Terça-feira, 20 de Março de 2012
G Diário G Ano XII G Nº 2215 G €1,60
Director: Pedro Santos Guerreiro
Directores-adjuntos: Helena Garrido, João Cândido da Silva
Subdirector: Nuno Carregueiro
J.M. Brandão de Brito
“A Europa entre dois tratados”
Camilo Lourenço
“Despache-se, Pedro” Opinião 37 a 39
Combustíveis
a 2 euros?
Saiba quanto
tem de subir
o petróleo
e quais os riscos
Mercados 18 e 19
www.negocios.pt
Martifer e Douro Azul
garantiam pôr
Estaleiros de Viana
a dar lucro em 2015
BCE diz que Portugal
consegue pagar a dívida
O Banco Central Europeu (BCE) diz que a
sustentabilidade dadívidanacional estágarantida,mesmoquePortugalfecho oanocom
umarecessãode5%.Mesmonumcenáriode
umarecessão mais profunda, adívidapúbli-
Portugal propõe hoje
a Bruxelas que
antecipe 100 milhões
para combater a seca
canão ultrapassaráos 110% do PIB. O cenário central do BCE paraPortugal prevê uma
recessão de 3,3% este ano, umaquase estagnação em 2013 e um crescimento médio de
1,6% entre 2015 e 2020. Economia 26 e 27
Empresas 12
Nogueira Leite
pede para manter
salário dos
últimos três anos
Dívida
das empresas
portuguesas é
vista como uma
oportunidade
“Mais importante
que os salários é a
Caixa reganhar a
independência”,
diz o administrador
do banco público
ao Negócios.
Empresas 10
Primeira Linha 4 a 7
Pub
John Authers, colunista
do “Financial Times”, um
dos participantes na
conferência “Investidor
Privado 2012”, realizada
ontem pelo Negócios.
Bruno Simão
Mesmo com
recessão de 5%, dívida
pública é sustentável
G
Empresas 8
Pub
4 | Jornal de Negócios | Terça-Feira, 20 de Março de 2012
.
Primeira Linha
I N VE STI R E M 2 012
Acções
e dívida
portuguesa
estão
subavaliadas
Especialistas dizem que activos
portugueses foram demasiado
castigados e estão com preços
atractivos
PATRÍCIA ABREU [email protected]
Asituação orçamental e os receios
deumnovopacotedeassistênciafinanceiraminaram aconfiançados
investidoresemrelaçãoaosactivos
portugueses. Os especialistas consideram o “castigo” demasiado severoeacreditamqueháboasoportunidadesnadívidaenasacçõesdas
cotadas portuguesas, em2012.
“Háumaforte probabilidade de
umsegundoresgateaindaesteano,
mas semo envolvimento do sector
privado”,adiantouJohn Authers,a
partirdaobservação dos sinais dos
mercados.EseoPaísconseguirre-
John Authers
acredita que se
Portugal evitar
um novo resgate
poderá ser
uma boa aposta.
cuperar aconfiançados investidores? Nesse caso, para o “senior investmentcolumnist”do“Financial
Times”, que ontem participou na
conferência “Investidor Privado
2012”,organizadapelo Negócios,as
acçõesportuguesassão“definitivamente” umaboaaposta.
Nas últimas semanas tem crescido apreocupação entre os investidoresdequePortugalnãoserácapazdesefinanciarnosmercadosinternacionais a partir de Setembro
de 2013, como prevê o acordo com
a“troika”.Esteé,deresto,ocenário
O presidente da
bolsa de Lisboa
destaca que é
preciso ganhar
a credibilidade
do mercado.
Onde investir em 2012? | John Authers, colunista do FT, Laginha de Sousa, da Euronext Lisbon, Miguel Gomes da Silva, do Montepio,
centraldamaioriadosbancosdeinvestimento, que afastam, aindaassim,anecessidadedeumareestruturação dadívida.
Apesar da incerteza que ainda
persiste,osoradoresnaconferência
estão optimistas quanto ao investimentoemPortugal.MiguelGomes
daSilvarealçao mau desempenho
dasacçõesnacionais,faceàsrestantes praças europeias, adiantando
queestadiferenciaçãonãoéjustificada. “Só porserem activos portugueses estão asersubavaliado”, sublinhao directordasalade merca-
dos do Montepio, que recomenda
justamente a aposta em “activos
portugueses e nos mercados emergentes onde estão presentes as cotadasportuguesas,comooBrasil”.
Aposta nas obrigações
de empresas
RaúlMarques,presidentedaAssociação Portuguesade Analistas Financeiros,tambémidentificaoportunidades em Portugal. O responsávelaconselhaaapostaemobrigaçõesdeempresasnacionais,devido
aosjuroselevadosqueestãoapagar.
Miguel Gomes
da Silva acredita
que os activos
portugueses
estão
subavaliados.
O presidente
da APAF
identifica boas
oportunidades
em activos
de maior risco.
“Paraos investidores portugueses
háboas oportunidades nadívidae
nastaxasderendibilidadedosdividendos”,referiuoresponsável,que
está agora mais optimista para os
activos de risco.
O prémio exigido pelos investidores para comprarem dívida de
empresas portuguesas é actualmentemuitoelevado,devidoaorisco do país. Por exemplo, as obrigaçõesdaPortugalTelecomedaEDP
commaturidadeem2012e2013estãoatransaccionarnomercadosecundáriocomtaxasderendibilida-
O especialista
alerta que é
preciso ser
cauteloso,
mas há boas
oportunidades.
Há uma forte
probabilidade de
um segundo resgate
ainda este ano, mas
sem o envolvimento
do sector privado.
