Maksen
POR QUE NÃO
CONSEGUIMOS
INTERNACIONALIZAR
NOSSAS EMPRESAS?
APESAR DO CRESCIMENTO ACENTUADO DA ATUAÇÃO NO EXTERIOR NOS ÚLTIMOS ANOS,
AS EMPRESAS BRASILEIRAS CONTINUAM MUITO ABAIXO DO SEU REAL POTENCIAL DE
INTERNACIONALIZAÇÃO SOBRETUDO PELA ORIENTAÇÃO AO MERCADO INTERNO
eficiência, tais como economias de escala ou acesso a
legislação mais flexível, aumentando a competitividade
entre as empresas. Ao mesmo tempo, os países
receptores são incentivados a aceitar a entrada das
empresas, pois não só aumentam as suas receitas
fiscais, mas também beneficiam da geração de
emprego e da troca de conhecimento tecnológico e
de inovação.
O investimento direto em mercados estrangeiros
(OFDI – Outward Foreign Direct Investment), ou como é
comumente chamada, a internacionalização, tem
estado presente na história empresarial desde sempre.
No entanto, nos últimos anos registrou um elevado
crescimento e é, atualmente, determinante para o
desenvolvimento e sustentabilidade das empresas,
num panormama empresarial cada vez mais
competitivo e global.
As empresas vêm verificando que existe um grande
número de benefícios em instalar operações em
mercados diferentes do seu habitat natural. A busca
por um novo mercado permite obter novos clientes,
desenvolver novos produtos e segmentos e
inclusive compensar desafios regionais como são os
riscos cambial, de negócio ou financeiro.
Adicionalmente, permite às empresas a obtenção de
recursos não existentes ou de difícil aquisição nas suas
economias (recursos naturais, acesso a capital e mão
de obra especializada). Por último, a
internacionalização facilita a obtenção de ganhos de
Internacionalização do Brasil dispara a partir de 2004
35
285
30
235
20
185
15
10
135
5
85
0
-5
35
-10
-15
1980
1984
1988
1992
OFDI Stock
Fonte: UNCTAD
1
1996
2000
OFDI Flow
2004
2008
2012
-15
OFDI Flow USD Billions
OFDI Stock USD Billions
25
No início dos anos 70, numa altura em que o Brasil
vivenciava o “Milagre Econômico”, assistiu-se a uma
elevada internacionalização das empresas brasileiras,
sobretudo nos setores financeiros, de energia e
construção, chegando inclusivamente a ser um dos
países com maior índice de OFDI. A década seguinte,
marcada por altos índices de inflação e instabilidade
econômica, travou a internacionalização, voltando as
empresas para o mercado interno. Contudo, após a
estabilização macroeconômica e com a privatização
de alguns setores, as empresas voltaram a virar-se
para o exterior, sobretudo empresas de bens
alimentares e bens de consumo, no entanto, não com
a velocidade e pujança necessárias para diminuir o
atraso que ocorreu no início da década de 80.
Tendo em conta a dimensão do país e o crescimento
econômico dos últimos anos, passando de 14ª em
2004 para 7ª potência mundial em 2012, seria de
esperar um comportamento análogo da curva de
internacionalização. No entanto, em termos de
estoque de OFDI, o Brasil passou de 24º no ranking,
em 2004, apenas para 20º em 2012, demonstrando
que a internacionalização não vem acompanhando o
crescimento da economia brasileira.
como a dos EUA, verifica-se que o Brasil tem ainda um
longo caminho a percorrer no que toca à
internacionalização das suas empresas, pois das 50
maiores empresas do Brasil apenas 28 são
internacionalizadas, enquanto que nos EUA, 45 das
mesmas 50 já têm operações em outros países.
De forma a avaliar as razões que levam a uma
internacionalização inferior ao esperado, considerou
avaliar-se três grupos de fatores: (1) influência do
contexto global e do país; (2) características do
setor/indústria; e (3) características das empresas e
respectivos líderes, no processo de decisão.
