UNIVERSIDADE POSITIVO PUBLICIDADE E PROPAGANDA “A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO CHE GUEVARA PELOS JOVENS DE 18 A 25 ANOS APÓS A SUA REIFICAÇÃO E APROPRIAÇÃO PELA MÍDIA ATUALMENTE.” CURITIBA 2010 CARLOS VITOR MORARA FELIPE ARTHUR LUIZA BLANC GAIDEX MURILLO TIGRINHO CORDEIRO VITOR EDUARDO CAMILLI PAULUS “A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO CHE GUEVARA PELOS JOVENS DE 18 A 25 ANOS APÓS A SUA REIFICAÇÃO E APROPRIAÇÃO PELA MÍDIA ATUALMENTE.” Monografia apresentada como Requisito parcial à conclusão Do Curso de Comunicação Social Habilitação Publicidade e Propaganda, Núcleo de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Universidade Positivo. Orientador: Prof° Marcos Dias Araújo CURITIBA 2010 No momento em que for necessário, estarei disposto a entregar a minha vida pela liberdade de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém. Ernesto “Che” Guevara Agradecemos aos que nos apoiaram durante os anos de curso, aos professores e colegas de classe, assim como familiares e amigos. RESUMO Diante de um mundo de informações e de reprodutibilidade técnica acontecendo a todo o momento, e com a evolução da indústria cultural é necessário entender os efeitos desse processo na atualidade em que vivemos. Para descobrir se a imagem do revolucionário Che Guevara foi reificada e se hoje ela não é modelo de inspiração para os jovens e não faz mais sentido como fazia na década de 60 é preciso entender sobre a teoria da reprodutibilidade técnica de Walter Benjamin e também uma teoria contraditória a anterior que são as teorias da formatividade de Luigi Pareyson, citado por Umberto Eco e de Peter Burke em Testemunha Ocular. Em seu livro, Peter Burke nos conta a respeito da construção de uma imagem, de como elas podem ser usadas como evidências históricas, como representação de aspectos sociais e políticos de uma determinada época. Uma imagem não é o que realmente aparenta ser e dessa forma ela incorpora a alma do artista e do personagem representado. A de Benjamin diz que a reprodução técnica de imagens implica em uma perda de aura de uma obra. A teoria de Pareyson pelo contrário diz que uma obra é criada a partir dos olhos de quem a vê, tornando-a eterna e Umberto Eco, conta a respeito da mitificação de uma personagem e nas várias facetas que essa personagem ganha ao ser representado e citado por diferentes pessoas. Analisa-se a história da vida de Che Guevara, bem como filmes e documentários sobre ele. Também utiliza-se a foto mais famosa do revolucionário Che aliado com um questionário com perguntas qualitativas com jovens de Curitiba, para verificar se a percepção da imagem do Che Guevara está mais contundente com as teorias de Benjamin ou com Pareyson (Eco) e Peter Burke. Palavras-chave: Che Guevara; reprodutibilidade técnica; fotografia política; Cuba; revolução. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................7 2 REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................9 2.1 O PROCESSO DE REIFICAÇÃO SOBRE A ÓTICA FRANKFURTIANA E TEORIAS CONTRADITÓRIAS A ELA ..................................................................................8 2.2 BREVE HISTÓRIA DE CHE GUEVARA ..................................................................... 18 3 ANÁLISES DA PESQUISA DOCUMENTAL ............................................................ 24 3.1 ANÁLISE DA IMAGEM DE CHE GUEVARA A PARTIR DAS TEORIAS FRANKFURTIANAS E AS TEORIAS DE PAREYSON E UMBERTO ECO ................. 24 3.2 CHE GUEVARA .............................................................................................................. 28 4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO.................................................................................. 39 5 CONCLUSÃO................................................................................................................. 42 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 44 ANEXOS ................................................................................................................................ 46 ANEXO A - ERNESTO GUEVARA DE LA SERNA ........................................................ 46 ANEXO B – FOTO ORIGINAL DE GUEVARA POR ALBERTO KORDA.................... 47 ANEXO C – HASTA SIEMPRE .......................................................................................... 48 ANEXO D – COMANDANTE AMIGO ................................................................................ 49 ANEXO E – AY, CHE CAMINO .......................................................................................... 51 ANEXO F – SIEMBRA TU LUZ .......................................................................................... 52 ANEXO G - QUESTIONÁRIO REALIZADO COM JOVENS DE 18 A 25 ANOS ....... 53 7 1 INTRODUÇÃO O trabalho a seguir procura esclarecer certos questionamentos que envolvem a figura de um homem moderno, que viveu em um passado próximo e que atualmente se tornou referência para diversas ideologias. Seu reconhecimento pode se dever ao que passou ou o motivo pelo qual lutou, ou então seu semblante é apenas forte, significante e facilmente cultuado. O objetivo deste trabalho é apresentar a trajetória, assim como a propagação de sua imagem por motivos ideológicos ou meramente comerciais. O homem em questão é Ernesto Guevara, o “Che” e a foto em discussão, que gerou esta difusão foi tirada por Alberto Korda, intitulada “Guerrilheiro Heróico”. No primeiro capítulo, abordamos a vida do revolucionário, sua trajetória e sua história política. Che Guevara foi um revolucionário nascido na Argentina, cujos principais capítulos de sua história se passam em Cuba, pela qual é diretamente ligado. Seu objetivo era discriminar o sistema imperialista para buscar uma sociedade igualitária e mais justa. Para isto, os meios utilizados baseavam-se em treinamento, estratégia e armamento. Após anos de luta, seus esforços foram sendo compensados aos poucos, mas seu lugar parecia não ser atrás de mesas ou em encontros diplomatas, Ernesto era um guerrilheiro nato e nada lhe fazia tão bem quanto fazer o que realmente gostava, expandir seus pensamentos aos demais países que via passar pela desigualdade social. E foi assim que teve seu fim decretado, pelo menos para ele, dignamente como defensor de seus ideais. Assim nasceu o mito de Che Guevara e sua imagem começou a ganhar a proporção que lhe era devida. A foto de Alberto Korda foi o ponto de partida, os elementos eram perfeitos para o culto de um ícone, não representava nenhum momento histórico específico e por esta razão se fortaleceu como principal representação de Ernesto. Algumas modificações foram feitas anos mais tarde, e a foto ganhou força em movimentos estudantis na Europa, sendo utilizada como símbolo de uma geração. Atualmente, é a fotografia mais reproduzida do mundo. No segundo capítulo, abordaremos, além de um retrato histórico sobre a vida do revolucionário, aspectos teóricos sobre a divulgação da imagem e seus efeitos na sociedade de forma geral. Utilizamos argumentos de pensadores como Walter Benjamin, Theodore Adorno, Roland Barthes entre outros. O objetivo foi mostrar o que ocorre com uma forma de expressão artística quando submetida a repetidas 8 divulgações com o único fim de obter lucro. Nisso entra o processo de reificação (ocorre quando uma obra de arte perde todo o seu valor de culto e toda sua critica, servindo apenas para metas comerciais), que aqui foi apenas citado como um fenômeno que a imagem de Che já sofreu. O ponto principal do estudo, não foi se a fotografia foi reificada ou não, mas sim, quais os efeitos desse processo na própria obra de Korda e na sociedade que a consome. 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O PROCESSO DE REIFICAÇÃO SOBRE A ÓTICA FRANKFURTIANA E TEORIAS CONTRADITÓRIAS A ELA O fenômeno de industrialização que se originou da Revolução Industrial deu origem ao estudo e teorias de questões fundamentais para o nosso centro de pesquisa, a indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa propriamente dita. (COELHO, 1980, p.10) Segundo Teixeira Coelho (1980, p.35), para entender o funcionamento e verificação dos meios da indústria cultural precisamos analisar duas alternativas básicas que podem ser descritas por diferentes frentes, uma delas deriva de Karl Marx: “todo produto traz em si os vestígios, as marcas do sistema produtor que geralmente permanecem “invisíveis”. Todo o nosso estudo e pesquisa parte do âmbito da indústria cultural, esta que é definida por Teixeira Coelho (1980, p.11) em “O que é Indústria Cultural”, que diz que a reificação é o ato de transformar cultura em coisa, ou seja, coisificação. Esse é o motivo do nosso estudo, também saber os efeitos causados por uma imagem que de ideológica se tornou um “produto”. O processo de reificação ocorre quando as coisas tomam o lugar de destaque na vida das pessoas, a partir de um ato no qual, ações e relações humanas são atribuídas aos objetos. Dito de outra forma, a cultura é transformada em bem consumível, com valor agregado. Isso faz com que a cultura (que pode vir na forma de pinturas, músicas, poesias etc.) perde todo seu valor histórico e se torna apenas mais um objeto a ser adquirido. Todo esse envolvimento das pessoas com as coisas materiais ocorre a partir da transformação dos objetos em fetiche. O método implica dar um cunho psicológico e sentimentos a elementos inanimados. De acordo com a lógica de Walter Benjamin toda obra de arte deve possuir uma aura, que provém de sua autenticidade e sua unicidade. Esse último conceito parte do pressuposto que o momento e o local exatos no qual uma obra é criada afeta todo seu contexto. Como exemplo, podemos imaginar uma pintura ou uma escultura encontrada em seu lugar de nascimento e culto, como uma igreja. Essas 10 variantes dão certa aura de mistério à obra. Isso está intimamente conectada as duas tradições básicas para o pensador: a grega e a medieval. Quando o assunto é fotografia, Benjamim diz: “mesmo que essas novas circunstâncias deixem intacto o conteúdo da obra de arte, elas desvalorizam, de qualquer modo, o seu aqui e agora, ou seja, sua aura” (BENJAMIN, 2006, p. 50) A fotografia é uma reprodução de algo já existente. E, nas reproduções falta o aqui e o agora de Benjamin. Por isso, quando o assunto são obras de arte, isso se torna um problema, pois o que falta é a aura, a essência e a autenticidade da peça artística. Com essa concepção em mente, Benjamin pensou no conceito de Destruição da Aura, que diz que ao longo da história da sociedade humana e seu modo de interação (os dois mutáveis ao longo dos anos), também modificou-se a percepção do homem. Ou seja, as mudanças significativas do ser humano ao longo da história fizeram sombra não apenas na cultura produzida, mas também na forma como a percebemos. Um exemplo muito claro dessas alterações é a Revolução Industrial. Essa perda da aura traz conseqüências positivas e negativas. Pelo lado bom, a cultura hoje está mais democratizada e com cunho mais político. Principalmente com o cinema, as expressões artísticas hoje atingem um público muito maior e serve como formador de opinião. Já pelo lado pessimista, não podemos ignorar o empobrecimento da experiência que as obras artísticas de hoje trazem a população, se comparadas com as formas de exibição de antigamente. Benjamin considerava que a reprodutibilidade técnica elevou o valor de exposição da arte de forma que esta superou o