AS ETIMOLOGIAS POPULARESNO HUNSROCKFALADO EM s10
TINHO,
SANTA CRUZ DO SUL,
MA!
RS.
o fracasso das colonias de Tres Forquilhas
e
S. Pedro D'Alcantara, fundadas no RB, em 1825,
ensinou
ao governo que os estabelecimentos coloniais
ser fundados ao longo de vias de comunica~ao.
deveriam
0 rio dos
Sinos, navegavel, fora 0 fator principal do progresso da
colonia de Sao Leopoldo e da colonia de Mundo Novo
IT!
quara). Colonia sem via de trans porte teria 0 malogro co
roo destino.
Nos meados do seculo XIX, Rio Pardo, as margens
do rio do mesmo nome, afluente do JacuI, pleiteava
urna
liga~ao com os campos de Cima da Serra. Uma estrada,sai~
do de Rio Pardo, passando pela freguesia de Nossa Senh2
ra da Soledade,
rumo ao norte, atrairia
0
comercio daqu!
la regiao.
A colonia de Santa Cruz (1849) foi a
primeira
a Ber criada pelo governo da Provincia do Rio Grande do
SuI. Sua funda9ao teve como finalidade especIfica, dese~
volver as regiOeB ao longo da estrada do mesmo nome, em
conBtru~io, e tao desejada por Rio Pardo. Nao houve pre2
cupa9&o em localizi-la junto a urn rio navegavel. A
via
terrestre
e a proximidade
Pardo, seriam penhorea
Os primeiros
do porto fluvial
de
de progresso.
colonos
alemaes
chegaram
i
col~
nia de'Santa Cruz no dia 19 de deze~blo de 1849 e estab~
leceram-se a oito qUilometros ao norte da atual sede do
municIpio, no alto da serra, na localidade hoje conheci
da sob 0 nome de Linha Santa Cruz ou Picada Velha.
Eram
6 famIlias, urna da Prussia e cinco da Silesia
Martin,
1979: 331. Em 1850 chegavam mais 74 pessoas e em
1851,
'outras 145.
As terras eram presenteadas
pelo governo
da
ProvIncia aos colonos. Cada alemao casado, ou
solteiro
que se casasse apas a dbegada, recebia uma colonia, i. i,
11 hectares
cultivar
de terra aproximadamente,
dos quais
a oitava parde no prazo de dois anos.
o
transporte
deveria
do porto de Rio Pardo a Santa Cruz
era gratuito e cada colono recebia, gratuitamente,
mentos para urn meso 0 governo da ProvIncia tambem
tia a liberdade religiosa,
licos e 0 ensino gratuito.
a constru~ao
de templos
al!
pro~
cat2
Apesar do estado lastimavel das estradas, a co
lonia prosperou sob todos os pontos de vista, esten4end2
se para 0 norte, leste e oeste. Nos primei.roB anos
do
seu estabelecimento,
a economia
era exclusivamente
base!
da na agricultura. Fouquet (1974:29) afirma que os hab1
tantes de Santa Cruz ficaram f&DlOsos, em compara~ao
a
outros, por seu esplrito de solidariedade • a 8ua In40l.
- 99 -
pacIfica.- 0 cultlvo do tabaco tornou-se, deade 0 1nIcl0,
a riqueza prlnclpal da colonia. As primelraa aementes da
preciosa salanacea havlam chegado de Cuba, _ 1851. A ~
pulaQio crescla. Em 1855, S. LeOpoldo era a colonia mal.
prospera da ProvIncia, COllI doze mll habltantes, sequida
pela de Santa CrUll,com mala de mil duzento. e trlnta ~
10no••
A instruQio do Presidente da ProvIncia do
Rio
Grande do SuI, de oito de fevereiro de 1859, criou a c2
Ionia provinclal de Monte Alverne, is margena do arroio
Castelhano, nas proximidades do rio Taqueri, a 25 qui12
metros ao norte da colonia de Santa Cruz. A referida in!
truQio tambem determlnava a li9aQ&0 da colonia, por
e!
tradas, com 0 rio Taquarl, a leste, com a colonia de S~
ta Cruz, ao suI, e a frequesia de Nossa Senhora de Sol!
dade, ao norte (Martin, 1979: 121). Sete anos apOs
a
fundaQio, em 1866, Mente Alverne encontrava-se subordin~
da i colonla de Santa Cruz. Pelo ato n9 113, de 30
de
dezembro de 1907, da Intendencia Munlclpal de Santa Cruz,
tornou-se a sede do 59 Dlstrlto Adminl.tratlvo
daquele
munlcIpl0, sio Martlnho lntegrava 0 novo 4l.trlto. IVJl!!
ramos 0 motlvo de Monte A1verne ter pas.ado do 59 para 0
39 dlstrito.
