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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
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7Wi
AVM – FACULDADE INTEGRADA
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O TEATRO COMO RECURSO CAPAZ DE ESTIMULAR
A ATENÇÃO E A MEMÓRIA DA PESSOA COM
Marisi da Costa Santos
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M
EN
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G
ID
O
NECESSIDADE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
ORIENTADORA:
Profª Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2014
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
O TEATRO COMO RECURSO CAPAZ DE ESTIMULAR
A ATENÇÃO E A MEMÓRIA DA PESSOA COM
NECESSIDADE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: Marisi da Costa Santos
Rio de Janeiro
2014
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, à minha mãe e ao meu pai, o
amor, o carinho, os esforços,
os exemplos de
fé e a determinação, referências para toda a
minha vida.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Felipe, Flávia, João Paulo,
Jonatha, Marcelly, Pedro, Taís Pereira, Tamyris e
Thaís Pinho, jovens portadores de deficiência
intelectual, que me inspiraram à buscar no teatro
formas alternativas para desenvolver habilidades
e competências e me fizeram descobrir que
limitações físicas e intelectuais podem ser
superadas com emoção, atenção e amor.
5
RESUMO
O teatro exerce um fascínio indiscutível sobre crianças, jovens e
adultos. Pouco utilizado como ferramenta pedagógica, mas é inegável a sua
capacidade de envolver e emocionar atores e espectadores, direcionando a
atenção num único foco de interesse, eliminando elementos distratores, e
considerando apenas o que diz respeito ao foco atencional. Assim, com a
percepção aguçada registra-se na memória, fatos ou ideias a ele associados,
auxiliando na constituição, consolidação e resgate de memórias. A atividade
teatral é extremamente útil no trabalho com pessoas que necessitam de
educação especial, pois, favorece a expressão verbal, auxilia na consciência
corporal, fortalece a autoestima e estimula a interação social. Torna-se
necessário destacar que muitos alunos necessitam de referências que lhes
permitam compreender, assimilar conceitos e realizar associações, para tanto
precisam vivenciar experiências ou resgatar memórias, realizar associações
que facilitem o processo de compreensão de conceitos e transferências de
aprendizagem. A Neurociência auxilia na compreensão de como a atividade
teatral pode estimular o funcionamento das áreas cerebrais, propiciando a
ocorrência de fenômenos neurobiológicos responsáveis pela produção de
neurotransmissores, especialmente aqueles envolvidos na atenção, na
constituição, consolidação e resgate de memórias. A atividade teatral
apresenta-se como recurso pedagógico importante para o trabalho com
pessoas que necessitam de educação especial, atuando nas áreas de
desenvolvimento humano e colaborando para a superação de dificuldades e
inclusão social.
Palavras-chave: Teatro, atenção, memória, educação especial, expressão
verbal, consciência corporal, autoestima, interação social, Neurociência,
neurotransmissores, inclusão social.
6
METODOLOGIA
Considerando a importância do teatro na educação, esta pesquisa
bibliográfica fundamenta-se em autores que reconhecidamente aliaram seus
conhecimentos teóricos à prática teatral como Vic Granero e Ricardo Japiassu.
Além das experiências teatrais relatadas pelos autores citados,
somam-se experiências de campo da autora desta pesquisa.
Para compreender o funcionamento das áreas cerebrais e dos
mecanismos neurológicos acionados a partir dos estímulos sensoriais
presentes na atividade teatral, buscamos as contribuições da neurociência,
através de autores como: Roberto Lent, Ramon M. Cosenza, Leonor B. Guerra,
Marta Pires Relvas, Suzana Herculano Houzel, Daniel Chabot e Michel Chabot
e Ivan Izquierdo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I – Uma Habilidade Chamada Atenção
14
CAPÍTULO II – Memória: Uma Rede de Associações
19
CAPÍTULO III – O Teatro como Ferramenta Pedagógica
28
CONCLUSÃO
37
BIBLIOGRAFIA
38
ÍNDICE
39
8
INTRODUÇÃO
De acordo com o DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais 4ª. Ed. Texto revisado) o diagnóstico de Deficiência
Intelectual é embasado em três critérios essenciais; Critérios: QI- Quociente de
Inteligência abaixo de 70; Critério B: Limitações significativas no funcionamento
adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades:
comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais,
uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas,
trabalho, lazer, saúde e segurança; Critério C:ocorrer antes dos dezoito anos.
Trabalhar com pessoas que tenham necessidade de educação
especial requer olhar para suas necessidades, seus interesses e motivações.
Perceber habilidades desenvolvidas e à desenvolver, objetivando construir
competências. Para tanto, torna-se necessário observar vivências, realizar
interferências planejadas, oportunizar experiências que possibilitem a pessoa
conhecer-se e ser reconhecido como capaz de expressar seus sentimentos,
opiniões , assimilar conhecimentos e transferir aprendizagens.
O teatro surge então, como importante ferramenta pedagógica, que
através de suas múltiplas linguagens, desperta o interesse, estimula a
expressão oral, a comunicação, o autoconhecimento , a autoestima positiva, a
compreensão e assimilação de conceitos.
De acordo com Relvas (2012):
A aprendizagem se dá em um clima estruturadamente afetivo,
estimulando todas as possibilidades de linguagem,
promovendo a diversificação das sensações, por meio de
atividades lúdicas, das artes e das interações sociais que terão
como objetivo o desenvolvimento cognitivo e a otimização do
próprio processo de aprendizagem (RELVAS, 2012, p.148).
Segundo a Neurociência, a emoção e o prazer possibilitam a
ativação de áreas cerebrais e a produção de neurotransmissores capazes de
mobilizar a atenção, auxiliando nos processos de formação, consolidação e
evocação de memórias e, colaborando no desenvolvimento e aprendizagem.
9
No capítulo I explica-se que a atenção é a habilidade de eliminar
estímulos distratores, e focar o pensamento em um único objeto e em tudo que
a ele diz respeito. .O foco da atenção relaciona-se a mecanismos automáticos
e voluntários .Ela pode estar voltada a estímulos sensoriais ou a objetivos
internos, auxiliando no processo de memorização.
No capítulo II, a memória é a capacidade de adquirir, armazenar
informações que possam ser recuperadas e utilizadas futuramente. As
memórias podem ser classificadas segundo sua função, tempo de duração e
conteúdo.
E finalmente, no capítulo III, o processo de planejamento, montagem
e representação de uma peça teatral envolve além da emoção, diferentes tipos
de atenção e memória. Esta atividade proporciona a ativação de áreas
cerebrais, favorecendo a ocorrência de sinapses, criando novas conexões
neurais e auxiliando no desenvolvimento e inclusão social.