valor de culto, a partir do momento que a característica inacessível da obra se perde. Sobre isso escreveu: “De fato, a qualidade principal de uma imagem que serve para o culto é de ser inatingível. Devido a sua própria natureza, ela está sempre longínqua, por mais próxima que possa estar. Pode-se aproximar de sua realidade material, mas sem se alcançar o caráter longínquo que ela conserva, a partir de quando aparece”. (BENJAMIN, 2006 p. 55). Se relacionarmos o pensamento de Benjamin sob a lente da reificaçao, podemos observar que o pensador considerava que imagens muito expostas perdem seu valor cultural, sua supremacia quando comparada com outras obras ou outras formas de arte. Uma vez reproduzida repetidamente uma obra, seu valor se torna apenas expositório, consumível. Toda a crítica, sentimento, cult ura ou qualquer 11 outro valor antropológico contido se perdeu, tornando-se banal. Reproduzindo-a, liberta-se a obra de seu caráter tradicional e de culto. Multiplicando-a, eleva-se seu valor de exposição. Seguindo esta linha de pensamento, as imagens produzidas por lentes fotográficas não poderiam possuir alma. Porém existe um momento em que ela persiste: quando encontra-se na foto um rosto humano. Na verdade, é no momento em que o homem se retira da foto que o pensador considera a primeira elevação do valor expositório em cima do valor de culto. A aura da fotografia na forma de retrato se encontra nas próprias pessoas que analisarão tal obra. A única forma que poderia oferecer críticas a esse tipo de análise e relação com as obras de arte fotográficas seriam a alteração da própria percepção humana. Esse contexto, no entanto, entra em conflito com a outra teoria do autor, na qual as obras dependem da autenticidade e unicidade. Com isso entramos na discussão de Benjamin com relação à reprodutibilidade técnica da arte. O pensador não nega que com a maior difusão da arte, mais pessoas foram capazes de adquirir a cultura por esta transmitida. O pessimismo que se seguiu após obras de artes únicas começarem a ser difundidas no mundo todo era compensado pela liberdade que o homem experienciou quando viu suas mãos livres. A arte dependia agora exclusivamente dos olhos. Houve muitas críticas e controvérsias em relação à comparação entre fotografia e pintura, no século XIX. Reflexões indagando se o processo de reprodução estava arruinando a arte eram comuns, mas foram poucos os que conseguiram perceber que a fotografia estava transformando os conceitos de arte da época, mas com um caráter completamente diferente da pintura, escultura etc. Para Benjamin, o problema não está na reprodutibilidade em si, mas na união desta com a política. Após um curto período, as fotografias começaram a elaborar registros históricos. Porém é inegável na sociedade atual que o objetivo é sempre vender, lucrar, expor e reproduzir. A arte como forma de cultura propriamente dita, como forma de aprendizado está desaparecendo. Isso traz um empobrecimento das experiências estéticas, o que transforma a cultura de massa apenas em produtos passageiros que tragam lucro. Junte-se a isso o fato da própria população estar sempre sentindo o impulso de apropriar-se de objetos e reproduções artísticas com expressão cultural mais elevado, voltamos a questão da reificação. “Aproximar-se” das artes tornou-se 12 um desejo tão árduo que a sua originalidade e autenticidade perderam sua força. O ritual, as divindades ou qualquer outro motivo que levou à confecção da obra em primeiro lugar, tornou-se irrelevante. As técnicas de reprodução emanciparam a arte de seu contexto inicial de forma definitiva. Tais desejos são impulsionados pela vontade de se obter status. Para aqueles que não possuem alternativas, a TV e a Internet satisfazem com folga essa aspiração. Tais mídias nos trazem tantas imagens, sons, livros etc. que fica extremamente limitado nosso tempo para analisar cada uma dessas expressões artísticas calmamente e cautelosamente. Isso causa no empobrecimento de nossa experiência sensível. Benjamin atribui a tal fraqueza o nome de “atrofia da experiência”. Os meios de comunicação de massa são a saída mais apropriada para o consumo de uma cultura que se tornou acessível apenas para aqueles com poder aquisitivo elevado. Além disso, num mundo onde o que conta é a quantidade e a rapidez, a crítica (sem a qual uma obra não esta concluída, segundo o autor), perde sua notoriedade e seu espaço. O que deveria ser mostrado é que a arte exibe um passado cheio de experiências que poderiam auxiliar no futuro, uma vez que decifrada uma obra e seu contexto, seus símbolos, metáforas e alegorias. Para realizar tal processo, basta seguir a mesma linha que Benjamin: citar, sem julgamentos os atributos de uma musica ou pintura, e deixar que por si só, o individuo faça suas relações de acordo com seu próprio repertório. Não há como negar hoje que algumas obras de arte foram reificadas, e exploradas ao máximo para fins comerciais. No entanto, Walter Benjamin também nos traz outro conceito: a experiência alegórica, que pode ser encontrado na arte. O pensador se refere ao conceito pensando na literatura, mas também podemos transpor suas idéias para o campo da fotografia. A alegoria é uma rede infinita de relações, significados e associações, expondo a idéia de forma figurada, buscando atingir a subjetividade do interprete. Tudo pode se transformar e representar tudo, se respeitados os limites da linguagem. Assim, a alegoria não deixa de ser uma metáfora. Para Benjamin, é o maior dom da linguagem e deve ser utilizada como um objeto de trabalho. Sendo uma forma de expressão, o pensador acredita ser esse o caminho mais fácil, por exemplo, para aproximar o homem do sagrado (ainda que não seja essa sua intenção). Um exemplo é a própria bíblia, com suas metáforas ocultando historias de cunho pedagógico. A alegoria nos possibilita elevar os fatos a uma categoria mais universal e, dessa forma, mais facilmente compreendida. O receptor da mensagem 13 alegórica exercita a interpretação da subjetividade, pois não é possível rapidamente absorver todas as idéias contidas, uma vez dificilmente se expressa todas as idéias de uma só vez. Deve-se, contudo, evitar a caracterização da alegoria como uma mera forma de nomeação ou designação. O alegorista utiliza-se da abstração para a divulgação de seu pensamento. Benjamin considera a interpretação de idéias uma experiência alegórica, considerando que as idéias não se encontram no universo empírico ou no conceito, mas sim na linguagem. Utilizando-se do plano da linguagem, podemos tomar o narrador como uma figura alegórica, tanto porque representa um modelo ético, mas também nos momentos em que leva o leitor a se aproximar da história. Se traçarmos um paralelo entre a experiência alegórica de Benjamin na linguagem e as artes como a fotografia, contemplaremos fotografias com uma mentalidade um tanto alterada. Uma foto com cunho polêmico ou contestador, para alguns pode ser meramente uma fotografia, enquanto àqueles com um olhar mais subjetivo pode ver a história inteira de uma nação ou uma geração. A obra de arte sempre foi reprodutível. Mesmo na época das pinturas e esculturas, aprendizes tentavam imitar a obra de seus mestres como forma de aprendizado. A reprodutibilidade foi algo que se impôs à arte lentamente. A Grécia antiga conhecia dois processos de reprodução: a fundição e a cunhagem. Assim, um dos únicos objetos a ser reproduzidos eram as moedas. As artes gráficas tiveram seus primeiros passos no processo de reprodução com a xilogravura e, após um longo período de tempo, com a impressão. A litografia também ocupou lugar de destaque no século XIX. Mas, foi com a chegada da fotografia que ocorreu a verdadeira revolução nas formas de reprodução. A partir desse ponto, apenas o olho era o elemento mais importante para a captação de imagens. As mãos estavam livres. Começando o século XX, a fotografia não apenas tomou conta das artes de épocas anteriores como também começou a ocupar um espaço próprio como forma de expressão artística. A principal critica a essa forma de demonstração era a falta da aura, do aqui e agora da obra. Vários não apreciavam ver uma obra fora de sua existência, de seu conceito. A autenticidade de algo resumia desde a origem até o testemunho histórico da peça. Porém, é impossível negar que através de uma máquina fotográfica podiase sublinhar aspectos de uma obra que seriam invisíveis ao olho humano, somente. Um exemplo são imagens que não são palpáveis apenas com a visão virem À tona a 14 partir de recursos como a ampliação ou uma simples captação de um ângulo inusitado. Ou seja, a fotografia trouxe inovações não apenas na sua forma de arte, mas também apresentou as artes arcaicas de maneiras nunca vistas antes, colocando a obra original de forma que, sem uma lente, nunca seriam possíveis. Mas, o que se observa é que para que uma obra preserve seu valor de culto, ela deve permanecer oculta, pois com a divisão de arte X ritual, as oportunidades de exposição (e de certa forma, de lucro) só crescem. Antigamente, a estima cultural e religiosa de uma obra era suficiente para sua realização. O reconhecimento como “arte” veio mais tarde. Hoje, os papeis se inverteram. O peso da obra, seu valor, se baseia na exposição. Em seu livro “O que é estética?”, Jimenez faz referência à teoria da desestetização da arte de Theodor W. Adorno, que segundo Adorno, a arte está em crise, falta uma análise critica das obras, em geral, a arte perdeu a sua função idílica. (JIMENEZ, 1999, p.350-352) Jimenez explica que a obra de Adorno é marca dos anos 30 e que é uma época marcada em que defender a arte moderna significava resistir às tentativas totalitárias que visavam liquidá-la. E que hoje este interesse político e ideológico desapareceu. Marc diz que há um problema nos estudos de Adorno, pois em suas obras há uma lacuna, a da pintura e também por comparar e estabelecer similaridade da pintura com a música. Segundo Eco (2000, p.16-32), uma obra não é uma narrativa do autor e sim um estilo. E para entender o que Eco quer passar precisamos entender a teoria da interpretação, que consiste num conceito em que a compreensão e a interpretação de uma obra só podem ser verificadas a partir de um processo formativo, um processo que está em movimento e não algo estático (ECO, 2000, p.28). O interprete de uma obra não se deixa levar pela fisicidade do objeto propriamente dito e sim por um processo formativo de interpretação. E para que essa teoria de interpretação seja válida é necessário ligá-la a noção do estilo como modo de formar, este por sua vez revela que uma obra já formada não continua sendo uma realidade impessoal, e não se configura apenas no processo formante e sim da própria personalidade formadora. 