EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ASSISTÊNCIA TÉCNICA RURAL: UM ESTUDO
SOBRE OS AGRICULTORES DE MANDIOCA EM VITÓRIA DE SANTO
ANTÃO/PE
Leonardo Rodrigues Ferreira¹, Luiz Claudio Ribeiro Machado, Danúzio Weliton Gomes da
Silva, Walber Santos Baptista, Jarbas de Araújo Gomes
1. [email protected]
Resumo
Nesta pesquisa investigamos a educação ambiental e a assistência técnica rural para o produtor
rural de mandioca da agricultura familiar, e como a educação ambiental pode contribuir para
melhorar a produtividade agrícola. Nosso objetivo é analisar a educação ambiental e a
assistência técnica rural pela Sociedade Nordestina de Ecologia, aos produtores de
mandiocultura, de Vitória de Santo Antão/PE. Os resultados da pesquisa revelaram a baixa
escolaridade dos agricultores, a ausência da utilização de tecnologias adequadas devido aos
recursos limitados.
Palavras-chave: Educação; Ambiental; Extensão rural; Mandiocultura.
Abstract
In this research investigated the environmental education and rural technical assistance for
farmers of cassava family farming, and how environmental education can contribute to
improving agricultural productivity. Our goal is to analyze the environmental education and
rural technical assistance by the Northeastern Ecological Society, producers of cassava, of
Vitória de Santo Antão/PE. The survey results revealed the low education of farmers, the lack
of use of appropriate technologies due to limited resources.
Keywords: Education; environmental; Extension; Cassava.
Introdução
A educação ambiental tem relação direta com o homem do campo, a área agrícola, neste sentido,
buscamos na literatura, estudo de técnicas que facilitem o trabalho do trabalhador rural, nas
suas atividades, preservando também o meio ambiente. O objetivo geral deste trabalho é
analisar a educação ambiental e a assistência técnica rural pela Sociedade Nordestina de
Ecologia – SNE, aos produtores de mandiocultura, participantes do Projeto Corredor da Farinha
de Vitória de Santo Antão/PE. Tendo assim os seguintes objetivos específicos: Identificar o
perfil do trabalhador rural da Zona da Mata de Pernambuco; Analisar a educação
socioambiental disseminada pela SNE; Apresentar a metodologia utilizada pela SNE na
assistência técnica rural. O objeto de estudo se justifica, pela importância que tem para a
sociedade, tratando assim de discutir, duas áreas de fundamental importância para a vida das
pessoas, que é a conservação do meio ambiente e a melhoria das atividades rurais na agricultura
familiar, trazendo assim benefícios diretos para o desenvolvimento social e ambiental para
população rural.
Quanto à metodologia, o trabalho de pesquisa descreveu os fatos relacionados com a educação
socioambiental para melhorar as técnicas de produção agrícola; esse estudo de disseminação da
educação rural para o conhecimento técnico agrícola busca a melhoria dos processos rurais e a
promoção da inclusão da assistência técnica agrícola.
Referencial Teórico
A educação é fator determinante no desenvolvimento de qualquer sociedade, é através dela que
os indivíduos fazem suas escolhas. A educação ambiental tem um papel fundamental para o
homem do campo, que precisa utilizar conhecimentos técnicos para obter resultados na
produção rural.
A Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE é uma organização não governamental, cujo
objetivo é juntar indivíduos e instituições que trabalham com o meio ambiente. Iniciando seus
trabalhos em 1986, possui como extensão geográfica de atuação nove estados do nordeste do
Brasil. A SNE, em toda sua história, tem contribuído para as mais diversas questões ambientais,
tais como: estratégias para o desenvolvimento local e regional, e as políticas de meio ambiente
para os municípios, os estados e a federação; a proteção dos ecossistemas do Nordeste; a
utilização sustentável dos recursos naturais; a produção de mudas das espécies nativas; o
reflorestamento e a recuperação de ambientes degradados.
