desse ano, com a introdução do Imposto sobre a Indústria Agrícola, posteriormente integrado no código do Imposto das Pessoas Singulares (CIRS) e no Código do Imposto sobre as Pessoas Coletivas (CIRC), é que as empresas agrícolas passaram a ter obrigações contabilísticas e fiscais. Com a adesão de Portugal à UE, a agricultura nacional tem vindo a sofrer alterações profundas, devido à aposta nos projetos de investimento e subsídios à exploração. A Portaria n.º 715/86 transpôs o Regulamento da Comunidade Económica Europeia (CEE) n.º 797/85, relativo à melhoria da eficácia das estruturas agrícolas, e com o Decreto-Lei n.º 172-G/86 viuse definido que as explorações agrícolas só poderiam beneficiar de comparticipações de fundos comunitários de apoio aos investimentos desde que tivessem um sistema de contabilidade simplificada, do qual constasse um balanço anual que permitisse avaliar o ativo e o passivo da exploração e efetuar um registo de receitas e despesas. Este regulamento obrigou diversas explorações a apresentarem os factos patrimoniais da exploração e a declararem os seus rendimentos agrícolas às Finanças. Por outro lado, a aplicação do código do Imposto sobre o Valor Acrescentado (CIVA), ainda que apenas opcional para a atividade agrícola, veio obrigar os sujeitos passivos do imposto a disporem de um sistema de contabilidade que lhes permitisse efetuar o seu apuramento. Constata-se, portanto, que a atividade agrícola necessitou, nesta fase, de dispor de um sistema de contabilidade para, por um lado, cumprir com as obrigações inerentes ao recebimento de apoios comunitários, registar os factos patrimoniais, declarar os proveitos, e por outro, respeitar as regras do apuramento do IVA, quando enquadrada nesse regime. Na verdade, a contabilidade das empresas agrícolas deve permitir responder quer às exigências declarativas e fiscais quer ao cálculo do custo por produto e apresentar ainda um conjunto de informações necessárias a uma tomada de decisão mais consciente e racional, como defendem Pereira e Franco (1994). 23 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Costa (1989) identifica três grupos de sistemas de contabilidade aplicados às empresas agrícolas: o Sistema de contabilidade geral, externa ou financeira; o Sistema de contabilidade analítica ou de gestão; e o Sistema de contabilidade misto. Na tabela seguinte podemos visualizar os principais sistemas de contabilidade aplicados ao setor agrícola, bem como as principais obrigações e necessidades da empresa a que os mesmos permitem dar resposta. Tabela 2. Sistemas de Contabilidade para o setor agrícola SISTEMAS DE CONTABILIDADE Obrigações Fiscalidade Investimentos Comunitários IRS IRC IVA Necessidades de Gestão da Empresa Agrícola SISTEMA DE CONTABILIDADE GERAL Contabilidade Simplificada X X - X - Contabilidade Organizada X X X X - X - - - X X X - X X SISTEMA DE CONTABILIDADE ANALÍTICA Contabilidade Analítica ou de Gestão MB SISTEMA DE CONTABILIDADE MISTO SUCA (Contabilidade Simplificada) Fonte: Adaptado de Costa (1989) 3.1. Sistema de contabilidade Geral O sistema de contabilidade geral disponibiliza informação externa e tem como função registar os factos patrimoniais ocorridos na exploração com o objetivo de construir um histórico das relações estabelecidas entre a exploração e os agentes económicos. Este sistema caracteriza-se por possuir um código de contas e um balanço onde estão refletidos todos os elementos patrimoniais do ativo, passivo e situação líquida. Anualmente é apurado o resultado líquido do exercício, onde são traduzidos os seus custos e proveitos. Este sistema tem como principal objetivo garantir o cumprimento das obrigações da empresa agrícola ao nível dos Investimentos comunitários e da fiscalidade em sede de IRS, IRC e IVA. Dentro deste grupo reconhece-se o sistema de contabilidade simplificada e o sistema de contabilidade organizada. 24 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 3.1.1. Sistema de Contabilidade Simplificada O sistema de contabilidade simplificada pode ser adotado apenas por empresários agrícolas com a personalidade jurídica de empresário em nome individual. É um sistema de escrituração simples e, por isso, não carece da necessidade de recorrer a um Técnico Oficial de Contas (TOC) responsável, sendo, no entanto, obrigatório possuir os seguintes livros de registos de acordo com o artigo 50 n.º 1 do CIVA: a. Livro de registo de compras de mercadorias e ou livro de registo de matériasprimas e de consumo; b. Livro de registo de vendas de mercadorias e ou livro de registo de produtos fabricados; c. Livro de registo de serviços prestados; d. Livro de registo de despesas e de operações ligadas a bens de investimento; e. Livro de registo de mercadorias, matérias-primas e de consumo, de produtos fabricados e outras existências à data de 31 de Dezembro de cada ano. O sistema de contabilidade simplificada possui as seguintes características: Não necessita de um TOC responsável pela execução da contabilidade, sendo os encargos com a sua execução menos onerosos do que no sistema de contabilidade organizada; Não é obrigado a afetar uma conta bancária específica para o desenvolvimento da atividade; Para efeitos de tributação do rendimento, apenas é tido em consideração o valor total dos proveitos e a sua natureza, a estes é aplicado um coeficiente de tributação, sendo que os custos não são contemplados para o apuramento do rendimento coletável. Este sistema de contabilidade não compreende a adoção de nenhum normativo contabilístico. Segundo Nogueira (2013), o regime simplificado de tributação tem a grande vantagem de ser de cálculo direto, mas tem também duas grandes desvantagens: 25 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA «1. Não distingue os diferentes sectores de actividade dos rendimentos da categoria B que, como vimos, são variados e heterogéneos. Pela aplicação directa dos coeficientes do regime simplificado, o apuramento do rendimento tributável de sectores altamente rentáveis é idêntico ao de sectores menos rentáveis ou mesmo deficitários, o que viola o princípio da capacidade contributiva; 2. Não contempla a possibilidade de prejuízo. De facto, os indicadores incidem sobre o volume de negócios, o que impossibilita a dedução de perdas suportadas quer com a exploração da actividade, quer com o investimento inicial em activos fixos necessários ao seu exercício.» Outra das limitações deste sistema de contabilidade é a de não responder às necessidades de gestão da empresa agrícola. 3.1.2. Sistema de Contabilidade Organizada O sistema de contabilidade organizada é usado nas empresas agrícolas que tenham obrigações fiscais e sejam obrigadas ou pretendam possuir contabilidade organizada. Este sistema de contabilidade compreende a adoção de um normativo contabilístico adequado à dimensão e à opção efetuada pela entidade. O código do IRC determina as regras de tributação em contabilidade organizada, sendo que no caso de um empresário em nome individual poderá necessitar de algumas adaptações em sede de IRS. O sistema de contabilidade organizada possui as seguintes características: É um sistema de contabilidade estruturado e que se deve reger pelo SNC ou legislação equiparada; É obrigatório possuir um TOC responsável pela execução da contabilidade, que tem como consequência o pagamento de encargos relativos aos seus honorários; É obrigatório possuir uma conta bancária afeta apenas à atividade; A tributação do imposto é feita em função do valor do Resultado Líquido do Período (RLP) que resulta da diferença entre o total dos proveitos e o total dos custos. 26 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Quando o empresário tem a possibilidade de optar por este sistema de contabilidade, é necessário analisar cuidadosamente as características da atividade que irá desenvolver, nomeadamente, o volume de vendas e subsídios a receber, se irá incorrer em gastos correntes avultados, realizar investimentos elevados, obter encargos com depreciações ou amortizações, gastos com o pessoal, entre outros. Neste caso poderá compensar, enquadrar-se no regime de contabilidade organizada, pagando honorários a um TOC, uma vez que os custos entram em consideração no apuramento da matéria coletável, o que poderá reduzir substancialmente o imposto a pagar. Este tipo de contabilidade dado a sua complexidade ao nível da escrituração permite ao empresário uma análise mais cuidada dos resultados da empresa agrícola. As desvantagens na adoção deste sistema de contabilidade devem-se: aos encargos com os honorários do TOC referente à despesa com os serviços de contabilidade; à obrigatoriedade da aplicação do justo valor na valorização dos ativos biológicos; à elevada carga fiscal em sede de IRC e/ou IRS, no caso de se obterem resultados líquidos elevados e ao facto de não emitir informação suficiente para a satisfação das necessidades de gestão da empresa agrícola. 3.2. Sistema de contabilidade Analítica O sistema de contabilidade analítica ou de gestão disponibiliza informação interna, isto é, para a empresa, e está direcionado para a tomada de decisões de gestão. Permite o cálculo de resultados gerais, por atividade, e por produto, para posterior análise. Este sistema de contabilidade pode ser utilizado em articulação com o sistema de contabilidade geral. Segundo Pereira e Franco (1994: 27) “A contabilidade analítica habilita a gestão com informações sobre custos e proveitos de períodos passados, para efeitos de planeamento.” Como as decisões tomadas hoje influenciam o desenvolvimento futuro da organização, considera-se que a contabilidade pode permitir o grau de alavancagem necessário à sua estruturação, uma vez que permite não só efetuar a análise dos resultados do passado, como também disponibilizar informações necessárias ao processo da tomada de decisão. Também Pereira e Franco (1994: 19) referem que “Os responsáveis pela gestão da empresa têm necessidade de conhecer os custos, os proveitos, e os resultados associados aos diversos 27 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA objectivos que aquela prossegue. Fabricar ou vender um produto, fazer funcionar um departamento, entregar uma mercadoria, são exemplos de objectivos de uma empresa relativamente aos quais se torna necessário dispor de informação sobre custos.” Para Caiado (2008), a contabilidade analítica apresenta as seguintes características: Apresenta uma organização adaptada às necessidades específicas de cada empresa; Destina-se a fornecer informação a todos os responsáveis da empresa, independentemente da sua posição hierárquica; Utiliza a informação presente na contabilidade geral; Deve estar regularmente atualizada, para fornecer informações em tempo útil; Deve estar organizada para realçar as responsabilidades. Como podemos verificar, este sistema de contabilidade é mais abrangente que o sistema de contabilidade geral, uma vez que permite obter informações mais específicas e adaptadas às necessidades de gestão das empresas. Este sistema de contabilidade possui com principal vantagem a de permitir a maximização de resultados através do conhecimento do custo por produto e por atividade, possibilitando a tomada de decisões da parte da gestão da empresa. Algumas das limitações na utilização deste sistema passam pelo tempo utilizado na recolha da informação, na adaptação da mesma às necessidades da empresa e pelo facto da sua aplicação não permitir o cumprimento das obrigações fiscais em sede de IVA, IRS e IRC. 28 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 3.3. Sistema de contabilidade Misto O sistema de contabilidade misto é um sistema que contempla simultaneamente características de um sistema de contabilidade geral, o sistema de contabilidade simplificada, e de um sistema de contabilidade analítica. No setor agrícola temos o Sistema Único de Contabilidade Agrícola (SUCA) criado pelo então Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação (MAPA) e adotado pela RICA6. Este sistema surgiu para dar resposta às necessidades de registo e tributação no âmbito dos apoios comunitários recebidos e dos proveitos obtidos e, simultaneamente, para obter informação interna necessária para efetuar a gestão da empresa agrícola. Permite ainda efetuar o apuramento do IVA, no entanto, apenas pode ser utilizado por empresários em nome individual com um sistema de contabilidade simplificada, ficando excluídos os sujeitos passivos com contabilidade organizada. O SUCA fornece informação necessária no que se refere à: Contabilidade simplificada, quando parcialmente preenchido; Contabilidade de gestão, quando integralmente utilizado; IRS e IVA, estando reconhecido pela Direção Geral de Contribuições e Impostos do Ministério das Finanças. O Sistema SUCA é constituído por dois modelos: Modelo I – Inventário de bens imobilizados e de empréstimos contraídos: ◦ Utilizável em três anos; ◦ Permite acompanhar a evolução dos valores de parte do património das empresas, no que se refere às terras, benfeitorias, equipamentos, despesas de estabelecimento e participações financeiras em organismos profissionais. Modelo II – Registos diários e apuramento dos resultados: ◦ Utilização anual, onde são registados despesas, receitas, inventários de existências, movimentos de caixa, fornecedores e clientes, autoconsumo, entre outros. 6 A RICA, criada em 1965 na Europa, pelo RE. (CE) 97/65, tem o objetivo de avaliar os níveis de rendimento dos principais tipos de explorações agrícolas e disponibilizar informação para preparação e acompanhamento das medidas de política agrícola e de desenvolvimento rural, permitindo avaliar o impacto das medidas da Política Agrícola Comum. Esta rede é gerida pelo GPP do MAMAOT. 29 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA ◦ É neste Modelo que são elaborados o Balanço, a Conta de Exploração e apurados resultados setoriais. Através deste sistema definiu-se um “Caderno” (manual ou informático) no qual é registada a atividade desenvolvida pela empresa em cada exercício económico, nomeadamente: despesas, receitas, inventários de existências, movimentos de caixa, fornecedores, clientes, autoconsumos, movimentos de animais, apuramento de efetivos médios por categorias, registos relativos às quantidades de mão-de-obra utilizada, mapa de utilização de solos, e toda a informação necessária à atividade. Este sistema contempla ainda a elaboração de um Balanço de exploração, uma Conta de Exploração, uma Conta de Resultados Setoriais e um Mapa de Tesouraria. A grande vantagem deste sistema de contabilidade é o de permitir o cumprimento das obrigações inerentes aos investimentos comunitários e fiscais em sede de IRS e IVA e, simultaneamente dispor da informação necessária para o cumprimento de necessidades de gestão da empresa agrícola. Apesar de ser um sistema completo, não permite a sua adoção por empresas que necessitem de dispor de um sistema de contabilidade organizada, sendo esta a sua principal limitação. 30 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 4. Tributação dos Rendimentos Agrícolas Não podemos falar em contabilidade agrícola sem abordarmos a forma de tributação dos seus rendimentos, uma vez que é essa a principal preocupação do empresário aquando da constituição da empresa. A tributação dos rendimentos da empresa agrícola é feita em função do sistema de tributação adotado, que poderá ser um sistema de contabilidade simplificada ou organizada, mediante as regras do CIRS ou do CIRC, respetivamente, muito embora os empresários em nome individual tributados pela contabilidade organizada necessitem de algumas adaptações do CIRS. De acordo com o artigo 4.