O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO HUMANO 1 SANTOS, Ariádini de A. dos2; SOBROSA, Gênesis M. R.3; DIAS, Ana C. G.4; OLIVEIRA, Clarissa T. de5; SANTOS, Anelise S. dos6 1 Relatório de estágio – UFSM Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Professora Doutora Adjunta do curso de Psicologia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 5 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 6 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 RESUMO Sendo o brincar uma prática universal, ele torna-se relevante estudar essa prática e como ela está inserida na sociedade. A partir da perspectiva de Vygostky compreendemos que o brincar, como outros comportamentos humanos estão inseridos em uma determinada cultura e possuem determinada história. O presente trabalho objetiva relatar a experiência de estágio básico em Psicologia, na qual buscou-se revisar a literatura sobre brincar e compreender os fenômenos observados em uma escola de Educação Infantil - Ipê Amarelo da UFSM. Além de uma revisão não sistemática de literatura foram realizadas observações nas diferentes turmas da escola. Esse trabalho nos permitiu perceber que o brincar apresenta diferentes características ao longo do tempo. Desta forma, torna-se importante analisar aspectos desenvolvimentais bem como contextuais nos quais o comportamento de brincar é produzido . Palavras-chave: Brincar, Educação Infantil; Desenvolvimento Humano. 1. INTRODUÇÃO Esse trabalho é parte do relatório de estágio elaborado para disciplina de Estágio Básico em Psicologia, busca abordar os aspectos teóricos e práticos das atividades desenvolvidas durante o segundo semestre do ano de 2009 junto ao Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo da Universidade Federal de Santa Maria. Destaca-se que este núcleo no momento da realização do trabalho contava com 185 alunos – distribuídos em 12 turmas, sendo 6 turmas de cada turno. Essas turmas se distribuem o Berçário até a Pré-Escola. A equipe técnica da escola é composta por uma equipe de professores qualificados, além de bolsistas, estagiários do curso de Pedagogia da UFSM. As principais atividades oferecidas aos seus alunos são: atividades recreativas, língua estrangeira (italiano) e educação física. A escolha por esse local de observação ocorreu em função deste possibilitar o contato com crianças que se encontram em diferentes fases do desenvolvimento. O objetivo da atividade de estágio básico é proporcionar essa – as descrições dos fatos e as impressões do observador foram descritas neste relatório. As observações foram embasadas teoricamente em autores como Helen Bee e Lev Vygotsky, a fim de creditar maior consistência e aprofundamento na área de Desenvolvimento Humano. Objetivou-se com isso revisar a literatura desta área da psicologia e relacionar com a prática. 1 Além disso, o relatório aponta inferências breves do observador acerca dos comportamentos observados no núcleo e de propostas no sentido de auxiliar pais e cuidadores no cotidiano com seus filhos. 2. O BRINCAR E SUAS FUNÇÕES Existem várias definições sobre o brincar, sendo que a maioria delas está vinculada de alguma forma com o conceito de diversão, entretenimento, distração e agitação. A brincadeira nada mais é do que colocar o lúdico em ação, expressar a linguagem, por meio de gestos e atitudes, que estão repletos de significação (ROLIM et al., 2008). A atividade lúdica inicia seu desenvolvimento no ambiente familiar e depois continua estendendo-se ao grupo de pares e ao contexto escolar. Ela permite às crianças explorar o ambiente ao seu redor, bem como interagir com pessoas de seu convívio. Além disso, possibilita o desenvolvimento de habilidades cognitivas e permite a elaboração de questões emocionais. De fato, o brincar se apresenta para as crianças como uma ferramenta de grande utilidade para a externar suas emoções, lidar com angústias, medos e problemas que as mesmas enfrentam ao se deparar-se com o mundo adulto. Ao brincar as crianças buscam compreender e elaborar o mundo ao seu redor. Nas brincadeiras as crianças fazem regras que permitem que a realidade se acomode ao seu mundo, ao