RESFRIAMENTO ARTIFICIAL DE GRÃOS DE MILHO ADRIANO D. LIMA AFONSO 1 , JOSEANE ERBICE DOS SANTOS2 , ANGÉLICA DEMITO3 , MARCUS B. DA SILVA VOLK3 1 Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Cascavel – PR, (0xx45) 3220 3220, e-mail: [email protected] 2 Engenheiro Agrícola, M.S., UNIOESTE, Cascavel – PR 3 Engenheiros Agrícolas, Mestrando UNIOESTE, Cascavel – PR Escrito para apresentação no XXXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola 25 a 29 de julho de 2005 – Canoas – RS RESUMO: Esse trabalho teve como objetivo avaliar o período de resfriamento artificial de grãos de milho armazenados em silo metálico vertical, utilizando um equipamento de refrigeração desenvolvido pela empresa COOLSEED. O silo utilizado no experimento tinha capacidade de 3.000 t, composto de fundo perfurado com quatro dutos de aeração, 18m de altura e internamente possuía seis cabos termométricos, com oito sensores, sendo o cabo central com nove sensores. Para o resfriamento do lote de milho o ar foi insuflado pelo sistema de aeração a uma temperatura de 10°C. O produto foi resfriado até que atingisse temperatura média de 15o C. Foram avaliadas as temperaturas da massa de grãos durante o processo de resfriamento. Dos resultados obtidos conclui-se que: existe uma frente de resfriamento que avança na massa de grãos, cuja velocidade de resfriamento foi de 0,13 m/h; com a utilização do equipamento de resfriamento artificial a diminuição da temperatura da massa de grãos pode ser realizada a qualquer tempo, independentemente das condições de temperatura e de umidade relativa do ar ambiente; a temperatura da massa de grãos ao final do período de resfriamento artificial apresentou pequenas variações nos diversos níveis de altura do silo. PALAVRAS-CHAVE: ARMAZENAMENTO, CONSERVAÇÃO, RESFRIAMENTO ARTIFICIAL COOLING OF CORN GRAINS ABSTRACT: Those work had as objective to evaluate the period of artificial cooling of corn grains stored at vertical metallic silo, using an equipment of refrigeration developed by the company COOLSEED. The silo used in the experiment had capacity of 3.000 t, composed of fund perforated with four aeration ducts, 18 m of height and internally it possessed six cables thermometers, with eight sensor, being the central cable with nine sensor. For the cooling of the corn lot the air was insufflate for the aeration system to a temperature of 10°C. The product was caught a cold until that reached medium temperature of 15o C. They were appraised the temperatures of the mass of grains during the cooling process. Of the obtained results it is ended that: a cooling front that moves forward in the mass of grains, whose cooling speed was of 0,13 m/h; with the use of the equipment of artificial cooling the decrease of the temperature of the mass of grains can be accomplished any time, independently of the temperature conditions and of relative humidity of the air it sets; the temperature of the mass of grains at the end of the period of artificial cooling presented small variations in the several levels of height of the silo. KEYWORDS: STORAGE, CONSERVATION, COOLING INTRODUÇÃO: Grãos armazenados fazem parte de um ecossistema cujos elementos bióticos (insetos, fungos, etc) e abióticos (temperatura, umidade, pressão, etc) interagem com os grãos armazenados. Temperatura e umidade dos grãos são elementos que podemos controlar e que por sua vez promovem o favorecimento ou não da ação dos elementos bióticos Sinhá & Muir, 1973 citado por HARA (2002). A alteração de um ou mais fator abiótico poderá contribuir para promover um melhor controle da ação dos elementos bióticos na massa de grãos armazenados. Os agentes abióticos, tais como temperatura da massa de grãos e teor de umidade do produto, constituem elementos determinantes na ocorrência de insetos, fungos e