º do CIRS: «4 - Consideram-se actividades agrícolas, silvícolas ou pecuárias, designadamente, as seguintes: As comerciais ou industriais, meramente acessórias ou complementares daquelas, que utilizem, de forma exclusiva, os produtos das próprias explorações agrícolas, silvícolas ou pecuárias; Caça e a exploração de pastos naturais, água e outros produtos espontâneos, explorados directamente ou por Terceiros; Explorações de marinhas de sal; Explorações apícolas; Investigação e obtenção de novas variedades animais e vegetais, dependentes daquelas actividades.». Já o artigo 3.º do CIRC define que esse imposto incide sobre: «a) O lucro das sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, das cooperativas e das empresas públicas e o das demais pessoas colectivas ou entidades referidas nas alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo anterior que exerçam, a título principal, uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola.» No caso dos empresários em Nome Individual, aquando do início da sua atividade, estes podem optar pelo regime de contabilidade organizada ou contabilidade simplificada em termos de tributação7. No entanto, a opção inicialmente efetuada em função de um 7 É importante distinguir que em sede de IRS, no caso do regime de tributação do imposto ser feito em função do sistema de contabilidade simplificada, o sujeito passivo pode optar por um sistema de contabilidade organizada de escrituração. 31 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA determinado regime de tributação, apenas poderá ser alterada após três anos de permanência nesse mesmo regime ou caso o limite de proveitos seja ultrapassado. De acordo com o artigo 28 n.º2 do CIRS, «Ficam abrangidos pelo regime simplificado os sujeitos passivos que, no exercício da sua actividade, não tenham ultrapassado no período de tributação imediatamente anterior um montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria de (euro) 150 000.» Em sede de IRC, as sociedades encontram-se atualmente abrangidas apenas pelo regime de tributação da contabilidade organizada. Na tabela 3, podemos visualizar de uma forma esquemática a forma de funcionamento dos regimes de tributação dos regimes Simplificado e de Contabilidade Organizada, para os sujeitos passivos singulares. 32 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Tabela 3. Regime simplificado versus regime de contabilidade organizada Início de atividade Regime Simplificado Regime de Contabilidade Organizada 1. Inclusão automática. 2. Permanência por um período mínimo de 3 anos Valor estimado de vendas e/ou Valor estimado de outros rendimentos < 150.000,00 3. Se se tratar de prestação de serviços a uma única € entidade, pode ser exercida a opção pela tributação segundo as regras aplicáveis à categoria A. Valor estimado de vendas e/ou Valor estimado de outros rendimentos > 150.000,00 Não pode incluir-se no regime simplificado. € Alteração de regime Inclusão por opção expressa, a efetuar na declaração de início de atividade. Inclusão obrigatória, implicando a adoção obrigatória de contabilidade organizada. Caso não atinja os valores estimados, a permanência no regime depende de opção até ao fim de Março do ano seguinte, em declaração de alterações. 1. Do regime simplificado para regime de contabilidade organizada: 1.1. Obrigatória 1.2. Facultativa 2. Do regime de contabilidade organizada para regime simplificado 3. Havendo cessação de atividade a) Se durante dois anos consecutivos ultrapassar os limites de vendas e ou de outros rendimentos; b) Se, num só ano, ultrapassar os limites em mais de 25%. a) Por opção, a efetuar em declaração de alterações até ao fim do mês de Março do ano seguinte àquele em que tiver terminado o período mínimo obrigatório de permanência no regime simplificado; b) Quando foram aprovados e publicados nos indicadores de base técnico-científica, se da sua aplicação resultar para o contribuinte em rendimento líquido superior ao que resulta dos coeficientes gerais atualmente consagrados; c) Se se verificar qualquer alteração ao rendimento mínimo previsto na parte final do nº 2 do artigo 31º. Passa-se automaticamente para o regime simplificado se, não se tendo no ano anterior ultrapassado os valores previsos no art.º. 28º, se não fizer até 31 de Março do ano seguinte, a opção pela manutenção do regime de contabilidade organizada. a) Se a atividade for reiniciada antes de 1 de janeiro do ano seguinte àquele em que se tiverem completado 12 meses, contados da data da cessação, aplica-se o regime que estiver em vigor à data da cessação; b) Pode a DGCI autorizar a alteração do regime quando se verifique ter havido modificação substancial das condições do exercício da atividade. Outras situações 1. Sócios, pessoas singulares, de sociedades sujeitas ao regime de transparência fiscal interna ou internacional O rendimento imputado integra-se diretamente na categoria B, sem que o respetivo titular fique abrangido por qualquer dos regimes (artigo 28º nº1). 2. Alienação ou prática de operações equivalentes, antes de decorridos 5 anos, de partes de capital de sociedade constituída ou para onde se entrou com património empresarial ou profissional individual O rendimento apurado é acrescido ao rendimento do ano em que a alienação ou os atos de efeito equivalente tiverem sido praticados, sendo nalguns casos majorado em 15% por cada ano, ou fração, decorrido desde a aquisição das partes de capital (artigo 38º nº 3). 3. Atos isolados O rendimento é determinado por diferença entre receitas e despesas, não podendo resulta valor negativo (artigo 30º). 4. Rendimentos que não excedam o valor anual do SMN tratando-se de vendas ou metade do valor anual do SMN nos restantes O rendimento é determinado por diferença entre receitas e despesas, não podendo resulta casos, desde que, e qualquer caso, o valor não valor negativo (artigo 31 nº6). exceda metade do valor total dos rendimentos englobados. Possibilidade de opção pela tributação segundo as regras aplicáveis a categoria A (artigo 28º 5. Prestação de serviços a uma única entidade nº8) Fonte: Adaptado de Faustino (2004) No momento da escolha de um determinado sistema de contabilidade, é portanto essencial que o empresário agrícola perceba qual deles será mais vantajoso para o exercício da sua 33 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA atividade, uma vez que o peso da carga fiscal poderá colocar em causa futuros investimentos ou mesmo a rentabilidade da sua empresa. No que se refere ao IVA, antes de 1 de Janeiro de 2013, os sujeitos passivos que iniciassem atividade agrícola ficariam isentos desse imposto independentemente dos seus rendimentos. Porém, a Lei n.º 66-B/2012, de 31 dezembro, veio revogar o n.º 33 do artigo 9.º do CIVA, deixando de existir a isenção de IVA relativa a operações relacionadas com atividades de produção agrícola e prestações de serviço agrícola com carácter acessório. Assim sendo, um sujeito passivo que apresente no ano anterior, um valor superior a 10.000,00 € de vendas e ou de serviços prestados, ficará enquadrado no regime de IVA normal, sendo que será obrigado a liquidar imposto nas vendas e prestações de serviços e poderá deduzir o IVA das compras. Por outro lado, os sujeitos passivos que apresentem no ano anterior um valor de vendas e ou de serviços prestados igual ou inferior a 10.000,00 €, ficarão enquadrados no regime de isenção de IVA de acordo com o artigo 53.º do CIVA. 4.1. Tributação pelo regime simplificado Para a tributação dos rendimentos agrícolas mediante o regime simplificado, temos de atender às regras presentes no CIRS. No que se refere à atividade agrícola, este regime tem vindo a sofrer alterações frequentes, principalmente no que respeita à tributação dos subsídios. De acordo com o memorando do Ofício Circulado n.º 20126, de 2008-01-31, da DireçãoGeral dos Impostos, «para efeitos da determinação do lucro tributável dos sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado, seja aplicável o coeficiente 20% aos subsídios de exploração que, directa ou indirectamente, isto é, pela via da redução de custos ou de aumento de proveitos, contribuam para compensar uma redução dos preços de venda das mercadorias ou produtos. Para além destes, existem outros subsídios que não se destinam a reduzir custos ou a contribuir para a redução de preços de venda, como sejam, por exemplo, as compensações pela retirada obrigatória ou voluntária de terras da produção, as compensações para perdas por encerramento de fábricas, os apoios por compromissos ambientais, entre outros. Embora conscientes de que não ficou esgotado o elenco das várias ajudas concedidas aos agricultores que, dependendo da sua natureza e dos fins a que se destinam, devem ficar sujeitas ao coeficiente de 20% ou de 45% (…)» 34 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Por outro lado, os rendimentos agrícolas têm vindo desde sempre a ser tributados apenas parcialmente e em função de determinados limites. Segundo Silva (2013), de 1979 até ao ano 2000, os rendimentos agrícolas sujeitos a tributação, só eram considerados em 40 % da totalidade do seu valor. De 1989 até 2000, os rendimentos resultantes de atividades agrícolas, sujeitos a tributação seriam os proveitos superiores a 14.963,94 €, como podemos verificar na tabela 4, e exercidos em prédios rústicos cujo valor patrimonial total seja superior a 7.481,97 €. No período compreendido entre 2001 e 2011, os rendimentos resultantes de atividades agrícolas, silvícolas e pecuárias, eram excluídos de tributação, quando esse valor, isoladamente, ou em acumulação com outros rendimentos de outras categorias, que devam ser ou tenham sido englobados, não ultrapassasse por agregado familiar cinco vezes o salário mínimo nacional (SMN) mais elevado. A Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, do Orçamento de Estado (OE) para 2012, reduziu o limite dos rendimentos excluídos de tributação para quatro vezes e meia o valor anual do Indexante de apoios sociais (I.A.S.) (desde 2012 = 419,22€), conforme podemos visualizar na tabela 4. Tabela 4. Rendimentos agrícolas excluídos e sujeitos a tributação Datas 1989-2000 2001-2011 2012- Atualmente Rendimentos Agrícolas Excluídos de Tributação =< 14,963,94 =< 5 x SMN x 12 meses =< 4,5 x I.A.S. x 12 meses Sujeitos a Tributação > 14.963,94 > 5 x SMN x 12 meses >4,5 x I.A.S. x 12 meses Fonte: Elaboração própria O facto dos rendimentos agrícolas estarem excluídos de tributação até certos montantes, não exclui a obrigação dos titulares desses rendimentos apresentarem declaração de início de atividade de acordo com o artigo 29º n.º 1 do CIVA ou de declararem esses rendimentos à Autoridade Tributária. No entanto, com os dados fornecidos pelos censos agrários constatamos que do total das explorações agrícolas existentes, 84 % não apresenta resultados. Na verdade, numa parte do universo dos pequenos agricultores existia a convicção de que não seria necessário declarar os rendimentos agrícolas, e a verdade é que alguns deles até recebiam montantes consideráveis de subsídios. Porém, esta crença tem-se desvanecido com a 35 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA aplicação do artigo 121.º do CIRS, aditado pela Lei do OE 2012, na qual menciona que as entidades que paguem subsídios ou subvenções não reembolsáveis no âmbito do exercício de uma atividade abrangida pela categoria B devem entregar à Autoridade Tributária (AT), até ao final do mês de fevereiro de cada ano, uma declaração de modelo oficial, referente aos rendimentos atribuídos no ano anterior, sendo o primeiro ano da comunicação 2013, em relação aos subsídios recebidos no ano de 2012. Tal situação significa que o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), no ano de 2013, deverá ter enviado para as Finanças uma listagem com a identificação dos titulares que receberam apoios tal como o respetivo montante, podendo desta forma a AT averiguar o cumprimento das obrigações declarativas fiscais. O art.º 31º do CIRS refere que o rendimento tributável é calculado com base nos seguintes indicadores de base técnico-científicos: 20% do valor das vendas de mercadorias e de produtos; 20% do valor dos subsídios à exploração; 75% de outros rendimentos provenientes desta categoria, excluindo a variação de produção. Estes indicadores técnico-científicos serão aplicados aos rendimentos agrícolas caso o valor deste ou em acumulação com os rendimentos das restantes categorias ultrapasse o limite de 4,5 x I.A.S. x 12 meses. De acordo com o n.º 7 do mesmo artigo, os subsídios ou subvenções não destinados à exploração serão considerados, em frações iguais, durante cinco exercícios, sendo o primeiro o do recebimento do subsídio, conforme tabela 5. Tabela 5. Tributação dos rendimentos agrícolas Coeficientes a aplicar Descrição Base Incidência anual Coeficiente a aplicar Vendas de produtos agrícolas Valor total faturado 0,20 Prestações de serviços Valor total faturado 0,75 Subsídios à exploração Valor total recebido 0,20 Subsídios ao investimento 1/5 do valor recebido durante 5 anos 0,75 Prémio ao arranque da vinha Outras subvenções não destinadas à exploração 1/5 do valor recebido durante 5 anos 0,20 1/5 do valor recebido durante 5 anos 0,75 Fonte: Silva et al. (2013) 36 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 4.2. Tributação pela contabilidade organizada É importante analisarmos também como são tributadas as empresas agrícolas em sede de IRC, cujas regras de tributação se encontram no CIRC. Na tabela 6 podemos verificar a incidência pessoal e real dos sujeitos passivos de imposto em IRC, conforme o exposto no n.º 1 do art. 2º do CIRC. No que se refere à incidência pessoal deste imposto, encontram sujeitas pessoas coletivas dos vários tipos de sociedades civis entidades com ou sem sede em Portugal e entidades com e sem estabelecimento estável no nosso país. Tabela 6. Correspondência entre incidência pessoal/incidência real em IRC Incidência pessoal Sociedades comerciais ou civis sob forma comercial; Outras pessoas coletivas de direito público ou privado com sede ou direção efetiva em Portugal, que exercem a título principal atividades comerciais/industriais ou agrícolas; Empresas públicas; Cooperativas. Entidades com sede em Portugal que não exerçam a título principal atividades comerciais, industriais ou agrícolas. Entidades sem sede ou direção efetiva mas com estabelecimento estável em Portugal. Entidades sem sede e sem estabelecimento estável em Portugal, ou com estabelecimento estável em Portugal, mas não lhe sendo o rendimento imputável. Incidência real Lucro, definido como a diferença entre os valores do património líquido no fim e no início do período de tributação, corrigido nos termos do código do IRC. Rendimento global, somatório dos diversos rendimentos tal como são definidos para efeitos de IRS. Lucro imputável ao estabelecimento estável em Portugal. Rendimentos obtidos em Portugal das várias categorias consideradas em IRS. Fonte: IAPMEI (2013) Depois de encerradas as contas do exercício económico da empresa, é obtido o resultado líquido contabilístico que será sujeito ao apuramento do imposto de acordo com as regras presentes no CIRC. Para obtenção do imposto a pagar, é necessário passar por 6 principais operações resumidas na tabela 7, que consistem no seguinte. 1.ª Operação: RLP – Calculado através da subtração dos gastos ou perdas aos rendimentos e ganhos. 2.ª Operação: Apuramento do Lucro Tributável – Calculado através da adição, ao RLP, das variações patrimoniais positivas e deduzidas as variações patrimoniais negativas, de acordo com os art.