EDUCAR PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO ENVOLVENDO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA 1 DEUS, Josiani Camargo & 1 AMARAL, Anelize Queiroz 1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste RESUMO Nos dias atuais educar, para o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas nas diversas formas de participação para defender a qualidade de vida. Principio esse apresentado na Agenda 21, tendo na Educação o principal instrumento a ser orquestrado ou reorientado em direção à sustentabilidade. A Educação passa a ser vista não mais como um fim em si mesma, mas como um meio para se atingir grande meta: o desenvolvimento sustentável em todos os setores de atividades (AGENDA 21, 2001). Num sentido abrangente a noção de desenvolvimento reporta - se á necessária redefinição das relações entre o homem e a natureza e, portanto, a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do conceito para a ação. Sendo assim o presente trabalho teve como objetivo buscar de que forma os mediadores do conhecimento estão abordando esse tema em sala de aula, sendo analisado as formas metodológicas de ensino e conceitos. Para isso aplicou - se um questionário há seis professores que lecionam em escolas públicas onde os mesmos através de suas concepções definiram sustentabilidade e as possibilidades de se educar para um futuro sustentável. Cabe aqui destacar que quatro professores recusaram responder o questionário, o que demonstrou grande resistência e indisponibilidade para ampliar os seus conhecimentos com relação à temática apresentada. Após a submissão dos dados a uma análise qualitativa, observou - se que tais professores têm o conceito bem definido sobre o tema, e que acreditam na possibilidade de formar adultos com hábitos saudáveis, pois é através da educação que iremos progredir para a conservação de uma base produtiva para a sustentação do bem estar. Palavras – chave: Sustentabilidade, educação, desenvolvimento sustentável, professores. INTRODUÇÃO Atualmente podemos testemunhar a emergência do discurso da sustentabilidade, uma expressão dominante em debates que envolvem as questões ambientais e o desenvolvimento social como um todo e que vem sendo pronunciada constantemente por toda a sociedade, assumindo dessa maneira múltiplos sentidos. A sustentabilidade das atividades humanas e a distribuição da população têm - se tornado uma das maiores preocupações dos indivíduos em geral e principalmente das políticas sociais. Mas para se alcançar e até mesmo se aproximar da sustentabilidade é imprescindível uma maior compreensão para posterior aplicação. A Agenda 21 Global ampliou o conceito de desenvolvimento sustentável, buscando conciliar justiça social, eficiência econômica e equilíbrio ambiental, em um documento que indica os caminhos para alcançá-los, com as ferramentas de gerenciamento necessárias. Oferece ainda políticas e programas no sentido de se obter um equilíbrio sustentável entre consumo, à população e a capacidade de suporte do planeta (SIRKIS, 1999). Chamar uma atividade de “sustentável” significa que ela pode ser continuada ou repetida em um futuro previsível. No entanto a preocupação dos pesquisadores é que as atividades humanas são insustentáveis devido ao crescimento exacerbado da população humana global. Para mantermos a diversidade da natureza é necessário não retirar da natureza mais do que a capacidade que ela tem de repor, quando trata - se dos recursos naturais, se não provocaremos a extinção de diversas espécies (TOWNSEND, BERGON, HARPER 2006, p. 441,442). O crescimento de humanos significa um aumento na demanda por energia, maior consumo dos recursos não renováveis, mais produção de alimentos pela agricultura entre outros fatores que estão interligados a sustentabilidade. Nas décadas de 1960 e 1970 a maior preocupação estava voltada às fontes de energia que eram tidas como finitas e esgotáveis, porém, podemos observar que essa realidade mudou, hoje a nossa atenção tem sido voltada para o desperdício da água seja ele pelo consumo doméstico ou agricultura, atingido cerca de 70% das fontes disponíveis tornando tal prática desperdiçadora e insustentável. (TOWNSEND, BERGON, HARPER 2006, p.447). De acordo com Bassani e Carvalho (2009, p.2) nas últimas três décadas devido à ação humana e outros fatores houve um aumento exacerbado relacionado à degradação ambiental. O que nos leva a acreditar que atitudes concretas precisam ser tomadas principalmente quando as questões socioeconômicas estão articuladas á sustentabilidade, já que grande parte da humanidade não detém de uma vida sustentável. Colocar em prática através de atitudes efetivas, projetos por meio de instituições educacionais sendo estes projetos voltados a partir de uma reeducação com estratégias práticas adequadas ao tempo de hoje é sem dúvida uma forma para se superar ações insustentáveis visualizadas nos dias atuais. Por várias razões o modelo de desenvolvimento e as tecnologias tornam – se insustentáveis surgindo a necessidade de construir um modelo sustentável, não somente em desenvolvimento material, mas intelectual, cultural, afetivo, ético, solidário e eco – pedagógico, discursos esses que em sua grande maioria