Entrevista Presidente diz que sucesso de FURNAS é reflexo de seu quadro funcional José Pedro Rodrigues de Oliveira, presidente de FURNAS Nesta primeira entrevista do ano, o presidente José Pedro Rodrigues de Oliveira faz um balanço realista de sua gestão em 2003 e lança prognósticos otimistas para 2004. Ele reafirma a convicção de que FURNAS nada mais é que o somatório de seu quadro de empregados e que nenhuma fazer. Sem perder a perspectiva de futuro, o presidente detalha o novo modelo do setor elétrico, reconhece que FURNAS enfrentará F OTO G ERALDO K OSINSKI empresa é maior do que sua equipe pode dificuldades com a descontratação de mais 25% de sua energia, ainda fruto do modelo anterior, mas lembra que a Empresa sempre viveu de superar desafios. José Pedro Rodrigues de Oliveira também garantiu a ampliação das ações de Responsabilidade Social, de apoio à Cultura e à preservação do meio ambiente. O que era para ser uma entrevista acabou numa minuciosa e sincera prestação de contas, com a explicitação de metas para os próximos anos, sob os pilares da ética, da transparência e do compromisso com o país. 4 • janeiro 2004 • Linha Direta nº 304 Qual o balanço que o senhor faz do seu primeiro ano de gestão à frente de FURNAS? É lembrado que quando chegamos aqui nós tínhamos muitas coisas a fazer. Resolvemos estão determinar as prioridades. A primeira foi de ordem financeira e a segunda relativa ao quadro de pessoal. Tínhamos uma dificuldade de caixa acentuada que procuramos equilibrar, o que foi conseguido. Importante registrar que, em 2003, FURNAS honrou compromissos relativos à comercialização de energia de Itaipu, anteriores à transferência dessa operação à Eletrobrás: pagamos R$ 300 milhões à Engea e R$ 239 milhões à Eletrobrás, eliminando um “giro” iniciado desde que a energia daquela usina foi gerada. Pagamos ainda, R$ 215 milhões de juros de capital próprio, sendo R$ 60 milhões relativos a 2001. Isto mostra a magnitude do esforço desenvolvido pela área financeira atendendo à primeira prioridade. E com relação ao quadro de pessoal? Na questão do pessoal, conseguimos progresso junto ao Tribunal de Contas da União e, graças a isso, nossos contratados estão tranqüilos. Nós recebemos uma situação adversa, com prazos de substituição dos contratados determinados. Isto foi resolvido. Realizaremos concursos e estamos discutindo com as autoridades os limites desses concursos e o que vamos fazer mais para a frente, visando a regularizar nosso quadro e a manter a tranqüilidade dos contratados. Nós entendemos que FURNAS é uma só. As ações de responsabilidade social e o enfoque na ética também foram marcantes em 2003... Feito o ajuste citado, iniciamos uma gestão para dar um tratamento especial à área de responsabilidade social. FURNAS sempre se destacou por atividades ligadas a este setor. Qual é a diferença em relação a este momento? Primeiro, nós explicitamos uma política de responsabilidade social na intranet e internet. Segundo, nós definimos conceitos de ética. E o conceito de ética preside toda esta ação. O que entendemos por ética? Ética é o legal, é o legítimo, é o bem de todos e a responsabilidade social dos atos. Se não tivéssemos organizado a questão ética primeiro, não saberíamos que responsabilidade social é um subsistema da razão ética da Empresa. Organizamos a área de responsabilidade, criamos uma Comissão Permanente de Ética que está ultimando o Código de Ética. Vale registrar que estamos discutindo o nosso Código de Ética e que ele vai embasar o Código de Ética a ser elaborado pela Eletrobrás para todas as empresas do sistema. Esta é uma questão maior. A responsabilidade social de FURNAS poderá influenciar outras empresas a seguirem por este caminho? Acredito que sim. Nesta área temos duas ações distintas. A primeira é a coordenação do Coep (Comitê de Entidades no Combate a Fome e pela Vida), feita por FURNAS, com cerca de 800 empresas. Isto é muito importante, porque o trabalho de responsabilidade social dessas empresas está coordenado, ligando-se ao país, via FURNAS. Nós temos dentro de FURNAS algumas metas. Em 2003, tivemos, por exemplo, a formação de cerca de 5.000 jovens aprendizes. Criamos o projeto de hortas comunitárias, já com oito unidades. E também um programa que tem duas facetas para as comunidades em volta dos empreendimentos de FURNAS: registrando aqueles que não tinham documentos (carteira de identidade, carteira profissional etc.) e conduzindo programas sociais na área médica, como vacinação e assistência materno-infantil. Acho que na área de responsabilidade social nós avançamos muito e pretendemos continuar avançando em 2004. O senhor concorda que o apoio à Cultura é também uma ação de responsabilidade social? Sim. No campo das artes criamos o Espaço FURNAS Cultural, no Escritório Central, inaugurado com a exposição das obras do grande Cândido Portinari. O maior objetivo desta mostra foi abrir FURNAS para as comunidades do Rio de Janeiro na área cultural. Vejo com muita