10
CAPÍTULO I
UMA HABILIDADE CHAMADA ATENÇÃO
Atenção: “Processo que consiste em focalizar certos aspectos da
experiência de modo que se tornem relativamente mais vivos; admite-se um
campo central de atenção e zonas marginais.” (MICHAELIS, Dicionário de
Português).
A atenção é influenciada por vários processos como: preferências,
experiências anteriores, necessidades e estados emocionais.
O cérebro,
principal órgão do sistema nervoso central, é o centro da sensibilidade, das
inteligências e das capacidades cognitivas e emocionais. Cabe a ele perceber
no ambiente, estímulos importantes para a sobrevivência do indivíduo e da
espécie. O cérebro processa a todo o momento estímulos significantes e
aprendizagens decorrentes. Ele possui uma motivação intrínseca para
aprender, porém só o faz em situações significativas para ele. Assim sendo,no
contexto escolar uma forma que o professor tem para atrair a atenção é expor
o conteúdo a ser estudado, de modo que os alunos o identifiquem como
significativo, relacionando-o aos conhecimentos existentes, atendendo as
expectativas ou que seja estimulante e agradável.
Segundo Lent, a atenção é um mecanismo de focalização dos
canais sensoriais, capaz de selecionar dentre inúmeros estímulos provenientes
do ambiente, aqueles que são mais relevantes para o observador, facilitando a
ativação de certas vias, regiões ou neurônios, colocando em primeiro plano sua
operação e num plano secundário a de outras regiões que detêm aspectos
irrelevantes para a situação.
Considera-se
atenção,
a
habilidade
de
eliminar
estímulos
irrelevantes, considerados distratores e focar o pensamento em um único
objeto e em tudo que diz respeito a ele, através do pensamento cognitivo.
11
A todo instante diferentes estímulos sensoriais atuam sobre o ser
humano, porém, a atenção será direcionada para aquele que de alguma forma,
se mostrar mais interessante, de maior relevância ou interesse, promovendo
um direcionamento automático do foco de atenção.
Através das cadeias neuronais, informações são levadas ao cérebro.
Porém, é essencial um estado de vigília, que permita ao cérebro manipular a
atenção, focando a consciência no objeto.
O mecanismo da atenção apresenta dois aspectos importantes: a
criação de um estado de alerta, em que ocorre uma sensibilização, com a
produção dos neurotransmissores adrenalina e cortisol e, um posterior estado
de sensibilização sobre determinados processos mentais e neurológicos.
A informação chega ao cérebro através de cadeias neuronais cujas
estações sinápticas intermediárias podem ser inibidas, impossibilitando que ela
alcance a região onde se tornaria consciente. Em razão da existência de
centros nervosos reguladores desse processo, pode-se direcionar a atenção
para determinado estímulo, em detrimento de outros.
Mesmo quando estamos dividindo a atenção pela utilização de
canais sensoriais diferentes, o desempenho não é o mesmo, e
aspectos importantes da informação podem ser perdidos. Isso
ocorre, principalmente, se a demanda de um dos canais é
aumentada. Ao tentar dividir a atenção, o cérebro sempre
processará melhor uma informação de cada vez. (CONSENZA
& GUERRA, 2011, p.47)
Há de se ressaltar que, a manutenção da atenção por um tempo
maior necessita da ativação de circuitos neurais específicos, que depois de um
certo período, o foco atencional tende a ser desviado por outros estímulos do
ambiente ou por processos internos, como por exemplo, novos pensamentos.
Torna-se imprescindível um nível de vigília que favoreça ao cérebro
manipular a atenção, focalizando a consciência em diferentes modalidades
sensoriais, em acontecimentos, objetos ou em algum aspecto importante para
o indivíduo.
12
Deve-se considerar que um alto nível de ansiedade pode dificultar a
atenção e o processo cognitivo.
Cosenza & Guerra (2011) relatam a existência de um sistema
funcional responsável pela regulação dos níveis de vigilância, assim descrito:
O principal circuito desse sistema estrutura-se a partir de um
grupo de neurônios que possuem um pigmento que dá a essa
região uma coloração azulada. Esse grupamento denominado
lócus ceruleus, (local azul), fica localizado no mesencéfalo,
uma porção do encéfalo abaixo do cérebro. (COSENZA &
GUERRA, 2011, p.43).
Fonte: Neurociência e Educação, 2011, p. 43.
A
noradrenalina
é
o
principal
neurotransmissor
produzido
pelos neurônios dessa região, sendo responsável pela regulação do estado de
alerta do organismo.
Há evidências de que a dopamina está relacionada à manutenção
da memória.
13
É importante destacar que o primeiro circuito neuronal que governa
a atenção é o relativo à regulação da vigilância.
A atenção pode ser regulada por estímulos periféricos, ou através do
processamento cerebral, considerando estados internos do organismo.
Pesquisas têm demonstrado que de alguma forma o foco atencional
auxilia a resposta dos neurônios corticais. A seleção perceptual decorre de um
mecanismo que auxilia nas respostas neuronais, ocorrendo nas áreas
sensoriais e associativas.
As áreas corticais recebem projeções principalmente, das áreas
localizadas no lobo temporal e no córtex parietal posterior ,auxiliando o
processo sináptico, para cada região onde direciona-se o foco da atenção, que
poderá ser um local no espaço ou um elemento específico do objeto
considerado.
Estudos realizados por Posner comprovam que o indivíduo em
estado de alerta, com a atenção fixa em um determinado objeto ( podendo ser
visual, auditivo ou de qualquer outro sentido), quando impelido pela vontade ou
estímulo direcionador,
deixa o foco atencional do estímulo inicial,
direcionando-se a um novo ponto, uma nova fixação da atenção, acompanhada
ou não de movimentos oculares correspondentes.
A respeito das pesquisas realizadas por Posner, (LENT, 2002,
p.638) conclui “... a atenção deve consistir em um mecanismo de sensibilização
ou facilitação das respostas perceptuais do córtex cerebral”.
14
1.1. Tipos de Atenção
1.1.1. Atenção Explícita ou Aberta
A atenção explícita ou aberta têm o seu foco da atenção idêntico ao
da fixação visual. Os movimentos oculares estão direcionados ao foco da
atenção.
De modo geral, a atenção é direcionada aquilo que se fixa o olhar,
geralmente posicionados no centro da fóvea.
Lent (2002) dispõe que:
A atenção explícita tende a ser automática: sem nos darmos
conta, vamos movimentando o foco atencional pelo ambiente à
medida que movimentam os olhos. O controle voluntário é o
mesmo do olhar; o foco atencional segue junto com ele (LENT,
2002, p.629).
1.1.2. Atenção Implícita ou Oculta
A atenção implícita ou oculta permite que o foco da atenção esteja
fora do eixo da fóvea, isto é, o olhar pode estar focalizado em um determinado
objeto, porém, a atenção está direcionada a outro elemento do ambiente.
