Tempo do Advento
Segunda Semana – Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 40, 25-31
25«A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?» -pergunta o Deus
Santo. 26Levantai os olhos ao céu e olhai! Quem criou todos estes astros? Aquele que
os conta e os faz marchar como um exército. A todos Ele chama pelos seus nomes. É
tão grande o seu poder e tão robusta a sua força, que nem um só falta à
chamada.27*Porque andas falando, Jacob, e murmurando, Israel: «O Senhor não
compreende o meu destino, o meu Deus ignora a minha causa!» 28Porventura não
sabes? Será que não ouviste? O Senhor é um Deus eterno, que criou os confins da
terra. Não se cansa nem perde as forças. É insondável a sua sabedoria. 29Ele dá
forças ao cansado e enche de vigor o fraco. 30Até os adolescentes se cansam e se
fatigam e os jovens tropeçam e vacilam. 31Mas aqueles que confiam no Senhor
renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem
desfalecer.
A meditação da história da salvação, e da experiência de fé de Israel, leva
o Deutero-Isaías à primeira afirmação de um monoteísmo prático e teórico. Essa
afirmação é feita por meio de perguntas retóricas que sublinham a incontestável
unicidade do poder salvador do Senhor e a sua criatividade para encontrar caminhos não
andados para socorrer o seu povo (cf. v. 25). O Deutero-Isaías quer convencer os seus
ouvintes de que Deus pode e quer salvá-los, quer consolá-los, mostrando que cuida
eficazmente dos seus fiéis.
Se esse é o Deus de Israel, não há razão para que o povo se sinta abandonado
pelo Senhor, apesar da situação difícil em que se encontra, o cativeiro de Babilónia. O
importante é que verifique a incapacidade de se salvar por si próprio, simbolizada no
cansaço dos adolescentes e dos jovens que «tropeçam e vacilam» (v. 30), e reconheça a
sua fragilidade diante de Deus. Então poderá experimentar a força que vem de Deus (v.
31) e reviver a experiência do êxodo.
Evangelho: Mateus 11, 28-30
Naquele tempo Jesus exclamou: 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados
e oprimidos, que eu hei-de aliviar-vos. 29*Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso
espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»
O conhecimento de Deus é possível porque Jesus introduz os seus discípulos
nesse conhecimento (cf. Mt 11, 25-27). Mas, para acolherem a paternidade divina e a
amizade do Filho, os discípulos hão-de fazer-se “pequenos”.
O evangelho de hoje diz-nos que é “pequeno” quem acreditar que o estilo de
Jesus «manso e humilde de coração» (v. 29) é o caminho para chegar aos segredos de
Deus, e se dispuser a aproximar-se d´Ele e a tornar-se discípulo: «Vinde a mim» (v.
28). Jesus, tal como a Sabedoria do Antigo Testamento (cf. Sir 51, 26-27; 6, 24ss.),
convida para a sua escola e promete «descanso», isto é, o saciar dos mais profundos
anseios do coração humano.
É, pois, preciso tornar-se discípulos, aproximar-se de Jesus que fala do Pai aos
seus amigos, e descobrir que a familiaridade com Jesus é uma escola exigente, mas
capaz de oferecer repouso e paz. Jesus não dispensa os seus discípulos do
cumprimento da lei de Deus, como sugerem os termos «jugo» e «fardo». Mas será um
peso adequado às forças de quem o deve carregar.
Meditatio
«O Senhor… não se cansa nem perde as forças; Ele dá forças ao cansado e
enche de vigor o fraco», afirma Isaías. «O Senhor é misericordioso e compassivo, é
paciente e cheio de amor», afirma o Salmo 102.
Deus revelou-se a Moisés como um Deus rico de misericórdia e de fidelidade.
Ao longo da história, sempre usou de misericórdia para com o seu povo. Puniu-o, mas
puniu-o com piedade, para o renovar e conduzir a maior intimidade com Ele.
Mas a misericórdia de Deus revelada no Antigo Testamento é bem pouca coisa,
em comparação com a que se revela em Jesus. O Advento é tempo para tomarmos
consciência da piedade de Deus, do seu amor misericordioso, manifestado em Jesus.