contrário do que ocorre em sua realidade cotidiana, na qual elas devem adequar-se as normas que pautam o universo da sociedade em que nascem. Assim sendo, através dos brinquedos elas reviverão de forma ativa o que vivenciaram de forma passiva no plano do real, modificando aquilo que lhe foi proibido ou penoso. Nesse sentido, o brincar permite que as crianças compensem as pressões sofridas no dia-a-dia pelo universo adulto, utilizando sua capacidade de imaginar e criar fantasias. ROLIM et al. (2008, p. 45) observam: Brincar de forma livre e prazerosa permite que a criança seja conduzida a uma esfera imaginária, um mundo de faz de conta consciente, porém capaz de reproduzir as relações que observa em seu cotidiano, vivenciando simbolicamente diferentes papéis, exercitando sua capacidade de generalizar e abstrair. Além disso, essa esfera imaginária ativada pelo brincar proporciona as crianças um auxílio na estruturação de sua personalidade, fazendo com que as mesmas suportem melhor suas angústias. A brincadeira não só permite a criança um contato maior com seus sentimentos, como também desenvolve sua atenção, concentração e auto-estima – auxiliando no desenvolvimento de habilidades interpessoais. O brincar beneficia o desenvolvimento infantil nos aspectos intelectuais, sociais e físicos. Do mesmo modo, a brincadeira leva as crianças para novos meios de compreender 2 a realidade que irão oferecer coragem para que elas prossigam a crescer e aprender (ROLIM et al., 2008). Todos os benefícios oferecidos pelo brincar podem e devem ser reforçados no ambiente escolar. Através da observação do brincar, os professores podem ser capazes de perceber os níveis de desenvolvimento emocional e cognitivo de cada aluno, compreendendo suas necessidades para elaborar estratégias pedagógicas (ROLIM et al., 2008) 2.1 O olhar sócio-histórico-cultural de Lev Semenovitch Vygotsky sobre o brincar O psicólogo russo Vygotsky desenvolveu estudos sobre o brincar. Segundo Vygotsky, algumas das necessidades das crianças são satisfeitas e se desenvolvem durante o brincar. Vygotsky considera que o brinquedo aparece no contexto em que os desejos não podem ser realizados imediatamente. Para resolver esta tensão ocasionada pela nãorealização do desejo, as crianças direcionam-se essa energia para um mundo de ilusões. Neste mundo através de sua imaginação, a criança poderá resolver suas angústias e realizar suas necessidades. (ROLIM et al., 2008) Entretanto, Rolim et. al. (2008) acrescentam que na visão de Vygotsky, apesar das brincadeiras serem a realização de necessidades que não podem ser imediatamente satisfeitas, ele afirma que o brinquedo não pode ser definido com uma atividade que dá prazer. Existem outras atividades, para Vygotsky, que dão mais prazer para as crianças do que as brincadeiras em si, e também existem brincadeiras que não somente agradarão as crianças se elas obtiverem um resultado positivo – como os jogos de competição esportiva, que são acompanhados de desprazer no caso da perda (ROLIM et. al., 2008). Vygotsky observa que a situação imaginária de qualquer brincar está vinculada a padrões de comportamento exigidos pela sociedade. Dessa forma, não existe brinquedo sem regras, pois o brincar está envolvido em regras da sociedade (Rolim et. al., 2008). Uma maneira muito clara de visualizar, isto é, o modo como as meninas costumam brincar com suas bonecas, em que elas são as mães e as bonecas são suas filhas. Em anos pré-escolares os professores procuram satisfazer os desejos não realizáveis imediatamente dos alunos, envolvendo-se em um mundo imaginário – concretizando essas necessidades – e inserindo-se no mundo da brincadeira (QUEIRÓZ et al., 2006). Segundo Rolim et. al. (2008), Vygotsky analisa que a influência do brincar no desenvolvimento humano possui extrema importância, ao passo que representa um indicador de desenvolvimento e proporciona uma forma de encarar o mundo e ações futuras. 