º 21º e 24º do CIRC 37 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA respetivamente. Caso o lucro seja negativo, obtém-se um prejuízo para efeitos fiscais. 3.ª Operação: Matéria Coletável – Para o seu cálculo é necessário deduzir ao lucro tributável os prejuízos fiscais obtidos em anos anteriores e os benefícios fiscais desse exercício. 4.ª Operação: Coleta – Obtida multiplicando a matéria coletável pela taxa de imposto, atualmente de 25% para o Continente português. 5.ª Operação: Imposto a Pagar – Calculado mediante a dedução à coleta: dos valores da dupla tributação internacional art.º 91º do CIRC; dos benefícios fiscais; do pagamento especial por conta art.º 93º e do imposto retido na fonte não suscetível de compensação ou reembolso. 6.ª Operação: Imposto a autoliquidar: O imposto que irá ser entregue nos cofres do Estado é calculado através da dedução ao imposto a pagar dos pagamentos por conta (art.º 93º do CIRC) e o imposto retido na fonte com a natureza de pagamento por conta (art.º 105.º do CIRC). Tabela 7. Esquema do apuramento do IRC a pagar pelas empresas Fonte: LexPoint (2012) 38 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Ao imposto a liquidar poderão ser acrescidos, caso seja aplicável, o IRC de anos anteriores; a reposição de benefícios fiscais; a Derrama atribuída pelo Município, a Derrama Estadual, art.º 87º - A do CIRC; Tributações Autónimas; Juros Compensatórios e Juros de Mora. A este imposto serão deduzidos os pagamentos adicionais por conta quando aplicáveis, art.º 105º - A do CIRC). 39 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA 5. Conclusões Ao longo deste capítulo analisamos a evolução da normalização contabilística em Portugal, os aspetos relacionados com os diferentes sistemas de contabilidade aplicados ao setor agrícola, suas vantagens e desvantagens e a forma como se podem complementar, e ainda a tributação dos rendimentos agrícolas. No que se refere à evolução da normalização contabilística em Portugal destacam-se quatro etapas principais, nas quais se apostou na homogeneização dos normativos existentes entre os países da Europa e posteriormente a nível internacional. Só em 2003 surgiu uma norma especificamente destinada à Agricultura, cuja aplicação foi alvo de diversas dúvidas e de incertezas. Com o surgimento do SNC, manteve-se a preocupação de estabelecer uma norma destinada apenas ao setor agrícola, na qual se destaca o justo valor como a forma mais fiável de valorizar os ativos biológicos. Esta questão tem sido também alvo de diversas dúvidas e incertezas quanto à sua aplicação, junto dos empresários, profissionais de contabilidade, Comissão Europeia e comunidade científica internacional. Identificamos três sistemas de contabilidade adaptados às empresas agrícolas, com as inerentes vantagens e desvantagens. O Sistema de contabilidade geral é um sistema de informação externa que visa dar cumprimento às necessidades decorrentes dos investimentos comunitários e obrigações fiscais, não sendo suficiente por si só para apoiar a gestão da empresa. O sistema de contabilidade analítica ou de gestão é um sistema especificamente direcionado para a gestão da empresa, uma vez que fornece informação interna, apresentando como principal limitação a de não permitir o cumprimento das obrigações fiscais. O sistema de contabilidade misto, é um sistema completo, permite fornecer informação interna e externa, possibilitando dar resposta às obrigações contabilísticas impostas no âmbito dos investimentos comunitários, às obrigações fiscais e, também, às necessidades de gestão. Porém, apenas pode ser utilizado em empresas com contabilidade simplificada, excluindo a possibilidade da sua adoção por entidades com contabilidade organizada. No que concerne à tributação dos rendimentos agrícolas, esta pode ocorrer em função do sistema de contabilidade organizada ou simplificada. Constatamos que a opção de escolha pelo sistema de contabilidade organizada ou contabilidade simplificada depende da forma jurídica do empresário, do volume de proveitos, dos custos e objetivos da exploração. 40 CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO CONTABILÍSTICA PARA O SETOR AGRÍCOLA Apesar dos rendimentos agrícolas no regime de tributação de contabilidade simplificada estarem sujeitos a certos limites, aferimos que a nível nacional existem poucas explorações com rendimentos declarados, o que poderá advir de uma ideia preexistente de que não é obrigatório declarar os rendimentos agrícolas. A obrigação da comunicação das ajudas pagas pelo IFAP, poderá, no entanto, contribuir para o aumento do número de explorações com atividade fiscalmente iniciada, o que permitirá aumentar o conhecimento dos resultados das empresas agrícolas. 41 42 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 1. Introdução O início de uma determinada atividade empresarial apresenta como principais objetivos, na maior parte dos casos, a aquisição do retorno do investimento efetuado e, naturalmente, a obtenção de lucro. Para uma gestão mais eficiente e eficaz, no sentido da maximização do lucro da empresa, é fundamental um conhecimento atempado e real da sua situação, dos seus resultados e indicadores técnico-económicos obtidos com o desempenho das suas atividades. Para o efeito, é necessário identificar esses parâmetros em função das características das atividades desenvolvidas. Por outro lado, é importante comparar esses indicadores com outras empresas do setor para se averiguar a situação e a posição da empresa. Neste capítulo tentaremos identificar quais são os resultados e indicadores técnicoeconómicos utilizados no setor agrícola e analisar a sua evolução. Será efetuada uma panorâmica sobre os resultados económicos observados a nível nacional, recorrendo para isso aos últimos Censos Agrícolas elaborados em 2009, pelo INE, e os indicadores facultados pelo GPP não publicados (n.p.), no âmbito das contabilidades da RICA. Posteriormente, iremos proceder à apresentação, análise e discussão dos resultados e indicadores técnico-económicos obtidos nos casos de estudo. 43 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2. Tipos de resultados das empresas agrícolas Para analisarmos os resultados económicos de uma empresa, torna-se necessário definir os seus objetivos e especificidades, bem como os parâmetros que pretendemos avaliar. Nos estudos de caso sob análise, a maximização do resultado económico surge como o principal objetivo, sendo a sua maioria explorações que iniciam a atividade ou a continuam com o recurso a um ou mais diversos projetos agrícolas que apoiam o financiamento da sua estrutura empresarial. Apenas uma exploração não desenvolveu qualquer tipo de projeto agrícola, ou seja, não usufruiu de apoios ao investimento. A própria definição de projeto agrícola, nomeadamente a utilizada por Avillez et al. (1987:11) «... proposta de aplicação no presente de um conjunto de recursos relativamente escassos directamente associados a combinações mais ou menos diversificadas de actividades exclusiva ou predominantemente agrícolas, feita com a intenção de gerar no futuro um fluxo de bens e serviços de valor bem determinado e por intermédio do qual se visa atingir objectivos de natureza empresarial e social», evidencia que se trata de uma ferramenta imprescindível para a obtenção de resultados favoráveis à empresa. E, na realidade, são os resultados obtidos que nos permitem aferir se os objetivos empresariais foram atingidos, bem como indicar os ajustamentos a realizar nesse sentido. Antes de analisarmos os diferentes resultados das empresas agrícolas e a sua importância no funcionamento da empresa, é importante termos a noção de que existem três fatores essenciais de produção agrícola: o trabalho, o capital e o empresário. De acordo com Avillez et al. (1987), no que se refere ao fator trabalho devemos efetuar uma distinção qualitativa entre o trabalho diretivo e executivo; o familiar e o assalariado; o permanente e o temporário ou eventual; o qualificado do não qualificado. Estas distinções referem-se portanto à empresa agrícola familiar, na qual o trabalho habitualmente é não remunerado por salário certo ou previamente fixado, ou empresa agrícola patronal a qual apenas possui mão-de-obra assalariada. Quanto ao fator capital da empresa agrícola, o mesmo autor refere que é constituído por duas grandes classes: o capital fundiário e o capital de exploração (figura 6). O capital fundiário envolve os bens permanentes, tais como a terra e o que nela esteja incluído, desde que não seja dela amovível e apresente um carácter duradouro na empresa. O capital de exploração abrange os fatores de produção fixo ou circulante tais como as máquinas, animais, adubos, 44 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA quantias monetárias, entre outros. Os bens permanentes geralmente mantêm-se na empresa por um período superior a um ano e o seu financiamento é habitualmente de médio/longo prazo. Os bens de exploração compreendem um ciclo de duração igual ou inferior a um ano, e a forma do seu financiamento deverá ser de curto prazo. Toda esta informação deverá estar devidamente retratada no sistema de contabilidade da empresa. Terra e águas naturais Fundiário Melhoramentos fundiários Benfeitorias Capital da Empresa Agrícola Plantações Construções Vivo Fixo Inanimado De exploração Aprovisionamento Circulante Cativo De maneio Fonte: Avillez et al. (1987) Figura 6. Estrutura do capital da empresa agrícola Para Santos (1997), o fator empresário é uma componente da mão-de-obra permanente, que deve ser remunerada mediante a responsabilidade e riscos assumidos no exercício das suas funções. O empresário agrícola deverá reunir um conjunto de conhecimentos que lhe permita desempenhar as funções de gestão da exploração com vista a atingir os objetivos pretendidos. Atendendo aos três fatores de produção referidos existem vários tipos de resultados que permitem avaliar a sua remuneração (Avillez et al., 1987): Rendimento do Empresário – este resultado permite apurar a remuneração do fator empresário para a empresa patronal (RE) e para a empresa familiar (REF). Selecionamos também estes resultados na apresentação dos dados das explorações 45 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA alvo do caso de estudo, pois consideramo-los essenciais para a gestão da empresa agrícola. Rendimento do trabalho – este resultado permite avaliar a remuneração do rendimento do trabalho para a empresa familiar (RTF) e para a empresa patronal (RT). No estudo de caso optamos por calcular estes resultados para ambas as tipologias, para verificarmos o peso deste fator na gestão da empresa agrícola. Rendimento do capital – este resultado permite apurar a remuneração do rendimento fundiário (RF), do rendimento do capital da empresa (RCE) e do rendimento do capital próprio (RCP) distinguindo desta forma a remuneração dos três tipos de capital da empresa agrícola. Nos cálculos efetuados não nos foi possível calcular este resultado por faltar informação relevante para a sua obtenção. Lucro – este resultado pretende apurar a remuneração dos três fatores de produção identificados anteriormente. Este resultado também não foi explorado nos casos de estudo por faltarem dados para o seu cálculo. Para podermos comparar os sistemas de produção utilizados e os seus resultados, dispomos dos seguintes tipos de indicadores: Técnicos; Económicos; de Resultados. Os indicadores técnicos permitem-nos avaliar a técnica adotada e os seus respetivos gastos, permitindo identificar o custo do produto e, posteriormente, determinar um preço de venda vantajoso. Os indicadores económicos permitem analisar os custos e ganhos obtidos, para que possam ser tomadas medidas quer quanto à redução das despesas, quer quanto ao aumento dos proveitos. Os indicadores de resultados facultam-nos informação sobre o peso de determinada rubrica de custos na rentabilidade da atividade ou do produto e sobre a margem de lucro. A esta listagem de indicadores, acrescentamos ainda os indicadores de âmbito técnicoeconómico que, segundo Morales et al. (2007), são muito úteis tanto para a gestão da exploração, como também para a realização de diagnósticos do setor e para o planeamento de estratégias de melhoria. 46 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2.1. Panorâmica dos resultados económicos a nível nacional O Recenseamento Agrícola é uma das ferramentas que mais contribui para descrever e conhecer o estado da Agricultura num determinado país. De acordo com as exigências da UE, os Estados Membros (EM) estão obrigados a realizar periodicamente recenseamentos agrícolas, com vista a satisfazer as necessidades estatísticas do setor, a nível nacional (INE) e internacional (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e UE). De acordo com o INE (2012b), os dados obtidos das explorações agrícolas nacionais, permitem obter informações tão diversas como: “Caracterizar a estrutura das explorações agrícolas em Portugal e analisar a sua evolução com operações estruturais anteriores (censitárias e intercensitárias); Analisar a evolução dos sistemas de produção agrícola; Dar a conhecer as principais práticas culturais; Caracterizar a população agrícola familiar e a mão-de-obra agrícola; Disponibilizar informação sobre a origem do rendimento do produtor; Apresentar um conjunto de informação relacionada com o desenvolvimento rural e as outras atividades lucrativas não agrícolas da exploração; Informar sobre a evolução da sucessão da exploração agrícola; Constituir um ficheiro de explorações agrícolas e estabelecer a Base de Amostragem Agrícola para os inquéritos agrícolas da próxima década.” Antes de analisarmos os resultados obtidos nas empresas alvo do estudo de caso, expomos de seguida uma breve caraterização do setor agrícola a nível nacional, para uma melhor perceção da sua relevância e importância na economia portuguesa e europeia. Para o efeito, iremos analisar alguns indicadores relativos à estrutura e organização das explorações agrícolas, nomeadamente no que se refere ao tipo de empresa, sua forma jurídica e SAU explorada; estrutura e variação da produção agrícola; agricultura por região, dimensão económica e OTE produtiva; VAB em Portugal e na UE27 e o volume da mão-de-obra agrícola. Optamos pela exposição destes parâmetros porque os mesmos evidenciam de forma genérica a caracterização do setor agrário. 