PRATICAS EDUCACIONAIS COM ALUNOS SEM FALA ARTICULADA E/OU FUNCIONAL CAROLINA RIZZOTTO SCHIRMER BOLSISTA DE PÓS DOUTORADO DO CNPQ DOUTORA EM EDUCAÇÃO PELO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UERJ LEILA REGINA D’OLIVEIRA DE PAULA NUNES PROFESSORA TITULAR DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO E DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UERJ RESUMO A inclusão escolar e social de pessoas com deficiência e Transtornos do Espectro Autista (TEA) e a área da Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) têm sido, nos últimos anos, pensadas e discutidas na literatura especializada nacional tanto na área da Educação quanto na Saúde. Com o aumento significativo do ingresso de alunos sem fala articulada e/ou funcional na escola comum, usuário ou potenciais usuários de CAA, aumentam as dúvidas dos professores, tanto do ensino regular quanto do ensino especializado, em relação à condução do processo de inclusão desses sujeitos. O grupo de pesquisa Linguagem e Comunicação da Pessoa com Deficiência, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, vem se dedicando sistematicamente ao ensino e à pesquisa sobre linguagem e comunicação de pessoas com deficiência e TEA e nos últimos sete anos têm desenvolvido vários estudos dentro da escola. Esse artigo busca trazer as práticas nos diferentes espaços da escola (sala de aula, sala de recursos multifuncional entre outros), no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos, suas condições materiais e organização e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação e comunicação dos professores, professores especializados, alunos com deficiência e seus colegas apresentados através de problemas trazidos pelos próprios professores durante a sua formação inicial e continuada em serviço. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação Alternativa – Tecnologia Assistiva – Práticas Educacionais. 1 INTRODUÇÃO A inclusão escolar e social de pessoas com deficiência e Transtornos do Espectro Autista (TEA) e a área da Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) têm sido, nos últimos anos, pensadas e discutidas na literatura especializada nacional tanto na área da Educação quanto na Saúde (DELIBERATO et al., 2007; DELIBERATO, 2009; PELOSI, 2007; PELOSI, 2008; MANZINI, 2009; SCHIRMER et al., 2009; PELOSI; NUNES, 2009; SCHIRMER; NUNES, 2009; NUNES, 2009; WALTER; ALMEIDA, 2010; GOMES, 2011). Com o aumento significativo do ingresso de alunos sem fala articulada e/ou funcional na escola comum, usuário ou potenciais usuários de CAA1, aumentam as dúvidas dos professores, tanto do ensino regular quanto do ensino especializado, em relação à condução do processo de inclusão desses sujeitos. Muitas são as questões que surgem sobre esse alunado: Como será avaliado se não fala e escreve da maneira convencional? Será que ele entende e aprende? Como irá interagir e se comunicar com os outros? Como será recebido pela comunidade escolar? A CAA é uma área interdisciplinar e embora o grupo de profissionais envolvidos nela em nosso país ainda seja relativamente pequeno, sua formação é diversa, incluindo engenheiros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, psicólogos e educadores e outros (NUNES, 2007). Estudos têm demonstrado que o professor quando recebe o apoio de uma equipe interdisciplinar consegue ter mais sucesso na sua atuação e consequentemente consegue apresentar melhor prática junto ao seu aluno com deficiência favorecendo assim sua formação continuada (GOMES, 2006; PELOSI, 2008, NUNES et al., 2009, CORTELAZZO, 2007; LOURENÇO, 2012). Por isso a relevância do acesso ao conhecimento da Tecnologia Assistiva (TA)2 e a constituição 1 Quando falamos dos usuários de CAA, referimo-nos, principalmente, a pessoas com deficiência física, mental e ou múltipla que não são capazes de se expressar através da fala articulada. Apesar de estarmos pensando sua aplicação na escola, esta abordagem e seus recursos podem ser utilizados com crianças, adolescentes e adultos. Os profissionais da área da reabilitação e educação também usam CAA, só que como instrumento para a sua atividade profissional no atendimento a essas pessoas. 