UTOPIA
Por esses dias, meu professor de Sociologia falou sobre utopias. De
acordo com uma rápida pesquisa na internet, utopia é a ideia de civilização ideal,
fantástica, imaginária ou um plano que parece ser impossível de ser realizado,
um devaneio, uma ilusão ou um sonho. Ele disse que sua utopia era que na porta
de sua sala de aula estivesse escrito “Sala de Ciências Sociais e Políticas”,
porque ele estava cansado desse modelo de ensino que nós temos no Brasil, no
qual as pessoas são obrigadas a aprender todas as disciplinas apenas para
passar em uma prova, o tal do vestibular.
Em uma outra semana, minha professora de História estava explicando
sobre a Balaiada, uma das revoltas que ocorreram no Período da Regência, há
muito tempo no Brasil. E no meio da explicação ela citou o caso de um negro
analfabeto, que enxergava na educação a razão pela qual a maioria da
população estava na pobreza. Ou melhor, a falta de educação. Ela disse que
esse negro, apesar de analfabeto, enxergava a importância da escola e que, na
sua opinião, ela achava irônico uma pessoa, que nunca tinha sido educada
formalmente, perceber essa importância e outra pessoa, que passa dez anos
estudando, não enxergar sentido no estudo.
De uma maneira ou de outra, esses dois professores disseram quase a
mesma coisa. É muito triste não sentir prazer no estudo. Pior ainda é não
enxergar sentido nele. Talvez os estudantes não percebam sentido nisso
justamente por causa do vestibular. Eles acabam desestimulados, porque acham
que só vão aprender determinado conteúdo para passar no vestibular e acabam
nem se preocupando em entender a verdadeira utilidade da matéria. Ou existem
aqueles que simplesmente não querem aprender porque sabem que não vão
utilizar aquilo em sua profissão. Por exemplo, uma aluna que quer fazer Letras
em relação à Matemática. Qual o sentido de aprender Trigonometria se na
faculdade ela vai ler Machado de Assis?
Sei que esse não é um problema só dessa geração. Tampouco a solução
para esse desinteresse pelo estudo vai aparecer agora. Também sei que não é
só o Brasil que sofre desse mal: existem adolescentes e crianças no mundo
inteiro que se veem desestimuladas ao estudar por inúmeras razões. Algumas
plausíveis e outras não. Mas todas devem ter um motivo.
Meu professor de Sociologia, nessa mesma aula em que falou sobre utopia,
disse que todos nós carregamos uma utopia conosco. Um sonho, um desejo,
uma fantasia impossível de ser realizada. Mas que nós, no fundo de nosso
coração, ainda temos esperança de que se realize. E ele perguntou: “Qual é a
sua utopia?”.
Depois de pensar por muito tempo e de refletir por mais um pouco, acho
que finalmente tenho a resposta para sua pergunta. Minha utopia é que a
educação mude. Minha utopia é a de que as pessoas queiram aprender e
venham para a escola não porque se sintam obrigadas, mas porque enxergam
algum sentido nisso. Porque entendem que o estudo – mais do que ficar sentado
horas e horas lendo ou ouvindo algum professor falar – é entender o mundo e o
universo que nos cercam. É entender sobre a natureza, sobre os animais, sobre
as pessoas. É calcular a velocidade média de um trem, é entender como
aconteceu a Revolução Francesa. É entender sobre plantas, é aprender a usar
a Gramática. É calcular o angulo de um triângulo isósceles, é ler Machado de
Assis. É conhecer o mundo e, consequentemente, conhecer a si próprio.
Minha utopia nada mais é que todo o ser humano entenda o valor do
estudo. Que todo mundo pare de encarar isso como algo chato e insignificante.
Que passe a encarar isso como uma sabedoria, um aprendizado sobre a vida.
E, francamente, se alguns de nós, como aquele homem que a professora de
História mencionou, conseguem, por que não podemos todos conseguir? Afinal,
essa é uma utopia ou é um sonho possível?
A resposta está somente nas nossas mãos.
CLARA PERIN BRESSAN
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