15 Pareyson diz que para formar uma obra é necessário, partindo do interpretador, “a sua experiência concreta, a sua vida interior, a sua irreptível espiritualidade, a sua reação pessoal ao ambiente histórico em que vive os seus pensamentos, costumes, sentimentos, idéias, crenças, aspirações”. E que o único conhecimento que o artista institui é o da sua personalidade no modo de formar (ECO, 2000, p.16-32). Roland Barthes (2003, p.68-69) em “Mitologia”, de um ponto de vista diferente de Benjamin, porém concordando com ele, aponta os efeitos da fotografia em seu receptor. Citando um livro sobre Brecht do autor Geneviéve Serreau em que o autor mostra imagens que deveriam chocar um receptor, porém não chocam. Roland faz uma análise e diz que nós, receptores da imagem, ficamos despossuídos de nossa capacidade de julgamento e que é o fotógrafo que tremeu, refletiu e julgou por nós e simplesmente não nos deixou nada, apenas um direito de aprovação intelectual da imagem: só temos uma ligação técnica com a imagem, a história que nela está contida fica restrita ao fotógrafo e apenas nos resta admirá -la. Também em “Mitologia”, Roland Barthes (2003, p.68-69), nos diz que muitos outros fotógrafos quiseram surpreender-nos, mas não conseguiram causar um choque no seu receptor. O maior erro de principio de todos que tentam realizar fotos chocantes é sempre o mesmo, ao captar movimentos em pontos extremas com grande habilidade técnica, como o vôo de um jogador de futebol, o salto de um esportista ou a levitação dos objetos de uma casa assombrada, o fotógrafo nos causa uma sensação de algo forçado, muito construído e gratuito. Elas não produzem nenhum efeito em nós, toda informação, visibilidade da cena está reduzida ao estado de pura linguagem, é apenas o momento de leitura instantânea e não vai alem disso. Confirmando a teoria de Roland Barthes (2006, p.40), Umberto Eco em “Apocalípticos e Integrados”, diz que, em uma visão apocalíptica: [...]Os mass mídia tendem a provocar emoções int ensas e não mediatas; em out ros termos: ao invés de simboliz arem uma emoçã o, de representá-la, provocam-na; ao invés de a sugerirem, entregam-na já confeccionada. Típico, nesse sentido, é o papel da imagem em relação ao conceito; ou então da música, como estímulo de sensações mais do que como forma contemplável [...](ECO, 2000, p.16-32). 16 Segundo Eco (2000, p.30) a doutrina pareysiana diz que dados sociológicos antecedentes são úteis para realizar uma análise da obra. E permite ao crítico concentrar-se nos valores socioambientais e situacionais da obra através da personalidade do formador. Com referência a teoria de Pareyson, comenta que: “[...]a teoria da interpretação, a partir do momento em que respeita a autonomia da obra, não pode deixar de a ligar ao contexto histórico próprio – e exige ao mesmo tempo que a obra continue a produzir história, a história de suas leituras[...] (ECO, 2000, p.31). Baseado na teoria da formatividade de Pareyson, Umberto Eco diz que são as polaridades das personalidade do formador e do intérprete que permite que uma obra permaneça na história, de vido a infinidades de interpretações. E quando um artista da vida a uma obra, ele a torna acessível a vários tipos de interpretações. E essa acessibilidade a obra dada pelo formador mantém o objeto físico sempre sujeito a uma variedade de pontos de vista (ECO, 2000, p.31-32). Segundo Eco a mitização é um simbolização incônscia é: [...] a identificação do objeto como uma soma de finalidades nem sempre racionalizáveis, projeção na imagem de tendências, aspirações, temores particularmente emergentes num indivíduo, numa comunidade, em tôda uma época histórica. [...].(2006, p.240) Eco afirma que um objeto mítico é uma situação social e também, ao mesmo tempo, o seu signo, e que na imagem mítica se condensam aspirações e desejos. É projeção do que queremos ser. E a formação de um mito se dá a sensibilidade das massas inconscientemente por instrução superior (2006, p.243). Umberto cita duas situações que uma imagem está inserida, uma é a pesquisa dos objetivos que a imagem encarna, outra é a desmistificação, que consiste em identificar símbolos, signos e ícones que a imagem carrega, ou seja, identificar o que está por trás de uma determinada imagem (2000, P.243). Em Apocalipticos e Integrados, Eco fala das literaturas de quadrinhos, os comics e explica a eficácia desse tipo de literatura e as compara com figuras mitológicas. Um exemplo desses comics e de um mito típico desse gê nero é a história do Superman (2006, p.239). Eco explica que a popularização do mito do Superman se dá devido ao fato de identificação que o público tem com sua versão humanizada, Clark Kent. Como o 17 próprio Umberto diz, ele é um tipo aparentemente medroso, tímido, de medíocre inteligência. um pouco embaraçado, míope, súcubo da matriarcal e muito solícita colega Míriam Lane, que, no entanto, o despreza, estando loucamente enamorada do Superman. Todas essas características são de afinidade e muito semelhantes de um habitante de qualquer cidade norte-americana. Esse é um processo de identificação da qual o autor cita em sua obra. (2006, p.247) Eco fala sobre uma “personalidade estética” de um personagem mítico, na qual o mito, no caso analisado, o Superman, deve ser tão imprevisível quanto nós, ao que poderia nos acontecer. Esse mito torna-se uma referência universalizada de seus comportamentos e sentimentos iguais aos nossos. (2006, p.250) Com relação aos sentimentos que o leitor tem Eco faz um descrição de uma visão apocalíptica sobre isso, em “Apocalípticos e Integrados”, 2006, 6ª Ed, p. 40. Diz que, em uma visão apocalíptica: [...]Os mass mídia tendem a provocar emoções int ensas e não mediatas; em out ros termos: ao invés de simbolizarem uma emoção, de representá -la, provocam-na; ao invés de a sugerirem, entregam-na já confeccionada. Típico, nesse sentido, é o papel da imagem em relação ao conceito; ou então da música, como estímulo de sensações mais do que como forma contemplável [...] (2006, p.40). Também em “Apocalípticos e Integrados”, Eco diz: [...]Os mass mídia encorajam uma imensa informação sobre o presente (reduzem aos limites de uma crônica atual sobre o presente at é mesmo as eventuais reexumações do passado), e assim entorpecem toda consciência histórica[...]. (ECO, 2006, p.41) Segundo Eco, esse tipo de obra oferece a nós uma sugestão simbólica ou alegórica como forma de relação com o mundo ou até um modo de descrevê-lo. E diz que o Superman só se sustenta como um ser mítico devido à perda de temporalidade da história. Confirmando as teorias de Umberto Eco sobre os mitos, Guy Debord fala sobre o espetáculo que nossa sociedade atual vive de um modo mais geral do que Eco. Segundo Debord (1997, p. 138), “o espetáculo é a ideologia por excelência”, pois expõe e manifesta todo um sistema ideológico literalmente. Ele é basicamente o empobrecimento e a negação da vida real. É o afastamento entre o homem e o 18 homem. A sociedade baseada no espetáculo tenta fazer as pessoas acreditarem que algo falso é real e tem por base a produção, pela qual cresce o novo domínio dos seres estranhos a quem o homem se sujeita. É o estágio mais avançado em que a necessidade se opõe a vida. Debord cita o princípio de Hegel, na Realphilosophie de Lenam, em que o espetáculo se estende por todo nossa vida social, concebe como o do dinheiro, “a vida do que está morto se movendo em si mesma”. 2.2 BREVE HISTÓRIA DE CHE GUEVARA Nascia em 14 de junho de 1928, na província de Santa Fé, precisamente na cidade de Rosário, um argentino cujo futuro estava trilhado para o movimento político de esquerda e que viria a se tornar um dos maiores ícones da história mundial. Ernesto Guevara de La Serna (ANEXO A), posteriormente conhecido como Che, pois em outros países da América Latina o termo é utilizado para denominar as pessoas de origem argentina, provinha de família de classe média e sofria de asma. Por este motivo, resolveram mudar-se para Alta Gracía, na região de Córdoba. Ernesto era um garoto estudioso, que se prendia na leitura de vários livros de autores como Marx, Engels, Baudelaire e Freud. Em 1946, ingressou na universidade para o curso de Medicina, na capital Buenos Aires, para onde sua família havia se mudado devido à situação econômica, que cada vez mais os preocupava e vinha se agravando. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a oposição ao extremo autoritarista Juan Domingo Perón tomava forças novamente com os estudantes formando a linha de frente deste movimento, como nicho mais aguerrido, e dentre estes estava Che. No ano de 1951, Ernesto decidiu interromper o curso de Medicina, mesmo faltando apenas seis meses para o término. A finalidade desta atitude era a viagem que faria com o amigo Alberto Granado, bioquímico e sonhador. Aos quase 30 anos, Granado resolveu colocar em prática uma viagem pela qual já tinha interesse há anos e convidou o jovem Ernesto, que cansado da rotina universitária, decidiu aceitar a proposta do companheiro. A viagem teve início em 2 de janeiro de 1952, a bordo de uma motocicleta antiga e sem muitas boas condições de uso, intitulada La Poderosa II, em homenagem a uma velha bicicleta de Alberto. Teve início então, a aventura de dois amigos em busca de novas experiências e preocupados com a 19 situação da América do Sul, que diziam ser unificada pelos povos dos distintos países. O ponto de partida foi à cidade de Buenos Aires, de onde partiram animadamente em busca do objetivo traçado, acompanhar as diferentes populações, que passavam por problemas parecidos. Após oito meses de viagem e alguns empecilhos gerados pela motocicleta, sua vida útil foi completamente prejudicada e La Poderosa quebra. Mas a disposição dos dois era enorme e nada parecia abalar a confiança em alcançar o objetivo proposto. Caronas e caminhadas agora faziam parte da realidade da dupla exploradora, as dificuldades cada vez mais apareciam e faziam com que a viagem se tornasse um prêmio por tanta dedicação. A coragem de Alberto e Ernesto era o que os movia em direção ao que não sabiam o que encontrariam pela frente. Cada um deles tomava um rumo psicológico durante a passagem pelos diversos países, Granado estava cada vez mais ligado a sua área profissional, procurava absorver conhecimento de toda e qualquer situação, via naquela experiência algo único, que lhe transformaria em um grande bioquímico, e assim, poderia trabalhar em prol de várias pessoas. Enquanto isso, Guevara se revirava contra as diferenças sociais que encontrava por onde passava, nada daquilo lhe caía em mente e sua militância política se aflorava à medida que presenciava tanta desigualdade. Desta forma, a viagem que teve fim em Caracas, acabou por transformar o jovem argentino de classe média, que decidiu a partir dali, lutar pelos direitos do próximo e tentar acabar com a humilhação pela qual muitos estavam sujeitos, devido a sua posição social, seja ela em qualquer país ou cultura. Surge então, o pensamento guerrilheiro e heróico de Che. Após o término desta aventura, Guevara voltou para a Argentina, terminou o curso de Medicina, e a partir de então, dedicou-se à política. Em 1953, resolveu viajar novamente pela América Latina e como da primeira experiência, presenciou muitas situações de miséria e desigualdade. Em meio ao que viu, sentiu-se impotente frente à política administrativa mundial dominante e a chance de transformação estava na mudança desta. Sua passagem pela Guatemala incluiu a luta do presidente, até então recém-eleito, Jacob Arbenz, cujo governo baseava-se nas reformas de base, na diminuição das desigualdades sociais e na participação ativa das mulheres no mercado de trabalho. Assim, o governo norte-americano não viu com bons olhos esta eleição, que por meio de ações coordenadas, se opôs ao 20 presidente guatemalteca. Nesta passagem, Ernesto se auto -define revolucionário e se mostra contra o imperialismo americano. Enquanto isso, em Cuba, o governo de Fulgêncio Batista também não agradava, e um jovem advogado, vinculado ao partido do Povo Cubano, descontente com o golpe de estado que deu a Batista a frente do poder do país decidiu comandar um grupo de jovens para acabar com esta situação. Fidel Castro e outros vários homens planejaram e executaram um assalto aos quartéis generais de Moncada e Cespedes, buscando tomar posse de estrutura e das armas que ali se encontravam, a fim de armar a população e derrubar o governo de Fulgêncio Batista. O plano acabou dando errado e vários homens foram mortos, Fidel foi capturado e julgado. Diante do tribunal, Castro pronunciou sua auto-defesa e por fim declarou: “Quanto a mim, eu sei que a prisão vai ser difícil, como nunca foi a ninguém, cheia de ameaças, crueldade e covardes, mas não tenho medo, como não temo a fúria do tirano miserável que levou as vidas de setent a irmãos meus. Condenar-me não importa, a história me absolverá” (CAS TRO, Fidel. 