1 Quais as principais características do modelo ecológico do desenvolvimento humano? A perspectiva ecológica do desenvolvimento humano encara-o como um processo que decorre ao longo do tempo e a partir de interacções continuadas entre os indivíduos e os seus contextos. Entre o meio e o indivíduo desenvolvem-se interacções que provocam alterações mútuas: o meio transforma o indivíduo, que, ao actuar no meio, também o transforma. A perspectiva ecológica de Brofenbrenner privilegia a participação dos seres humanos, enquanto seres biopsicológicos, em diferentes contextos, como forma de compreensão e de explicação do desenvolvimento humano. São diferentes e múltiplos os contextos em que o indivíduo se encontra integrado. Os contextos são sistemas inter-relacionados em que cada um destes sistemas está contido em sistemas mais abrangentes. 2 Identifica os contextos em que vivem os indivíduos. Cada um vive em diferentes contextos, uns mais próximos, outros mais distantes, onde vivemos e que de um modo mais ou menos directo influenciam a nossa vida. Numa perspectiva ecológica, os contextos onde participamos e com os quais temos relações, são concebidos como uma série de sistemas inter-relacionados. Daí surgem os vários contextos em que vivem os indivíduos: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema. 3 Distingue microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema. Os microssistemas são os contextos mais imediatos, de maior proximidade, em que os indivíduos participam directamente. Do microssistema fazem parte os contextos onde as pessoas estabelecem relações face a face. Os indivíduos nestes ambientes interagem directamente e com continuidade, não apenas com outras pessoas que neles participam, mas também com os objectos e símbolos presentes. Do mesossistema fazem parte as interacções e os processos que ocorrem entre dois ou mais contextos do microssistema. Assim, o mesossistema refere-se aos contextos da inter-relação do microssistema, e deve ser tido em conta para se compreender o nosso processo de desenvolvimento, a forma como nos comportamos e o nosso modo de ver o mundo. O exossistema é também um sistema de relação entre contextos, neste caso entre contextos em que o sujeito participa directamente e contextos em que não participa. O macrossistema constitui o sistema mais alargado em termos dos contextos de vida de qualquer individuo. Dele fazem parte os padrões socioculturais, as instituições políticas e sociais, os valores e significados partilhados, as crenças, os costumes e os estilos de vida, os recursos materiais e simbólicos que se encontram disponíveis num determinado contexto de desenvolvimento. O cronossistema permite incorporar no contexto de vida uma dimensão temporal esta dimensão inclui mudanças que podem ser tanto graduais como abruptas. As mudanças ao nível do cronossistema podem ter diferentes graus de consistência. 4 Os diferentes contextos são interdependentes. De que modo? Os sistemas em que se dividem os contextos de vida reflectem uma interligação. Os vários elementos concorrem para a conexão dos diferentes contextos de vida dos indivíduos e poderão, dependendo dos casos, contribuir para uma maior ou menor coerência da sua influência no desenvolvimento de cada um de nós. Os sistemas em que se dividem os contextos de vida reflectem essa interligação, pelo que os diversos níveis do contexto podem influenciar-se mutuamente e conjuntamente influenciarem a pessoa em desenvolvimento. A maneira como cada um resolve as convergências e os conflitos é muito variada. As mudanças que ocorrem influenciam continuamente o que se passa nos outros lugares, elementos e subsistemas. As influências que o contexto tem em cada um de nós são profundamente dinâmicas. A cada momento, uma configuração de influências mútuas é exercida em cada pessoa. Compreender como se processam estas influências é importante quando se pretende explicar o comportamento dos indivíduos de forma situada e contextualizada. 5 Analisa as interacções que ocorrem nos contextos. As interacções que ocorrem nos contextos são as inter-relações no interior de cada contexto, as inter-relações entre contextos e as inter-relações entre o individuo e os contextos. As inter-relações no interior de cada contexto são constituídas por subsistemas que interagem entre si. Cada um dos elementos que o constitui afecta todos os outros através da sua acção. Nas inter-relações entre contextos, os contextos não estão isolados uns dos outros, interagem afectando-se mutuamente. Bronfenbrenner definiu o mesossistema como o contexto que se constitui como ligação entre os microssistemas de cada um Nas inter-relações entre o indivíduo e os contextos o individuo é activo, não sofrendo passivamente a influência dos contextos. A sua acção afecta, influencia os contextos, os ambientes em que participa, transformando-os. 6 Caracteriza rede social. Ao conjunto de ligações de uma ou mais redes pessoais ligadas dá-se