Métodos de monitorização da varroa nas colónias. Filipe Nunes (Médico Veterinário, Hifarmax) Carlos Relva (Eng. Florestal e dos Recursos Naturais, Hifarmax) Na apicultura atual a monitorização e controlo da população de ácaros de varroa nas colónias de abelhas torna-se fundamental, por vários motivos: Dar informação ao apicultor, para poder fazer uma gestão ativa das suas colmeias, podendo decidir quais as melhores técnicas a utilizar em determinado momento de forma a manter a varroa controlada. Conhecer a dimensão da população de ácaros nas colmeias, de forma a poder tomar decisões em relação a aplicação do tratamento (tomar a decisão de tratar ou não tratar). Monitorizar a eficácia dos tratamentos realizados e verificar se a população de varroas depois do tratamento é suficientemente baixa para manter a colónia em segurança ou se é necessário fazer novo tratamento. Atualmente existem diferentes métodos de amostragem da população de varroas nas colónias, os quais podem ser utilizados de acordo com os objetivos de cada amostragem e do rigor exigido. Tabuleiros de recolha (Queda Natural) Este método consiste em colocar nas colmeias estrados com um fundo em rede, os quais vêm já preparados para levar um tabuleiro metálico onde são recolhidas as varroas que caem da colónia. Existindo variantes deste método, os tabuleiros plásticos que se colocam sobre o estrado dentro da colmeia, ou cartolinas impregnadas com Fig. 1: Estrado Sanitário com tabuleiro de recolha vaselina, que também são colocadas sobre o estrado, as varroas que caem ficam presas na vaselina, impedindo que voltem para as abelhas. Cuidados a ter neste método: As colmeias devem estar em suportes preparados para evitar a passagem de formigas, porque as formigas comem as varroas ou levam-nas, alterado os resultados da contagem da queda da varroa. Os tabuleiros devem ser examinados e contados de acordo com uma frequência pré-definida, que poderá variar entre 1 dia e 1 semana. Um intervalo de tempo muito grande aumenta a dificuldade da contagem, devido ao grande número de ácaros e de detritos que se acumulam nos tabuleiros. Contagens com intervalos de tempo mais curtos facilitam a contagem, no entanto, é necessário ter cuidado com o número de horas que o tabuleiro fica na colmeia, de forma a não cometermos erros na estimativa da queda média diária de ácaros. Consoante o número de horas que o tabuleiro fica na colmeia e as horas do dia, pode levar a uma sobre ou subestimativa da população de varroas presentes na colónia, porque a própria dinâmica e comportamento das abelhas na colónia afeta a queda da varroa. Independentemente do intervalo de tempo entre contagens, é importante passar os valores de varroas contados, para uma média de queda diária, para isso, é necessário dividir o número de varroas contadas pelo número de dias em que os tabuleiros estiveram na colónia. Este método de amostragem é baseado no facto de existir uma relação direta entre o número de ácaros que caem naturalmente no tabuleiro e a população de ácaros existente na colónia. Vantagens e desvantagens É um método sensível capaz de detetar pequenas populações do ácaro, permitindo ao apicultor ter uma boa estimativa da dimensão real da população de varroa na colónia. Não perturba o normal funcionamento da colónia e é não destrutivo, o que permite o seu uso durante todo o ano. É o método de amostragem mais rigoroso quando bem utilizado. No entanto, requer muito tempo que aumenta diretamente com o número de colmeias utilizadas, dá algum trabalho, nas contagens dos tabuleiros, na colocação e remoção dos mesmos. Requer o investimento em material específico (estrados de rede e tabuleiros ou os tabuleiros plásticos). O tempo de contagem dos tabuleiros aumenta diretamente com o número de ácaros e com a quantidade de resíduos (Calderone & Lin; 2003). Exige visitas regulares ao apiário de acordo com o intervalo definido para as observações dos tabuleiros FERA 2010. De acordo com a nossa experiência recomendaríamos contagens com frequências entre 2 a 4 dias. Para valores de queda diária de varroa superiores a: Outubro/Novembro: 3 varroas; Dezembro /Janeiro: 10 