Considerando a atenção implícita Lent (2002) afirma:
Os mecanismos neurais que permitem a seleção dos objetos a
serem percebidos, neste caso operam nas regiões vizinhas à
representação do eixo visual,
na periferia não são
selecionados apenas pelo local onde tendem a aparecer, mas
também por outros parâmetros (LENT, 2002 p, 638).
1.1.3. Atenção Sensorial ou Percepção Seletiva
A atenção focada em estímulos sensoriais é chamada de Atenção
Sensorial ou Percepção Seletiva.
A todo o momento diferentes estímulos sensoriais atuam sobre o
indivíduo, buscando mobilizar sua
atenção.Porém, esta será direcionada
aquele que se mostrar de maior interesse, e relevância, promovendo um
15
direcionamento automático da atenção. Os órgãos dos sentidos enviam as
informações relevantes ao cérebro através de circuitos neuronais. Um estímulo
com importante valor emocional ao ser captado, mobiliza a atenção, atingindo
regiões corticais específicas, sendo percebido, identificado e torna-se
consciente.
Segundo Relvas (2012, p.38), “A emoção ativa a atenção (o
componente primário). Estas informações sensoriais podem ser neutras, ou
acompanhadas de um sentimento positivo ou negativo”.
1.1.4. Atenção Mental ou Cognição Seletiva
Na Atenção Mental também chamada de Cognição Seletiva, os
objetivos internos como sensação, ação ou planejamento podem levar a um
direcionamento voluntário da atenção, considerando a vontade do sujeito.
A atenção mental implica em focar a atenção em um processo
mental, que, segundo Lent (2002), pode ser, por exemplo, um cálculo
matemático, uma lembrança, ou qualquer outro pensamento.
Na atenção cognitiva são considerados os estados internos do
organismo e escolha pessoal, atendendo a um objetivo
ou contexto
específico.Pode ser exemplificada através da procura de um objeto em uma
gaveta. Este será encontrado mais facilmente ao se manter a atenção
concentrada no objetivo.
Pode-se afirmar então que o foco da atenção relaciona-se a
mecanismos automáticos e voluntários da atenção.
A atenção pode ser considerada como uma atitude psicológica, em
que direciona-se a atividade psíquica a um determinado estímulo , seja ele,
uma percepção, uma sensação, representação,
objetivo de formar conceitos e auxiliar o raciocínio.
afeto, ou desejo,
com o
16
1.2. Estruturas Cerebrais Responsáveis pela Atenção
Segundo Houzel, ao focarmos a atenção em um determinado objeto,
acionamos ao mesmo tempo diferentes regiões do cérebro. Elas são:
• O colículo superior, localizado no mesencéfalo, utilizando
informação
visual
e
auditiva,
promovendo
o
redirecionamento automático dos olhos para o objeto
externo de interesse;
• O campo ocular frontal, no córtex pré-motor, é que controla
o colículo superior e impede o redirecionamento automático
dos olhos, provocando movimentos voluntários dos olhos
para o próximo foco de atenção;
• O córtex pré-frontal, capaz de representar objetos internos,
modular o funcionamento das outras regiões do cérebro
relacionadas ao controle atencional;
• O córtex parietal posterior, que detecta a posição espacial
do objeto, foco da atenção em relação ao corpo e dá
preferência ao seu processamento;
• O lócus ceruleus, situado no tronco encefálico, responsável
por liberar noradrenalina sobre estruturas do encéfalo tanto
na vigília, em situações esperadas ou em acontecimentos
importantes.A noradrenalina lançada sobre o córtex
aumenta a capacidade de detecção de estímulos e a rapidez
de respostas. (www.cerebronosso.bio.br/ateno)
Fonte: http://www.brainexplorer.org
17
1.3. Mecanismos Cerebrais Envolvidos na Atenção
Pesquisas relacionadas aos mecanismos cerebrais relativos à
atenção indicam a existência de dois sistemas ou circuitos diferentes,
responsáveis pela atenção. Primeiramente, existe um circuito orientador,
situado no córtex do lobo parietal, que torna possível o desligamento do foco
atencional de um alvo selecionado e o seu direcionamento para outro ponto,
assim como o ajuste fino, objetivando que os estímulos sejam melhor
percebidos. Esse circuito possibilita que o foco da atenção seja direcionado a
outros sistemas sensoriais, dando maior ênfase a algum desses sistemas.
O outro circuito denominado circuito executivo, permite manter a
atenção de maneira prolongada, impossibilitando estímulos distratores. O
centro mais importante, situa-se em uma área do córtex frontal: a porção mais
anterior do giro do cíngulo, localizado na parte interna do hemisfério
central.Deve-se ressaltar que, ela está envolvida com os mecanismos de
autorregulação , isto é, a capacidade de modular o comportamento segundo as
demandas cognitivas, emocionais e sociais, conforme a situação. Ela é
importante para a aprendizagem consciente e tem valor significativo no controle
cognitivo e no emocional.
O giro do cíngulo apresenta duas áreas. Uma delas regula a atenção
aos processos emocionais e a outra tem conexões que possibilitam coordenar
a atenção dirigida aos processos cognitivos.Estudos revelam que a atividade
em uma dessas áreas pode impedir o funcionamento da outra.Sabe-se que
emoções negativas fortes podem prejudicar a atenção ao processo cognitivo.
Ao dividirmos a atenção utilizando canais sensoriais diferentes, o
desempenho poderá ser prejudicado principalmente, se aumentarmos a
demanda de um dos canais, isto porque, o cérebro processa melhor uma
informação de cada vez.
18
Fonte: Neurociência e Educação, p. 46, 2011.
As regiões delimitadas com as letras A e B pertencem ao giro do
cíngulo onde se localiza um circuito envolvido na manutenção da atenção. A
área A relaciona-se com os processos relativos a emoção, e a área B diz
respeito a tarefas cognitivas.
19
CAPÍTULO II
MEMÓRIA: UMA REDE DE ASSOCIAÇÕES
O termo memória tem sua origem etmológica no latim e
significa a faculdade de reter e/ou readquirir ideias, imagens,
expressões e conhecimento. É o registro de experiências e
fatos vividos e observados, podendo ser resgatados quando
preciso (RELVAS, 2009, p.60).
“Memória é a capacidade que tem o homem e os animais de
armazenar
informações
que
possam
ser
recuperadas
e
utilizadas
posteriormente.” (LENT, 2011, p.644)
“Memória” significa aquisição, formação, conservação e evocação de
informações.”” (IZQUIERDO, 2011, p.11)
A todo instante, um universo de informações é recebido. .Algumas
carregadas
de
sentimentos,
outras
nem
tanto.
Guardamos
algumas,
descartamos outras ou, simplesmente as esquecemos. Porém, se elas de
alguma forma foram significativas, causando surpresa, impacto ou foram
associadas a outros fatos vivenciados, ficarão retidos na memória e poderão no
futuro, por algum estímulo, serem evocadas ou lembradas, auxiliando no
raciocínio lógico e no processo cognitivo.