3 2.2 O brincar nas diferentes idades A maneira como a criança lida com as brincadeiras depende das suas condições motoras e cognitivas. Entre o primeiro e o sexto ano de idade, a forma de brincar modificase visivelmente. Bee (1997) acrescenta que os psicólogos do desenvolvimento observam essas mudanças e as descrevem. Nestas descrições estão os diferentes tipos de brinquedos de interesse das crianças conforme as faixas etárias. Para tanto, a autora propõe uma série de etapas ou estágios que em grande parte se desenvolverão em sintonia, porém as crianças podem apresentar interesse por diferentes tipos de brinquedos, não estando presos apenas a uma etapa. Os vários tipos de brinquedos, segundo Bee (1997), geralmente, desenvolvem-se da seguinte maneira: brinquedo sensório-motor (incide em crianças com 12 meses, que passam a maior parte do seu tempo explorando e manipulando objetos), brinquedo construtivo (continua incidindo em crianças com mais de 12 meses perdurando até os 6 anos de idade, em que elas utilizam-se de objetos para montar e construir coisas – quebracabeça, lego,...), primeiro brinquedo de “faz-de-conta” (continua também após os 12 meses, onde as crianças ainda utilizam os brinquedos para seus propósitos reais ou costumeiros, e o recebedor do “faz-de-conta” é o self; já entre os 15 e 21 meses de idade, o recebedor do “faz-de-conta” passa a ser outra pessoa ou o próprio brinquedo – as bonecas são um ótimo brinquedo para representar o “faz-de-conta”), brinquedo “faz-de-conta” substituto (comumente apresenta-se entre os 2 e 3 anos de idade, em que as crianças começam a usar os objetos para uma finalidade diferente – uma vassoura pode transformar-se em cavalo) e brinquedo sócio-dramático (ocorre por volta dos 3 e 4 anos de idade, onde começam a desempenhar papeis dizendo ser “mãe”, “pai”, “mocinhos” entre colegas e grupos, e com isso tornam-se mais conscientes de como as situações podem parecer para as demais pessoas e reduzem sua abordagem egocêntrica do mundo). Além dessa proposta, Bee (1997) também ressalta que o brincar desperta o interesse pelas relações sociais. Por volta dos 6 meses as crianças começam a exibir um interesse relevante por outras crianças. Aos 10 meses, esse comportamento é ainda mais acentuado, apesar de apresentarem preferência por brincar sozinho com objetos. Já dos 14 aos 18 meses, começa-se a visualizar duas crianças ou mais brincando juntas com brinquedos – algumas vezes em cooperação, outras simplesmente pelo fato de estarem brincando com brinquedos distintos, mas lado a lado. Entre o terceiro e o quarto ano de vida, evidencia-se entre as crianças um brincar mais organizado com outra criança, deixando aparente a preferência por brincar com crianças semelhantes. Assim sendo, Bee 4 (1997) procurou tornar clara a seguinte perspectiva: as relações das crianças com outras aumentam significativamente e tornam-se cada vez mais importantes, entre o segundo e o sexto ano de vida. O comportamento pró-social se desenvolve durante o brincar. Esse comportamento pode ser descrito como intencional e voluntário, que possui a intenção de beneficiar o outro, através de práticas altruístas. Bee (1997, p. 242) observa “[...] pela primeira vez, este tipo de comportamento altruísta entre 1 e 2 anos de idade. Crianças nessa idade [...] compartilham brinquedos ou outros tesouros”. Em relação às amizades, a autora coloca que as primeiras amizades tendem a basear-se na proximidade por interesses de brincadeiras e menos duradouras. A partir dos 3 anos de idade, a tendência da maioria dos grupos de brincadeiras é estar formado por crianças do mesmo sexo. Bee (1997) ainda avalia que crianças entre o segundo e terceiro ano de vida são interessadas por brinquedos sexualmente estereotipados, aumentando essa tendência ainda mais ao longo dos anos pré-escolares. Por volta dos 3 e 4 anos, as crianças não diferem, segundo ela, somente quanto aos brinquedos de preferência e nos companheiros de brincadeiras que escolhem, mas também na forma como interagem com esses companheiros. Segue abaixo uma tabela 1 baseada no brincar e desenvolvimento humano motor, de acordo com as faixas etárias. Tabela 1 – O brincar e desenvolvimento humano 1 ano e meio – 2 anos 2–3 anos 3–4 anos 4–5 anos 5–6 anos A criança tem a capacidade de puxar e empurrar brinquedos com rodas e pegar brinquedos sem perder o