A BÍBLIA E AS CONFISSÕES Introdução O novo ano da Igreja vai precisar muito da mensagem bíblica. Quando se faz essa afirmação, a pergunta que logo vem à mente é: “Por quê?” Será que a Bíblia foi menos necessária em 2012, ou 2011? O que há de diferente no novo ano eclesiástico que já se aproxima? De certa forma a mensagem da Bíblia é igualmente importante e necessária em todos os dias da existência humana. Não há um dia em que se possa dispensar essa Palavra. Mas há dias em que precisamos de forma especial, de Deus e da sua Palavra. Poderíamos dizer que o mesmo se dá com a oração. Devemos, podemos e precisamos orar, falar com Deus diariamente. Deus nos recomenda dizendo: “Invoca-me no dia da angústia.” (Sl 50.15) Vivemos dias agitados no mundo. A crise européia continua. Os Estados Unidos clamam por dias melhores, a liga árabe sempre em guerra, o Brasil com seus problemas morais, enfim o mundo vai precisar muito da Bíblia, a Palavra de Deus, para que o temor ao Senhor, traga sabedoria, discernimento e dias melhores. Nesse nosso trabalho queremos destacar: 1. O que as Confissões Luteranas falam sobre a necessidade da Bíblia na vida do ser humano. 2. Num segundo momento, a atualidade das Sagradas Escrituras, e a necessidade de valorizala e usa-la no cotidiano da vida. Estudar as nossas Confissões, ver e ouvir o que nossos reformadores passaram e como defenderam a centralidade da Palavra, suas verdades, seu ensino, a teologia da cruz, e a justificação pela fé em Cristo, é muito importante, necessário e fundamental. Disse o professor Paulo P. Weirich: A Reforma do século XVI fez com que, na segunda metade do milênio, a igreja estivesse em permanente estado de alerta quanto à questão essencial: o que é realmente evangelho? Desde a rejeição das proposições luteranas pelo Concílio de Trento até o diálogo católico-luterano que resultou na tentativa de convergência da Declaração Conjunta de Augsburgo em outubro de 1999, necessário é admitir que a questão da confessionalidade em função da fidelidade ao evangelho é vital para a igreja cristã. Verdade é que a discussão em torno da confessionalidade pode se tornar um fim em si em alguns momentos. Mas onde essa discussão não acontece, o evangelho tende a ser sufocado por práticas, posturas e discursos que o anulam. 1 Existem igrejas e pessoas que não aceitam, questionam a validade das confissões na vida e prática da igreja. Nesse sentido o pastor e professor Otto Goerl, já falecido, escreveu: 1. Vejamos alguns argumentos contra a adoção de confissões: a) Por que confissões se temos a Bíblia? Elas são desnecessárias, são supérfluas. b) Elas podem tornar-se tradições humanas, decretos oficiais da igreja, que se colocam ao lado ou até acima da Bíblia. Por isso são perigosas. c) A fé é algo bem pessoal que não pode ser definida e formulada por terceiros e imposto à consciência do indivíduo. 1 Seibert, Erni Walter. Introdução às Confissões Luteranas, Concórdia Editora, Porto Alegre, RS, 2000, p. 9 d) As confissões têm apenas valor histórico, cumpriram sua missão no passado, ao passo que hoje, em condições diferentes, não podem mais ser invocadas. Tornaram-se obsoletas. e) As confissões são fórmulas mortas que não permitem à igreja acompanhar o avanço de seu século e de interpretar os dogmas bíblicos à luz do conhecimento progressivo da humanidade. f) As confissões são letras frias, definições abstratas; o que vale é um cristianismo vivo e ativo. Pode haver ainda outras objeções, mas limitamo-nos às mais invocadas contra o uso de confissões na igreja. 2. Em resposta assinalemos os pontos cardeais do autotestemunho das confissões luteranas: a) Elas insistem em repetir que não querem apresentar coisas novas, mas tão somente as verdades divinas tiradas das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. (Intr. do Livro de Concórdia). b) Elas enfatizam que somente “a Escritura Sagrada é o único juiz, norma e regra, de acordo com que todas as doutrinas devem e têm de ser discernidas e julgadas”. (Intr. da Fórmula de Concórdia). c) Elas querem ser, isso sim, “testemunho e exposição da fé” o que vale dizer, uma fiel interpretação das doutrinas escriturísticas. (Idem). d) Igualmente procuram evitar que “pessoas turbulentas e briguentas, que não querem prender-se a uma forma fixa da doutrina pura” abusem da liberdade para introduzir erros, com o resultado que “a doutrina pura seja obscurecida e se perca”. (Intr. do Livro de Concórdia). 3. Acresce que as confissões seguem a orientação da própria Escritura no que diz respeito a seu caráter e objetivos. a) A confissão é um resumo das verdades bíblicas que facilita seu estudo. Sirva de exemplo o Catecismo Menor de Lutero, que se tornou a confissão mais usada e conhecida. São notórios alguns resumos que encontramos na Bíblia: os Dez Mandamentos, o Pai Nosso, o sermão do monte e, sobretudo, a clássica redução dos 10 Mandamentos a 2 apenas. Cf. Jo 21.24,25; Mt 22.37-40. b) A confissão serve de bandeira, distintivo, testemunho frente a terceiros. – Mt 10.32; 16.13-16; Jo 1.49; 6.69; Rm 10.9; 2 Co 4.13; Hb 4.14; 1 Pe 3.15. CREMOS, ENSINAMOS E CONFESSAMOS. c) A confissão luta pela irrestrita fidelidade à palavra revelada, defendendo a verdade e combatendo o erro. – Jo 6.66-68; 1 Tm 4.15,16; 6.3-5; 2 Tm 4.1-4; Cl 2.8; Gl 1.8; 1 Jo 4.1. REJEITAMOS E CONDENAMOS. d) A confissão quer ajudar, através de uma interpretação exata e uma formulação concisa dos ensinamentos bíblicos, a aproximar e unificar os crentes em Jesus, dentro de um ecumenismo real e autêntico. – Ef 4.3-6; 1 Co 1.10; 1 Tm 1.3,4; Hb 13.8,9. (Cf Mt 22.41-46). FÓRMULA DE CONCÓRDIA. e) A confissão, sendo um extrato das doutrinas escriturísticas, longe de ser uma fórmula morta, no dizer da teologia racionalista e liberal, conduz ao manancial da água viva que refrigera a alma, dá vida e salvação. – Jo 6.63,68; 4.10; 7.37,38.2 2 Goerl, Otto. Fórmula de Concórdia, Concórdia S.A., Porto Alegre, RS, 1997, p.13 e 14 2 Por isso, falarmos sobre as Confissões, termos elas como pano de fundo, diante dos problemas e dificuldades atuais, parece-nos muito importante, para que o evangelho permaneça vivo entre nós. 2. A importância das traduções da Bíblia Segundo o Dicionário Houaiss, tradução é uma “operação que consiste em fazer passar um enunciado emitido numa determinada língua para o equivalente em outra língua”. Disse o pastor Dr. Rudi Zimmer, presidente da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e das Sociedades Bíblicas Internacionais (SBI): “Mais do que mera substituição de palavras, tradução é um ato de comunicação, pois o texto traduzido precisa fazer sentido.”3 Para traduzir corretamente, a pessoa precisa conhecer a língua original, bem como ter pleno domínio da língua em que vai traduzir, sua interpretação do vocabulário, para que traduza fielmente o que foi dito no original. Lutero tinha essa preocupação. Lutero queria que o povo alemão lesse e entendesse o que estava lendo, como Deus a deixou, e o que ele queria que fosse entendido e deixado, chegasse ao conhecimento e entendimento