1979). Fora condenado a 15 anos de prisão, mas em 1955 foi anistiado, e por continuar sofrendo censura de suas idéias decidiu ir para o México. Através de um companheiro de batalha de Guevara, este conhece Raúl Castro, que o apresenta posteriormente ao irmão Fidel, que organizava um movimento intitulado M26, o movimento guerrilheiro 26 de julho, tomando por referência a data do passado assalto aos quartéis cubanos. Em 1956, 72 homens, exilados cubanos, partem para Cuba, liderados por Fidel e dentre estes, Ernesto se incluía. O objetivo desta vez era tomar a principal prisão de condenados políticos, situada em Santiago de Cuba. Assim, de maneira clandestina, a luta contra o governo tirano de Fulgêncio Batista tinha continuação e ganhava adeptos, surgindo então, o Exército Rebelde. A primeira tentativa do Exército Rebelde falhou e causou a morte da grande maioria dos homens. Mas a liderança de Fidel continuava firme, reuniram-se mais uma vez, desta vez em Sierra Maestra, e conseguiram o apoio de boa parte da população local, principalmente dos agricultores. Os treinamentos eram intensos e a estratégia era detalhadamente estudada durante um período de aproximadamente dois anos. Ao lado de Fidel, os principais líderes deste movimento eram Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Raúl Castro. 21 “Nós havíamos fic ado aqui em Sierra Maestra por dezesseis meses, muitos jornalistas de todas as part es do mundo vinham aqui e eles se preocupavam com, digamos, a parte anedotal dessa guerra de guerrilhas. Hoje, eu aproveito a oportunidade da visita de um jornalista cubano para enviar a primeira saudação que eu tive chance de mandar ao povo cubano. Pessoas que eu decidi defender conhecendo apenas através dos pensamentos e ações de nosso comandante, Fidel Castro" (CHE, 1959). A vitória dos revolucionários chega no ano de 1959, com a fuga de Fulgêncio Batista, que era apoiado pelo governo norte-americano. Nesta situação, Fidel toma a frente de Cuba como primeiro-ministro, deixando a presidência ser ocupada por Manuel Urrutia Manzano. O país passa a receber ajuda econômica e militar da URSS, recebendo em troca, o embargo econômico dos Estados Unidos. “Eu tinha a maior vont ade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei, expliquei nossos objetivos. (…) Mas os bombardeios, por aviões americanos, de nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções econômic as constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso povo” (CAS TRO, Fidel, 1960). Sendo assim, a população cubana esperava um governo participativodemocrático, cujas relações entre o comunismo e o capitalismo estavam praticamente equidistantes. Mas o radicalismo tomou conta de Fidel, que partiu para o fuzilamento dos que se opunham à revolução, e causou descontentamento no então presidente Urrutia. Castro decidiu se demitiu do cargo que ocupava, provocando uma reação enorme da população em favor do ex-primeiro-ministro, o que levou à renúncia de Urrutia, substituído por Osvaldo Torrado e o retorno de Fidel ao seu antigo cargo. O Partido Comunista Cubano ampliou sua participação e influência no governo e Castro declarou posteriormente que Cuba acabaria por se tornar um país socialista, buscando auxílio de Moscou na tentativa de se defender das ações norte-americanas. 22 “Nossa revoluç ão está colocando em risco todas as possessões americanas na América Latina. Estamos contando com esse países para faz er sua própria revolução” (CHE, 1962). Durante o ano de 1965, Guevara decidiu deixar Cuba para propagar os ideais que havia defendido durante a revolução cubana, com o apoio de Fidel Castro e ajudado por voluntários latino-americanos. O primeiro destino escolhido foi o Congo, país africano onde acabou se decepcionando com seu desconhecimento da cultura daquela região, partindo assim para o segundo destino, a Bolívia, onde procurava expandir a ideia de unificar os países da América Latina e invadir a Argentina. Mas as coisas não ocorrem como gostaria, não recebe apoio do Partido Comunista Boliviano, tampouco da população camponesa, e não conseguia reverter esta situação por também desconhecer o país e a língua local. Denunciado por uma camponesa, foi cercado por soldados bolivianos que após troca de tiros, aprisionaram Guevara que logo exclamou: “Não disparem. Sou Che Guevara e valho mais vivo do que morto.” No dia seguinte à captura, cumprindo ordens vindas da capital La Paz, foi metralhado pelo tenente Mário Terán. Segundo soldados presentes naquele momento, suas últimas palavras foram: “Digam a Fidel que esse fracasso não significa o fim da revolução, que ela triunfará em qualquer outra parte. Digam a Aleida (sua esposa) que esqueça tudo isso, que volte a casar, que seja feliz e cuide para que os meninos continuem estudando. Peçam aos soldados que façam boa pontaria." Ali falecia um homem e nascia um mito, um mártir, um ícone do movimento revolucionário que futuramente se transformaria na maior expressão de esquerdistas. "Se nós quisermos expressar como queremos que os homens sejam no futuro, devemos dizer: nós queremos que eles sejam como Che. Se nós quisermos dizer como queremos que nossas crianças sejam educ adas, devemos dizer sem hesitação: queremos que eles c resçam no espírito de Che" (CAS TRO, Fidel, 1967) Sobre a construção desta imagem de Che Guevara, está a principal fotografia utilizada para fins de expandir seus ideais. A foto intitulada “Guerrilheiro Heróico” foi tirada pelo cubano e comunista Alberto Korda, durante um memorial às vítimas de 23 uma explosão de barco, datada em 5 de março de 1960, quando Ernesto tinha 31 anos. Através do artista irlandês Jim Fitzpatrick, a imagem ganhou retoques finais e ganhou a expressão que conhecemos atualmente, em que a foto foi reduzida apenas ao busto de Guevara. O processo de Jim garantiu ao retrato que o olhar de Che estivesse voltado para cima. Tendo em vista todo este contexto histórico-cultural foi que Ernesto Guevara ganhou reconhecimento mundial por tudo que lutava, e sua imagem começou a ser usada como um expoente dos ideais esquerdistas trata-se então de um representante nato do movimento anticapitalista. Mas os anos se passaram, e a síntese da utilização da imagem de Che foi se perdendo aos poucos e este começou a ser visto com outros olhos, sua fama como revolucionário continua até os dias de hoje, mas muito do que continha na essência de seus pensamentos parece ter sumido no decorrer do tempo. A imagem foi descaracterizada e pode ser vista em diversos materiais de diferentes formas e tamanhos, está presente em camisetas, bandeiras, biquínis, quadros, bottons entre outros. Alguns monumentos e obras são realmente voltados para a vida levada por Guevara e revelam a luta deste argentino que se destacou em Cuba. Estes, se utilizam da imagem para resgatar a tradição deste personagem que se construiu em torno da figura de um homem como qualquer outro, mas que deixou lições através de seu caminho percorrido. 24 3 ANÁLISES DA PESQUISA DOCUMENTAL 3.1 ANÁLISE DA IMAGEM DE CHE GUEVARA A PARTIR DAS TEORIAS FRANKFURTIANAS E AS TEORIAS DE PAREYSON E UMBERTO ECO. A clássica fotografia de Che Guevara é um exemplo claro de uma obra – esta de cunho político e não artístico – que sofreu reificação. Podemos encontrar a foto em camisetas, objetos de decoração, adesivos para carro, entre muitos outros exemplos. A publicidade é inegavelmente a principal culpada desse processo, vendendo uma idéia e não o personagem em si. Idéia esta, errônea, uma vez que o publico consumidor (em sua maioria jovens) da imagem do revolucionário não possui um conhecimento sobre quem ele é e qual sua história. A compra ocorre pela idéia que a foto passa de rebeldia e luta contra desigualdades. A reprodutibilidade técnica forçou sua entrada no mundo da arte lentamente. No Renascimento, pinturas e esculturas famosas já eram reproduzidas pelos aprendizes de grandes artistas como forma de aprendizado. Na Grécia Antiga, a reprodução começou com as moedas. A xilogravura e a impressão foram os primeiros passos das artes gráficas. A fotografia, por sua vez, revolucionou o processo de reprodução, já que agora o homem dependia apenas do olho para reproduzir uma obra. A partir do século XX, a fotografia deixou o campo da reprodução apenas, e começou a conquistar seu próprio espaço como arte propriamente dita. Além disso, também nos proporcionou uma visão das artes de forma nunca antes possível, utilizando recursos como a ampliação ou captação por ângulos diferenciados. Levando em conta a noção de aura de Benjamin, formada pelo aqui e agora da obra, atingimos um impasse: a reprodutibilidade técnica realmente eleva o poder expositório de uma obra, mas isso faz com que se perca a aura? Se tratando de fotografia, o pensador considera uma total inexistê ncia de aura, exceto naquelas em que é representado o rosto humano. Nesse caso, a aura deixa de se expor na obra, sendo os que a percebem e são impactados por ela aqueles que darão o cunho de autenticidade e unicidade necessárias. A fotografia de Che passou por inúmeros processos de estilização e quem a consome hoje não conhece seu verdadeiro 25 significado. Mas é inegável dizer que o valor de culto da imagem se elevou uma vez que também subiu a sua divulgação. Che Guevara hoje pode não ser aclamado por seus ideais, mas o poder de reflexão que sua imagem possui não pode ser negado. Seu caráter original, inclusive, não se perde totalmente, se considerarmos aqueles que o conhecem a partir da foto e, depois disso procuram avaliar o motivo de tanta fama. Benjamin admite em seus estudos que a forma como o homem aprecia as obras de arte alteraram-se ao longo do tempo. Pinturas e esculturas eram analisadas com outros olhos, levando-se em conta principalmente seu caráter místico e espiritual. Hoje, a percepção humana alterou-se e também as maneiras de se expressar a arte. A fotografia é uma forma artística instalada em outro nível. Dessa forma, não cabe à reprodução fotográfica o mesmo tipo de reflexão que um dia elevou a arte para o patamar de sagrado. Dentro de suas próprias limitações, tanto artísticas como em relação à forma de apreciação, a fotografia de Che Guevara é uma das poucas hoje em dia que pode produzir uma sensação semelhante àquela sentida no renascimento, com a contemplação de uma escultura de Michelangelo, por exemplo. Enfim, a representação de Guevara pode ter perdido seu caráter e proposta iniciais, porém, a crítica e o sentimento ainda persistem. Apesar do conceito da perda da aura de Benjamin se encontrar um tanto antiquado para as expressões artísticas atuais, é impossível não pontuar que o pensador estava correto quando diz que a sociedade atual se importa apenas com o valor estético de uma obra e deseja lucrar em cima dela. A própria população, com o