o nome de rede social. A rede social é, essencialmente, o conjunto de ligações, relações e interacções particulares entre diferentes pessoas. As redes sociais podem ser mais estreitas ou mais alargadas, mais ou menos coesas, e mais ou menos capazes de providenciar apoio e mais ou menos necessitadas elas mesmas de suporte. Podem, como facilmente compreendemos, ter mais ou menos membros, ligados de forma mais ou menos próxima, serem locais onde o indivíduo pode buscar apoio, ou onde o indivíduo tem de prestar apoio. Todas as pessoas têm redes sociais diferentes que, não só não incluem os mesmos membros, como não mostram igual coesão entre eles. 7 Quais são os efeitos das redes sociais nos indivíduos? A rede social de uma pessoa pode exercer nela um impacto positivo, na medida em pode ajudar na redução de determinados problemas e situações das mais diversas naturezas. Pode também exercer um impacto negativo, na medida em que pode não se revelar suficiente para suprimir as necessidades do indivíduo. Os membros das redes sociais exercem a sua influência a diferentes níveis, podendo afectar os diferentes níveis do contexto. Mas as redes sociais têm uma poderosa influência no desenvolvimento e comportamento dos indivíduos, que vai para além da sua possibilidade de providenciar ou necessitar de apoio material instrumental ou apoio emocional ou afectivo. As redes sociais são fontes muito importantes de informação sobre o contexto, uma vez que disponibilizam interacções significativas que ocorrem situadas nos contextos de vida dos indivíduos, orientam-nos sobre como se devem comportar nos contextos, sobre o que deles é esperado, e o que significam determinados gestos e actividades. As interacções entre os membros das redes sociais ocorrem em contextos sociais informais ou formais. Existem diversos valores e normas que orientam e influenciam as interacções, que regulam os comportamentos das pessoas umas para com as outras. É inevitável compararmos os nossos comportamentos com os dos outros, tentarmos agir sobre eles e perceber se as reacções nos outros são de aprovação ou desaprovação. 8 “Os contextos afectam os comportamentos dos indivíduos”. Explica esta afirmação. O contexto de vida de cada um, o conjunto dos seus sistemas – microssistema, macrossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema – assim como as relações que estabelecem entre si e a sua configuração global, são fundamentais para compreender o desenvolvimento e os comportamentos dos seres humanos. No final da década de 90, Bronfenbrenner acrescentou algumas reformulações ao seu modelo ecológico do desenvolvimento. Considerou que teria de dar mais destaque ao papel do indivíduo, das suas características biopsicológicas no processo de desenvolvimento. O modelo passa a designar-se modelo bioecológico, dando mais importância aos processos que decorrem nos contextos mais próximos do indivíduo, os microssistemas, e que designa por processos proximais. Ainda que reconhecendo o incontornável papel dos contextos, Bronfenbrenner considera que o indivíduo tem um papel central no seu processo de desenvolvimento: não é um produto mecânico dos ambientes em que interage. Ele próprio participa na criação dos contextos, não se limitando a existir neles. A pessoa vai-se construindo como um ser único e singular através da relação recíproca e dinâmica que, ao logo do tempo, vai estreitando com os contextos. No desenvolvimento temos de considerar de forma dinâmica: A pessoa – considerando as suas características pessoais, o seu contexto cultural e a sua história pessoal; O processo – considerando as interacções recíprocas entre ambientes e pessoas; O contexto – considerando o microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. O tempo – considerando o tempo pessoal e a sequência histórica dos acontecimentos. Além disto, o autor considera que os contextos podem ser vividos de maneira diferente por pessoas diferentes. Assim, não se pode falar de contextos isolados, com características universais e que se apliquem a todos do mesmo modo. A informação do contexto, o que cada um percebe como sendo as exigências do contexto, os significados fornecidos e as interacções reforçadas têm uma influência que varia de pessoa para pessoa, o que faz com que o contexto seja contexto para alguém. A configuração global dos sistemas vai ser diferente de indivíduo para indivíduo, mesmo que os elementos do contexto se repitam. Assim como os contextos diferem de pessoa para pessoa, também a sua influência no indivíduo. Cada pessoa vive no seu ambiente, que partilha com outros, mas que se configura única na influência que tem para cada um. 9 O indivíduo pode exercer influência nos contextos em que está integrado? Justifica a tua resposta. Os seres humanos vivem em múltiplos contextos. Cada um de nós encontra uma série de diferentes contextos, uns mais próximos, outros mais distantes, onde vivemos e que de um modo mais ou menos directo influenciam