(1) INFLUÊNCIA DO CONTEXTO GLOBAL E DO PAÍS:
O VASTO, LUCRATIVO E PROTECCIONISTA MERCADO
INTERNO BRASILEIRO É O PRINCIPAL FATOR GLOBAL
A IMPEDIR A EXPLORAÇÃO DE MERCADOS
ESTRANGEIROS
Com uma população de aproximadamente duzentos
milhões de habitantes, onde a classe média e alta
representam 60% do total (mais do total da população
de Reino Unido e França juntos), o Brasil tem um
mercado consumidor enorme e é estimado que atinja
o 5º maior do mundo em 2020. Se somarmos a crise
internacional dos últimos anos e o elevado nível de
proteccionismo da economia, que dificulta a entrada
de players internacionais, entendemos porque 73%
dos entrevistados identifica o mercado interno como
principal entrave à internacionalização.
Curva de OFDI não acompanha evolução econômica
1º
1º
1º
7º
Ranking
GDP
9º
14º
Espera-se que o Brasil atinga a 5ª maior economia doméstica do
mundo em 2020 (trilhões de euros)
14º
20º
EUA
Ranking stock
de investimento
no estrangeiro
6,73
China
3,6
Japão
24º
Alemanha
30º
30º
30º
1994
2004
2012
2,31
1,45
Brasil
1,16
França
1,06
Reino Unido
0,99
Itália
0,92
Fonte: Base de dados estatísticos UNCTAD
Em 2012, o estoque de OFDI como percentual do PIB
no Brasil era de 9%, inferior a economias como
Espanha (43%), Austrália (28%) e Coreia do Sul (14%),
que apesar de serem países com características de
internacionalização semelhantes, demonstraram uma
maior aptidão e preparação das suas empresas.
Comparando com economias ainda mais evoluídas,
Fonte: FGV; MCM; McKinsey; Ministério da Fazenda
Adicionalmente, verificou-se que o elevado custo do
capital, com taxas de juro acima das de outros países,
bem como reduzido apoio de instituições como o
BNDES, sobretudo a pequenas e médias empresas,
2
reduz as chances das empresas se financiarem nas
suas empreitadas. Verifica-se que uma das principais
fontes de financiamento das empresas brasileiras,
entre 15-40% do financiamento, é de origem
estrangeira, em alternativa aos reduzidos, morosos e
burocráticos apoios nacionais. Verifica-se ainda que a
constante alteração de normas legislativas (levou a
que o Brasil ficasse classificado em 140º/142 no
ranking de General Business Environment), bem como
a elevada volatilidade dos indicadores
macroeconômicos dos últimos anos, levam a
estratégias de investimento mais orientadas ao curto
prazo. Ainda com relação ao contexto do país, a
insuficiente proficiência no inglês e fraca orientação
dos profissionais e institutos de ensino para a
internacionalização têm afastado os alunos de uma
carreira internacional. No Brasil não existe ainda
nenhum Masters completamente em inglês como por
exemplo na Europa, onde existem 2400 cursos
oferecidos apenas na língua inglesa. Os estudantes
brasileiros nos EUA representam apenas 1% do total
de estudantes, confirmando a reduzida orientação
acadêmica internacional. Por último, os países
adjacentes, e naturais portas de entrada num
contexto de internacionalização, não oferecem a
estabilidade política necessária e apresentam, na
maioria das vezes, economias não tão atrativas,
reforçando o foco dos empresários brasileiros na
economia nacional.
insucesso de algumas empresas brasileiras estiveram
relacionados com a falta de conhecimento local,
adaptação ao mercado e especificidades regionais.
Algumas empresas como Natura ou Bombril
identificam que a falta de conhecimento e adaptação
às regiões foram as razões de insucesso de estratégias
de internacionalização.
(3) EMPRESAS E LIDERANÇA: A DIFICULDADE DAS
EMPRESAS BRASILEIRAS EM COMPETIR NOUTROS
MERCADOS BEM COMO A FALTA DE VISÃO E
AVERSÃO AO RISCO DE ALGUNS EXECUTIVOS
BRASILEIROS TÊM ATRASADO O PROCESSO DE
EXPANSÃO
Falta de preparação para processos de
internacionalização e estruturas de custo pesadas
devido à falta de competitividade do mercado interno
criam muitos desafios às empresas neste projeto de
expansão. No índice de competitividade mundial de
2013, o Brasil ainda se situa na 51ª posição, refletindo
a falta de capacidade das empresas brasileiras para
competir na arena internacional.