A memória humana utiliza diversas áreas cerebrais, como os lobos
temporais, de conhecida relevância no arquivamento de eventos passados, o
hipocampo, localizado entre os lobos temporais, cuja função é selecionar fatos
e eventos que serão armazenados, as amígdalas cerebrais que ativadas por
estímulos sensoriais produzem uma memória emocional e córtex pré-frontal
,importante na elaboração do pensamento, planejamento, programação de
necessidades individuais e emoções.
20
2.1. Estímulos Cerebrais da Memória
A memória envolve um conjunto de estruturas que funcionam
harmonicamente, estando localizadas em diversas áreas cerebrais.
O lobo frontal, situado abaixo do osso temporal, é uma importante
região do cérebro para a memória.
Pesquisas
revelam
que
essa
região
está,
relacionada
ao
armazenamento de acontecimentos passados. No lobo temporal, está contido o
neocórtex temporal. Evidências apontam o seu envolvimento com a memória
de longo prazo. Nessa região, um grupo de estruturas interligadas, parece
estar relacionada a função da memória para fatos e acontecimentos (memórias
declarativas). Dentre elas destaca-se o hipocampo, parte adjacente do córtex
temporal, que se encarrega de selecionar onde detalhes importantes serão
armazenados, está relacionado ao reconhecimento de novidades e relações
espaciais.
A amígdala cerebral ou núcleo amigdaloide apresenta-se como
responsável pelo controle das emoções e dos processos motivacionais. Ela é
formada por um conjunto de neurônios, e possuindo múltiplas conexões com
algumas áreas do sistema nervoso. Ao interagir com o córtex cerebral,
favorece a identificação da emoção, podendo gerar o surgimento e a
persistência de um estado de humor.
Os estímulos sensoriais provenientes do ambiente são transpostos
em sinais elétricos e acionam um circuito na amígdala relacionado à memória e
que depende de conexões entre a amígdala e o tálamo.
As respostas emocionais provavelmente tem origem nas conexões
entre a amígdala e o hipotálamo e possibilitam que as emoções influenciem a
aprendizagem, pois elas acionam outras conexões da amígdala para as vias
sensoriais.
21
Córtex pré-frontal região cerebral relacionada ao planejamento de
comportamentos, tomada de decisões, resolução de problemas, na memória de
trabalho e retenção de curta duração. O córtex pré-frontal está interligado com
o lobo temporal e o tálamo, motivo pelo qual se acredita que ele esteja
relacionado à memória.
2.2. Mecanismos Neurais da Memória
Os mecanismos utilizados pelo sistema nervoso central para formar
e armazenar cada tipo de memória não são iguais.
Sabe-se que o cérebro codifica a realidade e emprega esse mesmo
código para evocá-la.
Este processo de tradução da realidade na aquisição e evocação da
memória emprega ampla rede de neurônios.
A formação das memórias ocorre na fase chamada aquisição.
Nela,os estímulos sensoriais são captados por diferentes áreas cerebrais.
Os neurônios transformam essas informações sensoriais em um
código de sinais elétricos e bioquímicos e são direcionados a determinadas
áreas do cérebro que as utilizam na formação e evocação da memória.
Na
evocação,
ao
trazerem
uma
informação
os
neurônios
reconvertem sinais bioquímicos e estruturais em sinais elétricos, de modo que,
mais uma vez os sentidos e a consciência possam interpretá-los, como algo
vivenciado.
É importante ressaltar que, a memória não retrata, verdadeiramente,
a realidade, sofrendo alterações, em função do contexto em que é resgatada.
Uma informação relevante ao mobilizar a atenção, estimula a
ativação de neurônios, caracterizando a memória operacional. Considerando a
importância da informação ou da experiência, elas poderão produzir em
circuitos nervosos específicos, alterações estruturais tornando as sinapses
mais eficientes, possibilitando o aparecimento de um registro.
22
Para que este registro se torne permanente, pesquisas na área de
psicologia cognitiva apontam a necessidade dos processos de repetição,
elaboração e consolidação.
A repetição da informação recém-adquirida e sua associação com os
registros antigos favorece a consolidação da memória, mantendo-a por um
período maior.
Quanto maior o número de associações e vínculos entre
informações recentes e anteriores, maior será a possibilidade desse registro
permanecer de forma mais duradouras, em função do maior número de redes
neurais envolvidas.
Nesse processo de repetição e elaboração é importante utilizar
diferentes canais sensoriais para que se estabeleçam registros fortes, que se
mantenham ao longo do tempo e mediante possíveis alterações do
funcionamento cerebral.
Os estímulos recebidos favorecerão um nível de ativação de
informações conhecidas e sobre determinado assunto que poderão se tornar
conscientes, se preciso for.
Segundo Consenza e Guerra (2011):
Na consolidação ocorrem alterações biológicas nas ligações
entre os neurônios, por meio das quais o registro vai se vincular
a outros já existentes, tornando-se mais permanentes. Essas
alterações envolvem a produção de proteínas e outras
substâncias que são utilizadas para o fortalecimento ou a
construção de sinapses nos circuitos nervosos, facilitando a
passagem do impulso nervoso (CONSENZA & GUERRA, 2011,
p.63).
O processo de consolidação de memórias demanda algum tempo,
porém o seu esquecimento torna-se mais difícil, quando comparado as
memórias recentes.
Pesquisas têm demonstrado que mecanismos eletrofisiológicos e
moleculares presentes na formação das sinapses mais estáveis estão em
23
funcionamento durante o sono, favorecendo o fenômeno da consolidação da
memória.
O hipocampo e partes adjacentes do córtex temporal são essenciais
na consolidação das memórias.
Diferentes aspectos de uma informação são armazenados em
sistemas e circuitos situados em diferentes regiões do cérebro. Ao evocarmos
uma memória ativamos esses circuitos trazendo à mente uma imagem unitária
do que dele conhecemos.
As informações na memória explícita são organizadas sob a
forma de redes. Um determinado estímulo ou pista trará à
consciência os registros de que necessitamos, além de ter o
potencial de se espalhar, trazendo a um nível de ativação mais
alto outros registros em rede relacionados (COSENZA &
GUERRA, 2011, p.68).
A memória implícita ocorre de forma alheia à vontade. Esse tipo de
memória se manifesta em nosso cotidiano através de habilidades motoras
adquiridas e procedimentos aprendidos e executados automaticamente. É o
que chamamos memória de procedimentos. Ela é sensório-motora e se
constitui através de um processo de repetição, utilizando circuitos específicos.
A estrutura cerebral responsável pela memória de procedimento é o corpo
estriado.
