A última noite de Jácome Casanova
22 a 24 de Outubro de 2010
Sala Experimental
Sexta e Sábado às 21h30 e Domingo às 16h
M12
Ficha Técnica
Texto de Stefano MASSINI
Encenação: Mario Mattia GIORGETTI
Língua: Italiano legendado em Português
Duração: 1h00
Produção: Centro Attori La Contemporânea
Sinopse
O jovem dramaturgo Stefano Massini penetrou no universo de Casanova e
traçou elementos de um percurso de vida que o «seu Casanova» quer dirigir à
memória dos homens, um percurso composto por trechos de existência na
última fase da sua vida, ou seja, aquela etapa final em que a «velhice» procura
fazer um balanço, procura rever-se e recompor-se na sua identidade total de ser
humano.
Notas de Encenação
Aquilo que Giacomo Casanova devia ter feito, fê-lo o dramaturgo Stefano Massini aos 28 anos.
Ou seja: colocou-se dentro do universo de Giacomo Casanova e descobriu elementos de um
percurso de vida que o «seu Casanova» quer consignar à memória dos homens, um percurso
composto por trechos de existência na última fase da sua vida, ou seja, aquela etapa final em
que a “velhice” procura fazer um balanço, procura rever-se e recompor-se na sua identidade total
de ser humano. Este monólogo, escrito em verso, apresenta-nos um Casanova mais Homem do
que Mito, que quer recompor-se nos aspectos mais íntimos, para permanecer no tempo,
sobreviver e ficar na memória.
Como encenar um texto que tem um valor metafórico preciso tanto na estrutura da linguagem,
como nas imagens que o acompanham, a não ser recorrendo a um projecto cénico igualmente
metafórico que tivesse os mesmos valores das palavras de Massini, palavras ora emotivas, ora
densas como pedras, ora evocativas? Também os outros elementos do espectáculo devem estar
em sintonia com essas palavras, com as visões, com a dimensão poética. E foi por isso que eu
quis subtrair a representação a um realismo simples, para transportá-la para espaços dialécticos:
espaços da memória e espaços do real. Este Casanova oscila entre o presente e o passado,
está «dentro» e «fora» de si. Vive um dualismo que faz ricochete entre saber e sentimento, entre
intelecto e eros. O Eu de Casanova é isto. É duplo. Está dividido. É o Eu dos comportamentos
aventureiros, diabólicos, eróticos, transgressivos, o Eu do artista: literatura, música, teatro são
parte do seu viver. Esta dualidade é o sinal contemporâneo que me fascinou e depois me
sugeriu que encenasse este texto. A dualidade do Homem de hoje que se divide entre papel
público e dimensão íntima, que muitas vezes é sufocada, reprimida pela sociedade. Mas chega
um momento em que os espaços à nossa volta se restringem, a vida social abandona-nos, e o
diálogo entre o teu Eu e o outro é confrontado com uma «tensão singular». Uma luta.
Neste espectáculo, eu quis um Casanova distante da imagem estereotipada que a história nos
transmitiu. Quis um Homem mais próximo de nós que fosse intérprete desta viagem-balanço
existencial. Embora situado no século de setecentos, na passagem para uma nova época, a de
oitocentos, o nosso Casanova poderia viver ainda hoje, na nossa época dominada pela
hipocrisia, por falsos mitos, por objectivos puramente materiais, por uma sensibilidade esbatida,
por uma cultura epidérmica.
O que há para descobrir neste espectáculo? Uma coisa muito simples: a consciência de que a
vida não é defraudada, e com a vida não é defraudado o amor que vive em nós… e que deve ser
oferecido e não tomado à força como se fossemos predadores. Os temas que eu quis pôr em
evidência são os seguintes: a presença de um só amor, o único na vida de Casanova, o contínuo
desejo de fuga para uma liberdade almejada, para não ser “um homem qualquer”, a consciência
de que a “viagem de vida” tem uma parábola descendente; de que voltar ao equilíbrio da nossa
própria identidade é a melhor maneira para estarmos de bem connosco mesmos. Tudo isto
procurei inseri-lo em espaços que são outros tantos “teatrinhos” da nossa existência, das nossas
recordações, em que os objectos são pedaços da nossa memória. Um Casanova forte, mas
também frágil; um Casanova infantil, mas também diabólico; um Casanova ladrão, mas também
generoso; um Casanova actor de si mesmo, e para si mesmo, mas também um ser assustado;
em suma, interessava-me apresentar o Homem, entendido como ser humano. Tudo isto
acompanhado por uma «outra» viagem de um outro artista, que foi a viagem breve e dolorosa de
Mozart, protagonista daquele século de Setecentos que ia morrer.
Mario Mattia Giorgetti
Biografias
Stefano Massini (Florença, 1975) é um dos
mais promissores jovens escritores italianos. Em
2007 recebeu o Prémio Nacional da Crítica para
jovens escritores, e em 2005 venceu o maior
prémio de dramaturgia italiano: o Pier Vittorio
Tondelli. As suas obras estão publicadas na
editora Ubulibri, tendo sido traduzidas em
português, francês, alemão e checo. Entre as suas peças mais conhecidas encontram-se La
gabbia, Donna non rieducabile, L’odore assordante del bianco, e Processo a Dio, produzidas em
Itália e no estrangeiro.
Mario Mattia Giorgetti é um dos nomes centrais do teatro
italiano há mais de quarenta anos, tendo realizado mais de
sessenta encenações para o teatro e contando outras tantas
actuações como actor. Diplomado em 1961 pelo Piccolo
Teatro de Milão como actor e encenador, trabalhou durante
dois anos com Giorgio Strehler e depois com Orazio Costa
Giovangigli.
Em 1967 fundou o Centro Attori La Contemporânea, de que
é director artístico. Ao longo da sua carreira como
encenador dirigiu textos de Samuel Beckett, Ionesco,
Camus, Genet, Gianni Hottm, Carlo Terron, Albee e Molière.
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