aparecem isentos de ações concretas e efetivas. (BASSANI,CARVALHO, 2009. p.5) Adquirir uma conduta ambiental favorável não se constrói através de palestras, ou qualquer outro evento social, mas a construção de uma nova ordem social esta vinculado a valores culturais e políticos diversos que resultam através de interesses opostos e contraditórios. Sendo assim torna – se necessário consolidar novos paradigmas educativos centrados em mostrar a realidade de outros ângulos não focada em apenas alguns aspectos, mas que haja uma construção ativa do conhecimento e principalmente a transformação de atitudes. SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO No Brasil o tema educar para sustentabilidade ainda é pouco disseminado na literatura, e em práticas concretas que relacionam a educação e a natureza. De acordo com Jacobi (2003, p.190) a dimensão ambiental insere diversos atores do universo educativo, pois necessita de diversas áreas do conhecimento, a capacitação desses profissionais e de toda a comunidade preocupada com a construção do saber. Nos dias atuais em que a informação assume um papel cada vez mais relevante seja através da mídia, dos jornais ou até mesmo da internet, a educação representa a “possibilidade” de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Assim sendo pode-se ressaltar que a educação para a sustentabilidade ambiental assume um papel transformador, pois a responsabilidade dos indivíduos torna - se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento. De acordo com Nardi, Bastos e Diniz (2004, p.52) independentemente de haver ou não uma mudança conceitual a aprendizagem de temas relacionados a ciências é um processo que requer construção e reconstrução de conhecimento, principalmente quando trata – se de educar para um mundo sustentável, pois muitos alunos apresentam diferentes graus de dificuldade em interpretar as informações, ou seja, envolver a interação entre fatores internos e externos á mente do aprendiz. A sustentabilidade busca superar o reducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente que está associado ao diálogo entre saberes tal como a participação da comunidade, aos valores éticos, pois fortalece a ampla interação entre a sociedade e a natureza. A educação ambiental nos leva repensar nas práticas sociais e o papel dos professores como mediadores de um conhecimento, para que os alunos adquiram uma base adequada de compreensão da natureza como um todo, dos problemas e soluções relacionados à mesma, e da responsabilidade de cada individuo para construir uma sociedade planetária mais consciente e ambientalmente sustentável (JACOBI, 2003 p. 204). De acordo com o contexto apresentado, nosso trabalho buscou por meio de um questionário identificar as concepções, anseios e atitudes que professores da educação básica apresentam sobre a temática sustentabilidade. METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido com dois professores da disciplina de biologia da educação básica da rede estadual de Cascavel – PR. Para efetivação do trabalho primeiramente os professores responderam um questionário que teve por objetivo verificar as concepções que ambos têm sobre sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e se os mesmos têm uma preparação para abordar temas relacionados à educação ambiental, além de verificar se existe material didático para orientar o trabalho na instituição. Para o levantamento de dados aplicaram-se aos professores questionários, sendo que de uma amostra de seis professores apenas dois responderam as questões propostas, constatando-se a falta de colaboração dos demais professores e suas resistências quando são suas respostas pessoais que estão em jogo. Os dados utilizados para a execução deste trabalho foram obtidos mediante análise de fontes primárias, ou seja, informações obtidas mediante aplicação do questionário, formado por dez questões abertas, no intuito de obter um resultado qualitativo, claro, coerente e preciso. No processo de análise foram envolvidos dois procedimentos importantes tal como a codificação das respostas e a tabulação dos dados. Após a análise de dados consequentemente houve a interpretação das respostas obtidas que consistiu fundamentalmente, em estabelecer a ligação entre os resultados obtidos com outros já conhecidos, derivados de teorias, e estudos realizados anteriormente. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao analisar os dados obtidos através do questionário e dos levantamentos bibliográficos, podemos observar que os professores da amostra coletada têm um conhecimento bem definido sobre sustentabilidade. Acreditam que pensar de maneira consciente é buscar recursos renováveis reduzindo assim os impactos na natureza, mas nem sempre o tema é abordado diretamente em sala de aula segundo os dados, ou há um breve comentário na aula de ecologia ou é trabalhado em forma de aulas práticas onde os professores procuram socializar a natureza em si com o aluno, envolvendo dessa forma os conhecimentos científicos, mas com a intenção que haja uma sensibilização e reflexão desse indivíduo com o meio em que vive. Mediante a reposta de um professor ele coloca que o tema deixa de ser abordado nos livros didáticos por