47 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2.2. Estrutura das explorações agrícolas 2.2.1.Tipos de empresas agrícolas Segundo Santos (1997), as empresas agrícolas podem ser do tipo patronal ou familiar. Na empresa agrícola patronal, o empresário representa o capital da empresa, sendo que o trabalho executivo e diretivo é desempenhado por pessoal assalariado que pode ser permanente ou temporário, dependendo da atividade desenvolvida. Neste tipo de empresas, a atividade desenvolvida é direcionada exclusivamente para o circuito económico. Na empresa agrícola familiar, o empresário é habitualmente o chefe de família sendo este também quem executa o trabalho diretivo e executivo, enquanto que os restantes membros da família desempenham o trabalho executivo, não usufruindo de um salário fixo ou trabalhando voluntariamente sem qualquer tipo de remuneração, caracterizando-se este tipo de ajuda por contribuições em espécie. Neste tipo de empresas quem executa todo o trabalho são elementos do agregado familiar, garantido dessa forma o seu sustento. Além disso, a produção obtida ou uma parte dela é utilizada para autoconsumo do agregado familiar. O peso e dimensão desta tipologia empresarial no setor agrícola é muito significativo, como revelam os dados do Recenseamento Agrícola 2009 (INE, 2011b). Para aquela data, das 305.266 explorações agrícolas existentes que exploram 3.668.145 hectares de SAU, e que ocupam um volume de mão-de-obra de 367.394 UTA (INE, 2011b), 294.415 são UTA’s familiares (GPP, 2011a). Significa isto que as empresas agrícolas familiares representavam, em 2009, cerca de 80% do tecido empresarial do setor. O trabalho na empresa agrícola estará sempre dependente do tipo de empresa e das atividades desenvolvidas em questão. Por um lado poderá ser necessário possuir mão-de-obra permanente para desenvolver tarefas fixas, mas por outro, será importante contratar mão-deobra temporária ou eventual para desenvolver tarefas pontuais. O empresário agrícola deverá fazer uma previsão dos encargos salariais com a mão-de-obra, sendo que no caso do trabalho permanente deverá considerá-la como um custo fixo, e o trabalho eventual deverá ser assumido como custo variável. 48 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2.2.2. Forma Jurídica da empresa agrícola e SAU explorada A Empresa Agrícola é representada pelo Empresário Agrícola que é o responsável jurídico e económico da exploração, ou seja, é a pessoa física ou moral que a simboliza, retirando os benefícios e suportando as eventuais perdas. A forma jurídica da empresa agrícola pode apresentar a seguinte configuração: Produtor Singular; Sociedades regidas pelo Código das Sociedades Comerciais; Baldios; Estado e pessoas públicas Outras entidades tais como: cooperativas, fundações, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), seminários, conventos, entre outros. Através dos dados nacionais obtidos no INE (2011b), alusivos aos anos 1999 e 2009, verificase que o número total de explorações agrícolas tem vindo a decrescer, sendo a natureza jurídica mais comum entre as empresas a de produtor singular, na qualidade de Empresário em Nome Individual, conforme se apresenta na tabela 8. A análise desses dados, permite-nos ainda verificar que o setor agrícola é representado essencialmente por produtores agrícolas de pequena dimensão, os quais gerem pequenas áreas de SAU. Além disso, a própria SAU total explorada tem vindo a decrescer. No entanto, por exploração passamos de 12,49 hectares, em 1999, para 15,43, em 2009. As sociedades agrícolas têm vindo a aumentar, no período compreendido entre 1999 e 2009, a par da diminuição das explorações de natureza jurídica de produtor singular, devido ao excesso de carga fiscal em sede de IRS, que pode ser confirmado com aplicação das taxas genéricas de IRS, art.º 68º do CIRS. No último ano sob análise, as sociedades representavam apenas cerca de 2,22 % do total das explorações agrícolas, com cerca de 27,00 % da superfície total. 49 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 8. Natureza Jurídica das Explorações Agrícolas e SAU explorada em Portugal nos anos de 1999 e 2009. Ano 1999 2009 N.º % (ha) % Dimensão Média (ha) Produtor Singular 409.308 98,51% 4.041.347 77,88% 9,87 297.381 97,42% 3.218.333 67,80% 10,82 Sociedade 5.053 1,22% 912.002 17,58% 180,49 6.776 2,22% 1.221.813 27,00% 180,31 Outras Formas 1.158 0,28% 235.599 4,54% 203,45 1.109 0,36% 269.167 5,20% 242,71 Total 415.519 100,00 % 5.188.948 100,00% 12,49 305.266 100,00% 4.709.313 100,00% 15,43 Natureza Jurídica SAU Explorações N.º % (ha) % Dimensão Média (ha) SAU Explorações Fonte: INE (2011b) Segundo as estatísticas do INE (2012a), de um total de 1.144.150 empresas não financeiras existentes em Portugal em 2010, 53.654 (4,7%) exerciam atividade de Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (secção A da CAE Rev. 3, anexo A). 2.2.3. Agricultura por região, dimensão económica e OTE produtiva em 2009 Na figura 7 podemos visualizar a forma como o setor agrícola se encontra organizado por região portuguesa, dimensão económica e orientação produtiva, destacando-se a coexistência de realidades muito distintas. De acordo com o GPP (2012b), dos dados expostos retiram-se as seguintes conclusões: O Norte e Centro são os detentores da maioria das explorações (70%) e do volume de trabalho (72%), por outro lado o Alentejo possui a maioria da SAU; O território é ocupado por explorações não especializadas (39%) que dispõem de 40% do volume de trabalho; explorações especializadas em bovinos (23%) e pequenos ruminantes (17%); Predominam as explorações de pequena e muito pequena dimensão económica (91%) que detêm 78% do volume do trabalho, em contraste com a detenção de 67% da SAU por explorações de média e grande dimensão económica. As grandes explorações representam apenas 2,7% do total de explorações e possuem 40 % da SAU. A mão-de-obra assalariada é mais procurada pela agricultura empresarial de grande e média dimensão económica, tendo essa procura mais relevo nas explorações da HortoIndústria, Suínos e Aves, Horticultura e Fruticultura. 50 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA A pluriatividade dos agricultores e a atividade a tempo parcial continuam com um peso significativo, contribuindo para a viabilidade económica da exploração, a diversificação dos rendimentos e consumo dos agregados familiares. Fonte: GPP (2012b) Figura 7. Agricultura por região, dimensão económica e orientação produtiva em 2009 2.2.4.Volume de mão-de-obra agrícola (Base 2000) (preços correntes) O volume de mão-de-obra agrícola é um indicador importante sob várias perspetivas, como por exemplo na análise do grau de mecanização do setor agrícola, na importância na criação de emprego e na produtividade, entre outros. Em termos genéricos, podemos verificar que o volume de mão-de-obra agrícola, tanto assalariada como não assalariada, tem vindo a decrescer no período compreendido entre 2003 e 2010, tabela 9). 51 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 9. Volume de mão-de-obra agrícola entre 2003 e 2010, em UTA em Portugal Portugal Unidade: 1 000 UTA 2003-2010 Rubrica 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Volume de mão-de-obra agrícola – total Volume de mão-de-obra agrícola não assalariada Volume de mão-de-obra agrícola assalariada 478,80 452,96 429,48 401,95 374,24 359,45 344,18 337,42 413,39 387,04 364,83 338,52 312,20 299,05 285,34 281,63 65,41 65,92 64,65 63,43 62,04 60,40 58,84 55,79 Fonte: INE (2011a) Segundo dados do INE (2011a) as empresas agrícolas empregavam em 2010, 2,7% do total de pessoas ao serviço, sendo responsáveis por 1,3% do VAB global gerado no setor empresarial não financeiro. A análise do GPP (2011a), no que se refere à relação entre a produtividade, o Valor Acrescentado Bruto a preços de mercado (VAB pm) e as UTA entre o período compreendido entre 2000 e 2010, exposta na figura 8, indica que apesar do volume de trabalho agrícola ter vindo a diminuir constantemente de 2000 até 2010, tem-se verificado um aumento da produtividade parcial do trabalho. Este facto encontra-se relacionado com a diminuição acentuada do número e do peso das explorações pequenas, simultaneamente com a melhoria das capacidades tecnológicas e de ocupação cultural, que refletem as capacidade de inovação e de adaptação dos agricultores. Fonte: GPP (2011a) Figura 8 – VAB pm, Produtividade e UTA em Portugal entre 2000 e 2010 52 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2.2.5. Produção agrícola animal e vegetal Não podemos falar nas estrutura das explorações agrícolas sem perceber o que produzimos e em que quantidades. Para essa análise utilizamos apenas os anos de 2008, 2009 e 2010, por serem os anos mais próximos do período selecionado para o estudo de casos apresentado. De acordo com os dados do INE (2011b), expostos na tabela 10, e da análise do GPP (2011b), relativamente à variação da produção agrícola naquele período, podemos constatar os seguintes factos: Existe predominância da produção vegetal (57,60%) face à produção animal (37,10%); Os produtos cujas quantidades têm mais representatividade são: hortícolas; frutos, vinho e leite; Verifica-se um peso irrelevante da produção de cereais face às restantes produções vegetais devido à sua quebra no volume de produção; O destaque da produção de hortícolas em 2010 (20,70 %), face às restantes produções vegetais, seguidamente do vinho e dos frutos. Em termos gerais constatou-se na produção agrícola uma oscilação decrescente de 2008 para 2009, com um ligeiro aumento de 2009 para 2010. Tabela 10. Produção do ramo agrícola, a preços correntes (Base 2000) em Portugal nos anos de 2008 a 2010. Portugal Unidade: 10 000 Euros Produtos 2008-2010 2008 2009 2010 Produção Vegetal 3956 3809 4013 Produção Animal 2747 2598 2615 Produção de serviços agrícolas 300 322 337 Produção do ramo agrícola a preços de base 7037 6762 6998 Fonte: INE, (2011b) 53 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 2.2.6. VAB em Portugal e na UE27 O valor acrescentado bruto (VAB8) obtido na agricultura portuguesa é um indicador importante para a caracterização do setor. O seu valor, juntamente com o rendimento e a formação bruta de capital fixo na agricultura a preços correntes, entre 2008 e 2010, apresentase na tabela 11. A sua análise permite verificar um comportamento decrescente, de 2008 para 2009, e um aumento, de 2009 para 2010, nas seguintes rubricas: produção do ramo agrícola a preços base; Consumo Intermédio; VAB a preços de base; Consumo de capital fixo; rendimento de fatores; excedente líquido de exploração e rendimento empresarial líquido. Tabela 11. Valor acrescentado bruto, rendimento e formação bruta de capital fixo na agricultura em Portugal, a preços correntes entre 2008 e 2010 Portugal Rubricas 2008 Unidade: 10 000 Euros 2009 2010 1. Produção do ramo agrícola a preços de base 7037 6761 6998 2. Consumo Intermédio 4943 4692 4907 3. Valor acrescentado bruto a preços de base (1-2) 2094 2070 2092 4. Consumo de capital fixo 740 733 771 4. Valor acrescentado líquido a preços de base (3-4) 1354 1337 1321 5. Rendimento dos fatores 2143 1987 2135 6. Excedente líquido de exploração ou rendimento misto 7. Rendimento empresarial líquido 1489 1187 1316 1030 1462 1262 8. Formação bruta de capital fixo (excluindo IVA dedutível) 817 738 Transferência de capital 149 X 236 X Fonte: INE (2011b:68) Recorrendo aos dados do INE (2013), neste caso em relação aos anos de 1995 a 2012, apresenta-se a figura 9 com a evolução comparativa do VAB da agricultura, silvicultura e pescas, entre Portugal e a UE27. A sua observação permite identificar que enquanto este indicador tem vindo a apresentar uma tendência decrescente, em Portugal, na UE27, por outro lado, ele tem apresentado uma tendência ascendente. Estes dados são preocupantes, uma vez que revelam que em Portugal se tem verificado o abandono da atividade agrícola, em detrimento do interesse por áreas científicas e tecnológicas, ou económicas e turísticas. 8 Corresponde ao saldo da conta de produção, a qual, inclui em recursos, a produção, e em empregos, o consumo intermédio, antes da dedução do consumo de capital fixo. Tem significado económico tanto para os setores institucionais como para os ramos de atividade. O VAB é avaliado a preços de base, ou seja, não inclui os impostos líquidos de subsídios sobre os produtos (INE, 2011). 54 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA (1) VAB da agricultura, silvicultura e pesca (milhões de euros, a preços de 2005) (2) 200.000 4.400 4.200 180.000 4.000 160.000 3.800 3.600 140.000 3.400 120.000 3.200 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 UE27 (1) Portugal (2) Fonte: INE (2013) Figura 9. VAB da agricultura, silvicultura e pescas de Portugal e da U27, entre 1995 e 2012, em milhões de euros 3. Resultados e indicadores técnico-económicos nos casos de estudo A gestão da empresa agrícola é um tema relativamente recente, tendo-se desenvolvido nos Estados Unidos da América, após a II Guerra Mundial, e estendido à Europa em meados da década de 50. Um dos primeiros impulsionadores da gestão direcionada para a exploração agrícola, em Portugal, foram Barros e Estácio que já em 1972 a identificaram como tendo os seguintes objetivos principais: Observar a exploração no que se refere às sua estrutura, ao seu funcionamento e aos seus resultados económicos, com o objetivo de obter informações que permitam analisar criticamente esses dados com base num pensamento económico; Obter dados e conclusões que permitam propor aos empresários alterações na gestão que permitam a melhoria dos resultados; Planear através dos recursos disponíveis as atividades a desenvolver por forma a maximizar os resultados previstos. Os resultados económicos alcançados pelas empresas são, de facto, o produto da sua gestão, pelo que neste ponto vamos proceder à sua apresentação bem como dos indicadores técnicoeconómicos respetivos, calculados para as explorações alvo de estudo, por forma a reunir informação que permita melhorar a sua eficiência no futuro. 55 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Refira-se, ainda, a ausência ou dificuldade de aceder a dados sobre os resultados das empresas agrícolas, o que se revela um entrave à sua comparação, pelo que neste trabalho pretende-se também apresentar e divulgar alguns destes valores que possam ser úteis ao conhecimento da comunidade científica. Os resultados e indicadores técnico-económicos apresentados foram calculados através dos dados recolhidos das explorações agrícolas que consistiram a base de dados deste trabalho e, posteriormente, comparados com os dados, não publicados (n.p.) mas disponibilizados pelo GPP, extraídos de contabilidade agrícolas elaboradas pela RICA. As análises comparativas partiram de elementos comuns, nomeadamente quanto à localização geográfica e às classes de DE e de OTE em ambas as amostras. 3.1. Metodologia a adotar Neste capítulo optamos por calcular os resultados e indicadores técnico-económicos das explorações selecionadas para o estudo de caso comparando esses dados com os dados facultados pelo GPP das contabilidades agrícolas da RICA. A investigação foi efetuada com base nos dados recolhidos junto dos empresários agrícolas, garantindo-lhes o seu anonimato, tendo em vista a identificação, cálculo e análise de resultados e indicadores técnico-económicos para cada uma das explorações agrícolas em estudo, identificados e calculados de acordo com Avillez et al. (1987). Foram utilizados os elementos presentes nos documentos contabilísticos e fiscais dos empresários, tais como: Balancetes da contabilidade; Anexo B ou C do Modelo 3 do IRS; Modelo 22 do IRC; Balanço e Demonstração dos Resultados (BDR); Informação Empresarial Simplificada (IES); Informações presentes nos Pedidos Únicos de Ajudas do IFAP; Outras informações. Observamos os elementos presentes nos diversos documentos contabilísticos e fiscais dos empresários referentes a três exercícios económicos; informações dos Pedidos Únicos de Ajudas e listagens do SNIRB com a movimentação do efetivo pecuário, entre outras informações facultadas pelos empresários. 