Se os sinais que vêm
da economia se
materializarem
podem ajudar a
restaurar a confiança
[nos mercados].
Recomendo a aposta
em activos portugueses
e nos mercados
emergentes onde as
cotadas portuguesas
estão presentes.
Para os investidores
portugueses há boas
oportunidades na
dívida de empresas
e no retorno
dos dividendos.
Nas acções, as
avaliações estão
muito razoáveis e há
oportunidades nas
obrigações de alto
risco nos EUA.
JOHN AUTHERS
Senior Investment Columnist do FT
LUÍS LAGINHA DE SOUSA
Presidente da Euronext Lisbon
MIGUEL GOMES DA SILVA
Director sala de mercados Montepio
RAUL MARQUES
Presidente da APAF
PEDRO ASSIS
Director da Schroders
Jornal de Negócios | Terça-Feira, 20 de Março de 2012 | 5
.
Bruno Simão
Bastonário dos Economistas
defende plafonamento
das pensões, mas não agora
Rui Martinho diz que é preciso um tecto máximo
para as contribuições para a Segurança Social
RAQUEL GODINHO
[email protected]
Pedro Assis, da Shroders e Raul Marques, da APAF, debaterem o rumo dos mercados.
dede4%e5%.Nosprazosmaislongos os juros ultrapassamos 7%.
Injecções dos bancos centrais
JohnAutherslembrouqueasinjecçõesdeliquidezdosbancoscentrais
foramdeterminantesnarecuperação dos mercados accionistas. Mas
que estes estão a dar mostras de
conseguir“aguentar”aretiradados
estímulos. Emborase confesse um
pessimista, o colunistado “Financial Times” admite que está agora
mais confiante.
LuísLaginhadeSousa,presiden-
tedaEuronextLisbon,acreditaque
se os sinais que estão a chegar da
economiase materializarem«, podemajudararestauraraconfiança
nos mercados. No final, serão os
fundamentaisaconduzirodesempenho.
Pedro Assis, director da Schroders, está mais optimistas para o
mercado de obrigações de alto risco(highyield)nosEUAeparaasacções, que transaccionamemníveis
“muito razoáveis”. Raul Marques
identifica oportunidades na AméricaLatinae naÁsia.
O bastonário da Ordem dos Economistasdefendequenãohácondições,actualmente,paraavançar
comumtectomáximonascontribuições para a Segurança Social.
O que não significa deixar cair a
ideia. Rui Leão Martinho acreditaqueestaéumaoplafonamento
das pensões deve fazer parte de
um futura reforma da Segurança
Social.
“Em Portugal, háalguns anos,
tivemos oportunidade de aplicar
isto [plafonamento das pensões]
de forma faseada”, afirmou Rui
Martinho,naconferência“Investidor Privado 2012”, organizada
ontem pelo Negócios. Contudo,
“hojeemdia,temosmenoscondiçõesdeoimplementar”,tendoem
contaaquebranosrendimentose
oaumentododesemprego.Ainda
assim,estaéuma“reformaapensar noutra conjuntura” e que deverá ter um período transitório.
Masesteperíododeespera“poderánão serde muito tempo”, acredita.
Pedro Seixas Vale, presidente
doConselhoDirectivodaAssociação Portuguesa de Seguradores
(APS), outro dos oradores no painel“Asmudançasnaspensõeseas
implicaçõesnapoupançaparticular”, defendeu uma atitude mais
activa dos portugueses, no que
tocaàpoupança.“Éperfeitamente natural pensar, quando o Estadonospropiciaumníveldecuida-
dos de saúde total, umaeducação
pagaa100%,setenhopensõesgenerosasnofimdaminhavida,que
nãotenhonecessidadedepoupar”,
afirmou. Contudo, Pedro Seixas
ValealertaqueoEstado,nestemomento, não tem capacidade para
garantiro mesmo pagamento em
alguns destes aspectos, pelo que
deve haver uma maior iniciativa
privadanapoupança.
Manuel Baganha, presidente
doInstitutodeGestãodosFundos
deCapitalizaçãodaSegurançaSocial(IGFCSS), acreditaque “existe umacrescente preocupação de
poupar”, nos últimos anos. Mas,
defende a necessidade de continuarasensibilização.“Apesardas
dificuldades económicas, a poupança para a reforma devia ser o
último aspecto asermexido”.
Alémdoshábitosdepoupança,
os portugueses devem alterar os
hábitos de consumo, sublinhou
PedroSeixasVale.Umavisãopartilhadapor Rui Martinho que defendeu que “esta crise tem que
provar que, para além de sermos
capazes de pagar a dívida, somos
capazes de descontinuar o modo
devidaquetínhamos”,percebendoque“hámaisvidaparaalémdo
consumo”.
Quantoàpoupança,opresidente daAPS apontou paraduas tendênciasquesurgiramnosúltimos
sete aoito anos: pessoas com menosde45anoscomeçaramapensar nareformae, no geral, os portugueses começaramafazerpoupanças regulares.
O presidente
da APS advoga
uma mudança
nos hábitos
de poupança
e de consumo.
É natural pensar,
quando o Estado nos
propicia um nível de
cuidados de saúde
total, uma educação
paga a 100%, que não
tenho necessidade
de poupar.
PEDRO SEIXAS VALE
Presidente da APS
“Há mais vida
para além do
consumo”, diz
o bastonário
da Ordem dos
Economistas.
Esta crise tem de
provar que, para além
de sermos capazes
de pagar a dívida,
somos capazes de
descontinuar o modo
de vida que tínhamos.
RUI MARTINHO
Bastonário da Ordem dos
Economistas
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BCE diz que Portugal consegue pagar a dívida