Segundo a Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE (2015), o conhecimento ambiental faz
com que o produtor, veja as vantagens da sua terra, é neste momento que o agricultor utiliza os
recursos naturais para a sua sobrevivência. É pelo conhecimento popular que o homem do
campo, sabe o período de chuva da região, quais são as lavouras mais resistentes ao clima, ou
como fazer com que uma planta proteja a outra contra as pragas da região e qual a forma de
plantar determinadas culturas. Uma das orientações dos técnicos da SNE é o plantio de árvores
nas propriedades para manter o abastecimento de água na localidade.
O serviço de assistência técnica rural consiste em visitas para identificar as necessidades e
potencialidades de cada família da agricultura familiar, orientando e organizando as atividades
rurais, focando a produtividade e a qualidade dos alimentos produzidos na área rural.
De acordo com Paulo Freire (1979), a educação na zona rural aponta para algumas
características sobre a vida no campo, ou seja, as experiências adquiridas pelo trabalhador rural
devem ser aproveitadas, e o método educacional deve ser diferente, pois sua realidade diverge
da do ensino tradicional da área urbana; a comunicação rural deve levar em consideração o
diálogo adequado para esses trabalhadores que vivenciam todas as fases da produção agrícola,
fazendo com que sejam alfabetizados na busca da melhoria do seu bem-estar e da condição de
trabalho.
Para o educador Paulo Freire (1979), a forma de educar deveria se adaptar à realidade de cada
um; o homem do campo que não teve oportunidade de estudar no período normal deve ser
alfabetizado, baseado em seu mundo, sendo aproveitada toda a sua vivência e todo o seu
conhecimento, bem como seu ambiente faria parte das ferramentas de ensino, sempre
comparando o ensino a seu trabalho e a sua forma de viver os acontecimentos, aproveitando
todo o aprendizado que absorveu com a vida.
Nesse processo, a educação, ou seja, o nível de escolaridade do produtor rural, torna-se peça de
fundamental importância, com destaque para a do agente disseminador da informação (técnico
agrícola ou agrônomo), descobrir o limite máximo resultante da experiência acumulada pelo
usuário, demarcada por sua prática social, que está introduzida num costume mais amplo, a do
grupo social ao qual pertence; o produtor rural é que está relacionado a uma dada situação de
classe que existe na sociedade na qual o grupo está inserido. Esse problema é peculiar quando
se trata da transmissão da informação técnica para produtores rurais (FREIRE, 1991).
Para Freire (1987) a forma de educar deveria se adaptar à realidade de cada um, o homem do
campo que não teve oportunidade de estudar no período normal, e deve ser alfabetizado,
baseado no seu mundo, sendo aproveitados toda sua vivência e conhecimento, bem como o seu
ambiente faria parte das ferramentas de ensino, sempre comparando o ensino ao seu trabalho e
a sua forma de viver aos acontecimentos, aproveitando todo o aprendizado que ele absorveu na
vida.
Segundo a política nacional de educação ambiental, lê-se Lei nº 9798/1999 entende-se por
educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de
vida e sua sustentabilidade.
Na visão de Loureiro (2004), educação ambiental é um entendimento que se insere e se
dinamiza na educação, construída nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências
pedagógicas e o ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” partes centrais e
idênticas. Neste contexto, o ambiente se justifica pela medida que serve para revelar as
dimensões esquecidas, pela história pelo novo fazer educativo, no que se refere ao entendimento
da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as questões antagônicas da modernidade
capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético, que separa: atividade econômica, ou
outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e
emoção etc.
Nesse contexto, é indispensável à participação da comunidade local, vinculada a determinado
processo de educação ambiental e de aprendizagem social para que toda a comunidade
compartilhe das vantagens de se conservar o meio ambiental e entendam que todas as partes,
isto é, indivíduos, são determinantes para o fortalecimento do todo, que é o meio ambiente.