A memória implícita ocorre de forma alheia à vontade.Esse tipo de
memória se manifesta em nosso cotidiano através de habilidades motoras
adquiridas e procedimentos aprendidos e executados automaticamente.É o que
chamamos memória de procedimentos.Ela é sensório-motora e se constitui
através de um processo de repetição, utilizando circuitos específicos.A
estrutura cerebral responsável pela memória de procedimento é o corpo
estriado.
A memória de procedimentos é essencial para algumas atividades
humanas que necessitem de habilidades motoras como: dança, esportes,
cirurgias, dentre outras.
24
Uma memória pode ser recuperada através de fragmentos, relativos
ao registro feito, como também pelos sentidos, por meio das sensações
experimentadas. Pesquisas utilizando técnicas de neuroimagem constataram
que a recuperação de informações é feita ativamente e esta relacionada ao
funcionamento da região pré-frontal.
É importante considerar que a eficiência dessa recuperação de
informações está diretamente ligada ao processo de elaboração, no que diz
respeito à quantidade de vínculos ou conexões criadas com os registros já
existentes, favorecendo o resgate de memórias.
Com relação à evocação de uma memória Izquierdo (2011)
dispõe que
No momento da evocação, o cérebro deve recriar, em
instantes, memórias que levaram horas para serem formadas.
Às vezes, a evocação está inibida por mecanismos variados,
mas quando eventualmente essa inibição é superada, a
evocação ocorre rapidamente, as vezes em forma muito mais
detalhada.(IZQUIERDO, 2011, p.80)
A prática permite a elaboração de novas conexões sinápticas e o
cérebro retêm o que se repete com frequência e esquece o que não se utiliza
ou não se realiza com frequência.
Os
conhecimentos
trazidos
pela
psicologia
cognitiva
e
a
neurobiologia atestam que para uma aprendizagem eficaz, é necessário
observar os mecanismos de funcionamento do cérebro.
“A memória não está localizada em uma estrutura isolada no
cérebro; ela é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de
sistemas cerebrais que funcionam juntos” (RELVAS, 2012, p.232)
2.3. Tipos de Memórias
As memórias podem ser classificadas segundo sua função, tempo
de duração ou conteúdo.
25
2.3.1. Memória Declarativa ou Explícita
A memória declarativa é constituída de conhecimentos adquiridos,
lembrados e conscientemente utilizados. Este tipo de memória apresenta dois
subtipos:
•
Memória
Episódica
informações
sobre
ou
a
autobiográfica
própria
acontecimentos relativos a ela.
vida
compõe-se
do
sujeito
de
ou
É responsável pela
memorização de fatos ou eventos datados.
•
Memória Semântica constitui-se de informações a respeito do
ambiente e daquilo que se lembra, porém sem precisar,
como, quando e/ou onde foram adquiridas.
As memórias episódicas e semânticas utilizam sistemas cerebrais
diferentes e podem ser modificadas separadamente.
A memória procedimental é composta por informações de acesso
inconsciente, de comportamentos automáticos e respostas decorrentes de
condicionamentos e habituações. È uma memória sensório-motora que se
apresenta ao realizarmos procedimentos ou habilidades cotidianos. A sua
aquisição ocorre principalmente por repetição, aperfeiçoamento ou reforço de
circuitos específicos.
A estrutura cerebral responsável pela memória procedimental é o
corpo
estriado,
neurônios
localizados
profundamente
nos
hemisférios
cerebrais, responsáveis também pela regulação da motricidade.
2.3.2. Memória Não Declarativa
A memória não declarativa envolve procedimentos e habilidades.Ela
pode ser de Procedimentos referentes às habilidades e hábitos ou de Dicas, ao
ser evocada, através de pequenas informações, que favoreçam o resgate da
memória.
26
2.3.3. Memória Associativa e Não Associativa
A
memória
associativa
estabelece
uma
relação
entre
um
comportamento e um fato. Por sua vez, a memória não associativa é resgatada
através de estímulos repetitivos.
2.3.4 Memória de Trabalho ou Operacional
A memória de Trabalho ou Operacional é sustentada pela atividade
elétrica dos neurônios do córtex pré-frontal e sua interação com o córtex
entorrinal, o hipocampo e a amígdala.
A memória de trabalho serve para administrar a realidade, situar o
sujeito no contexto, assim como verificar se a informação adquirida é nova e
deve ser arquivada ou se é conhecida e deve ser descartada.
Ela possibilita o armazenamento de informações úteis para o
raciocínio imediato e o planejamento do comportamento, mas que são
descartadas ou esquecidas após serem utilizadas.
Izquierdo (2011) sustenta que a memória de trabalho não produz
arquivos
e
“não
deixa
tacos
neuroquímicos
ou
comportamentais.”
(IZQUIERDO, 2011, p.27). Ela mantêm por alguns segundos , ou minutos a
informação.
A ocorrência de uma aprendizagem, em face de uma situação nova
está diretamente ligada à memória de trabalho e suas conexões com outros
sistemas mneumônicos.
Os principais neurotransmissores moduladores da memória de
trabalho no córtex pré-frontal anterolateral são: acetilcolina (atuando sobre
receptores muscarínicos) e dopamina (agindo dobre receptores de D1).
2.3.5 Memória de Curta Duração
A memória de curta duração compreende os segundos iniciais a
aquisição do aprendizado até 3 a 6 horas. Para Izquierdo (2011), “o tempo que
27
leva a memória de longa duração para ser efetivamente construída.”
(IZQUIERDO, 2011, p.68).
O referido autor dispõe sobre a função da memória de curta
duração O papel da memória de curta duração é, basicamente,
o de manter o indivíduo em condições de responder através de
uma “cópia” efêmera da memória principal, enquanto esta
ainda não tenha sido formada. Serve, em si, para ler (chegando
à página 3 de um escrito devemos recordar as páginas 1 e 2),
para dar sequência a epidios, e certamente para manter
conversas (IZQUIERDO, 2011, p.72).
As bases da memória de curta duração são principalmente
bioquímicas, e o seu processo de aquisição depende de informações
sensoriais.
2.3.6 Memória de Longa Duração
O processo de formação de memória de longa duração é lento e
frágil, podendo sofrer interferências internas ou externas, prejudicando ou
anulando a gravação da informação recém-adquirida. Esse processo se
estabelece em etapas, subordinadas a mecanismos moduladores como, vias
provenientes da amígdala e axônios GABAérgicos e colinérgicos do núcleo
medial do septo modulam inicialmente a formação de memórias no
hipocampo.Essas vias estão ligadas ao nível de alerta, ansiedade e estresse e
são reguladas pelos corticoides e epinefrina; a ativação moderada dessas vias
e a hiperestimulação impossibilita a consolidação e a expressão de
memórias.As vias referentes a avaliação afetiva e os estímulos de humor e
(dopaminérgicas, noradrenérgicas e serotoninérgicas ativadas pela aquisição
de uma experiência nova ou pela evocação de um registro anterior, regulam a
adenililciclase PKA/CREB/síntese proteica, em que se apoia a consolidação
duradoura de 3 a , 6 horas , após seus arquivos.