varroas; Fevereiro/Abril: 15 varroas; Maio/Junho: 20 varroas Deve tratar. Inspeção da cria de zangão Este é outro método utilizado para acompanhar a dinâmica populacional da varroa, baseia-se no facto de existir um conjunto de factores que leva a que as infestações de varroa na criação de zangão operculada sejam maiores que na criação de obreiras. Consiste em selecionar uma região ou mais regiões do ninho com criação de zângãos operculada e com a ajuda de um garfo desoperculador, retirar as pupas de zângão, para em seguida serem inspecionadas em relação à presença de varroa quer sobre pupas quer dentro dos alvéolos. Repita este procedimento até analisar pelo menos 100 células operculadas com pupas de zângão. Fig. 2: Grafo de desopercular com pupas de zangão e com várias varroas. Conte todas as pupas de zangãos analisadas e destas as que continham varroa. Estime a proporção de pupas que têm varroas sobre si ou dentro do alvéolo. (O número de pupas com varroa / número total de pupas analisadas) x 100 FERA 2010 De uma forma geral, 5% da criação de zângão afetada representa uma infestação leve. Acima dos 30% de pupas infestadas considera-se que a colónia está gravemente infestada e deve ser aplicado um tratamento contra a varroa de imediato. Vantagens e desvantagens do método É um método que não requer muito tempo por parte do apicultor, não dá muito trabalho e é facilmente integrado nas inspeções rotineiras das colónias, pelo apicultor. No entanto, os dados obtidos por este método são pouco rigorosos, requer algum cuidado por parte do apicultor aquando da sua aplicação, para a correta contagem dos alvéolos de zangãos observados e destes os que continham varroa. Este método permite obter uma aproximação da população de varroa nas colmeias, mas não dá dados concretos sobre a dimensão da população de varroa e o estado da infestação na colónia. Inspeção da cria Este método torna-se relevante apenas quando não existe criação de zangão na colmeia, porque as varroas apresentam preferência pela criação de zangão. Consiste em retirar uma área de favo com cria dos dois lados, esta recolha pode ser realizada durante uma visita rotineira ao apiário pelo apicultor. Para isso tem de selecionar um quadro com criação nos dois lados, sacudir as abelhas que estão sobre o quadro para dentro da colmeia, e Fig. 3: Colheita de favo com cria. selecionar uma área de favo com Foto retirada: abelhasdosor.blogspot cerca de 30cm2 (5cm X 6cm). Com a ajuda de uma faca serrilhada corte o pedaço de favo, se possível evitando os arames do quadro, e guarde-o de forma a que este não se amachuque durante o transporte. Tome nota da colmeia e do local da colmeia onde retirou o quadro. Fora do apiário, é importante calcular a área (em cm2) do favo e tomar nota da área efetivamente ocupada com criação operculada. Multiplique este valor por 4.2 (caso se trate de criação de obreira), ou 2.9 (caso se trate de criação de zângão), para obter o número de células operculadas da amostra. De seguida deve montar os crivos, o superior de 5mm e o que fica em seguida por baixo com uma malha mais apertada de 0,5mm ou um pano de preferência branco. Após isso, desopercule a criação (com a ajuda de uma faca que corte bem ou um garfo de desopercular), e coloque o favo e os opérculos sobre o crivo superior. Depois lave os opérculos e o favo com a ajuda de um chuveiro, para que todo o material que está dentro dos alvéolos saia para o crivo e em seguida lave o material que está no crivo superior para garantir que as varroas passam todas para o crivo inferior. Fig. 4: Favos desoperculado com cria. Foto retirada: montedomel.blogspot Deixe escorrer um pouco e em seguida conte o número de varroas adultas (de cor castanho-escuro avermelhado) que estão no crivo inferior. O nível aproximado de infestação da colónia (em %) será: (Nº varoas contadas/ Nº de células operculadas) x 100 Valores de infestações superiores a: 15 % (na criação de obreira) 30 % (na criação de zângão) Deve tratar as colónias o mais rapidamente possível. Vantagens e desvantagens. É um método que permite fazer a recolha do material e levá-lo para ser analisado noutro