impulso de adquirir qualquer coisa denominada “única” participa ativamente desse processo, movida pelo desejo de diferenciação e status. Para aqueles que não possuem poder aquisitivo elevado (uma vez que mesmo a reprodução de um quadro famoso já tem um custo superior, sob a justificativa do conceito do “único”), os meios de comunicação de massa trouxeram a solução. A televisão e a internet, principalmente, nos trazem todas as obras, na velocidade de um clique. Devemos sempre lembrar, que dessa forma a arte se tornou mais democrática e acessível. Porém, são tantas obras expostas que o espectador não consegue analisar cada uma de maneira reflexiva. Isso também ocorreu com a fotografia de Che. Tornou-se apenas mais uma maneira de se obter lucro, relevando quem foi a pessoa que se encontra na foto. Por outro lado, aqueles que consomem a obra não podem ser subestimados como uma população totalmente alienada, que apenas compra e não pensa. O publico que consome os produtos exibindo a obra tira suas próprias 26 conclusões a respeito do que ela representa, independe nte do contexto em que se insira. É a partir desse conceito da interpretação do publico impactado pela imagem que podemos considerar a fotografia de Guevara como uma alegoria. A alegoria é ainda nos conceitos de Benjamin uma rede de relações, significados e metáforas que busca encontrar o receptor em sua subjetividade. Na representação em questão, a idéia de uma alegoria encaixa perfeitamente com a forma que o público realiza a interação. Não é possível compreender toda a polêmica e história que a imagem possui rapidamente, mas torna os fatos passiveis de interpretações. Como foi citado, referente à perda de “Aura” de Benjamin, através da reprodutibilidade técnica, podemos citar a Estética da formatividade de Luige Pareyson, esclarecida no livro A definição da arte de Umberto Eco. Nele a um contraponto com a teoria de Benjamin, em que a arte tem uma concepção idealista visual e se opõe do conceito de arte como forma, em que o termo forma tem significado de organismo. (ECO, 2000, p.14). Em nosso estudo, a imagem do Che Guevara, como fotografia é o organismo, a forma. A imagem do Che Guevara, especificamente a sua foto mais famosa, tirada por Alberto Korda, o “Guerrero Heróico”, reafirma o que Eco diz sobre a teoria de Pareyson, ali está inserido o estilo do fotógrafo e alterações para reprodução da imagem por Fitzgerard, revelando a sua personalidade formadora. Ao contrário do que Benjamin diz sobre a perda de “Aura” devido a reprodutibilidade técnica, ao colocarmos novos receptores para as imagens de Che Guevara, segundo Eco, damos mais vida a “obra”, e cada interpretação é provida de uma bagagem adquirida anteriormente por quem a olha, dando novas dimensões ao seu modo de ver e entender o objeto admirado. O que Umberto Eco quer dizer, exemplificando a sua teoria com a foto do Che Guevara, tirada por Korda, é que pela imagem podemos analisar o estilo que o fotógrafo impõe a sua fotografia e que dados sociológicos servem e de estrutura para entender o contexto da mensagem da fotografia. Contexto do qual aborda Roland Barthes, em Mitologias, é difícil dizer que uma fotografia é a reprodução do que o fotografo tirou, pois confirmando a teoria da formatividade de Pareyson, uma obra é provida de uma infinidade de interpretações e o que o seu autor quis passar pode distorcer ao longo da história. A teoria da formatividade de Pareyson e a teoria da reprodutibilidade técnica e perda da “aura” de Benjamin, são base fundamental para analisar o nosso objeto 27 de estudo, Che Guevara e sua imagem. Um dos lados da polaridade das personalidades citada por Eco é o lado de cada um de nós que olhamos para a imagem do Che, a cada interpretação feita, e identificar se realmente perdemos a magia, a “Aura”da obra, segundo Benjamin, ou mantemos essa imagem viva, vendo e analisando sempre com diferentes pontos de vista de cada intérprete. Podemos fazer uma analogia do conceito de Umberto Eco com a reprodução da imagem de Che Guevara, especificamente a imagem fotografada por Korda e que repercutiu após cair nas mãos de Jim Fitzpatrick em 1968 e sua distribuição para o mundo. Assunto que será abordado no próximo capítulo. Eco diz que não são apenas as exigências incônscias criam um mito, mas também as exigências cônscias de uma pedagogia paternalista que promovem uma persuasão oculta motivada por fins lucrativos. (ECO, 2000, p.243) A afirmação de que a fotografia famosa de Che Guevara sofreu reificação a partir de processos como a reprodutibilidade técnica é inegável. Porém, precisamos considerar a perspectiva de que tal processo não foi de todo ruim. A proposta inicial da imagem, que era documentar uma revolução sem dúvida foi perdido, mas abriu um leque de outras reflexões e possibilidades. A fotografia hoje reflete o sentimento de rebeldia e luta contra os mais diferentes tipos de desigualdades (social, racial, etc.). Por mais que a principal meta de quem a divulgou fosse realizar um grande número de vendas e lucrar, o que deve ser levado em conta é que há um rosto humano na imagem. E isso já a exclui da perda de aura. Além disso, não podemos excluir as pessoas que a recebem. No final, são elas que elevam o valor de culto de uma imagem, independente do seu valor expositório. Vimos neste capitulo que a teoria de Walter Benjamin sobre a reprodutibilidade técnica diz que uma obra ao sofrer uma exposição excessiva aumenta a sua visualização, porém enfraquece e chega a ter a perda de seu valor de culto. E após um período em que a reprodução foi aumentando a obra perdeu a sua originalidade e dependia exclusivamente dos olhos do observador. Por outro lado Luigi Pareyson nos disse que a reprodução de uma obra a torna mais interessante, na sua Teoria da Formatividade, que consiste na formação da obra ligada ao interpretador e ao autor fica creditado o seu estilo. O contraste entre as duas teorias e as outras citadas anteriormente, servem de base teórica para descobrirmos o que realmente representa a imagem do 28 revolucionário Che Guevara, este que vamos conhecer sobre a sua vida e trajetória política a seguir. 3.2 CHE GUEVARA Che Guevara ganhou as ruas e a popularidade após a sua morte com a propagação de cartazes, panfletos e músicas a seu respeito (capítulo X). Como Peter Burke diz no seu livro Testemunha Ocular, as imagens e construções de líderes como Napoleão, Luís XV e Augusto são carregadas de elementos ilustrativos que remetem ao poder. O uso de certas vestimentas em quadros, ou estátuas elevam os personagens retratados a pilares superiores. No livro, Peter Burke cita várias obras, entre elas a estátua do Imperador Augusto, o líder aparece em tamanho maior que o natural, usando roupas de guerra, portando uma lança ou estandarte e, principalmente, pés descalços, uma alusão a divindade (BURKE, 2004, p. 63). Os detalhes formam o arranjo visual e contam a história, na introdução de seu livro, o autor nos diz que imagens (quadros, estátuas, retratos) podem falar mais alto do que arquivos e documentos, elas mostram como os líderes eram vistos. Quadros de Stalin o apresentava contemplando o horizonte, o futuro, assim como na foto O Guerreiro Heróico, tirada por Alberto Korda (ANEXO B). A técnica da fotografia começou a ser discutida numa conferência realizada em 1888, era dito que a nova tecnologia seria “a melhor forma possível de retratar nossas terras, prédios e maneiras de viver” ((BURKE, 2004, p. 25), mas como sabemos as fotos não relatam necessariamente o real. Há várias fotos que mostram algo que não necessariamente condiz com a verdade. Uma imagem muito famosa, produzida por Robert Capa que mostrava a morte de um soldado durante a guerra civil espanhola foi muito contestada pela sua autenticidade, assim como fotos da guerra civil americana em que aparecem soldados mortos, alguns dos corpos seriam de soldados vivos “representando” para a imagem (BURKE, 2004, p. 28). A foto tirada por Korda também é uma montagem. É uma representação. Primeiramente ela foi recortada, dando ênfase a expressão de Che, os acessórios também trabalham nesse sentido de representar o personagem e a sua causa, como por exemplo sua roupa de soldado, a boina, seu aspecto sério e a barba por fazer. Por mais que ela tenha sido tirada em um espaço curto de tempo, ela se torna uma 29 montagem principalmente pelo seu quesito atemporal, citado acima. A imagem é a própria representação do homem revolucionário. Durante os anos pós revolução, Ernesto e, principalmente, Fidel sempre tiveram fotógrafos por perto para mostrar como funcionava o regime cubano. Che Guevara foi algumas vezes retratado como um homem do povo, trabalhador, cortando cana e empurrando carrinho de mão. Peter Burker diz: “Sejam eles pintados ou fotografados, os retratos registram não tanto a realidade social, mas ilusões sociais, não a vida comum, mas performances especiais”. Essas fotos eram usadas em reportagens pró regime para sustentar a idéia de que todo homem devia trabalhar, não importando sua posição, se fosse preciso ir para o campo, ele devia ir. Há uma construção idealizada de sua imagem desde o seu principal retrato até suas músicas e filmes que foram produzidos para contar a história desse grande personagem do século XX. Nascia na data de 14 de setembro de 1928, na capital cubana, Havana, Alberto Díaz Gutiérrez. Sua trajetória como fotógrafo teve início com serviços prestados em ocasiões como banquetes, batismos e casamentos, de onde retornava ao estúdio, revelava e vendia as fotos aos que desejassem pequenas lembranças, este trabalho era reconhecido como lambio. Suas fotos tinham qualidade medíocre, o papel amarelava em pouco tempo e os rostos desbotavam. Passada esta fase, abriu um estúdio com a parceria de um companheiro chamado Luis Pierce. O nome do estúdio era derivado do sobrenome de dois diretores do cinema húngaro, Alexander e Zoltan, cujos filmes estavam sendo exibidos em Havana nesta época. O estúdio se intitulava Korda, como Alberto viria a ser reconhecido adiante em homenagem aos diretores e também como referência à marca Kodak. A partir daí, Alberto dedicou-se majoritariamente à fotografia de moda, pois dizia que unia suas duas paixões, a beleza feminina e a fotografia. Posteriormente, para sobreviver, dedicou-se também a fotografar para trabalhos publicitários. Como ninguém fazia estes gêneros de fotos no país, tornou-se o pioneiro das fotografias de moda e publicitárias em Cuba. No início dos trabalhos de moda, Korda tinha dificuldade em achar modelos que pudessem impressionar as outras mulheres, pois era esse o objetivo principal. As modelos eram pequenas, gordinhas, com quadris e seios grandes, até encontrar Norka. 