degradação da qualidade do produto durante a etapa de armazenamento. Dentre os diversos métodos físicos para preservar a qualidade do produto armazenado, a utilização de baixa temperatura apresenta-se como uma promissora técnica de manejo de grãos armazenados. Segundo HELLEVANG (1999) a temperatura ideal para o desenvolvimento de fungos e insetos em grãos armazenados é cerca de 27°C, sendo que, com temperaturas abaixo de 21°C há uma redução na reprodução de insetos e, com temperaturas abaixo de 10°C estes se tornam incapazes de se reproduzirem. Segundo CANEPPELE (2003) o manejo da temperatura da massa de grãos também é uma medida física de controle dos insetos, convencionalmente feito através da aeração com ar frio natural. Contudo, em muitas regiões do Brasil, o ar atmosférico não é frio o suficiente, nem mesmo à noite, para favorecer o resfriamento dos silos por aeração quando necessário. MATERIAL E MÉTODOS: O experimento foi realizado no período de abril de 2004 na Cooperativa Agrícola Consolata – COPACOL, unidade localizada na cidade de Nova Aurora, Estado do Paraná. Foi utilizado um equipamento refrigerador de ar apropriado para resfriamento dos grãos de milho, desenvolvido pela empresa COOLSEED. O equipamento foi instalado no sistema de aeração de um silo metálico visando o resfriamento artificial de 3.000 t de milho. O silo tinha 18m de altura e internamente possuíam seis cabos termométricos, sendo que em 5 cabos tinham oito sensores e o cabo central nove sensores. Para o resfriamento do lote de milho o ar foi insuflado pelo sistema de aeração a uma temperatura de 10°C. Os grãos de milho foram resfriados até que atingissem temperatura média de 15o C entre as camadas. Durante a etapa de resfriamento foram monitoradas a temperatura do ar ambiente e as temperaturas da massa de grãos nos diferentes níveis de altura, simultaneamente em intervalos regulares de 12 horas, utilizando o sistema informatizado de termometria da unidade armazenadora. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Figura I mostra a variação da temperatura do ar ambiente durante o período de resfriamento artificial do lote de milho. Analisando a Figura I podemos observar que durante o decorrer da etapa de resfriamento a temperatura ambiente apresentou grande amplitude térmica, variando entre 30o C e 15o C. As temperaturas mais baixas foram verificadas durante o período noturno, quando é normalmente realizado o processo de aeração tradicional. Assim, com a utilização do equipamento de refrigeração artificial, essa variação de temperatura não interfere no processo de aeração, devido à manutenção de forma artificial da temperatura necessária para o resfriamento da massa de grãos. Portanto, para as condições em que foi realizado o resfriamento, podemos concluir que, em se utilizando a aeração tradicional, o tempo necessário para resfriamento da massa de grãos é dependente da disponibilidade de baixos valores de temperaturas as quais são verificadas em poucas horas no decorrer do dia, normalmente no período noturno. 16 /4/ 04 Temperatura ambiente (°C) 17 2:29 /4/ P M 04 17 7:40 /4/ 04 AM 18 5:45 /4/ 04 PM 18 7:43 /4/ 04 AM 5:3 19 5P /4/ M 04 19 7:26 /4/ 04 AM 20 9:45 /4/ 04 AM 21 7:47 /4/ 04 AM 22 8:11 /4/ 04 AM 7 22 /4/ :32 A 04 10 M :20 AM 35 30 25 20 15 10 5 0 Dias e horário da leitura dos dados Figura I Gráfico da temperatura ambiente (°C) durante a etapa de resfriamento do lote de milho Dessa forma, são necessários vários dias de baixas temperaturas para o completo resfriamento da massa de grãos. A Figura II apresenta o comportamento da temperatura (°C) da massa grãos armazenados durante a etapa de resfriamento, nos diferentes níveis de profundidade do silo. Podemos observar na Figura II que a massa de grãos apresentava uma temperatura média próxima à 23o C em todos