“A lenda do arqueiro – 4ª Parte”
Carlos Eduardo Paulino
Fábio Pereira de Oliveira
“Havia arqueiros de todas as províncias da China e isso atraia Li Ning,
que queria ser o melhor de todos os arqueiros de seu país, se possível da
história do Império. Havia, também, arqueiros da China Exterior, eram reinos
que dependiam, em quase tudo do Império do Meio. Mongóis, manchus,
turquestinos, cazaques, uigures, vietnamitas, khmeres, tais, todos participariam
como convidados, e se vencessem eram obrigados a permanecer no país, e
fazer parte da guarda de honra do imperador, assim como ser professor dos
jovens arqueiros, posição, só, igualada a dos cultos Mandarins.
Eram vários dias de prova, em todos os períodos do dia, em vários
ambientes, sozinho ou no lombo de animais, pois, Li Ning, foi sensacional.
Simplesmente dobrou a contagem do segundo colocado e pontuou o maior
escore da história do torneio. Foi aclamado. Era um deus. Até o imperador,
burlando o protocolo, foi cumprimentá-lo e confessou-se mais seguro com sua
presença nos muros do palácio.
Porém do alto de seu orgulho, ouviu tibetanos cochicharem que o maior
arqueiro da história da China, havia abandonado a corte e vivia entre as
montanhas do Teto do Mundo. Ao ouvir aquilo, mesmo do alto de sua posição,
o mesmo adentrou a multidão e foi ter com os caravançarás. Indagou sobre a
informação. Ameaçou-os, do alto de sua posição. Pegou-os pela gola, até
saber a informação por completo. Era insuportável saber que houvesse alguém
melhor que ele. Isso não existia.
Galardoado, rico, famoso e nomeado grão mestre arqueiro, o maior da
China. Vivia inquieto. Estava triste. Pediu para o antigo mestre, que o havia
ensinado as lições para ser um arqueiro daquela estirpe, se o tal arqueiro do
Himalaia existia. O antigo mestre lhe disse que se tratava de uma lenda, pois
tal homem não existia, ele mesmo, estava ali há anos e não tinha essa
informação. Com toda a reverência que seu antigo mestre merecia Ning, pediulhe que conferisse a veracidade da história, colocando em xeque sua memória.
Pois o velho mestre arqueiro foi aos anais, e de fato encontrou o registro
de um arqueiro lendário. Ning se contorceu. E pediu ao velho mestre se podia
ter com o Mandarim mais idoso da corte. Apesar da alta posição de Ning, ter
com o Mandarim da Cidade Proibida exigia paciência. Dois meses depois a
audiência foi concedida, e o Mandarim o convidou para uma caminhada. Aos
passos de uma tartaruga, a pergunta que torturava Ning foi feita, e o mais sábio
dos Mandarins disse-lhe que o comentário dos tibetanos procedia. Houve
mesmo um arqueiro inigualável, de talento natural, de peripécias impossíveis, e
que assim que ganhou o torneio abandonou a corte. Alertou-lhe, também, que
deveria estar morto, tal a sua idade. Ning agradeceu com todas as mesuras a
preciosa informação do sábio administrador do império. E se foi.
Foi à casa de seu velho mestre, entregou-lhe as comendas, os cargos e
todos os prêmios e disse que faria uma jornada para encontrar o maior arqueiro
da história da China, que se não fizesse aquilo iria morrer infeliz, e que na
verdade queria desafiá-lo e tornar-se, assim, o maior arqueiro da história do
Império do Meio. Ao mestre não coube muitos conselhos, apenas lhe dizer que
estava jogando tudo para o alto, pois a China não poderia esperar por ele. Que
ele não teria proteção, pois o Tibete não estava sob as leis chinesas. Mas que
entendia sua posição.”
Tem mais a semana que vem. Até lá.
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