30 Por volta de seus 30 anos idade, Alberto presenciou a revolução. Certo dia fotografou uma menina de olhos profundos e entristecidos, claramente afetada pela pobreza, cujo braço esquerdo envolvia-se como num abraço ou na apreensão de não poder perder de vista talvez o seu único brinquedo, um pedaço de madeira envolto em papel rasgado, como se fosse uma boneca, a qual não conhecia o significado de deter. Ao presenciar tal cena, Korda se viu na luta pela supressão das desigualdades sociais presentes em Cuba, e então, dedicou-se à revolução liderada por Fidel Castro. Após a vitória dos revolucionários, Alberto foi chamado para fazer parte do novo jornal Revolución, diferente de todos os outros até o momento, contava com enormes títulos em negrito e muitas fotografias para detalhar os eventos em Cuba. Quando Fidel esteve nos EUA, em 1959, Korda fez parte da equipe encarregada da cobertura do evento, sendo uma de suas primeiras fotografias de Castro uma visita ao Memorial de Lincoln, em Washington, acompanhou também o comandante em todas as suas viagens por Cuba e ao exterior, particularmente durante sua estadia na União Soviética, em 1963 e 1964. Durante a revolução, por várias vezes os fotógrafos se encontravam longe de seus estúdios, mas precisavam revelar as fotos, pois sabiam que iriam ser publicadas já no dia seguinte. Sendo assim, muitas vezes revelavam as fotos nos banheiros dos hotéis, com uma solução que haviam inventado, com a mistura de químicas que vinham do Japão, União Soviética e Tchecoslováquia. Alberto Korda permaneceu como fotógrafo de Fidel por 10 anos. Che não gostava de ser fotografado, por várias vezes pedia as câmeras aos fotógrafos para percorrer o filme inteiro vendo o que tinha nele. Certa vez, ao se apresentar para a realização de uma entrevista com Ernesto, Korda foi indagado se alguma vez havia cortado cana. Como a resposta foi negativa, Che lhe deu a escolha de cortar cana por uma semana para poder fotografá-lo. O trabalho foi aceito e ao final deste período, finalmente, Alberto poderia fotografar Guevara. Entre este período, precisamente no dia 4 de março de 1960, aproximadamente quinze meses depois do triunfo da revolução, ocorreu no porto de Havana a explosão do navio francês La Coubre. Foi este, o maior atentado terrorista da época e que por vários motivos se acreditava estar diretamente ligado a CIA (Central de Inteligência Americana). Na ocasião, mais de cem pessoas foram mortas, mais de duzentas feridas e inúmeros desaparecidos. 31 O navio continha importante carregamento de material bélico comprado da Bélgica no último trimestre de 1958 e havia chegado ao porto de Havana por volta das oito horas (horário local). A carga seria entregue pelo governo devido ao compromisso comercial com a maior das Antilhas, mesmo com as pressões norteamericanas que partiam de Washington para impedir quaisquer tipos de compra e venda com Cuba. Por volta das quinze horas (horário local), houve a primeira explosão, e após alguns minutos, outra explosão, cujo saldo de mortos e feridos foi bem maior, pois havia centenas de pessoas que socorriam os feridos da primeira tragédia. Várias investigações foram feitas, e a culpa pelo atentado terrorista era atribuída aos norte-americanos, especificamente agentes da CIA. Os resultados das investigações afirmavam que se tratava de uma sabotagem preparada em algum ponto do embarque ou da travessia. Estranhamente, o navio contava com a presença de um passageiro norteamericano solitário, o jornalista Donald Lee Chapman, cujo destino principal era o estado de Nebraska, mas o cargueiro acabou por deixá-lo em Miami, no estado da Flórida cuja distância é surpreendentemente enorme. Algumas suspeitas ainda intrigam um grande número de pessoas, e levam a crer que as autoridades norteamericanas esconderam informações sobre este atentado por mais de quatro décadas, reforçando ainda mais a confirmação de sua participação neste episódio terrorista. No dia posterior, 5 de março de 1960, Korda fotografava para o jornal Revolución, fazendo a cobertura do memorial dedicado às vítimas da explosão do navio francês. Diante de um palanque, inúmeras autoridades cubanas, dentre as quais se fazia a presença de Che Guevara, que também como médico havia passado o dia do atentado auxiliando e protegendo a população, além deles, convidados como os escritores Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Durante a cerimônia, Fidel Castro se pronunciava e entre suas palavras ficou marcado o lema “Pátria ou Morte!”. Enquanto isso, Alberto Korda percorria com sua simples objetiva de 90 mm por todos os presentes na estrutura acima de si. Ao menor movimento, Che Guevara caminhou até a beira para passar os olhos pelos semblantes da população, e logo em seguida retornar ao segundo plano. Neste breve espaço de tempo, Korda teve tempo para tirar somente duas fotografias de Ernesto, a primeira 32 com a câmera na posição horizontal, achou que poderia melhorar a foto, por isso tirou a segunda na posição vertical. Lembra-se Korda: “Che havia permanecido em segundo plano. Se ergueu para olhar o mar de gente. Tinha ele em minha objetiva, tirei um e logo outro negativo, e nesse momento Che se retirou. Tudo ocorreu em meio minuto.” Aquela era uma manhã nublada, Che usava uma jaqueta verde claro e preta, fechada até o pescoço, usava sua boina com uma estrela e no momento em que a fotografia foi tirada, estava com um olhar penetrante. A foto não tinha grandes pretensões e acabou não sendo publicada no Revolución no dia seguinte ao evento, e foi guardada como arquivo pessoal, assim como o negativo. Korda ainda retirou alguns elementos da fotografia, uma palmeira situada do lado esquerdo de Che, e um perfil do lado direito. Seu objetivo, como fotógrafo de moda, era criar um retrato bonito e consistente. Este ato de Korda retirou todo o contexto histórico que envolvia o momento em que a foto foi tirada, e por esta razão, não estava mais situada no tempo e espaço, era apenas um retrato de Che. A publicação desta fotografia só ocorreu quase um ano depois, em 15 de abril de 1961, véspera da invasão da Baía dos Porcos, acompanhando um pequeno artigo que anunciava a conferência televisionada que Ernesto faria como Ministro da Indústria. Após esta aparição, em agosto de 1967, enquanto corriam notícias e dúvidas sobre o desaparecimento de Che, a revista Paris Match publicou esta mesma fotografia em página inteira, sem nenhum crédito, apenas com uma legenda dizendo ser uma foto oficial do comandante Che Guevara. Juntamente com ela, na página da esquerda, havia uma matéria cujo título era “Onde está Che?” que continha uma foto da Praça da Revolução, em Havana, repleta de pessoas. Dentre elas, alguém segurava um pôster cuja foto era a de Alberto Korda. Algumas pistas levavam a confecção daquele pôster a Feltrinelli, um editor esquerdista bastante famoso em Milão naquela época. Feltrinelli havia estado em Cuba, de onde ligou para Korda a fim de conseguir algumas fotos de Che. Recebeu algumas cópias e decidiu utilizar aquela imagem de Che para confeccionar milhares de pôsteres, vendidos ou distribuídos pela Europa. No ano de 1967, Che se encontrava na Bolívia, onde foi cercado e capturado no dia 8 de outubro, executado no dia seguinte na aldeia de La Higuera. Neste momento, morria um homem e nascia de sua admiração, a foto que iria lhe 33 representar por todos os anos subseqüentes, que seria a mais reproduzida em toda a história da fotografia mundial. No dia do funeral de Che em Cuba, estava uma multidão reunida na Praça da Revolução, ouvindo o discurso de Fidel Castro com a bandeira em meio mastro e surpreendentemente uma grande foto do guerrilheiro assassinado, que por alguma razão, era a fotografia tirada por Alberto Korda no dia seguinte ao atentado do La Coubre, com a morte de Che, aquela fotografia em especial o representava quando ainda estava vivo. O ano seguinte à morte de Che Guevara foi chamado de “Ano do Guerrilheiro Heróico”, e a partir desta denominação, Korda intitulou aquela fotografia como “Guerrilheiro Heróico”. A partir do incidente com Che, vários artistas se apoderaram da fotografia para fazer diversos pôsteres. Guevara se tornaria um ícone universal de luta, com sua imagem bastante popular e facilmente reconhecível, que detinha muito poder em seu semblante e servia de inspiração, um exemplo a ser seguido. Em Paris, em maio do ano de 1968 ocorreram grandes protestos dos estudantes, com a construção de barricadas para enfrentar a polícia local. A França dos anos de 60, sob o comando do general Charles De Gaulle, era uma sociedade culturalmente conservadora e fechada, vivendo ainda o reflexo das perdas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial. As escolas tratavam as crianças com severidade, as mulheres pediam autorizações aos maridos e a homossexualidade era diagnosticada como uma doença. As manifestações buscavam aflorar na sociedade, sintomas de liberdade e igualdade. O Maio francês repercutiu rapidamente entre os países do mundo, principalmente os europeus, de uma forma direta e imediata. A partir dali, várias universidades foram ocupadas, e ocorreu a expansão das mobilizações entre os trabalhadores europeus e latino-americanos, em muitos casos em aliança com os estudantes. Além destes protestos, surgiram várias frases e idéias bastante contundentes, que apareciam em cartazes, pôsteres e pichações. As frases tinham caráter político, de revolução, a favor da liberdade, contra o poder e a universidade entre outros temas. Frases como “É proibido proibir”, “A revolução deve ser feita nos homens, antes de ser feita nas coisas”, “Abaixo a Universidade” e “Abaixo os jornalistas e todos os que os querem manipular” surgiram neste movimento. Foi então nesta época que a imagem de Che 34 teve uma explosão de aparições com notável caráter político, se espalhando rapidamente na medida em que pôsteres são facilmente reproduzidos. Cada reprodução tinha diferentes significados e o ponto de partida para as mudanças artísticas foi quando o irlandês Jim Fitzpatrick se utilizou da arte pop para adaptar a imagem aos seus interesses, em 1969. Jim conseguiu a foto enquanto ela passava entre mãos, vinda originalmente de uma visita de Jean-Paul Sartre a Cuba, onde Alberto Korda havia lhe dado uma cópia. Chegando às mãos de Jim, foram feitas algumas substituições e certos elementos foram retirados e transformados no mais famoso pôster de Che Guevara com o objetivo de esquecer as fotos publicadas quando fora assassinado e de que deveria ser lembrado pelo homem corajoso que era. Recorda-se Jim: "O pôster de Che Guevara se tornou um fenômeno mundial e causou indignação em todos os lugares que ele aparecia. Porque os diversos cartazes de Che que produzi foram baseados em uma fotografia tirada por um fotógrafo cubano então desconhecido, e mais o fato de que eu tinha encontrado o conhecido, o idolatrava e, claro, queria ter certeza de que ele nunca seria esquecido, fiz todas as imagens de Gueva ra livres de direitos autorais, e foi assim que se espalhou por toda parte tão depressa.” A partir daí, esta imagem deixou de ser associada diretamente a Cuba ou apenas ao personagem de Che, havia nela um fundo com ideais repletos de mudança e força, que passavam a ser cada vez mais crentes de que aquele homem não tinha sido morto em vão, que representava uma ideologia rebelde. Com esta reprodução massiva e de sua visível significância, a imagem ganhou por parte de grande número de pessoas a capacidade de se apossar dela para quaisquer fins. Fidel era comunista, sendo assim, Cuba rejeitava as leis internacionais de direitos autorais, não se acreditava nisso, as imagens e idéias não tinham donos, eram feitas para serem compartilhadas. Desta forma, a reprodução do pôster de Che Guevara não barrava em nenhum empecilho, poderia ser utilizado de qualquer maneira, era uma imagem livre e a esta multiplicação se deve o fato de ter sido tão conhecida em todas as partes do mundo. A década de 60 havia vivido o auge da movimentação da juventude, que começaram a contrariar a política de consumo vigente até então. Em meio a isso, o movimento artístico que causava maior impacto era a Pop Art, que tinha como claro objetivo a ironia crítica pelo bombardeamento do consumismo, que