Quando confrontados com esta situação, os
entrevistados explicam que a falta de cultura de
internacionalização do passado está dificultando
ainda mais a expansão das empresas, num contexto
onde estas se disseminam a um ritmo muito elevado,
por todo o mundo. Adicionalmente, uma parte
substancial das maiores empresas brasileiras é
especializada em setores totalmente alavancados na
disponibilidade de recursos naturais locais, sendo que
os empresários não só consideram ter dificuldades em
localizar e selecionar países que disponham das
mesmas características (ex. recursos naturais a preços
competitivos), mas também consideram o Brasil como
suficiente para o crescimento nos próximos anos.
(2) CARACTERÍSTICAS DO SETOR/INDÚSTRIA: AO NÍVEL
DA INDÚSTRIA/SETOR APENAS CASOS PONTUAIS
PODEM SER REFERIDOS QUANDO SE FALA DE
INTERNACIONALIZAÇÃO
A internacionalização provocada por pressão da
indústria tem levado algumas empresas para além das
fronteiras por motivos de foco estratégico do
governo. Empresas como a Votorantim tiveram de se
internacionalizar para não perderem competitividade
para os demais players. Outro caso semelhante foi da
produtora de autopeças SABÓ, que em função da
tendência de consolidação do setor, viu-se obrigada a
internacionalizar a fim de evitar ser adquirida. No
entanto, são ainda casos pontuais de alguns setores e
não uma prática comum e transversal que possa
demonstrar que determinado setor ou indústria
exercem pressão suficiente sobre a
internacionalização.
Outro entrave à internacionalização de alguns setores
é a falta de capacidade de adaptação. Com relação ao
setor de bens de consumo, provou-se que os casos de
Brasil apresenta ainda um baixo nível de competitividade
País
3
2013 IMD
Índice de
competitividade
mundial
1
USA
2
Suiça
100.000
93.357
3
Hong Kong
92.783
16 Austrália
80.513
22 Coreia do Sul
75.169
40 Índia
59.888
45 Espanha
56.289
51 Brasil
52.996
Fonte: IMD World
Competitiveness Center
Assim, das respostas avaliadas, cerca de 80% dos
entrevistados apresentaram a orientação interna dos
empresários brasileiros como uma causa para o atraso
da internacionalização do Brasil face aos demais.
investimentos diretos. Medidas de expansão de
responsabilidades das agências de fomento à
internacionalização e criação de fóruns de discussão
de cunho público-privado servem de incentivo a esse
propósito e devem ser fortificadas no Brasil.
Há também as necessidades relacionadas ao
experimento, as quais buscam testar metodologias no
intuito de mitigar riscos e otimizar os recursos
disponíveis. Nesse sentido, a abertura da economia,
juntamente com a criação de projetos piloto,
expansão por joint ventures e a própria integração de
estrangeiros no board de empresas são práticas já
adotadas em países desenvolvidos, que demonstram
bons resultados e servem de referência para o cenário
brasileiro.
A busca por incentivos também caracteriza uma
demanda essencial por parte das empresas em busca
da internacionalização. Neste campo, as medidas
passam pela criação de agências de gestão de risco
político, intensificação dos acordos bilaterais e
aumento dos incentivos fiscais.
Por fim, um último grupo de necessidades refere-se
aos investimentos do país. A melhoria da
infraestrutura, a aposta na educação com foco em
intercâmbio cultural e mudança do mindset dos
futuros empresários brasileiros, o aumento das
agências de apoio à internacionalização e a expansão
de linhas de crédito, terão com certeza um impacto
muito grande não só no apoio à internacionalização
das empresas brasileiras, mas também no
desenvolvimento do país.
BRASIL APRESENTA ALGUMAS INICIATIVAS EM CURSO,
MAS REDUZIDAS FACE À NECESSIDADE QUE TEM
Consciente do caminho que ainda tem para percorrer,
o Brasil, através de organismos públicos e privados, já
desencadeou algumas iniciativas que potenciem a
internacionalização. Associações como a ApexBrasil
ou a ACATE têm procurado disseminar pelas empresas
brasileiras ferramentas que estimulem a
competitividades das mesmas e as prepare para uma
potencial internacionalização. Ao nível do estímulo do
empreendedorismo internacional e da
implementação de um mindset para o mercado
externo, foram criados alguns programas, tais como o
SEBRAE, que fornecem aconselhamento e programas
de empreendedorismo específicos para pequenas e
médias empresas. Ao nível da educação, existem
ainda os exemplos do PDE – Inglês sem Fronteiras
para melhoria do conhecimento linguístico dos
universitários ou mesmo o programa “Ciência sem
Fronteiras” que encoraja jovens com bolsas a
realizarem projetos científicos no estrangeiro.