Trata-se de um prodígio tal que jamais o poderíamos esperar ou sequer pensar. O
Antigo Testamento fala de uma misericórdia exercida com poder e força. O Novo
Testamento fala-nos de uma misericórdia manifestada na mansidão e na humildade de
um Deus que se torna semelhante a nós. É a máxima expressão da misericórdia de
Deus, que desce até nós para nos elevar à sua intimidade.
Ao ouvirmos o convite de Jesus para irmos a Ele, sentimo-nos exortados a
regressar ao grande amor com que Deus nos amou, tornando-nos seus amigos e
filhos. Só aproximando-nos do Coração de Jesus podemos compreender a grandeza
desse amor, e a graça da filiação divina que o Pai nos concedeu.
Contemplando e escutando Jesus, «manso e humilde de coração», somos
libertados de uma religião feita só de méritos, de obras, de deveres, porque em Jesus
se revela o rosto amável de Deus, capaz de saciar os nossos mais profundos anseios. A
fé torna-se então experiência de sermos revestidos com a força do alto, de
caminharmos sem descanso, porque apoiados sobre asas de águia, rumo a um amor
que é anterior a nós, que nos precede, e nos ensina a desejar a sua promessa.
A nossa resposta a esse amor misericordioso de Deus concretiza-se na oblação
do nosso humilde dia a dia, aceitando com serenidade as cruzes e canseiras;
irradiando com espontaneidade simples os frutos do Espírito. E assim realizamos
concretamente o convite de Jesus: Quem quiser ser Meu discípulo “tome a sua cruz,
dia a dia, e siga-Me” (Lc 9, 23). Assim O seguimos na mansidão e na humildade do
coração: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
Encontraremos a força e a coragem para irradiar alegria, paz, bondade, para alívio,
não só nosso, mas também dos nossos irmãos. Assim, podemos viver hoje no nosso
Instituto, ou na forma de vida cristã que corresponde à nossa vocação, a herança
espiritual recebida do Padre Dehon.
Oratio
Senhor Jesus, obrigado pelo teu convite: «Vinde a mim!». Quero corresponderlhe. Quero ir ao teu encontro para estar contigo, fruir da tua presença e da tua
amizade, aprender de Ti. Ensina-me a conhecer o Pai, a tomar consciência da minha
condição de filho, a reconhecer os outros como irmãos. Ensina-me a ser manso e
humilde de coração, a fazer da cordialidade a minha atitude permanente na relação
com todos aqueles com quem vivo, na relação com aqueles a quem sou enviado, com
aqueles que me procuram ou procuram os meus serviços.
Ensina-me a ir ao teu encontro, a abrir-te o meu coração e a narrar-te as
minhas preocupações e culpas. Que, em Ti, possa encontrar repouso e paz. Que, em
Ti, encontre coragem e força para levar, dia após dia, o teu jugo suave e a tua carga
leve. Amen.
Contemplatio
O Mestre é bom, é doce e fácil. «Vinde a mim, diz, vós todos que sofreis sob o
jugo do demónio e da natureza, o meu jugo é leve e o meu serviço é fácil. E para este
serviço, doce em si mesmo, e que poria as vossas almas na paz, prometo recompensas
infinitas…» (Mt 11).
Mas, ó bom Mestre, até ao presente, não passei de um servo infiel. Preferi o
jugo odioso das criaturas e das paixões à vossa mestria tão doce e amável. Disse o
Non serviam que reprováveis a Israel. Tínheis-me tirado do Egipto pelo baptismo, pela
conversão, pela vocação. Deixei-vos e servi Baal. Podeis chamar como testemunhas
contra mim o céu e a terra. Acusar-me-ão e clamarão por vingança. Abandonei as
fontes da vida e procurei cisternas vazias ou águas turvas. Já não ouso regressar para
vós (Jeremias, 2).
E no entanto, procurais-me e chamais-me. Vindes para me ganhardes pelo
vosso amor e me reconduzirdes ao vosso serviço que é mais doce que as realezas da
terra. Vindes com os laços de Adão, os laços humanos que são os laços do coração: in
funiculis Adam traham eos. Dais-me o vosso Coração: Conversum est in me Cor meum.
Esqueceis a vossa severidade. Tendes um Coração divino, e o Coração de Deus não é
como o dos homens: Quoniam Deus ego et non homo (Oseias, 11).
Ó! Sim, bom Mestre, na Eucaristia encontro o Coração de um Deus e dirijo-me
com confiança à sua infinita bondade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 655s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29)
Download

Tempo do Advento