empurrava os objetivos à sociedade. Utilizava-se de materiais como tinta acrílica, poliéster, látex, 35 produtos de cores vibrantes, transformando objetos reais em hiper-reais. Mas ao mesmo tempo em que se apoiava nas críticas, a Pop Art precisava destes objetos de consumo do cotidiano popular para se consolidar, aproximando este estilo de pintura da população de massa. Seus principais artistas foram: Robert Rauschenberg, Roy Lichtenstein e Andy Warhol. Desta forma, a combinação entre a fotografia de Korda com a Pop Art e a retirada de luz e sombra, tornaram a imagem no estilo de Andy Warhol, que permite a todos os que o vêem diversas formas de interpretá-la. A maneira como está disposta abre caminho para uso da imaginação, pode representar qualquer ser humano de diferentes etnias, com inumeráveis objetivos, em determinadas ocasiões, é o simbolismo de tudo e todos. Mas essa reprodução excessiva levou Alberto Korda a procurar no fim dos anos 90 um advogado em busca dos direitos pelo uso da imagem, que até então não tinha nenhum reconhecimento seu, e mais ainda, poderia ser vista com direitos ligados a Feltrinelli. O ato era resultado de um esforço para proteger a imagem de Che, o que ele representa e impedir a utilização para fins comerciais. Em 2000, Korda ganhou um famoso processo contra a empresa da Vodka Smirnoff, como também já havia vencido contra a empresa que fabrica relógios, Swatch. Segundo Korda: "Usar a imagem de Che Guevara para vender vodka é uma calúnia contra o seu nome e memória. Ele nunca bebeu, ele não era um bêbado, e a bebida não deve ser associada à sua memória imortal... Como defensor dos ideais para os quais Che Guevara morreu, não sou avesso a sua reprodução por aqueles que desejam propagar sua memória e a causa da justiça social em todo o mundo.” A família Guevara pediu que a imagem fosse nacionalizada, para que se tornasse a síntese de Cuba, uma fotografia populista e livre, mas também perdeu um processo contra a família Korda, que preferiu continuar com os direitos como forma de preservação. O fato é que Che Guevara, um ícone das revoluções, símbolo de liberdade, luta e esperança, passou por um processo de construção de sua imagem como objeto de consumo. O sistema capitalista que ele tentou abater é o mesmo que se utiliza de sua história para, mesmo com fins lucrativos, manter sua memória e imagem vivas. Paradoxalmente, quanto mais reproduzida a sua imagem, maior o reconhecimento que lhe traz e a identificação com os mais jovens, mas claramente a representação muitas vezes perde seu contexto político. 36 A figura de Che resiste ao tempo, alguns o consideram um criminoso truculento, enquanto para outros ele simboliza um mártir na luta contra a ditadura em prol de seus ideais a qualquer custo. Há um visível conflito entre a imagem do herói, aventureiro, idealista e outra do vilão, baderneiro e sanguinário. E são nestas questões que se baseia e que compõem a construção do mito Ernesto Che Guevara. A utilização desta imagem com objetivos meramente comerciais fazem o caminho totalmente inverso pelo qual Che defendia. Agora ele já não possui mais vínculos fortes com a política, o fato de ser uma pessoa bastante conhecida faz com que todos os seus ideais sejam desapropriados para tornar -se enfim, apenas uma imagem condizente ao consumo. O que pode explicar esta apropriação é que Che Guevara foi um forte símbolo da contracultura, lutava contra o imperialismo e desejava o idealismo igualitário. Diante da cultura de massa, sua imagem foi vista ligada aos bens de consumo, o que pode resultar que atualmente, muitas pessoas que o consomem não fazem parte desta contracultura, estão apenas sendo i nseridas no modelo da massificação do capitalismo, retirando todo ou grande parte do valor crítico e social que a imagem quer expor. Fazendo dele, parte de uma das maiores ironias do mundo, pois ocorre a utilização de um ser esquerdista, comunista em prol de desejos capitalistas. Alguns exemplos publicitários podem ser facilmente encontrados em relógios, bebidas, até no biquíni da marca Cia. Marítima, vestido por Gisele Bündchen, que contava com o rosto de Che estampado. Ainda assim, existem outros vários exemplos como pôsteres de bandas de rock, camisetas, bonés, bolsas, broches, entre outros acessórios. Atualmente é possível ver uma forte ligação até com o futebol, onde cada vez mais Che Guevara aparece ligado aos torcedores e torcidas. No México, está presente em preservativos, enquanto nos Estados Unidos aparece em caixas de lenços descartáveis, garrafas de vinho na França e maços de cigarro na Espanha. Michael Casey, autor do livro A vida após a morte de Che: o legado de uma imagem se refere ao personagem principal de sua edição. “Che está em toda parte. Na sua forma habitual, como uma abstração de dois tons da famosa fotografia de 1960 de Alberto Korda, sua imagem é, simultaneamente, um poderoso símbolo de resistência no mundo em desenvolvimento, uma bandeira antiglobalização, e um veículo de vendas favorecida entre os executivos de marketing global contratado.” E 37 ainda completa, “As teorias políticas, o oportunismo, a indústria editorial, fotografia, serigrafia, arte pop, design gráfico, informática, internet, leis de direito autoral e comercialização ao consumidor têm colaborado na manutenção da vida após a morte de Che.” Em músicas como a famosa Hasta siempre de Carlos Pueblas, composta em 1965, ano em que Che deixa Cuba, como resposta à carta anunciando sua partida e rememorando e glorificando os feitos da revolução. Ali Primera, cantor venezuelano compôs a música Comandante Amigo no ano de 1972 exaltando a imortalidade das idéias de Guevara. Outras músicas serão vistas na sequência do trabalho. Mas mesmo sendo construídas, as imagens tem uma relevância histórica. Essas distorções nos mostram as ideologias e padrões sociais ((BURKE, 2004, p. 37). O fotógrafo ou artista acaba retratando como o personagem pensava ou como os outros o viam. Nas músicas fica muito claro todo o apreço que os compositores tinham pelo seu líder, as canções e fotos o mostram como um ser superior, forte e determinado, próximo ao povo, afetuoso e simples. A propagação de sua imagem e ideais nas décadas de 60 e 70 fez com que milhares de jovens se identificassem e se projetassem na imagem do revolucionário. Guevara passa a ser o símbolo máximo do espírito contestador. Baseando-se em Umberto Eco podemos ver elementos da mitificação presente em Guevara como, por exemplo, as suas diferentes personalidades retratadas em filmes. Em Diários de motocicleta (2004), o Ernesto Guevara de La Serna que é apresentado é muito diferente do Comandante Che mostrado no filme Che: O argentino (2008) e no filme sequência, Che: Guerrilha (2008). No primeiro, ele é um estudante de medicina que para a faculdade e vai viajar com seu amigo pela América Latina e encontra toda a opressão e exploração sofrida pelos povos latinos. Che é um médico jovem, idealista e aparentemente pacifista que atende comunidades indígenas enquanto viaja. No segundo e terceiro, Che já é um guerreiro, que corre atrás da revolução armada contra o chamado imperialismo das grandes potências. Tem um rosto mais duro e pesado. Executa seus adversários e faz da força grande aliada na luta pela libertação dos povos oprimidos. No terceiro filme, Che já é mostrado como um guerreiro consagrado que busca novos desafios e locais para espalhar seus ideais e lutas, mas também mostra um guerreiro já cansado e desacreditado na Bolívia, onde não consegue o apoio esperado. No filme Fidel (2002), é apresentado um recorte da 38 revolução cubana e do período pós revolução até o ano de 2002. Nesse longa, a imagem que se tem do revolucionário é parecida com a dos filmes mais recentes (O argentino e A guerrilha), um soldado implacável e cruel com seus adversários e humano com as pessoas que precisam e o apóiam mas mostra também todo o apreço do povo cubano para com seu “comandante”, uma glorificação do grande guerreiro e grande homem que lutou e morreu pelo povo. As músicas sobre Che Guevara têm conotações distintas e mostram uma pessoa diferente dependendo do compositor. Ele ganha aspectos divinos na música Hasta Siempre, de Carlos Pueblas, citado acima, [...]Tu mano gloriosa y forte sobre la história, dispara cuando todo Santa Clara se depierta para verte Vienes quemando la bris, a con soles de primavera para plantar la bandera, con la luz de tu sonrisa.[...]. A letra completa da música Hasta Siempre encontra-se em anexo (ANEXO C). Na música Comandante Amigo, Che vira um mártir da revolução e tem a promessa do compositor de que sua obra continuará e será perpetuada pelas novas gerações: [...] Comandante te matarón, pero em nosotros dejarón, para siempre tu memória, plasmada en moldes de glória[...]. A letra completa da música Comandante Amigo encontra-se em anexo (ANEXO D). Na voz do francês Matio, os ideais de Guevara são bradados, dessa vez numa música dura, que mostra a face mais radical, da luta armada pela liberdade e unificação de toda a América Latina. [...] Ay, Che camino, pátria morte es mi destino, Ay, Che camino, pátria morte es mi destino, Mañana cuando yo muera, oigan queridos hermanos, quiero uma América entera, con el fuzil en la mano[...]. A letra completa da música Comandante Amigo encontra-se em anexo (ANEXO E). Na canção Siembra tu luz do argentino Miguel Ángel Filipini, Che é lembrado como médico, como defensor da educação. Não se fala de violência física, mas sim de esperança e sonhos. [...]Más que un símbolo, tu nombre, es un río que hace mares, es un volcan que no duerme, es un silencio que me arde, es tiempo de arar la vida, con el filo de la es pada, la que ahuyenta el sufrimiento, sólo a golpes de esperanza, cómo curar las heridas, si hay dolor en las miradas, porque no le quedan sueños, a esa lluvia enamorada, la que llora por los hijosEse pan que nunca alcanza, porque no s e hinc ho en el horno, de un ingenioso mañana[...]. 39 A letra completa da música Siembra tu luz encontra-se em anexo (ANEXO F). Mas qual desses é o verdadeiro Ernesto “Che” Guevara de La Serna? Ninguém sabe. Talvez nem mesmo o próprio Che soubesse responder essa pergunta. Como foi dito anteriormente no trabalho, quando o filósofo francês Pareyson e sua teoria da formatividade foram citados, há margem para interpretação das imagens, músicas e filmes criados a partir da história desse grande homem do século XX. Mas estando exposto a tudo isso, queremos saber como o jovem curitibano, exposto a todas essas informações, sabe, pensa ou sente com relação a Guevara. 4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO Realizamos uma pesquisa qualitativa com 30 pessoas, de 18 a 25 anos, mulheres e homens da cidade de Curitiba. A pesquisa tinha a finalidade de descobrir a resposta para o nosso tema de pesquisa que é “A percepção da imagem do Che Guevara pelos jovens de 18 a 25 anos após a sua reificação e apropriação da mídia atualmente” (ANEXO G). Para que se possa entender a visão que as pessoas tem à respeito da imagem de Ernesto Che Guevara, foi realizado uma pesquisa com jovens de 18 a 25 anos com pergunta à respeito do Che. Essas perguntas foram feitas com o objetivo de confrontar o que os jovens dos anos 60 e 70 conheciam de Che, com os que os de hoje conhecem. A pesquisa foi realizada com 30 pessoas, homens e mulheres escolhida aleatoriamente na cidade de Curitiba, entre os dias 13 e 14 de setembro. 