Segundo estudos realizados por Lent (2013, p. 249) e equipe,
constatou-se que ”a estimulação intensa da via serotoninérgica ou a inibição
das vias dopaminérgicas e/ou noradrenérgica, por exemplo, podem cancelar a
formação definitiva de uma memória horas após a sua aquisição.”
28
CAPÍTULO III
O TEATRO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA
Ao participar de atividades teatrais, o indivíduo tem a
oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado
grupo social de maneira mais responsável, legitimando os seus
direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o
individual e o coletivo, aprendendo a ouvir a acolher e a
ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações com
a finalidade de organizar a expressão de um grupo (Parâmetros
Curriculares Nacionais, 1997, p.83).
Desde os primórdios da humanidade, representar atrai os homens.
Representar- se, representar o outro, o desconhecido, os sentimentos, seja
qual for o “objeto”, o ato de representar se faz presente.
A criança no seu desenvolvimento, através de suas brincadeiras
representa aqueles que com ela interagem e lhe servem de modelo.
Esse processo de representação simbólica, desperta grande
interesse e fascínio.
O teatro surge então, como importante ferramenta para o trabalho
com as pessoas que necessitam de educação especial, sendo capaz de
despertar interesse, levando-os a utilizar a linguagem teatral como forma de
comunicação, ampliando a sua capacidade de expressão, compreensão e
assimilação de conceitos. Esse processo pode ser visto em decorrência de
diferentes estímulos gerados pela atividade teatral que atuam sobre áreas
cerebrais ativando a produção de neurotransmissores, responsáveis pela
atenção e memória.
O teatro no ensino fundamental proporciona experiências que
contribuem para o crescimento integrado do aluno sob vários aspectos. No
plano individual, o desenvolvimento de suas capacidades expressivas e
artísticas.
No plano coletivo, o teatro oferece, por ser uma atividade
grupal, o exercício das relações de cooperação, diálogo,
29
respeito mútuo, reflexão sobre como agir com os colegas,
flexibilidade de aceitação das diferenças e aquisição de sua
autonomia com resultado do poder agir e pensar sem coerção.
(Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p.84)
A atividade teatral como recurso didático quer sob o caráter
contextualista, auxiliando na assimilação de conteúdos disciplinares ou, sob a
ótica essencialista, utilizando sistemas semióticos de representação, desperta
grande interesse por parte dos jovens participantes, estimulando em princípio a
criatividade e a interação social.
A atividade teatral contribui para o desenvolvimento global do aluno,
através de um processo consciente e crítico, baseando-se numa convivência
democrática.
A formação de grupos para a execução dessa atividade favorece a
integração de seus elementos, trazendo a conscientização da importância de
existir uma colaboração entre eles para a execução da tarefa.
A necessidade dessa colaboração torna consciente uma relação de
convivência pautada no respeito, na adequação da fala, no ouvir, ver, observar
e atuar.
Antes da proposta de uma atividade teatral, o professor pode
oferecer estímulos através de jogos preparatórios, com o objetivo de
desenvolver habilidades necessárias para o teatro como: atenção, observação,
concentração e propor temas que incentivem no aluno a criação e o domínio da
linguagem teatral.
Todavia, é necessário ter a consciência da importância do teatro
para a aprendizagem e desenvolvimento do aluno e, não apenas como
transmissão de uma técnica.
À princípio, a atividade teatral tem seu interesse na relação entre os
participantes e no prazer da representação.
30
O processo de preparação para a montagem de uma peça teatral
segundo Granero compõe-se de seis etapas, descritas a seguir.
Na etapa inicial, o aluno é levado a reconhecer a importância do
Espaço em que está inserido, fazendo o relato de experiências pessoais,
considerando passeios ou lugares frequentados, associando-os as emoções
vivenciadas, trazendo à consciência o prazer e o medo, construindo a ideia do
Espaço Emocional. Nesse processo de resgate de memórias, percebe-se o
papel da emoção. Sabe-se que quanto maior o peso emocional, maior a
chance de lembrar o fato ocorrido.
“Os acontecimentos mais carregados de emotividade inscrevem-se
com mais força em nossa memória declarativa” (CHABOT, 2005, p.68).
A segunda etapa consiste na leitura de partes da peça pelos alunos.,
momento em que são apresentados os personagens, suas características
físicas e psicológicas.
Em seguida, a terceira etapa realizada é a Repetição da Leitura
pelos alunos, buscando adaptar altura da voz, dar ritmo e fluência ao texto.
A Neurociência destaca a importância do processo de repetição das
informações adquiridas, assim como o uso de diferentes canais sensoriais de
acesso ao cérebro para a consolidação da memória. Na atividade teatral,
observa-se esta repetição, através dos ensaios, onde os diálogos são
repassados com frequência repletos de emoções e utilizando diferentes canais
sensoriais. A relevância da informação favorece sua manutenção por mais
tempo na consciência.
Desta forma, a leitura do texto, os exercícios de busca de voz para
personagens, pronúncias, entonações, e demais recursos de expressão oral
fortalecem ainda mais o sistema de repetição, auxiliando no processo de
formação de memórias.
O Aprofundamento é a quarta etapa, direcionado a pesquisa de
aspectos espaciais e geográficos da região onde se desenvolve a história.
31
Observa-se a necessidade de contextualizar o texto, destacar as
características do ambiente, o local e a linguagem dos personagens,
características regionais ou específicas dos personagens. associando-os com
os conceitos já trabalhados .
Ao construir um personagem, seja ele, pessoa, animal ou ser
inanimado, o aluno busca em sua memória informações já adquiridas e novas
informações, através de conversas, leituras sobre o assunto, pesquisas. Essas
atividades trarão repetidamente, conhecimentos ou registros já existentes no
cérebro para um nível de ativação, tornando-os disponíveis para a memória
operacional e, permitindo que outras informações sejam agregadas ao
conjunto. Todas essas informações estarão ligadas a uma rede de informações
no cérebro, relacionadas ao personagem a ser representado. A elaboração, ou
seja, a associação de informações novas com os registros anteriores fortalece
o traço de memória e o torna mais durável. É importante considerar que, o
registro se tornará mais forte ao se criar vínculos, relacionando novos
conhecimentos aos já existentes, estabelecendo um maior número de redes
neurais.
O trabalho com educação especial impõe a necessidade de
contextualização e o resgate constante de registros anteriores, tornando a
aprendizagem significativa e possibilitando associações com novos conceitos.