Ea 1886, eo-. a final1c!adede explorar as terras
devolut•• , .It_d •• ao norte do aunic!Pl0 de Santa Cruz,
- 100 -
hoje Santa Cruz do Sul, foi fundada
Julio Eichenberg
dao", encontrada
a imobiliaria
"Jorge
e Outros". A "Planta da Colonia de Par!!
na mapoteca da Secretaria da Agricultu-
ra, em Porto Alegre,
elaborada
pela citada
revela que, no mesmo ano, as 13 primeiras
imobiliiria,
cOlonias
entio Picada Sao Martinho, posteriormente
Linha Sao
tinho (SM), haviam sido vendidas aos 13 primeiros
da
Ma!
pr2
prietarios, todos de religiao catolica e predominanteme~
te "Hunsracker", i. i originarios do Hunsrack. Desde
inlcio,
sio Martinho
de catolicos.
tornou-se
conhecida
0
como urna picada
Esse fato atraiu grande quantidade
de
c~
sais da mesma religiio de outras localidades,
especial
mente de sio Felipe Neri, Boa Vista, Picada Velha e
o~
tros nucleos coloniais fundados anteriormente.
sio Martinho esti situada a 32 quilometros
norte da cidade de Santa Cruz do Sul, sede municipal
ao
e a
14 quilometros
Di!.
a oeste de Monte Alverne,
sede do 39
trito de Santa Cruz do Sul.
Sao Martinho,
santo da Igreja Catolica,
frances
de nascimento. conhecido pelo amor aos pobres, foi,
em
vida, bispo de Tours. Popular e venerado em certas ireas
da Fran~a, i praticamente desconhecido na Alemanha e no
Brasil. Por que motivos Sao Martinho levari a 0 seu nome?
Teria side dado i localidade
pelos primeiros
moradores
,
alemies au descendentes, is vezes francofobos. Claro que
nio. 0 padroeiro da capela local i 0 Sagrado Cora~ao
de
V!
Jesus. De sio Martinho de Tours nem estatua existe.
rias pessoas, nascidae em Sao Martinho, asseveravam
que
urn dos pr1meiros compradores de terrae da regiio
teria
sido 0 negociante Martin Geller, de Monte A1verne. A de!.
- 101 -
coberta da "Planta da Colonia de Paredao" confirma
a
compra. e provivel que, a tItulo de propaganda, a 1JIlOhlliuia
"Jorge Julio Eichenberg e Outro." tenha dado,
i
Picada,
0
nome do santo padroeiro
de Martin Geller.
o territorio do Hunsrdck constitui parte da R~
pUblica Federal da Alemanha;estende-se
entre os rios M~
sela ao norte e 0 Nahe ao SuI. A leste, e limitado
pelo
Reno e a oeste, pelo territorio do Saar. As
investlg~
Qoes '..concernentes i origem desse toponlmico,
continuam
ate hoje. A pobreza do solo e certos problemas polIticos,
tais como a denomlnaQao prussiana, foram as causas pri~
cipais da emigraQao em massa de seus habitantes.
Na epoca das emigra~oes de 1824, 1849 e
post~
riores, para 0 Brasil, a Aiemanha nao existia como pals
unificado. Uma diversidade de dialetos eram falados pelas
pessoas nao letradas. As classes cultas cultivavam, pelo
menos, dois dialetos: 0 Hochdeutsch (HDl, lIngua padrao,
• um dialeto regional. 0 dialeto alemao, conhecido
sob
o nome de Hunsrack (HRl, era falado no territorio
me nome e adjacencias.
do me!
Desde 1824, inlcio oficial da cOlonlzaQao
mi no Rio Grande do SuI, as levas mais numerosas de
grantes vinham do Hunsrtlck (Pimpao, sid: Ill.
al~
imi
alemies,
vindos para
da Pomerania
0
Rio Grande
e, especialmente,
do Sul,eram
originirioa
do Hunarack.
Os primeiros "habitantes de sio Martinho
eram
do Hun,srGck ou descendentes de -HunsrGcker-.
Integrando
a cultura geral, trouxeram 0 seu dialeto de predile~io,
que dominou os outros dialetos, nio so em sio Martinho ,
mas em todas as outras
colonias
Como causas do domInio
tros dialetos germinicos podemos
1. 0 Hunsrack
era entendido
gerainicas
do estado.
do Hunsrack
apontarl
por todos os
sobre
o~
imigrantes
e p.odia ser "considerado como um meio de comunic!!
~io aceito por falantes de outros dialetos;
2. a superioridade
sio Martinho,
numerica
os falantes
dos seus falantes.
do Hunsrack
Em
enriquec!
ram 0 lexico do seu dialeto de virias
maneiras,
especialmente por emprestimos que tiveram a
lI~
gua portu9uesa como fonte.
Uma pesquisa ampla que estuda os
exprestimos
portugueses regularmente usados no Hunsrack de sio Mart!
nbo, entre 1925 a 1942, esta sendo elaborada pelo
autor
do presente trabalho. 0 proprio autor, nascido na local!
dade, e outros membros de sua famIlia, servem de
info!
mantes. ! um trabalho retrospectivo,
unico no genero, p!