alegria dezenas de estudantes da rede de ensino fundamental visitando a galeria e recebendo informações sobre artes plásticas. Desenvolvemos em parceria com a Fundação Roberto Marinho e o Institu- to Antonio Carlos Jobim o projeto Tom do Pantanal, onde cerca de 7.000 alunos receberam informações sobre as nossas riquezas, música e sobre o Brasil. Neste ano de 2004, vamos fazer um grande concurso nacional, em todas as localidades onde FURNAS tem atividade, que é o projeto Jovens Concertistas, terminando aqui no Escritório Central com um concerto dos melhores. Este projeto se insere no programa social de primeiro emprego. Formamos 5.000 jovens para o primeiro emprego no ano passado. Jovens Concertistas é primeiro emprego na área da música. Cuidamos da área social e cultural ao mesmo tempo. E os avanços na área ambiental? Nós recebemos a nova Diretoria, a Diretoria de Relações Institucionais, que acopla Qualidade e Meio Ambiente, cujas atividades são destinadas a tornar mais viáveis os empreendimentos que FURNAS está visualizando ou realizando. Na área de meio ambiente foi importante, por exemplo, o trabalho desta Diretoria para liberar os entraves da linha Ouro Preto 2/Vitória. Isto foi conseguido e a linha será iniciada agora em janeiro, com as presenças da ministra Dilma Rousseff, do presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa e dos governadores de Minas Gerais e do Espírito Santo. Em sua posse o senhor falava da necessidade de aproximar a Diretoria dos empregados. Isto foi alcançado? Sim, a Diretoria se aproximou muito dos empregados. Cada um administra do jeito que pode e que acha baseado em determinados credos. Nós estamos procurando desmistificar um pouco a autoridade. A autoridade de FURNAS deve ser revestida dos mantos próprios, mas necessita de contribuições Linha Direta nº 304 • janeiro 2004 • 5 Entrevista sobre a realidade que somente podem vir dos empregados, e isto requer aproximação. Toda a Diretoria procurou agir neste sentido. Tivemos uma Diretoria coesa, com um quadro de pessoal comprometido, o que faz a diferença. Quais as principais obras realizadas em 2003 e as perspectivas para 2004? No terreno das obras muitas coisas importantes foram feitas. Primeiro, terminamos a linha Bateias/ Ibiúna. Participamos do leilão da Aneel, com a Cemig, e ganhamos o trecho Montes Claros/Irapé. Continuamos Cachoeira Paulista/Adrianópolis 3, desimpedimos a construção da linha Ouro Preto 2/Vitória, que fará um novo anel no sudeste. Voltamos a construir usinas hidrelétricas: numa associação com a EDP, estamos retomando as obras da usina Peixe Angical, em Tocantins, que acrescentará mais 450 MW ao sistema elétrico, em 2006. Estamos estudando outras parcerias. Lançamos, também, novo edital para modernização da Usina de Furnas, o que significa que a usina terá condições de operar por mais 40 ou 50 anos, antes de nova revitalização. Para 2004, o programa de investimentos de FURNAS é bastante ambicioso. Somente a Ouro Preto 2/Vitória deverá consumir mais de R$ 120 milhões; a modernização da Usina de Furnas, cerca de R$ 80 milhões; a modernização de Mascarenhas de Moraes, cerca de R$ 75 milhões; de Santa Cruz, mais R$ 70 milhões; o reforço no sistema de transmissão de São Paulo e Minas Gerais nos custará em torno de R$ 180 milhões; aplicaremos R$ 120 milhões na manutenção e adequação do sistema de transmissão. Com as obras de modernização de subestações, de novas linhas de transmissão e as que 6 • janeiro 2004 • Linha Direta nº 304 “A Empresa terá de criar estratégias competitivas para oferecer energia nos leilões a um preço razoável, de maneira que não fique estocada”. certamente iremos ganhar nas futuras licitações, elevaremos nossos investimentos a um montante pouco maior que R$ 1 bilhão. O que muda com o novo modelo do setor elétrico? Nós não podemos falar sobre o novo modelo sem falar do que aconteceu no passado. O modelo que, partindo do zero, possibilitou ao sistema elétrico brasileiro tornar-se reconhecido internacionalmente, foi aquele em que a responsabilidade pelas ações de garantir que a demanda e a oferta andassem juntas era feito sob a égide estatal. Em anos recentemente passados, julgou-se que devíamos acreditar que as forças de mercado eram suficientes para ditar o crescimento da energia no Brasil. E isto provou ser errado. O novo modelo traz para as mãos do governo a competência para o planejamento e a concessão. Assim, nós temos uma garantia de que a oferta de energia será sempre maior que a demanda. Aí está o foco deste novo modelo. No caso das licitações de geração, teremos o vencedor pelo menor preço ofertado e não pelo maior ágio, como nos critérios anteriores. Isto levou a explosões tarifárias. A modicidade tarifária foi conquistada, no momento em que o novo modelo licita pelo menor preço. Há também avanços importantes em relação aos papéis da Aneel e do ONS. A Aneel perde o direito de conceder, o que nunca deveria ter sido dela. Isto é um direito constitucional da