do povo alemão. Falando sobre a tradução que ele havia trabalhado e feito para o alemão, Lutero disse em suas Tischreden: Essa Bíblia – e que eu não me vanglorie, pois essa obra é uma glória por si mesma – é tão boa e tão excelente, que posso dizer ser ela a melhor de todas as versões, quer grega ou latina, e nem se encontra muito mais do que em todos os escritos que a comentam.” E Lutero continuou: “Carrego comigo a preocupação de que não se lerá muito na Bíblia, pois se está bastante enfastiado dela, e ninguém mais se lembra dela.4 Uma boa tradução da Bíblia é muito importante, por isso a SBB ou Sociedade Bíblica Mundial se preocupam tanto com a capacidade, o preparo, o conhecimento nas línguas originais daqueles que nela trabalham. Mesmo assim, por maior que seja o cuidado na tradução, nada substitui o original. A tradução sempre será uma semelhança interpretativa, também por isso, quando se apresenta uma nova versão da Bíblia, geralmente ela cria polemica, discussão, descontentamento, e muitas vezes, rejeição. Essa é uma situação que vivemos hoje no Brasil. Creio que devemos, sempre, ter muito zelo e cuidado com a boa tradução, o que efetivamente nossas Sociedades Bíblicas têm, mas, em vez de perder tempo discutindo qual a melhor tradução, deveríamos nos ocupar em incentivar, apoiar e divulgar a Palavra de Deus, para que seja lida e meditada sempre mais e mais. O que as Confissões falam sobre a Bíblia Segundo Augustus Nicodemus Lopes, a hermenêutica de Lutero redimiu as Escrituras do cativeiro da exegese medieval e do controle da Igreja Católica Romana. 5 As Confissões Luteranas são vistas pelos luteranos como confissões e não como tratados teológicos. Elas não pretendem ser dogmáticas. Elas não são fruto de trabalho de laboratório, mas expressão de luta, em campo. São a expressão de convicções de fé, testemunhos públicos diante da oposição. A abordagem das Confissões não é abrangente, no sentido de 3 Zimmer, Rudi. Documento à CTRE, IELB, 2011. Wolf, Manfred. Mais uma pergunta, Dr. Lutero, Sinodal, São Leopoldo, RS, p. 23 5 Lopes, Augustus Nicodemus. Lutero ainda Fala. Um ensaio em História da Interpretação Bílbica, http://old.thirdmill.org, p. 1 4 3 que todos os temas da fé precisassem estar presentes em seu conteúdo. As Confissões abordavam os temas em que havia problemas a serem resolvidos.6 Esta ênfase está presente na Confissão de Augsburgo, nos Artigos de Esmalcalde e na Fórmula de Concórdia. As Confissões Luteranas não eram simples debate ou disputa teológica, mas era uma defesa convicta, fiel e firme da Palavra de Deus. Elas eram feitas, vividas e defendidas dentro daquele espírito, que levou o Dr. Martinho Lutero dizer e confessar: “Se vierem roubar, os bens, vida e o lar, que tudo se vá, proveito não lhes dá, os céus nos são deixados.” Theodore E. Schmauk disse: “As Confissões são Escritura digerida, assimilada e pulsando na vida da Igreja.”7 As Confissões tinham fundamentação bíblica. Para ser bíblico, não basta citar a Bíblia, é necessário fazer a exegese correta, interpreta-la adequadamente. Por exemplo, arrependimento não é fazer penitência, mas mudar de vida. Assim também, segundo as Confissões Luteranas, é necessário descobrir o tema central da Palavra, para fazer a devida e correta interpretação da mesma. O tema central da Escritura, segundo o que nós cremos e confessamos, aponta para o amor de Deus, e a obra redentora de Cristo Jesus. Dizer que a maior contribuição da reforma foi dar mais liberdade de opinião ao ser humano, é um erro. As Confissões acreditam que Deus deu sua palavra. O homem, ao recebê-la, não deve ser auto-suficiente ou orgulhoso. Não compreender totalmente a Escritura não deve ser motivo para rejeitá-la. O que Deus concedeu é precioso demais para ser perdido ou falsificado com doutrina falsa. Antes deve ser crido, pregado e partilhado.8 Os Catecismos foram escritos para combater e vencer a ignorância do povo. Lutero tinha uma grande preocupação no fato de o povo desconhecer a Palavra e por isso, os Catecismos era uma forma simples, fácil de levar essa Palavra ao povo, começando em casa, com os filhos. Por isso Lutero começou o Catecismo Menor dizendo: “Como o chefe de família deve ensina-los com simplicidade a sua casa.”9 Assim também a Confissão de Augsburgo foi objetiva, pacífica, com fundamentação bíblica. A Confissão de Augsburgo foi escrita para um encontro político, onde havia um poderoso imperador católico no auge de seu poder. Ela também tinha em vista as Teses de Eck que tentavam identificar os luteranos com movimentos radicais do período da Reforma. Sob tais circunstâncias, a Confissão foi pacifista em vez de polêmica, em relação ao romanismo. Ela foi ecumênica e não sectária. Ela foi escriturística e não escolástica, e mais popular que acadêmica.10 Assim o Livro de Concórdia, um documento da Igreja, contendo suas confissões de fé e vida, baseado nas Escrituras Sagradas, tem como objetivo apontar a justificação pela fé. O Livro de Concórdia é também um documento teológico. Os documentos que formam o Livro de Concórdia são coerentes e consistentes, com bom ensino bíblico. Isso mostra que há, por detrás de sua elaboração, uma visão sistemática da Escritura. O centro do Livro de 6 Seibert, op. cit., p. 12 Schmauck and Benze. The Confessional Principle and the Confessions of the Lutheran Church, Philadelphia, general Council Publication board, 1991, p. 9 8 Seibert, op. cit., p. 13 9 Livro de Concórdia, CM, I, p. 366 10 Seibert, op.cit., p. 14 7 4 Concórdia é a doutrina da justificação pela fé, que é o centro do evangelho. Há nesta teologia uma organicidade unificada.11 Se nós pensarmos nos dias de hoje, especialmente no Brasil, na realidade que conheço, onde pseudo-pastores, falsos profetas, enganam e exploram o povo com promessas de prosperidade, curas, milagres, solução para todo o tipo de problemas, mas, por outro lado, exploram o sofrimento humano, um povo carente, massacrando-o com ameaças de castigo divino se não fizerem isso ou aquilo. Com hipocrisia e quase deboche, se oferece ajuda com objetos hipoteticamente abençoados, nesse universo o Livro de Concórdia é muito atual e necessário. Apontar para a graça, a misericórdia, o amor de Deus, e não méritos humanos. Hoje não se vendem indulgências, mas se explora a fragilidade humana, querendo vender a graça de Deus. Como falta e é necessário apontar para o Deus de amor e misericórdia, o Deus que acolhe e recebe o pecador arrependido, o Deus que não promete livramento dos sofrimentos e aflições desse mundo, mas muito melhor, promete livramento do sofrimento eterno, e estar do nosso lado todos os dias, como vencedor que é, na caminhada rumo à felicidade eterna no céu. Nessa caminhada, por mais difícil que seja, também promete não nos abandonar, mas nos convida a confiar e entregar toda a nossa vida em suas mãos (Sl 37.5; Mt 11.28). Nas Confissões não temos muitas citações bíblicas, mas todas as Confissões estão baseadas, fundamentadas na Palavra de Deus. As contestações sempre foram refutadas à luz da Bíblia Sagrada. Vociferam nossos adversários que eles é que são a igreja, eles é que seguem o consenso eclesiástico. Acontece, todavia, que Pedro, aqui, em nossa questão, também cita o consenso da igreja: “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, recebe remissão dos pecados, etc.” sem dúvida que se deve ter na conta de consenso da igreja universal o consenso dos profetas. Nem ao papa nem à igreja concedemos o poder de decretar contra esse consenso dos profetas. Mas a bula de Leão abertamente condena esse artigo da remissão dos pecados, e outro tanto fazem os adversários na Confutação. Evidencia-se daí o que devemos pensar da igreja dessa gente, que não só desaprova, por decretos, a sentença segundo a qual obtemos a remissão dos pecados pela fé, não em virtude de obras nossas, mas por causa de Cristo, senão que ainda ordena que essa doutrina seja abolida pela força e pela espada, e que por meio de toda espécie de crueldades sejam destruídos os bons homens que assim pensam. 