56 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Os anos de análise que escolhemos foram 2009, 2010, e 2011, por serem os mais recentes no momento da constituição da amostra. Para o efeito, procedemos à introdução dos dados presentes nos documentos contabilísticos e das explorações agrícola numa folha de Excel. Escolhemos esta ferramenta do Office porque consideramos que seria mais eficaz para associarmos a multiplicidade de variáveis presentes das explorações agrícolas. Os resultados económicos calculados de acordo com Avillez et al. (1987) foram os seguintes: PB; VAB = PB – Compras de bens e serviços ao exterior; RLE = VAB – (impostos e prémios de seguros de bens não fundiários + amortizações) + subsídios à atividade corrente; REF =RLE – (impostos e prémios de seguros de bens fundiários + rendas + juros do capital de exploração + salários e encargos sociais); RE = RLE – (impostos e prémios de seguros de bens fundiários + rendas + juros dos capitais da empresa próprios ou alheios + salários e encargos sociais (à exceção do trabalho diretivo (RTD)); RT = RLE – (impostos e prémios de seguros de bens fundiários + encargos referentes aos capitais fundiários e de exploração); RTF = RT – (salários + encargos sociais pagos). Escolhemos estes resultados porque nos permitem obter uma panorâmica global sobre a imagem económica e financeira da exploração agrícola, sem analisar especificamente a rentabilidade por atividade, porque apesar de ser um objetivo inicial deste trabalho, com a análise dos dados verificou-se a ausência de registos por atividade pelo agricultor. Este facto poderia ter sido evitado, caso as explorações estudadas tivessem implementado anteriormente um sistema de contabilidade analítica na sua exploração. Em alternativa, avaliamos os proveitos por atividade. Estes resultados permitem-nos ainda verificar o peso de determinada rubrica de custos nos resultados globais, bem como diferenciar os resultados das empresas de tipo patronal ou familiar. Para interligarmos a informação dada pelos resultados, optamos por calcular os seguintes indicadores técnico-económicos: 57 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA CN/SAU (Ha); UTA/SAU (Ha) e UTA/CN; Proveitos de cada atividade vegetal/SAU (Ha) e Proveitos de cada atividade animal/CN; PB vegetal/SAU (€/Ha) e PB animal/ CN (€/CN); REF/ SAU (€/Ha) e REF/ CN (€/CN); RE/SAU (€/Ha) e RE/ CN (€/CN); RT/ UTA e RTF/ UTA. Selecionamos estes indicadores porque nos permitem conhecer a rentabilidade da exploração por hectare e por CN possibilitando ainda a comparação desses dados com outras explorações. Desta forma conseguimos analisar o peso do custo dos fatores em diferentes explorações e em explorações com atividades semelhantes. Posteriormente analisamos e discutimos os resultados e indicadores técnico-económicos anteriormente mencionados através da sua comparação entre as várias explorações alvo do estudo de caso, nos três exercícios em análise e os dados do GPP (n.p.). Outros resultados e indicadores técnico-económicos poderiam ter sido calculados, no entanto, dada a informação disponível e limitada das explorações agrícolas facultada pelo GPP (n.p.) apenas foi possível obter os identificados anteriormente. Uma forma de caracterizar a estrutura da exploração agrícola de um determinado país ou região é em função da classe de OTE e da classe de DE. Segundo o GPP (2011b), a OTE é o sistema de produção de uma exploração que se caracteriza pela contribuição relativa dos Valores da Produção Padrão (VPP) das actividades para o VPP Total da exploração. A DE é o VPP total da exploração, expresso em euros, ou seja, corresponde à soma dos VPP de todos os produtos presentes na exploração. Para obtermos os dados do GPP apresentados neste trabalho, tivemos de caracterizar as explorações alvo do estudo de caso por classe de DE e classes de OTE. Neste sentido, por forma a uma correta comparação entre os parâmetros obtidos dos casos de estudo, com os dados facultados pelo GPP (n.p.) provenientes de amostras de contabilidades agrícolas, agrupadas por classe de DE e classes de OTE, apresentam-se as tabelas 12 e 13 com a classificação atribuída às explorações em estudo. 58 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Após esta caracterização, o GPP (n.p.) cedeu-nos gentilmente os resultados das contabilidades da RICA em função das classes de DE e classes de OTE apresentadas na amostra por nós selecionada. Tabela 12. Classes de Dimensão Económica apresentadas nos estudos de caso. Classe DE Valores em euros N.º Exploração 1 0 até 25000 euros 1,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20 2 25000 a 50000 euros 2e3 Fonte: Elaboração própria Tabela 13. Classes de Orientação Técnico-económica apresentadas nos estudos de caso Classe OTE Descritivo OTE N.º da Exploração 3 Horticultura e outras culturas Extensivas 10, 11 7 Frutos Frescos (Inclui Citrinos e Uva de mesa) 1,2,3,4,5,6,7,8,9 11 Bovinos Carne 14, 15, 17, 18, 19, 20 12 Ovinos / Caprinos 16 17 Mistas Culturas e Pecuária 12, 13 Fonte: Elaboração própria Para estabelecermos a comparação entre os dados obtidos na amostra das explorações por nós selecionada e os dados da RICA, com base nas classificações efetuadas nas tabela 12 e 13, procedemos à constituição dos seguintes grupos, similares aos facultados pelo GPP (n.p.), e necessários para as posteriores análises comparativas, tendo sido atribuídas colorações diferentes no sentido de facilitar as respetivas correspondências (tabela 14): Grupo 1 (rosa): constituído pelas explorações 10 e 11 e enquadradas na DE 1; Grupo 2: possui explorações enquadradas na OTE 7, cultura de frutos frescos, o DE 1 (verde claro): explorações 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9; o DE 2 (verde escuro): explorações 2 e 3; Grupo 3 (roxo): constituído por explorações enquadradas na OTE 11, bovinos de carne e contemplam as explorações 14, 15, 17, 18, 19 e 20. Tratam-se de explorações enquadradas na DE 1; Grupo 4 (azul): representa explorações com atividades vegetais e de pecuária, OTE 17, e enquadradas na DE 1. Correspondem às explorações n.º 12 e 13. 59 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Para a exploração 16, cuja atividade principal é caprinicultura, não foram disponibilizados dados correspondentes pelo GPP (n.p.). Tabela 14. Grupo de análise obtidos com os estudos de caso Grupo de análise N.º da Exploração Classe OTE Descritivo OTE DE 1 10, 11 3 Horticultura e outras culturas Extensivas 1 2 1,2,3,4,5,6,7,8,9 7 Frutos Frescos (Inc. Citrinos e Uva de mesa) 1e2 3 14, 15, 17, 18, 19, 20 11 Bovinos Carne 1 Sem dados 16 12 Ovinos / Caprinos 1 4 12, 13 17 Mistas Culturas e Pecuária 1 Fonte: Elaboração própria Apresentamos nos pontos seguintes as principais fontes de receita e custos recolhidos das explorações em estudo, com base nos quais foram calculados os seus resultados e indicadores técnico-económicos. Os valores apresentados encontram-se arredondados à unidade. 3.2. Resultados das explorações agrícolas em estudo Apresentam-se, de seguida, os diversos resultados calculados para as explorações em estudo. Na tabela 15 expõem-se os elementos relativos à SAU total, ao número de parcelas, à SAU média de cada exploração e os valores médios das explorações agrícolas em estudo. 60 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 15. SAU Total; N.º de parcelas, SAU média por parcela, SAU Total Média e respetivas médias das explorações agrícolas em estudo, entre 2009 e 2011 SAU Total N.º Parcelas SAU média por parcela N.º da Exploração 2009 2010 2011 SAU Total Média 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 16,78 19,35 19,09 18,41 37 36 35 0,45 0,54 0,55 2 17,80 18,24 18,04 18,03 35 36 34 0,51 0,51 0,53 3 20,83 20,83 20,83 20,83 9 9 9 2,31 2,31 2,31 4 19,56 19,56 21,01 20,04 8 8 9 2,45 2,45 2,33 5 5,09 8,20 5,09 6,13 8 6 8 0,64 1,37 0,64 6 - 7,14 7,79 7,47 - 11 11 - 0,65 0,71 7 - - 5,21 5,21 - - 6 - - 0,87 8 - 17,61 13,63 15,62 - 12 6 - 1,47 2,27 9 5,08 5,29 5,29 5,22 8 8 8 0,64 0,66 0,66 10 - 9,37 8,98 9,18 - 9 9 - 1,04 1,00 11 6,70 8,07 10,37 8,38 18 18 19 0,37 0,45 0,55 12 35,00 33,41 36,93 35,11 16 7 8 2,19 4,77 4,62 13 33,4 33,4 33,40 33,40 26 26 26 1,28 1,28 1,28 14 188,06 216,92 216,92 207,30 25 24 24 7,52 9,04 9,04 15 20,83 25,76 20,83 22,47 9 31 9 2,31 0,83 2,31 16 110,46 110,46 110,46 110,46 27 27 27 4,09 4,09 4,09 17 44,45 88,93 89,26 74,21 14 12 12 3,18 7,41 7,44 18 55,74 51,17 48,08 51,66 18 17 14 3,1 3,01 3,43 19 41,86 43,67 43,68 43,07 30 31 22 1,4 1,41 1,99 20 27,04 35,00 - 31,02 8 1 - 3,38 35,00 - Média 30,71 30,86 28,78 30,11 18,07 16,94 15,11 1,89 3,85 2,09 Fonte: Elaboração própria A análise da tabela 15 permite verificar uma diversidade de dimensões de áreas das explorações em estudo, em termos de SAU, que se situa entre os 5,08 ha e os 216,92 ha, com uma SAU média de 30,11 ha. As explorações que possuem efetivo pecuário são aquelas que apresentam uma área maior, relativamente às explorações exclusivamente vegetais. Constatamos ainda que, enquanto as áreas subiram levemente entre os dois primeiros anos sob análise (de 40,54 para 42,51 ha, em média), recuaram no ano seguinte (para 38,68 ha). 61 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA O numero de parcelas por exploração é também muito variável entre os diversos casos em estudo, tendo-se verificado uma diminuição do número médio de parcelas de 18, em 2009, para 17, em 2010, para 15, em 2011. Quanto à SAU média por parcela verifica-se um aumento de 2009 para 2010 (passando de 1,89 ha para 3,85 ha)) e uma diminuição de 2010 para 2011 (passando de 3,85 ha para 2,09 ha). Por outro lado, verifica-se que em algumas explorações as áreas da SAU total mantiveram-se inalteradas nos três exercícios (exploração n.º 3; 9; 13 e 16) enquanto outras foram sujeitas a oscilações neste parâmetro. No que se refere às explorações que iniciaram a atividade em 2010 (6 e 10), a sua SAU permaneceu estável, nos anos sob análise. Na tabela seguinte podemos observar as CN e as UTA9 presentes nas explorações em estudo ao longo de cada exercício. O número de CN exploradas apresenta uma amplitude bastante dispar entre as várias explorações, compreendida entre as 9,48 (ano de 2009) e as 71,98 CN (ano 2011). Este valor não incluí a exploração 14, devido à venda de grande parte do efetivo, decorrente da pretensão do abandono da atividade pelo empresário. Verificou-se um aumento no número médio anual de CN exploradas de 2009 para 2010, seguindo-se de uma diminuição de 2010 para 2011 (31,47; 31,79; e 33,71, para 2009, 2010 e 2011, respetivamente). Quanto às CN por exploração, estas apresentam o valor médio de 32,32 CN. Verificou-se ainda que a exploração 16 manteve o efetivo de caprinos constante ao longo dos três exercícios. A exploração 12 e 17 tem vindo a aumentar o efetivo de bovinos. As restantes explorações sofreram oscilações crescentes e decrescentes nas CN disponíveis ao longo dos três anos. Quanto às UTA verifica-se uma multiplicidade de valores, variando entre as 1,18 e as 5,58 UTA. A UTA média tem vindo a diminuir de 2009 para 2011 (2,76; 2,68 e 2,53, para 2009, 2010 e 2011, respetivamente). As explorações vegetais apresentam por regra UTA superiores às explorações com efetivo pecuário. 9 A UTA aplicada à Agricultura, Florestas e Pescas, de acordo com o INE (2011a), é a unidade de medida equivalente ao trabalho de uma pessoa ativa a tempo completo realizado num ano (1 UTA = 275 dias de trabalho a 8 horas por dia). 62 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 16. CN e UTA das explorações agrícolas em estudo, entre 2009 e 2011 CN da Exploração UTA da Exploração N.º da Exploração 2009 2010 2011 CN Média 2009 2010 2011 UTA Média 1 - - - - 4,67 4,67 4,67 4,67 2 - - - - 5,58 5,58 5,58 5,58 3 - - - - 3,74 3,74 3,74 3,74 4 - - - - 2,39 2,39 2,39 2,39 5 - - - - 2,37 2,37 2,37 2,37 6 - - - - - 0 1,18 1,18 7 - - - - 0 0 1,18 1,18 8 - - - - 0 2,93 2,93 2,93 9 - - - - 1,18 1,18 1,18 1,18 10 - - - - - 1,18 1,18 1,18 11 - - - - 1,18 1,18 1,18 1,18 12 9,48 17,23 17,90 14,87 2,35 2,35 2,35 2,35 13 23,12 11,93 - 17,53 2,35 2,35 2,35 2,35 14 144,45 115,35 0,23 - 2,93 2,93 2,93 - 15 18,27 3,57 20,38 14,07 2,35 2,35 2,35 2,35 16 15,45 15,45 15,45 15,45 2,74 2,74 2,74 2,74 17 58,07 61,16 71,98 63,74 2,74 2,74 2,74 2,74 18 42,35 47,49 40,62 43,49 2,74 2,74 2,74 2,74 19 48,37 53,68 35,93 45,99 2,74 2,74 2,74 2,74 20 36,62 43,79 - 40,21 2,35 2,35 - 2,35 Média 31,47 31,79 33,71 32,32 2,76 2,68 2,53 2,66 Fonte: Elaboração própria Na figura 10 podemos analisar as CN/Ha presentes nas explorações de bovinos e caprinos, não se verificando uma evolução padrão para nenhuma das explorações. 63 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 1,40 1,20 1,00 Ano 2009 0,80 Ano 2010 0,60 Ano 2011 0,40 0,20 0,00 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Elaboração própria Figura 10. CN / Ha de SAU das explorações em estudo entre 2009 e 2011 A figura 11 expõe o rácio UTA/SAU presente nas explorações. A sua observação permite constatar que os valores são muito variáveis entre as várias explorações. Verificam-se valores médios de UTA/SAU significativamente superiores nas explorações com produções vegetais face às explorações com produções animais. 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 Ano 2009 0,25 Ano 2010 0,20 Ano 2011 0,15 0,10 0,05 0,00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Elaboração própria Figura 11. UTA/SAU das explorações em estudo entre 2009 e 2011 Na figura 12 podemos verificar que o valor médio de UTA/CN é relativamente reduzido e tem vindo a aumentar ao longo dos anos 0,10, em 2009; 0,16, em 2010 e 0,17, em 2011. 64 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 14,00 12,00 10,00 Ano 2009 8,00 Ano 2010 6,00 Ano 2011 4,00 2,00 0,00 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Elaboração própria Figura 12. UTA / CN das explorações em estudo entre 2009 e 2011 3.3. Proveitos e seus indicadores Os proveitos apresentados resultam do apuramento do PB vegetal e animal, calculados de acordo com Avillez et al. (1987), acrescidos dos subsídios correntes à exploração obtidos através do Regime de Pagamento Único, cujo montante varia em função da área explorada, direitos detidos pelo agricultor e respetivo valor, tipo de culturas desenvolvidas, entre outros. Na tabela 17 apresentamos os proveitos das explorações em estudo no que se refere ao PB Vegetal, PB Animal, Subsídios à Exploração e respetivos totais. 65 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 17. Proveitos anuais das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros PB Vegetal N.º da Exploração PB Animal Subsídios à Exploração Total dos Proveitos 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 22.653 29.853 17.505 - - - 1.136 9.906 6.636 23.789 39.759 24.141 2 46.554 44.516 49.970 - - - 3.791 8.387 5.412 50.344 52.903 55.382 3 58.602 58.720 39.930 - - - 2.862 9.750 3.195 61.464 68.470 43.125 4 14.950 14.106 5.660 - - - 3.914 7.496 4.512 18.864 21.602 10.172 5 8.043 23.464 22.423 - - - 1.166 2.558 6.896 9.209 26.023 29.319 6 - 3.367 5.076 - - - - 1.083 3.526 - 4.450 8.603 7 - - 7.300 - - - - - 1.917 - - 9.217 8 - 38.572 48.970 - - - - - 0 - 38.572 48.970 9 - 12.345 27.950 - - - - 2.928 2.735 - 15.273 30.686 10 - 2.200 5.665 - - - - 829 4.443 - 3.029 10.108 11 1.302 1.901 1.476 - - - 226 3.125 8.005 1.529 5.026 9.481 12 10.980 9.220 10.464 - 3.010 1.442 1.211 6.795 19.339 12.191 19.025 31.245 13 3.450 8.035 15.068 4.596 3.691 - 16.622 35.283 19.819 24.668 47.008 34.887 14 - - - 15.727 180.693 4.137 34.699 72.417 24.462 50.425 253.110 28.599 15 - - - 5.791 -2.429 8.383 17.987 29.943 17.826 23.778 27.514 26.209 16 - - - 0 5.196 8.284 1.828 5.189 24.629 1.828 10.385 32.913 17 - - - 5.903 6.389 6.893 12.165 24.924 28.650 18.069 31.313 35.543 18 - - - 5.398 -12.871 8.866 25.092 30.878 24.044 30.490 18.007 32.910 19 - - - -2.681 11.202 18.078 16.047 17.711 27.482 13.366 28.913 45.560 20 - - - 2.395 19.142 - 21.774 16.013 - 24.169 35.155 - Fonte: Elaboração própria Nas explorações em estudo exclusivamente vegetais, o seu PB apresenta um valor mínimo de 1.302,27 €, em 2009, e um valor máximo de 58.720,10 €, em 2010. Em termos evolutivos, verifica-se que, entre 2009 e 2010, algumas destas explorações aumentaram o seu PB (explorações 1, 3, 5, 11 e 13), enquanto outras viram o seu valor ser reduzido (explorações 2, 4 e 12). Entre 2010 e 2011, verificou-se um aumento no PB vegetal nas explorações 2, 6, 8, 9, 10, 12 e 13. Quanto às explorações com produção animal, o seu PB oscila entre -12.871,24€ 10 e 180.692,46€, ambos verificados em 2010. Em termos evolutivos, é a exploração com o 10 O PB apresenta em alguns casos valores negativos devido à variação dos inventários. 