os níveis de altura, exceção feita a Camada 9, localizada entre a superfície da massa de grãos e o teto do silo, sendo influenciado, portanto, pela temperatura ambiente. Analisando a Figura II podemos notar que a camada de milho próxima ao duto de aeração (Camada 1) é a primeira a atingir a temperatura final de resfriamento, mantendo-se praticamente constante a temperatura durante o restante do período de resfriamento das camadas subseqüentes. A camada superficial ou superior da massa de grãos (Camada 8) localizada próxima ao teto do silo é a última a atingir a temperatura final de resfriamento. De modo geral, podemos observar que as camadas atingiram a temperatura final de resfriamento em seqüência, ou seja, após a Camada 1 atingir a temperatura final de resfriamento, a próxima camada a atingir a temperatura é a Camada 2, seguida pela Camada 3 e, assim, sucessivamente. Esse fato demonstra a existência de uma frente de resfriamento ou zona de resfriamento que avança na massa de grãos em função da vazão de ar fornecido pelo equipamento e do gradiente de temperatura existente entre a temperatura do ar de resfriamento e a temperatura da massa de grãos. A temperatura média final da massa de grãos, após a utilização da técnica de resfriamento artificial, foi cerca de 15ºC, inferior a temperatura máxima recomendada para um armazenamento seguro do milho que é de 20ºC. O tempo total de resfriamento foi de aproximadamente 140 horas. A velocidade de resfriamento ou de avanço da frente de resfriamento na massa de milho, obtida nas condições do experimento, foi de 0,13m/h. Podemos concluir que as temperaturas da massa de grãos ao final do período de resfriamento apresentaram pequenas variações nos diversos níveis de altura, contribuindo para a conservação segura do lote de milho, evitando deterioração da qualidade do produto e futuras migrações de umidade e de correntes de convecção internas do ar intragranular. Camada 1 40,00 Camada 2 35,00 Camada 3 Temperatura (°C) 30,00 Camada 4 25,00 Camada 5 20,00 Camada 6 15,00 Camada 7 10,00 Camada 8 5,00 Camada 9 16 /4/ 04 2:2 17 9P /4/ M 04 7:4 17 0A /4/ M 04 5:4 18 5P /4/ M 04 7:4 18 3A /4/ M 04 5:3 19 5P /4/ M 04 7:2 19 6A /4/ M 04 9:4 20 5A /4/ M 04 7:4 21 7A /4/ M 04 8:1 22 1A /4/ M 04 7 :32 22 /4/ AM 04 10 :20 AM 0,00 Dias e horário da leitura dos dados Figura II Variação da temperatura (°C) média monitorada pelos sensores de termometria durante a etapa de resfriamento dos grãos de milho CONCLUSÕES: Para as condições em que foi realizado o experimento, podemos concluir que: existe uma frente de resfriamento ou zona de resfriamento que avança na massa de grãos; as temperaturas da massa de grãos ao final do período de resfriamento artificial apresentaram pequenas variações nos diversos níveis de altura, contribuindo para a conservação segura dos produtos, evitando deterioração de suas qualidades e futuras migrações de umidade e de correntes de convecções internas do ar intragranular; com a utilização do equipamento de resfriamento artificial a diminuição da temperatura da massa de grãos pode ser realizada a qualquer tempo, independentemente das condições de temperatura e de umidade relativa do ar ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CANEPPELE, Carlos. Qualidade do grão de milho (Zea mays L.) da pré -colheita ao armazenamento, métodos de monitoramento e controle de insetos. Tese apresentada ao curso de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná. 2003. HARA, Tetuo. Armazenagem de grãos. Sistema de Aeração de Grãos. Instituto Bio Geneziz, IBG, Campinas, SP. 2002. HELLEVANG, K. Cool Stored Grain to Prevent Damage. In.: Agriculture Communication, North Dakota Univerty, 1999. Disponível em: http://www.ext.nodak.edu/extnews/newsrelease /1999/110499/11coolst.htm. Acessado em 24 de junho 2004.