12 As Confissões também destacam a lei e o Evangelho. Ap IV, 5, 102; Ap XII, 53; Ap IV, 87. Lei e evangelho são, para as Confissões, o resumo de toda Escritura. Seguindo nessa linha de pensamento, o evangelho é o resumo de lei e evangelho. O evangelho é o resumo não excluindo a lei, mas em distinção à lei, como promessa de Deus e perdão. Por isso, ele deve ser estimado milhares de vezes mais que os juízos e mandamentos. Essa ênfase no evangelho sugere que ele seja a norma na Escritura e a Escritura é a norma para encontrar o evangelho. Por ser o evangelho o norteador da Escritura e por ser a Escritura norma no testemunho do evangelho, entende-se por que todos os artigos das Confissões, tentando preservar o evangelho, preservam a Escritura como norma de fé. (Ap, IV,2-4. P.5-7) Sem o conhecimento do evangelho, a Bíblia permanece ininteligível e inútil. A partir do evangelho, que é o centro, todas as afirmações particulares da Escritura recebem seu lugar e 11 12 Ibid. p. 15 Livro de Concórdia, Concórdia Editora, Porto Alegre, RS, 1980, Apologia da Confissão, art. XII, 66 e 67 5 sentido próprios. O fato de serem usadas passagens bíblicas não torna ninguém bíblico. Deve-se distinguir entre doutrina bíblica e biblicismo ou bibliolatria. 13 Portanto, em nossas Confissões, o Evangelho tem um destaque todo especial. O Evangelho não é um livro que existe para si mesmo, mas é mensagem de Deus dirigida a nós. Não é doutrina por si, mas é proclamação. O Evangelho não está em nós, mas nós o recebemos da parte de Deus, vindo a nós por meio da Palavra e nos trazendo a absolvição. A Palavra ouvida ou lida, através da qual o Espírito Santo age em nós e opera a fé em nós. O Espírito Santo domina completamente o pensamento e a teologia de Lutero. Para entender-se a teologia de Lutero é preciso conhecer o seu pensamento sobre a ação do Espírito Santo. Em todas as questões decisivas da doutrina luterana, o Espírito Santo ocupa lugar fundamental Lutero foi um homem muito inteligente, mas também muito humilde. Ele fazia questão de aplicar tudo sempre á vida prática do cristão, para que as pessoas humildes entendessem as verdades eternas de Deus. Lutero dizia que o homem só podia amar a Deus, depois que o Espírito Santo agiu nele, operando o arrependimento e a fé. O homem, por si só, não pode amar a Deus, é preciso que o Espírito Santo, primeiro transforme a sua vida, como disse o apóstolo João: “Nós amamos, porque ele nos amou priemiro.” (1 Jo 4.19). É o Espírito Santo que age em nós, por meio da Palavra e dos Sacramentos, e nos faz reconhecer o amor de Deus, em Cristo Jesus. Só depois disso é que o ser humano consegue amar a Deus. Esse amor não é mérito ou conseqüência do esforço do ser humano, mas ação do Espírito Santo na vida, no coração do ser humano. O ESPÍRITO SANTO E OS MEIOS DA GRAÇA Os meios da graça podem ser definidos como a forma, a maneira que o Espírito Santo age na vida do ser humano, para anunciar o amor de Deus, ou seja, através da Palavra e dos Sacramentos. Para entendermos o conceito de Lutero sobre a Palavra de Deus, é preciso também compreender o que ele afirmou sobre lei e evangelho. Lutero fazia a seguinte distinção a respeito da Palavra de Deus: Palavra Interna e Palavra Externa. A Palavra Externa é a palavra de Deus escrita e revelada a nós nas Escrituras Sagradas, a Bíblia. E a Palavra Interna é a palavra de Deus, propriamente dita. Sem a palavra interna de Deus a palavra externa (Escritura), seria meramente palavra de homens. A palavra externa atinge apenas o ouvido do homem, porém a palavra interna atinge o coração. A palavra externa só atinge o seu efeito quando vem impregnada da palavra interna, mas, por outro lado, a palavra interna precisa da palavra externa para atingir o coração do homem. A palavra externa é o veículo que o Espírito Santo usa para poder comunicar a palavra interna no coração do homem. A palavra é um instrumento do Espírito Santo. Tanto a palavra interna, como a palavra externa fazem parte deste instrumento, e uma está intimamente ligada a outra. Assim como não se pode separar o calor do sol de seus raios, também não se pode separar o Espírito Santo da palavra externa e interna. Lutero não aceitou separar o Espírito Santo da Palavra, porque a finalidade do Espírito Santo em usar a Palavra é de fazer com que Cristo esteja realmente presente na vida do cristão. O apóstolo João chamou Cristo de Verbo. O Verbo é a palavra, e é a Palavra em ação. Cristo é o Verbo que fez a ação de salvar o homem. E este Verbo continua em ação, através da Palavra, que é comunicada ao homem pelo Espírito Santo. Por isso, Cristo, como Vervo e Palavra, está intimamente ligado ao Espírito Santo, e o Espírito Santo age em função da obra salvadora de Cristo, através da palavra. Por isso, se quisermos separar o Espírito Santo da palavra, forçosamente estaremos separando o 13 Seibert, op.cit., p. 18 6 Espírito Santo de Cristo, e isso é impossível, porque o Pai e o Filho e o Espírito Santo são um. Cristo, o Verbo e a palavra, formam uma unidade com o Pai e o Espírito Santo, unidade esta indivisível e inseparável. Portanto, o Espírito Santo age no cristão, por meio da palavra. Todo o espírito que agir fora da palavra não é o Espírito Santo, mas outro espírito qualquer. E é por isso que o apóstolo Paulo escreveu: “Provai os espíritos para ver se procedem de Deus.” E a maneira de tirar a prova é pelas Escrituras, porque nele e por meio dela o Espírito Santo age. O Espírito Santo age pela palavra externa e interioriza essa palavra no coração do homem, tornando Cristo realmente presente. O Espírito Santo age pela palavra, mas nem sempre a palavra contém o Espírito Santo. Sem obra do Espoírito Santo a palavra continuará sendo simples palavra que fala de Jesus e não palavra que traz Cristo real para o homem. Para Lutero, tanto a lei como o Evangelho tinham o mesmo conteúdo: Cristo. Porém a diferença está no seguinte: O conteúdo da lei tinha Cristo como exigência, e o evangelho tem Cristo como dádiva. 