local ou ser guardado e analisado mais tarde. Não requer muito tempo e é fácil de executar, a recolha pode ser efectuada numa visita de rotina do apicultor ao apiário. Pode ser utilizado em colónias que tenham morrido há pouco tempo, como forma de determinar a taxa de infestação da colónia, a fim de perceber se a causa de morte terá sido a varroa. É pouco sensível a populações de ácaros pequenas e no caso de populações grandes de ácaros, este método pode sobrestimar a população. Outra das desvantagens deste método é o fato de ser destrutivo, obriga a cortar uma parte de favo de criação que é levado, por este motivo não pode ser utilizado de forma constante ao longo do ano e não pode ser utilizado em todas as épocas do ano. Como máximo pode utilizá-lo 6 vezes por ano numa colónia. Infestação em abelhas adultas Este é um dos métodos mais utilizado pelos apicultores e técnicos, por ser um método muito prático, que permite obter dados imediatos do estado da colmeia. Material para este método Um frasco com uma boca larga e tampa, (frasco de mel de 1kg) Água limpa Detergente (Uma colher das de chá) Fig. 5: Amostras, de favo com cria e de abelhas. Foto retirada: montedomel.blogspot Etiquetas Um pano branco ou crivo com malha de 0,5mm Um crivo ou um passador (com uma malha 5mm) Um funil Procedimentos Encher até 1/3 do frasco com água limpa Juntar umas gotas de detergente (ou uma colher das de chá) Num quadro da câmara de criação sacudir cerca de 100 abelhas para dentro do frasco (antes confirme que a rainha não está nesse quadro) e tape imediatamente. Agitar até que todas as abelhas estejam mortas. Verta toda a solução e todas as abelhas que estão no frasco para o crivo superior que por sua vez está sobre o pano branco, (colocar primeiro o crivo de 5mm para reter as abelhas e colocar por de baixo um crivo de 0,5mm ou um pano branco para reter as varroas), lave bem as abelhas que ficaram no crivo superior de forma a garantir que não ficam varroas aí retidas. Contar o número de abelhas e anotar. Contar o número de varroas e anotar. Calcular qual a percentagem de infestação ((número de varroas/ número de abelhas)x100%) se este valor for superior a 5% tem de tratar as suas abelhas contra a varroa o mais rapidamente possível. Vantagens e desvantagens do método. É um método que é muito expedito, a recolha das abelhas é rápida, as abelhas podem ser levadas para um local fora do apiário onde possam ser feitas as contagens de forma confortável. A recolha das abelhas pode ser conciliada com uma visita de rotina ao apiário. Dá-nos de imediato a relação de varroas por abelhas, sendo esta relação um bom indicador do estado da colónia. Desvantagem é um método que mata algumas abelhas, por isso não pode ser utilizado muitas vezes por ano, nem pode ser realizado na mesma colmeia mais que 6 vezes por ano. Também não ficamos com uma ideia concreta da dimensão da população de varroas, o resultados podem variar com a hora do dia e local de onde são recolhidas as abelhas. Conclusões: Ao longo do texto são apresentados 4 métodos de monitorização da varroa, com o objetivo de dar a conhecer ao apicultor diferentes métodos de monitorização da varroa. Desta forma o apicultor poderá escolher para as diferentes situações do seu dia-a-dia o melhor método, de acordo com as vantagens e desvantagens que cada um deles apresenta. O outro aspeto que consideramos ser importante é que o apicultor seja capaz de escolher qual destes métodos é o mais apropriado para utilizar de acordo com os objetivos da monitorização, recursos e tempo disponível. E a partir dos dados recolhidos ser capaz de tomar decisões. Alguns dos métodos aqui apresentados tem variações que têm sido introduzidas por distintos autores, no entanto a base do método continua a ser a mesma. Bibliografia FERA 2010, Managing Varroa; Sand Hutton, York (www.defra.gov.uk/fera) Calderone, N.; Lin, S.; 2003 - Rapid determination of the numbers of varroa destructor, a parasitic mite of the honey bee, Apis mellifera, on Sticky-board collection devices; Apidologie 34, 11-17 Murilhas, A.; Casaca, J.; 2004 - Conviver com a varroa em Portugal; Universidade de Évora;