66 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA número 17 que apresenta um PB animal mais constante, apesar de ter sofrido alterações acentuadas na SAU explorada (Tabela 15). Os subsídios à exploração são mais elevados nas explorações que apresentam efetivo pecuário. Em termos globais, de 2009 para 2010, o valor das ajudas monetárias atribuídas à exploração sofreu um acréscimo, que se reduziu logo no ano seguinte. Este acréscimo verificado no ano de 2010 deveu-se à regularização de subvenções atribuídas ao abrigo do RPU e no âmbito do Desenvolvimento rural pelo IFAP, o que contribuiu para um forte aumento do valor das ajudas pagas, conforme mencionado nas Contas económicas do INE (2011c). Na Figura 13 podemos verificar o peso do PB e dos subsídios à exploração no total dos proveitos de cada uma das explorações em estudo, considerando o valor médio dos três anos em análise. 120000 100000 80000 Subsídios à Exploração 60000 PB Animal PB Vegetal 40000 20000 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Elaboração própria Figura 13. Proveitos médios das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros Da análise da Figura 13 verificamos que, nas explorações que possuem efetivo pecuário, da exploração n.º 13 à exploração n.º 20, a proporção de subsídios à exploração é, na maior parte dos casos, superior ao valor do seu PB. Este facto mostra-nos que estes empresários recebem mais dinheiro com o Pedido Único de Ajudas associado à manutenção do efetivo, do que propriamente com o valor das transações comerciais. Por outro lado, a manutenção das explorações agrícolas sem o recebimento de ajudas tornaria a atividade economicamente insustentável. Complementar a atividade pecuária com atividades vegetais, e/ou a valorização 67 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA e venda do produto animal a preços mais elevados poderia consistir numa solução para a sustentabilidade das explorações pecuárias sem recurso ao recebimento de ajudas. Na tabela 18 podemos visualizar os proveitos por SAU e por CN. No que se refere aos primeiros, verifica-se que estes têm vindo a aumentar gradualmente entre 2009 e 2010, atingindo um valor médio de 1.407,21 €/ha. Relativamente aos proveitos por CN, estes apresentam um aumento acentuado de 2009 para 2010, seguindo-se um decréscimo considerável de 2010 para 2011, apresentando um valor médio de 1.321,17 €/CN. Tabela 18. Proveitos por SAU e por CN das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros Proveitos por SAU (€/ha) N.º da Proveitos por CN (€/CN) Exploração 2009 2010 2011 Média 2009 2010 2011 Média 1 1.418 2.055 1.265 1.588 - - - - 2 2.828 2.900 3.070 2.933 - - - - 3 2.951 3.287 2.070 2.769 - - - - 4 964 1.104 484 842 - - - - 5 1.809 3.174 5.760 3.510 - - - - 6 - 623 1.104 874 - - - - 7 - - 1.769 1.769 - - - - 8 - 2.190 3.593 2.802 - - - - 9 - 2.887 5.801 4.402 - - - - 10 - 323 1.126 716 - - - - 11 228 623 914 638 - - - - 12 348 569 846 593 1.286 1.104 1.746 1.379 13 739 1.407 1.045 1.064 1.067 3.940 0 2.504 14 268 1.167 132 534 349 2.194 124.343 42.296 15 1.142 1.068 1.258 1.150 1.301 7.707 1.286 3.432 16 17 94 298 136 118 672 2.130 974 17 407 352 398 381 311 512 494 439 18 547 352 684 525 720 379 810 636 19 319 662 1.043 680 276 539 1.268 694 20 894 1.004 - 956 660 803 - 731 Média 1.044 1.371 1.807 1.407 718 1.957 1.289 1.321 Fonte: Elaboração própria 68 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Na tabela seguinte podemos visualizar os proveitos anuais por atividade e por SAU das explorações com produções vegetais. No que se refere à viticultura, obtiveram-se médias semelhantes para as explorações 1, 5, 9 e 12. Sendo que tanto se verificaram aumentos nos proveitos de 2009 para 2010 (explorações 1, 2, 3, 5, 9 e 11), como diminuições de 2010 para 2011 (explorações 1, 2, 3, 5, 6, 11 e 12). Em relação à olivicultura, poucas explorações apresentaram rendimentos, apenas as enumeradas com 2, 6, 11 e 12, sendo que o valor médio obtido por ha foi diferente em todas elas. Quanto aos rendimentos da atividade de fruticultura, foram obtidos proveitos distintos entre as explorações 4, 6 e 12, sendo que esta última se destacou com um rendimento por ha muito elevado em relação às restantes. No que se refere à atividade de horticultura, são apresentados rendimentos para três explorações (4, 10 e 11) apresentando valores distintos entre si, destacando-se a exploração 11 com a média de proveitos por ha mais elevada. Tabela 19 Proveitos vegetais anuais das explorações em estudo por atividade e por SAU, entre 2009 e 2011, em Euros Proveitos Viticultura/ha Proveitos Olivicultura/ha N.º da Exploração 2009 2010 2011 Média 2009 2010 2011 Média 1 1.970 2.736 1.588 2.098 - - - - 2 2.976 3.427 3.091 3.165 589 - - 589 3 2.821 2.827 1.922 2.524 - - - - 4 - - - - - - - - 5 981 2.865 2.738 2.195 - - - - 6 - 912 195 553 - - 1.542 1.542 7 - - 1.566 1.566 - - - - 8 - 1.393 0 1.393 - - - - 9 178 2.369 5.546 2.698 - - - - 10 - - 5.381 5.381 - - - - 11 1.020 1.162 711 965 - 367 157 262 12 2.853 2.219 771 1.948 - - 305 305 69 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 19. Proveitos vegetais anuais das explorações em estudo por atividade e por SAU, entre 2009 e 2011, em Euros (Continuação) Proveitos Fruticultura/ha Proveitos Horticultura/ha N.º da Exploração 2009 2010 2011 Média 2009 2010 2011 Média 1 - - - - - - - - 2 - - - - - - - - 3 - - - - - - - - 4 1.156 1.186 408 916 3.576 - 1.050 1.542 5 - - - - - - - - 6 - - 603 603 - - - - 7 - - - - - - - - 8 - - - - - - - - 9 - - - - - - - - 10 - - - - - 5.116 4.000 4.558 11 - - - - 5.833 - 5.503 5.668 12 7.103 7.103 4.000 6.069 - - - - Na tabela que se segue podemos visualizar os proveitos das explorações com efetivo pecuário por CN da respetiva espécie explorada. Relativamente aos proveitos dos bovinos por CN verifica-se um rendimento médio semelhante nas explorações 15, 17, 19 e 20. Se atendermos às oscilações entre os três anos e as diferentes explorações obtemos uma diversidade de resultados. A exploração com o número 14, apresenta uma situação muito diferente, em 2011, pelas razões já apontadas anteriormente, pelo que, para o cálculo da sua média foram apenas considerados os dois primeiros anos sob análise. Mesmo calculando a média utilizando este critério, verifica-se que esta exploração é aquela cujos proveitos com bovinos por CN são superiores, aos obtidos pelas suas congéneres. Quanto aos proveitos dos caprinos por CN na exploração 16 também não se verifica um valor constante entre 2010 e 2011. 70 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 20. Proveitos anuais de cada uma das atividades pecuárias das explorações em estudo por CN explorada, entre 2009 e 2011, em Euros Proveitos Bovinos/CN Proveitos Caprinos/CN N.º da Exploração 2009 2010 2011 Média 2009 2010 2011 Média 12 - 107 74 90 - - - - 13 88 114 - 101 - - - - 14 175 960 10.371 568 - - - - 15 244 153 299 232 - - - - 16 - - - - - 336 536 436 17 237 233 189 220 - - - - 18 134 605 228 322 - - - - 19 33 220 369 207 - - - - 20 67 316 - 192 - - Fonte: Elaboração própria 3.4. Custos e seus indicadores Tal como os proveitos, também os custos de exploração (tabela 21) foram extraídos dos balancetes e dos formulários do IRS e IES das contabilidades das explorações referentes aos exercícios económicos de 2009, 2010 e 2011. 71 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 21. Custos anuais das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros N.º da Exploração Compras de Bens e Serviços ao Exterior Contribuições e impostos de bens não fundiários Amortizações 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 7.064 7.517 2.129 220 222 207 1.968 2.669 2.419 2 8.459 19.374 20.689 10 - - 6.818 14.147 17.198 3 16.973 11.276 2.841 - - - 4.268 5.740 6.534 4 7.081 5.659 1.237 - - - 2.238 2.238 2.238 5 1.269 3.496 5.593 - 44 - 4.270 4.270 4.270 6 - 57 4.084 - - - - - - 7 - - 2.699 - - 9 - - - 8 3.529 28.985 27.657 - - - 10 2.795 4.445 9 1.263 1.664 1.397 - - - 2.142 3.367 3.367 10 - 2.725 3.074 - - - - 4.244 947 11 839 461 2.421 - - - 773 4.772 8.391 12 2.027 12.712 12.279 17 309 - 5.839 5.939 5.939 13 13.793 17.905 20.294 2 - - 2.572 2.572 2.905 14 35.997 46.928 7.509 383 1.484 610 12.973 12.973 13.225 15 4.502 1.058 1.837 - - - 10.712 10.712 10.712 16 6.872 14.005 25.913 1.118 24 7 891 5.362 5.757 17 9.127 9.736 12.114 - - - 16.209 16.204 16.204 18 18.736 15.180 8.867 9 - - 6.350 5.341 795 19 9.360 19.894 24.371 34 - - 15.223 25.797 26.003 20 1.172 625 - 27 - - 290 573 - Fonte: Elaboração própria 72 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 21. Custos anuais das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros (Continuação) N.º da Exploração Salários e Encargos Sociais Pagos Juros e Gastos Similares Suportados Outros Gastos e Perdas Total dos Custos 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 18.170 16.666 20.328 102 - - 223 - - 27.747 27.074 25.083 2 10.837 13.204 15.726 3 - - 152 60 - 26.279 46.786 53.612 3 - - - - - - 1.343 - - 22.584 17.016 9.374 4 108 - 119 - - - 24 - 15 9.451 7.897 3.610 5 - 380 1.424 - - - - 40 15 5.539 8.230 11.302 6 - - - - - - - - 15 - 57 4.099 7 - - - - - - - - - - - 2.708 8 - 14.905 15.966 - - - 408 554 199 3.947 47.240 48.267 9 464 4.057 4.222 - 1.654 - - - - 3.869 10.742 8.986 10 - - - - - - - - - - 6.969 4.021 11 - - 558 - - - - - 120 1.612 5.233 11.490 12 - - 1.958 - - - - 151 171 7.883 19.111 20.346 13 2.151 - 1.587 1 - - 3.949 2.503 - 22.467 22.980 24.786 14 - - - - 11.311 544 915 - 789 50.269 72.696 22.676 15 1.917 1.917 2.234 - - - 15 15 15 17.146 13.701 14.798 16 - - - 974 - - 10 1.182 70 9.865 20.573 31.746 17 1.805 1.907 2.211 506 - - - 647 560 27.647 28.493 31.089 18 9 - 196 287 128 - 227 1.258 565 25.618 21.908 10.423 19 1.927 1.929 712 1.231 1.522 479 2.948 11.736 7.591 30.722 60.877 59.156 20 - - - - - - 2.567 1.028 - 4.056 2.226 - Fonte: Elaboração própria As compras de bens e serviços ao exterior são um gasto significativo, uma vez que representam cerca de 49% dos custos totais das explorações. As amortizações são o segundo gasto mais elevado representando cerca de 31% do total dos encargos. Seguidamente são os salários e encargos sociais pagos os que representam cerca de 14% dos gastos. No caso das empresas patronais, verifica-se que algumas das explorações, nomeadamente as n.º 3, 14 e 20, não apresentaram gastos com o pessoal. Em algumas empresas familiares também não se verifica a valorização dos custos com o pessoal. Os custos financeiros representam apenas cerca de 2% do total dos encargos das explorações, o que permite concluir que o grau de endividamento é muito baixo ou mesmo nulo. 73 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Na tabela 22 podemos observar os custos por SAU e por CN. Em termos gerais verificam-se grandes diferenças em relação aos custos médios por SAU entre as diversas explorações e entre os três exercícios, sendo o custo médio por SAU de 912,00 €/ha. Ao nível dos custos por CN, verificam-se também valores diferentes entre as várias explorações e entre os três anos de análise. A média dos custos por CN sofreu um aumento de 2009 para 2010 e uma diminuição de 2010 para 2011 (650,90 €/CN; 1.289,61 €/CN e 1.136,65 €/CN, em 2009, 2010 e 2011 respetivamente). Tabela 22. Custos por SAU e por CN das explorações em estudo, entre 2009 e 2011, em Euros Custos por SAU (€/ha) N.º da Exploração Custos por CN (€/CN) 2009 2010 2011 Média 2009 2010 2011 Média 1 1.654 1.399 1.314 1.447 - - - - 2 1.476 2.565 2.972 2.342 - - - - 3 1.084 817 450 784 - - - - 4 483 404 172 349 - - - - 5 1.088 1.004 2.220 1.363 - - - - 6 - 8 526 278 - - - - 7 0 0 520 520 - - - - 8 0 2.683 3.541 3.184 - - - - 9 762 2.031 1.699 2.260 - - - - 10 - 744 448 599 - - - - 11 241 648 1.108 729 - - - - 12 225 572 551 449 832 1.109 1.137 1.026 13 673 688 742 701 972 1.926 0 1.449 14 267 335 105 234 348 630 98.591 33.190 15 823 532 710 677 938 3.838 726 1.834 16 89 186 287 188 639 1.332 2.055 1.342 17 622 320 348 392 476 466 432 458 18 460 428 217 374 605 461 257 441 19 734 1.394 1.354 1.167 635 1.134 1.646 1.139 20 150 64 0 101 111 51 74 0 81 Fonte: Elaboração própria CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 3.5. Resultados e seus indicadores técnico-económicos Os resultados económicos que se apresentam neste item foram selecionados com base na informação contabilística apresentada e disponibilizada pelos empresários, calculados de acordo com Avillez et al. (1987)11. Ressalvamos, no entanto, que de entre os diversos resultados calculados, optamos por apresentar apenas aqueles que se podem comparar com os dados facultados pelo GPP (n.p.). Ao nível dos resultados económicos globais calculados anteriormente para os casos sob estudo detetou-se uma discrepância acentuada de valores, dificultando possíveis análises comparativas. Estas diferenças resultam do facto das explorações apresentarem características distintas entre si, ao nível da sua estrutura, organização, modo de funcionamento, atividades exploradas, bem como da aplicação de diferentes fatores produtivos. Neste sentido, procedeuse simultaneamente ao cálculo de indicadores que colocam os vários resultados numa base comum, neste caso tendo por base a SAU, CN e UTA. No entanto, mesmo com estes parâmetros, verificaram-se dificuldades nas comparações realizadas posteriormente, quer entre explorações quer com os dados facultados pelo GPP (n.p.), como se assinalarão de seguida. Na tabela 23 apresentamos o PB vegetal por SAU e o PB animal por CN. O primeiro indicanos que o valor do produto vendido, consumido e armazenado por ha é diferente entre as explorações vegetais e ao longo dos anos em análise, não só porque as explorações são diferentes entre si, como também produzem atividades distintas. O PB animal também apresenta resultados distintos entre as várias explorações de bovinos, apresentando por vezer resultados negativos. Dentro das mesmas explorações existem valores muito diferentes entre si, este facto pode dever-se a grandes variações nos inventários que influenciam por vezes significativamente os resultados. 11 No caso do cálculo do VAB foram adicionados os subsídios à exploração, de acordo com a fórmula presente nos dados facultados pelo GPP (n.p.). 75 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 23. PB vegetal /SAU e PB animal/CN nas explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros N.