14 A VERACIDADE DAS CONFISSÕES E SUA PRÁTICA Interessante notar que as Confissões falem pouco da inspiração da Bíblia, mas destaca a ação do Espírito Santo na vida dos ouvintes. Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos. 15 Para Lutero, tanto a lei como o Evangelho tinham o mesmo conteúdo: Cristo. Porém a diferença está no seguinte: O conteúdo da lei tinha Cristo como exigência, e o evangelho tem Cristo como dádiva.14 A VERACIDADE DAS CONFISSÕES E SUA PRÁTICA Interessante notar que as Confissões falem pouco da inspiração da Bíblia, mas destaca a ação do Espírito Santo na vida dos ouvintes. As nossas Confissões, contidas no Livro de Concórdia, além de dizer o que cremos e defendemos, precisam de fato ser confessadas por nós. Não basta dizer: “Aqui estão as nossas Confissões”, é preciso confessá-las, vivenciá-las, praticá-las na vida. E isso Lutero, e os reformadores declaram e o fizeram de uma maneira inquestionável. Para a preservação de doutrina pura, e para que haja unidade cabal, permanente e agradável a Deus na igreja, é necessário não só que a doutrina pura e sã seja corretamente apresentada, mas também que sejam repreendidos os adversários, que ensinam diversamente 1 Tm 3; Tt 1. Pois, como diz Lutero, pastores fiéis devem fazer ambas as coisas, isto é, apascentar ou alimentar os cordeiros e defender contra os lobos, de sorte que fujam da voz dos estranhos, Jo 10, e “apartem o precioso do vil.” Jr 15. Por isso nos declaramos uns aos outros de maneira cabal e clara também sobre este ponto, como segue: que sempre se deve fazer distinção entre contendas desnecessárias e inúteis, com que não se deve perturbar a igreja, visto que destroem mais do que edificam, e controvérsia necessária, a saber, quando ocorre uma controvérsia que diz respeito aos artigos da fé ou às partes principais da doutrina 14 15 Prenter, Regin. Spiritus Creator. Wipf&Stock Publ., 2001. Livro de Concórdia, op. Cit., CA, V, 1, 2 e 3 7 cristã, onde, para salvamento da verdade, é necessário reprovar a falsa doutrina contrária. Agora, ainda que os escritos supramencionados dão ao leitor cristão que ama a verdade divina e nela se compraz informação clara e correta sobre todos os artigos controvertidos de nossa religião cristã, mostrando-lhe o que deve considerar e receber como certo e verdadeiro de acordo com a Palavra de Deus dos escritos proféticos e apostólicos, e o que deve rejeitar, fugir e evitar como falso e errado, todavia, a fim de que a verdade seja tanto mais distinta e claramente preservada e seja distinguida de todos os serros, e para não acontecer venha algo a ser escondido e ocultado sob palavras ordinárias, declaramo-nos uns aos outros, clara e expressamente, sobre os principais e mais importantes artigos, tomados um por um, e que no presente tempo passaram a ser objeto de controvérsia, de modo que seja um testemunho público e certo não só para os contemporâneos, mas também para a nossa posteridade, do que é e deve continuar a ser o entendimento e juízo unânimes de nossas igrejas com respeito aos artigos controvertidos.16 Visto querermos ter testificado, na presença de Deus e de toda a cristandade, entre os contemporâneos e os pósteros, que a presente explanação de todos os artigos controvertidos que precedem e que foram explicados, que ela, e nenhuma outra, é nossa doutrina, fé e confissão, na qual também pela graça de Deus haveremos de comparecer, de coração intrépido, diante do tribunal de Jesus Cristo e da qual haveremos de prestar contas, e contra a qual nada falaremos ou escreveremos, nem secreta nem publicamente, mas, sim, intencionamos, mediante a graça de Deus, perseverar nela, subscrevemos, com madura ponderação, em temor e invocação de Deus, com o próprio punho.17 Uma palavra de Lutero sobre a Bíblia Lutero amava a Bíblia, defendia seu uso, sua importância e, especialmente, seu conteúdo. Para que o povo alemão pudesse ter acesso a ela, lê-la, meditar no seu conteúdo, poderíamos dizer, que Deus providenciou um meio para que Lutero se dedicasse a traduzi-la para o idioma alemão. Primeiro ele traduziu o Novo Testamento do original grego, contando com a ajuda do amigo e colaborador, Felipe Melanchthon. O Novo Testamento, foi publicado em 1522, com uma tiragem inicial de 3.000 exemplares, o que rapidamente foi vendido. No primeiro ano, foram vendidos 6.000 exemplares, o que, para a época, foi um número muito expressivo. A Bíblia toda, só foi publicada em 1534, depois de ser revisada por especialistas nas línguas originais, professores da Universidade de Wittenberg. Sobre esse trabalho, Lutero declarou, como já foi mencionado, que esse foi um trabalho excelente, abençoado por Deus, mas o seu maior desejo era ver o povo tendo acesso à Palavra, e aproveitando o que Deus nos deixou para crescimento e fortalecimento na fé. É através da Palavra que Deus se relaciona com o ser humano. Esse é o meio: Deus jamais se relacionou com o ser humano de outra maneira nem se relaciona com o ser Humano de outra maneira senão com a palavra da promissão. Inversamente, nós tampouco Podemos relacionar-nos com Deus senão pela fé na palavra de sua promissão.18 Para Lutero a Bíblia era inigualável. Ele a considerava o Livro dos livros. Todo e qualquer escrito humano, inclusive os escritos do próprio Lutero não valiam nada, diante do valor, significado e mensagem de Deus. Vejam o que ele disse sobre isso: 16 Ibid. CMa, I, 158 Ibid. FC, DS, Suma, 14-16 18 Lutero, Martinho. Obras Selecionadas, Concórdia Editora e Sinodal, Porto Alegre, RS, 1989, p. 341-424 17 8 “Somente a Bíblia é o legítimo senhor e mestre de todos os escritos e doutrinas sobre a Terra.”19 Eu ficaria bem contente em ver meus livros, um e todos, ficarem na obscuridade e afundarem no mar. Entre outras razões, porque tremo ao pensar no exemplo que estou dando, pois estou bem ciente quão pouco proveito a Igreja teve desde que se começou a coletar muitos livros [...] ao lado das Escrituras Sagradas. [...] por esta prática não só perdeu-se tempo precioso que poderia ser usado para o estudo das Escrituras, mas porque no fim o puro conhecimento da Palavra divina também se perdeu [...] Pois todos os outros escritos devem dar a primazia e apontar para as Escrituras [...] (Ninguém) o fará tão bem como as Santas Escrituras, i. e., tão bem como Deus o fez [...] Por isso nos convém deixar os profetas e apóstolos ficarem na cátedra do professor e nós, bem abaixo a seus pés, ouvindo o que dizem. Não são eles que devem ouvir o que dizemos.20 A Escritura Sagrada é presente de Deus, que nos conforta, orienta, alimenta e vivifica. A Escritura Sagrada está repleta de dádivas divinas e ações salvíficas. Todos os livros dos gentios simplesmente nada ensinam sobre a fé, a esperança e o amor; sim, nem sequer sabem alguma coisa sobre isso. Eles apenas tratam do que é presente A Escritura Sagrada é o que existe de supremo, é um livro divino, cheio de consolo em todas as tentações, pois ensina acerca da fé, da esperança e do amor de forma diferente da que é entendida e experimentada pela razão humana. E, justamente em meio à desgraça, ela faz essas