Artigo
F OTO K ARLA M OURA A NDRADE
A segurança no trabalho
como direito da cidadania
Wagner Brasiliense*
Antes de nos determos na linha Bateias
– Ibiúna, é necessário falar um pouco
sobre a alteração da gestão da função
Segurança em FURNAS. Diante da necessidade imperiosa de recuperar o tempo perdido e implantar as novas linhas
de transmissão e subestações, dentro
de marcos relativamente exíguos, em
razão da demanda crescente de energia
elétrica do país, o Departamento de
Segurança e Higiene Industrial (DSH.G)
enfrentou um grande desafio: contribuir
na manutenção do compromisso estrito
de FURNAS perante a sociedade brasileira de promover o desenvolvimento
tecnológico da nação preservando, entretanto, o meio ambiente e, principalmente, respeitando a vida.
As atividades de segurança do trabalho eram realizadas historicamente
em FURNAS com um caráter de
obrigatoriedade legal, traduzida por uma
atuação de fiscalização. No conceito
moderno, a função de Segurança e Higiene do Trabalho tem o planejamento, a
educação, a motivação e a supervisão
como fatores de maior importância e
fundamentais ao seu sucesso. O departamento então, na nova concepção, contribui e interage com a gerência de
projetos desde as etapas iniciais de planejamento dos empreendimentos até a
conclusão da obra.
Em função disto, na seleção e
contratação das empresas construtoras,
prestadoras de serviços e fornecedoras,
houve significativas alterações. No processo seletivo, FURNAS tem o cuidado de
estabelecer, de forma objetiva e transparente, suas expectativas com relação
às práticas trabalhistas e induz, por con10
• agosto 2003 • Linha Direta nº 299
trato, que seus parceiros se comprometam com padrões trabalhistas justos e
práticas ambientais dentro de princípios
internacionalmente aceitos.
Ao mesmo tempo em que inclui estas salvaguardas contratuais, a área de
Segurança Industrial, considerando que
legalmente a responsabilidade é solidária, coloca-se como parceira das contratadas, mantendo o diálogo em alto nível
durante todas as etapas da execução
dos empreendimentos. A função de supervisão passa a ser exercida de maneira mais eficaz introduzindo-se, como
rotina, a metodologia de elaboração de
“check lists”. Há então a necessária
sintonia entre Segurança Industrial,
Gerência de Projetos e Empreiteiras.
Com referência aos empregados,
FURNAS alterou de modo fundamental
sua visão. O foco antes centrado na
observação estrita da legislação e das
normas técnicas e, portanto, nos deveres, estimula agora a percepção dos
empregados para a segurança como um
direito inalienável. A ênfase no treinamento como obrigação legal da Empresa
é, muitas vezes, enfadonho e pouco
produtivo para os empregados, evolui
para um processo de educação e exercício da cidadania para a vida.
Foram produzidos vídeos, com material audiovisual em linguagem acessível,
cobrindo todas as situações de risco de
campo encontradas nas atividades de
construção de linhas de transmissão, incluindo aquelas de apoio e vivência como:
segurança e conforto nas atividades de
apoio à construção de linha de transmissão, segurança nos serviços de limpeza
de faixa, estrada de acesso, escavação,
nivelamento e reaterro de grelhas e estruturas, segurança na montagem de
estrutura autoportante e estaiada, e segurança na escalada em estruturas.
Outros treinamentos, no formato de
palestras, foram incluídos no programa,
tais como: direção defensiva, prevenção
e combate a incêndio, manuseio de
motoserras e primeiros socorros. O treinamento é ministrado no próprio canteiro de obras.
Esta mudança de gestão vem sendo praticada desde 1999, em todos os
novos empreendimentos de FURNAS.
Cabe agora ressaltar a construção da
linha de transmissão Bateias – Ibiúna,
que por seus 332 km de extensão, em
uma região montanhosa, cruzando do
Paraná a São Paulo, com estruturas
de 50 a 80m de altura, com peso
unitário de torre de até 50 toneladas, envolvendo em média 2.200
homens, durante um ano e dez meses, representou um imenso desafio
às equipes do DSH.G. Foram 6.400
treinamentos ministrados, o que significa aproximadamente três treinamentos por empregado.
É motivo de orgulho para o pessoal
do DSH.G constatar que os ensinamentos ministrados aos empregados
não ficam limitados às frentes de obra,
mas certamente serão úteis no decorrer de toda a vida.
* Wagner Brasiliense Eleutherio Filho é gerente
do Departamento de Segurança e Higiene
Industrial (DSH.G).
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