se tratar de um assunto atual de acordo com a fala abaixo: A1 - “É considerado um desafio contemporâneo, que é um caderno com assuntos que podem ser trabalhados em todas as áreas”. Diante desta argumentação apresentada será que é necessário o conteúdo estar no material didático para ser comentado com os aprendizes? Será que tais materiais não estão disponíveis nas instituições de ensino? Essas questões nos remetem a pensar que grande parte dos professores segue apenas o livro estipulado pelo governo e não buscam em outras bibliografias assuntos atuais, para serem discutidos no ambiente escolar, dessa forma pode-se considerar uma própria falha do sistema educacional, visando que existem materiais excelentes disponíveis nas instituições de ensino, porém os professores não sabem como utilizar, um exemplo claro é a própria Agenda 21, como dados apresentados na fala a seguir: A2 - “Porque não basta estar presente em leis, PCNS, diretrizes, o maior problema é que muitos professores não sabem como trabalhar”. Para Carneiro (2008): [...] dada à emergência, em nossos dias, da necessidade de conscientização e capacitação prática dos cidadãos para a sustentabilidade socioambiental, torna-se urgente também o desenvolvimento da educativo, formal seja prioritariamente da dimensão ou formação ambiental não, inicial mas e no processo que depende continuada dos profissionais da educação. O sistema de ensino fragmentado em disciplinas não se torna um empecilho para a implementação de modelos ambientais integrados e interdisciplinares de acordo com o educador, pois acredita que cada disciplina trabalha de acordo com a sua especialidade, mas há uma contradição na resposta do mesmo, pois esse acha de extrema importância os professores de biologia incorporar vários conceitos de várias áreas para fundamentar posteriores aplicações como podemos observar a seguir: A1 – “Creio que não, pois todas as disciplinas trabalham de acordo com a sua especialidade, mas acho de extrema importância aos professores de biologia, obter conceitos de outras áreas para dar clareza e fundamentar tudo sobre estes em suas aplicações”. No entanto o outro professor acredita que há fragmentação no ensino, e que não se pode fazer educação ambiental de maneira disciplinar, por se tratar de um tema amplo que envolve toda a comunidade escolar e até mesmo a sociedade. De acordo com Pombo (2004), a questão é reconhecer que determinadas investigações reclamam a sua própria abertura para conhecimentos que pertencem, tradicionalmente, ao domínio de outras disciplinas e que só essa abertura permite compreender as camadas mais profundas da realidade que se quer estudar. Podemos observar também que os professores desconhecem os projetos dentro da própria escola que lecionam já outros procuram incentivar seus alunos através de projetos que colocam em prática os conceitos expostos em sala de aula, seja ele por meio da separação do lixo ou até mesmo a construção de uma horta orgânica, como citado na fala de um profissional da educação. A2 – “Sim, há projetos como horta orgânica e lixo que não é lixo”. Portanto, na concepção desses profissionais é possível educar para um futuro sustentável, desde que haja mudanças nos sistemas de ensino e principalmente que estes não desistam de formar uma geração com hábitos saudáveis, pois tudo caminha por meio da educação e é através desta que se formam indivíduos críticos, éticos e que irão saber viver em harmonia com o ambiente em que vivem. Para se construir uma educação ambiental é necessária uma mudança paradigmática, para tanto, tem de haver investimentos na formação de professores e atitudes políticas que tenham interesse de reformar o sistema educacional. Mas principalmente que toda a sociedade tenha capacidade de aprender, criar, e exercitar novas concepções e práticas de vida, de educação e de convivência individual, social e ambiental e que esses profissionais sejam capazes de substituir os velhos modelos em esgotamento, pois é dentro da escola que se constrói a cidadania e o ser consciente capaz de enfrentar os desafios mais emergentes. Não se trata de homogeneizar a moldagem de cidadãos, mas edificar a partir de cada realidade a construção de um pensamento e um futuro sustentável, respeitando as diversidades e garantindo um compromisso com as gerações futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSANI, P; CARVALHO, M.A.V.de. Pensando a sustentabilidade: Um olhar sobre a agenda 21. CARNEIRO, S. Formação inicial e continuada de educadores ambientais. Revista Eletrônica Mestrado em Educação Ambiental, v. especial, dezembro de 2008. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21, Curitiba: IPARDES, 2001. JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 118, p. 189-205 março 2003. NARDI, R; BASTOS, F; DINIZ, S. da. E.R.Pesquisas em ensino de ciências: Contribuições para a formação de professores. São Paulo: Escrituras editora, 2004, n.5, p. 52 – 53. POMBO, O. Interdisciplinaridade: ambições e limites. Lisboa. Relógio dágua, 2004. SIRKIS, A. Ecologia urbana e poder local. Rio de Janeiro: Fundação Onda Azul, 1999. TOWNSEND, C. R; BERGON, M; HARPER, J. L. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2006, n.2, p. 442 – 477.