grandezas resplandecerem, a fim de que nos façam entender que uma nova vida espera por nós depois dessa miséria que vivenciamos.21 Àqueles que se opunham à Bíblia ou contestavam sua mensagem ele dizia: Jamais foi escrito sobre a face da Terra um livro mais claro do que a Escritura Sagrada; em relação a outros livros, ela é como o sol comparado a todas as outras luzes. Os que se posicionam contra ela só querem nos levar para longe da Escritura e assumir o lugar de mestres sobre nós, com o intuito de que venhamos a crer em suas pregações, que não passam de pura ilusão.22 Onde a Bíblia silencia, está dentro da nossa liberdade agir, mas não podemos aí radicalizar ou firmar doutrina, pois pertence ao campo da liberdade cristã. Quando a Escritura Sagrada silencia por completo (sobre algum assunto), não nos compete afirmar ou negar alguma coisa. Mas aquilo que a Escritura Sagrada ensina, contesta ou determina como verdadeiro também nós podemos seguir tranquilamente e ensinar da mesma maneira23 Não devemos medir, julgar, compreender e interpretar a Escritura Sagrada segundo a nossa razão, mas, em oração, refletir sobre ela com todo o zelo e desejá-la ardentemente. De jeito nenhum e de maneira alguma venhamos a perder a Bíblia, mas que a leiamos e preguemos, pois quando a teologia prospera, tudo se realiza bem e é coroado de êxito, porque ela é a cabeça de todas as faculdades e artes; se ela vier a sucumbir, então eu renuncio a todas as outras coisas. 24 19 Gesamtedition der Werke Martin Luther, Weimer, 1883, vol VII, p. 317 WA 50, 657-661, LW 34, p.283s (Pref. À Ed. De Wittenberg das Obras de Lutero, 1539) 21 Luther, Martin. Tischreden, Ed. Kurt Aland, Stuttgart, Philipp Reclam, 1960 22 Gesamtedition, op. cit., 8, p. 236 23 Ibid. 43, 9.301 24 Tischreden, op. cit., p. 19 20 9 A Escritura se interpreta a si mesma. Para aprender o conteúdo, a riqueza das Sagradas Escrituras é necessário muita oração, meditação, em meio as tentações e provações da vida, além do conhecimento, tanto das línguas originais, quanto colocar o texto no seu contexto. Não aprendi a minha teologia toda de uma só vez, mas tive que busca-la sempre de novo, indo cada vez mais fundo. Quem fez isso para mim foram as minhas tentações, pois ninguém consegue entender as Escrituras sem prática e tentações. Isto é o que falta aos entusiastas e às seitas. Eles não têm o crítico certo, o diabo, que é o melhor professor de teologia. Se não tivermos esse tipo de diabo, seremos apenas teólogos especulativos, que só ficam perambulando em seus próprios pensamentos e especulando com a própria razão se as coisas devem ser assim ou assado.25 Não devemos medir, julgar, entender nem interpretar a Sagrada Escritura segundo a nossa razão, mas refletir sobre ela diligentemente e buscá-la com a oração. Desse modo, as tentações e Satanás são também uma das causas porque aprendemos a entendê-la um pouco e de certo modo através da prática e da experiência; de outro modo e sem isso jamais se chega a entender algo dela, mesmo que a ouçamos e leiamos. Neste ponto o Espírito Santo deve ser o único mestre e preceptor a nos ensinar, e o discípulo ou aluno não se envergonhe de aprender desse preceptor. E mesmo que eu venha a cair em tentação, imediatamente lanço mão de um texto ou dito da Bíblia que me apresenta Jesus Cristo como aquele que morreu por mim, o que então me proporciona consolo.26 Sobre o Antigo e Novo Testamento, Lutero via neles uma unidade, um complemento. Não existe nenhuma palavra no Novo Testamento que não se reporte ao Antigo (Testamento), onde foi anunciada por primeiro. O Novo Testamento nada mais é do que uma revelação do Antigo; é a mesma coisa como se alguém tivesse em mãos uma carta lacrada e então a abrisse. Assim, o Antigo Testamento é uma carta-testamento de Cristo, que ele, após sua morte, ordenou que fosse lida e pregada em toda parte por intermédio das lentes do Evangelho.27 O Novo Testamento é um livro no qual estão escritos o evangelho e a promessa de Deus e, além disso, igualmente a história tanto dos que crêem como também dos que não crêem no que está escrito.28 É aconselhável para cada cristão que ele leia, em primeiro lugar e com maior freqüência, os livros principais do Novo Testamento e que, pela leitura diária, torne-os para si próprio tão familiares quanto o pão diário.29 Verdade é que tu não consegues ler a Escritura de forma suficiente; e aquilo que lês não consegues ler perfeitamente; o que lês a contento não consegues entender na íntegra; o que entendes bem não consegues ensinar corretamente; o que ensinas bem não consegues viver integralmente.30 Ninguém pense já ter saboreado suficientemente a Escritura Sagrada, a não ser que, juntamente com profetas como Elias e Eliseu, com João batista, Cristo e os apóstolos, tenha dirigido a comunidade durante 100 anos.31 25 Kleinig, John W. Como se forma um teólogo. Oratio, Tentatio, Meditatio. Igreja Luterana, 61, 2002, pp. 5-17 Bayer, Oswald. A Teologia de Martinho Lutero. Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS, 2007, p. 6 27 Gesamtedition, op. cit., 10, I/181 28 Ibid 6/2 29 Ibid., 6/10 30 Ibid, 53/218 31 Tischreden, 38 26 10 E cuide que não se canse, ou pense que já fez o suficiente quando leu, ouviu e falou uma ou duas vezes (o texto bíblico) e que já tem entendimento completo. Você nunca será um teólogo especialmente bom se o fizer, porque será como uma fruta temporã que cai no chão antes de maturar pela metade.32 Para Lutero nada poderia impedir o curso da Palavra de Deus. Estes querem proibir-nos de que o Evangelho tome o seu curso [cf. 2 TS 3.1], algo que não está em nosso poder, assim como não podemos impedir que os campos fiquem verdes ou que as plantas cresçam neles. 33 Lutero dizia: “Tentatio, oratio, meditatio faccit teologorum.”, ou seja, a tentação, a oração e a meditação é que fazem o teólogo. Ele via na tentação uma oportunidade para buscar consolo, conforto e animo na Palavra de Deus. A tentação impulsionava e impulsiona o cristão para mais perto de Deus. Em meio a tentação, devemos nos agarrar a Deus em oração e buscar na sua Palavra a orientação e o consolo para não desanimar. Por isso, Lutero via na tentação uma benção, para o cristão, muito especialmente para o teólogo. A relação entre tentação, oração e meditação em Lutero é interessante. Ele não consegue dissociar uma da outra. A relação entre elas é uma seqüência divina. A tentação leva à oração, e a oração sem a Palavra, sem deixar Deus falar conosco, não produz os frutos, os resultados esperados. Pastor Breno Thomé, inspirando-se em Bayer, Kleinig, Pieper e o próprio Lutero, diz: A correlação de oratio e gratia Spiritus põe em destaque sua ligação com a Palavra de Deus. Lutero não deixa dúvida a respeito. No texto do Prefácio, declara que segue o exemplo de Sto. Agostinho por ter sido o primeiro e quase o único determinado a submeter-se às Escrituras Sagradas, sem a interferência de todos os pais e santos.34 O comentário de Pieper é: O que Lutero diz aqui sobre a necessidade da oração se firma na convicção operada pelo Espírito Santo de que não há no mundo outro livro como a Santa Escritura. [...] Por esta razão é o único livro que ensina a vida eterna, pois todo o mundo é mantido cativo na opinio legis. Quando outros livros ensinam sobre a vida eterna [...] que a salvação é obtida sem as obras da Lei, pela fé na satisfactio vicaria de Cristo, isto se deriva da Escritura.35 E o professor Thomé, acrescenta: A isso acrescenta ser próprio ao teólogo, ao abrir a Escritura, não por fé alguma em sua inteligência, mas recomenda que “peça de Deus o seu Espírito Santo, pois só ele ensina alguém a entender a Palavra de Deus e cria um espírito que se sujeita às Escrituras”. 