2 Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento que engloba serviços e recursos e se propõe a promover e ampliar habilidades em pessoas com limitações funcionais decorrentes de deficiência e do envelhecimento (PELOSI, 2008; BERSCH, 2009). A área está organizada em modalidades, sendo a CAA uma delas. 2 dessas equipes que, dentre outras funções, promovem a formação continuada do professor (PELOSI, 2008; SCHIRMER et al., 2009). A relação entre a educação e as novas tecnologias, embora bastante discutida, continua sendo para os professores e escola um grande desafio (PELOSI; NUNES, 2009). Por isso, torna-se necessário que os professores na sua formação tenham acesso aos conhecimentos teórico e prático voltados ao uso dessa tecnologia. Compreendemos que a formação de professores não se trata de um repasse de saber fora de sala de aula, e sim de uma possibilidade de rever a escola/prática educativa, e analisar as potencialidades de uma intervenção colaborativa sistemática entre os professores e os pesquisadores. Pesquisas envolvendo alunos sem fala articulada e/ou funcional têm demonstrado que mais importante que os recursos de CAA (pranchas, cartões, sistemas computadorizados e softwares especiais), é a presença de interlocutores interessados em interagir com essas pessoas e oferecer melhor qualidade de vida para essa população e assim favorecer sua inclusão escolar e social (ARAUJO; NUNES, 2008). Galvão Filho (2012) destaca que toda a TA disponível representa meios e não um fim em si mesmo. O autor ressalta que não é o uso em si que se constitui na meta e afirma que a formação de professores não pode limitar-se ao aprendizado competente dessas ferramentas. É necessário que os professores compreendam efetivamente os princípios e propostas implicadas na educação inclusiva, construindo atitudes genuinamente acolhedoras das diferenças e favoráveis à inclusão. O grupo de pesquisa Linguagem e Comunicação da Pessoa com Deficiência, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, vem se dedicando sistematicamente ao ensino e à pesquisa sobre linguagem e comunicação de pessoas com deficiência e TEA e nos últimos sete anos têm desenvolvido vários estudos dentro da escola com o objetivo principal de formar professores para atuarem nessa área além de desenvolver, implementar e estimular o uso desses recursos, estratégias e serviços por usuários de CAA e suas famílias (NUNES, 2009). Também tem buscado verificar como ocorre a prática pedagógica com alunos sem fala articula e/ou funcional e como a formação continuada dos professores pode modificar as práticas existentes. Ou seja, identificar como os professores desses alunos têm aplicado os conhecimentos 3 teórico e prático adquiridos em suas formações na tentativa de resolução dos problemas educacionais desses alunos. Esse artigo busca trazer as práticas nos diferentes espaços da escola (sala de aula, sala de recursos multifuncional entre outros), no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos, suas condições materiais e organização e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação e comunicação dos professores, professores especializados, alunos com deficiência e seus colegas apresentados através de problemas trazidos pelos próprios professores durante a sua formação continuada em serviço. Mais especificamente, o objetivo deste capítulo é apresentar para o leitor algumas das práticas educacionais (estratégias e recursos) que foram sendo desenvolvidos pela equipe na busca pela resolução dos problemas funcionais que os alunos com deficiência, usuários de CAA, estavam apresentando na escola. Os autores esperam compartilhar o conhecimento que adquiriu na área junto aos professores, alunos e suas famílias. Não se pretende neste capítulo aprofundar o estudo de cada assunto trazido neste artigo, e tampouco abordar as diversas discussões teóricas em cada tema, pois o objetivo é levar ao leitor um panorama geral do que foi e está sendo desenvolvido pelo grupo de pesquisa. Serão apresentados a seguir os problemas e soluções para as questões trazidas pelos professores durante a formação. Práticas Pedagógicas com aluno sem fala articulada e/ou funcional Alguns exemplos de recursos, estratégias e atividades que envolvem o uso de CAA estão abaixo citados e foram retirados das pesquisas desenvolvidas com formação continuada em serviço de professores pelo grupo de pesquisa Comunicação Alternativa do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (GOMES, 2006; NUNES, 2007; 2008; 2009; PELOSI, 2008; SCHIRMER et al., 2009; PELOSI; NUNES, 2009; NUNES et al., 2009). 