40 Ao analisar as respostas, todos os entrevistados tinham obrigatoriamente entre 18 e 25 anos. As profissões de cada um dos 30 entrevistados variavam entre: empresários, estudantes de direito, jovens sem ocupação na vida, estudante de bio medicina, um auxiliar administrativo, estudantes de design, estudantes de engenharia, um estudante de publicidade, um engenheiro elétrico. Após ser feita a primeira pergunta, na qual o entrevistado era questionado se ele já havia visto a foto, 29 responderam sim, e apenas uma pessoa respondeu não. A segunda pergunta também seguiu a tendência de respostas da primeira, 29 dos entrevistados que já viram a foto, falaram que a pessoa da foto era Ernesto Che Guevara, ou só Che Guevara ou só Che. A terceira pergunta, que era à respeito do que Che Guevara fez na s ua vida, ocorreram diversas respostas, entre elas: difundir o socialismo em Cuba; revolta com o funcionamento da sociedade consumistas; era um militar que participou de algum movimento; ajudou um monte de pessoas; era um médico; revolucionou Cuba e causou muitos assassinatos; foi um revolucionário; estudou medicina, foi viajar, entrou para a milícia, trabalhou num hospital de leprosos. As respostas giraram em torno das palavras „revolução‟ e „Cuba‟. Das 30 pessoas entrevistadas, apenas duas não souberam responder essa pergunta. A quarta pergunta era à respeito de onde Che Guevara nasceu, as respostas foram as seguintes: Cuba; Argentina; não sei; na América do Sul. Entre os 30 entrevistados, 10 responderam que Che nasceu na Argentina, 5 responderam que ele nasceu em Cuba, 5 sabiam que era na América do Sul, mas sem saber exatamente o lugar e 10 pessoas não sabiam responder. A quinta pergunta era se a pessoa conhecia a foto que estava sendo mostra, que era a foto clássica de Che, tirado por Alberto Korda. Apenas 1 dos 30 entrevistados também não conhecia a foto. A sexta pergunta foi onde o entrevistado viu a foto, as respostas foram: camisetas, jornais, revista, internet, mídia, televisão, pichações em muro, bandana, revista, livro, bonés, apostilas de ensino médio, bótons, stickers, stencil, bandeiras, faixas de alguns movimentos, chaveiros e em bares. De todas essas citadas, camisetas e botons foram as que mais apareceram. Seguindo a tendência, o entrevistado que não conhecia a foto e não conhecia Che, também foi o único que respondeu que nunca tinha visto. 41 A sétima pergunta era sobre a frequência com que se vê a imagem mostrada. 14 pessoas responderam que não veem a foto, 6 pessoas que veem frequentemente e 10 pessoas que veem frequentemente. A oitava pergunta era sobre onde o entrevistado geralmente via a foto, seguindo a resposta da 6ª pergunta, internet e camisetas foram as maiores respostas. A nona pergunta era sobre quem tirou a foto, 29 pessoas responderam que não sabiam e uma respondeu que foi J.R. Duran. A décima pergunta era sobre o que a pessoa da foto te representa, as respostas foram diversas, entre elas: o povo cubano; liberdade de pensamento e expressão; um líder; respeito; revolução; um porco comunista; pessoa que lutou por algum ideal; um soldado; a luta de classes na América Latina contra o monopólio dos Estados Unidos; a luta pela liberdade. 5 pessoas responderam que não representada nada e outras 5 não souberam responder. A décima primeira pergunta era sobre o porquê que a foto era famosa, se a pessoa sabia. 20 pessoas não souberam responder e 10 pessoas responderam: por causa do movimento que ele participou; por causa da revolução; porque ele era um símbolo da revolução comunista; porque ele devia estar lutando no momento da foto; porque foi tirada no auge da revolução. A última pergunta foi sobre o sentimento que o entrevistado tem ao ver a foto, as respostas foram: sentimento de luta; coragem, liderança; ódio; sentimento de orgulho e de luta; esperança; curiosidade de saber para onde ele está olhando no momento da foto; sentimento de que as pessoas poderiam mudar mais coisas; sentimento de vitória; clichê e djavu. Metade das pessoas que responderam as perguntas, falaram que não sentem nada. Essa pesquisa serviu para que se tomasse conhecimento do que os jovens de hoje em dia pensam e sabem sobre Che Guevara. Pode-se constatar que grandes partes dos jovens não se interessaram em conhecer sobre Che Guevara, e que grande parte conhece mais por causa do uso da imagem em outros campos que não são a história e a luta pela revolução. 42 5 CONCLUSÃO Após analisar duas frentes de teorias, uma que consiste em uma perda de aura que uma obra sofre após a sua reprodução e outra que afirma que a reprodução da arte a torna mais interessante, pois a leva para um maior número de receptores, verificamos uma oposição entre pensamentos, que servi u de base para entendermos o nosso resultado de pesquisa. Uma teoria diz que a análise de uma obra deve ser autêntica e única e que se for realizada no local original onde a obra se encontra acontece um fenômeno chamado de “atrofia de experiência”, ou seja, o importante é ver a obra e ter uma experiência estética única, algo que não acontece caso haja uma reprodução técnica dessa obra. A outra teoria contraria a primeira e é apoiada por outras teorias, que consiste em ver a reprodução como algo positivo para a obra. Além de torná-la conhecida, despertando o interesse dos receptores por assuntos, idéias e culturas novas, essas novas visões ajudam a formar novas obras, dando continuidade e vida a elas. Vimos que a reprodução de milhares de imagens do Che Guevara não o tornou repetitivo e saturado, muito pelo contrário, o tornou conhecido mundialmente como imagem e também como ideologia, mesmo após 50 anos da realização de sua principal fotografia, tirada por Alberto Korda. A partir disso podemos verificar a força da segunda frente de teoria, a teoria da continuidade da vida da imagem, da constante formação de significados a ela atribuída desde a origem da foto até a atualidade. A foto tirada por Korda deu chance ao mundo de conhecer e reverenciar essa grande figura do século XX. Não podemos afirmar com certeza se Ernesto seria tão conhecido e cultuado em todo o mundo se não existisse a mítica foto do dia 5 de março de 1960. Com essas respostas e nossos estudos chegamos ao fim desse trabalho com alguns pontos interessantes. Mesmo após todo o processo de saturação da imagem por conta da indústria cultural, a foto e principalmente a imagem de Che Guevara ainda tem valor de culto, luta e esperança. É claro que após tantos anos e mudanças sociais, econômicas e históricas, as interpretações mudam, mas não há uma perda da aura, ou mesmo uma perda da mística dessa foto histórica. Muitos ainda se deparam com essa imagem e mesmo sem saber exatamente de toda a sua história, e toda a sua luta, essas pessoas ainda pensam em como esse grande 43 homem foi importante para a história de todos. O fato dessa imagem ainda provocar indagações e associações com justiça e luta mostra que mesmo com todo o esforço da indústria cultural, não foi possível tirar o Guerreiro Heróico de dentro de cada um de nós. 44 REFERÊNCIAS ATTWOOD, David. Fidel. EUA, 2002. 1 vídeo disco (151min) BARTHES, Roland. Mitologia. 11. ed. Editora Difel, 2003. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Disponível em < http:// leandromarshall.files.wordpress.com/.../a-obra-de-arte-naera-de-sua-reprodutibilidade-tecnica.doc > acesso em: 16 Set 2010 BURKE, P. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 1. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997. DUARTE, Douglas; MARIÑO, Adriana. Personal Che. EUA, 2007. 1 vídeo disco (87min) ECO, Umberto. A definição da arte. Tradução: José Mendes Ferreira. Edições 70, 2000. ECO, Umberto. 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Tu mano gloriosa y fuerte sobre la historia dispara cuando todo Santa Clara se despierta para verte. Vienes quemando la brisa con soles de primavera para plantar la bandera con la luz de tu sonrisa. Tu amor revolucionario te conduce a nueva empresa donde esperan la firmeza de tu brazo libertario. Seguiremos adelante como junto a ti seguimos y con Fidel te decimos: !Hasta siempre, Comandante! 49 ANEXO D – COMANDANTE AMIGO Comandante Amigo – Ali Primera El pueblo está triste el pueblo te llora el pueblo está triste pero no te fuiste Che Comandante amigo Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Caminando entre valles y montañas para siempre tu imagen guerrillera y tu sangre corre ya por nuestras venas y se agiten los techos bolivianos Caminando entre valles y montañas para siempre tu imagen guerrillera y tu sangre corre ya por nuestras venas y se agiten los techos bolivianos Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria (recitado) "Cuando la corriente del gran Paraná no tenga agua quizás, quizás para entonces Comandante amigo tu te nos vayas" 50 Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Caminando entre valles y montañas para siempre tu imagen guerrillera y tu sangre corre ya por nuestras venas y se agiten los techos bolivianos Caminando entre valles y montañas para siempre tu imagen guerrillera y tu sangre corre ya por nuestras venas y se agiten los techos bolivianos Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria Comandante Che te mataron pero en nosotros dejaron para siempre tu memoria plasmada en moldes de gloria 51 ANEXO E – AY, CHE CAMINO Ay, Che Camino – Matio Yo soy un hombre nacido allá en la Pampa lejana pero mi sueño querido es la patria americana. No tengo tierra ni casa no tengo nombre ni edad soy como el viento que pasa un viento de libertad. Ay, Che camino patria o muerte es mi destino Ay, Che camino patria o muerte es mi destino. Mañana cuando yo muera oigan queridos hermanos quiero una america entera con el fusil en la mano. No quiero estatuas ni honores no quiero versos de llanto echen al viento las flores que patria o muerte es mi canto. Ay, Che camino patria o muerte es mi destino Ay, Che camino patria o muerte es mi destino. 52 ANEXO F – SIEMBRA TU LUZ Siembra tu luz: Miguel Angel Fillipini Más que un símbolo, tu nombre Es un río que hace mares Es un volcan que no duerme Es un silencio que me arde Es tiempo de arar la vida Con el filo de la espada La que ahuyenta el sufrimiento Sólo a golpes de esperanzas Cómo curar las heridas Si hay dolor en las miradas Porque no le quedan sueños A esa lluvia enamorada La que llora por los hijos Ese pan que nunca alcanza Porque no se hincho en el horno De un ingenioso mañana Ay! Ay! Ay! Ay! Animate y sal a caminar! Busca el camino El que te ha de llevar Ponle mil balas A la palabra! Vamos a andar, la libertad; Y ábrele un cielo A tus anhelos Siembra tu luz, Che Guevara! El se llevo con su muerte La llave de esos candados Y ahora gritan desde adentro Los que siguen encerrados Aquellos que con el miedo Se tejieron un pasado Para llorar silenciosos Un sueño decapitado. Avestruces milenarios Herencia que no comparto Son aquellos que se esconden Al primer dolor de un clavo Limpia toda tu verguenza La que te escondió la mano Esa que tiró la pierdra Para vender a tu hermano. 53 ANEXO G - QUESTIONÁRIO REALIZADO COM JOVENS DE 18 A 25 ANOS Nome Idade Profissão 1 - Mostrar a foto do Che Guevara: você já viu essa foto? (ver anexo A) 2 – Quem é a pessoa da foto? 3 – O que ele fez? 4 – Onde ele nasceu? 5 – Conhece essa foto? 6 – Onde viu a foto? 7 – Costuma ver frequentemente? 8 – Onde geralmente você vê essa imagem? 9 – Sabe quem tirou essa foto? 10 – O que a pessoa da foto te representa? 11 – Você sabe por que essa foto é famosa? 12 – Que sentimento você sente ao ver essa foto?