A importância das águas no desenvolvimento José Machado Os temas ambientais têm sido cada vez mais centrais nas preocupações de sociedades e de governos: a água, a biodiversidade, a energia e as mudanças climáticas são aspectos que têm crescente visibilidade e potencializam ou colocam limites ao desenvolvimento econômico. A água é um dos mais importantes recursos ambientais e a adequada gestão dos recursos hídricos é componente fundamental da política ambiental. Quando as pessoas não têm acesso à água potável no lar, ou à água, enquanto recurso produtivo, suas escolhas e liberdades são limitadas pela doença, pobreza e vulnerabilidade. Não ter acesso à água e ao saneamento é, na realidade, um eufemismo para uma forma de privação que ameaça a vida, limita as oportunidades e enfraquece a dignidade humana. Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo ainda não têm acesso à água potável e outros 2,6 bilhões de seres humanos não têm acesso a um saneamento adequado. Esses números dramáticos deveriam preocupar a todos os cidadãos do mundo, pois são barreiras ao desenvolvimento humano, aos direitos humanos e à paz. A crise da água é uma "crise silenciosa", uma crise dos que não têm voz e suportam no cotidiano os efeitos devastadores da exclusão hídrica. "Tal como a fome, é uma urgência silenciosa tolerada por aqueles que dispõem de recursos, da tecnologia e do poder político para acabar com ela", conforme o Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2006 intitulado A água pra lá da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água. Água e saneamento são pontos de partida catalíticos nos esforços para combater a pobreza e a fome, promover vidas longas e saudáveis e reduzir a mortalidade infantil. Não é exagero dizer que as Metas de Desenvolvimento do Milênio - ratificadas por 191 países em 2000 - só poderão ser cumpridas com melhor fornecimento de água potável e saneamento adequado. Dentre os objetivos das metas, quero destacar uma: "reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável a água potável segura." Como cumprir as metas de redução da mortalidade infantil quando, no mundo, 1,8 milhão de crianças morrem anualmente devido à diarréia ocasionada pela água contaminada e pelas más condições de saneamento? A diarréia mata cinco vezes mais crianças do que o vírus da Aids e é hoje a segunda principal causa de mortalidade infantil, após as doenças respiratórias. O acesso à água potável e saneamento pode reduzir o risco de morte de uma criança em 50%. Se, por um lado, as desigualdades constituem a base da crise da água, por outro, a crise da água perpetua e alarga as desigualdades. Sabe-se que o investimento de uma unidade monetária reduz em até três vezes os gastos com internação hospitalar, se justificando, portanto, pelo lado econômico, os investimentos públicos na área de saneamento. Daí porque se preconiza o gasto de pelo menos 1% do Produto Interno Bruto pelos governos em água e saneamento. O Brasil possui 12% da disponibilidade mundial de água doce, sendo que cerca de 70% dessa disponibilidade está na Região Amazônica. Dá para acreditar que nessa região ainda há dificuldade de acesso de milhares de pessoas pobres, inclusive ribeirinhos, à água de boa qualidade? José Machado, economista, ex-prefeito de Piracicaba, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA). Fonte: Terra Sustentabilidade