1.Problema/dificuldade apresentada pelo professor: “O aluno utiliza a prancha de comunicação com a professora de sala de recursos multifuncional, mas não em sala de 4 aula comum”. Após a reunião surge a ideia de se realizar uma oficina com toda a turma com o objetivo principal de introduzir o tema da comunicação alternativa, abordando as diferentes formas de comunicação utilizadas pelos seres humanos. A oficina teve quatro momentos de desenvolvimento: conversa entre os alunos e professor sobre as diferentes formas de comunicação; a confecção de pranchas de comunicação por todos os alunos, utilizando o mesmo sistema de simbologia gráfica utilizado pelo colega com deficiência; o uso de pranchas de comunicação em duplas ou pequenos grupos (após confeccionar a prancha os alunos foram estimulados a conversar utilizando somente o recurso, sem a possibilidade de fala); e no último momento ocorreu o relato da experiência através de desenho ou texto (diário de campo, pesquisa Tecnologia Assistiva para a Inclusão, 2010). 2. Problema/dificuldade apresentada pelo professor: “Não consigo auxiliar o aluno sem a ajuda de um estagiário/mediador e cuidar da turma ao mesmo tempo” Após a reunião discute-se com o professor o espaço físico da sala de aula (como as crianças ficam posicionadas) e as estratégias utilizadas por ela durante as atividades propostas. A professora sempre fazia proposta de trabalho individual com a turma, sendo que a aluna com deficiência ficava sentada no canto esquerdo da sala próxima à porta e ao lado da mesa da professora. O grupo sugere que ela varie as estratégias com sua turma buscando planejar trabalhos em grupo e em dupla; dessa forma a aluna com deficiência não estaria sozinha e poderia contar com a mediação de seus colegas. (diário de campo, pesquisa Tecnologia Assistiva para a Inclusão, 2010). Os contextos inclusivos, segundo pesquisadores como Soto e von Tetzchner (2003), favorecem a interação entre alunos usuários de Comunicação Alternativa e seus pares falantes. O desenvolvimento da competência linguística alternativa pelo aluno não oralizado e usuário de sistema de comunicação alternativa pressupõe uma forma compartilhada de comunicação em sala de aula, ou seja, um número razoável de pessoas no ambiente mais competentes do que ele na compreensão e no uso dessa forma alternativa de linguagem que se inscreve nas rotinas escolares. von Tetzchner e Grove (2003) se referem a esse fenômeno como inclusão comunicativa. Não basta, contudo, a disponibilização de recursos materiais, sejam estes de tecnologias de alto 5 ou de baixo custo. Tão ou mais importante do que isso, é a presença de interlocutores interessados em interagir e acolher as mensagens da pessoa não falante (NUNES, 2009). 3. Problema/dificuldade apresentada pelo professor: “O aluno não fala. Não consigo compreender o que ele quer”. O professor poderá utilizar vários recursos de baixa tecnologia, sistemas de CAA, para resolver esse problema. São alguns deles: • Objetos reais: O aluno poderá fazer escolhas “apontando com a mão, o pé, o olhar” para objetos reais, como o alimento que deseja comer, o material escolar que deseja utilizar, o livro que escolherá ou se quer colorir o trabalho com canetinha ou giz de cera (diário de campo, pesquisa Acessibilidade Comunicativa, 2008). • Fotografias: Podem ser utilizadas para representar objetos, pessoas, ações, lugares, sentimentos ou atividades. Podemos também criar pranchas de comunicação com fotografias recortadas de revistas e com rótulos de produtos (diário de campo, pesquisa Acessibilidade Comunicativa, 2008). • Símbolos gráficos: No caso das nossas pesquisas, adotamos o sistema de simbologia gráfica PCS3. Com esse sistema foram construídos vários recursos de CAA como, por exemplo: as pranchas e cartões de comunicação. Na pesquisa realizada por Nunes (2007) as pranchas de comunicação elaboradas pela professora em formação foram confeccionadas individualmente respeitando as diferentes necessidades educacionais dos alunos. Os símbolos PCS foram impressos em papel ofício, sendo separados por categorias e cores. Foram utilizadas pastas de plástico coladas na posição vertical ou horizontal ou as folhas de papel ofício plastificadas e encadernadas para a montagem final das pranchas de comunicação. Schirmer et.al. (2009) em levantamento de recursos de CAA utilizados por professora em formação continuada traz uma fala da mesma exemplificando o uso do recurso em sala de aula: “[...] Numa 3 Picture Communication System. 