O cérebro se dedica a aprender aquilo que ele percebe como
significante e, portanto, a melhor maneira de envolvê-lo é fazer
com que o conhecimento novo esteja de acordo com suas
expectativas e que tenha ligações com o que já é conhecido e
tido como importante para o aprendiz. (CONSENZA &
GUERRA, 2011, p.58)
É essencial que o professor crie oportunidades para que o mesmo
assunto possa ser analisado várias vezes, em diferentes contextos, auxiliando
no processo de construção de novas conexões neurais.
Com relação à recuperação da memória, a Consenza e Guerra
(2011), destacam que:
32
A recuperação da informação será mais eficiente dependendo
da maneira como ela foi armazenada. Se o processo de
elaboração foi complexo, criando muitos vínculos com as
informações existentes haverá uma rede de interconexões mais
extensa, que poderá ser acessada em múltiplos pontos,
tornando o acesso mais fácil (CONSENZA & GUERRA, 2011,
p.72).
A quinta etapa descrita por Granero diz respeito à Pesquisa,
utilizando recursos materiais que favoreçam a ambientação do aluno,
necessária a sensibilização e à representação da peça. Desta forma, são
apresentados elementos que auxiliem na elaboração de novos registros e na
associação destes com os já existentes.
A pesquisa permite que o aluno faça uma associação com os
registros já existentes, num processo que a Neurociência descreve como
associação, e que possibilita o fortalecimento do traço de memória, tornando-a
mais durável.
Observa-se que quanto mais se repetir essas informações e quantas
mais ligações forem formadas, com as disponíveis no cérebro, o registro tende
a se tornar mais forte, de forma mais permanente, e o acesso a essa memória
se fará de forma mais rápida.
O teatro, no processo de formação da criança cumpre, não só
função integradora, mas dá oportunidade para que ela se
aproprie crítica e construtivamente dos conte dos sociais e
culturais de sua comunidade, mediante troca com os seus
grupos (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p.84).
Finalizando as etapas, Granero destaca a Leitura e Releitura do
Texto, em que são propostos jogos dramáticos e sonoros para apresentar o
texto, como o recitando rapidamente, devagar e cantarolando, em câmara
lenta. Granero dispõe que desta forma, o aluno memoriza as falas, adquirindo
vivência de se comunicar com um texto pela exploração da fala. Novamente,
observa-se o sistema de repetição contribuindo na consolidação da memória.
Durante
todo
o
processo
de
planejamento,
montagem
e
representação da atividade teatral, é essencial destacar o papel do incentivo,
33
para a melhoria e desempenho do aluno, valorizando seu sentimento de
competência, contribuindo para sua autoestima.
A respeito da importância do incentivo, Relvas (2012) considera,
O incentivo, portanto, é fundamental para a progressão e
melhoria do desempenho geral do indivíduo. Em síntese, é
preciso garantir que o indivíduo tenha percepção integrada de
si mesmo com o objetivo de interpretar adequadamente os
sinais sociais, promovendo então a básica capacidade de
confiar no outro e aceitar transitoriamente a dependência para
o desenvolvimento (RELVAS, 2012, p.33).
3.1. No Palco: Emoção, Atenção e Memória
O ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um,
como uma necessidade de compreender e representar uma
realidade. Ao observar uma criança em suas primeiras
manifestações dramatizadas, o jogo simbólico, percebe-se a
procura na organização de seu conhecimento do mundo de
forma
integradora.
A
dramatização
acompanha
o
desenvolvimento da criança como uma manifestação
espontânea, assumindo feições e funções diversas, sem perder
jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre
ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo
espontâneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo
(Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p.83).
Ao representar um personagem a pessoa que necessita de uma
educação especial, tem a oportunidade de assumir suas características físicas
e psicológicas, vivenciar diferentes contextos, interagir, envolver-se em
situações improváveis, experimentar sensações, sentimentos, emocionar-se e
adquirir memórias inesquecíveis.
Sabe-se que o sucesso da criança na aprendizagem
de
fala,escrita e leitura dependem do amadurecimento
neurofisiológico das células, bem como das estruturas
emocionais e dos estímulos sociais .O brincar e as brincadeiras
são indissociáveis do uso das diversas formas de linguagem
(RELVAS, 2012, p.29).
Na técnica dos jogos teatrais ou psicodrama pedagógico, o aluno, no
papel de protagonista, tem a oportunidade de escolher os personagens
necessários, criar espaços, utilizando acessórios disponíveis, relatar o tema a
ser encenado, determinar a cada participante uma tarefa, como: recitar
34
poesias, fazer um comentário ou criar uma frase, ao mesmo tempo em que
utiliza a expressão corporal, processo observado e repetido a cada novo
participante.
A respeito dos jogos teatrais Granero (2011) observa que: “Esse é
um exercício envolvendo atenção, memorização de textos e de postura
corporal, vivências criativas, observação de regras, pesquisa de material.”
(GRANERO, 2011, p. 36)
O desafio de participar de jogos teatrais, incentiva o aluno a
experimentar situações novas, elaborar novos conceitos, associar ideias,
estabelecendo, principalmente, novas conexões neurais que, facilitarão o
processo de resgate dessas memórias.
A atmosfera cênica composta a partir de recursos, como: cores,
formas, texturas, ruídos, silêncios, luzes, sombras, ritmos , mobiliza
os
sentidos, e favorecendo a percepção seletiva, focada nos estímulos sensoriais.
A respeito da representação teatral, Japiassu (2012) considera que:
O aluno experimenta sua capacidade de uso consciente de
sistemas complexos de representação semióticos que
envolvam tanto o uso da palavra como o uso do corpo. Do
engajamento ativo do aluno na área de jogo, ser-lhe-á possível
tecer novas e infinitas possibilidades de significação da palavra
na prática discursiva e ele será levado a considerar relevantes
a entonação, os movimentos corporais, os gestos significativos
(comunicação não verbal) e a dialogia subjacentes a todos os
enunciados humanos. (JAPIASSU, 2012, p.220)
Ao
assistir
a
apresentação
de
uma
peça
observa-se
o
direcionamento voluntário do foco de atenção a um objeto específico, seja na
compreensão de uma fala ou de um determinado aspecto representado,
observamos a utilização atenção mental ou cognição seletiva.
É inegável que compartilhar uma atividade lúdica e criativa, baseada
na experimentação e na compreensão estimula o prazer, sendo um estímulo
para a aprendizagem.
35
A sensação de prazer e satisfação são decorrentes da produção de
neurotransmissores, dentre eles a dopamina.
O
circuito
dopaminérgico
(que
utiliza
a
dopamina
como
neurotransmissor) tem sua origem em neurônios do mesencéfalo que se
comunicam com muitas estruturas, mas têm como referência o núcleo
acumbente,
cujos
neurônios
se
conectam
com
o
córtex
pré
frontal.Estimulações dessa via provocam sensações de prazer e bem
estar.Esse circuito está associado à motivação.Ela parece resultar de uma
atividade cerebral que processa informações provenientes do meio interno e do
ambiente externo, determinando comportamentos.