equilíbrio, utiliza lápis grandes (gosta de desenhar, mas ao final do primeiro ano e início do segundo). A criança corre com facilidade, puxa e empurra brinquedos grandes em torno de obstáculos (preferência por empurrar), apanha objetos pequenos, atira bola pequena para frente. A criança pula com ambos os pés, caminha em qualquer direção puxando um brinquedo grande, segura o lápis com o polegar para colorir e desenhar, indicador e dedo médio, brinca com triciclo, carrinho grande, brinquedos construtivos (começa o interesse, mas com peças grandes). A criança chuta e apanha a bola, segura o lápis com maturidade. Coordenação muscular se desenvolve mais, maiores habilidades musculares, brinquedos que estimulem a fantasia. A criança brinca com diversos tipos de jogo com bola. Coordenação muscular se desenvolve mais, maiores habilidades musculares, brinquedos que estimulem a fantasia. FONTE: BEE, H. A Criança em Desenvolvimento, 1997, p. 508. Com isso, percebe-se que cada faixa etária é acompanhada de novas capacidades a serem apreendidas e aprendidas pelas crianças, fazendo com que elas diferenciem-se umas das outras. Os brinquedos de interesse poderão não ser os mesmos, os companheiros de 5 brincadeiras podem variar e também a forma de brincar com estes brinquedos podem ser distintas de acordo com as várias etapas da vida das crianças. 3. OBJETIVOS O presente trabalho objetivou revisar a literatura na área de Desenvolvimento Humano sobre o Brincar e relacionar essa literatura com as observações do comportamento infantil realizadas no Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo. 4. METODOLOGIA Para que o comportamento social seja estudado, é necessário fazer uma escolha dentre os diferentes métodos utilizados nas ciências sociais daquele mais apropriado aos objetivos do estudo. Esses métodos se encontram em dois grupos: os métodos indiretos e os diretos. Alguns instrumentos como entrevistas, questionários e inventários compõem a abordagem indireta. Já a abordagem direta caracteriza-se obtenção de dados durante a ocorrência do fenômeno, a partir da observação do comportamento dos indivíduos em interação. Isso permite maior proximidade com o objeto de estudo, bem como a obtenção de informações detalhadas (SCHERMANN, 1999). Nesse método é preciso que o observador faça atenção aos seguintes aspectos: o que observar, como observar e como registrar. Na observação realizada no Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, buscou-se olhar com maior atenção o brincar das crianças em um ambiente livre, utilizando o registro escrito detalhado para relatar as observações – procurando manter algumas características fundamentais durante o relato como, objetividade, clareza, exatidão, afirmação e concisão. Consideramos o método observacional um instrumento importante e eficaz para a profissão de psicólogo. Ele permite conhecer o comportamento a ser analisado, nos seus aspectos objetivos e subjetivos. No entanto, este conhecimento do comportamento exige estudos prévios por parte do observador que emprega o método direto de observação, para que se faça a coleta dos dados e o treinamento do observador.Também é necessário decidir o enfoque de estratégia observacional. Eles diferenciam-se na maneira como é feita a observação. O enfoque pode ser: experimental, ecológico, ou então, etológico. Procurou-se utilizar neste relatório de estágio o enfoque etológico, com a finalidade de obter uma observação minuciosa do comportamento observado, relatando de maneira objetiva as atividades e ações observadas. As impressões dos comportamentos observados também foram relatadas, entretanto, não se misturaram com a descrição dos fatos. Talvez o acréscimo das impressões do observador tenha reduzido a perda de sensibilidade frente à 6 complexidade dos sujeitos observados – algo que é criticado por alguns autores acerca do enfoque etológico. Appell (1997) ressalta quatro pontos necessários para que se compreenda melhor a observação em uma coletividade de crianças pequenas. Primeiramente, ela diz que, para uma criança estar em coletividade é estar perto de pessoas com idades próximas a sua por certo período de tempo