6 atividade na Oficina da CAA os alunos selecionaram os símbolos PCS para confeccionar diferentes pranchas temáticas em cartolina plastificada que daria uma orientação espacial dos diferentes ambientes da escola. Desta forma, todos os alunos da escola, assim como seus responsáveis e demais funcionários e visitantes, estariam se apropriando dos recursos de CAA. Estes cartões foram espalhados pela escola sinalizando a localização das rampas e escadas de acessos aos diferentes andares, salas de aulas, salas de atendimentos de música, educação física, leitura, banheiros, secretaria, direção, salas de recursos de comunicação alternativa e ampliada, cozinha, refeitório, cozinha experimental e clube das mães.” (SCHIRMER et al., 2009, p.5). Schirmer et.al. (2009) em levantamento de recursos de CAA utilizados por professora em formação continuada traz uma fala da mesma exemplificando o uso do recurso em sala de aula: “[...]Diversos cartões com os símbolos PCS, separados por categorias, foram distribuídos nos murais da sala de aula. A primeira atividade pedagógica desenvolvida pela turma utilizando este recurso foi: cada aluno deveria escolher um colega para que este cumprisse uma ordem. Cada um escolheu os cartões para a construção da sentença. A ordem só seria cumprida caso o colega escolhido lesse a mensagem através dos símbolos. Esta atividade foi muito gratificante, visto que oportunizou o primeiro episódio de interação efetivo entre uma aluna com paralisia cerebral e um aluno que possui linguagem oral. A aluna solicitou que o seu colega empurrasse sua cadeira de rodas da sala para o refeitório na hora da merenda [...].” (professora regente) (SCHIRMER et al., 2009, p.4). • Mesa com símbolos: “Foram fixados na mesa da cadeira de rodas símbolos de “sim” e “não” facilitando a comunicação de uma aluna com paralisia cerebral” (diário de campo, pesquisa Dando Voz, 2008). 4. Problema/dificuldade apresentada pelo professor: “O aluno fica agitado, não para sentado fica todo tempo querendo sair da sala. Acho que ele não entende a rotina da sala de aula”. As agendas e calendários são excelentes para uso em sala de aula e estimulam a organização espacial e temporal dos alunos. Esta estratégia pode ser utiliza com a toda a turma onde cartões com símbolos de CAA podem se tornar um 7 instrumento importante para a socialização de informações do aluno usuário de CAA e seus colegas (diário de campo, pesquisa Tecnologia Assistiva para a Inclusão, 2010). 5. Problema/dificuldade apresentada pelo professor: “O aluno não lê ainda como poderá acompanhar a aula? Como vou fazer para ele fazer as atividades?” Uma das grandes dificuldades para o trabalho com o ensino do aluno com deficiência se refere à utilização de recursos pedagógicos. Vários são os pesquisadores que estudam a viabilidade para utilização de jogos, brinquedos, brincadeiras e recursos para o ensino de alunos com deficiência e que apresentam necessidades educacionais especiais (DELIBERATO, 2009; MANZINI, 2009). Principalmente para alunos com paralisia cerebral, que apresentam dificuldades e alterações motoras, o desenvolvimento de material pedagógico tem se tornado uma necessidade para o professor (MANZINI, 2009). Para o desenvolvimento de um trabalho nessa área, é necessário que o professor inicie o seu trabalho com a CAA buscando através de uma avaliação obter informações sobre seus alunos (suas potencialidades, habilidades e interesses) e sobre o meio no qual está inserido (rotina e as principais necessidades de comunicação). A partir dessas informações, o professor, junto com seus alunos e com a equipe de apoio interdisciplinar, organizará o desenvolvimento de recursos e estratégias favoráveis, no sentido de qualificar a aprendizagem, a comunicação, e a interação do aluno com o grupo e sua participação nas tarefas