º da Exploração PB vegetal/ SAU (€/Ha) PB animal/ CN (€/CN) 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 1.350 1.543 917 - - - 2 2.615 2.441 2.770 - - - 3 2.813 2.819 1.917 - - - 4 764 721 269 - - - 5 1.580 2.862 4.405 - - - 6 - - 652 - - - 7 - - 1.401 - - - 8 - 2.190 3.593 - - - 9 - 2.334 5.284 - - - 10 - 235 631 - - - 11 194 236 142 - - - 12 314 276 283 - 175 81 13 103 241 451 199 309 - 14 - - - 109 1.566 17.975 15 - - - 317 -681 411 16 - - - - 336 536 17 - - - 102 105 96 18 - - - 128 -271 218 19 - - - -55 209 503 20 - - - 65 437 - Fonte: Elaboração própria Na tabela 24 apresentamos o VAB e o RLE das explorações estudadas. O VAB permite-nos ter noção do peso dos encargos com as compras de bens e serviços ao exterior da empresa. Neste caso, verificamos que o VAB apresenta um comportamento crescente de 2009 para 2010, em 13 explorações, decresceu de 2010 para 2011, em 6 casos, e aumentou de 2010 para 2011, em 12 explorações. A análise do RLE por seu lado, permite-nos verificar que principalmente os encargos com as amortizações têm um forte contributo no valor deste resultado. Por outro lado, os gastos com amortizações também nos indicam que existe ou existiu investimento nas infra-estruturas, maquinarias e equipamentos da exploração. Verificaram-se resultados negativos em cerca de 31% dos casos em estudo, no ano de 2009; 26% em 2010 e 11% em 2011. 76 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 24. VAB e RLE das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros N.º da Exploração Valor Acrescentado Bruto (VAB) Rendimento Líquido da Exploração (RLE) 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 16.725 32.242 22.012 14.537 29.351 19.387 2 41.886 33.528 34.694 35.058 19.381 17.496 3 44.491 57.194 40.284 40.223 51.454 33.750 4 11.783 15.943 8.934 9.545 13.705 6.696 5 7.940 22.527 23.726 3.670 18.212 19.455 6 - 4.392 4.518 - 4.392 4.518 7 - - 6.518 - - 6.509 8 - 9.586 21.312 - 6.791 16.867 9 -1.263 13.608 29.288 -3.405 10.242 25.921 10 - 303 7.034 - -3.941 6.087 11 689 4.565 7.060 -84 -207 -1.330 12 10.163 6.314 18.966 4.307 65 13.027 13 10.876 29.103 14.593 8.302 26.531 11.688 14 14.428 206.182 21.090 1.072 191.725 7.255 15 19.276 26.456 24.372 8.563 15.744 13.660 16 -5.044 -3.620 7.000 -7.054 -9.006 1.237 17 8.942 21.578 23.430 -7.268 5.374 7.226 18 11.754 2.827 24.043 5.395 -2.514 23.248 19 4.006 9.020 21.189 -11.251 -16.777 -4.814 20 22.997 34.530 - 22.681 33.957 - Fonte: Elaboração própria A tabela 25 expõe os valores calculados para o REF, o REF/SAU e o REF/CN, nos casos em estudo. O REF é um resultado calculado apenas para empresas do tipo familiar e permite avaliar a remuneração do fator empresário, quando se trata de uma empresa do tipo familiar. Neste resultado não se verificaram diferenças significativas entre o RLE e o REF, o que permite verificar a existência de poucos custos apresentados essencialmente com os salários e encargos sociais, ou que estes têm pouco impacto nos resultados das empresas familiares. O REF é um resultado importante uma vez que representa para as empresas familiares o valor que poderá ser consumido sem diminuir a capacidade produtiva da sua organização. 77 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA O indicador REF/SAU é negativo em algumas das explorações do caso de estudo e curiosamente é positivo em todas as explorações da amostra facultada pelo GPP. O indicador REF/CN não revela uma evolução padrão para nenhuma exploração. Verifica-se ainda que 39% dos resultados dos casos de estudo deste indicador são negativos, o que poderá indicar que a remuneração do fator empresário não está a ter um comportamento favorável. Tabela 25. REF; REF/SAU e REF/CN das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros N.º da Exploração Rendimento do Empresário e Família (REF ) REF/ SAU (€/Ha) REF/ Cabeça Normal (€/CN) 2009 2010 2011 2009 2010 2011 9.437 13.705 6.577 483 701 313 4.392 4.518 - 580 - - 6.509 - - 1.249 -3.869 6.184 21.699 -762 1.169 4.102 -3.941 6.087 -421 678 2009 2010 2011 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 4.307 65 11.069 123 2 300 - 4 619 13 6.151 26.531 10.101 184 794 302 266 2.244 - 15 6.647 13.827 11.426 319 537 549 364 3.875 561 16 -7.054 -9.006 1.237 -64 -82 11 -457 -583 80 17 -9.073 3.467 5.015 -204 39 56 -156 57 70 18 5.386 -2.514 23.052 97 -49 479 127 -53 568 19 -13.178 -18.706 -5.525 -315 -428 -127 -273 -349 -154 14 20 Fonte: Elaboração própria Na tabela 26 apresentamos os RE, RE/SAU e RE/CN. O RE é um resultado calculado apenas para empresas do tipo patronal e informa-nos sobre a remuneração do fator empresário na empresa. Neste resultado verificou-se o peso significativo dos referidos custos nas explorações n.º 1, 2, 5, 8 e 11, principalmente os custos com os 78 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA salários e encargos sociais. Curiosamente nas explorações n.º 3, 14 e 20, apesar de serem do tipo patronal, não se verificaram diferenças entre o RLE e RE, o que poderá indicar que não apresentaram na contabilidade despesas com encargos com trabalhadores. Ao nível do RE/SAU, verificam-se indicadores muito distintos dentro da mesma exploração ao longo dos anos e entre as várias explorações. No que se refere ao RE/CN observa-se novamente uma discrepância entre as explorações (embora em relação à exploração 14 já tenhamos evidenciado anteriormente os seus motivos). Tabela 26. RE; RE/SAU e RE/CN das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros N.º da RE/ SAU (€/Ha) Rendimento Empresarial (RE) RE/ CN (€/CN) Exploração 2009 2010 2011 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 -3.633 12.685 -941 -216 656 -49 - - - 2 24.221 6.177 1.770 1.361 339 98 - - - 3 40.223 51.454 33.750 1.931 2.470 1.620 - - - 3.669 17.832 18.032 721 2.175 3.543 - - - - -8.114 902 - -461 66 - - - -84 -207 -1.889 -13 -26 -182 - - - 1.071 191.725 7.255 6 884 33 7 1.662 31.524 22.681 33.957 - 839 970 - 619 775 - 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Fonte: Elaboração própria Na tabela 27, apresentamos o RT e o RTF, estes resultados permitem-nos avaliar a remuneração do fator trabalho para as empresas patronais e familiares respetivamente. No RT obtido verifica-se que os custos de financiamento na maioria das explorações estudadas têm 79 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA pouco impacto nos seus resultados. No RTF por seu lado, verifica-se, novamente, que os custos com os salários e encargos sociais têm pouco impacto neste resultado. Tabela 27. RT e RTF das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros Rendimento do Trabalho (RT) N.º da Exploração Rendimento do Trabalho Familiar (RTF) 2009 2010 2011 2009 2010 2011 1 14.435 29.351 19.386 2 35.055 19.381 17.496 3 40.223 51.454 33.750 9.437 13.705 6.577 6 - 4.392 4.518 7 - - 6.509 9 -3.869 6.184 21.699 10 - -3.941 6.087 12 4.307 65 11.069 13 6.151 26.531 10.101 15 6.647 13.827 11.426 16 -7.054 -9.006 1.237 17 -9.073 3.467 5.015 18 5.386 -2.514 23.052 19 -13.178 -18.706 -5.525 4 5 8 11 14 20 3.669 - 18.212 6.791 -84 1.071 22.681 -207 180.413 33.957 19.455 16.867 -1.330 6.711 Fonte: Elaboração própria Na tabela 28 apresentamos os indicadores de rentabilidade do trabalho por UTA para as empresas patronais e familiares. O RT/UTA mostra-nos que nas explorações com atividades vegetais, por regra, são obtidos melhores resultados ao nível da rentabilidade do trabalho. Não se verificam variações constantes ao logo dos três anos para nenhuma exploração. Também não se verificam grandes variações entre o RT/UTA e o RTF/UTA, com exceção nas empresas que possuem efetivo pecuário já que apresentam na sua maioria resultados negativos. 80 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Tabela 28. RT/UTA; RTF/UTA das explorações estudadas, entre 2009 e 2011, em Euros RT/UTA N.º da RTF/UTA Exploração 2009 2010 2011 1 3.091 6.285 4.151 2 6.282 3.473 3.135 3 10.755 13.758 9.024 2009 2010 2011 3.948 5.734 2.752 6 - 3.722 3.829 7 - - 5.516 9 -3.279 5.241 18.389 10 - -3.340 5.159 12 1.833 28 4.710 13 2.618 11.290 4.298 15 2.828 5.884 4.862 16 -2.574 -3.287 451 17 -3.311 1.265 1.830 18 1.966 -918 8.413 19 -4.809 -6.827 -2.017 4 5 8 11 14 20 1.548 - -71 366 9.651 7.684 2.318 -175 61.574 14.450 8.209 5.757 -1.127 2.291 Fonte: Elaboração própria 3.6. Análise e discussão dos resultados e indicadores técnico-económicos Seguidamente vamos proceder à análise e discução dos resultados e indicadores técnicoeconómicos obtidos e calculados para as empresas alvo de estudo e para os dados facultados do GPP das empresas com contabilidades agrícolas no âmbito da RICA. Refira-se, ainda, que os resultados gerais deste trabalho foram discutidos no âmbito de um congresso internacional, cuja comunicação aguarda publicação nos respetivos proceedings12. Na apresentação dos resultados que se seguem, apesar de termos divulgado anteriormente os resultados da exploração 14, esta não integra os valores médios dos dados, uma vez que sofreu 12 Mofreita, S. e Marta-Costa, A. (2013). Análise da Gestão das Atividades Agrárias através da Contabilidade. Comunicação apresentada no Congresso ESADR 2013, realizado em 17/10/2013, na Universidade de Évora. 81 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA uma evolução diferenciada em relação à sua atividade normal e às restantes empresas, pois vendeu no ano de 2010, grande parte do seu efetivo pecuário. Apresentamos na tabela 29, o PB Vegetal/SAU e o PB animal/CN dos casos de estudo, nas datas sob análise. Em termos gerais, verificaram-se indicadores mais favoráveis na amostra das contabilidades no âmbito da RICA em todos os grupos, com excepção do grupo 2 DE2, nos anos de 2009 e 2010, e no grupo 4, em 2009. No indicador PB Vegetal/SAU verificaram-se resultados mais favoráveis na amostra das contabilidades no âmbito da RICA em todos os grupos, com exceção do grupo 2 DE 2, no ano de 2009 e 2011, e no grupo 4, no ano de 2009. Tabela 29. PB vegetal/SAU e PB animal/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011 PB vegetal/ SAU (€/ha) PB animal/ Cabeça Normal (€/CN) N.º da Exploração 2009 2010 2011 2009 2010 2011 Média Grupo 1 389 235 369 - - - Dados RICA 1.370 701 1.348 - - - 1.309 1.449 1.749 - - - 2.544 2.162 2.592 - - - 2.722 2.642 2.314 - - - Dados RICA 2.564 1.750 2.936 - - - Média Grupo 3 - - - 83 102 250 Dados RICA - - - 252 256 290 Média Grupo 4 211 258 363 282 230 81 Dados RICA 189 519 439 130 195 153 Média Grupo 2 DE 1 Dados RICA Média Grupo 2 DE 2 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Na figura 14 podemos visualizar o PB Vegetal/SAU, onde se verifica a existência de grandes diferenças entre os grupos dos casos de estudo e das contabilidades da RICA. Nalguns casos ocorreu uma diminuição na valorização do PB vegetal, de 2009 para 2010, seguido de um aumento, de 2010 para 2011. Em outros grupos verificou-se um aumento gradual ao longo dos três anos (grupo 2 DE 1 e grupo 4) ou uma diminuição ao longo dos três exercícios (grupo 2 DE 2). 82 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 3.500,00 3.000,00 2.500,00 2.000,00 Ano 2009 1.500,00 Ano 2010 1.000,00 Ano 2011 500,00 0,00 Média Grupo 1 Dados Média Dados Média Dados RICA Grupo 2 - RICA Grupo 2 - RICA DE 1 DE 2 Média Grupo 4 Dados RICA Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 14. PB Vegetal / SAU (€/Ha) Na figura 15 podemos analisar o PB Animal/CN. A sua análise permite verificar valorizações do PB/CN diferentes entre as explorações, entre os dados das contabilidades da RICA e ao longo dos anos em análise. Os dados RICA referentes à média do grupo 3 são os que apresentam uma valorização mais constante e elevada do PB Animal. No entanto, o grupo 4 apresentou em 2009 resultados mais elevados, sendo que em 2010 e 2011 se verificou um decréscimo acentuado neste indicador. 350,00 300,00 250,00 200,00 Ano 2009 150,00 Ano 2010 Ano 2011 100,00 50,00 0,00 Média Grupo 3 Dados RICA Média Grupo 4 Dados RICA Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 15. PB Animal / Cabeça Normal (€/CN) 83 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Na tabela 30 podemos visualizar os valores obtidos no que se refere ao REF/SAU e REF/CN. O REF/SAU é negativo em algumas das explorações em estudo e curiosamente é positivo em todas as explorações na amostra facultada pelo GPP. Quanto ao REF/CN, 17% dos resultados do caso de estudo são negativos, contrariamente aos dados facultados pelo GPP que são todos eles positivos. Tabela 30. REF/SAU e REF/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011 REF/ SAU (€/Hectare) REF/ Cabeça Normal (€/CN) N.º da Exploração 2009 2010 2011 2009 2010 2011 Média Grupo 1 - -421 678 - - - Dados RICA 896 506 905 - - - 226 651 1.000 - - - 1.108 835 943 - - - - - - - - - Dados RICA - - - - - - Média Grupo 3 -67 -20 168 -61 -24 201 Dados RICA 195 152 110 300 409 373 Média Grupo 4 153 398 301 226 912 591 Dados RICA 228 632 439 255 462 247 Média Grupo 2 DE 1 Dados RICA Média Grupo 2 DE 2 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Na figura 16 podemos verificar que o REF/SAU é superior nos grupos de análise compostos por explorações com atividades vegetais tanto nos casos de estudo, como nos dados da RICA. No entanto, não se verifica uma evolução constante para nenhum grupo ao longo dos anos tantos nos casos de estudo, como nos dados do GPP. 84 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 1.200,00 1.000,00 800,00 600,00 400,00 Ano 2009 200,00 Ano 2010 Ano 2011 0,00 -200,00 Média Grupo 1 Dados Média Dados RICA Grupo 2 - RICA DE 1 Média Grupo 3 Dados RICA Média Grupo 4 Dados RICA -400,00 -600,00 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 16. REF / SAU (€/Ha) Na figura 17 podemos analisar o REF/CN. Este indicador é consideravelmente superior no grupo 4, no ano de 2010 e 2011, em relação aos dados RICA. Por outro lado, apresenta-se inferior na média do grupo 3 em relação aos dados do GPP (np). 1.000,00 800,00 600,00 Ano 2009 400,00 Ano 2010 200,00 Ano 2011 0,00 Média Grupo 3 Dados RICA Média Grupo 4 Dados RICA -200,00 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 17. REF / Cabeça Normal (€/CN) Na tabela 31 podemos observar o RE/SAU e o RE/CN. O primeiro reflete valores mais elevados nos dados da RICA em todos os grupos, com exceção dos anos de 2009 e 2010, no grupo 2 DE2. Neste grupo, relativamente ao ano de 2010, os dados do GPP são negativos. 85 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA O RE/CN sugere diferenças significativas entre os dados do GPP e os dados do estudo de caso, sendo os deste último superiores aos primeiros nos anos de 2009 e 2010. Tabela 31. RE/SAU e RE/CN obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011 RE/ SAU (€/Ha) RE/ CN (€/CN) N.º da Exploração 2009 2010 2011 2009 2010 2011 Média Grupo 1 -13 -26 -182 - - - Dados RICA 896 506 905 - - - Média Grupo 2 - DE 1 2 496 476 - - - Dados RICA 1.108 835 943 - - - Média Grupo 2 - DE 2 1.668 1.475 914 - - - Dados RICA 1.104 -95 1.626 - - - Média Grupo 3 839 694 - 619 775 - Dados RICA 280 209 - 300 409 373 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Na figura 18, relativa ao rácio RE/SAU, verificamos uma panóplia de resultados quer ao nível dos casos de estudo, quer ao nível dos dados RICA, quer em relação aos três exercícios. 2.000,00 1.500,00 1.000,00 Ano 2009 Ano 2010 Ano 2011 500,00 0,00 -500,00 Média Dados Média Dados Média Dados Média Dados Grupo 1 RICA Grupo 2 - RICA Grupo 2 - RICA Grupo 3 RICA DE 1 DE 2 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 18. RE / SAU (€/Ha) Na figura 19 apresentamos o RE/CN, verificando-se ser superior na amostra em estudo do que nos dados RICA, nos anos de 2009 e 2010. 86 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 900,00 800,00 700,00 600,00 500,00 Ano 2009 400,00 Ano 2010 300,00 Ano 2011 200,00 100,00 0,00 Média Grupo 3 Dados RICA Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 19. RE / CN (€/CN) Na tabela 32 podemos observar o RT/UTA e o RTF/UTA. O RT/UTA mostra que nas explorações animais, por regra, são obtidos melhores resultados ao nível da rentabilidade do trabalho. Quanto ao RTF/UTA com exceção do grupo 4, os dados RICA são acentuadamente superiores Tabela 32. RT/UTA e RTF/UTA obtidos para os grupos das explorações estudadas e os dados RICA, entre 2009 e 2011 RT/UTA RTF/UTA N.