36 Por isso deveríamos, orar muito mais, no entanto, o inimigo não dá tréguas. O diabo procura de todas as formas atrapalhar nossa vida de oração. Enche-nos de preocupações, ficamos confusos, nos torturamos, em vez de cair de joelhos e orar. Por isso deveríamos aprender e guardar essas palavras no coração e acostumarmos [a orar] assim que surge uma angústia ou tribulação diante dos olhos, cair imediatamente de joelhos e apresentar a necessidade a Deus, segundo essa admoestação e promessa. (Mt 7.7-11)37 32 Bayer, op. cit., conforme WA 50, 657; LW p. 283-288 Ibid, p. 6 (WA TR 4, 311, 25-312.1) 34 Thomé, Breno C. Concílio de Pastores 2012, Editora Concórdia, Porto Alegre, RS, 2012., p. 39 35 Pieper, Francis. Christian Dogmatics. Concordia Publishing House, St.Louis, MO, 1950, p. 187 36 Thomé, op. cit., p. 40 37 Lutero, Martinho, Obras Selecionadas, op. cit., v. 9, p. 225 33 11 Assim conclui o professor Thomé: A fé, gerada pelo Espírito Santo, na promessa de que Deus, por amor a Cristo, quer nos atender, se expressa na oração. Ela expressa a fé e é também a batalha da fé, que coloca o cristão na linha de batalha entre Deus e Satanás. “Isso equivale a dizer que a Teologia da Cruz de Lutero torna-se evidente também na oração do Senhor.”38 Assim Lutero une a oração com a meditação. O Espírito Santo age no ser humano por intermédio da Palavra, e cria nele a nova vida. A oração já é um fruto dessa nova vida. Lutero afirma a inter-relação da oratio pelo dom do Espírito Santo com a meditatio, pois “Deus não lhe dará o seu Espírito Santo sem a palavra externa”. A Escritura é a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito vivificador e o meio pelo qual nos inspira e potencializa, 208 realizando sua obra em nós. Sem a meditação na palavra ligada à oração não se tem o Espírito. Ambas são essenciais!39 O professor Anselmo Graff, Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, ele, a partir de estudos em Lutero, exorta que: Só há meditação verdadeira na Palavra, quando houver primeiro o prazer. E isto é uma exclusividade dos cristãos. “Por isso Davi ora: „Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça‟ (Sl 119.36).” Lutero outra vez afirma que o prazer na Lei do Senhor precisa vir necessariamente dos céus. [...] Os desejos humanos estão em oposição à Lei do Senhor, a ponto de o ser humano querer evitá-la. Não é uma ação livre do ser humano amá-la. Não é o temor pela punição nem o desejo pelas promessas de recompensa da Lei que irão produzir esse amor, mas esse desejo vem da fé em Deus, através de Jesus Cristo. 40 Pela fé o homem passa a ter prazer na lei do Senhor. Na fé o ser humano não foge da lei, mas a saboreia e vê nela também o amor de Deus agindo e querendo o seu bem. Esse prazer na lei do Senhor aumenta ainda mais em meio à tentação. Quanto maiores as tentações, de fora e de dentro, mais ele se agarrava em Deus e nas suas promessas, e isso o fortalecia e dava nova forças. Sobre isso, Pieper escreveu: Toda a teologia de Lutero da tentatio de dentro e de fora. Primeiro, veio o interior. Após anos de incerteza e de terrores de consciência sob a doutrina romana das [boas] obras, Deus o guiou ao entendimento do Evangelho da livre graça de Deus em Cristo. Assim provou em seu próprio coração e consciência “quão reta, quão verdadeira [...] é a Palavra de Deus”. Então veio a tentatio de fora. Quando Lutero ensinou a Palavra de Deus, o papado, sim, quase todo o mundo se pôs no seu caminho, e declarou que perdera o direito tanto à sua vida eterna como à vida terrena. Em sua aflição ele aprendeu “a buscar e a amar a Palavra de Deus” [...] Assim, pela via da aflição, Lutero tornou-se um “razoavelmente bom teólogo.41 Kleinig afirmou: Na tentação [ele...] experimenta pessoalmente a justiça e a verdade da Palavra de Deus em todo o seu ser, e não apenas em seu intelecto. Ele tem experiência da [sua] doçura e beleza [...] não apenas com suas emoções. Ele experimenta o [seu] poder e a força [...] não apenas com seu corpo. A tentação é, portanto, o teste para avaliar qualquer teólogo; ela revela o que, sem ela, não se vê e não se conhece. Assim [...] a tentação testa e prova a realidade da espiritualidade de alguém. 42 38 Thomé, op. cit., p. 42 Ibid, p. 45 40 Graff, Anselmo E. O Reformador Lutero e o Princípio do Estudo Teológico: Oratio, Meditatio, Tentatio. Canoas, RS. Trabalho não publicado, p. 16 41 Pieper, op. cit., p. 189 42 Kleinig, op. cit., p. 14 39 12 Lutero disse: Porque eu mesmo (para que eu, dejeto de rato, também me ponha no meu lugar [unter den Pfeffermenge]) tenho muito a agradecer aos meus papistas, por terem me agredido, acossado e intimidado dessa maneira com a fúria do diabo, ou seja, por terem feito de mim um teólogo razoavelmente bom, o que jamais teria conseguido sem eles. 43 Pastor Breno Thomé, num trabalho para o Concílio de Pastores da IELB, 2012, disse: Por reconhecer sua própria fraqueza espiritual e falta de sabedoria, confia no poder do Espírito Santo e na sabedoria da Palavra de Deus. E o ataque do diabo acaba produzindo efeito contrário ao proposto, pois conduz o cristão à Palavra de Deus. Ela se torna o único fundamento de sua fé e a fortalece. O capacita para o trabalho e a ação na igreja, sem depender de seus próprios recursos ou de que a Igreja ou o mundo confirmem a sua teologia. A experiência cristã está na união com o Cristo crucificado, não na prosperitas.44 E novamente Kleinig afirma: Por meio da tentação [...] se torna teólogo; ele aprende a teologia da cruz [...] a espiritualidade da cruz. [...] conhece a dor da união com o Cristo crucificado. Ele carrega a cruz juntamente com seu Senhor, sofrendo com ele na igreja.45 Lutero não apenas recomendava a leitura, mas ele, de fato, a lia. Ele praticava o que falava. Desde alguns anos, tenho lido toda a Bíblia anualmente por, no mínimo, duas vezes. E se a Bíblia fosse uma árvore enorme e imponente e se todas as suas palavras fossem um raminho, então posso afirmar que me ocupei em sacudir cada um desses raminhos para realmente saber o que estava pendurado neles, para saber o que produziam. E sempre de novo consegui colher mais algumas maçãs ou mais algumas peras.46 Minha decisão é ver a Escritura como o que há de mais duradouro e como aquilo que ocupa o primeiro lugar e só então aceitar ou rechaçar todas as outras coisas ensinadas a partir da Escritura, não me importando com quem