a nossa vida. Todos os contextos influenciam o nosso desenvolvimento pessoal. Os contextos de vida de cada um não só não existem separados como, em cada momento, se influenciam mutuamente a diversos níveis. Os sistemas em que se dividem os contextos de vida contribuem para uma maior ou menor coerência do desenvolvimento de cada um de nós. Os diversos níveis do contexto podem influenciar-se mutuamente e conjuntamente influenciarem a pessoa em desenvolvimento. A maneira como cada um resolve as convergências e os conflitos é muito variada. Cada um traz consigo diferentes experiências e características pessoais, pode aceder a diferentes recursos e apoios, pode encontrar diferentes sentidos para o conflito. O resultado final vai depender de todos estes factores, dos processos de auto-organização do sujeito e das características do contexto-sujeito em relação. O contexto de cada um é um sistema muito amplo, influenciado continuamente pelo que se passa nos outros lugares, elementos e subsistemas. As influências que o contexto tem em cada um de nós são profundamente dinâmicas. A cada momento, uma configuração de influências mútuas é exercida em cada pessoa; compreender como se processam estas influências é importante quando se pretende explicar o comportamento dos indivíduos de forma situada e contextualizada. Nas inter-relações no interior de cada contexto cada contexto é constituído por subsistemas que interagem entre si. Temos o exemplo da família, veremos que no seu interior se desenvolvem dinâmicas próprias entre os membros, o pai, a mãe. Cada um dos elementos que o constitui afecta todos os outros através da sua acção. Nas inter-relações entre contextos – os contextos não estão isoladas uns dos outros: interagem, afectando-se mutuamente. Segundo Urie Brofenbrenner este definiu mesossistema como o contexto que se constitui como ligação entre os microssistemas de cada um. E por fim, nas inter-relações entre o indivíduo e os contextos – o indivíduo é activo, não sofre passivamente a influência dos contextos. A sua acção afecta, influencia os contextos, os ambientes em que participa, transformando-os. 10 “Os indivíduos atribuem significados aos contextos”. Explica esta afirmação. Em cada lugar do contexto existem normas e valores. Em todos estes lugares e interacções existem ainda histórias e significados, mais ou menos incutidos nos contextos. O modo como as pessoas se posicionam nos contextos vai depender da forma como interpretam as normas, os valores e os significados que circunscrevem as possíveis experiências e comportamentos. A recolha de informação contextual, que os indivíduos permanentemente realizam, serve para regular e adaptar as formas de ser, de sentir e de ajustar o nosso comportamento. A informação contextual, o que cada um percebe como sendo as exigências dos contextos, os significados fornecidos e as interacções reforçadas têm uma influência que varia de pessoa para pessoa. A forma como cada um experiencia os contextos vai fazer variar a influência que estas têm no desenvolvimento dos indivíduos. É a partir dessas interpretações que cada um vai encontrar maneiras de se posicionar nos contextos e de interagir com os outros, assim como de construir significados para as situações e para as experiências vividas neles. Mesmo quando os elementos do contexto se repetem, a configuração não é a mesma para cada um. As características de cada um são um dos elementos importantes a ter em conta quando se procura compreender o papel dos contextos no desenvolvimento e no comportamento individual. Cada um de nós possui características pessoais que poderão facilitar ou dificultar a relação que estabelecemos com determinados contextos, mas que não determinam essa mesma relação. A relação entre indivíduo e contexto é ela própria dinâmica, porque depende sobretudo da forma como as suas características interagem. Embora a influência dos diferentes níveis do contexto e da sua configuração global seja poderosa, o resultado final em termos do desenvolvimento pessoal vai depender das características pessoais dos indivíduos, do modo como estes encontram formas de interpretar e agir que favorecem sentidos e dinâmicas mais ou menos benéficos em termos de desenvolvimento. Isto mesmo ilustra a resiliência. 11 O desenvolvimento humano é resultado da interacção entre a pessoa, o processo, o contexto e o tempo. Explica. No desenvolvimento do indivíduo têm de se ter em conta quatro dimensões: a pessoa, o contexto, o processo e o tempo. O indivíduo tem um papel central no seu processo de desenvolvimento: não é um produto mecânico dos ambientes, dos lugares com que interage. É activo, participando na criação dos próprios contextos. Cada pessoa, portadora de características próprias, entra ao longo do tempo em relação recíproca e dinâmica com os contextos emergindo as trajectórias de vida particulares de cada um. É assim que cada um de nós se vai construindo com um ser único, situado e singular.