Metodologia
No trabalho de campo, foram realizadas observações sistemáticas in loco, e aplicados
questionários, em uma amostra aleatória, com os disseminadores da informação (técnicos
agrícolas da SNE), e assentados produtores de mandioca da agricultura familiar, beneficiados
pelo projeto Corredor da Farinha da SNE, localizados no assentamento Açude Grande na zona
rural do município de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco.
A pesquisa de campo foi realizada no assentamento Açude Grande na zona rural do município
de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, com produtores da agricultura familiar que
trabalham no plantio da mandioca, e que foram beneficiados através do projeto de assistência
técnica, Corredor da Farinha, executado pela SNE.
Em um universo de 24 produtores rurais, foi analisada uma amostra aleatória com 15 produtores
participantes do projeto Corredor da Farinha, devido as distâncias entre as propriedades rurais
e pelo fato de não encontrar o produtor em sua residência no momento da visita, para aplicação
do questionário.
O projeto Corredor da Farinha idealizado pela SNE foi submetido e aprovado pelo Programa
da Mata Norte - PROMATA, que foi o órgão financiador, cabendo à SNE sua execução, que
logo que foi iniciada, surgiu outra oportunidade: o edital público da Petrobras Fome Zero 2006.
Nesse ano, aconteceu em Lagoa de Itaenga, o 4º Encontro da Comunidade de Aprendizagem,
organizado pelo SERTA, uma oficina para construção, nomeada Corredor da Farinha, cujas
diretrizes para uma estratégia de ação foram traçadas, em conjunto, pelos agricultores, donos
de casas de farinha, gestores públicos, técnicos e outros interessados (PIMENTEL, 2008).
Na pesquisa, buscou-se compreender e traçar o perfil do agricultor, de modo a conhecer quem
são esses produtores familiares. Assim, se constataram os resultados do projeto realizado pela
SNE para esses produtores, beneficiados e assistidos pelo projeto, principalmente como foram
às implicações nesses estabelecimentos, havendo ou não melhora em sua produção.
Resultados
Quando foram questionados como são realizadas as abordagens sobre educação ambiental e a
assistência técnica rural os pequenos produtores rurais, informaram que são feitas mobilizações
e articulações com as associações; a metodologia de abordagem é simples e com um método
totalmente voltado para o entendimento do agricultor; no primeiro contato, são apresentados os
objetivos do projeto, e a adesão do produtor é espontânea e terá como oferta a assessoria técnica
gratuita por parte do projeto; nessas condições, a grande maioria dos produtores adere, visto
que o poder público é omisso ou ineficiente.
Foi identificada a baixa qualificação profissional dos produtores rurais da agricultura familiar,
em sua grande maioria, os chefes de família, possuem ainda um baixo nível escolar e
complementam suas rendas com a bolsa família do governo federal.
Os produtores rurais informaram que pelos veículos de comunicação, tais como televisão, rádio
e jornal se informam sobre a importância de preservação ambiental e até entendem, quais as
maneiras corretas de se fazer suas atividades sem danificar ou degradar o meio ambiente, mas
pelas condições que eles vivem, quase sempre não possuem tempo, nem tão pouco recursos
para realizar a coleta de lixo da forma correta, sem queimar, ou limpar o terreno (área) para
plantar, sem utilizar a queimada, mas para isso precisariam de recursos, pois os custos para
limpar uma área, de acordo com o tamanho, são bastante elevados.
No trabalho de assistência técnica rural e conscientização ambiental, os extensores rurais
relataram sobre o que são mais gratificantes no trabalho que eles desenvolvem que é a
autonomia do agricultor, o aumento de sua renda e melhor qualidade de vida das pessoas que
vivem no campo, é motivos que tornam gratificante o trabalho, pelo fato da consciência de estar
contribuindo para minimizar a miséria que perdura nas pequenas propriedades rurais, ou que
um simples sorriso de um agricultor, torna importante a assistência técnica agrícola.