seja o autor do escrito.47 Diante dessa Palavra de Deus, o Espírito Santo age, e nós somos tocados e transformados. A Palavra de Deus é verdadeira e não produz hipócritas, mas pessoas honradas e sinceras, e também pessoas que tem uma fé autêntica e uma correta opinião sobre Deus.48 A palavra de Deus é como uma forte correnteza, diante da qual a gente não se consegue defender com o uso de nenhum poder. Assim como a força da natureza, a palavra de Deus faz com que as pessoas de fé sejam salvas. Mas essa mesma palavra condena e fulmina os descrentes; isso acontece porque o Senhor dessa palavra é sabedoria, poder e justiça. Por esse motivo, a palavra de Deus está acima de tudo o que possuímos e somos.49 Para Lutero, e isso defendemos e confessamos ainda hoje, a Bíblia é a única fonte de doutrina, fé e verdade. É a partir das Escrituras Sagradas que Lutero defendia seu ponto de vista, levando sua consciência cativa a ela. Dizia ele que queria e precisava defender o que Deus lhe dizia, pois este também afirmou em Lucas 9.26: “Quem se envergonhar de mim sobre a terra, dele me envergonharei perante o meu Pai Celeste e seus anjos.” Assim a Bíblia Sagrada sempre foi a base, o fundamento de toda a sua argumentação e quando Lutero, se viu ameaçado, constrangido e quase 43 Bayer, op. cit., p. 27 Thomé, op. cit p. 51 45 Kleinig, op. cit., Weith, G. E. Jr. The Spiritualy of the Cross, St. Louis, Concordia, 1999 46 Tischreden, 10 47 Gesamtedition, 6/586 48 Ibid, 31, I/583 49 Ibid, 40, II/275 44 13 forçado a retirar tudo o que havia escrito e dito, na dieta de Worms, diante do imperador Carlos V, em 17 e 18 de abril de 1521, depois de pedir autorização para reavaliar e revisar o que havia dito e escrito, disse: Sendo que vossa Majestade e Graça Imperial deseja uma resposta simples, quero dá-la de Forma não ofensiva nem agressiva: A não ser que seja convencido pelo testemunho da Escritura ou por argumentos evidentes (pois não acredito nem no papa nem nos concílios Exclusivamente, visto que está claro que os mesmos erraram muitas vezes e se contradisseRam a si mesmos) - a minha convicção vem das Escrituras a que me reporto, e minha Consciência está presa a palavra de Deus – nada consigo nem quero retratar, porque é difícil,Maléfico e perigoso agir contra a consciência. Deus que me ajude. Amém. 50 Para os nossos dias, parece que quanto mais nós temos acesso e facilidade em ter contato, aproveitar, ler as Escrituras Sagradas, mais o ser humano se afasta, esfria e não valoriza esse tesouro, a Santa Bíblia. Já no tempo de Lutero, ele sentia isso. Ele se manifestou sobre isso dizendo: Onde se tem a palavra de Deus, ali não se quer saber dela. Por outro lado: onde não se tem a palavra de Deus, ali ela seria bem-vinda. Onde se tem a igreja diante da porta da casa, na qual é ensinada a palavra de Deus, ali, durante a pregação, visita-se o mercado e passeia-se por entre as sepulturas. Onde é preciso caminhar dez, vinte quilômetros, ali há o desejo de se unir ao povo e, juntos freqüentar a casa de Deus em júbilo e em gratidão.51 A leitura da Bíblia hoje Em nossos dias, vemos crises doutrinárias que afligem a Igreja Evangélica no Brasil, e creio que podemos estender essa verdade para o mundo. Penso que a maior parte dessas crises e dificuldades que surgem na Igreja, que provocam divisões, que trazem discórdia, nasce de um desconhecimento cada vez maior das Sagradas Escrituras, onde uma hermenêutica defeituosa, de um sistema de interpretação que, à semelhança dos tempos antes da Reforma, procura sentidos no texto inspirado que vão além daquele pretendido pelo autor bíblico. Essa alegorização das Escrituras feita no púlpito de muitas igrejas evangélicas tem contribuído para a disseminação de inúmeros erros doutrinários. À semelhança do período medieval, quando esse tipo de interpretação serviu de ferramenta para legitimar biblicamente doutrinas católicas, posteriormente rejeitadas pelos reformadores, a hermenêutica da alegoria tem servido no Brasil evangélico como suporte para as doutrinas mais diversas e estranhas. Creio que o retorno a uma exegese cuidadosa do texto bíblico, à luz do contexto histórico, da gramática e da sintaxe das línguas originais, produziria pregação expositiva das Escrituras, através da qual a igreja seria instruída, edificada, confortada e corrigida pela Palavra de Deus. Pastores e leigos, estudar mais a Palavra, buscar orientação segura, pedir a iluminação do Espírito Santo, para que assim, a Palavra de Deus fale, e não a razão humana. Em nossos dias, temos a Bíblia escrita, gravada em áudio e vídeo, e de forma digital, e com tudo isso, parece que o ser humano, não a valoriza e cada vez menos tira tempo para lê-la, ouvi-la ou meditar na riqueza do seu conteúdo. Ela quer ser: “lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos caminhos” (Sl 119.105). Imaginemos a seguinte cena: Um cristão chega no céu, conversa com Jesus, quando esse então lhe faz a seguinte colocação. Como meu seguidor você deve ter lido muito a carta que eu vos deixei? Meio constrangido o cristão diz: “Sim! Eu a li!” Quantas vezes você a leu toda? Mais constrangido 50 Schlupp, Walter O. (trad.) Pelo Evangelho de Cristo, Concórdia e Sinodal, Porto Alegre e São Leopoldo, RS, 1984, p 148. 51 Wolf, op.cit., p.108 14 ainda vem a resposta em forma de pergunta: Toda? Mas ela era muito grande. Jesus, então, diz: “Você, então, está querendo me dizer que não a leu toda?” Quantos anos eu te dei no mundo? As pessoas, muitas vezes, conhecem todos os noticiários, programas os mais diversos na televisão, gastam bastante tempo com a Internet, mas não se organizam para ler a Bíblia diariamente. Uma pesquisa mostrava que mais de 25% dos membros da Igreja nunca lêem a Bíblia. Por que ela é pouco lida? AT Sl 1.4: “Os ímpios não tem prazer na lei do Senhor.” 2 Rs 22.8: “O livro da lei se achava extraviado.” Jr 36.23 e 24: “O rolo foi queimado por Joaquim.” NT Mt 21.16: “nunca lestes?” Mt 22.29: “não conheceis a Escritura”. 1 Ts 5.27: “epístola seja lido a todos”. Hoje lêem-se muitos livros, revistas, jornais, mas a Bíblia fica de lado. O que fazer? Como resgatar o interesse pela Palavra de Deus? Como incentivar e fazer as pessoas lerem mais a carta de Deus? Lutero, preocupado com a ignorância do povo sobre o conteúdo da Palavra de Deus, dedicou grande parte do seu tempo, para traduzir a Bíblia, afim de que o povo tivesse acesso as Sagradas Letras. Naquele tempo, essa iniciativa foi uma benção. Muitos a procuraram, leram, aproveitaram. Isso se deu por causa da linguagem popular da tradução. Lutero tornou um livro misterioso e reservado somente para ricos e letrados, compreensível para o povo em geral. O que hoje poderia fazer diferença para o povo buscar mais, ler mais, ouvir mais e meditar mais na Palavra de Deus? Talvez devamos nos unir e trabalhar mais por esse objetivo. Quanto mais distante e desconhecida for a Palavra de Deus, mais o diabo e seu bando, como dizia Lutero, poderão cantar vitória. Quanto menos conhecimento da verdade que liberta, dos mandamentos de