escolares (SCHIRMER et al., 2009). A complexidade de características dos alunos com deficiência implica a necessidade do envolvimento de uma equipe de trabalho para a organização e direcionamento de uma proposta de programa (NUNES, 2009; DELIBERATO, 2009). Sabe-se que o estudo, desenvolvimento e aplicação dos vários aspectos que englobam esse trabalho vêm sendo realizados por profissionais das mais diversas áreas e uma abordagem de equipe é recomendada para se decidir sobre o formato do recurso de comunicação e estratégias adequadas para sua utilização. Os parceiros de comunicação (família, professores e amigos), bem como os próprios usuários, devem ser envolvidos na seleção do recurso e do vocabulário mais apropriado. Receber informações de todos 8 também pode ser o ponto de diferença entre um recurso útil e um que traga frustração (SCHIRMER; BERSCH, 2007). Como muitos alunos que precisam de recursos de CAA também apresentam dificuldades em relação à escrita e leitura será importante que o professor busque utilizar recursos como os softwares Escrevendo com Símbolos (ECS) e Speaking Dinamically Pro (SDP) além de outros recursos para adaptar o material didático, paradidático e lúdico para que esses alunos possam acompanhar a turma segundo o seu ritmo. A adequação do material pedagógico e escolar constitui elemento crítico no processo de ensino-aprendizagem desse alunado. Um exemplo de como a TA pode beneficiar as pessoas com deficiência é em relação à atividade de leitura. Alguns alunos apresentam dificuldades em acompanhar a turma e seu ritmo para aprender a ler é diferenciado. Para auxiliá-lo, o professor poderá produzir, com o recurso de softwares como o ECS ou o Boardmaker, textos apoiados por símbolos gráficos e assim favorecer a compreensão dos mesmos pelo aluno. Imerso no contexto de símbolos pictográficos e alfabéticos, o aluno poderá realizar leitura global e ter acesso a novos conhecimentos de forma mais autônoma (SCHIRMER; BERSCH, 2007; ANDRADE; CORREIA, 2007; CORREIA, 2007). Segundo Schirmer et al. (2009) durante a formação continuada é possível perceber a imensa gama de atividades diferenciadas que passam a compor o planejamento de sala de aula e as inúmeras sugestões de recursos, que vão sendo apresentadas pela equipe interdisciplinar e construídas em conjunto com a professora e alunos. São alguns deles: livros clássicos de histórias infantis, outros relacionados a atividades do dia a dia ou mesmo livros paradidáticos transcritos ou reescritos de forma simplificada (PELOSI et. al.,2007). • Livros construídos com simbologia da CAA: Os alunos constroem livros com temas de seus interesses e ordenam os símbolos para contar suas histórias. Versos, cantigas, pesquisas, criação e re-contagem de histórias infantis são alguns dos temas utilizados. Esta é mais uma atividade que poderá envolver todos os alunos e colaborará para a compreensão da escrita através da ordenação dos símbolos gráficos, além de trazer novo vocabulário ao aluno usuário da CAA. Schirmer et.al. (2009) em 9 levantamento de recursos de CAA utilizados por professora em formação continuada traz duas falas da mesma exemplificando o uso do recurso em sala de aula: “Montar uma gibiteca. Escolhemos com eles um filme, o do Homem Aranha. Vamos fazer com eles o reconto deste filme que vamos assistir [... ]Isto para que alguns alunos possam fazer a ilustração e a minha turma se encarrega de contar a história através da CAA. O produto final vai ser uma revista do Homem Aranha. A partir dos desenhos da turma dela e dos pictogramas também” (professora regente) (SCHIRMER et al., 2009, p.3). “Interpretação da história com perguntas mais abertas. Então eu fiz com dez envelopes, cada um escolheria um envelope e os outros teriam que aguardar e deu super certo.” (professora regente) (SCHIRMER et al., 2009, p.3). • Simbologia da CAA nas atividades educacionais: Todos os projetos desenvolvidos em sala de aula podem ser acompanhados de simbologia gráfica em forma de cartões, pranchas temáticas ou atividades adaptadas, por exemplo. Os materiais citados a seguir foram confeccionados no decorrer do trabalho de pesquisa para favorecer o desenvolvimento das atividades pedagógicas, as avaliações das mesmas e a interação. Letras de músicas e textos com