A motivação envolve a aprendizagem e outros processos cognitivos.
Ela promove a repetição de ações que trouxeram recompensa no passado ou a
buscar situações próximas que tenham a possibilidade de oferecer a satisfação
desejada. Assim, ela é essencial para a aprendizagem. A produção de
dopamina em algumas regiões cerebrais parece estar vinculada a esse tipo de
recompensa, que leva à aprendizagem.
As emoções se traduzem por alterações na sua fisiologia e nos
processamentos mentais, mobilizando os recursos cognitivos existentes como
a atenção e a percepção.
A Neurociência tem demonstrado que os processos cognitivos e
emocionais estão relacionados no funcionamento do cérebro.
As emoções envolvem respostas periféricas, percebidas fisicamente
e modificações corporais internas, percebidas pelo sujeito. Essas respostas
fisiológicas estão vinculadas a um sentimento emocional, associadas ao meio
afetivo do organismo: euforia, desânimo, irritação, dentre outras.
Determinado estímulo com valor emocional tem acesso ao cérebro
pelas vias sensoriais. Chegando ao córtex cerebral, a informação é enviada à
amígdala. O cérebro identifica o estímulo e avalia sua importância.
Concomitantemente, uma segunda via nervosa, que seguindo as mesmas vias
36
sensoriais, segue direto à amígdala, antes de chegar ao córtex cerebral,
desencadeando respostas emocionais periféricas, antes do córtex cerebral
tornar consciente o estímulo.
Observa-se que um mínimo elemento do ambiente, pode ser
identificado como mobilizador, mesmo que seja despercebido pelos processos
conscientes.
Torna-se
necessário
prestar
atenção
nas
emoções.
O
autoconhecimento emocional é uma habilidade que deve ser aprendida e
aperfeiçoada.
É
importante
destacar
que
durante
todo
o
processo
de
planejamento, ensaios e representação observou-se a interação entre os
jovens participantes. A cooperação na memorização de textos, a repetição de
diálogos, as brincadeiras com as características dos personagens e falas
específicas, resultantes de regionalismos, trouxeram para o cotidiano escolar
uma atmosfera de alegria e cordialidade.
A emoção e o prazer decorrentes da prática teatral favoreceu a
produção de neurotransmissores como acetilcolina (ACh), responsável por
controlar a atividade de áreas cerebrais relacionadas à atenção, à
aprendizagem e à memória; a Noradrenalina, que induz a excitação física e
mental e responsável pelo bom humor; o Ácido glutâmico ou Glutamato
estimulador do SNC, cuja produção aumenta a sensibilidade aos estímulos de
outros neurotransmissores, sendo essencial para criar vínculos entre neurônios
que constituem a base da aprendizagem e da memória de longo prazo; a
Dopamina, responsável por sensações de satisfação e prazer; a Serotonina,
que regula o humor, o sono, a atividade sexual, o apetite, o ritmo circadiano, as
funções
neuroendócrinas, a temperatura corporal, sensibilidade a dor,
atividades motoras e funções cognitivas.
37
CONCLUSÃO
Considerado até algum tempo como atividade de pouca relevância,
voltada principalmente aos momentos de lazer, o teatro vem se revelando um
instrumento de grande valor pedagógico no trabalho com educação especial.
A partir da necessidade de realizar um planejamento pedagógico
que atenda aos interesses dos alunos, esta atividade pode ser considerada um
recurso facilitador desse processo, auxiliando no direcionamento da atenção,
na aquisição, consolidação e resgate de memórias.
Os resultados positivos da representação teatral podem ser
explicados pela Neurociência, ao considerar que informações relevantes
mobilizam a atenção, estimulam a ativação de neurônios, produzindo em
circuitos nervosos específicos, alterações estruturais que tornam as sinapses
mais eficientes possibilitando o aparecimento de registros. A Neurociência
considera fundamental, a repetição e a elaboração desses registros,
associando-os a diferentes canais sensoriais, fortalecendo-os e facilitando o
processo de resgate dessas memórias.
Os conhecimentos disponibilizados pela Neurociência, relativos à
atenção e a memória, contribuem de forma efetiva para o processo de
aprendizagem e possibilitam à aquele que necessita de educação especial
desenvolver sua autoestima, reconhecer-se e ser reconhecido com pessoa
capaz de expressar suas ideias e sentimentos, favorecendo sua inclusão
social.
38
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Secretaria de Educação
Fundamental, Brasília: MEC,1997.
CHABOT, Daniel; CHABOT, Michel. Pedagogia Emocional Sentir Para
Aprender Como Incorporar a Inteligência Emocional às Suas Estratégias
de Ensino. São Paulo: Editora Sá, 2005.
COSENZA, M., Ramon; Guerra, B. Leonor. Neurociência e Educação. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
GRANERO, Vic Vieira. Como usar o teatro em sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2011.
IZQUIERDO, Ivan. Memória. 2ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2011.
JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino do Teatro. 9ª ed., Campinas:
Papirus, 2012.
LENT, Roberto.
Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
_____________. Cem Bilhões de Neurônios: Conceito Fundamental
Neurociência. 2ªed., Rio de Janeiro: Atheneu, 2002.
RELVAS, Marta P. Fundamentos Biológicos da Educação. 4ª ed., Rio de
Janeiro: Wak, 2009.
________________. Que cérebro é esse que chegou à escola? Rio de
Janeiro: Wak, 2012.
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
AGRADECIMENTOS
DEDICATÓRIA
RESUMO
METODOLOGIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
02
03
04
05
06
07
08
CAPÍTULO I
Uma Habilidade Chamada Atenção
1.1. Tipos de Atenção
1.1.1. Atenção Explícita ou Aberta
1.1.2. Atenção Implícita ou Oculta
1.1.3. Atenção Sensorial ou Percepção Seletiva
1.1.4. Atenção Mental ou Cognição Seletiva
1.2. Estruturas Cerebrais Responsáveis pela Atenção
1.3. Mecanismos Cerebrais Envolvidos na Atenção
10
14
14
14
14
15
16
17
CAPÍTULO II
Memória: Uma Rede de Associações
2.1. Estruturas Cerebrais da Memória
2.2. Mecanismos Neurais da Memória
2.3. Tipos de Memórias
2.3.1. Memória Declarativa ou Explícita
2.3.2. Memória Não Declarativa
2.3.3. Memória Associativa e Não Associativa
2.3.4. Memória de Trabalho ou Operacional
2.3.5. Memória de Curta Duração
2.3.6. Memória de Longa Duração
19
20
21
24
25
25
26
26
26
27
CAPÍTULO III
O Teatro como Ferramenta Pedagógica
3.1. No Palco: Emoção, Atenção e Memória
28
33
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
37
38
40
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