Deus, mais as vãs filosofias, os falsos profetas e todos aqueles que estão a serviço de Satanás, conseguem sucesso no mundo. O que fazer? Talvez devemos começar por nós mesmos. Como está a nossa dedicação de tempo para a leitura e meditação na Palavra de Deus? Por vezes parece que o ser humano age como criança que não quer se alimentar. A mãe insiste, oferece, promete recompensas, faz ameaças, enfim, faz de tudo para que o filho se alimente, mas os filhos não valorizam, teimam e rejeitam. É preciso, por vezes, quase forçá-los a comer. A nossa mesa está farta, a Palavra de Deus à disposição, mas parece que os muitos afazeres da vida nos impedem de sentar, ler, meditar e deixar Deus falar conosco, por intermédio dela. Portanto, em primeiro lugar, nós, os pastores, os líderes, ler mais, estudar mais, cavar mais fundo nesse tesouro que Deus nos deixou. Lutero, no Prefácio do Catecismo Maior disse: Agora que estão livres do inútil e penoso falatório das horas canônicas, deveriam pelo menos ler, de manhã, ao meio-dia e à noite, uma ou duas páginas do catecismo, do Livrinho de Orações, do Novo Testamento ou de outra parte da Bíblia, e rezar o Pai Nosso, para si 15 mesmos e seus paroquianos. Assim demonstrariam reconhecimento e gratidão ao Evangelho, pelo qual foram livrados de tantos encargos e preocupações.52 E Lutero insistiu e defendeu muito e intensamente a importância de estudar, ler e meditar nas Sagradas Escituras. Sobre isso ele disse: Perseverem na leitura, no ensino, no aprendizado, na meditação e reflexão, e não desistam até fazer a experiência e adquirir a certeza de que mataram o diabo de tanto estudar e se tornaram mais estudados que o próprio Deus e todos os santos. Se tiverem toda essa dedicação, eu lhes prometo que as pessoas vão percebe-lo, conseguirão muito fruto e Deus fará delas pessoas excelentes. Com o passar do tempo, elas próprias vão confessar que, quanto mais estudam o catecismo, menos o conhecem e mais precisam aprender. Somente então, famintas e sedentas, é que saberão apreciar aquilo que, agora, de tão fartas, não querem nem cheirar de longe. Que Deus conceda a sua graça para tanto. Amém. 53 Em segundo lugar, fortalecidos, abastecidos no pão da vida, na água viva que vem de Deus, incentivar mais, falar mais, ensinar mais e desafiar mais o povo para que valorize, leia e medite nas Sagradas Escrituras. Em vez de discutir, debater e, por vezes, criticar essa ou aquela tradução, incentivar e destacar mais a importância de ler. Ensinar os filhos, criar neles o hábito de ler a Bíblia. Consideremos alguns textos bíblicos: Dt .6ss; Dt 11.18-20; Pv 22.6. Deus quer que guardemos sua Palavra em nossos corações e as ensinemos aos nossos filhos; Sl 119.9; Ec11.9 e 10 e 12.1. Deus quer que os jovens conheçam sua Palavra e a guardem, pratiquem, Mt 7.24-27; Cl 3.15; Tg 1.22. Deus quer que os adultos conheçam a Palavra, e não apenas conheçam, mas a pratiquem em sua vida. 1 Tm; 2 Tm; Js1.7ss. Deus quer que os pastores meditem em sua Palavra e a conheçam profundamente. Por que ler a Bíblia? Dt. 6.4-9 – inculcar nos filhos Dt 11.18-21 – Por as palavras no coração Dt 27.1-9 – para conhecer e guardar Dt 31.9-11 – ler diante de todos Js 1.8 – ler sempre Is 34.16 –Livro do Senhor não falha Dt 17.19 – ler todos os dias Jr 34.16 – ler Jo 5.39 –Examinar as Escrituras Ef 5.19 – Falar da Escritura Sagrada Cl 3.16 – Para instrução e conhecimento 1 Tm 4.13 – Aplicar-se à leitura 2 Pe 2.19-21 Para possuir uma candeia que brilha A certeza: Ela é a Palavra de Deus. 1 Ts 2.13 – A Palavra de Deus Sl 119.105 – A lâmpada Jr 30.2 – Palavra que Deus disse Jo 17.17 – É a verdade At 20.27 – Traz o conselho de Deus 52 53 Catecismo Maior, Martinho Lutero, Sinodal e Concórdia, São Leopoldo, RS, 2012, p. 19 Ibid, p. 21 e 22 16 Jo 3.63 – A Palavra que Jesus disse 2 Tm 3.16 – Inspirada por Deus O resultado: A promessa de Deus: Is 55 e Rm 1.16. Finalidade da leitura: 2 Tm 3.15; Jo 5.39; Lc 16.29; Jo 20.31 – tornar sábio para salvação Jo 17.17; Sl 119.105; 2 Tm 3.16 e 17 – para ensino e treinamento Hb 10.23; Ap 1.3 – para guardar o tesouro que temos Sl 119.104 – para identificar e combater falsas doutrinas Sl 119.9; 2 Tm 3.16 – para identificação do nosso lar Sl 119.25, 92; Rm 15.4 – para consolo na tristeza No prefácio do Catecismo Maior, Lutero disse: “Se eu tivesse que relatar todo o proveito e fruto que a Palavra de Deus produz, de onde conseguiria suficiente papel e tempo?” 54 CONCLUSÕES Diante das crises que hoje vemos e vivemos, o que fazer? Como enfrentar? Onde buscar força e orientação? Js 1.8: “Não cesses de falar desse Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido.” Esta recomendação dada por Deus para Josué, é muito válida e importante para nossos dias, diante dos problemas sociais, políticos, morais e doutrinários: “ desse Livro da Lei ... medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; ...” Só assim poderemos permanecer na verdade, no caminho, segundo à vontade de Deus, e sermos “bem sucedidos”, como diz o texto de Josué. Por isso: 1º) Necessidade de estudarmos muito, lermos mais as Sagradas Escrituras, conhecermos e adquirirmos a sabedoria que vem de Deus; 2º) Cuidarmos em termos sempre bons e profundos conhecedores das línguas originais na Sociedade Bíblica, para termos boas traduções da Bíblia e podermos incentivar e apoiar a leituras da Bíblia Sagrada. A crítica, pura ew simples, muitas vezes, serve como desestímulo aos nossos leigos para que leiam, meditem e aproveitem a Palavra de Deus. 3º) Conhecer bem as nossas Confissões, contidas no Livro de Concórdia, e não apenas conhecer, como praticar, defender e promulgar suas verdades e seu conteúdo. 4º) Observando e conhecendo o exemplo de Lutero, seu amos pelas Escrituras, sua motivação e prática na leitura e meditação, imitar e como Lutero, diante das tentações, dificuldades e problemas da vida, correr para dentro das Escrituras Sagradas e ali buscar conforto e orientação para a nossa vida. 5º) Cuidar com a administração do nosso tempo. Diante da vida agitada, das muitas opções e oportunidades, programas e convites, nunca esquecer de guardar o sagrado tempo para cavar, pesquisar, tirar o máximo de proveito do conforto que Deus nos oferece e quer dar, através da sua Palavra. 54 Ibid, p. 20 17 Sl 119.105; 2 Tm 3.16: Para todos nós, para todas as pessoas, Deus diz: Não deixem de usar a minha Palavra. Ela quer ser lâmpada, luz para o teu andar nesse mundo. Usa essa Palavra, pois ela é muito útil e necessária. Não mude e não deixa mudar nada do que nela está escrito, pois ela é Palavra de Deus. Ap 22.18 e 19 Vídeo: - O Livro de Capa Preta e A Bíblia X Celular Bibliografia BAYER, Osvald. A Teologia de Martin Luther: uma atualização. Nélio Schneider, (trad.), Editora Sinodal, São Leopoldo, RS. 2007 GOERL, Otto. Fórmula de Concórdia. Editora Concórdia, Porto Alegre, RS. 1977 GRAFF, Anselmo E. O Reformador Lutero e o Princípio do Estudo Teológico: Oratio, Meditatio, Tentatio. Trabalho não publicado, Canoas, RS. 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