10 que sabemos. Escolhemos, como centro da presente
ferincia, alguns exemplos de etimol09ia popular, de
constante
na ipoca.
oo~
uso
~ao ao modelo. Sheard t19S6:90) tenta urna explica~ao
p~
ra 0 fato: nas primeiras interferencias 0 bilingde,
em
vez de entender 0 modelo da lIngua doadora do emprestimo,
associa
0
mesmo, ou parte do mesmo, a urna forma
da. Este processo, conhecido
definido por Pyles como
como etimologia
conhec!
popular,
i
a change in the form of a word that is new or
strange to a speaker to make it conform to a
familiar word
(Pyles, 1962: 67).
As etimologias
populares do HR de Sao
nho podem ser divididas em dois grupos:
0 mode 10 portugues,
mesmo, a urn outro mode 10 portugues,
Mart!
1. as que associam
ou parte
do
ja conhecido:
2. as que associam 0 modelo portugues,
mesmo, a urna forma do Hunsrdck.
ou parte
do
Ac;oita-cavalo [a'soyta ka'valo),
s. m. HR [SEtekaval),
s.m. Arvore da famIlia das tiliaceas que fornece
madeira de lei: mogno. Por etimologia popular,
0
primeiro elemento do justaposto portugues
foi
associado ao numeral portugues sete. 0
segundo
elemento
sofreu apOcope.
Cavadeiro (kava'deyro] , s. m. HR (graVade'ra),
s. m.
Ferramenta apropriada para cavar buracos no chao
e abrir as covas para 0 plantio de cereals.
Por
etimologia popular, as duas primeirassI~
'er~
ao HR [gra' v1>], v. Cavar. HD graben.
asSOC1aC'.as
Erval
(Er'val),
8. m. HR [trV;,vald)
• s. m. Nome
de
localidade ao norte do municIpio de Santa Cruz e
ao aul do municIpio de SOledade, onde a erva-mate
era encontrada
tugues erval
emprest1mo,
em eatado nativo. No derivado
po£
(erva+all, que serviu de modelo
de
a vogal de ligay&O sofreu 0 metapla.-
810 de centralizayao.
fixo derivacional
nominal
Por etimologia
-aI, foi associado
do HR {vald]
popular,
ao
0 .~
radical'
, s. m. Mata. HO. ~.
I'oiee [~oyse] , a. m. HR [fukS] s. m. Podio. Por eti~
logia popular, 0 modelo portugues foi, inexplicavelmente,
HO.
"aBforo
aS80ciado
ao HR [fukS] , 8. m.
Raposa.
~.
['f" sforo ] , s. m. HR [f{stEya] ou [flksf£ya] ,
s. n. (neutro) Elemento qulmico que arde
quando
friccionado. Na primeira alternativa, as duas u!
tim~s .Ilaba. do modelo portugues forarn associada~
ao radical nominal do HR [fEya) , s. n. Fogo. HO
Feuer. Na segunda alternativa, a primeira
sIlaba
~delo
foi associada ao HR [fikS], adj. Ligeiroo HD fix. As duas ultimas sIlabas forarn associa
das ao ;;-[ fEya] •
-
.tirao
J.
[mut! 'raw] , S. m. HR [pu;'ro?
s. m. Trabalho
coletivo que consistia na derrubada da mata.
Por
etimologia popular as duas primeiras sIlabas
modelo portugues forarn associadas i forma do
do
HR
[pu;'a] , v. Limpar a mata.
Oleandro
[oleindro]
ou [ole'inoJ ' S. m. HR [YUlyana]
f. Espirradeira. Por etimologia popuiar 0 m2
S.
delo portugues era associado a Juliana, nome
mulher, bastante comum entre os colon08.
Ocorria como determinante
de
no justaposto:
[.YUlyanablu-m] , s. f. Espirradeiralliteralmente
flor de Juliana.
Consti tuintes:
yulyana
HR
I blu·.1
I
I+
0 radical nominal
' B. f. Flor. HD Blume.
do
Pouqu.~,c.
o. - 0
Imigran~e Alemio. sio Paulo: Ins~i~u-
~o Hans S~aden. sio ~opoldo:
Centros Cul~urais
FederaQio
dos
"25 de Julho", 1974.
Koseri~z, Carlos. - Relatorio da AdministraQao
Central
das COlonias da ProvIncia de sao Pedro do Rio
Grande do SuI, apresentado ao 111m. e Exm. Sr.
Dr. Francisco Ignacio Mar conde 5 Homem de Mello,
DignIssimo Presidente da mesma ProvIncia
pelo
Agente In~erprete da ColonizaQao,
Carlos
Koseritz. Por~o Alegre: Typ. do Jornal
do
Commercio, 1867.
Mar~in, Hardy Elmiro. Santa Cruz do SuI de Colonia
a
Freguesia 1849 - 1859. Santa Cruz do SuI: Ass2
ciaQao Pro-Ensino em Santa Cruz, 1979.
pimpio, Al~air Carlos. Vieram em Busca da Liberdade. Rio
de Janeiro: Grafica OlImpica Editora Ltda, sId.
Download

o fracasso das colonias de Tres Forquilhas e S. Pedro D