perguntas para interpretação dos mesmos, símbolos gráficos individualizados para construção de sentenças e pequenos textos. “Para que a turma participasse da Feira Literária que estava sendo montada na escola foi escolhida com os alunos, uma música que todos gostassem para ser adaptada. Após a votação a música escolhida, O Barquinho, foi transcrita utilizando os símbolos pictográficos. Durante a apresentação, enquanto a música era tocada, os alunos da turma, exibiam a letra da música adaptada que foi confeccionada em cartolina para que os outros participantes acompanhassem. A seguir, foram apresentadas pelos alunos da turma perguntas, também escritas com os símbolos, para que os demais participantes da escola respondessem oralmente.” (professora regente) (SCHIRMER et al., 2009, p.4). “Os alunos durante uma atividade na oficina das múltiplas linguagens estavam trabalhando um conteúdo relacionado à água. Quando a professora colocou o CD com a música Planeta Água, um aluno que possui PC severa começou a “pular” na cadeira e 10 olhar para o corredor; sinalizando com o olhar que desejava alguma coisa que estava fora da sala. A professora desta oficina solicitou a presença da professora da oficina da CAA e esta ao chegar perguntou o que ele desejava. O aluno, sorrindo, olhou para a folha de papel ofício que estava com a letra da música escrita e olhou para o computador. Imediatamente a professora entendeu e perguntou ao aluno se ele desejava que a música fosse transcrita com os símbolos PCS. A resposta foi positiva e ao chegar à sala da oficina da CAA a atividade de transcrição foi desenvolvida utilizando o ECS e com algumas fotografias da aula passeio que foram inseridas no software. A solicitação do aluno oportunizou a interação das duas oficinas em uma mesma atividade e ainda a exposição do produto final da atividade durante a semana da amostra pedagógica que ocorre na escola mensalmente.” (professora regente) (SCHIRMER et al., 2009, p.6). CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditamos que a prática pedagógica diferenciada se constrói na colaboração e troca entre a equipe envolvida com o aluno não falante. As reuniões de equipe foram os espaços nos quais os professores e o grupo de pesquisa buscaram soluções para os problemas de sala de aula e/ou SRM ou associadas à observação das sessões videogravadas e intervenções da equipe de apoio in loco. Esta parece ter se constituído em uma significativa oportunidade de desenvolvimento e participação de todos. Nessas ocasiões, os professores tiveram a possibilidade de observar seu próprio fazer pedagógico sob múltiplas perspectivas. Essa tomada de consciência é, para Vygotsky, uma generalização: “[...] perceber as coisas de outro modo é, ao mesmo tempo, adquirir outras possibilidades de ação em relação a elas [...] generalizando um processo próprio de minha atividade, eu adquiro a possibilidade de uma outra relação com ela” (VYGOTSKY, 1989). As ações descritas reforçam a teoria de que falar/ouvir, escrever no quadro/copiar e o trabalho realizado pelos alunos de forma unicamente individual não são práticas pedagógicas que favoreçam aprendizagens efetivas e, portanto, devem ser evitadas, não sendo a única opção dos professores. O trabalho cooperativo em rede, onde o professor utilize dinâmicas em dupla, trios ou pequenos grupos, tem se 11 mostrado eficiente para aprendizagem de todas as crianças, além de estimular outras habilidades importante para a interação e comunicação. O material adaptado também não precisa ser apenas utilizado pelo aluno com deficiência, podendo e devendo ser oferecido ao grupo todo pois, para o aluno com deficiência, pode significar a ampliação das possibilidades de comunicação e o aumento da participação nas atividades pedagógicas mas igualmente beneficia a aprendizagem de todos,uma vez que é um material rico em imagens e símbolos gráficos. Acreditamos que ações como essas cumprem o objetivo da CAA que é tornar o sujeito com distúrbio de comunicação o mais independente e competente possível em suas situações comunicativas, podendo assim ampliar suas oportunidades de interação com os outros, na escola e na comunidade em geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES. R. 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