Procurando providenciar melhor informação aos
empresários e potenciar negócios comerciais, o
Ministério das Relações Exteriores oferece estudos de
benchmark (SIPRI) que permitem às agências
incentivar a internacionalização através da
identificação de mercados atrativos. Por último, ao
nível do financiamento, os exemplos do BNDES e suas
linhas de crédito, bem como os empréstimos
internacionais da ApexBrasil têm procurado incentivar
a internacionalização das empresas ao nível das
exportações e investimento direto no estrangeiro.
Ainda que existam estas iniciativas e esta dinâmica em
torno da preparação das empresas para se lançarem
“além fronteiras”, os esforços não são ainda suficientes
face às necessidades do Brasil e ao atraso que possui
com relação a alguns dos seus pares.
MAIS E MELHOR INFORMAÇÃO, MAIS TENTATIVA E
EXPERIMENTO, MELHORES INCENTIVOS E MELHOR
ALOCAÇÃO DOS INVESTIMENTOS SÃO AS PRINCIPAIS
NECESSIDADES DO PAÍS
O primeiro grupo de necessidades está relacionado à
falta de informação da real situação
político-econômica de países potenciais de
4
Práticas recomendadas estão relacionadas com informações, experimentação, incentivos e investimentos
Informações
Experimentos
Incentivos
Investimentos
Expandir escopo da APEX
Promover a abertura
econômica
Desenvolver agências
de risco político
Realizar investimentos
em infraestrutura
Criar fóruns
de discussão
Estimular a criação
de projetos piloto
Aumentar acordos
bilaterias
Realizar investimentos
na educação
Expandir via Joint Venture
e M&A
Aumentar benefícios
fiscais
Aumentar quantidade
de agências
Integrar estrangeiros
no board da empresa
Expandir linhas de créditos
A INTERNACIONALIZAÇÃO, TÃO IMPORTANTE PARA A
COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS, EXIGE UM
ESFORÇO CONJUNTO DO GOVERNO E EMPRESAS
PARA QUE POSSA SER UMA REALIDADE NO BRASIL
Os principais entraves estão relacionados com fatores
nacionais, como são o caso da mentalidade da
liderança, avessa ao risco e voltada para o curto prazo,
e da força do mercado interno.
Desta forma, o governo deve orientar os seus
investimentos e políticas para a melhoria da
infraestrutura, da estabilidade econômica, para a
educação e informação e para a criação de incentivos
e ferramentas de apoio à internacionalização.
Nos últimos anos, verficamos que o Brasil tem estado
mais preocupado com o mercado interno do que com
a expansão internacional. Agora que o Brasil é
considerada a 7ª maior potência mundial, não estará
na altura de mudar a sua estratégia e mostrar que
pode ser também um player internacional?
Como foi possível verificar, a internacionalização
permite que os países, setores e empresas, alcancem
múltiplos benefícios econômicos. Estes benefícios não
estão sendo alcançados pelas empresas e,
consequentemente, não permitem que estas se
tornem competitivas num cenário cada vez mais
global, impactando não só as suas estratégias, que
ficam limitadas ao mercado interno, mas também o
desenvolvimento do país.
Maksen
Consulting t Technology tEngineering t Outsourcing
A Maksen foi criada em 2003 com o objetivo de prestar serviços de consultoria estratégica e de negócio, de sistemas de
informação e de engenharia/redes de comunicações, apostando nos mais elevados níveis de rigor, profissionalismo, inovação e
qualidade. Com uma crescente presença internacional, desenvolve hoje projetos nos diversos continentes do globo, centrando a
sua atividade na prestação de serviços de consultoria em quatro grandes áreas: estratégia empresarial e de negócio; organização,
processos e análises económico-financeiras; sistemas e tecnologias de informação; engenharia e redes de comunicações.
Estudo realizado pela Maksen Brasil
Informações adicionais em: www.maksen.com
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Estudo_Internacionalização das empresas