e que chegaram em uma instituição por razões distintas. Entretanto as crianças são inseridas nesta coletividade, que é regido por regras diferentes das familiares, e que propiciará as crianças uma maior autonomia. Por isso, em certos momentos, elas podem sentir-se perdidas, mas isto em diversos níveis. Depois a autora diz que suportar situações irregulares de separações e reencontros com os pais, algo que não é fácil para crianças pequenas. Em terceiro lugar, ela coloca os riscos que esta coletividade pode oferecer para as crianças, podendo elas não conseguir estabelecer relações construtivas e de qualidade. E por último, Appell (1997) trás a importância de instaurar relações acolhedoras entre adultos e crianças. Os quatro pontos necessários citados por ela mostram-se, neste caso, de extrema importância, pois o Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo conta com turmas numerosas de crianças com idade entre 1 a 6 anos de idade, que possuem horários e turnos distintos para chegar, sair e retornar ao núcleo e que estão sob a responsabilidade de professoras. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Nesta seção do trabalho buscaremos realizar uma integração entre o referencial estudado e as observações realizadas. Destacamos que o objetivo é compreender o comportamento, sem delimitar se os mesmos são normais ou patológicos. A tabela que segue abaixo faz uma síntese dos comportamentos observados nas turmas do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, apresentando de um lado o que foi observado, e de outro, como o comportamento se relaciona com a teorias Tabela 2 – Relação observação-teoria Comportamento observado Os alunos do Berçário mostraram grande interesse pelo brinquedo proposto pelas professoras (copo de plástico com furo embaixo para encaixar os palitos com a foto de cada aluno em uma ponta). Apesar dos palitos apresentarem pontas com as quais os alunos poderiam acabar se machucando, as professoras prestam muita atenção e cuidado. Ainda na turma do Berçário, as Relação comportamento-teoria Bee (1997) nos diz que as crianças – independente da idade – possuem uma tendência muito forte em achar atrativos os brinquedos mais simples, que despertam criatividade. Ela acrescenta que a segurança dos brinquedos no momento da escolha, deve ser levada em consideração tanto por pais quanto por cuidadores. 7 Apesar do interesse por brinquedos professoras deixaram os alunos brincando livremente. As meninas apresentaram preferência por bonecas e os meninos por carrinhos. Na turma Maternal I e Integração também se observou este comportamento ainda mais acentuado. Na turma do Maternal I, a professora deu livros para os alunos. Ocorreu que os alunos começaram a identificar as figuras existentes (animais, comidas,...) no livro e inventaram histórias em relação a essas figuras. Uns contam às histórias que inventam para outros, na maioria das vezes fingindo que estão lendo. A professora do Maternal II deu massas de modelar para as meninas brincarem. Com exceção de uma menina que tinha massa de modelar bege, todas as outras tinham massas de modelar na cor azul. Ela não parou de chorar enquanto a professora não trocou a sua massa de modelar por uma azul para ela brincar. Durante a observação as crianças mostraram interesse por brinquedos como lego e quebra-cabeça. Todos eles com peças grandes. Os meninos do Maternal III trazem bonecos super-herois de casa para brincar em sala de aula. Esse comportamento apresentou-se também em meninos da PréEscola. As meninas do Maternal III brincam em grupos, simulando desfiles e casamentos. Na turma da Pré-Escola, as crianças durante as brincadeiras costumavam inventar suas próprias regras. sexualmente estereotipados começarem a serem mais evidentes entre o segundo e o terceiro ano de vida, Bee (1997) diz que a partir do primeiro ano já se pode perceber essa diferenciação de gêneros, até mesmo por uma questão cultural. Bee (1997) coloca em sua obra “O Ciclo vital”, a importância de brinquedos que levem as crianças para uma criação de fantasia. Os livros são uma excelente oportunidade para as crianças inventarem histórias (ainda mais