União, porque quem faz concessão não fiscaliza. Então, perdendo o direito de concessão, a Aneel vê aumentar e melhorar a sua competência para fiscalizar, regular e orientar, e, assim, ganha com este novo modelo. No caso do ONS, o governo indica três membros de sua direção, e isto está correto, porque no Brasil 80% da energia ofertada têm origem em empresas públicas. FURNAS apóia o novo modelo lançado pelo governo, o que não quer dizer que nós não tenhamos de trabalhar para, quando for o momento julgado oportuno pelo governo, aperfeiçoá-lo naquilo que a prática ditar. Como fica a situação de FURNAS com a descontratação de mais 25% de sua energia, atingindo um total de 50% em 2004? Esta vai ser uma questão dura a ser enfrentada. O governo decidiu que os contratos até então firmados serão honrados, e também que a legislação que aí está, continua valendo. E ela determinou que nós seremos descon- O senhor tem se mostrado um entusiasta do Projeto Rio Madeira. Poderia detalhar os benefícios da construção dessas duas usinas na Amazônia? Em primeiro lugar, as usinas do Madeira já haviam sido pensadas por FURNAS nas administrações dos doutores Dimas Toledo e Luiz Carlos Santos. Qual é a diferença? O que nós fizemos foi dar destaque, visibilidade, à magnitude do projeto. Em 40 anos ligados ao setor, não conhecemos um projeto mais abundante em resultados, mais multifacetado nos seus vários aspectos de importância e de relevância para este país. A partir daí, tiramos este projeto que estava hibernando e resolvemos explicitá-lo aos olhos da Nação. Achamos que o país precisará deste projeto. Há uma dificuldade que é a de prever o futuro, saber o quanto de energia o país vai precisar para crescer nos próximos anos. FURNAS fez estudos. Os nossos estudos concluíram que se o país crescer pouco, cerca de 2% ao ano, as 49 obras que estão em andamento serão suficientes para suportar o crescimento. Se o país crescer de 3,5% até 4,5%, nós vamos precisar, por volta de 2010, de mais 900 MW. Se nós crescermos a taxas de 4,5% a 5,5%, neste período, precisaríamos de 2.500 MW em 2008 ou 2009. É também uma questão de custos. Nós temos ainda 280 mil MW hídricos a serem explorados, mas cada empreendimento, à medida que avançamos, enfrenta mais dificuldades. É possível que os futuros empreendimentos sejam mais caros. Pois bem, qual a vantagem do Madeira? O Madeira põe na prateleira do Ministério de Minas e Energia uma alternativa de produção de muita energia, de cerca de 7.500 MW (4.800 MW firmes), com preços competitivos, o que nem todos os aproveitamentos futuros terão. Nós achamos, pelos F OTOS G ERALDO K OSINSKI tratados em mais 25% em 2004. Isto é muito grave para FURNAS. A Empresa terá de criar estratégias competitivas para oferecer energia nos leilões a um preço razoável, de maneira que não fique “estocada”. Porém, se de um lado o montante de energia descontratada causa apreensão, por outro, este mesmo montante deveria causar apreensão a nossos concorrentes, uma vez que teremos condição ímpar em qualquer certame. Há um dilema que é ganhar ou deixar de perder. Em alguns casos FURNAS vai ganhar e deixará de perder em outros. Entendo que nós vamos ser impactados, teremos um ano difícil, mas acho que venceremos. “Na área de responsabilidade social avançamos muito e pretendemos continuar avançando em 2004”. cálculos conduzidos, que ainda podem ser modificados, que a energia do Madeira chegará com uma tarifa em torno de setenta e tantos reais, o que é um preço extremamente competitivo. O Madeira vai fazer tudo aquilo que os senhores conhecem: a integração da América do Sul entre dois oceanos; vai ser um corredor turístico importante; criará uma enorme via fluvial de transporte; e vai gerar energia, além de tudo. Então, quando nós colocarmos na prateleira do Ministério de Minas e Energia o Madeira, parte em 2005 e parte em 2006, acaba a responsabilidade de FURNAS. Começa, então, a do órgão planejador, de dizer quando serão iniciadas as obras em face do crescimento do país. Uma coisa é clara, ou este país cresce ou nós vamos ter dificuldades sociais muito graves. A receita de FURNAS é que o progresso encontre a oferta de energia. Isto significa que se o progresso encontrar o setor hidrelétrico estruturado, estruturante e contratado, ele promove o desenvolvimento. Para nós, o desenvolvimento vem atrás da energia; donde, nós temos que propor obras como o Madeira. Para concluir, presidente, qual a mensagem que o senhor gostaria de transmitir aos empregados de FURNAS? Em primeiro lugar, temos que dizer que a Empresa nada mais é do que o seu quadro de empregados. Neste momento, nossa mensagem para o pessoal é de agradecimento, por tudo que nós fizemos com o seu apoio. Neste ano que se inicia, queremos reafirmar que administramos FURNAS com a certeza, a crença e a experiência vivida de que nenhuma empresa é maior do que a sua equipe de funcionários. Que tenhamos um 2004 ainda mais produtivo e solidário. Linha Direta nº 304 • janeiro 2004 • 7