º da Exploração 2009 2010 2011 2009 2010 2011 Média Grupo 1 -71 -175 -1.127 0 -3.340 5.159 Dados RICA 3.374 3.265 3.380 3.331 2.937 2.973 Média Grupo 2 DE 1 3.819 6.837 7.007 1.560 5.112 6.628 Dados RICA 6.306 4.554 5.173 3.003 4.554 5.173 Média Grupo 2 DE 2 8.077 7.600 5.498 - - - Dados RICA 11.634 3.130 -79.340 - - - Média Grupo 3 9.651 14.450 0 -967 -371 3.214 Dados RICA 4.159 5.521 4.705 4.012 5.419 4.566 Média Grupo 4 - - - 2.225 5.659 4.504 Dados RICA - - - 2.818 3.590 2.001 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) 87 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Na figura 20 podemos visualizar que existem variações consideráveis no indicador RT/UTA entre os dados das explorações alvo do estudo de caso e os dados facultados pelo GPP. Dados RICA Média Grupo 4 Dados RICA Média Grupo 3 Dados RICA Ano 2011 Média Grupo 2 - DE 2 Ano 2010 Ano 2009 Dados RICA Média Grupo 2 - DE 1 Dados RICA Média Grupo 1 -100.000 -80.000 -60.000 -40.000 -20.000 0 20.000 Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 20. RT / UTA Na figura 21 apresentamos o indicador RTF/UTA. Tanto se verificam evoluções diferentes entre os vários grupos e os dados RICA correspondentes, como entre os três exercícios. 7000,00 6000,00 5000,00 4000,00 Ano 2009 3000,00 Ano 2010 2000,00 Ano 2011 1000,00 0,00 -1000,00 Média Grupo 1 -2000,00 Dados Média Dados RICA Grupo 2 - RICA DE 1 Média Grupo 3 Dados RICA Média Grupo 4 Dados RICA Fonte: Elaboração própria e dados GPP (np) Figura 21. RTF / UTA 88 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA Na generalidade, não se evidencia um evolução padrão marcante em nenhuma das situações sob estudo, nem para nenhum indicador específico. Tanto se verificam tendências crescentes dos valores, de 2009 para 2010, como decrescentes, de 2010 para 2011. 89 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA 4. Conclusões Ao longo deste capítulo verificamos que existem diferentes resultados e indicadores agrícolas que permitem facultar informações importantes para a gestão da empresa. Através de uma panorâmica dos resultados económicos a nível nacional, mediante os dados disponíveis sobre o último recenseamento agrícola efetuado em 2009, verificamos que, ao nível das tipologias de empresas agrícolas, é a familiar a mais comum, representando cerca de 80% do tecido empresarial do setor. No que se refere à natureza jurídica das mesmas, observamos que o setor é representado essencialmente por produtores agrícolas de pequena dimensão e que gerem pequenas áreas de SAU, muito embora o seu número tenha diminuído a par do aumento do número de sociedades. Entre as várias regiões do país verificamos a coexistência de realidades muito distintas ao nível da dimensão económica, orientação produtiva e mão-de-obra, predominando as explorações de muito pequenas e pequenas dimensões económicas que absorvem o maior volume de mão-de-obra, a par das explorações de média e grandes dimensões económicas que detêm a maior parte da SAU. Constatamos ainda que em relação à mão-de-obra do setor a mesma representa 2,7% das pessoas empregadas em Portugal e, por outro lado, a não assalariada tem um peso de 86% na mão-de-obra total. No que se refere à variação da produção vegetal e animal, verificou-se um predomínio da primeira, em cerca de 57,6%, face à animal. O VAB da Agricultura, entre 2005 e 2012, em Portugal tem vindo a apresentar uma tendência decrescente, contrariamente à evolução ascendente observada na UE27. Neste capítulo analisamos, também, alguns resultados e indicadores técnico-económicos das empresas agrícolas, para os exercícios de 2009, 2010 e 2011, e comparamos esses dados com os dados facultados pelo GPP (n.p.) no âmbito das contabilidades agrícolas da RICA. Quanto aos resultados obtidos para os casos de estudo verificamos uma diversidade de dados quanto à SAU, CN e UTA entre as várias explorações e os três anos de análise. No que diz respeito aos proveitos, estes apresentam valores distintos, destacando-se o ano de 2010, no qual foram recebidos valores superiores de subsídios à exploração devido à regularização de subvenções atribuídas ao abrigo do RPU e no âmbito do Desenvolvimento 90 CAPÍTULO III - RESULTADOS E INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS DO SETOR AGRÍCOLA rural pelo IFAP. Concluímos ainda que a atividade das explorações que possuem efetivo pecuário encontra-se dependente do recebimento de ajudas, sem as quais não seria possível a sobrevivência económica. Ao nível dos custos, são as compras de bens e serviços ao exterior e as amortizações as rubricas que mais pesam no total dos encargos representando 49% e 31%, respetivamente. Nem todos os gastos são valorizados e refletidos na contabilidade, principalmente nas explorações em que é adotado o sistema de contabilidade simplificada, mais especificamente em relação à rubrica de gastos com o pessoal. Este facto prejudica a obtenção dos resultados, que em alguns dos caso poderia ser negativo. Sentimos também dificuldade na comparação entre explorações, pelo facto de todas elas estarem sujeitas a fatores que as diferenciam entre si. Ao nível dos resultados económicos globais calculados anteriormente para os casos sob estudo detetou-se uma discrepância acentuada de valores, dificultando possíveis análises comparativas. Estas diferenças resultam do facto das explorações apresentarem características distintas entre si, ao nível da sua estrutura, organização, modo de funcionamento, atividades exploradas, bem como da aplicação de diferentes fatores produtivos. Tanto se verificaram valores crescentes de 2009 para 2010, como tendências decrescentes de 2010 para 2011. Em relação aos indicadores técnico-económicos obtidos, verificamos que existem diferenças significativas entre os dados das contabilidades dos estudos de caso e entre as contabilidades no âmbito da RICA. Em relação aos três anos de análise, não conseguimos encontrar variações padrão para nenhum indicador. Verificaram-se diferenças significativas entre os resultados das explorações alvo do estudo de caso e os dados das explorações facultados pelo GPP. Outros indicadores poderiam ser úteis para complementar este trabalho, no entanto, não se obteve informação disponível para o efeito na contabilidade geral, pois seria necessário por exemplo, a aplicação se um sistema de contabilidade analítica a todas as explorações. Ao nível dos 20 casos de estudo, verificamos que a amostra é constituída apenas por empresários em nome individual, sendo que 30% dispõem de contabilidade organizada. 91 92 CAPÍTULO IV - Conclusões e considerações finais Este último capítulo, onde faremos as conclusões e considerações finais, será estruturado em duas partes essenciais. Na primeira iremos efetuar algumas considerações sobre os primeiros capítulos deste trabalho com vista a darmos resposta aos principais objetivos propostos com a realização deste estudo. Finalmente, numa última parte, faremos breves considerações acerca das limitações e obstáculos encontrados durante a realização do trabalho desenvolvido. 1. Conclusões Ao longo deste trabalho abordamos vários aspetos relacionados com a análise da gestão das atividades agrárias através da contabilidade, apoiando-nos numa revisão bibliográfica de documentos e bases de dados disponíveis e recorrendo também aos dados de 20 casos de estudo. Verificamos que, no que diz respeito à evolução contabilística para o setor agrícola, só após a entrada de Portugal na UE é que as empresas agrícolas começaram a ter obrigações fiscais inerentes ao recebimento das ajudas comunitárias e a necessidade de declarar esses rendimentos. No entanto, tem havido a preocupação, a nível nacional, comunitário e internacional, em criar normas homogéneas semelhantes nos vários países para que a contabilidade apresente informação comparável entre várias realidades e países. Por outro lado, apesar da evolução das obrigações e necessidades da empresa ao nível contabilístico, é preocupante verificarmos que, ainda, cerca de 84% das explorações agrícolas existentes não apresentam factos patrimoniais. Várias questões se colocam para tentar identificar os motivos que originam esta situação. Sabendo que a contabilidade permite, para além de dar resposta às obrigações externas, relacionadas com a fiscalidade e as ajudas comunitárias no âmbito de projetos de investimento, um apoio fundamental à gestão da própria empresa. Será este problema ultrapassado com a comunicação do IFAP à AT da titularidade dos sujeitos passivos que recebem subsídios e os seus montantes? Esperemos que sim, porque na maior parte dos casos tratam-se de pequenas explorações, cujos rendimentos a declarar ficariam excluídos de tributação. Por outro lado, o conhecimento dos seus resultados poderia trazer-nos outras mais-valias. 93 CAPÍTULO IV - Conclusões e considerações finais Verificamos ainda que dos três sistemas de contabilidade existentes para o setor agrário, apenas o misto satisfaz as necessidades de gestão da empresa, o cumprimento das obrigações fiscais e dos investimentos comunitários. Porém esse sistema não pode ser utilizado em empresas com contabilidade organizada. Por isso, as empresas agrícolas devem utilizar sempre um sistema de contabilidade geral em articulação com um sistema de contabilidade analítica, para poderem cumprir com todas as necessidades da empresa agrícola. Na panorâmica dos resultados do setor agrícola constatamos que este é essencialmente representado por pequenas explorações que possuem na sua maioria uma tipologia de empresa agrícola familiar. Verificamos uma diversidade de situações entre as várias regiões de Portugal Continental e ilhas. Apuramos que os resultados da empresa agrícola são calculados com base em três fatores essenciais de produção: o trabalho, o capital e o empresário. Estes resultados permitem-nos avaliar a eficiência da gestão empresarial e propor melhorias. Para estabelecermos bases de comparação entre os resultados socorremo-nos de diversos indicadores técnico-económicos, calculados tendo por base a informação disponibilizada pelos empresários agrícolas e os dados não publicados facultados pelo GPP. Com estes elementos concluímos que existe uma diversidade de situações devido, essencialmente, às diferenças existentes entre as explorações alvo de estudo. De facto, não se detetou nenhuma evolução padrão em nenhum grupo comparativo, nem ao longo dos exercícios, devido à complexidade de cada unidade produtiva. Verificamos, ainda, que os empresários nem sempre apresentam todos os documentos de despesa, principalmente se estiverem no sistema de contabilidade simplificado, o que prejudica a análise dos seus resultados e, consequentemente, a gestão da empresa agrícola. É o caso, por exemplo, da ausência de dados sobre cada uma das atividades praticadas nas explorações. Também não foi possível estabelecer comportamentos padrão entre aos dados do estudo de caso e os dados do GPP das contabilidades da RICA. Porém, consideramos que os objetivos inicialmente propostos para o trabalho foram na sua maioria alcançados, apesar de um conjunto de limitações que se expõem de seguida, sendo este estudo um documento de divulgação de dados sobre as contabilidades agrícolas e onde se confirma a importância da contabilidade como um instrumento de apoio à gestão da empresa agrária. 94 CAPÍTULO IV - Conclusões e considerações finais 2. Considerações finais Ao realizarmos este trabalho deparamo-nos com algumas limitações e obstáculos que passamos a identificar. Verificou-se a ausência de bibliografia recente sobre a gestão da empresa agrícola. Os manuais encontrados sobre a temática, apesar de se apresentarem atuais no que diz respeito a alguns conceitos e fórmulas de cálculo, remontam às décadas de 70 e 80, do século passado, tornando-se insuficientes para uma abordagem teórica mais esclarecedora e atual. A par da ausência de referências bibliográficas recentes, deparamo-nos com a existência de poucos estudos sobre os resultados das empresas agrícolas a nível regional e nacional, o que limitou fortemente a análise dos dados e as comparações com outros trabalhos. No âmbito dos casos em estudo, constatamos que nem todas as explorações agrícolas apresentam contabilidade organizada, o que aliado ao facto do empresário agrícola nem sempre disponibilizar ou arquivar todos os comprovativos obtidos com os gastos efetivos da exploração, origina a que não seja possível, por vezes, apurar com rigor o resultado líquido do período. De facto, tivemos a oportunidade de confirmar que nem todos os gastos são valorizados e refletidos na contabilidade. Deste modo, e ao nível da gestão económico-financeira da exploração, o agricultor poderá enfrentar algumas dificuldades no momento da tomada de decisões inerentes à sua atividade. No sentido de ultrapassar algumas das lacunas identificadas, consideramos que seria importante alargar este tipo de estudos a mais casos de estudo, para que a disponibilidade de dados seja mais abrangente e permita uma análise de resultados e indicadores técnicoeconómicos das empresas agrícolas a nível nacional, que possam, consequentemente, beneficiar os empresários e profissionais envolvidos no setor. São necessários mais valores de referência que permitam a análise comparativa de todas estas unidades de produção, para que as mesmas possam melhorar a sua rentabilidade. Consideramos importante que os organismos púbicos publiquem e disponibilizem informação sobre esta temática. O setor requer mais investigações e estudos disponíveis sobre a gestão das atividades agrárias através da contabilidade, para que os empresários agrícolas, profissionais da contabilidade e do setor agrário em geral possam apoiar e potenciar o desenvolvimento destas atividades tão essenciais à sociedade. É necessário também envolver os próprios empresários/agricultores 95 CAPÍTULO IV - Conclusões e considerações finais para que estes reconheçam o valor destas ferramentas para uma gestão mais correta e racional das suas explorações. A intensificação de estudos sobre os resultados das atividades agrícolas são urgentes para conhecermos e corrigirmos problemas de gestão que possam influenciar o desenvolvimento do setor. Seria interessante investigar as causas de existirem tantas diferenças entre as explorações agrárias, para verificar se, em função das atividades produzidas, é possível estabelecer valores padrão que sejam comparáveis entre si. A aplicação de um sistema de contabilidade de gestão às explorações alvo do estudo de caso articulada com o sistema de contabilidade geral adotado, seria uma investigação pertinente que lançamos aqui para uma análise mais exata e imperativa, que revele alguns dos motivos que justificam, por exemplo, as fortes diferenças detetadas neste trabalho, entre os dados dos casos de estudo e os dados facultados pelo GPP (n.p.). 96 BIBLIOGRAFIA Assembleia da República (2011). Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro. Aprova o Orçamento do Estado para o ano de 2012. Diário da República, 250. Série I, pp. 5538-(48) – 5538-(244). Assembleia da República (2012). Lei n.º 66-B/2012, de 31 dezembro. Aprova o Orçamento do Estado para o ano de 2013. Diário da República, 252. Série I, pp. 7424-(42) – 7424-(240). Avillez, F.; Estácio, F. & Neves, M. (1987). Análise de Projectos Agrícolas de Investimento no Contexto da Política Agrícola Comum, Banco Pinto & Sotto Mayor, Lisboa. Barañano, A. (2008). 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