Os resultados da pesquisa indicam que a SNE está alcançando seus desafios, promovendo o
desenvolvimento da agricultura familiar, contribuindo para a melhoria do meio ambiente. Em
contrapartida, é nítida a carência da assistência técnica rural para a agricultura familiar por falta
da participação dos governos, que deveriam apoiar, promover e financiar os produtores, mas os
órgãos de assistência técnica rural que atuam no estado não conseguem atender à demanda por
falta de estrutura humana e financeira que atenda às necessidades dos produtores da agricultura
familiar; existe uma grande preocupação desses agricultores com a possibilidade de perder a
assistência técnica rural gratuita, promovida pela SNE, pois todos estão cientes de que trata-se
de uma ONG, que realiza projetos por tempo determinado, que são renovados periodicamente.
Considerações Finais
A metodologia de trabalho para o desenvolvimento da assistência técnica rural e educação
ambiental, utilizada pela SNE atende às necessidades dos produtores da agricultura familiar,
pois os resultados contribuem significativamente para o início da mudança do cenário produtivo
e econômico dessa população beneficiada pelo projeto.
A educação ambiental contribui de forma efetiva, para a preservação do meio ambiente,
favorecendo também o cultivo e extração de alimentos orgânicos, livres de produtos químicos
e poluentes, que fazem mal a saúde da população.
Observamos que o agricultor possui conhecimentos das formas corretas de preservação
ambiental, mas eles estão ainda muito centrados em uma cultura de exploração da terra, e sabem
das prováveis perdas, do não cumprimento da utilização de algumas técnicas de plantio para
deixar o solo mais rico e saudável, mas diante da pratica mais simples, esquecem ou não
utilizam as formas corretas de se fazer suas atividades agrícolas.
O projeto Corredor da Farinha, desenvolvido e executado pela SNE, desenvolve papel de
grande importância para o crescimento e o desenvolvimento da agricultura familiar na região
da mata do estado de Pernambuco, contribuindo para o fortalecimento da agricultura, atendendo
à agricultura familiar, preenchendo uma lacuna deixada pelos órgãos públicos aos níveis
federal, estadual e municipal.
A metodologia de trabalho para o desenvolvimento da assistência técnica rural utilizada pela
SNE atende às necessidades dos produtores da agricultura familiar, pois os resultados
contribuem significativamente para o início da mudança do cenário produtivo e econômico
dessa população beneficiada pelo projeto.
A SNE, não somente fortaleceu a cultura da mandioca nos municípios atendidos pelo projeto,
mas também está melhorando a qualidade de vida dessa população, pois sua atuação, não se
limita apenas à assistência técnica rural, como também às reais necessidades dos produtores da
agricultura familiar, como o incentivo à diversificação de outras culturas, a utilização de
tecnologias rurais, orientações para o atendimento ao mercado consumidor, alternativas de
rendimentos para o produtor rural, aumento de sua renda familiar, orientações que têm
contribuído significativamente para o desenvolvimento desse segmento da agricultura.
Referências
ASSISTÊNCIA TÉCNICA RURAL. Disponível em: <http://www.mds.gov.br> Acesso em
maio 2015.
FREIRE, Isa Maria. Barreiras na comunicação da informação tecnológica, Ci. Inf., Brasília,
20(1):51-54, jan./jun. 1991.
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 12ª Edição. Editora Paz e Terra. São Paulo.
1979.
LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambietal Transformadora. In: Layrargues, P. P.
(Coord.) Identidades da Educação Ambiental Brasiliera. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2004.
POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - Lei nº 9795/1999, Art 1º.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm> Acesso em maio 2015.
SNE – Sociedade Nordestina de Ecologia – Disponível em: <http://www.sne.org.br> Acesso
em maio 2015.
PIMENTEL, Alex (org.) Corredor da Farinha - Uma visão de futuro. Recife, SNE Ed.: 2008
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