estes alunos ainda não alfabetizados), imaginarem situações fantasiosas. Bee (1997) coloca a importância para a criança de pertencer a um grupo e estar inserida nos ambientes em que convive. A massa de modelar de cor diferenciada da massa das outras colegas pode ter representado para menina uma “ameaça” de não-aceitação e não-pertencimento ao grupo de colegas. Talvez seja por isso que ela chorava tanto. Bee (1997) assinala em sua teoria do desenvolvimento, a importância para as crianças nos primeiros anos de vida, o interesse por brinquedos construtivos e que montem coisas. Os brinquedos construtivos fazem parte do brincar com maior ênfase dos 3 aos 6 anos. Brinquedos como quebracabeça e lego encaixam-se nesta definição apresentada por ela. A identificação com super-herois mostra uma necessidade dos meninos de reforçarem suas características masculinas. Eles trazem para aula para brincar com outros meninos do seu convívio reforçando ainda mais essa ideia. A presença do brinquedo sociodramático é ressaltada por Bee (1997). Neste brinquedo é dada a liberdade para que a fantasia e a imaginação sejam libertas. Costumeiramente, as crianças costumam se divertir muito com essas brincadeiras. As crianças costumam inventar suas próprias regras durante as brincadeiras, com o intuito de acomodar as regras no seu mundo, ao contrário do que ocorre no seu cotidiano, em que elas devem adequar-se as normas que pautam o universo da sociedade em que nascem. Elas tornam-se mais ativas diante dessa perspectiva. 8 6. CONCLUSÃO Ao final deste traballho é possível realizar algumas considerações. Destacamos que as leituras sobre observação e atividades práticas de observação permitiram construir uma perspectiva sobre o nova maneira de encarar a prática observacional. Esse método se mostrou com maior embasamento teórico, maior enfoque, maior perspicácia e aprendizado não somente na maneira de observar, como também na forma de registrar os fatos vistos nas turmas do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo. A busca de artigos científicos para complementar o relatório proporcionou saberes, como a utilização do brincar na clínica. As turmas foram observadas em ordem crescente de idade, com exceção da turma Integração, que abarca alunos com idade entre 1 a 6 anos. A partir dessa perspectiva observacional, ficaram muito evidentes características acerca do brincar que deixam de pertencer a certa idade. Além disso, outras atribuições perduram até mais tarde, talvez, até a vida adulta. Isso mostra que o desenvolvimento não pode ser encarado de forma taxativa e inflexível, pois ele varia de pessoa para pessoa, e cada uma delas no seu devido tempo. REFERÊNCIAS AMORIM, C. A.; MOSER, A. M.; MESTRE, M. B. A. Observação e registro do comportamento. Revista Psicologia Argumento (impressa), v. 16, n. 22, abr. 1998. BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, 656 p. BEE, H. A Criança em Desenvolvimento. 9. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003, 612p. APPELL, G. Que tipo de observação usar para acompanhar uma criança pequena em coletividade. In: LACROIX, M. B. e MONMAYRANT, M. (Orgs.). Os laços do encantamento: a observação de bebês, segundo Esther Bick, e suas aplicações. (SETTINERI, F. F., trad.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 79-85. NETO, A. C. de S.; O brincar no desenvolvimento infantil. Psicopedagogia online, 2001. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=380>. Acesso em: 25.jun.2009. PREUSCHOFF, G. Criando Meninas. 1. ed. São Paulo: Fundamento, 2008, 168p. QUEIROZ, N. L. N. de; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Revista Paidéia, v. 16, n. 34, ago. 2006. Disponível em: <http://sites.ffclrp.usp.br/paideia/artigos/34.htm>. Acesso em: 25.jun.2009. 9 ROLIM, A. A. M.; GUERRA, S. S. F.; TASSIGNY, M. M. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Revista Humanidades, v. 23, n. 2, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://200.253.187.1/joomla/joomla/images/pdfs/pdfs_notitia/2633.pdf>. Acesso em: 25.jun.2009. SCHERMANN, L. Observação do comportamento social. Revista Psico, v. 30, n. 2, jul/dez. 1999, p. 95-102. 10